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Psicologia Institucional - aula 05

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De forma geral, a sociedade costuma reproduzir alguns mitos sobre o significado da instituição escolar. Igualdade social, oportunidades para todos, neutralidade e cientificidade, estão entre estes mitos que colocam a Escola à parte da luta de classes. Coimbra, educadora e psicóloga, mostra que o objetivo, nesta situação, é político-ideológico.
Um dos motivadores desta situação, segundo ela, refere-se à vários tópicos, tais como, ênfase na relação professor/aluno,  melhoria dos currículos,  modernização das técnicas e métodos de ensino que, desvinculados do contexto histórico, social, político e econômico reforça o ponto de vista predominante, como se a formação social não fosse necessária.
O marco para o início da instituição Escola foi a Idade Média, especialmente na Europa, onde religiosos se responsabilizavam pelo ensino reservado às elites, fossem crianças ou adultos. Nesta época, a ênfase não era referida à disciplina. 
No século XVII, surge a Escola como instituição, de modo semelhante ao contemporâneo. Este surgimento é concomitante à Revolução Industrial, (por volta de 1750). A necessidade principal foi a formação de um número maior de pessoas que soubessem ler, escrever e contar, habilidades necessárias para a mão de obra das indústrias.
A ideia predominante aqui é o surgimento da Escola com a função de inculcar os valores, hábitos e normas da ideologia burguesa e, com isso, mostrar a cada “educando” o lugar que deve ocupar na sociedade, segundo sua origem de classe.
Essa ideia fundamenta a visão “Escola como Aparelho Ideológico de Estado”. Na sequência, é possível concordar com a autora quando reforça que a família e os meios de comunicação, também, são elementos reforçadores da visão mencionada.
Sobre a influência das instituições na subjetividade humana, Martin-Baró (1998), reconhecido por seu comprometimento com as maiorias populares, à quebra do fatalismo e a desideologização para a liberdade das massas, destaca três grandes categorias que se encontram extremamente relacionadas entre si: 1) as condições materiais da existência, 2) a estrutura social e 3) a trama ideológica.
Estas três categorias se entrelaçam num determinado regime político que, para Martín-Baró, compreende uma ideologia, constituída num sistema, que organiza e regula as formas de vida, de um conglomerado social em um determinado tempo e circunstância. Neste sentido, o regime político se forma a partir de três componentes essenciais: 1) a ideologia, 2) a organização/ regulação e 3) a historicidade.
O argumento principal que amplia a visão de Coimbra refere-se a outro estudo de Martín-Baró (1983) em que ele aponta que as pessoas incorporam psiquicamente a ideologia social, em forma de atitudes, como um conjunto psicológico de crenças sobre o mundo, nas quais três instituições funcionam como catalisadores: 1) a família, 2) a escola e 3) a moral. Estes elementos contribuem para formar o que o autor denomina de "mentalidade fatalista".
A família, desde o tradicional corte patriarcal, expressa, através de suas atitudes, padrões dinâmicos e dicotômicos que transcendem sua realidade enquanto indivíduos. Neste espectro, a figura do pai é habitualmente machista, autoritária e psicologicamente ausente do lar e dos trabalhos domésticos, enquanto a mãe mantém uma postura feminina, dadivosa e presente no lar e tarefas domésticas.
Estes traços geram uma visão de mundo fatalista, determinista e a-histórica. A moral, segundo este pensador, é composta pelas normas que determinam as atitudes (pensamento, sentimento e julgamento).
Se, de um lado, estas três instituições têm importância na determinação da mentalidade fatalista, por outra, aponta Martín-Baró, que a ruptura desta mentalidade fatalista se dá através da consciência histórica, desideologização e manutenção de uma atitude altruísta.
2) a Escola não é neutra, na medida em que  tem por finalidade universalizar os valores, hábitos e costumes de uma determinada classe social. Essa visão hierárquica vertical define disciplina como o conjunto de punições e castigos.
3) a Escola não assume responsabilidade pelos fracassos escolares. O grande número de repetências e evasões passa a ser explicado como responsabilidade dos alunos e suas famílias. Essas práticas, que excluem os alunos segundo sua classe social, estão concretizadas nos currículos, nos conteúdos, nos métodos de avaliação, nos testes psicológicos.
Se educadores acreditam nesses mitos, eles próprios acatam a neutralidade como natural e, segundo Coimbra, fica reforçada a ideia de que educadores se configuram como instrumentos importantes na transmissão da ideologia dominante. E assim, a Escola cotidianamente coloca em funcionamento a ideologia dominante, utilizando o aval técnico e científico da Educação.
Para a autora, entretanto, há “luz no fim do túnel” porque “apesar de a Escola ser uma instituição fortemente articulada com o Estado” (COIMBRA, 1986, p. 16), há espaços possíveis para a atuação contra ideológica com base na pedagogia da emancipação. E, nessa atuação, é possível fazer mais do que denunciar as funções da instituição escolar.
As concepções influenciadas pelas ideias de Gramsci apontam para uma concepção caracterizada pela pluralidade ideológica, em que o conjunto de instituições civis (Igreja, partidos políticos, meios de comunicação, sindicatos, entidades etc) e a Escola influenciam de forma efetiva a construção da Sociedade Civil.
Sendo assim, na concepção da autora, se a Escola é uma instituição fundamental para a formação da cidadania, é preciso que esta tenha um papel fundamental no desenvolvimento do processo social mais amplo com ideias transformadoras. 
E isso é possível através da ação organizada de setores sociais que atuem dentro dessas instituições.
Um dos objetivos da Escola é a formação do comportamento crítico e, para isso, é essencial o desenvolvimento das competências lógica, linguística e moral.
Neste sentido, o planejamento (currículos e programas escolares) da Escola deve estar de acordo com as características e necessidades da população atendida.
Com base nestes dados concretos, é possível verificar que o enfrentamento dos fatores extraescolares depende da superação dos principais problemas socioeconômicos que afetam a população.
Setores organizados têm possibilitado a organização dos setores sociais para permitir o atendimento dos interesses da maioria da população, principalmente as parcelas historicamente marginalizadas.
Assim, a questão inicial em discussão nesta aula é respondida com a conclusão de que a escolarização tem um papel decisivo no processo de formação da cidadania.
E para dar continuidade à evolução, é preciso aprofundar os estudos em relação ao fracasso escolar incluindo, sobretudo, a explicação dentro da própria Escola, às condições de oferta do ensino básico, ao contexto social concreto e não somente responsabilizar as dificuldades do aluno e da família.
Para saber mais sobre este assunto, leia o texto: A escola e a formação da cidadania ou para além de uma concepção reprodutivista.

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