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MERCATOR E PETERS: DO EUROCENTRISMO AO TERCEIRO MUNDISMO
O planisfério de Mercator é o mapa-múndi usado como padrão nos livros didáticos e Atlas do mundo todo. Estamos apegados a esse mapa como a um velho amigo ou a fotografia de uma pessoa querida: já nos acostumamos a vê-lo desde os primeiros anos de escola. Desse longo convívio nasceu a convicção de que ele é verdadeiro, uma reprodução fiel das massas continentais e das superfícies líquidas do planeta.
O planisfério de Peters, confrontado com o de Mercator, parece-nos falso. Aparentemente se trata de um mapa distorcido, alongado, estranho. Essa impressão decorre da novidade: poucos viram alguma vez esse mapa-múndi, que é muito recente e praticamente não aparece nos livros e Atlas escolares.
Mas nenhum dos dois planisférios é completamente verdadeiro. Não há nenhum modo de representar com absoluta precisão uma superfície esférica, sobre uma base plana. 
O MUNDO SEGUNDO MERCATOR
Mercator, codinome latino do holandês Gerhard Kremer (1512-1594), é considerado o pai da Cartografia moderna. Estudou matemática na Universidade de Lovaina (Bélgica) e posteriormente trabalhou em Duisburgo (Alemanha), construindo globo terrestres e outros instrumentos. Mais tarde retornou novamente a Lovaina, onde fundou e dirigiu um dos estabelecimentos de Cartografia mais importantes daquele tempo.
O principal mérito de Mercator, no entanto, foi construir o primeiro mapa baseado em uma projeção cilíndrica conforme. Seu interesse era criar um mapa útil para os navegadores de sua época, por isso, sua maior preocupação foi manter-se fiel aos ângulos, permitindo o detalhamento mais preciso das costas continentais.
A projeção cilíndrica expande os pólos até atingir a dimensão da circunferência do Equador. Dessa forma as massas terrestres mais próximas dos pólos ficam ampliadas tremendamente. Assim, a Groenlândia surge nesse mapa com o tamanho da América do Sul, quando na verdade, é oito vezes menor, e a Europa, que tem apenas 10,5 milhões de km quadrados, surge tão grande quanto a América do   Sul, que mede 17,8 milhões de km quadrados.
Mercator foi muito criativo e seus mapas revelam um alto grau de precisão para a época. Foi ele que usou pela primeira vez a palavra Atlas, referindo-se  coleção de mapas. Seu mais famoso mapa foi publicado em 1569 e se constituiu em um símbolo de sua época, pois representa o típico pensamento do colonialismo do século XVI, que acreditava ser a Europa o centro do mundo.
Essa perspectiva nada mais é do que a materialização cartográfica do etnocentrismo europeu. Trata-se de uma visão eurocêntrica do mundo que não é verdadeira nem falsa, mas simplesmente mais uma visão. Entretanto, por conta da hegemonia econômica e geopolítica européia, a partir do século XVI, ela foi tomada muitas vezes como se fosse a única, a verdadeira. Durante séculos, foi uma das projeções mais usadas na confecção de planisférios. 
Como vimos anteriormente, esse mapa tinha grande exatidão nas formas, ou seja, nos contornos, o que era de grande utilidade para a navegação de sua época. Por outro lado, era muito inexato na reprodução das áreas, ou seja, das dimensões dos continentes e países. 
O MUNDO SEGUNDO PETERS
O professor alemão Arno Peters elaborou uma das mais recentes e inovadoras projeções cartográficas. Trata-se de uma projeção cilíndrica equivalente, ou seja, preserva as dimensões relativas dos países e continentes, em compensação, distorce as formas, principalmente nas pequenas latitudes, alongando os países e continentes no sentido norte-sul. 
Essa projeção se adequou perfeitamente aos Estados subdesenvolvidos recém-independentes após a Segunda Guerra. Buscando afirmar-se como nações, tais Estados viram na projeção de Peters a materialização cartográfica de suas aspirações: serem tratados como iguais pelos Estados desenvolvidos. Quando mostrada forma “invertida”, com o sul em destaque, evidencia claramente o planeta na perspectiva dos países subdesenvolvidos ou do Sul.
Ela representa um bom negócio para os países de grandes dimensões situados na Zona Intertropical (como o Brasil, a Índia, o Zaire), pois corrige a subestimação das suas áreas presente nas projeções baseadas em Mercator. Mas representa um péssimo negócio para a Europa e também não ajuda os Estados Unidos e a Rússia.
Não é mais verdadeiro ou mais falso que o planisfério de Mercator: resulta de uma operação política e ideológica de outro tipo, destinada a concorrer com a imagem tradicional e dominante do mundo.
Segundo Peters, o maior problema político e prático das projeções é que elas não advertem os usuários a respeito das distorções que apresentam. Assim, ao longo das décadas e, em alguns casos, dos séculos, as pessoas passaram a acreditar que o que viam representado no mapa, especialmente o de Mercator, era realidade.
Peters acredita que essa visão distorcida da realidade é, no mínimo, inquietante e traz embutida em si o mito da superioridade européia (eurocentrismo), assunto por ele estudado em sua famosa História Sinóptica do Mundo, que causou escândalo na Alemanha, quando lançada, em 1969.
http://www.waw.com.br (25.11.2004)