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Introdução à Microeconomia | TEMA 2 65 2.4 Teoria da produção e custos A teoria da produção e custos de produção constitui a teoria da oferta da firma individual, seus princípios são importantes para a análise dos preços, do em- prego dos fatores e de sua alocação. As teorias servem de base para a análise das relações entre produção e custo de produção. A teoria da produção preocupa-se com a relação técnica ou tecnológica entre a quantidade física de produtos (outputs) e a de fatores de produção (inputs). A teoria dos custos de produção relaciona a quantidade física de produtos com os preços dos fatores de produção. Nessa seção você irá compreender as variáveis básicas da produção, de sua fun- ção e de seus custos, além da maximização dos lucros. Primeiramente, discutiremos os conceitos básicos da teoria da produção. • Produção: processo de transformação dos fatores adquiridos pela empresa em produtos para a venda no mercado. • Processos de produção: intensivos em mão de obra, em capital ou em ter- ra, dividido em: a. Processo de produção simples: produção de um único produto. b. Processo de produção múltiplo: mais de um produto. A eficiência do método corresponde ao uso de menor quantidade de insumos para produzir uma quantidade equivalente de produtos. Já a eficiência econô- mica é associada ao método de produção mais barato para produzir uma deter- minada quantidade de produto. O empresário, ao decidir o que, como e quanto produzir, com base nas respos- tas do mercado consumidor, modificará a quantidade utilizada dos fatores, a fim de variar a quantidade produzida do produto. Nesse sentido, surge a impor- tância da função de produção. A função de produção relaciona a quantidade física obtida do produto a partir da quantidade física utilizada dos fatores de produção, em um determinado período de tempo, e pode ser expressa pela fórmula: q= f (N, K) ECONOMIA | Gressieli Valessa Fernandes Fazoli GRADUAÇÃO UNIVEL EAD66 Quantidade produto = f (quantidade fatores de produção). Quantidade produzida/t mão de obra/t capital/t matérias-primas/t Onde: q = quantidade produzida f = função N= quantidade utilizada de mão de obra K= quantidade utilizada de capital Supõe-se que todas as variáveis (q, N, K) são expressas em um fluxo de tempo, ou seja, consideradas ao longo de um dado período de tempo (produção mensal, produção anual, etc.). A função de produção é a relação técnica entre a quantidade física de fatores de produção e a quantidade física do produto em determinado período de tempo. A função de produção supõe, ainda, que foi atendida a eficiência técnica, repre- sentando a máxima produção possível, em dados níveis de mão de obra, capital e tecnologia. Cabe mencionar que na teoria microeconômica a questão do prazo está definida em termos da existência (ou não) de fatores fixos de produção, a saber: • fatores de produção variáveis: quantidades utilizadas variam quando se al- tera o volume da produção. Por exemplo: quando a produção aumenta, são necessários mais trabalhadores e maior quantidade de matérias-primas; • fatores de produção fixos: quantidades não mudam quando a quantidade do produto varia. Por exemplo: as instalações da empresa e a tecnologia, que são fatores que só são alterados a longo prazo. Introdução à Microeconomia | TEMA 2 67 A análise microeconômica considera dois tipos de relações entre quantidade produzida e quantidade utilizada dos fatores: • curto prazo: período em que pelo menos um fator de produção se mantém fixo, na função de produção. A quantidade produzida só depende de uma alteração da quantidade usada do fator variável; • longo prazo: quando todos os fatores da função de produção são conside- rados variáveis. Os fatores variáveis são aqueles cujas quantidades utilizadas alternam com a realização do processo produtivo. Os fatores fixos são aqueles cujas quantidades utilizadas não variam com a realização do processo produtivo. Torna-se imprescindível, neste momento, entender os conceitos de produto total, produtividade média e produtividade marginal. Para começar, é necessário entender que o produto total corresponde à quantidade de produto obtido da utilização do fator variável, mantendo-se fixa a quantidade dos de- mais fatores. Em relação à produtividade média do fator, esta resulta do quociente da quantida- de total produzida pela quantidade utilizada desse fator e dividi-se em : produtivi- dade média da mão de obra = quantidade de produtos/número de trabalhadores; • produtividade média do capital = quantidade de produto/quantidade de máquinas. Já a produtividade marginal é a variação do produto, dada a variação de uma unidade na quantidade do fator de produção, em determinado período de tem- po; representa a contribuição marginal ou adicional de cada fator de produção e está dividida em: • produtividade marginal de mão de obra = variação de produto/acréscimo de uma unidade de trabalhadores; • produtividade marginal do capital = variação de produto/acréscimo de uma unidade de capital. ECONOMIA | Gressieli Valessa Fernandes Fazoli GRADUAÇÃO UNIVEL EAD68 Por exemplo, no caso da agricultura, a produtividade média da terra é igual à quantidade produzida/área cultivada e a produtividade marginal da terra é igual à variação de produto/acréscimo de uma unidade de área cultivada. Figura 1 – Produção agrícola x área cultivada Fonte: 123RF. Admitindo a função de produção considerada, pode-se analisar um elemen- to muito importante no estudo da teoria da produção, a lei dos rendimentos decrescentes. Para essa análise deve-se elevar a quantidade do fator variável, mantendo fixa a quantidade dos demais fatores. Com isto, a produção aumenta- rá a taxas crescentes, no entanto, a partir de uma determinada quantidade do fator variável, a produção continuará a crescer, mas a taxas decrescentes. Ou seja, incrementando a utilização do fator variável, a produção total chegará a um máximo, para, então, decrescer. Para entender melhor a lei dos rendimentos decrescentes, veja o exemplo a se- guir de Gremaud (2004, p. 165). Então a título de ilustração imagine uma empresa produtora de ar- roz, o fator fixo é representado pela área de terra disponível asso- ciada ao equipamento existente, o fator variável é representado pela mão de obra empregada. Se várias combinações de terra e traba- lhadores forem utilizadas para produzir arroz, e se a quantidade de terra for mantida constante, os aumentos da produção dependerão Introdução à Microeconomia | TEMA 2 69 do aumento da mão de obra usada na lavoura. Quando isso ocorrer, irá alterar as proporções de combinação entre os fatores fixo (ter- ra) e variável (mão de obra). Nesse contexto, a produção de arroz aumentará até certo ponto e depois decrescerá, ou seja, a maior quantidade de homens para trabalhar, associada à área constante de terra, permitirá que a produção cresça até o máximo e depois passe a decrescer. A suposição de que todos os fatores de produção variam, inclusive o tamanho da empresa, dá origem aos conceitos de economias e deseconomias de escala. O rendimento de escala (ou economia de escala) é a resposta da quantidade produzida a uma variação da quantidade utilizada de todos os fatores de pro- dução. Pode ser dividido em: 1. Rendimentos crescentes de escala: quando a variação na quantidade do produto total é mais do que proporcional à variação da quantidade dos fatores de produção. Causas dos rendimentos crescentes de escala: • maior especialização no trabalho; • existência de indivisibilidades entre os fatores de produção. 2. Rendimentos constantes de escala: quando a variação do produto total é proporcional à variação da quantidade utilizada dos fatores de produção. 3. Rendimentos decrescentes de escala: quando a variação do produto é menos do que proporcionalà variação da utilização dos fatores. Pode ocorrer uma descentralização das decisões que faça com que o aumento de produção não compense o investimento feito. Verifique se em alguma empresa do setor terciário (um supermercado ou mercearia, por exemplo) do seu município ou, mais especificamente, do seu bairro, ocorre a utilização de economia de escala na redução do custo dos produtos. ECONOMIA | Gressieli Valessa Fernandes Fazoli GRADUAÇÃO UNIVEL EAD70 Vejamos agora o lado dos custos de produção: O objetivo básico de uma empresa é maximizar os resultados em relação à prá- tica da atividade produtiva, podendo ser alcançada quando houver a maximiza- ção da produção para um dado custo total ou a maximização do custo total para um dado nível de produção. Em qualquer uma das situações, a firma estará maximizando ou otimizando seus resultados, denominado equilíbrio da firma. Cabe ressaltar os conceitos de custos: • custos totais de produção: total das despesas realizadas pela firma a partir da combinação mais econômica dos fatores que resultará em determinada quantidade de produto; • custos variáveis totais (CVT): parcela dos custos totais, que dependem da produção e, por isso, mudam com a variação do volume de produção. Re- presentam as despesas realizadas com os fatores variáveis de produção (custos diretos); • custos fixos totais (CFT): parcela dos custos totais que independe da pro- dução; são decorrentes dos gastos com fatores fixos de produção (custos indiretos). Divisão da análise dos custos de produção: • custos totais de curto prazo: compostos por parcelas de custos fixos e de custos variáveis; • custos totais de longo prazo: formados somente por custos variáveis. Os custos de curto prazo dividem-se em custos médios e marginais: a. Custo total médio: obtido por meio do quociente entre o custo total e a quantidade produzida. b. Custo variável médio: quociente entre o custo variável total e a quantidade produzida. c. Custo fixo médio: quociente entre o custo fixo total e a quantidade produzida. d. Custo marginal: dado pela variação do custo total em resposta a uma variação da quantidade produzida. Introdução à Microeconomia | TEMA 2 71 Já os custos de longo prazo justificam que o comportamento do custo total e do custo médio de longo prazo está ligado ao tamanho ou dimensão da planta escolhida para operar em longo prazo. Veja, a seguir, as diferenças entre a visão econômica (custos de oportunidade, custos privados e custos diretos e indiretos) e a visão contábil-financeira (cus- tos contábeis, custos sociais e despesas) dos custos de produção. Custos de oportunidade versus custos contábeis • Custos contábeis: custos explícitos, que envolvem dispêndio monetário. • Custos de oportunidade: custos implícitos, relativos aos insumos que per- tencem à empresa e que não envolvem desembolso monetário. Os custos contábeis são despesas correntes mais as despesas ocasionadas pela depreciação dos equipamentos de capital. Os custos de oportunidade são custos associados às oportunidades perdidas, quando os recursos de uma empresa não são utilizados da melhor forma possível. Custos privados versus custos sociais As externalidades ou economias externas são alterações de custos e benefícios para a sociedade, derivadas da produção das empresas ou das alterações de custos e receitas de fatores externos. Estas podem ser: • externalidade positiva: quando uma unidade econômica cria benefícios para outras, sem receber pagamento por isso; • externalidade negativa: quando uma unidade econômica cria custos para outras, sem pagar por isso. Sob a ótica privada (custos privados) mão de obra, materiais, etc. representam os custos efetivos. Já na ótica social, os custos sociais referem-se às externali- dades provocadas pelo empreendimento. Custos versus despesas Os custos são gastos associados ao processo de fabricação de produtos, divididos em: • custos diretos: custos variáveis (por exemplo: compra de matéria-prima); • custos indiretos: custos fixos (por exemplo, aluguel). ECONOMIA | Gressieli Valessa Fernandes Fazoli GRADUAÇÃO UNIVEL EAD72 As despesas estão associadas ao exercício social e alocadas para o resultado geral do período, por exemplo, as despesas financeiras, comerciais e adminis- trativas. Conhecendo os custos de produção, apresentaremos o conceito de lucro total. A teoria microeconômica tradicional (também chamada teoria neoclássica ou teoria marginalista) parte da premissa de que todas as empresas têm como ob- jetivo maior a maximização de lucros, seja a curto ou a longo prazo. Define-se lucro total como a diferença entre as receitas de vendas da empresa e seus cus- tos totais de produção, expresso pela fórmula: Lucro total = receita total de vendas – custo total de produção Maximização do lucro em um nível de produção que: RMg da última unidade produzida = CMg da última unidade produzida. Existem, desse modo, três conceitos de lucro: 1. Lucro contábil: diferença entre receita e custos efetivamente incididos; 2. Lucro normal: custo de oportunidade de capital; 3. Lucro extraordinário: diferença entre receita e total dos custos contábeis e custos de oportunidade. Outra diferença entre o enfoque contábil e o enfoque econômico é o conceito de break-even point ou ponto de equilíbrio que representa o nível de produção em que a receita total é igual ao custo total (lucro total zero), e a partir do qual a empresa passa a gerar lucros. Introdução à Microeconomia | TEMA 2 73 LEITURA COMPLEMENTAR A teoria da firma foi um conceito criado pelo economista britânico Ronald Coase, em seu artigo “The Nature of Firm”, de 1937. Em microeconomia, as firmas são organizações que produzem e vendem bens e serviços, que contratam e utilizam fatores de produção, e podem ser classificados em primárias ou secundárias. Sugerimos que você assista ao vídeo “Teoria da Produção – Economia 4.1” para a complementação do seu entendimento sobre a teoria da produção, que abrange os conceitos de produção e produtividade e que em conjunto com as teorias dos custos e dos lucros, o que permite a uma firma deter- minar qual a quantidade ideal a ser produzida. Assista ao vídeo completo neste link : <http://www.youtube.com/watch?- v=UY80eIR7Xa8>. REFERÊNCIAS GREMAUD, A. P. (Org.). Manual de Economia. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2004. VASCONCELLOS, M. A. S.; GARCIA, M. E. Fundamentos de Economia. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2008. ECONOMIA | Gressieli Valessa Fernandes Fazoli GRADUAÇÃO UNIVEL EAD74 Em resumo Ao longo deste Tema, você aprendeu que: • o mercado consiste no mecanismo pelo qual compradores e vendedores se confrontam para determinar o preço e a quantidade de um bem ou de um serviço; • a demanda refere-se às várias quantidades que os consumidores estão dispos- tos e aptos a adquirir, em função dos diversos níveis de preços possíveis, em determinado período de tempo; • a oferta refere-se às várias quantidades que os produtores estão dispostos e aptos a oferecer no mercado, em função dos diversos níveis de preços possí- veis, em determinado período de tempo; • o equilíbrio de mercado ocorre no ponto de intersecção das curvas de deman- da e de oferta, indica o ponto ótimo, ideal, pois satisfaz a todos no mercado; • a elasticidade mostra as variações preços-quantidades dos bens e serviços, com referência a elasticidade-preço da demanda, elasticidade-preço da oferta, elasticidade-preço cruzada da demanda e elasticidade-renda da demanda; • as estruturas de mercado são modelos que captam aspectos inerentes de como os mercados estão organizados em concorrência perfeita, monopólio, concorrência monopolística, oligopólio, monopsônio, oligopsônio e monopólio bilateral; • a teoria da produção preocupa-se com a relação técnica ou tecnológica entre a quantidade física de produtos e de fatores de produção; • a função de produção é a relação técnica que nos informa,dado um nível tec- nológico, a quantidade máxima de produto que se pode obter com todas e com cada uma das combinações de fatores produtivos; • a teoria dos custos de produção relaciona a quantidade física de produtos com os preços dos fatores de produção; • a maximização do lucro em um nível de produção se dá quando a receita mar- ginal da última unidade produzida é igual ao custo marginal também da última unidade produzida. tema 1 Introdução à Economia 1.1 Sistema econômico 1.2 Evolução do pensamento econômico 1.3 Fatores de produção 1.4 Interação dos agentes econômicos Em resumo tema 2 Introdução à Microeconomia 2.1 Demanda, oferta e equilíbrio de mercado 2.2 Elasticidades 2.3 Estruturas de mercado 2.4 Teoria da produção e custos Em resumo tema 3 Introdução à Macroeconomia 3.1 Agregados macroeconômicos 3.1.2 A mensuração da atividade econômica 3.1.3 Valor adicionado, renda e dispêndio 3.1.4 Conceitos de macroagregados: PNB, PIB e PIB per capita 3.1.5 Políticas macroeconômicas: monetária, fiscal, cambial e de rendas 3.2 Moeda 3.2.1 Tipos 3.2.2 Funções 3.2.3 Evolução 3.2.4 Sistema bancário e a multiplicação dos meios de pagamento. Oferta e demanda de moeda 3.3 Sistema Financeiro Nacional 3.3.1 Segmentos do Sistema Financeiro 3.3.2 Estrutura do Sistema Financeiro Nacional 3.3.3 Instituições bancárias e não bancárias 3.4 Inflação 3.4.1 Tipos de inflação 3.4.2 Consequências e efeitos da inflação tema 4 Introdução à economia brasileira e internacional 4.1 Economia brasileira 4.1.1 Crescimento econômico 4.1.2 Desenvolvimento econômico 4.1.3 Modelos de crescimento econômico 4.2 Desemprego 4.2.1 Conceituação de desemprego 4.2.2 Tipos de desemprego 4.2.3 Causas do desemprego 4.3 Economia internacional 4.3.1 Relações econômicas internacionais 4.3.2 Teoria das vantagens comparativas 4.3.3 Fatores determinantes das trocas internacionais 4.3.4 A interdependência das nações 4.3.5 Organismos internacionais 4.4 Globalização 4.4.1 Conceitos de globalização 4.4.2 Globalização produtiva e globalização financeira 4.4.3 Blocos econômicos
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