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Políticas Públicas e Organização da Educação Básica

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Disciplina: Políticas Públicas e Organização da Educação Básica
Aula 1: A Crise do Estado de Bem-Estar Social
Após a Segunda Guerra Mundial, o mundo capitalista produziu duas tendências importantes. Por um lado, verificamos a expansão dos mercados, especialmente o mercado mundial de mercadorias, sob hegemonia e a pressão do mercado norte-americano. Por outro lado, foi o período de crescimento do Estado, de forma diferenciada, na Europa e no restante do mundo. A isto, na Europa Ocidental e na América do Norte, damos o nome de Estado de bem-estar social. 
Segundo Wood (2001:12), “o capitalismo é um sistema em que os bens e serviços, inclusive as necessidades mais básicas da vida, são produzidas para fins de troca lucrativa; em que até a capacidade humana de trabalho é uma mercadoria à venda no mercado; e em que todos os agentes econômicos dependem do mercado, os requisitos da competição e da maximização do lucro são as regras fundamentais da vida (...). Acima de tudo, é um sistema em que o grosso do trabalho da sociedade é feito por trabalhadores sem posses, obrigados a vender sua mão-de-obra por um salário, a fim de obter acesso aos meios de subsistência”.
Estado de bem-estar Social (Welfare State) é um tipo de organização política e econômica que coloca o Estado (nação) como principal agente regulamentador de toda vida e saúde social, política e econômica do pais, em parceria com sindicatos e empresas privadas, em níveis diferentes. Vamos entender um pouco mais sobre ele? 
O Estado de bem-estar social foi uma política do capitalismo no pós-guerra, ela teve como objetivo recuperar a Europa devastada pela segunda guerra mundial.
Seu desenvolvimento está intimamente relacionado ao processo de industrialização e aos problemas sociais gerados a partir dele. A construção do Estado de bem-estar social teve seu inicio marcado com a aprovação, em 1942, de uma série de providências nas áreas da saúde e escolarização.
Ocorreu também uma ampliação dos serviços assistenciais públicos, abarcando as áreas de renda, habitação e previdência social, entre outras. Paralelamente à prestação de serviços sociais, o Estado de bem-estar social passou a intervir fortemente na área econômica, de modo a regulamentar praticamente todas as atividades produtivas com a proposta de geração de riquezas materiais para atender ao lucro capitalista e também a diminuição das desigualdades sociais com o objetivo de desmobilizar a classe trabalhadora.
	Porém, em meados dos anos de 1970 (e sobretudo em 1980) ocorreu uma mudança radical com relação a esse modelo de desenvolvimento capitalista. Essa mudança "está relacionada à transformação das relações entre mercados e as empresas e entre os Estados e os mercados". Esse período passou por um processo de desindustrialização relativa, que em muitos países se produziu de forma vertiginosa. Também, por um processo de expansão enorme dos mercados financeiros, que são altamente competitivos e passam a interferir diretamente na relação mercado/Estado (cf. Therborn, 1999:43-4).
Sendo assim, o desaquecimento da produção, associado ao crescimento do mercado financeiro, intensificou a dependência dos Estados Nacionais, notadamente dos países periféricos, que passaram a necessitar da "confiança" desses mercados para implementar sua política.
Um Desequilíbrio Perigoso
Talvez você ainda não tenha percebido, mas o que ocorreu a partir da mudança de modelo foi um desequilíbrio nas relações entre Estados, entre mercado e Estado e, consequentemente, entre Estado e indivíduo. Vamos ver por outra perspectiva:
Embora a produção industrial tenha reduzido em 10% nos países centrais do capitalismo, o crescimento econômico, mesmo que, em menor proporção, permaneceu. Inclusive, o comércio internacional de produtos industrializados, apresentou um crescimento nos anos de 1980.
No fim do século XX, os países do mundo capitalista desenvolvido se achavam, tomados como um todo, mais ricos e mais produtivos do que no início da década de 1970, e a economia global (da qual ainda formavam o elemento central) estava imensamente mais dinâmica (cf. Hobsbawm, 1995:395).
Esse não era o caso da África, da Ásia Ocidental e da América Latina, que se viram às voltas com o aumento da pobreza e da queda da produção. Da mesma forma os países socialistas da Europa, apesar de apresentarem um pequeno crescimento econômico nos anos de 1980, não resistiram ao processo de "desindustrialização". caracterizado pelas "novas formas de produção, pelo desenvolvimento da economia de serviços e pelas novas formas de gerenciamento empresarial" (cf. Therbom,1999:45).
A ascensão do neoliberalismo
Finalmente na década de 1990, não dava mais para esconder que o modelo de desenvolvimento capitalista da época estava em crise. Crise essa, que já se anunciava em grande parte do mundo, desde meados dos anos de 1970. Isso favoreceu a crítica dos economistas conservadores, neoliberais, que há tempos vinham combatendo o Estado de Bem-estar social.
Os neoliberais afirmavam que a economia e a política do Estado Keynesiano, baseada no pleno emprego, altos salários e nos direitos sociais, impediam o controle da inflação e o corte de custos, tanto no governo quanto nas empresas privadas. Para eles, só o livre mercado seria capaz de fomentar a distribuição da riqueza e da renda.
Ao se contrapor ao Estado de bem-estar social, segundo os preceitos do Consenso de Washington, o neoliberalismo defendia a privatização dos serviços públicos, como educação, saúde e previdência, de forma a aliviar o Estado e tornar esses serviços competitivos no mercado. Desta forma, direitos conquistados transformaram-se em mercadorias adquiríveis no mercado.
A ofensiva neoliberal desqualificou ideologicamente o Estado como espaço de representatividade do público. Para tanto, a propaganda, neste modelo, buscou convencer que a coisa pública é ineficiente e mal gerenciada, enquanto o privado, em função da racionalidade e do bom gerenciamento se apresenta com qualidade.
A privatização do Estado, como parte da política neoliberal, rompeu com os preceitos democráticos de inclusão e participação e, ao contrário, embasou a organização societária sob a ótica da competição, da segmentação e da seletividade.
Essa privatização, que demitiu milhares de trabalhadores e abalou a estrutura dos sindicatos do funcionalismo público, como defendia o projeto neoliberal, significou, antes de tudo, uma mudança ideológica e de mentalidade, pela qual os cidadãos foram obrigados a aceitar a redução e a desqualificação do espaço público.
No entanto, os países capitalistas centrais que defendem essas políticas, não conseguiram de todo, implementá-las nos seus Estados. Como afirma Boron (1999), eles continuam com “Estados grandes e ricos, muitíssimas regulações que organizam o funcionamento dos mercados, arrecadando muitos impostos, promovendo formas encobertas e sutis de protecionismo e subsídios e convivendo com déficits fiscais elevados” (Boron: 1999,9).
A política neoliberal não produziu efeitos idênticos em todos os países ou regiões. Uma distinção básica deve ser estabelecida entre o neoliberalismo nos países centrais e nos países periféricos. Ora, o Estado de bem-estar, apesar da interferência da política neoliberal, continua existindo na Europa Ocidental, inclusive, em função da resistência da população. 
A melhor maneira de ilustrar tal realidade é através do aumento do número de trabalhadores desempregados. Enquanto nos países da periferia do capitalismo a população desempregada ocupa cada vez mais o espaço da economia informal, nos países centrais, ela continua sob a proteção do Estado, aumentando ainda mais os gastos sociais. 
Aula 2: Evolução histórica da política educacional e seus reflexos
A partir dessa aula vamos começar a estudar as legislações brasileiras. Nesse capítulo, em particular vamos abordar as constituições.
A Constituição é a lei que estabelece as principais regras e normas jurídicas, políticas, econômicas e sociais de um país, dentre elas as da educação. Atravésdo estudo dos textos constitucionais que o Brasil já viveu, podemos perceber a importância que a educação ocupou em diferentes momentos da nossa história. Você verá, a partir de agora, como cada Constituição que o Brasil conheceu tratou a questão educacional.
A necessidade da Constituição nasceu no momento em que o Brasil tornou-se independente de Portugal. Após a disputa entre a elite brasileira e os interesses portugueses, a primeira Carta Magna brasileira foi outorgada pelo Imperador D. Pedro I.
A educação é tratada em um dos últimos itens do artigo 179, parte integrante do título que dispunha acerca dos direitos dos cidadãos, como se vê a seguir: 
art. 179. A inviolabilidade dos Direitos Civis e Políticos dos cidadãos brasileiros, que tem por base a liberdade, a segurança individual e a propriedade, é garantida pela Constituição do Império, pela maneira seguinte: 
[...] 
XXXII. A instrução primária é gratuita a todos os cidadãos. 
XXXIII. Colégios e universidades onde serão ensinados os elementos das Ciências, Belas-Artes e Letras. 
A partir da leitura do dispositivo legal, repara-se, portanto, a pouca importância reservada à instrução, que se mantém nessa época restrita a uma pequena parcela da população. A Constituição estabelecia a gratuidade do ensino primário porém não indicava as condições para que essa situação se concretizasse, consequentemente a população mantinha-se afastada das salas de aula e, por conseguinte, durante muito tempo as taxas do analfabetismo apresentavam-se bem elevadas. A primeira Constituição Republicana (1891)
A República proclamada em 1889 mudou o regime político no país, e como decorrência exigiu a elaboração de outro texto constitucional que correspondesse aos novos tempos. Vamos conhecer um pouco mais sobre a Carta Magna de 1891.
Artigos da Carta
Art. 35. Incumbe, outrossim. ao Congresso, mas não privativamente: 
[...] 
2°. Animar, no pais, o desenvolvimento das letras, artes e ciências, bem como a imigração, a agricultura, a indústria e o comércio, sem privilégios que tolham a ação dos governos locais; 
3°. Criar instituições de ensino superior e secundário nos Estados; 
4°. Prover a instrução secundária no Distrito Federal. 
A república, debatida durante muitos anos por um setor significativo da sociedade, não trouxe melhoria de condições para a maioria da população, que se manteve em condições de miséria, e em grande parte distante do processo de escolarização. Essa situação reflete-se no texto constitucional, que se referia ao poder público unicamente como um incentivador da instrução no país. 
A Constituição de 1934
Longos debates entre educadores e um movimento social crescente começava a invadir a sociedade brasileira, exigindo reformas no país, sobretudo no campo educacional, a partir dos anos de 1920. A criação do Ministério da Educação é um exemplo das mudanças resultantes da pressão do movimento conhecido como Escola Nova. O capítulo II do texto legal abordou a questão educacional incorporando sugestões e ideias levantadas por intelectuais e professores da época, já apresentadas no Manifesto dos Pioneiros, publicado em 1932.
Artigos da Carta
Art. 149. A educação é direito de todos, e deve ser ministrada pela família e pelos poderes públicos, cumprindo a estes proporcioná-la a brasileiros e a estrangeiros domiciliados no pais de modo que possibilite eficientes fatores da vida moral e econômica da Nação, e desenvolva num espírito brasileiro a consciência da solidariedade humana. 
Art. 156. A União e os Municípios aplicarão nunca menos de dez por cento, e os Estados e o Distrito Federal nunca menos de vinte por cento, da renda resultante dos impostos, na manutenção e no desenvolvimento dos sistemas educativos. 
Comentários
Dentre várias outras questões, ela estabeleceu o direito de todos à educação, e a obrigatoriedade e gratuidade do ensino primário, além de vincular os recursos a serem aplicados para o desenvolvimento do ensino público. A Carta de 1934 tratou, ainda, sobre a elaboração de um plano nacional para a educação que objetivaria a solução dos principais problemas acerca do tema. Podemos dizer que, em termos educação, o texto constitucional de 1934, respondia, em grande parte, aos anseios da época. 
A Constituição do Estado Novo (1937)
Estado Novo foi o nome dado por Getúlio Vargas à ditadura que instalou no Brasil a partir de 1937, que correspondeu a um longo período de autoritarismo e repressão. Em todas as áreas sociais, particularmente na educação, houve um enorme retrocesso. As conquistas apresentadas na Carta Constitucional anterior (1934), que nem chegaram a ser colocadas em prática, foram totalmente abandonadas na nova lei.
Artigos da Carta
Art. 129. À infância e à juventude, a que faltarem os recursos à educação em instituições particulares, é dever da Nação dos Estados e dos Municípios assegurar, pela fundação de instituições públicas de ensino em todos os seus graus, a possibilidade de receber uma educação adequada às suas faculdades, aptidões e tendências vocacionais. Art. 130. O ensino primário é obrigatório e gratuito. A gratuidade, porém, não exclui o dever de solidariedade dos menos para com os mais necessitados: assim, por ocasião da matrícula, será exigida aos que não alegarem, ou notoriamente não puderem alegar escassez de recursos, uma contribuição módica e mensal para a caixa escolar. 
Comentários
A educação deixa de ser considerada um direito de todos, como podemos observar no primeiro artigo que tratava da questão (Art. 129). Manteve-se a obrigatoriedade e a gratuidade do ensino primário, entretanto sem criar mecanismos para que fossem cumpridas, além de instituir a cobrança de uma taxa, chamada de caixa escolar, para aqueles que não pudessem comprovar a pobreza, que daria direito à gratuidade. 
A Constituição do Estado Novo (1946)
Em 1945, a longa Era Vargas chega ao fim. Uma nova Carta Constitucional foi redigida para acompanhar os novos tempos. Tempos democráticos que se instalavam na vida brasileira, e que traziam alguns direitos sociais. Quanto à educação, o antigo debate dos Pioneiros de 1932 é recuperado em relação a alguns temas.
Artigos
Art. 166. A educação é direito de todos e será dada no lar e na escola. Deve inspirar-se nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana. 
Art. 167. O ensino dos diferentes ramos será ministrado pelos poderes públicos e é livre à iniciativa particular, respeitadas as leis que o regulem. 
Art. 168. A legislação do ensino adotará os seguintes princípios: 
o ensino primário é obrigatório e só será dado na língua nacional;
o ensino primário oficial é gratuito para todos: o ensino oficial ulterior ao primário sê-lo-á para quantos provarem falta ou insuficiência de recursos; 
Art. 169. Anualmente, a União aplicará nunca menos de dez por cento e os Estados, o Distrito Federal e os Municípios nunca menos de vinte por cento da renda resultante dos impostos na manutenção e desenvolvimento do ensino. 
Comentários
O texto constitucional, em seu artigo 166, restabelece o ensino como um direito de todos os brasileiros, livre à iniciativa particular. Estabeleceu, ainda, o ensino primário como obrigatório e gratuito, além de ter reservado recursos do orçamento para a sua manutenção. São retomadas as discussões que nas décadas de 1920 e 1930 foram levantadas pelos adeptos do movimento da Escola Nova, e que repercutiu no Brasil através do Manifesto de 1932. 
Diretrizes e Bases
A Constituição de 1946 também determinou que fosse elaborada uma legislação especifica que aprofundasse o tema, através do seu artigo 5°, e estabelecesse as diretrizes e as bases da educação brasileira. Na próxima aula estudaremos de maneira mais profunda a primeira Lei que tratou sobre o tema. 
A educação e a nova ordem constitucional
Este artigo refere-se a uma análise evolutiva da Educação, como norma jurídica, na organização constitucional do Brasil-Império de 1824 à Nova República de 1988. Nosso olhar privilegia o nível macroestrutural da Educação.
Este artigorefere-se a uma análise evolutiva da Educação, como norma jurídica, na organização constitucional do Brasil-Império de 1824 à Nova República de 1988. Nosso olhar privilegia o nível macroestrutural da Educação, através da localização da norma educacional nas Constituições brasileiras.
O Estado brasileiro, enquanto sociedade política, tem se revelado, no âmbito de suas Constituições, como o grande interlocutor das políticas educacionais desenvolvidas no País. uma sociedade de classes, como bem caracteriza o Brasil, só o Estado é capaz de garantir, de formal positiva, no seu ordenamento jurídico, a educação como direito social (de todos).
Assim, a educação nas constituições e nas leis dela derivadas, sejam elas imperiais ou republicanas, outorgadas ou promulgadas, é a resposta da sociedade política à sociedade civil que colabora numa ação mais objetiva da parte do Estado em relação ao direito fundamental à educação. Daí, termos privilegiado, neste artigo, a relação Estado e Educação, em que esta, a nível constitucional, isto é, no âmbito das Constituições brasileiras, tem se convertido em intenção programática de Governo e em valor jurídico para o Estado.
Dois centros de interesse logo mereceram atenção em nossa reflexão: (a) a dicotomia centralização/descentralização da educação no âmbito do Estado, questão central da Federação brasileira e (b) educação como norma jurídica das Constituições brasileiras.
O primeiro interesse resulta dos indícios históricos, políticos, educacionais e constitucionais, de que, desde o Império, ou, mais precisamente, desde o Ato Adicional de 1834, o movimento centralização e descentralização do Estado brasileiro veio favorecer, no plano constitucional, um federalismo de equilíbrio entre as entidades intergovernamentais (Império/União, Províncias/ Estados, Municípios e o Distrito Federal), redefinindo, a cada nova organização constitucional, as competências constitucionais das quatro entidades federativas que hoje configuram o Estado Democrático de Direito no Brasil.
O segundo interesse se justifica pelo fato de a Educação, nos anos 80 e início da década de 90, em especial no período de 1987-1990, receber atenção das sociedades civil e política, tendo como ponto alto do processo de redemocratização do País a Assembléia Nacional Constituinte, instalada em 1987 e a promulgação da Constituição Federal, em 1988, em que a Educação, como matéria constitucional, recebeu um registro significativo na estrutura normativa do texto constitucional, sendo, entre as demais matérias, norma positiva presente em todas as categorias estruturantes da atual Constituição, seja como matéria privativa, comum, concorrente das entidades federativas (União, Estados, Municípios e Distrito Federal) seja como matéria presente nos dispositivos jurídicos que configuram, organicamente, o Estado Federal brasileiro, fundado na descentralização política e na autonomia de seus entes federativos.
Na investigação, sentimos, desde logo, a necessidade de referenciais teóricos no Direito Constitucional Positivo no Brasil, pouco aplicados nos clássicos da historiografia educacional brasileira como os de Otaíza de Oliveira Romanelli (1983) e de Maria Luisa Ribeiro (1987) posto que, na análise do conteúdo, teríamos como alvo a sistematização das normas referentes à Educação na evolução constitucional (1824-1967), na Constituição Federal de 1988 e nas Constituições Estaduais de 1989.
Os fatos educacionais passaram a ser encarados por nós como fatos jurídico-constitucional e, assim, nosso trabalho passou a caminhar mais em direção ao Direito Educacional, vale dizer, disciplina ainda sem objeto e metodologia autônomos no âmbito das Ciências da Educação ou das Ciências Jurídicas.
Doutra sorte, acabamos por fazer, também, uma revisão na história tradicional da educação brasileira, em que os fatos educacionais são, em geral, diretamente relacionados à história política ou justificados pela história oficial do Estado.
Elementos Constitucionais
Aplicando um método de procedimento comparativo, valemo-nos de documentação direta, empregando uma observação direta extensiva, através de uma técnica de análise de conteúdo dos dispositivos constitucionais relativos à matéria educacional, em que nos permitiu a descrição sistemática, objetiva e quantitativa da Educação como matéria das Constituições.
Para tanto, nos recorremos a uma Teoria da Categoria de Elementos Constitucionais proposta por José Afonso da Silva (1992), de modo a situar a Educação, no conjunto das Constituições, como norma contida nos Elementos Orgânicos, Limitativos, Sócio-Ideológicos, de Estabilização Constitucionais e Formais de Aplicabilidade, levando, assim, talvez, pela primeira vez, para a História da Educação nas Constituições brasileiras, uma Teoria do Direito Constitucional aplicada à Educação Brasileira. Definiremos, a seguir, cada um dos cinco elementos constitucionais em que as normas educacionais estão localizadas:
Elementos Orgânicos: normas que regulam a estrutura e organização do Estado e do Poder e constituem aspectos do funcionamento do Estado.
Elementos Limitativos: normas que consubstanciam o elenco dos direitos e garantias fundamentais. Dão a tônica do Estado de Direito.
Elementos Sócio-Ideológicos: normas que revelam o caráter de compromisso das constituições modernas entre o Estado individualista e o Estado Social.
Elementos de Estabilização Constitucional: normas destinadas à defesa da Constituição, do Estado e das instituições democráticas, premunindo os meios e as técnicas contra sua alteração e infringência, exceto nos termos nela própria estituídos.
Elementos Formais de Aplicabilidade: normas que estatuem regras de aplicação das constituições de forma imediata.
A descrição das normas foi feita em tabelas a que denominamos na pesquisa de Mapas das Normas Educacionais, através de dois níveis: 
l) a nível de Constituições Nacionais (18124, 1891, 1934, 1937, 1946, 1967 e 1988) e 2) a nível de Constituições Estaduais, as promulgadas em 1989, distribuídas nas cinco regiões geográficas e unidades da Federação.
Este artigo toma como fundamento a Teoria do Estado Federal formulada por Raul Machado Horta (1995), que parte da definição de que o Estado é criação jurídico-política e que pressupõe, na sua origem, a existência da Constituição Federal. O autor ressalta que a técnica de repartição de competência entre a União e os Estados-Membros é um princípio para a construção normativa do Estado federal.
A Construção normativa do Estado Federal pressupõe, segundo o autor, a adoção de determinados princípios e técnicas, tais como: a) a decisão constituinte de se estabelecer um Estado Federal e suas partes indissolúveis, a União e os Estados-Membros; b) a repartição de competências entre a Federação e só Estados-Membros e c) o poder de auto-organização constitucional dos Estados-Membros, atribuindo-lhes autonomia constitucional.
Educação e o Regime Federativo
No que se refere à Educação como diretiva do Estado Federal, Oswaldo Trigueiro (1952) é um das referências na historiografia da educação brasileira. O autor procura mostrar que a Educação, como matéria das constituições contemporâneas escritas, é compatível somente ao regime federativo. Fora do regime federativo, nem a tradição nem a técnica jurídica justificam, segundo o autor, a Educação enquanto dispositivo constitucional.
Para Trigueiro, quando se registra a Educação como norma jurídica, estabelece-se, para a política educacional, padrões rígidos para a solução dos problemas da educação escolar.
O momento em que uma Constituição insere na sua estrutura normativa um capítulo específico da Educação, como ocorreu com a Constituição de 1934 e as subseqüentes, tal medida resultaria de um momento histórico, da imposição de forças sociais emergentes, de uma resposta do Estado-Liberal intervencionista às demandas das coletividades integrantes do Estado Federal.
Educação e o Regime de Colaboração
Com a Constituição de 1988, André Haguette diz terhavido, por parte da sociedade, uma compreensão mais real do atendimento à Educação, ao se estabelecer, a partir do novo ordenamento constitucional, um regime de colaboração entre as entidades federativas, como preceitua o Artigo 211.
A Constituição de 1988, segundo o autor, promoveu a co-responsabilidade coordenada e não uma municipalização pura e simples nem a divisão estanque de tarefa educacional entre as esferas intergovernamentais.
Especificamente sobre Educação, como dispositivo constitucional, no âmbito das Constituições Estaduais de 1989 temos inicialmente o estudo de Luiz Antônio Cunha (1991). Faz o autor um estudo sobre a educação no processo constituinte.
Após estudo comparativo da Educação nas Constituições estaduais de 1989, Luiz Antônio Cunha (1991) chega às seguintes conclusões: a) o detalhismo das constituições, em matéria educacional, reflete sua antecipação da Lei de Diretrizes Bases da Educação Nacional em várias questões, de diferentes níveis de relevância; b) As constituições estaduais apressaram-se em determinar a obrigatoriedade de certas disciplinas curriculares como solução para os problemas locais; c) Os funcionários públicos atuantes na área de ensino receberam benefícios e vantagens pessoais decorrentes dos dispositivos estaduais.
O autor é de opinião que muitos pontos tratados pelos constituintes estaduais inseridos nas Constituições Estaduais não são compatíveis com a constituição Federal de 1988, com repercussão negativa para o processo de adaptação estadual às orientações federais após a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional.
Romualdo Portela de Oliveira e Afrânio Catani (1003) fazem uma análise comparativa dos aspectos fundamentais relacionados com a matéria educacional presentes na Constituição Federal de 1988 e transpostos para as constituições estaduais de 1989.
A principal contribuição da obra, decerto, é como conseguem os autores observar o nível de adequação dos dispositivos estaduais ao texto federal atentos para o detalhamento, introdução de inovações e possíveis ações decorrentes para a política educacional estadual.
Entre as considerações finais, citamos as seguintes:
As constituições estaduais procuram, em boa parte dos Estados, aperfeiçoar e precisar as formulações gerais sobre democratização dos sistemas de ensino proposta na Constituição Federal;
Equacionamento adequado de temas envolvendo a gestão democrática do ensino;
Preocupação em expansão da rede pública do ensino superior;
Excessivo detalhamento de indicações curriculares
Preocupação de contemplar modalidades de ensino como democratização da educação.
[1] O direito à educação pertence à categoria dos chamados "direitos naturais". Ao ser prescrito no ordenamento jurídico, passa a direito social reconhecido e sancionado pela sociedade civil
[2] No nosso entendimento, todas as ocorrências normativas no âmbito das Constituições escritas capazes de gerar direitos, transformá-los ou os modificar, e extingui-los.
[3] Curso de Direito Constitucional Positivo, p.46.
Aula 3: O sentido da Lei nº. 4024/61: a elaboração da primeira Lei de Diretrizes e Bases
Após a Segunda Guerra Mundial, o mundo capitalista produziu duas tendências importantes. Por um lado, verificamos a expansão dos mercados, especialmente o mercado mundial de mercadorias, sob hegemonia e a pressão do mercado norte-americano. Por outro lado, foi o período de crescimento do Estado, de forma diferenciada, na Europa e no restante do mundo. A isto, na Europa Ocidental e na América do Norte, damos o nome de Estado de bem-estar social.
Segundo Wood (2001:12), “o capitalismo é um sistema em que os bens e serviços, inclusive as necessidades mais básicas da vida, são produzidas para fins de troca lucrativa; em que até a capacidade humana de trabalho é uma mercadoria à venda no mercado; e em que todos os agentes econômicos dependem do mercado, os requisitos da competição e da maximização do lucro são as regras fundamentais da vida (...). Acima de tudo, é um sistema em que o grosso do trabalho da sociedade é feito por trabalhadores sem posses, obrigados a vender sua mão-de-obra por um salário, a fim de obter acesso aos meios de subsistência”.
Você está lembrado da aula passada? Pois então, naquele momento você foi convidado a fazer um passeio histórico sobre a presença da educação nas Constituições. 
Nesta aula voltaremos a falar sobre o tema da Constituição de 1946 para que possamos aprofundar o nosso debate sobre o processo que desencadeou a elaboração da Lei 4024/61, que foi a primeira LDB que o Brasil produziu.
Esse momento histórico foi marcado pelo fim do governo de Getúlio Vargas, entre os anos de 1930 e 1945 (caracterizado em seus últimos sete anos pela ditadura do Estado Novo). Instalou-se, em decorrência, um processo de democratização da sociedade, com novos partidos se organizando e a elaboração de uma constituição que representasse essa nova fase política. 
Os resultados
A retomada de práticas democráticas, sobretudo as parlamentares, permitiu um alongado debate sobre a legislação educacional do país. Nesse texto constitucional ficara determinado, entre outras questões, como já vimos anteriormente, que a educação era entendida como um direito de todos. 
Vamos ver o trecho da lei?
Compete à União: 
(...)
XV - legislar sobre: 
(...)
d) diretrizes e bases da educação nacional;
O processo de elaboração
A elaboração da primeira LDB que o Brasil conheceu demorou muitos anos. Na verdade, esse processo pode ser dividido em dois períodos, que corresponderam a discussões e polêmicas bem distintas.
Uma primeira fase caracterizou-se pelo conflito partidário entre dois políticos, cujas trajetórias sempre estiveram vinculadas à educação. 
De um lado encontrava-se o Ministro do governo ora no poder, o Sr. Clemente Mariani. Mariani era filiado à UDN (União Democrática Nacional), partido ligado a setores conservadores, articulado às classes média e alta do país e à burguesia internacional, e de oposição às forças de Vargas. E do outro lado o ex-Ministro da Educação do Estado Novo, Deputado Gustavo Capanema, filiado ao PSD (Partido Social Democrático), apoiado pelas forças getulistas.  
O Ministro Mariani representando os interesses do governo, apresentou um projeto que possuía características descentralizadoras, que se chocou com os argumentos do deputado Gustavo Capanema, que propunha um sistema de ensino centralizador. O deputado redigiu um parecer que acabou por levar o projeto ao arquivamento. 
Essa disputa político-partidária adiou por alguns anos a discussão, que foi retomada efetivamente em 1957, quando da apresentação em plenário do projeto de lei conhecido como “Substitutivo Lacerda”.
Segundo período
Outra fase dessa longa trajetória de elaboração da LDB se iniciou. O debate, naquele momento, girou em torno da questão das verbas públicas. Vamos ver como foi?
O Deputado Carlos Lacerda, que deu nome ao projeto, encampou a proposta dos representantes das escolas particulares, sobretudo os colégios confessionais, que sob o lema da liberdade do ensino, defendiam os interesses privatistas, reivindicando a aplicação de recursos públicos para a manutenção tanto de escolas públicas quanto de particulares.
De outro lado, em torno da defesa de verbas públicas exclusivamente para escolas públicas, se colocaram educadores e intelectuais, como Anísio Teixeira, Fernando de Azevedo, Florestan Fernandes, entre outros. Eles chegaram a articular e publicar um outro Manifesto de Educadores, em 1959, intitulado "Mais uma vez convocados". O famoso documento recuperou em parte as ideias presentes no movimento de 1932, defendendo, destacadamente, a obrigatoriedade e a gratuidade do ensino primário. A primeira lei de diretrizes e bases
O texto final, aprovado pelo Congresso Nacional em 1961, representou em parte a vitória dos setores privatistas, pois a lei (através de alguns mecanismos) permitia a transferência para as escolas particulares de recursos públicos, contrariando a propostada "Campanha em defesa da Escola Pública". 
A lei instituía a educação como um direito de todos e estruturava o ensino em:
A estrutura do ensino instituída pela Lei n°. 4024/61 preservou a organização tradicional da educação brasileira: 
ENSINO PRÉ-PRIMÁRIO — formado por escolas maternais e jardins de infância;
ENSINO PRIMÁRIO — de frequência obrigatória, curso de 4 anos, podendo chegar a 6 anos;
ENSINO MÉDIO — compunha-se de duas fases: o ginásio em 4 anos, e o colegial em 3 anos, que correspondiam ao ensino secundário e o técnico (agrícola, comercial, industrial e normal).
Artigo 2º
Art. 2° A educação é direito de todos e será dada no lar e na escola. 
Parágrafo único. À família cabe escolher o gênero de educação que deve dar a seus filhos. 
O direito à educação é assegurado:
I - pela obrigação do poder público e pela liberdade de iniciativa particular de ministrarem o ensino em todos os graus, na forma da lei em vigor. 
II - pela obrigação do Estado de fornecer recursos indispensáveis para que a família e, na falta desta, os demais membros da sociedade se desobriguem dos encargos da educação, quando provada a insuficiência de meios, de modo que sejam asseguradas iguais oportunidades a todos. 
Lei n°. 4024/61
A LDB tinha como seus principais títulos os seguintes:
DOS FINS DA EDUCAÇÃO: O desenvolvimento e formação do cidadão para a vida em sociedade, em uma perspectiva democrática de acordo com o momento histórico.
DO DIREITO À EDUCAÇÃO: Estabeleceu-a como um direito de todo cidadão cabendo à família a escolha do tipo de educação a ser oferecida.
DA LIBERDADE DE ENSINO: Todos tinham direito a transmitir seus conhecimentos.
DA ADMINISTRAÇÃO DO ENSINO: Afirmou que cabia ao MEC exercer as atribuições do poder público federal, e atribuiu competências ao Conselho Federal.
DOS SISTEMAS DE ENSINO: Criou os sistemas de ensino federal, estaduais e municipais.
DOS RECURSOS PARA A EDUCAÇÃO: Instituiu que os recursos seriam aplicados preferencialmente nas escolas públicas, abrindo espaço para o setor privado.
Aula 4: As reformas educacionais da ditadura militar
Essa aula tem como finalidade debater e caracterizar o momento em que as leis 5540/68 e 5692/71 foram criadas, os interesses governamentais e as principais características da legislação.
Logo após a promulgação da primeira Lei de Diretrizes e Bases, o Brasil mergulhou em um novo momento político quando se instalou, em 1º de abril de 1964, através de um Golpe de Estado, outro governo autoritário, fase conhecida como Ditadura Militar. Foram anos marcados por uma intensa repressão que perseguia opositores, cassando e torturando políticos; e impedia os movimentos sociais, inclusive a organização de estudantes que lutavam contra a ditadura.
Uma nova Constituição vai ser redigida e outorgada à sociedade pelo governo militar. Esta foi a sexta Carta Constitucional do Brasil. Nela, os direitos dos cidadãos são restringidos, o Executivo Federal concentrava poderes, além de ser eleito de forma indireta pelo Congresso Nacional.
No capítulo sobre educação, o direito de todos a ela é reafirmado, apesar de também ficar expresso que o ensino é livre à ação da iniciativa privada, que continua a ter acesso a incentivos e facilidades financeiras dos cofres públicos, como disposto na Constituição anterior. Conforme escrito na Carta:
Art. 168. A educação é direito de todos e será dada no lar e na escola; assegurada a igualdade de oportunidade, deve inspirar-se no princípio da unidade nacional e nos ideais de liberdade e de solidariedade humana.
§1º. O ensino será ministrado nos diferentes graus pelos poderes públicos.
§2º. Respeitadas as disposições legais, o ensino é livre à iniciativa particular, a qual merecerá o amparo técnico e financeiro dos poderes públicos, inclusive bolsas de estudo. 
Esse momento histórico exigiu alterações na legislação educacional.
Não foi elaborada nova Lei de Diretrizes e Bases, mas sim duas leis que reformaram alguns aspectos da LDB vigente. Uma tratou de modificar os ensinos primário e secundário enquanto outra abordou o superior. As diretrizes básicas, estabelecidas pela lei 4024/61 (os 5 primeiros títulos), não são alteradas, demonstrando a continuidade da ordem socioeconômica mantida pelo golpe.
A lei 5540/68
A reforma do ensino superior tinha por finalidade a desmobilização dos estudantes universitários. Para tanto, instituiu o sistema de créditos que obrigava os alunos a realizarem a matrícula por disciplinas, o que impedia a formação de grupos nas mesmas turmas, como no tradicional curso seriado, dificultando a organização de grupos de pressão.
A lei 5540/68 também determinou que as disciplinas passassem a ser agrupadas por departamentos, deixando de se organizar por cursos, reforçando o caráter da fragmentação. Por fim, estabeleceu o vestibular unificado, desarmando as crescentes demandas, sobretudo dos estudantes secundaristas, por mais vagas nas universidades públicas.
A lei 5692/71
Esta legislação é frequentemente chamada de lei de diretrizes e bases de forma errônea.
Contudo, ela não pode ser confundida, pois se refere exclusivamente a dois segmentos da educação, que correspondem ao que nos dias atuais chamamos de educação básica.
A lei 5692 não tratava, também, dos objetivos gerais e finalidades da educação para o país. Ela era específica para dois segmentos do ensino.
Em linhas gerais, a lei criou a estrutura de ensino que se organizava em 1º e 2º graus. O primeiro grau passou a abranger os antigos ensino primário e ginásio, atendendo às crianças dos 7 aos 14 anos. Ampliou, então, a obrigatoriedade escolar de quatro para oito anos.
Art. 1° (...) - Para efeito do que dispõe os artigos 176 e 178 da Constituição, entende-se por ensino primário a educação correspondente ao ensino de primeiro grau e por ensino médio, o de segundo grau.
Em seguida, a lei transformou o antigo curso secundário (que se apresentava como clássico, científico ou normal) em ensino de 2° grau, nivelando todos os cursos, e possibilitando que qualquer concluinte pudesse prestar vestibular para qualquer área universitária.
Tornou ainda, o 2° grau em obrigatoriamente profissionalizante. Essa medida se restringiu em grande parte apenas às escolas públicas que submetidas à exigência, procedem às adaptações, no prazo previsto na lei. Entretanto, as escolas particulares que, se aproveitando dos prazos para a adequação, e por não sofrerem rigorosas fiscalizações, mantiveram, em sua maioria, o ensino propedêutico, até a revogação da obrigatoriedade do ensino profissionalizante.
Art. 72. A implantação do regime instituído na presente Lei far-se-á progressivamente, segundo as peculiaridades, possibilidades e legislação de cada sistema de ensino, com observância do Plano Estadual de Implantação que deverá seguir-se a um planejamento prévio elaborado para fixar as linhas gerais daquele, e disciplinar o que deva ter execução imediata.
Com a promulgação da lei, o Segundo grau passava a combinar uma dupla característica: garantia ao mesmo tempo a terminalidade para aqueles que pretendiam a formação em nível técnico, e a continuidade para os que desejavam prestar o vestibular.
A lei 5692/71: oficialização do ensino supletivo
O ensino profissionalizante tinha o objetivo de atender à formação de mão-de-obra no sentido de garantir o suporte para a ampliação do parque industrial brasileiro, em reposta aos preceitos liberais de divisão internacional do trabalho. Para isso, foi a primeira legislação educacional que criou um capítulo para tratar do ensino supletivo.
CAPÍTULO IV - Do Ensino Supletivo
Art. 24. O ensino supletivo terá por finalidade: 
a) suprir a escolarização regular para os adolescentes e adultos que não a tenham seguido ou concluído na idade própria; 
b) proporcionar, mediante repetida volta à escola, estudos de aperfeiçoamento ou atualização para os que tenham seguido o ensino regular no todo ou em parte. 
Parágrafo único. O ensino supletivo abrangerá cursos e exames a seremorganizados nos vários sistemas de acordo com as normas baixadas pelos respectivos Conselhos de Educação. 
A Lei 5692/71 também introduziu algumas propostas, que contribuíram para o debate pedagógico, a saber:
INTEGRAÇÃO HORIZONTAL: Previa também, a Integração horizontal, que buscava eliminar a diferença entre os antigos ramos de ensino: agrícola, comercial, industrial e normal, articulando as várias áreas do conhecimento, no interior de cada série.
INTEGRAÇÃO VERTICAL: A lei previa a Integração vertical, entre os dois graus, entre os níveis (o primeiro e o segundo segmento do 1° grau) e entre todas as séries de ensino das atividades, áreas de estudo e disciplinas, com o propósito de garantir um trabalho de continuidade desde a 1ª série do 1° grau até a última série do 2° grau.
VALORIZAÇÃO DO MAGISTÉRIO: A valorização do magistério é uma outra questão presente na lei. Foi citada especialmente buscando a crescente profissionalização dos professores, o aperfeiçoamento daqueles já formados, e adequando os vencimentos salariais segundo os critérios do nível de formação, ao contrário do nível que ministrava:
Art. 39. Os sistemas de ensino devem fixar a remuneração dos professores e especialistas de ensino de 1º e 2º graus, tendo em vista a maior qualificação em ossos e estágios de formação, aperfeiçoamento ou especialização, sem distinção de graus escolares em que atuem.
Aula 5: A política educacional brasileira na transição democrática: a carta de 1988
O objetivo dessa aula é o de debater o processo de elaboração da atual Constituição, levando em conta a conjuntura político-econômica da época, ao mesmo tempo em que busca identificar os interesses nacionais envolvidos durante o processo. Vamos apresentar o momento histórico em que a Constituição de 1988 foi elaborada e promulgada, e debater os principais aspectos educacionais definidos pelo texto constitucional.
Visão geral da Constituição de 1988
Dividimos os principais pontos por tópicos:
ESTRUTURA DA CARTA: O texto, que vigora nos dias de hoje, foi aprovado em 5 de outubro de 1988, e está organizado em nove Títulos, subdivididos em capítulos, que por sua vez se desdobram em seções e subseções, quando se faz necessário. Os artigos têm numeração sequencial.
CONTESTO HISTÓRICO: Foi elaborada em um momento político bem característico, pois correspondia a uma grande mobilização popular que, diante do fim de um longo período ditatorial, exigia efetivas transformações na sociedade.
CONSIDERAÇÕES GERAIS: Em seu conteúdo, apresentou alguns avanços nas áreas sociais e políticas, como a igualdade de direitos entre homens e mulheres, o voto do analfabeto, o voto aos 16 anos, o racismo tratado como crime, além de pôr fim à censura. O texto constitucional estabeleceu, ainda, alguns dispositivos que defendem o cidadão quando seus direitos são negados, especialmente os dispositivos contra a arbitrariedade do Estado. Vem daí o fato de ela ser conhecida por muitos políticos, e festejada pela imprensa, como a Constituição Cidadã.
Artigo 6º
No artigo 6º, apresentou a educação como um dos muitos outros direitos sociais, como se pode comprovar abaixo:
Art.6º - São direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição. 
Direitos conquistados
Habeas-data
Garante ao cidadão o acesso às informações a seu respeito constantes no registro de banco de dados de qualquer entidade governamental.
Mandado de injunção
Assegura o exercício de um direito garantido pela Constituição.
Ação popular
Tem como objetivo anular ato lesivo ao patrimônio e punir seus responsáveis.
Habeas-corpus
Assegura a reparação ou prevenção do direito de ir e vir, constrangido por ilegalidade ou por abuso de poder (as ditaduras assim que instaladas, haviam suspendido esse instrumento com o propósito de realizar prisões ilegais).
Mandado de segurança
Protege o cidadão quando seus direitos estão prestes a ser desrespeitados por uma instituição. Agora, existe também o mandado de segurança coletivo, isto é, impetrado por sindicatos e associações da sociedade civil.
A educação no texto constitucional
O tema educacional na Constituição é apresentado no Título VIII, que trata Da Ordem Social, em seu capítulo III, intitulado Da educação, da Cultura e do Desporto, especificado na Seção I, chamada Da Educação, que se dispõe em dez artigos, entre o 205 e o 214. Abaixo, listamos alguns pontos importantes do texto:
ART 205: No primeiro artigo, a Carta Constitucional estabelece a educação como direito de todos e dever do Estado e da família. É interessante notar como o dever do Estado precede o da família, o que realmente demonstra a importância do poder público em garantir ensino para a população como se pode vir abaixo:
“Art. 205: A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”.
Declaração da Conferência da Venezuela e o Artigo 205:
O artigo 205 dispõe sobre as finalizações da educação, que estão em consonância com a Declaração da Conferência da Venezuela (1971), na qual fora estabelecido que:
“O conteúdo da educação exige uma revisão profunda orientada para a formação integral que abranja a totalidade do homem, sendo injusto e prejudicial à sociedade que a pessoa se frustre, ou seja, privada das possibilidades de desenvolvimento e afirmação que toda educação deve promover” (apud Santos, 2003, p.33). 
ART 206: Os princípios do ensino foram especificados no artigo 206, e podemos destacar:
A garantia de igualdade de acesso e permanência à escola;
Liberdade de ensinar e aprender;
Gratuidade nas escolas públicas;
Gestão democrática nas escolas da rede pública;
Valorização dos profissionais da educação, que inclui plano de carreira e piso salarial para o magistério.
ART 208: No artigo 208, especifica a obrigatoriedade e gratuidade do ensino fundamental como ação complementar ao dever do estado, estendendo a todos aqueles que não tiveram oportunidade de estudar na infância. Percebe-se, aqui, a preocupação do poder público em garantir a escolaridade mínima para a população.
“Art. 208 – O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de:
I – ensino fundamental obrigatório e gratuito, assegurada, inclusive, sua oferta gratuita para todos os que não tiveram acesso na idade própria”. 
O papel de cada esfera
A União, Estados, Distrito Federal e Municípios devem proporcionar o acesso à cultura, à educação e à ciência, e que todas as esferas têm competência para legislar sobre educação, desde que respeitadas as diretrizes e bases fixadas em seu texto. 
Apresenta, ainda, como dos municípios, a prioridade quanto à responsabilidade de manter programas para os níveis pré-escolar e ensino fundamental (cabendo à União complementar recursos, em casos de dificuldades dos municípios). 
ART 2011A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios organizarão em regime de colaboração seus sistemas de ensino (...).
§ 2º - Os Municípios atuarão prioritariamente no ensino fundamental e na educação infantil.
§ 3º - Os Estados e o Distrito Federal atuarão prioritariamente no ensino fundamental e médio.
§ 4º - Na organização de seus sistemas de ensino, os Estados e os Municípios definirão formas de colaboração, de modo a assegurar a universalização do ensino obrigatório.
A Constituição de 1988 assegura ainda o direito à educação dos povos indígenas, garantindo que o ensino se realize em língua materna e na língua portuguesa. Permite, dessa maneira, a integração dos povos à sociedade brasileira, preservando sua cultura.
Verbas públicas destinadas à educação
Quanto à aplicação das verbas públicas, a Constituição estabelece que cabe à União aplicar no mínimo 18%, enquanto que os municípios e estados devem investir no mínimo 25% cada.Podemos considerar essa vinculação dos recursos como um avanço, pois predetermina uma parcela do orçamento que deve ser aplicada em educação.
Conclusão
Como vimos, a Carta de 1988 consagrou alguns direitos sociais, resultado de intensas lutas que animaram durante muitos anos a sociedade brasileira, algumas iniciadas ainda antes da Ditadura Militar. 
A questão é que:
Assim que o texto foi publicado, mobilizações de setores contrários aos direitos aprovados começaram a se fazer notar, e buscavam caminhos para o retrocesso, seguindo premissas neoliberais - tema que iremos abordar com detalhes nas aulas seguintes.
Aula 6: O significado do estatuto da criança e do adolescente
O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA)
Foi o resultado de um longo debate travado na sociedade brasileira, que se iniciou em 1979 com a elaboração do Código de Menores, e que ganhou um novo impulso com a promulgação da atual constituição brasileira (CF/1988). Esse debate envolveu diferentes setores da sociedade, sob a forma de movimentos populares, incluindo-se as Organizações Não Governamentais (ONGs) e representantes dos Três Poderes da República:
Executivo Legislativo Judiciário
No plano internacional, a assinatura da Convenção Internacional dos Direitos da Criança das Organizações das Nações Unidas (1989) acelerou decisivamente a transformação das políticas públicas voltadas para crianças e jovens.
Lugar de criança é na escola
O Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei 8069/90) é o dispositivo legal que estabelece os direitos e deveres de criança e adolescente no Brasil. Apresenta os direitos relacionados à educação, à saúde, à vida familiar e à vida em sociedade, além de também dispor sobre os deveres.
Estrutura
O texto do estatuto compõe-se de 267 artigos, e está organizado em duas partes: a Geral e a Especial, que por sua vez se dividem em títulos, subdivididos em capítulos, e esses em seções.
Abaixo reunimos os artigos mais pertinentes:
ARTIGO 3º Art. 3º: A criança e ao adolescente gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-se lhes, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade.
ARTIGO 4ºArt. 4º: É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária.
ARTIGO 5ºArt. 5º: Nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão, punido na forma da lei qualquer atentado, por ação ou omissão, aos seus direitos fundamentais.
A lei 8069/90 é considerada um dos modelos legais mais avançados no mundo, tanto em termos políticos quanto jurídicos. O texto da lei evidencia o compromisso do Estado, e da sociedade civil de garantir o atendimento dos direitos das crianças e dos jovens.
O Estatuto e a Educação
O tema da Educação é tratado pelo Estatuto da Criança e do Adolescente como um direito de todos e um dever do Estado. Apresenta-se sob a forma de sete artigos (do artigo 53 ao 59), em que estão estabelecidos os objetivos da educação, além de estarem especificados os papéis do Estado quanto aos deveres, a responsabilidade da família, as competências dos gestores escolares, o respeito aos valores culturais, artísticos e históricos da comunidade a qual o estudante pertence.
Aqui foram destacados os artigos do estatuto em que estão explicitados os direitos e os deveres:
Art. 53. A criança e o adolescente têm direito à educação, visando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania e qualificação para o trabalho, assegurando-se lhes:
I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;
II - direito de ser respeitado por seus educadores;
III - direito de contestar critérios avaliativos, podendo recorrer às instâncias escolares superiores;
IV - direito de organização e participação em entidades estudantis;
V - acesso à escola pública e gratuita próxima de sua residência. 
Parágrafo único. É direito dos pais ou responsáveis ter ciência do processo pedagógico, bem como participar da definição das propostas educacionais.
Art. 54. É dever do Estado assegurar à criança e ao adolescente:
I - ensino fundamental, obrigatório e gratuito, inclusive para os que a ele não tiveram acesso na idade própria;
II - progressiva extensão da obrigatoriedade e gratuidade ao ensino médio;
III - atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino;
IV - atendimento em creche e pré-escola às crianças de zero a seis anos de idade;
V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação artística, segundo a capacidade de cada um;
VI - oferta de ensino noturno regular, adequado às condições do adolescente trabalhador;
VII - atendimento no ensino fundamental, através de programas suplementares de material didático-escolar, transporte, alimentação e assistência à saúde. 
§ 1º - O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito público subjetivo.
§ 2º - O não oferecimento do ensino obrigatório pelo poder público ou sua oferta irregular importa responsabilidade da autoridade competente.
§ 3º - Compete ao poder público recensear os educandos no ensino fundamental, fazer-lhes a chamada e zelar, junto aos pais ou responsável, pela frequência à escola. 
 “O Estatuto da Criança e do Adolescente mudou os paradigmas em relação ao menor, reconhecendo-o como sujeito de direitos, assegurando-lhe, entre outros, o direito fundamental à educação. Portanto mudou a lei que alterou a relação entre a criança, o adolescente e a educação. Todavia indaga-se: mudou a formação do professor? A sua formação contempla a questão da cidadania infanto-juvenil? A mudança da lei proporcionou alteração em sua prática diária na sala de aula?”
FERREIRA, Luiz Antonio M. O Estatuto da Criança e do Adolescente e o Professor – reflexos na sua formação e atuação. S.P.: Cortez, 2008, p. 16.
A formação docente precisa acompanhar esses novos tempos iniciados com a publicação do Estatuto. É necessário incorporar novos conhecimentos na sala de aula e novas posturas que reconheçam os direitos das crianças e jovens cidadãos. A falta de informação sobre o dispositivo legal em questão acarreta problemas nas escolas, desrespeitos generalizados, violências indiscriminadas. 
O Estatuto e a Constituição
O texto do estatuto está em consonância ao que prevê o texto constitucional, que afirma:
Art. 205 - A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.
As crianças e os jovens adolescentes que estão em processo de desenvolvimento, sujeitos de direitos e passíveis de proteção integral.
Crianças: pessoas até 12 anos;
Adolescentes: pessoas entre 12 e 18 anos
Casos excepcionais previstos na lei, esse entendimento se estende até os 21 anos.
Mundo Ideal versus Mundo Real
A questão principal, contudo, é de implementar o conteúdo que o Estatuto apresenta. Não basta que os textos legais se mostrem avançados em suas formulações, o fundamental é que os avanços se apresentem em conquistas sociais.
Infelizmente ainda vivemos diante de uma realidade que em nada favorece uma grande parcela de crianças e adolescentes, que ainda vivem sem dignidade.
É fundamental, portanto, que todo professor conheça o texto do Estatuto da Criança e do Adolescente para que possa contribuir no cumprimento de suas determinações, além de acompanhar a sua aplicação. 
Ferreira (2008:109) entendeque educação e cidadania são indissociáveis, pois somente a educação assegura o exercício pleno da cidadania. Pela educação, os alunos serão capazes de exigir direitos e de cumprir deveres.
Fazer cumprir significa criar condições de manter todas as crianças nas escolas.
Além disso, interessa também ao educador conhecer o Conselho Tutelar, seu funcionamento e atuação. Este é o órgão que recebe as denúncias e assegura o cumprimento dos termos do estatuto. É composto por conselheiros eleitos na comunidade, que tem como objetivo acompanhar os casos de violações.
Aula 7: A política educacional dos anos 90
A ideologia neoliberal, apresentada como única via para enfrentar a crise econômica nacional, ocupou paulatinamente credibilidade junto às elites brasileiras e tornou-se hegemônica a partir do governo de Fernando Henrique Cardoso (FHC). 
A política educacional brasileira dos anos 90 foi implementada através de um conjunto articulado de reformas, com orientação do Banco Mundial, de acordo com o que preconizava tal ideologia no que tange à educação. 
Quem é o Banco Mundial?
A fundação do Banco Mundial (BIRD) está vinculada à fundação do FMI (Fundo Monetário Internacional), no ano de 1994, na Conferência de Bretton Woods, como resultado da preocupação dos países centrais com o estabelecimento de uma nova ordem internacional no pós-guerra. 
No início, o papel de destaque cabia ao FMI; a atuação do Banco Mundial estava apenas voltada para a reconstrução do Continente europeu, de forma a assegurar a hegemonia do sistema capitalista e os interesses da economia americana sobre mercado desse continente.
O Grupo Banco Mundial compreende:
Em 1992, o Fundo Mundial para o Meio Ambiente (GEF) passou para a coordenação do Banco, tornando-se o maior gestor de recursos para o meio ambiente no âmbito global.
POLÍTICA DE ATUAÇÃO: Como podemos observar, tanto na Europa, como nos países periféricos, a política de financiamento do FMI e do Banco Mundial está intimamente associada à defesa dos interesses econômicos dos EUA que, após a Segunda Guerra Mundial, assume a liderança política e econômica do Bloco Capitalista. Portanto, cabe destacar que os Organismos Internacionais estão fortemente vinculados aos Estados Nacionais, sobretudo aos EUA.
POLÍTICA DE FUNCIONAMENTO: O poder de decisão dos países no Banco Mundial e no FMI não se dá através do voto individual de cada país, mas sim em função do capital depositado por cada um deles no Fundo. Sendo assim, desde a fundação até hoje existe uma divisão entre Europa e EUA, de modo que sempre o presidente do Banco Mundial é um americano, e o do FMI indicado pela União Europeia. O financiamento, não é o único nem o mais importante papel desempenhado pelo Banco no setor social, mas sim o caráter estratégico que vem desempenhando no processo de reestruturação neoliberal dos países dependentes.
O Banco Mundial e a América Latina
A crise do endividamento, vivida pelos países da América Latina a partir dos anos 80, possibilitou uma maior interferência do Banco na política interna dessas nações. Sob essa perspectiva, o Banco Mundial, no final dos anos 80, formulou um conjunto de reformas a serem aplicadas nos países endividados para atender às necessidades de expansão do capital internacional. Essas reformas, que ficaram conhecidas como “Consenso de Washington”, defendiam principalmente:
O equilíbrio orçamentário mediante a redução dos gastos públicos
A abertura comercial
A liberalização financeira
A abertura comercial
A liberalização financeira
Embora esses países pudessem enfrentar recessão e aumento da pobreza num primeiro momento de implantação das reformas, só assim, afirmava o Banco, seria possível retomar o crescimento econômico. Enfim, retomar o desenvolvimento sustentável.
Economia e política social
O princípio de política social focalizada na pobreza, expressa nos documentos do Banco Mundial, reflete uma concepção de atendimento mínimo para aqueles que não podem adquirir esses serviços no mercado. Entretanto, tal posicionamento rompe com o princípio da igualdade de direitos, luta histórica do movimento popular. 
Nesse sentido a educação, como política social focalizada, tem lugar de destaque nas propostas do Banco Mundial para a América Latina. A Reforma da Educação instituída para priorizar a educação inicial em detrimento dos demais níveis de ensino é um bom exemplo do papel que desempenhamos nessa nova ordem mundial. 
Ora, se as condicionalidades impostas pelos Organismos Internacionais têm nos conduzido a um processo de recolonização, caracterizado pelo fim do desenvolvimento autônomo e dependência científica e tecnológica, qual seria a necessidade de se investir numa educação de longa duração?
Política educacional: lógica neoliberal
O Banco, que nesse momento tema tarefa de implementar a política de ajuste econômico nos países periféricos, apresenta para a educação um conjunto de mudanças caracterizadas como Reformas Educacionais da década de 90. 
Mercado segmentado:
Sendo assim, não há lugar para o desenvolvimento autônomo de todos os países para a inclusão de todos os indivíduos. É a isso que o Banco chama de equidade; na verdade, uma demonstração desigual.
Ótica de prioridade do Banco: desvincular os níveis de ensino.
Ensino Fundamental: atinge a maioria da população; alimenta o mercado de trabalho tradicional; essa camada não ascenderá ao mercado de trabalho “modernos”.
Nesse sentido, as Reformas Educacionais indicadas pelo Banco Mundial apresentaram basicamente dois eixos. O primeiro voltado para uma educação racional e eficiente, capaz de reduzir os custos, o que implica na divisão de responsabilidades entre o Estado e a sociedade. O segundo, centrado na qualidade do ensino em função do diagnóstico apresentado pelo Banco acerca dos principais problemas da educação. 
Tais problemas estão relacionados ao acesso e permanência dos alunos na escola, crescimento acelerado da demanda de educação secundária e superior, alfabetização de adultos e aprofundamento da distância entre países da OCDE (Organização para Cooperação e o Desenvolvimento Econômico) e da América Latina e Caribe.
Sendo assim, o documento do Banco Mundial (1995) que apresenta a sua posição e a sua prioridade para esse setor propõe mudanças no financiamento e na gestão do sistema educativo, de maneira a melhorar o acesso, a equidade e a qualidade.
No Brasil, o Banco Mundial ampliou sua atuação a partir da década de 80, com um maior volume de empréstimos vinculados à interferência na elaboração dos projetos educacionais, como, por exemplo, o Projeto EDURURAL, ou Nordeste I, desenvolvido entre 1980 e 1987.
Mas é na década de 90, com a incorporação das recomendações provenientes das Conferências Internacionais (1990, na Tailândia; 1993, em Nova Delhi) ao Plano Decenal Brasileiro para a Educação que vamos verificar, de fato, a importância que esse Organismo Internacional assume na política educacional brasileira.
Política neoliberal para a educação
A concepção neoliberal que passou a orientar essa política educacional tratou a educação não mais como um direito do cidadão, mas sim como uma mercadoria. Não seria por outro motivo que, Paulo Renato Souza, um economista que foi ministro da educação nos dois governos de Fernando Henrique, tenha ocupado uma vice-presidência no Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).
A educação ocupou um papel relevante na reforma do Estado brasileiro. Para tanto, o primeiro governo de Fernando Henrique (1995-1998) sofreu uma profunda reformulação, tomando como base o conceito de equidade social da forma que aparece nos estudos produzidos pelos Organismos Internacionais ligados à ONU e promotores da Conferência de Jomtien.
Por equidade podemos entender a possibilidade de estender certos benefícios obtidos por alguns grupos sociais à totalidade das populações, sem, contudo, ampliar na mesma proporção às despesas públicas para esse fim (cf. Oliveira, 1999:74).
Descentralização do ensino ou da responsabilidade?
A “Conferência de Educaçãopara Todos” (Março de 1990, em Jomtien) estabeleceu como orientação priorizar o ensino fundamental em detrimento dos demais níveis de ensino. Ainda, defendeu que a tarefa de assegurar a educação é de todos os setores da sociedade. De acordo com essa postura, o dever do Estado foi relativizado.
Municipalização da educação primária:
Desresponsabiliza o Estado com esse nível de ensino
Surge-se (induz-se) uma privatização de ensino não contemplado na “cartilha”
A teoria na prática
O eixo descentralização/racionalização tem, na municipalização do ensino e na criação do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério (FUNDEF), a principal articulação do governo federal para ampliar o atendimento ao ensino fundamental, sem aumentar os recursos destinados a esse nível de ensino. 
O governo federal repassa aos municípios, muitas vezes as unidades mais pobres da Federação, a responsabilidade com esse nível de ensino, como bem podemos observar no quadro a seguir: 
	Relação Administrativa
	1996
	1997
	1998
	
	Nº
	%
	Nº
	%
	Nº
	%
	Estadual
	18.468.722
	63
	18.098.544
	59
	17.266.355
	53
	Municipal
	10.921.037
	10.921.037
	12.436.528
	41
	15.113.669
	47
	Total
	29.389.809
	100
	30.535.072
	100
	32.380.024
	100
A política educacional desse modelo de Estado Capitalista, implantado no Brasil de forma dominante a partir do governo de Fernando Henrique Cardoso, tem na municipalização da educação e no FUNDEF os elementos fundamentais da atual política econômica. 
Com essa descentralização, o Estado repassa a responsabilidade do investimento na educação para outros setores da sociedade. Porém, a formulação e o controle da aplicação dessa política são altamente centralizados, o que não permitiu a participação da sociedade na sua elaboração. 
Aula 8: A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional: elaboração, características, avanços e retrocessos
Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDBN 9394/9
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional é considerada a lei maior da educação no país, e está subordinada à Constituição Federal e situa-se logo abaixo dela, definindo de uma maneira geral a nossa educação. Por ter um caráter abrangente, necessita de regulamentação, ou seja, de legislação específica para vários de seus dispositivos. Segundo Demerval Saviani, fixar as diretrizes da educação nacional:
(...) não é outra coisa senão estabelecer os parâmetros, os princípios, os rumos que se deve imprimir à educação no país. E ao se fazer isso estará sendo explicitada a concepção de homem, sociedade e educação através do enunciado, dos primeiros títulos da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional relativos aos fins da educação, ao direito, ao dever, à liberdade de educar e ao sistema de educação bem como à sua normatização e gestão. 
(Saviani, 1998, p. 189). 
A Lei de Diretrizes e Bases da educação Nacional (LDB) sancionada sem vetos pelo Presidente da República em 20 de dezembro de 1996, é resultado de oito anos de tramitação no Congresso Nacional e muita mobilização da sociedade. Leia mais a seguir:
1987/1988: Como resultado da mobilização de educadores organizados que, em 1987 buscaram interferir no Processo Constituinte apresentando propostas para o capítulo da Constituição referido à educação, iniciou-se, nesse mesmo ano, o movimento em torno da elaboração das novas diretrizes e bases da educação nacional. Dessa forma, em 1988, promulgada a Constituição Nacional, o deputado Otávio Elísio (PSDB) apresentou na Câmara Federal um projeto de lei que representava o debate inicial dos educadores.
ORIGEM DO TEXTO: Esse projeto, na sua primeira versão, praticamente colocou, em forma de lei, o texto “Contribuição à elaboração da nova LDB: Um início de conversa” de Demerval Saviani, apresentado na Reunião Anual de Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (ANPED), realizada em Porto Alegre, no período de 25 a 29 de abril de 1988, acrescido de um texto de financiamento do professor Jaques Veloso.
VISÃO DE DENTRO: A participação de instituições científicas e sindicais reunidas desde o processo da Constituição deu origem ao Fórum em Defesa da Escola Pública, que desempenhou um importante papel ao acompanhar e subsidiar a formulação da nova LDB. Esse Fórum se constituiu em grande articulador junto à Comissão de Cultura, educação e Desporto, contrapondo-se aos interesses empresariais e privatistas.
AS DISCUSSÕES: Ao projeto inicial da LDB, do Deputado Otávio Elísio, seguiram-se outros, como o substitutivo Jorge Hage, ao qual deu início a uma série de discussões públicas com os grupos organizados de educadores de várias tendências. Após ser aprovado pelas diversas Comissões da Câmara, o substitutivo foi enviado para apreciação e votação no plenário dessa Casa.
A APROVAÇÃO: Em maio de 1993, o projeto da LDB foi aprovada na Câmara, depois de muitos embates, 1263 emendas, algumas incorporadas pela nova relatora, deputada Ângela Amin, do PDS, depois do PPR e atualmente do PPB. Seu relatório incorporou várias emendas que correspondiam aos interesses dos grupos privados. “Com isso, o caráter social democrata e progressista do Substitutivo Jorge Hage foi atenuado pela incorporação de aspectos correspondentes a uma concepção conservadora de LDB”.
As mudanças no caminho
Entretanto, ainda em 1992, depois do projeto da Câmara já completar três anos de debate e de intensa negociação, repentinamente surge no Senado um novo projeto de autoria do senador Darcy Ribeiro.
Esse projeto, oriundo de um intelectual que historicamente esteve ao lado das forças progressistas da sociedade brasileira, além de desrespeitar todo um processo democrático voltado para a elaboração da LDB, colocou-se a serviço do novo governo eleito, na defesa dos interesses das forças conservadoras. 
A Nova LDB: Texto Final
O texto final da atual LDB deve ser compreendido no processo de disputa de projeto político pelo qual passa o país no período final de seu longo trajeto na Câmara e no Senado. 
A vitória do projeto conservador, no final de 1994, liderado por Fernando Henrique Cardoso, significou para o país o avanço da política neoliberal, na qual o mercado se sobrepõe aos interesses da maioria da população. O resultado desse processo poderia ser assim resumido: 
REDUÇÃO DO DEVER DO ESTADO: Ao responsabilizar o poder público somente pela oferta obrigatória e gratuita do ensino fundamental e ao diminuir o compromisso da União para com a educação pública através da transferência de encargos para as esferas administrativas de nível estadual e municipal, a nova LDB acaba rompendo com o conceito de obrigatoriedade da educação básica, consolidando o disposto na emenda constitucional n°14, que diz caber à União uma ação meramente suplementar no financiamento da educação.
FRAGMENTAÇÃO DA CONCEPÇÃO DE SISTEMA NACIONAL DE EDUCAÇÃO: O que estabelece a nova LDB é uma mera justaposição dos poderes municipal, estadual e federal, tendo sido os respectivos conselhos descaracterizados e destituídos de autonomia política, de representatividade social e de responsabilidade de conduzir e acompanhar a implementação das políticas educacionais.
DESCARACTERIZAÇÃO DO PROFISSIONAL DE EDUCAÇÃO: Ao não estabelecer um piso salarial profissional nacional, a nova lei descaracteriza a figura do professor, descrevendo-a a partir de suas responsabilidades, ou a partir de sua formação.
RECURSOS FINANCEIROS: Alguns aspectos importantes que constam na nova LDB acerca do financiamento da Educação têm origem no projeto da Câmara de Deputados debatido exaustivamente com a sociedade. Sendo assim, vamos destacar em primeiro lugar, a fixação de prazos para o repasse dos valores do caixa da União, dos estados e dos municípios ao órgão responsável pela educação.
Outro ponto positivo é a delimitação do que pode e do que não pode ser considerado como despesa de manutenção e desenvolvimento do ensino. Essa medida estava presente no projeto original, e sua permanência representouuma importante conquista para o controle dos recursos públicos pela sociedade. No entanto, a lei aprovada não garantiu que os recursos públicos fossem destinados apenas para a educação pública, o que significou, mais uma vez, a vitória do setor privado ao manter o financiamento público para esse setor.
Informativo da Adusp nº 252
LDB volta a cena em 25 de fevereiro de 2008: 
Haverá mudanças na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional — LDB ou LDBEN, lei 9.394/96?
O conselho pleno do Conselho Nacional de Educação (CNE), que é composto por duas câmaras — de Educação Superior e de Educação Básica — tomou a iniciativa de criar uma comissão bicameral (Marilena de Souza Chauí e Aldo Vannucchi pela primeira; Regina Vinhaes Gracindo e Antônio Ibañez Ruiz pela segunda, sendo este último conselheiro seu presidente), para avaliar a LDB.
Ruiz solicitou (ofício circular n° 80, de 24/1/08) às entidades nacionais ligadas à educação, caso concordem com a iniciativa, sua opinião “a respeito da atual LDBEN, pensando, inclusive, nas modificações já efetuadas, bem como sugestões para eventuais outras alterações”, com prazo para encaminhamento a ele próprio (antonioruiz@mec.gov.br) até 24/2/08, depois postergada para 24/3/08, por sugestões de algumas dessas entidades nacionais, inclusive do Andes-SN.
Cabe lembrar que o processo de elaboração e tramitação da LDB foi altamente contaminado pelas perspectivas neoliberais que se impunham com força naquela época.
Adusp e ANDE
O Grupo de Trabalho sobre Políticas Educacionais da Adusp (GT Educação), composto por vários colegas que também participam da Associação Nacional de Educação (ANDE), elaborou um documento preliminar para discussão, tecendo considerações sobre o contexto de elaboração e tramitação, assim como relacionando os principais aspectos questionáveis na LDB em vigor. 
Esse documento foi encaminhado, como subsídio para discussão, para a reunião das entidades do Fórum Nacional em Defesa da Escola Pública (FNDEP, 14/2) e para a reunião do GTPE do Andes-SN (16 e 17/2), ambas ocorridas em Brasília.
Os representantes das entidades nacionais presentes na reunião de 14/2 (ANDE, Andes-SN, Anpae, ANPEd, Cedes e CNTE) deliberaram:
Aula 9: A nova Lei de diretrizes e bases da educação (LDB) e o plano nacional de educação
Qual o melhor formato a ser escolhido para a educação? 
No Brasil, a educação, sobretudo a de escolas públicas, ainda é precária. Os professores são mal pagos, os alunos têm dificuldade de aprender e o sistema educacional é deficiente. O governo, na tentativa de minimizar a precariedade desse cenário, cria medidas de fomento a iniciativas públicas e privadas que visam dar subsídios para melhorar a qualidade de ensino no país. 
Nesta aula, vamos ver o que foi a nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) e como desta surgiu o Plano Nacional de Educação (PNE).
A nova lei de diretrizes e bases da educação: da prevenção, dos produtos e dos serviços
A atual LDB (Lei 9394/96) foi sancionada pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso e pelo então ministro da Educação Paulo Renato em 20 de dezembro de 1996. Baseada no princípio do direito universal à educação para todos, a LDB de 1996 trouxe diversas mudanças em relação às leis anteriores, como inclusão da educação infantil (creche e pré-escolas) como primeira etapa da educação básica.
Principais características:
1 - Formação de docentes para atuar na educação básica em curso de nível superior, sendo aceito para a educação infantil e quatro primeiras séries do fundamental, a formação em curso Normal do ensino médio
2 - Formação dos especialistas da educação em curso superior de pedagogia ou pós-graduação
3 - A União deve gastar no mínimo 18% e os estados e municípios no mínimo 25% de seus respectivos orçamentos na manutenção e desenvolvimento do ensino público
4 - Dinheiro público pode financiar escolas comunitárias, confessionais e filantrópicas
5 - Prevê a criação do Plano Nacional de educação
Art. 53 a 59 e Art. 60 a 69 garantem:
Direito à educação Direito ao trabalho e à prevenção Produtos e serviços
O Plano Nacional de Educação (PNE)
DIRETRIZES: O PNE é um plano de governo que estabelece diretrizes, metas e prioridades para o setor educacional brasileiro, como objetivo de melhorar a qualidade de ensino em todo o país. Entre as principais diretrizes estão a universalização do ensino em todo o Brasil e a criação de incentivos para que todos os alunos concluam a educação básica.
ORIGEM: O PNE foi elaborado pelo Ministério da Educação, fundamentado na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB). O MEC contou com a participação de mais de 60 entidades, entre sindicatos, associações, conselhos e secretarias de Educação. O plano foi enviado pelo governo federal ao Congresso Nacional em dezembro de 1997. Parlamentares apresentam um projeto substitutivo e, após muitos debates e a criação de emendas, o plano foi aprovado no final de 2000 e sancionado pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso em 9 de janeiro de 2001.
AÇÃO: Agora o PNE virou lei e, por isso, suas metas deverão obrigatoriamente ser cumpridas até o final desta década. O coordenador do plano é o Ministério da Educação. Já os governos Federal, estadual e municipal são responsáveis por colocá-lo em prática. A estratégia adotada foi a criação de políticas públicas de educação e de desenvolvimento social. Como recurso financeiro, o governo utilizará 5% do PIB (o equivalente a aproximadamente 52 bilhões de reais).
O embate que resultou na criação do PNE
O Plano Nacional de Educação (PNE), criado pelo MEC, traça as diretrizes e metas para a Educação Brasileira, que devem ser cumpridas até o final desta década. 
A demora do Governo Federal para elaborar uma proposta de plano não fez com que a sociedade ficasse parada. Liderada pelo Fórum Nacional em Defesa da Escola Pública, a sociedade organizada formulou e aprovou, no 1º e no 2º Congresso Nacional de Educação (Coned), uma proposta de PNE da sociedade brasileira.
A proposta de plano que surgiu dessa mobilização foi apresentada ao Congresso Nacional antes da do governo pelo deputado Ivan Valente, que reuniu assinaturas de “mais de setenta parlamentares e de todos os líderes dos partidos de oposição” (Valente: 2002 97).
Entenda as diferenças entre o PNE defendido pela sociedade brasileira e o PNE aprovado
Entre o Plano Nacional de Educação defendido pela sociedade organizada e o PNE aprovado pelo governo existem diferenças substanciais. Veja agora essas diferenças e perceba como o poder do governo influenciou rumo dado às diretrizes da educação no país:
PNE DEFENDIDAS PELA SOCIEDADE: 
Consolidar um Sistema Nacional de Educação;
Assegurar os recursos públicos necessários à superação do atraso educacional e ao pagamento da dívida social;
Assegurar a manutenção da dívida social e o desenvolvimento da educação escolar em todos os níveis, modalidade e sistemas de educação;
Assegurar a autonomia das escolas e universidades na elaboração de projetos político-pedagógicos de acordo com as características e necessidades da comunidade, com o financiamento público e gestão democrática, na perspectiva do Sistema Nacional de Educação;
Universalizar a educação básica (nos diversos níveis e modalidades) e democratizar o ensino superior, ampliando as redes de instituições educacionais, os recursos humanos devidamente qualificados e o número de vagas e fortalecendo o caráter público, gratuito e de qualidade da educação brasileira, em todos os sistemas da educação;
Garantir a gestão democrática nos sistemas de educação nas instituições de ensino;
Definir a erradicação do analfabetismo como política permanente – e não como conjunto de ações pontuais, esporádicas, de caráter compensatório – utilizando, para tanto, todos os recursos disponíveis do poder público, das universidades, das entidades e organizações da sociedade civil;
Garantir a organização de currículos que assegurem a identidade do povo brasileiro, o desenvolvimento da cidadania, as diversidades

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