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AULA 6 TEORIAS DA APRENDIZAGEM (PIAGET, VYGOTSKY, WALLON, AUSUBEL, COMPORTAMENTAL COGNITIVA) Profª Wiviany Mattozo de Araujo 02 CONVERSA INICIAL Bem-vindo à aula 6 da disciplina de Teorias da Aprendizagem! Nesta aula, vamos discutir diferentes autores visando ampliar nosso conhecimento sobre os processos de ensino-aprendizagem. É preciso pensar no ambiente escolar e em todo processo educativo como um local de práticas que proporcionem uma formação integral. No primeiro tema, vamos discutir as contribuições de Henri Wallon para o ambiente escolar, levando em consideração a ação do professor, do aluno e da atuação pedagógica. No segundo tema, abordaremos as ideias de David Ausubel e a aprendizagem significativa, em que definiremos a forma como esse processo ocorre e quais são as estruturas de conhecimento necessárias para que exista essa significação. No terceiro tema, falaremos sobre a teoria de Carl Rogers, importante autor que propõe a aprendizagem centrada no indivíduo, em que barreiras devem ser transpostas para que relações interpessoais auxiliem no processo. No quarto tema, vamos entender um pouco mais sobre a teoria das inteligências múltiplas de Howard Gardner, teoria esta que conhecemos por discutir diferentes tipos de inteligências, as quais são aplicadas, pelo menos em partes, na escola atual. No quinto e último tema vamos discutir a importância da reflexão sobre teorias da aprendizagem e como estas podem compor práticas pedagógicas mais eficientes e voltadas para o aluno. Por fim, na última aula do módulo, espera-se que o desempenho seja produtivo e que possamos melhorar sempre mais, tanto nas práticas pedagógicas como na vida. CONTEXTUALIZANDO Ao falar sobre o processo de aprendizagem na atualidade, muitos questionamentos surgem, por exemplo: Qual é o papel do professor? Quais as responsabilidades dos alunos e da família? Como a equipe pedagógica pode auxiliar de modo mais adequado? Como a gestão e o planejamento devem ser feitos? Todas essas questões suscitadas e tantas outras que poderíamos listar fazem parte das discussões sobre teorias da aprendizagem. Há inúmeras teorias 03 formuladas e que podem ser aplicadas nas práticas pedagógicas para auxiliar e melhorar a relação entre professor-aluno, aluno-aluno e de todos os envolvidos. Todas as teorias apresentam suas particularidades, de modo que é preciso conhecer cada uma delas para compreender as fases do desenvolvimento, os conceitos de maturidade, significação e tantos outros elementos. Há escolas que colocam em prática um tipo de teoria, outras deixam livre para que o professor escolha. Independentemente de onde e em que contexto nos inserimos, professores, gestores, pais, é necessário conhecer diferentes formas de entender o processo de ensino-aprendizagem para que as práticas ganhem maior fluidez e cosciência. TEMA 1 – HENRI WALLON E O AMBIENTE ESCOLAR Pensar no ambiente escolar como um local que proporcione uma formação integral na atualidade é normal, mas, há décadas, as ideias de Henri Wallon (1879-1962) foram inovadoras. Este teórico da aprendizagem dizia que o desenvolvimento intelectual e cognitivo envolvia muito mais do que o cérebro, e isso desconstruiu a ideia de que somente a memória era necessária à construção do conhecimento. Wallon é o responsável por trazer a emoção como um fator importante para o processo de ensino-aprendizagem, pois suas ideias se baseiam em elementos interligados, que são a afetividade, a inteligência, o movimento e a formação do eu como consciência individual. Como vimos na aula anterior, considerar as emoções é essencial para compreender o desenvolvimento de uma pessoa, sendo por meio delas que, na escola, o aluno exterioriza suas vontades, suas ideias, seus desejos. Além disso, as manifestações emocionais tendem a expressar um universo importante das relações humanas, no entanto, em modelos tradicionais pedagógicos, essas questões não são consideradas. Desse modo, a afetividade recebe destaque, pois a emoção é orgânica, altera a respiração, os batimentos cardíacos e até mesmo nossas expressões e tônus muscular. Assim, as transformações do corpo e da mente da criança, em seu sistema neurovegetativo, demonstram elementos importantes da personalidade e do caráter do indivíduo. Sentimentos como alegria, tristeza, raiva, euforia, medo, entre outros, são necessários para que o sujeito estabeleça relação com o meio. Ao pensarmos nas 04 nossas vidas e nossas relações, podemos perceber que a emoção causa impacto e se espalha no meio em que estamos inseridos, ou seja, podemos dizer que a afetividade é essencial para o desenvolvimento do homem em sociedade. A escola, para Wallon, é a instituição que tem por finalidade prover atividades para desenvolver na criança o caráter afetivo, social e intelectual, é a ideia de humanizar a inteligência considerando o indivíduo em sua totalidade, bem diferente do que é proposto pelos métodos tradicionais de ensino, que só priorizam a resposta pelo desempenho na sala de aula. Os métodos pedagógicos devem levar em conta a formação de seres afetivos, intelectuais e pensantes, portanto, os elementos que envolvam a afetividade, as emoções, o movimento corporal e o espaço físico se encontram na mesma condição. A prática pedagógica precisa ser pautada nas necessidades das crianças como um todo e promover o seu desenvolvimento em cada um dos seguintes aspectos: afetivo, cognitivo e motor. Tanto a prática pedagógica como os objetos devem ser organizados e planejados com variedade para que despertem o interesse nos alunos. Como exemplo, podemos usar a proposta de uma sala de leitura para o Ensino Fundamental 1, em que a criança deve ter a liberdade e escolher se quer ficar sentada na cadeira, num pufe, deitada, ou até fazendo mímicas ao apresentar ou ouvir uma história. Além disso, os temas devem extrapolar os conteúdos programáticos para auxiliar no processo de descoberta do mundo e do sujeito inserido nele. O professor deve estabelecer relações afetivas com os alunos para que o processo de ensino e aprendizagem seja facilitado, assim, ele deixa de ser o agente exclusivo de informação e formação das crianças, uma vez que essa interação também assume um papel fundamental no desenvolvimento e na aprendizagem de cada uma delas. É também papel do professor mediar as interações das crianças entre si e delas com os objetos de conhecimento, despertando o desenvolvimento das potencialidades existentes, pois o docente deve entender que todo aluno tem potencial para desenvolver suas inteligências, desde, é claro, que seja estimulado. Os estímulos motores devem ser usados no trabalho pedagógico priorizando a qualidade, a representação do movimento e o resultado que despertará no sujeito, levando em consideração que as emoções se manifestam por meio da organização dos espaços de desenvolvimento. 05 Sobre essas relações que a teoria walloniana propõe, podemos pensar nas seguintes questões: Por que o ambiente escolar, no que concerne ao espaço, não pode ser diferente? Por que a sala de aula não pode ter outra disposição para que exista maior possibilidade de movimento para as crianças e para o professor em interação com elas? Entre os recursos pedagógicos disponíveis, eles são variados para que despertem na criança a ludicidade? Será que há variação adequada de atividades que propiciem a aprendizagem da criança levando em conta sua totalidade como sujeito? Com base nessateoria, é possível repensar o processo de ensino- aprendizagem da atualidade. No geral, as escolas atuais não conseguem estabelecer uma fluidez de movimento para seus alunos, seja pela rigidez na divisão das disciplinas e horários, seja pela disposição das carteiras em sala, ou pelo uso dos mesmos recursos didáticos diários e, até mesmo, pela falta de orientação nas discussões que envolvem temas delicados. Aplicar essa teoria é difícil para escolas, professores, equipe pedagógica e até mesmo para os pais, pois aplicar ideias mais humanizadas em uma sociedade de trocas constantes, de velocidade de informações, de competições em diferentes setores da vida, torna-se um desafio para todos os envolvidos. Seria preciso que as emoções, em diversos sentidos, fossem trabalhadas e valorizadas desde o ambiente familiar até chegar no ambiente escolar. A dicotomia sujeito e relações sociais deve ser superada nas atividades, pois o sujeito está inserido em todas as relações sociais. Assim, a interação social e o contato constante com o outro auxilia no processo de formação do indivíduo. Portanto, a educação precisa integrar tais dimensões aos seus objetivos, às suas práticas, visando a construção de um sujeito mais humanizado e socialmente integrado ao meio em que vive. A atividade para o indivíduo no processo de ensino-aprendizagem deve valorizar as ideias, a espontaneidade, bem como priorizar as discussões metodológicas. TEMA 2 – DAVID AUSUBEL E A APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA David Ausubel (1918-2008) foi um importante pesquisador norte-americano que se preocupava com o processo de ensino-aprendizagem e buscava uma teoria que pudesse auxiliar professores em suas práticas pedagógicas na sala de 06 aula. Esse teórico ganhou destaque na educação brasileira com a busca por uma eficiência maior em entender e evitar a repetência na educação básica. A teoria de Ausubel foi resultado de sua insatisfação com a educação recebida durante a vida escolar, fato esse que o motivou a buscar novas formas de compreender o processo de aprendizagem, de modo que suas ideias se baseiam na teoria cognitiva para explicar a aprendizagem, mesmo levando em consideração a importância das experiências afetivas. A teoria da aprendizagem significativa é a ideia principal e pode ser definida como um processo onde a informação se relaciona a estruturas do conhecimento já existente no indivíduo, assim, seria a criação de conhecimentos que se relacionam com o conhecimento prévio que o sujeito tem. Podemos dizer que essa teoria mudou a forma de enxergar o ensino, fora do quadrado estímulo-resposta e reforço e/ou punição, mas sim sugeria a aprendizagem significativa que gerariam mudanças conceituais e se enquadraria nos ideais construtivistas (Bruini, 2017). Os novos conhecimentos adquiridos se conectam com o conhecimento pré- existente que o aluno já possui, mas como isso funciona? Ausubel denominou de “subsunçor” o conhecimento prévio, que pode ser definido como as estruturas de conhecimento usadas com frequência, em maior ou menor escala, para que ocorra a aprendizagem significativa, associado ao subsunçor, ou seja, ao conhecimento prévio. Desse modo, podemos dizer que a aprendizagem significativa só acontece quando um novo conhecimento se associa a um conceito já existente na cognição do sujeito. Os subsunçores são consideradas estruturas hierárquicas e representam as experiências sensoriais, de modo que a aprendizagem significativa é decorrente da quantidade e das modificações desses subsunçores. Em resumo, a partir do conhecimento já existente, novas conexões se formam e se ampliam, formando novos conceitos e transformando o conhecimento, dando significado ao que se está aprendendo. Pensando nessa lógica, para que novas informações se estabeleçam como aprendizagem, é preciso que elas se conectem e se associem aos conceitos já existentes, e estas conexões nada mais são do que trazer (ou levar) para a realidade do aluno o que se está abordando, criando mecanismos de associação. Nesse sentido, para que ocorra a aprendizagem significativa, o processo de ensino-aprendizagem deve buscar estruturas já existentes, como se consultasse um banco de informações. Ou seja, as novas informações devem fazer sentido para os alunos, pois a aprendizagem utiliza ferramentas como a descoberta, a percepção e a recepção para acontecer. Aqui, ressaltamos a 07 importância de o professor planejar suas atividades e variar os recursos didáticos aplicados. Em relação à hierarquia das estruturas cognitivas, Ausubel propõe que os “conceitos e proposições mais inclusivos estão no topo da hierarquia e abrangem conceitos e proposições menos inclusivos, com menor poder de generalização” (Ronca, 1980, apud Nogueira, 2015, p. 214). E aqui, é possível usar a ideia do conhecimento em forma de pirâmide, em que a base geralmente tem o conceito mais abrangente, atribuindo significância até chegar aos conceitos abstratos. E qual é o desafio em relação a essa metodologia? O professor precisa determinar quais são os conceitos mais abrangentes que envolvem uma temática para desenvolver a disciplina e incluir o que é mais específico, facilitando o processo de aprendizagem do aluno, pois, com o uso de conceitos adequados, a aprendizagem se torna significativa, com a assimilação de informações. O processo supracitado é o caminho mais comum que as crianças utilizam para aprender, assim, a formação de conceitos ou de um conjunto de conceitos envolvendo generalizações que facilitam a aprendizagem significativa. A assimilação ocorre por meio da integração das novas informações aos conceitos pré-existentes, função dos subsunçores. Seguindo essa ideia, é papel do professor recorrer a recursos que introduzam temas e facilitem a aprendizagem, ou seja, o planejamento dos conteúdos deve abordar toda a matriz curricular, utilizando-se de organizadores que estabeleçam pontes entre o que o aluno já sabe e o conteúdo a ser abordado, tornando a aprendizagem realmente significativa. Portanto, com base nessa teoria, como você iniciaria uma aula? Pense num tema e exercite a ideia de contextualizar o conteúdo. Principalmente, reflita sobre quais seriam os recursos usados para que despertassem no aluno a curiosidade pelo tema novo, associando-o ao que ele já conhece, seja associado ao conhecimento científico como ao conhecimento empírico. Ressaltamos que esse despertar deve ser feito sempre no início das tarefas e explicações, para que o sujeito possa integrar o que já sabe com o que está sendo apresentado de novidade. Outro ponto relevante envolve a disposição do aluno em aprender, os materiais utilizados e a identificação e variação dos recursos didáticos aplicados. As questões de adaptação do vocabulário usado devem ser feitas para a faixa etária abordada, pois a familiaridade auxilia a aproximar o aluno do conteúdo. 08 Há também outras formas de organizar a formação de conceitos com o uso de mapas conceituais. Esses mapas funcionam como diagramas que estabelecem relações entre os conceitos e facilitam a visualização do conteúdo tanto pelo aluno como pelo docente. Ao serem construídos, devem ser claros, completos e objetivos. Os mapas conceituais podem ser utilizados em todas as disciplinas, podem ser dados prontos pelo professor e podem ser usados como uma atividade de montagem, na qual o aluno deve dispor de informações sobre como construir essa ferramenta. Este recurso pode ser usado amplamente em todo processo de ensino-aprendizagem, sendo um excelente mecanismo de revisão, fixação e consulta dos conteúdos, bem como possibilitadorde conexões entre os conhecimentos pré-existentes e as novas informações adquiridas. A aprendizagem pode ser feita de várias formas: mecânica (por meio da memorização), receptiva (com a seleção dos conteúdos por outra pessoa), descoberta (quando o próprio sujeito realiza suas descobertas) e significativa (com base na relação dos conceitos). Para Ausubel, a partir do momento em que a aprendizagem recebe significação, ela é mais facilmente assimilada. Com a compreensão de conceitos e diferentes proposições, a avaliação desse processo de ensino-aprendizagem deve ser feita com base na busca de soluções de situações-problema, momento em que o aluno se sinta desafiado a aplicar, na prática, aquilo que aprendeu. Exemplo: uma atividade pode ser repetida com diferentes fundos de cena para que os alunos a resolvam, assim, seria possível constatar se as novas informações foram assimiladas e conectadas ao conhecimento prévio, tornando-se uma nova ferramenta para os alunos. Esse processo de avaliação serve para verificar se o aluno desenvolveu as habilidades desejadas. A teoria da aprendizagem de Ausubel apresenta um papel importante na atualidade, pois é preciso ser objetivo, facilitar o entendimento do aluno, criar mecanismos de aprendizagem que conectem as informações com o conhecimento pré-existente, principalmente levando em consideração a realidade em que o sujeito está inserido. Por fim, podemos afirmar que a aprendizagem significativa é relevante para alunos, professores e todo ambiente escolar. 09 TEMA 3 – CARL ROGERS E A APRENDIZAGEM CENTRADA NA PESSOA O humanismo de Carl Rogers (1902-1987) influenciou a psicologia e trouxe importantes contribuições para a área da educação no processo de ensino- aprendizagem com ideias simples e acessíveis, originadas da convivência e observação de seus filhos e pacientes. A teoria rogeriana pode ser aplicada a todos os tipos de relação, seja dos ambientes familiar, escolar, social ou profissional, pois a ideia central é entender a pessoa como um todo, buscando estabelecer relações interpessoais. Ao transpor as relações interpessoais para a aprendizagem, estas deveriam ser significativas e de qualidade. As ideias deste teórico são consideradas avançadas para o seu tempo, o que lhe conferiu muitas críticas, principalmente pela relação estabelecida com o paciente, em que este não era mais visto como um doente, e sim como uma pessoa que estava apta a conviver em sociedade, mesmo com suas limitações. Suas ideias teóricas recebiam resistência por parte da comunidade acadêmica e escolar, e isso ocorre até a atualidade. Por exemplo, em suas obras, Rogers deixa claro que é contra a teoria comportamental, pois considerava que esta era uma forma de manipular e desrespeitar o outro, ignorando seus sentimentos, e defendia que a mudança de comportamento deveria ser resultado da aprendizagem signifivativa. As potencialidades do indivíduo seriam uma tendência da nossa evolução, tanto para humanos como para todos os organismos do planeta, incluindo as plantas, sendo constantemente atualizadas, e particularmente para os homens, nossa forma de vida social, cultural e econômica. Seguindo essa questão, a ideia é de que o corpo saberia o que é bom por meio do uso dos sentidos, por exemplo: o uso do olfato para identificar alimentos estragados ou do paladar para saber se é saboroso. Mas essa questão esbarra nas relações sociais e culturais, na forma como o indivíduo é ensinado, e até mesmo doutrinado, a seguir padrões e a responder quando recebe uma recompensa. Essas relações também podem gerar conflitos, de modo que o autor sugere que as pressões sociais geram problemas e expectativas e podem desencadear defesas psicológicas que traumatizam o indivíduo e transformam a vida de quem sofre e das pessoas que convivem próximo a ele. 010 Pensando, então, num relacionamento interpessoal com afetividade, a aprendizagem significativa é entendida como aquilo que realiza a modificação no modo de agir, nas ações futuras, nas atitudes, na personalidade, dentre outros, com uma visão otimista do homem. Rogers aplicava, em seu consultório, a terapia centrada na pessoa e transpunha os resultados para a área da educação. Isso o fez criar a teoria da aprendizagem centrada na pessoa. A relação entre professor e alunos deve seguir na mesma direção, com a realização de trocas, autenticidade e transparência. Para ensinar, é preciso ir além de transmitir o conhecimento, é necessário despertar a curiosidade, chamar a atenção e relacionar as informações com a realidade do aluno, é fazer com que o aluno se torne confiante de quem ele é e seja capaz de ir além. Assim, o processo educativo é para a vida, para todas as relações em sociedade. Rogers aponta as tarefas mecânicas como prejudiciais porque não consideram o indivíduo como um ser completo. Se os sentimentos e as relações não são consideradas, o aprendizado é esquecido. Como exemplo, podemos dizer que um sujeito inserido numa sociedade com baixa tecnologia vai repetir os ensinamentos recebidos por seus antepassados, mas a questão é, será que o que está sendo reproduzido é o suficiente? Muitos dos conhecimentos serão válidos por toda vida, no entanto, alguns podem cair em desuso ou serem substituídos por outros conhecimentos considerados mais modernos. Esse exemplo nos permite entender que, mais importante do que saber especificamente um conteúdo, é preciso instruir os educandos para que eles sejam capazes de se adaptarem a diferentes situações, numa ideia de aprendizagem contínua, em que as trocas e os questionamentos para evolução da ciência sejam constantes. Desse modo, o professor assume o papel de facilitador da aprendizagem, não sendo o responsável pela transmissão do conhecimento, mas, sim, de auxiliar o aluno no processo, instigando-o a novos desafios e tornando-o mais consciente desse processo transformador. Nesse papel, o docente é o suporte necessário ao aluno, buscando estratégias no ambiente, usando recursos articulados dentro de um bom planejamento com base no conteúdo programático obrigatório, criando aulas interessantes e que despertem nos alunos o desejo pelo saber, além de auxiliar na produção de ambientes favoráveis e que contribuam para a interação pessoal dos alunos. 011 É essencial instigar a curiosidade inerente aos animais, principalmente aos seres humanos, empregando materiais diferenciados de pesquisa, propiciando a significação no processo de ensino-aprendizagem. O professor orienta a busca pelo conhecimento e deseja que seus alunos se tornem protagonistas do seu processo de aprendizagem. Um dos problemas na atualidade é a valorização do ensino sem levar em consideração o contexto em que está inserido, lembrando que, para Rogers, o ambiente psicológico também é um elemento do processo de aprendizagem. Como supracitado, o professor como facilitador deve ser autêntico consigo e com os demais, expondo suas qualificações e também suas dificuldades. O autor, ainda, propõe que o professor se mostre como realmente é, expondo defeitos e qualidades, sentimentos, desejos, alegrias, raiva, tristeza, pois essa atitude poderia garantir proximidade e confiança dos alunos. O professor também deve ser afetivo, carinhoso, demonstrar apreço e confiança pelo que o aluno representa, considerar as atitudes, sejam elas positivas ou negativas, pois representam a imaturidade dos alunos em transformação. Nessa temática, o autor sugere que o professor seja compreensivo e empático para com seus alunos, compreendendo as atitudes sem julgamento e considerando o que acontecena vida do aluno naquele momento. Uma sugestão é que o professor não deve excluir ou segmentar as turmas, e sim integrar e fortalecer os vínculos entre os educandos. O resultado será muito significativo, tanto em relação ao conhecimento escolar-científico como em relação à vida e à capacidade desenvolvida de se colocar no lugar do outro. Não julgar aos alunos e estabelecer uma relação de respeito se torna uma premissa nessa teoria, pois todos devem ser de confiança e importantes, independentemente da realidade em que vivem. No entanto, é preciso esclarecer que este teórico não demonstrava uma preocupação com a definição de práticas pedagógicas, pois achava que a pessoa só aprendia aquilo que estava disposto a aprender, relacionando-se diretamente com as experiências pessoais. Por fim, a relação entre professor e aluno é importante nessa teoria, principalmente para que os alunos se tornem independentes e autônomos. Os erros são considerados parte do processo, com orientações para que outro caminho seja adotado, além da orientação para que o aluno tenha maturidade e estabeleça uma autoavaliação consciente. Nesse sentido, Rogers sugere que contratos sejam estabelecidos entre os alunos e entre o professor e o aluno, com critérios claros e regras a serem 012 seguidas por todos, de modo que, ao fim do contrato, a avaliação seria mútua. A aprendizagem centrada na pessoa é um desafio e, se usada, tende a despertar nos alunos um processo de amadurecimento decorrente das responsabilidades e a possibilidade de domínio e segurança para com as situações cotidianas. TEMA 4 – HOWARD GARDNER E A TEORIA DAS INTELIGÊNCIAS MÚLTIPLAS Nesta teoria, Howard Gardner afirma que todos dispomos de capacidades diferentes, ou múltiplas inteligências, as quais usamos para resolver problemas, criar projetos e/ou objetos, e contribuir social e culturalmente. As ideias desse autor, desde suas primeiras publicações, baseavam-se em Piaget, e, associado a isso, seu conhecimento sobre música e arte o fizeram refletir sobre a capacidade intelectual humana, o que, ao se tornar público, ocasionou grande impacto na educação. Para o teórico, as inteligências são um conjunto de habilidades que interagem constantemente nas atividades de soluções de problemas, criação, elaboração e produção, por isso não podem ser medidas. Pode-se dizer, então, que a teoria das inteligências múltiplas é uma alternativa para o conceito de inteligência como uma capacidade inata, geral e única, que permite aos indivíduos uma performance, maior ou menor, em qualquer área de atuação. Para construir sua teoria, Gardner observou grandes pesquisadores e entendeu que a inteligência humana é específica, pois nem todo mundo é excelente em todos os aspectos e áreas. Outra relevante observação foi em relação a pessoas com algum tipo de problema cerebral, em que percebeu a existência de habilidades individuais independentemente do problema e também realizou mapeamentos cerebrais. Com base nisso, estabeleceu vários tipos de inteligência, como a lógico- matemática, linguística verbal, musical espacial, entre outras. Em resumo, os tipos de inteligência envolvem capacidades e habilidades de realizar operações numéricas, aprender idiomas, usar a escrita e a fala como ferramentas, reconhecer a disposição do/no espaço, usar o corpo, se relacionar com os outros, ser capaz de construir reflexões, entre outros exemplos. Podemos nos perguntar, então: quais de nossas capacidades são inatas e quais são desenvolvidas? Essa questão envolve a ideia de que nós nascemos com potencialidades que ainda serão moldadas pela vida em sociedade; conforme as oportunidades que recebemos, as vamos desenvolvendo, no entanto, ao nos 013 depararmos com um processo de ensino-aprendizagem rígido, muitas dessas aptidões são deixadas de lado. Por exemplo, uma criança que desenha muito bem, mas, na escola, essa capacidade nunca é explorada, provavelmente não desenvolverá plenamente essa qualidade. Por tentar se enquadrar no modelo de ensino tradicional, o erro está em não valorizar os potenciais existentes. Percebendo que há diferentes habilidades para atividades específicas, é preciso entender que as capacidades podem ser independentes, mas não acontecem isoladamente no comportamento. No ambiente escolar, é preciso levar os alunos a encontrar seu equilíbrio dentro das suas competências para que possam servir à sociedade de forma construtiva. O docente deve entender que todo aluno tem potencial para desenvolver suas inteligências desde que seja estimulado, além de assumir o papel de mediador no desenvolvimento das potencialidades do aluno, e a escola deve ter como objetivo desenvolver as várias inteligências dos alunos. TEMA 5 – TEORIAS DA APRENDIZAGEM NA ESCOLA Neste tema, vamos repensar algumas ideias sobre as teorias da aprendizagem e como estas podem compor práticas pedagógicas mais eficientes e voltadas para o aluno. Como diria Saviani, um importante pesquisador brasileiro, os problemas escolares são decorrentes de uma complexidade associada a diversos fatores, como condições de saúde física e mental, fatores psicológicos e cognitivos, condições familiares e sociais. É preciso rever o papel da escola como um todo, pois esse ambiente poderia proporcionar aos alunos o desenvolvimento do intelecto, contribuindo com a transformação da visão de mundo, com a melhora da qualidade de vida, com a aplicação de valores éticos e morais. Paulo Freire, um dos maiores pesquisadores em educação no mundo, também nos diz que a escola deve ser um local de construção coletiva do saber, considerar as lutas e necessidades dos alunos, transformando-os em sujeitos ativos de sua própria história. Desse modo, como vimos durante toda a disciplina, não cabe à escola trabalhar com ameaças, punições, repetições exaustivas, é preciso ir muito além. Um ponto delicado é a formação contínua de gestores e professores, pois a falta de conhecimento e a ausência de teorias de ensino fazem com que professores reproduzam normativas arcaicas, desinteressantes, muitas vezes 014 baseadas em experiências pessoais de outro tempo que já não mais pode ser aplicado na atualidade. Pensando nessas questões, devemos buscar relações de trocas com os alunos, respeitando e orientando a formação de crianças e jovens. No contexto atual, em que vivemos um mundo globalizado, conectado por meio do avanço dos meios de transportes e de telecomunicações, principalmente em relação ao uso das tecnologias da informação, é essencial que as instituições se adaptem, que usem tecnologias e metodologias de ensino que proporcionem o crescimento intelectual. Nesse contexto, o papel do docente vem ao encontro do que muitas teorias da aprendizagem propõem, que o professor é o orientador dos estudos, mediador e estimulador do processo de ensino-aprendizagem, além de o aluno assumir a postura de protagonista na condução desse processo. Para isso, na atualidade, discute-se a adoção de metodologias ativas na sala de aula, que podem envolver uma enorme quantidade de tipos, como a aplicação de estudos de caso, aula de campo, de laboratório, simulações e aplicação de situações-problema. Nessa ideia, as aulas devem pensar nos interesses dos alunos, visando potencializar o que o indivíduo pode desenvolver de melhor, tornando o aluno um agente ativo na sociedade e consciente das suas ações. Assim, os estímulos são planejados nas atividades, e o professor usa habilidades como interpretar, analisar, sintetizar, comparar, entre outras, com o auxílio da tecnologia, para que as aulas sejam inovadoras e atraentes.FINALIZANDO Nesta aula, abordamos conteúdos relacionados a diferentes teóricos que propõem um olhar atento ao processo de ensino-aprendizagem. Retomamos as ideias de Wallon e discutimos a responsabilidade deste em trazer a emoção como um fator relevante para o ensino-aprendizagem, pois suas ideias se baseiam em elementos conectados, como afetividade, inteligência, movimento e formação do eu como consciência individual. Dessa forma, considerar as emoções é importante para compreender como uma pessoa se desenvolve e se transforma, e é por meio delas que, na escola, o aluno exterioriza suas vontades. Por isso, o professor e toda a equipe pedagógica devem estar atentos aos sinais que são dados. 015 Na sequência, abordamos as ideias de Ausubel e seu modelo de aprendizagem significativa. Para entender este processo, vimos que estruturas de conhecimento existentes são usadas com frequência, em maior ou menor escala, para que ocorra a aprendizagem significativa, associadas ao subsunçor, ou seja, ao conhecimento prévio. Desse modo, assim como teóricos anteriores que usam abordagens cognitivas, vimos que considerar o que o aluno sabe e conhece da realidade é essencial para que a aprendizagem ocorra. Também falamos sobre a proposta de Rogers com a ideia de relacionamentos interpessoais com afetividade, de modo que a aprendizagem se tornaria significativa, sendo esta entendida como aquilo que realiza a modificação no modo de agir, nas ações futuras, nas atitudes, na personalidade, entre outros, com uma visão otimista do homem. Esse autor usava sua experiência com pacientes em consultório e a transpunha para a área da educação, criando a teoria da aprendizagem centrada na pessoa, em que a relação professor e aluno deve seguir na mesma direção, com a realização de trocas, autenticidade e transparência. Outra teoria que abordamos foi a das inteligências múltiplas de Gardner, ideia essa que transformou a forma de pensar as atividades no ambiente escolar, e, principalmente, mudou a forma de enxergar as diferenças entre os alunos. As inteligências são um conjunto de habilidades que interagem constantemente nas atividades de soluções de problemas, criação, elaboração e produção e, por isso, não podem ser medidas. No último tema, discutimos um pouco sobre metodologias diferenciadas que estão na moda, ideias essas que prezam pelo estímulo intelectual dos alunos, com atividades e aulas planejadas que promovam habilidades como interpretar, analisar, relacionar, comparar, entre outras. O uso da tecnologia também é muito presente, pois o apoio desses recursos pode potencializar o processo de aprendizagem, no entanto, se mal aplicado, pode atrapalhar o andamento. Por fim, entender um pouco mais sobre as teorias da aprendizagem nos proporciona um olhar mais crítico sobre o processo de ensino-aprendizagem e deve despertar questionamentos sobre a condução das práticas pedagógicas atuais. 016 REFERÊNCIAS BARONE, L. M. C.; MARTINS, L. C. B.; CASTANHO, M. I. S. Psicopedagogia: teorias da aprendizagem. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2011. BEHAVIORISMO na educação. Filosofia do Cotidiano, 1 out. 2016. Disponível em: <http://filosofiadocotidiano.org/behaviorismo-na-educacao/>. Acesso em: 28 dez. 2017. BRUINI, E. C. Aprendizagem significativa. Brasil Escola, 2017. Disponível em: <http://educador.brasilescola.uol.com.br/trabalho-docente/aprendizagem- significativa.htm>. Acesso em: 29 dez. 2017. LAKOMY, A. M. Teorias Cognitivas da aprendizagem. Curitiba: Intersaberes, 2014. NOGUEIRA, M. O. G.; LEAL, D. Teorias da aprendizagem: um encontro entre os pensamentos filosóficos, pedagógicos e psicológicos. Curitiba: Intersaberes, 2015. PILETTI, N. Aprendizagem: teoria e prática. São Paulo: Contexto, 2013. SANTOMAURO, B. Inatismo, empirismo e construtivismo: três ideias sobre a aprendizagem. Revista Nova Escola, 5 nov. 2010. Disponível em: <https://novaescola.org.br/conteudo/41/inatismo-empirismo-e-construtivismo- tres-ideias-sobre-a-aprendizagem>. Acesso em: 28 dez. 2017. SAVIANI, D. Escola e democracia. 17 ed. São Paulo: Autores associados, 1987. VYGOTSKY, l. A formação social da mente: o desenvolvimento dos processos psicológicos superiores. 7 ed. São Paulo: Martins Fontes, 2007.
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