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Psicologia Institucional - aula 03

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De acordo com este autor, o estudo das instituições já esteve atrelado apenas aos sociólogos, para então o conceito de instituição começar a ser utilizado em setores mais próximos da pesquisa sociológica, como em linguagem jurídica e no vocabulário de antropologia. Mais tarde, a noção de instituição foi usada igualmente pelos psicossociólogos.
A prática psicossociológica cuida de instituições, mas sempre através de grupos que falam: nesses grupos, a palavra da sociedade passa por palavra reprimida, tornada ideológica, censurada pelas instituições, como linguagem do desconhecimento; a dimensão política mostra-se e encobre-se nessa alienação da palavra inacabada.
Em relação às instituições escolares, Lapassade acredita que a pesquisa pedagógica deveria fazer distinção entre as instituições externas à classe e internas.
Na pedagogia tradicional, essas instituições, na classe, impõem-se como um sistema que não poderia ser discutido.
É o quadro necessário da formação, julgado indispensável.
Em oposição a essa concepção das “instituições”, o autor propõe chamar de “pedagogia institucional” uma pedagogia em que as instituições são meios cuja estrutura se pode alterar.
Na autogestão pedagógica, os alunos instituem ao nível das instituições internas.
As instituições pedagógicas internas são a dimensão estrutural e regulada das trocas pedagógicas (com os seus limites - por exemplo, a hora de entrada e saída da classe é um elemento externo à classe, regulado pelo conjunto do grupo escolar) e o conjunto de técnicas institucionais que se pode utilizar nas classes: o trabalho em equipe, o conselho etc. As instituições pedagógicas externas são as estruturas pedagógicas externas à sala de aula, os inspetores, o diretor da escola, os programas, as instruções e os regulamentos.
Esses programas, instituições e regulamentos são objeto de decisão de cúpula da burocracia pedagógica. São difundidos pela via hierárquica até a base do sistema, até os professores e alunos.
A burocracia, para o autor, que a condena, nada mais é do que chamada de “administração”.
Para uma pedagogia institucional, Lapassade faz uma grande reflexão sobre o papel do fenômeno burocrático. Para ele, o que é preciso reprovar na burocracia e nos burocratas é, antes de tudo, o fato de que alienam fundamentalmente os seres humanos, retirando-lhes o poder de decisão, a iniciativa, a responsabilidade de seus atos, a comunicação.
De outra forma, privam os seres humanos de sua atividade propriamente humana. No entanto, o fenômeno burocrático não aparece como uma forma de parasitismo, mas, ao contrário, como o motor, o núcleo central, o cérebro da sociedade, como o que há de mais útil, que visa o “bem” de todos.
Lapassade, portanto, critica uma pedagogia burocrática no sentido de que o modelo de domínio pedagógico anuncia e contém o modelo de domínio burocrático, e é a justificação profunda de que se os indivíduos não tivessem experimentado, durante toda a infância, o modo de domínio pedagógico, eles jamais aceitariam o modo de domínio burocrático, porque ele lhes pareceria a pior das alienações.
Toda a crítica que se pode fazer a esse sistema consiste em que é ineficaz porque toda a psicologia contemporânea da aprendizagem e da formação mostra que o ser humano só aprende nos limites do interesse que tem em aprender. Um comportamento adquirido desaparece se não for reforçado e confirmado. A criança que aprende a lição para recitá-la ou para passar no exame esquecerá o conteúdo da lição, uma vez recitada, e esquecerá tudo o que aprendeu para o exame.
1 - Lapassade, então, esclarece o espírito da pedagogia institucional, que é um movimento que se desenvolve na França com a autogestão educativa como contestação à dominação pedagógica.
2 - Diz o autor que tentar enfrentar a burocracia dominante por meio de uma ação reivindicativa que vise criticar os atos dessa burocracia ou obrigá-la a aceitar uma certa participação dos administrados e uma certa colaboração com eles não significa colocá-la fundamentalmente em questão.
3 - Nada pode ser feito desde que não se destrua a relação hierárquica efetivamente em todo lugar onde possa ser destruída, desde que não o substitua por uma nova relação. Essa substituição, quando pode ser efetuada, tem o valor de um modelo e inspira imediatamente seguidores.
Então, em contraposição ao modelo burocrático, o movimento da pedagogia institucional procura difundir no interior da Escola realum novo modo de funcionamento e de relações humanas não burocráticas. A criança torna-se o centro de decisão, ou melhor,o grupo assume a sua própria direção e caminha para a sua própria autogestão.
O pedagogo, entronizado pela “Instituição externa” conserva naturalmente essa entronização, mas efetivamente deixa de representar o papel que corresponde à sua função. Ele nega a si como poder e como burocrata e se recusa a tomar decisões em lugar do grupo. Mas ele pode começar a entrar verdadeiramente em interação com os outros membros do grupo, o que não podia fazer antes, ele pode começar a dar uma formação.
Nesse movimento, leva-se em conta as diferenças entre crianças e adultos,  porque a insistência nas diferenças reais entre eles só pode ter valor de objeção desde que se acredite que a competência fundamenta e justifica uma relação de dominação. Este é um argumento clássico da burocracia, afirma Lapassade. Ele equivale a confundir a diversidade técnica das competências, das aptidões e das funções com a hierarquização social.
Na verdade, diferenças objetivas e reais não podem entrar em relação, em colaboração, chegar a um trabalho em comum e mesmo a uma transmissão de saber, a não ser quando há reciprocidade das pessoas, e não uma hierarquização. Porque se aquele que constitui o elemento fraco na relação de formação não se interessa por essa relação, desde que não se consiga ingressar no circuito de sua vontade e de sua expectativa, nada se passa, a não ser uma aplicação mecânica das decisões tomadas pelo mais forte.
O movimento da pedagogia institucional começou a tomar força no começo do século XX, com o plano Dalton e o método Vinnetka. Os que apareceram entre as duas guerras andaram de marcha à ré com relação aos anteriores, extremamente audaciosos.
No entanto, a pedagogia dita “moderna” inclinava-se a negligenciar os problemas que resultam da decisão de “desalienar” os alunos e os futuros adultos, por isso chegou a um certo fracasso e provocou respostas conservadoras na Europa e na América porque os problemas têm a ver com colocarem a questão das relações humanas na Escola e não o problema de vagos arranjos ou de uma mudança nas técnicas pedagógicas.
Lapassade, então, propõe a técnica da autogestão. O trabalho do pedagogo passaria por três etapas até a finalização dos acordos dentro do novo método. Em um primeiro momento, os alunos, surpreendidos com a novidade da experiência, permanecem imóveis, mudos, mais ou menos inertes, esperando que o pedagogo “assuma a direção das coisas”. 
Em um segundo momento, o profissional vê aparecer discussões sobre uma organização possível que possa contentar os desejos de todo mundo e a terceira etapa é a do trabalho propriamente dito, que pode assumir formas extremamente diversas: em equipes especializadas e funcionais, em equipes homogêneas, sem equipes etc.
A intervenção do pedagogo se estrutura, portanto, em três níveis: o de monitor de training group que se entrega à atividade de “reflexo” ou de análise, o de técnico de organização e o de sábio ou de pesquisador que possui um saber e procura comunicá-lo. E em cada um desses níveis o pedagogo permite uma “formação” que era impossível no sistema antigo, por exemplo, uma formação em relações sociais, em interrogações, em colaboração...
O esforço da pedagogia institucional, conclui Lapassade, constitui, de qualquer maneira, a empresa mais sistemática e mais estruturada para colocar em questão, no interior da escola, o domínio burocrático.

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