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121 Re vi sã o: Ju lia na - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 09 /0 9/ 20 14 TÉCNICAS DE NEGOCIAÇÃO Unidade IV Estudamos nas unidades anteriores os conceitos de negociação e as formas de planejamento e preparação para o embate, bem como falamos sobre o ambiente organizacional e a influência da globalização nas técnicas de negociação. Não obstante, tratamos das questões dicotômicas e apresentamos teorias que oferecem diretrizes para que possamos lidar com os conflitos e administrá‑los. Também pesquisamos sobre as possibilidades de solubilidades e estilos de resolução. Nesta unidade, vamos analisar as diferentes visões sobre as técnicas de negociação propostas por autores comportamentalistas. Apresentaremos algumas abordagens sobre as habilidades e os estilos de negociadores. As teorias relacionais afirmam que a satisfação do homem social está atrelada a um ambiente harmonioso e humanista que valoriza a participação e a cooperação. A negociação é um processo natural a que todos nós estamos sujeitos (PESSOA, 2008). Porém, deve ficar claro que a utilização dos estilos de negociação permite o aprendizado sobre os comportamentos que favorecem a efetividade na conquista do resultado desejado. Figura 30 122 Re vi sã o: Ju lia na - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 09 /0 9/ 20 14 Unidade IV Muitos executivos conduzem seus negócios de acordo com um estilo. Um dos esforços de pesquisa dos comportamentalistas foi dedicado ao detalhamento do conjunto de comportamentos que, agrupados, combinados e aplicados em determinada circunstância, são vistos como políticas particulares de ação, ou seja, os denominados estilos de negociação. Os estilos descritos pelos autores comportamentalistas são inspirados na Teoria dos Traços de Personalidade e em outras teorias motivacionais. Assim, valoriza‑se a individuação, portanto cada tipologia conduzirá a uma determinada estilística comportamental. Lembrete Individuação é um termo técnico criado pelo psiquiatra e psicoterapeuta suíço Carl Gustav Jung (1875‑1961) que fundamenta a Psicologia Analítica. A individuação indica o processo de evolução do ser humano da infância para a consciência adulta. Nesse processo acontece a identificação de valores e crenças do indivíduo de acordo com as normas sociais, transformando‑o em um membro socialmente ativo. Jung postulava que por meio da individuação a pessoa encontra seus próprios mecanismos de autorrealização. Ele denominava esse fenômeno de “o motor do universo”. Assim, o autoconhecimento potencializa a força do negociador e também proporciona e promove a consciência dos pontos fracos visualizados no processo que podem ser previstos no planejamento das estratégias e táticas a serem empregadas. Vamos estudar as variáveis do comportamento humano ao longo desta unidade. Bons estudos! 7 VARIÁVEIS DO COMPORTAMENTO HUMANO – ESTILOS DE NEGOCIAÇÃO Em uma economia de mercado como a brasileira, é muito importante garantir que haja instrumentos sociais integrados que possam garantir o crescimento e o desenvolvimento econômico (governança, política, finanças, comércio, educação etc.), ou seja, o que os especialistas denominam de economia institucional. A abertura do mercado nacional nos anos 1990 contribuiu fortemente para a manutenção e a sustentabilidade das leis do livre‑mercado no país. Assim, a concorrência sofreu acirramento, e, por consequência, o mercado de trabalho passou a exigir habilidades mais específicas de seus executivos. Essa situação permitiu que a iniciativa privada se tornasse fornecedora de bens e serviços para o consumidor. Dessa forma, o empresário se consolidou administrando suas ações no mercado, praticando a livre‑concorrência. Saber negociação nesse ambiente parece ser uma condição essencial para a organização dos mercados. 123 Re vi sã o: Ju lia na - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 09 /0 9/ 20 14 TÉCNICAS DE NEGOCIAÇÃO Em paralelo às evidências descritas, as estatísticas comprovam que no Brasil os índices de “mortalidade empresarial” de microempresas e pequenas empresas ainda são altos. Esse indicador é alarmante, pois esses empresários são os maiores geradores de empregos do país. Diante das microempresas e das pequenas empresas, o proprietário, na maioria das vezes, também é o principal gestor do negócio. Ele é o responsável pela tomada de decisão, por negociações estratégicas e pela manutenção das táticas vitais em prol da saúde financeira e econômica da organização. Considerando a perspectiva das microempresas, das pequenas e das médias empresas e também dos grandes complexos organizacionais, convém verificar se os estilos de negociação que são costumeiramente adotados por seus principais dirigentes e executivos influenciam positiva ou negativamente os resultados das empresas, impactando a mortalidade ou a longevidade do negócio. Para que isso seja possível, antes, precisamos aprender algumas abordagens realizadas por cientistas comportamentalistas sobre os estilos de negociadores. Os pesquisadores comportamentalistas apontam várias possibilidades de análise e aplicação de estilos de negociação. Na verdade, os estudos que pretendem descrever esses estilos objetivam alcançar maior eficácia e efetividade nas negociações, ou seja, identificar quais são as respostas certas para cada questão fundamental que aparecer no conflito. O negociador deve ter várias indagações a respeito disso: • Qual seria o comportamento adequado para cada situação? • Qual seria o comportamento mais efetivo nesse caso? • Um tipo de comportamento pode ser mais eficaz do que outro? Figura 31 Esse comportamento pode ser definido com o conhecimento e o entendimento de cada estilo de negociação. Reconhecer os estilos que podem ser assumidos pelos negociadores opositores colabora com o desenvolvimento do processo, de sua efetividade e, consequentemente, favorece a condução da negociação. Isso porque há negociadores que agem apresentando mais características de um 124 Re vi sã o: Ju lia na - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 09 /0 9/ 20 14 Unidade IV determinado estilo do que com base em uma orientação. Portanto, a compreensão do conceito que estrutura os estilos de negociação e seus respectivos limites será benéfica quando colocada em prática, pois o negociador estará mais bem‑preparado e apto para o desenvolvimento do negócio. Lembrete É importante manter em mente que os problemas que estarão em pauta, o local onde vai ocorrer a negociação, além de outros tantos aspectos, são fatores de impacto no comportamento de todos os envolvidos. Um das vantagens do reconhecimento do estilo empregado pelo oponente é que os negociadores podem realizar previsões e antecipar lances que serão executados pelos oponentes. Segundo essas teorias, o negociador manifesta um estilo como tônica e um segundo estilo mais utilizado. Por isso, é relevante analisar os estilos primário e secundário utilizados pelo negociador em questão. Nesta unidade, vamos estudar os modelos propostos por Carl Jung, Marcondes, Gottschalk, dentre outros. Esses estilos se manifestam normalmente de forma combinada nas pessoas, que possuem sempre um estilo predominante e, no mínimo, mais um estilo, chamado de secundário. 7.1 Estilos de negociação segundo o Modelo de Jung O modelo desenvolvido por Carl Jung ([s.d.]) é baseado em estilos de personalidade e discute quatro táticas que podem ser utilizadas pelos oponentes, lembrando que essas táticas não são exclusivas de cada personalidade e, portanto, podem ser sobrepostas. Jung descreve quatro estilos primários, que podem ser combinados aos pares, baseados em um conjunto de suposições, as quais podemser usadas pelos oponentes. Saiba mais Carl Gustav Jung escreveu a Teoria da Personalidade, instituindo a expressão da totalidade do homem por meio da individuação. Muitas vezes, a livre associação pode desviar o indivíduo de seu objetivo principal, então Jung propõe modelos estilísticos de comportamento, para que melhor possamos interagir com essas personalidades. Leia mais sobre o assunto na obra: JUNG, C. G. O desenvolvimento da personalidade. Tradução: Frei Valdemar do Amaral. São Paulo: Círculo do Livro, [s.d.]. Disponível em: <http://copyfight.me/Acervo/livros/Carl%20Gustav%20Jung%20‑%20 O%20desenvolvimento%20da%20personalidade.pdf>. Acesso em: 25 maio 2014. 125 Re vi sã o: Ju lia na - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 09 /0 9/ 20 14 TÉCNICAS DE NEGOCIAÇÃO Essa abordagem combina a capacidade de controle ou aceitação do controle de uma pessoa em relação à outra com o nível de consideração ou desconsideração dessa pessoa com os indivíduos do relacionamento. Vejamos os impulsos propulsores para esses comportamentos: Quadro 3 Controle • É o mecanismo de comparação entre o processo, a mediação e o valor desejado. Fazer a análise comparativa entre o que foi realizado e o planejado é o exercício de controlar. • Para os comportamentalistas, o controle é o impulso para dominar, governar e comandar o outro. O indivíduo apresenta a rivalidade direta e desenfreada. Desconsideração • No ambiente competitivo, em que a comparação é valorizada, é comum a manifestação do impulso de desvalorização do trabalho alheio. • Aquele que rebaixa o outro mantém a crença de que a tolerância e a atenção são primordiais no processo organizacional. Deferência • Motivados pela impaciência ou pelo desinteresse, esses indivíduos têm o impulso de deixarem os outros assumirem o comando. Confiança • É crer em algo verdadeiro ou não. Refere‑se a dar crédito considerando que a expectativa possa se realizar. • Para os comportamentalistas, é o impulso de incluir o outro no processo. O indivíduo crê na parceria, na colaboração e na participação. Fonte: Martinelli; Almeida (1998, p. 78‑88). Segundo a Teoria dos Tipos de Personalidade, esses impulsos podem ser combinados em pares ordenados e, ao se misturarem, produzem quatro oponentes estilísticos – os estilos do modelo de Jung – representados no esquema a seguir: (A) Restritivo (1 + 2) (B) Ardiloso (2 + 3) (D) Confrontador (4 + 1) (C) Amigável (3 + 4) Figura 32 126 Re vi sã o: Ju lia na - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 09 /0 9/ 20 14 Unidade IV 7.1.1 Estilo restritivo (A) O estilo restritivo é uma combinação entre os impulsos de controle e desconsideração. Esse estilo retrata os negociadores que agem segundo os seus interesses, combinando o seu poder de controle com a desconsideração pelo outro; não são cooperativos e esperam que os outros ajam de acordo com o seu próprio interesse. O único resultado aceitável para o negociador do estilo restritivo é a vitória. 7.1.1.1 Adolf Hitler e o estilo restritivo Figura 33 Nascido em 20 de abril de 1889, na cidade austríaca de Braunnau, foi um grande líder político e militar alemão. Hitler liderou o Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães – conhecido popularmente como o Partido Nazi. Ele foi responsável por um dos maiores genocídios da história, desencadeador da Segunda Guerra Mundial (1939‑1945), e mandante do extermínio de cerca de 6 milhões de judeus. Adolf Hitler era rancoroso, tinha tendência a menosprezar as pessoas, não tolerava críticas e buscava vinganças, segundo o perfil psicológico elaborado em 1943 pelo psiquiatra Henry Murray da Universidade de Harvard a fim de ajudar os aliados a entenderem o caráter de Hitler. A descrição realizada por esse psiquiatra consistia na ideia de que Hitler fosse uma pessoa incapaz de aceitar uma brincadeira, um criminoso compulsivo, mas que se mostrava perseverante diante da derrota, possuindo uma grande obstinação e confiança em si. Porém, não apresentava outras qualidades para uma personalidade equilibrada. Por meio dessa descrição de Adolf Hitler, ficam claras as semelhanças com o estilo restritivo, que, conforme descrito anteriormente, caracteriza‑se pela falta de cooperação aliada à meta do ganho, independentemente do resultado para a outra parte. A busca de um acordo para a solução do conflito torna‑se mais difícil, uma vez que esse oponente não está interessado em discutir alternativas que beneficiem os dois lados, querendo impor uma situação que seja favorável somente a ele. Também é possível relacionar tal personalidade a uma imagem dura, em que se identificam como pontos fortes o estabelecimento de posições firmes e claras, não se intimidando diante do conflito, além 127 Re vi sã o: Ju lia na - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 09 /0 9/ 20 14 TÉCNICAS DE NEGOCIAÇÃO de aceitar assumir riscos. O estilo restritivo não ouve as necessidades dos outros e diz como as coisas devem ser feitas. 7.1.2 Estilo ardiloso (B) O estilo ardiloso é uma combinação entre os impulsos de desconsideração e deferência. Esse estilo retrata os negociadores que agem evitando aborrecimentos ou mantendo distância deles. Esse tipo de negociador não acredita que uma pessoa possa influenciar outra, ele crê no reforço de regras e procedimentos para que possa sobreviver ao processo de negociação. Seu foco está em manter‑se na posição escolhida para chegar à solubilidade. 7.1.2.1 Mandela e o estilo ardiloso Figura 34 “A luta é minha vida.” A frase de Nelson Mandela, nascido em 1918, na África do Sul, resume sua existência. Desde jovem, influenciado pelos exemplos de seu pai e de outras pessoas marcantes em sua infância e sua juventude, dedicou sua vida à luta contra a discriminação racial e as injustiças cometidas contra a população negra. Mandela foi o fundador da Liga Jovem do Congresso Nacional Africano, em 1944, e traçou uma estratégia que foi adotada anos mais tarde pelo Congresso na luta contra o apartheid. A partir desse momento, tornou‑se o líder do movimento de resistência à opressão da minoria branca sobre a maioria negra na África do Sul. Mandela ainda é símbolo de resistência, pelo vigor com o qual enfrentou os governos racistas em seu país e o apartheid, sem perder a força e a crença nos seus ideais, inclusive durante os 28 anos em que esteve preso (1962‑1990), acusado de sabotagem e de luta armada contra o governo. Nem mesmo as propostas de redução da pena e de liberdade que recebeu de presidentes sul‑africanos ele aceitou, pois o governo queria um acordo com o qual o movimento negro teria de ceder. Ele preferiu resistir, sendo solto em 1990. Sua liberdade foi um dos primeiros passos para uma sociedade mais democrática na África do Sul, culminando com a sua eleição à presidência do país em 1994 – um 128 Re vi sã o: Ju lia na - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 09 /0 9/ 20 14 Unidade IV fato histórico, quando os negros puderam votar pela primeira vez. Durante seu governo lutou por reformas sociais e conseguiu instituir leis que promovessem a igualdade em seu país. Ficou conhecido mundialmente como o Pai da Pátria de sua nação. Saiba mais Na África do Sul havia um regime de segregação racial exigindo que os negros vivessem separados dos brancos. Além disso, somente os brancos tinham direitos sociais e legais. Esse regime, chamado de apartheid (“vida separada”), foi combatido incansavelmente por Nelson Mandela. Leia mais sobre o assunto em: APARTHEID na África do Sul, a segregação social. Educação Globo, São Paulo, [s.d.]. Disponível em: <http://educacao.globo.com/artigo/ apartheid‑na‑africa‑do‑sul‑segregacao‑racial.html>.Acesso em: 10 maio 2014. 7.1.3 Estilo amigável (C) O estilo amigável é uma combinação entre os impulsos de deferência e confiança. Esse estilo retrata os negociadores que aliam consideração com confiança para a obtenção e a manutenção de um relacionamento cooperativo, qualquer que seja o resultado da negociação. Esses negociadores se expressam de maneira simpática e afável, bem como promovem a atmosfera cooperativa e o espírito esportivo. O principal objetivo desse tipo de negociador é a manutenção do relacionamento. 7.1.3.1 Samuel Klein e o estilo amigável Figura 35 129 Re vi sã o: Ju lia na - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 09 /0 9/ 20 14 TÉCNICAS DE NEGOCIAÇÃO Samuel Klein, muito conhecido no mundo dos negócios, é considerado um vendedor nato. Deixou a Europa durante a Segunda Guerra Mundial e fincou raízes em São Caetano do Sul, na região da Grande São Paulo. Essa mudança aconteceu em 1952, quando chegou ao Brasil com sua mulher e o filho de 2 anos, nascido na Alemanha. Com 6 mil dólares no bolso, comprou uma casa e uma charrete para vender mercadorias de porta em porta. Ele oferecia prestações no crediário como solução para quem não podia pagar pelo produto, e sua mulher cuidava da contabilidade das vendas. Já em 1957, abriu sua primeira loja, no centro de São Caetano do Sul, que chamou de Casas Bahia, em homenagem aos imigrantes nordestinos que haviam se deslocado para a região em busca de trabalho na indústria automobilística e eram seus fiéis clientes. A clientela não tardou a frequentar a loja para pagar suas prestações e adquirir novas mercadorias. Era apenas o início de um império que foi conquistando cada vez mais clientes e mercados até se transformar na atual potência, com mais de 30 mil funcionários, 394 lojas em oito estados, além do Distrito Federal, 11 milhões de clientes mensais, milhares de fornecedores e mais de 7 mil produtos. Muito criativo, com novas ideias, entusiasta e empreendedor, Samuel Klein é a personificação do estilo amigável. Pessoas com essa personalidade podem ser consideradas superficiais e irreais nas decisões e ações, mas, no caso do empresário, esses pontos fracos não se aplicam. Ele coordena uma empresa que é referência mundial na concessão de crédito à população de baixa renda, chegando a ser citada até em jornais internacionais, como o The New York Times. Geralmente, esse estilo de negociador é simpático e preza pela durabilidade do relacionamento entre as partes. Negocia agora com vistas às negociações futuras, por isso desenvolve habilidades que demonstram atitudes cooperativas e diplomáticas para buscar seus interesses. Ele reconhece a interdependência das partes, por isso demonstra disposição clara para colaborar com o processo. 7.1.4 Estilo confrontador (D) O estilo amigável é uma combinação entre os impulsos de confiança e controle. Este estilo retrata os negociadores que trabalham em cooperação e colaboração. Dá preferência ao confronto das questões e abomina a obstrução da solubilidade. Gosta de acordos globais, méritos e compromissos mútuos. 130 Re vi sã o: Ju lia na - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 09 /0 9/ 20 14 Unidade IV 7.1.4.1 Gandhi e o estilo confrontador Figura 36 Mahatma Gandhi foi o protagonista do processo de independência da Índia. Ele se propôs a conquistar a independência de seu país por meio da resistência, que ficou conhecida como resistência pacífica. Tratava‑se da organização e da promoção de ações não violentas combinadas com a desobediência civil adotada pela maioria da população civil. Para combater os colonizadores ingleses, foram planejadas greves, passeatas, boicotes, dentre outros. Gandhi foi assassinado em 1948, enquanto os conflitos étnicos e religiosos continuavam castigando a região. De acordo com o modelo proposto por Jung, o estilo de negociação de Gandhi contém aspectos proeminentes do confrontador: envolve interesses importantes que levam ao conflito litigioso. Gandhi apropria‑se de táticas como a virtude e a reunião e, ainda, corre riscos de baixo impacto, por meio da desobediência social e de ações não violentas. Esse grande líder pacifista conseguiu instituir o conceito de ganha‑ganha entre o povo; por meio da atitude cooperativa, uniu hindus e mulçumanos em busca de um objetivo maior: libertar a Índia do domínio dos ingleses. De fato, é notório o esforço desse líder indiano em conquistar ganhos mútuos, considerando a possibilidade de perpetuar o bom relacionamento entre a Índia e os outros países. 7.1.5 Estilos e táticas Continuando a análise dos estilos, podemos assumir que os restritivos e os confrontadores são iniciadores e obtêm o número mais alto de acordos, enquanto os ardilosos e os amigáveis são reativos. Cada estilo utiliza táticas desenvolvidas com base nas suposições feitas sobre as outras partes. Em muitas ocasiões, as mesmas táticas podem ser utilizadas por estilos de negociadores diferentes. Vamos ver as táticas mais usadas por cada estilo: 131 Re vi sã o: Ju lia na - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 09 /0 9/ 20 14 TÉCNICAS DE NEGOCIAÇÃO Quadro 4 – Táticas aplicadas pelo estilo restritivo Rebaixar o oponente • Não há paridade de poder. • O negociador restritivo faz descrições negativas e desconexas sobre o oponente com o objetivo de enfraquecê‑lo. Tática irrevogável • Apelo à autoridade mais alta. • O objetivo é intimidar o oponente. Tática do choque • O propósito do choque é desestabilizar o oponente. Tática da reunião • O negociador restritivo faz a concessão para haver a reunião, e o oponente passa a lhe dever uma concessão. Fonte: Martinelli; Almeida (1998, p. 78‑88). Quadro 5 – Táticas aplicadas pelo estilo ardiloso Tática da falsa retirada • O negociador ardiloso dá a impressão de estar cedendo e, de repente, reage como se nenhum progresso tivesse sido feito. Apresentação das informações seletivas • Apresentação das informações seletivas e estruturadas. • O objetivo é ocultar a ausência de dados específicos. Virtudes que encobrem fraquezas • Atribuição de qualidades à posição para conquistar paridade de poder. Ataques pessoais • A ideia é levar o oponente a uma ação impulsiva, desestabilizando o processo de negociação. Fonte: Martinelli; Almeida (1998, p. 78‑88). Quadro 6 – Táticas aplicadas pelo estilo amigável Linhas cruzadas • Subdividir ao acaso as questões a serem negociadas. • Acrescentar itens superficiais de fácil concordância que não faziam parte do projeto original. • O objetivo é estimular a sensação de progresso. Formação de grupos • O negociador recruta a ajuda de outros. Limites artificiais • Demonstra um progresso maior que o realizado. Fonte: Martinelli; Almeida (1998, p. 78‑88). Quadro 7 – Táticas aplicadas pelo estilo confrontador Limites reais • Busca estabelecer limites reconhecíveis. • Esclarece que os limites valem para ambas as partes. • O objetivo é fazer a negociação avançar e superar rapidamente os obstáculos e itens desnecessários. Fonte: Martinelli; Almeida (1998, p. 78‑88). 132 Re vi sã o: Ju lia na - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 09 /0 9/ 20 14 Unidade IV Os negociadores poderão guiar‑se por quatro diretrizes fundamentais quando estiverem em um enfrentamento com todos os estilos de negociadores envolvidos. Esses direcionamentos se aplicam de modo geral. • Deixar o oponente à vontade: o oponente deve comportar‑se com naturalidade, assim você poderá identificar o estilo utilizado e adaptar‑se a ele. Observação O estresse na negociação enfraquece o negociador. • Usar o mesmo sistema de valores do oponente: podemos usar a tática de valorizaros interesses do oponente destacando os itens nos quais a proposta seja vantajosa. Isso deve ser feito de maneira consciente, de forma que beneficie ambas as partes. • Conduzir o oponente para a posição desejada: devemos guiar os oponentes para que cheguem às suas próprias conclusões, de acordo com os nossos interesses. Assim, o compromisso com o acordo aumenta. • Evitar o desejo de dominar o oponente mais fraco ou menosprezo do oponente: lembre‑se de que a fraqueza pode ser fingida, ou seja, um papel que está sendo desempenhado. Esse comportamento pode ser alterado rapidamente. Os negociadores precisam evitar esse tipo de armadilha. Retomando, segundo o modelo apresentado por Jung ([s.d.]), os negociadores também se expressam por estilos secundários. Temos de destacar que a mudança de estilo pode ocorrer repentinamente. Há três causas que motivam essa alteração bruscamente: • natural: fundamentadas em experiências passadas que assolam o subconsciente; isso diminui a confiança entre as partes, dificultando a negociação; • diretiva: o negociador altera o estilo conforme seus interesses e sua conveniência, ou seja, é uma ação consciente e planejada; • reativa: a mudança ocorre como consequência de uma ação. Em alguns casos, empregar a mudança de estilo pode ser uma tática válida. Um dos exemplos é quando precisamos reduzir o tempo da negociação para conseguir o desfecho desejado e as chances de conquista se reduzem drasticamente. Outra tática é lembrar‑se de que o oponente já conhece o negociador, de eventos anteriores, e pode levar vantagem prevendo suas possíveis reações. 133 Re vi sã o: Ju lia na - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 09 /0 9/ 20 14 TÉCNICAS DE NEGOCIAÇÃO Os estilos também são influenciados pela cultura e pelo ambiente. Veja as áreas que precisam ser avaliadas nesse caso: • sensibilidade: questiona‑se qual a expectativa do oponente; evita que ele seja incomodado desnecessariamente; • autoridade: verifica‑se o nível representativo de autoridade do oponente; • rivalidade: observa‑se as discussões destrutivas na organização oponente; • suporte ao oponente: evidenciamos as ações de apoio ao oponente; • vínculos pessoais: pesquisa sobre os vínculos relacionais existentes pode dificultar ou facilitar a negociação; • detalhes: verificar se o oponente dá ênfase aos detalhes da negociação, como garantias, formalizações etc. Os negociadores sempre têm o estilo primário e podem dominar bem o estilo secundário. Os negociadores devem desenvolver a capacidade e a habilidade de diagnosticar a aplicação do melhor estilo para cada caso, além de realizarem a previsão das táticas mais prováveis a serem empregadas. Concluindo, nota‑se claramente a necessidade de planejar a negociação, pois é importante que os negociadores trabalhem para manter a credibilidade e a atratividade do oponente. Observação Carl Gustav Jung (1875‑1961) foi o psiquiatra suíço que desenvolveu a Psicologia Analítica. Ele escreveu teorias sobre os tipos de personalidade, arquétipos e inconsciente coletivo. Jung faleceu aos 86 anos, em Zurique, na Suíça. Sua obra marcante influenciou várias áreas, como Antropologia, Psicologia, Comunicação, Arte, Literatura, Mitologia, entre outras. 7.2 Estilos de negociação segundo a classificação de Gottschalk Segundo Martinelli (2002, p. 88), Gottschalk desenvolveu o conceito de estilos de negociação baseado na análise de um conjunto de fatores que, se considerados individualmente, não proporcionam muita ajuda, mas, se vistos em conjunto, permitem uma negociação mais eficiente. Esses fatores incluem, por exemplo, impressões prévias, a impressão inicial, o comportamento durante a negociação e outros. 134 Re vi sã o: Ju lia na - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 09 /0 9/ 20 14 Unidade IV Esse modelo também está fundamentado em estilos, que são compostos por diversas entradas (inputs) e saídas (outputs) de ações que são realizadas individualmente e que, integradas, formam a estrutura. Esse tipo de análise do negociador é oriundo do estudo da personalidade. Como o estudo da personalidade privilegia o indivíduo, o conceito de estilos é uma das formas de agrupar fatores conhecidos e difusos que podem causar impactos cruciais. Gottschalk (apud MARTINELLI, 2002) cita quatro estilos totalmente diferentes e ressalta que todos nós somos atraídos naturalmente para um deles. Isso não significa que esse estilo individual permaneça o mesmo, pois há também a tendência a adaptar‑se às circunstâncias da mesa de negociação. Cada um se identifica com um estilo de acordo com determinados fatores, mas tão importante quanto isso é identificar os estilos que se manifestam na mesa de negociação. Ali acontece a combinação entre o estilo individual (o natural do negociador) e o estilo adaptativo (aquele que o oponente acredita que seja adequado ao processo de negociação). Segundo esse modelo, considera‑se inadequada a mudança deliberada de estilo. 7.2.1 Estilo duro O negociador desse estilo é agressivo, dominante e orientado para o poder. Tem foco em tarefas, objetivos e prazos, costuma ser direto, precisa dirigir e dominar. Apesar de saber o que quer, precisa de ajuda para desenvolver um comportamento mais balanceado. Dentre os seus pontos positivos destacam‑se as posições firmes e claras; almeja o melhor; sabe com certeza quais são os seus objetivos; busca manter o controle; não se deixa intimidar pelos conflitos; tende à liderança; é competitivo e assertivo; não teme mudanças, gosta delas e reage bem às crises. Porém, dentre os seus pontos negativos, destacam‑se o fato de desconhecer os interesses da outra parte e a falta de disposição para identificá‑los, além de utilizar‑se de coerção e ser muito crítico, inclusive, com os colegas do time, bem como ter visão de curto prazo. 7.2.2 Estilo caloroso O negociador caloroso busca a resolução dos conflitos e almeja construir e fortalecer os relacionamentos. É um bom ouvinte, o que lhe permite uma boa visão das questões e do processo, e trabalha baseado no relacionamento já existente. Tem perfil apoiador e compreensivo e é orientado para pessoas e processos. Apesar de parecer um estilo somente com pontos positivos, tende a gerar menos lucros na negociação em si, pois tem foco em acomodar a situação e evitar perdas para o futuro, além de aceitar perder o controle da negociação se isso acomodar melhor a situação. Entretanto, ao se pensar em longo prazo, os relacionamentos construídos por esse estilo podem gerar recursos por muito tempo. 135 Re vi sã o: Ju lia na - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 09 /0 9/ 20 14 TÉCNICAS DE NEGOCIAÇÃO 7.2.3 Estilo dos números Trata‑se do negociador analítico, conservador, reservado e orientado para a resolução de questões complexas (GONÇALVES, 2011). Por isso, prefere que haja certa ordem e previsibilidade no processo. Quer ser reconhecido como negociador competente e, para isso, lança mão de análises detalhadas. A parte do relacionamento com vistas ao longo prazo normalmente não é levada em consideração, a não ser que apoiada em números relevantes. O negociador, aqui, trabalha baseado em fatos, e não em percepções. 7.2.4 Estilo negociador Quer ter o controle da situação e, para isso, estabelece relacionamentos estratégicos. Tem perfil flexível e comprometido, integrado e orientado para resultados. Busca reconhecimento e apreciação pela sua capacidade de resolver situações difíceis. O negociador aprecia ter o controle da situação e procura estabelecer relacionamentos que tragam resultados satisfatórios para ambas as partes. Ao contrário do estilo caloroso, não investe nos relacionamentos, a não ser que isso seja efetivamente uma vantagempara si. 7.3 Life orientation (LIFO) A classificação LIFO apresenta quatro estilos de negociadores, como segue: • dá e apoia (D/A); • toma e controla (T/C); • mantém e conserva (M/C); • adapta e negocia (A/N). De acordo com o estudo das tipologias humanas desenvolvido por pensadores comportamentalistas, essa categorização tem suas raízes na filosofia e valoriza o preceito de que a ambição do homem faz com que ele desenvolva o autoconhecimento e manifeste o melhor de si. A tipologia estabelece esquemas de categorização que revelam as dimensões significativas da natureza humana, por meio do cruzamento de diversos aspectos que são conhecidos nos indivíduos. Obviamente, há o risco de se categorizar e rotular as pessoas. Em contrapartida, torna‑se importante a ordenação de algum tipo de sistema que possa promover a compreensão de fenômenos que fazem parte da estrutura do nosso cotidiano. Dessa forma, o empenho e o esforço das ciências comportamentalistas para explicar os estilos de negociação se justificam. Para diminuir o risco de exercer uma categorização imprecisa, é imprescindível o autoconhecimento, que deve ser utilizado como norteador do comportamento. Assim quanto mais próximo você estiver do verdadeiro estilo comportamental do outro, mais facilmente será estabelecido o vínculo relacional. 136 Re vi sã o: Ju lia na - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 09 /0 9/ 20 14 Unidade IV O tema em questão deve ser tratado com seriedade e critério científico, abrindo mão das experiências empíricas. A prática de rotular pessoas sem fundamentos estruturados e verificados é repudiada pelos especialistas em comportamentalismo; além disso, tal prática provoca a intensificação dos conflitos, e, em muitos casos, o desenlace do processo de negociação termina com uma ruptura do relacionamento. Por esse motivo, a tarefa de elucidar os conhecimentos das ciências humanas e sistematizá‑los deve ser valorizada e colocada em primeiro plano. A categorização apresentada no sistema LIFO (Life Orientation) é resultado do trabalho dos doutores Stuart Atkins e Allan Katcher (1973). Eles realizaram uma pesquisa que durou mais de uma década, qualificando executivos em diversas organizações ao redor do mundo. A pesquisa desses psicólogos norte‑americanos na área de Desenvolvimento Organizacional estruturou‑se como uma ferramenta para diagnosticar os quatro estilos de comportamento que podem ser encontrados nos indivíduos. A Teoria LIFO expõe o paradoxo humano: quando um indivíduo exacerba a utilização de uma qualidade, esta pode tornar‑se um defeito ou uma fraqueza, influenciando diretamente a produtividade. Os autores da investigação propuseram quatro possíveis direcionamentos comportamentais que se apresentam na prática no ambiente organizacional. Assim, esses pesquisadores chamaram os quatro parâmetros de estilos de comportamento, como segue: Quadro 8 Estilo corresponde Orientação Dá e apoia Receptiva Toma e controla Exploradora Mantém e conserva Acumuladora Adapta e negocia Trocas Fonte: Martinelli; Almeida (1998, p. 96). Quatro estilos foram estruturados de acordo com as características do desempenho produtivo, considerando seus correspondentes de acordo com o comportamento manifestado em situações de pressão, ou seja, aquelas em que notoriamente a produtividade diminui. A filosofia LIFO esta fundamentada no princípio de que não existe um estilo ideal ou pessoas perfeitas. Propõe que as características individuais da personalidade sejam a fortaleza e o diferencial necessário para se conseguir sucesso nos processos de negociação. Portanto, dessa forma, o impacto provocado por um comportamento individual determinará se o processo para encontrar a solubilidade desejada resultará em produtivo ou improdutivo. Quando o comportamento individual é percebido como eficiente, isso traz a sensação de conforto, gerando entusiasmo pelos pontos fortes do processo produtivo. Porém, se o indivíduo mantiver esse comportamento sem estar consciente das necessidades do grupo ao redor, essa atitude poderá se 137 Re vi sã o: Ju lia na - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 09 /0 9/ 20 14 TÉCNICAS DE NEGOCIAÇÃO transformar em uma fraqueza. Ironicamente, a força superativa é a origem da fraqueza, pois se torna um caso de impulsividade. As características particulares do indivíduo representam um conjunto básico de forças, e o nível de desempenho pessoal dependerá da capacidade de lidar adequadamente com esses aspectos. Dessa forma, podemos compreender que os quatro estilos de comportamento apresentados foram construídos sob o ponto de vista dos aspectos produtivos e improdutivos. 7.3.1 Estilo dá e apoia (D/A) Esse estilo de negociador apresenta como característica básica a expectativa acerca de altos padrões de desempenho no ambiente organizacional, tanto para si quanto para as demais pessoas que estão ao seu redor. Podemos descrever esse negociador como idealista, focado e presente. Quanto à organização, o indivíduo do estilo D/A assume pessoalmente a responsabilidade por seu sucesso ou insucesso, bem como por seus problemas. Dá o melhor de si e, em geral, mantém uma postura honesta, sincera e dedicada. Quando esse tipo de pessoa tem um cargo de chefia, basicamente, comporta‑se de maneira cooperativa e propicia um ambiente no qual seus subordinados se sintam participativos em relação aos processos rotineiros. Quando avaliamos situações de desempenho produtivo, o negociador D/A faz tudo o que está ao seu alcance para não desapontar sua rede de relacionamentos e para cumprir a responsabilidade que lhe foi atribuída, por isso trabalha para se aperfeiçoar sistematicamente. Ele é reconhecido como alguém com quem se pode contar nas horas difíceis, alguém confiável em quem se pode encontrar apoio. Já quando a situação é de queda de desempenho ou de extrema pressão, o negociador D/A torna‑se perfeccionista, por conta do excesso de preocupação, e chega a se sentir culpado pelo insucesso. Outro aspecto que precisa ser considerado é que esse estilo de negociador tem a tendência de conceder mais do que deveria. Em algumas situações, ele acaba permitindo que sua privacidade seja invadida, por ser incapaz de dizer não, independentemente da situação que se apresente. 7.3.2 Estilo toma e controla (T/C) Esse estilo de negociador é motivado pelos objetivos e metas a serem alcançados. O indivíduo que se comporta no estilo T/C movimenta‑se mais rapidamente do que a média das pessoas e busca aproveitar sempre todas as oportunidades que surgem no ambiente organizacional. O perfil desse negociador é de uma pessoa ágil, eficaz, neutra em situações de pressão e que apresenta a capacidade de realizar múltiplas tarefas simultaneamente. Quanto ao desempenho produtivo, esse estilo trabalha liderando com facilidade e competência o relacionamento interpessoal. O indivíduo T/C não perde nenhuma oportunidade, demonstrando a mente aberta para inovações. Além disso, toma decisões rapidamente e ainda oferece liberdade de atuação ao seu grupo de trabalho. 138 Re vi sã o: Ju lia na - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 09 /0 9/ 20 14 Unidade IV Quando ocorre a queda de desempenho, o negociador T/C reforça a sua tendência à liderança e pode tornar‑se um chefe coercitivo, ignorando a opinião dos outros e desperdiçando recursos limitados. Quando esse comportamento ocorre, ele é percebido como arrogante. A principal premissa que conduz os pensamentos do negociador T/C é: fazer as coisas acontecerem. 7.3.3 Estilo mantém e conserva (M/C) Apresenta‑se de maneira mais lenta e mantém o foco na qualidade do trabalho, pois se trata de um executivo que preza o critério de justiça objetiva. Esse tipo denegociador segue diretrizes concretas e se mantém aberto a análises lógicas, apoiando‑se em termos práticos de acordo com os objetivos que se propõe. Quanto ao desempenho produtivo, o indivíduo M/C evita tomar decisões no calor da discussão, examina com profundidade os temas a serem desenvolvidos para descobrir detalhes que a maioria das pessoas não percebe. Quando esse indivíduo se encontra com queda de desempenho, demonstra frieza e manifesta‑se de maneira intensamente intelectual, faz análises contínuas e, quando toma a decisão, a oportunidade já passou. Nessa situação, o indivíduo se mostra desmotivado para as mudanças, sendo percebido como rígido. Esse estilo de negociador constrói o futuro em cima do passado. No mundo dinâmico em que vivemos, esse estilo tem sido preferido. 7.3.4 Estilo adapta e negocia (A/N) Esse estilo de negociador tem facilidade de compreensão do todo e, por esse motivo, entende as referências do grupo social em que está envolvido. Além disso, proporciona uma convivência agradável com as pessoas que o cercam, buscando a aceitação dos grupos a que pertence. O estilo A/N leva vantagem ao liderar subordinados por ser um entusiasta e por respeitar o espírito de equipe. Costuma ser popular e cultiva a rede de contatos em diferentes níveis. Em relação ao desempenho produtivo, aborda os problemas com pouca clareza, pois evidencia o senso de humor. Esse negociador se apropria da habilidade nas relações sociais, mantendo uma postura otimista e, às vezes, por conta dessa crença, desperdiça esforços e recursos. Esse estilo é o que apresenta maior facilidade de adaptação. Em situações de queda de desempenho, ele mantém o enfoque relacional de maneira inconveniente, fazendo brincadeiras exageradas e indelicadas. Em situações de pressão, perde o senso da própria identidade, por ser dúbio em suas próprias opiniões, e evita entrar em conflito com a outra parte. A premissa básica desse estilo de negociador é que, para conseguir algo, é necessário cumprir as expectativas da outra parte. É importante ressaltar que os negociadores geralmente têm mais de um estilo. De fato, as pessoas têm os quatro estilos ao mesmo tempo, mas obviamente apresentam graus diferentes de utilização. 139 Re vi sã o: Ju lia na - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 09 /0 9/ 20 14 TÉCNICAS DE NEGOCIAÇÃO O que distingue um indivíduo do outro é a ordem e a intensidade em que os comportamentos se manifestam. Um conjunto específico de combinações de estilo pode aparecer, e os quatro estilos podem ser interpretados da seguinte maneira: Quadro 9 Primeiro estilo • Também chamado de estilo de frente. • A principal característica é que o negociador exibe esse conjunto de comportamentos com facilidade. • Geralmente é a preferência de cada pessoa manifestada, ou seja, é a sua forma automática de agir. Segundo estilo • Também chamado de estilo de fundo. • Pode ser descrito como o conjunto de comportamentos alternativos. • Como é menos frequente, dá o ar de inovação na personalidade e atenua o primeiro estilo. Terceiro estilo • Também denominado de estilo necessário. • Apresenta‑se de acordo com a circunstância ou a necessidade. • Por esse motivo, esse estilo exige maior esforço do negociador. Quarto estilo • Também conhecido como força negligenciada. • É um comportamento considerado desgastante para o negociador. • Caso o objetivo seja alcançado, o resultado é sempre percebido como insatisfatório, o negociador fica com o peso de que o esforço empenhado “não valeu a pena”. Fonte: Martinelli; Almeida (1998, p. 100). Vamos observar que ocorrerá a intensificação do perfil dos estilos de acordo com a ordem de utilização. Segundo Martinelli e Almeida (1998, p. 102), a ordem escolhida para a manifestação dos estilos permanece inalterada em situações de produtividade ou de pressão. Caso ocorra alguma alteração, o resultado será, sem dúvida, improdutivo. É importante conhecer os pontos fortes e os excessos que podem ser cometidos em cada categorização, pois assim o negociador passa a dominar um conjunto de estratégias e táticas comportamentais que podem compor seu planejamento. Portanto, aumentará suas chances de produtividade e poderá experimentar e criar uma zona de conforto profissional. Há cinco passos que devem ser respeitados para a composição da estratégia comportamental, a saber: • Capacitação de forças: — aceitar os pontos fortes do estilo pessoal; — não perder tempo lamentando as fraquezas; 140 Re vi sã o: Ju lia na - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 09 /0 9/ 20 14 Unidade IV — planejar o maior número de possibilidades possível; — aplicar os pontos fortes de acordo com as oportunidades. • Desenvolvimento de pontos fortes: — interagir com negociadores de estilos diferentes; — utilizar as diferenças de estilo para aperfeiçoar a tomada de decisão. • Ampliação das próprias forças: — não alterar a maneira natural de agir; — acrescentar ações comportamentais que sejam proativas e confortáveis, mas que ainda não sejam habituais; — características menos desenvolvidas só devem ser usadas em situações de risco. • Combinação de diferentes forças: — a abordagem pessoal deve adaptar‑se à preferência dos outros grupos durante a interação; — a abordagem pessoal também deve encontrar espaço para se impor e receber a adaptação alheia. • Controle do uso excessivo dos pontos fortes: — identificar situações inadequadas ao seu estilo; — pedir que os outros o avisem quando você manifestar um comportamento inadequado; — conhecer os sinais indicadores de que você começou a cometer excessos. 7.4 Classificação de Marcondes e a polarização do negócio Segundo Marcondes (1993, p. 37), esse modelo aponta para a ideia de que para negociar é necessário levar em consideração o ambiente e adaptar‑se a ele. A observação do ambiente e sua correta percepção favorecem a adaptação necessária. O paradigma que fundamenta esse conceito é o de que o negociador que é capaz de evoluir em sua posição é um negociador bem‑sucedido. Algumas pessoas poderiam perceber essa mudança como derrota ou fraqueza, porém a proposição do autor é contrária a essa ideia. Nesse contexto, além de compreender bem as ações e os comportamentos dos negociadores oponentes e suas variações, bem como conhecer o contexto em que o processo de negociação está 141 Re vi sã o: Ju lia na - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 09 /0 9/ 20 14 TÉCNICAS DE NEGOCIAÇÃO acontecendo, o agente negociador deve identificar as influências e a rede de tensão sobre os interesses a serem discutidos. Para isso, a comunicação é instrumento‑chave para que as partes possam trocar suas impressões em informações. De acordo com esse modelo, toda negociação apresenta uma direção e uma polarização. As mensagens trocadas entre os interlocutores definiram a orientação dos negócios. Um processo de negociação de que participem múltiplas partes tende à polarização e ao bloqueio da comunicação. Marcondes descreve quatro tipos de negociadores baseados em formas de classificação de comportamento. O modelo é fundamentado nos comportamentos que podem ser ativos. Observação Comportamentos ativos são aqueles que provocam uma ação sobre os outros para que estes exponham seus pontos de vista e julgamentos. Assim, inicia‑se a argumentação de persuasão. Marcondes (1993, p. 48) postula que um bom negociador frequentemente muda a frequência do seu comportamento entre ativo e passivo, fazendo a negociação evoluir em etapas. Observando esses comportamentos, o autor propõe cinco estilos comportamentais, descritos a seguir. 7.4.1 Estilo afirmação – Palavra‑chave: assertividade A assertividade é oinstrumento do negociador para o alcance dos seus objetivos. Para algumas pessoas, esse estilo de negociador é agressivo, pois ele deixa claro os seus desejos e expectativas, bem como as condições para negociar, e frequentemente lança mão do recurso de explicitar as consequências negativas para o outro lado caso não se chegue a um acordo. Se esse estilo for utilizado em excesso, a outra parte considerará como uma imposição, e os resultados poderão trazer mais perdas que ganhos. Veja os comportamentos típicos da afirmação: • tornar notórios seus desejos e expectativas; • determinar as condições para negociar; • julgar os valores alheios; • esclarecer as consequências positivas e negativas para o outro. 7.4.2 Estilo persuasão – Palavra‑chave: lógica A informação e o raciocínio direcionam o processo para o alcance dos objetivos. Frequentemente esses negociadores propõem sugestões (em vez de determinações) e apresentam propostas argumentadas a partir de dados concretos. 142 Re vi sã o: Ju lia na - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 09 /0 9/ 20 14 Unidade IV Um negociador que adota esse estilo sem ter o respaldo dos dados e das justificativas pode ser considerado inconsistente, levando a negociação a um término (ou a um acordo ruim). Em contrapartida, esse estilo, exercido com rigidez, pode levar o oponente a se sentir em uma armadilha, pois não foi convencido o suficiente. Os comportamentos frequentes desse estilo são: • fazer sugestões; • apresentar propostas; • argumentar; • comprovar dados e fatos; • responder aos questionamentos. 7.4.3 Estilos afirmação/persuasão Esses estilos fazem parte da atmosfera construtivista. Conhecidos também como estilos push. Os pushers são os negociadores que trabalham para exercer influências sobre os oponentes. O emprego desses estilos significa que o negociador não está disposto a mudar seu posicionamento sobre a questão a ser negociada. O foco desses estilos está nos objetivos. 7.4.4 Estilo ligação – Palavra‑chave: empatia Empatia é o ponto de partida do negociador para a compreensão dos objetivos da outra parte; o estilo ligação abrange comportamentos como demonstração de apoio, abertura para opiniões e sugestões, disponibilidade em escutar, levar em consideração as posições e os sentimentos da outra parte, verificar o correto entendimento dos pontos e buscar acordos comuns. Não se trata de uma postura passiva, e sim construtivista, visto que envolve a outra parte na construção da solução do problema. Os comportamentos mais usuais são: • apoiar o outro; • solicitar sugestões e opiniões; • ouvir com atenção; • colocar‑se no lugar do outro; • valorizar os sentimentos e desejos alheios; 143 Re vi sã o: Ju lia na - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 09 /0 9/ 20 14 TÉCNICAS DE NEGOCIAÇÃO • verificar se compreendeu o que a outra parte quis comunicar; • buscar pontos de acordo. 7.4.5 Estilo atração – Palavra‑chave: envolvimento Esse estilo se utiliza de um conjunto de comportamentos para provocar o envolvimento do oponente. Tais comportamentos visam ao estímulo e à motivação da outra parte, com o intuito de elevar o seu moral, reconhecendo os próprios erros e as próprias limitações e enfatizando as qualidades do outro. O risco é assumir esse estilo com exagero e criar uma percepção de tentativa subjacente de sedução, o que pode colocar toda a negociação em risco. O envolvimento dos negociadores é conquistado por meio dos seguintes comportamentos: • motivar e incentivar o outro; • levantar o moral; • influenciar o outro a partir do reconhecimento do próprio comportamento; • reconhecer seus próprios erros; • conhecer suas próprias limitações; • elogiar atributos e qualidades do oponente. 7.4.6 Estilo “destensão”2 – Palavra‑chave: convergência Estilo que busca a convergência em uma negociação, o que significa circunscrever o conflito, levantando os pontos que possam resultar em um acordo ou interromper a negociação por algum tempo para garantir a sua continuidade e resultados. Dessa forma, em momentos de alta agressividade ou imposição de força, o negociador tem a oportunidade de deixar mais claros os pontos em discordância, voltar ao foco do embate e destacar pontos importantes com transparência, resgatando a confiança. No caso de interrupção da negociação, ou de cenário de ataques e defesas, a obtenção da convergência pode dar‑se com explicitação clara das posições, proposição de soluções alternativas que sejam de interesse para as partes, foco no conteúdo principal da negociação ou até proposição de uma nova interrupção da negociação. A expressão destensão traduz a necessidade de diminuir a tensão originada no conflito. 2 Neologismo utilizado por Marcondes (1993). 144 Re vi sã o: Ju lia na - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 09 /0 9/ 20 14 Unidade IV Os comportamentos que apoiam a destensão são: • destacar os pontos de desacordo; • esclarecer as diferenças; • enfocar‑se no debate sobre as questões relevantes; • manter a precisão da negociação; • usar postura honesta e transparente para reestabelecer a confiança; • revelar as posições sobre as necessidades negociadas; • propor interrupções estratégicas no processo de negociação. 7.4.7 Estilos ligação/atração/destensão Esses estilos fazem parte da atmosfera construtivista. São conhecidos também como estilos pull. Os pullers são os negociadores que se adaptam às influências exercidas pelos oponentes. O emprego desses estilos significa que o negociador aceita uma mudança (até radical) no foco ou no objetivo da negociação. A mudança de posicionamento sobre a questão a ser negociada pode ser considerada uma evolução, pois o propósito principal desses estilos reside nos aspectos pessoais e relacionais. Esses estilos reagem em função das mensagens recebidas e buscam o envolvimento e a participação dos grupos ou do outro. 8 APLICAÇÃO DOS ESTILOS NA SOLUÇÃO DOS CONFLITOS No Tópico 7 nos dedicamos a apresentar alguns estilos de negociação para a solução de conflitos. Ao obter esses conhecimentos, você pode reconhecer a importância de saber escolher o estilo mais adequado para aumentar a chance de solubilidade e a produtividade das atividades empresariais. Para que isso seja possível, será necessário considerar várias características relevantes para o processo de negociação. Vejamos. Não é necessário explicitar suas formas de ação, pois há uma variedade de teorias e categorizações possíveis com enfoques específicos. Além desse aspecto complexo, paradoxalmente, o indivíduo não se enquadra em um estilo único e engessado. Cada ser humano apresenta peculiaridades adicionais aos estilos propostos nas teorias existentes. Ainda que não passem por momentos de pressão, eles podem mudar de comportamento repentinamente. Apesar de não ser essencial que as pessoas envolvidas nos processo de negociação conheçam seu estilo, o fato de conhecê‑lo é um diferencial estratégico potencial, pois permite o aumento da predição dos lances e o autocontrole comportamental. Ao antecipar as reações das pessoas, podemos tomar a dianteira no processo e levar vantagem. 145 Re vi sã o: Ju lia na - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 09 /0 9/ 20 14 TÉCNICAS DE NEGOCIAÇÃO A noção de que não há um estilo único, de que os indivíduos podem mudar a forma de se comportar, é fundamental para melhorar a compreensão sobre o processo de resolução do conflito. As diferenças de estilos podem enveredar por dois pontos diametralmente opostos: ou agravam as possibilidades de conflitos, ou culminam em soluções inovadoras e criativas. Assim, será primordial que o negociador se atenha aos princípiostécnicos (GONÇALVES, 2011): • separar as pessoas dos problemas; • concentrar‑se nos interesses, e não nas posições; • buscar opções de ganhos mútuos; • estabelecer critérios objetivos. Combinada com a aplicação da técnica, será necessária a flexibilidade dos negociadores, principalmente, nos casos de estilos muito diferentes. A atitude flexível evita as restrições e os obstáculos comunicacionais. Outro aspecto a ser destacado é que não há possibilidade de fixar um determinado estilo de negociação a um conflito específico. Adequar‑se ao estilo de negociação é fundamental para a solução de conflitos cotidianos que ocorrem nas atividades empresariais. Por esse motivo, há várias características relevantes que devem ser ponderadas a respeito disso. Primeiro, não podemos nos esquecer de que é importante as pessoas conhecerem exatamente qual é o seu próprio estilo quando estão em ação, mesmo que elas se enquadrem em classificações diferentes daquela dos autores discutidos no Tópico 7. Ainda que conheçam o seu estilo mais evidente e os secundários, temos de considerar que, em condições de pressão, as pessoas tendem a mudar a sua forma de atuação, ou, pelo menos, alteram aspectos na forma de conduta. Em segundo lugar, é fundamental para o processo de solução de conflitos o entendimento integrado de que as pessoas não têm um único estilo, mudam a maneira de agir de acordo com a situação e também podem alterar o comportamento ao longo da negociação. Embora a própria interação de negociadores com diferentes estilos seja suficiente para que surjam conflitos adicionais, a utilização das técnicas de negociação pode ser crucial para que esses agentes negociadores possam encontrar caminhos de solubilidade aos impasses presentes. Assim, ater‑se aos fundamentos, como separar pessoas de problemas, concentrar‑se nos interesses, e não nas posições, negociar com vistas aos ganhos mútuos e estabelecer critérios claros, pode ser fundamental para que se encontre uma base de negociação que leve à resolução das adversidades. Mais uma vez, fica evidente a importância da flexibilidade para que sejam estancadas as possibilidades de tumultos e barreiras de comunicação. Outra característica importante é que, dependendo do tipo de conflito, ele não poderá ser predeterminado pelos estilos de negociadores e, por esse motivo, não 146 Re vi sã o: Ju lia na - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 09 /0 9/ 20 14 Unidade IV obteremos êxito ao tentar restringir o conflito por meio da fixação de um único estilo de negociação. Portanto, não podemos simplesmente determinar que haja um estilo de negociação específico que funcione como um antídoto para cada tipo de conflito. São vários os estilos que podem ser utilizados nas negociações conflituosas. De fato, o estilo mais apropriado para lidar com o conflito depende diretamente da pessoa, da outra parte e dos resultados pretendidos. Vamos observar, de acordo com os estilos estudados, como conseguimos equilibrar simultaneamente os aspectos ponderados de acordo com a situação desafiadora que se apresenta. Vejamos a seguir. 8.1 Estilo colaborativo Esse estilo é uma combinação entre o confrontador e o cooperativo. Para esse negociador, é muito importante chegar a uma solução em que haja interesses importantes para as partes e o comprometimento para que a solução seja implantada. Para se chegar a esse tipo de solução, é necessário que, durante a negociação, sejam incorporadas diferentes visões, até que se chegue a um consenso e a uma decisão. Por isso, esse tipo de negociação demanda tempo e esforço, e esse estilo não deve ser utilizado para questões que sejam triviais, pois, como demanda esforço e dedicação, seria um esforço ineficaz. 8.2 Estilo contestador Esse estilo é uma combinação entre o confrontador e o não cooperativo. Indicado para conflitos que exijam soluções decisivas e rápidas. Bastante recomendado para situações de emergência. Não permite que seus negociadores sejam populares, pois, muitas vezes, suas decisões colidem com os interesses das pessoas envolvidas no processo e podem significar rupturas de relacionamentos. Esse tipo de estilo será uma opção quando for necessária a incorporação de uma mudança drástica ou a imposição de um ponto de vista diferente sobre um determinado processo que já é rotineiro, ou seja, o que se pretende com esse estilo é uma mudança de curso. 8.3 Estilo da aceitação Esse estilo combina os aspectos de confronto e cooperação e é indicado para ser utilizado quando o agente negociador estiver posicionado erradamente, ou quando os interesses forem vitais para uma parte e irrelevantes para outra, ou ainda quando o objetivo da negociação for obter crédito para ser utilizado em uma negociação futura. Para esse tipo de negociador, é importante obter uma solução que cumpra as demandas das partes envolvidas e que seja minimamente adequada à circunstância. Esse estilo tende a ser usado em excesso, por ter subentendidas em suas barganhas as trocas de favores e o aumento da rede de relacionamento. Contudo, ele não é adequado para todos os tipos de conflitos. 147 Re vi sã o: Ju lia na - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 09 /0 9/ 20 14 TÉCNICAS DE NEGOCIAÇÃO 8.4 Estilo da retirada Esse estilo não é confrontador, nem cooperativo. Tende a ser adequado para questões superficiais e triviais. Esse tipo de estilo pode ser adequado simplesmente para evitar que o conflito ocorra, retirando‑se dele, a fim de evitar que uma situação se agrave e possa causar mais prejuízos. Esse tipo de situação ocorre quando os interesses pessoais estão em desacordo com os interesses de um grupo ou de uma comunidade. Como o poder pessoal é inferior ao do grupo e não se apresentam chances de que o interesse pessoal seja satisfeito, a tática recomendada é a retirada. 8.5 Estilo do compromisso Esse estilo é um misto de todos os anteriores, pois possui elementos de cada um deles. É indicado para questões de importância relativa e que possam ser solucionadas com o uso moderado do tempo. Nesse tipo de circunstância não são indicados estilos confrontadores ou que são utilizados para circunstâncias de emergência. Quando se usa o estilo do compromisso, geralmente, nenhuma das partes envolvidas sai absolutamente satisfeita com as soluções, contudo ambas deixam a negociação em consenso por se sentirem preparadas para conviver com a solução encontrada. Muito embora esse estilo seja fundamentado na barganha, ele certamente pode ser descrito por concessões que foram feitas durante o processo de negociação com a intenção de se obter uma solução que possa satisfazer minimamente as partes envolvidas. Podemos observar que os estilos apresentados para solução de conflitos são adequados para determinadas situações, entretanto uma pessoa poderá se limitar caso não se sinta confortável para utilizar uma das técnicas apresentadas em uma situação de pressão. Idealmente, uma pessoa deveria conhecer todos os estilos e ser capaz de usá‑los com razoável destreza para fazer a melhor escolha no momento do envolvimento e de acordo com seus objetivos. A habilidade de escolher o estilo de acordo com a circunstância significa mais efetividade na maneira de resolução. Para que o conflito seja solucionado, temos de observar alguns pontos‑chave, como segue: • focar‑se nos problemas; • concentrar‑se nos relacionamentos pessoais; • admitir as diferenças individuais; • ser flexível nos pontos de vista; • respeitar o estilo de trabalho da outra parte; • aceitar opiniões diversas; • observar a situação por enfoques diferentes; 148 Re vi sã o: Ju lia na - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 09 /0 9/ 20 14 Unidade IV • saber se posicionar; • sabermudar de posição quando necessário; • manter o foco nos resultados. 8.6 Estilos comportamentais dos executivos brasileiros No ambiente dos negócios, a análise dos aspectos básicos dos estilos comportamentais assume aspectos essenciais para a descrição da realidade empresarial brasileira. Sabe‑se que os estilos gerenciais junto à cúpula organizacional são exercidos por indivíduos escolhidos de acordo com formação acadêmica, idade e sexo. Essas são as variáveis consideradas como configurações especiais que determinam o estilo comportamental do executivo brasileiro. Em relação ao estilo predominante do comportamento do negociador, identificam‑se como condições habituais de desempenho: Quadro 10 Área Estilo • Recursos Humanos • Administração • Comercial Predomina “dá e apoia”, e o segundo estilo que aparece é o “toma e controla”. • Finanças • Produção • Gestão Geral Predomina o estilo “toma e controla”, e o estilo secundário é o “dá e apoia”. Fonte: Martinelli; Almeida (1998, p. 108). Quando os executivos brasileiros estão submetidos a situações de pressão, ou com uma situação desafiadora de médio prazo, as condições habituais de desempenho são: Quadro 11 Área Estilo • Pesquisa e Desenvolvimento • Finanças • Gestão Geral Predomina o “mantém e conserva”. • Recursos Humanos • Administração • Comercial • Produção Predomina o estilo “toma e controla” (há um empate entre “toma e controla” e “mantém e conserva”). Fonte: Martinelli; Almeida (1998, p. 108). 149 Re vi sã o: Ju lia na - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 09 /0 9/ 20 14 TÉCNICAS DE NEGOCIAÇÃO Observação É interessante observar que, em situações de pressão, o estilo “dá e apoia” desaparece em todas as áreas. Isso pode afetar a eficácia para a resolução de conflitos. Dessa forma, podemos concluir que um estilo comportamental depende diretamente da área de trabalho e das circunstâncias: normais ou de pressão. Outra característica que podemos observar é que, de acordo com a cultura organizacional nacional, o estilo “toma e controla” significa demonstrar o espírito de estar disposto a fazer tudo por uma pessoa, ou seja, que esse trabalhador esteja disponível para lutar pelos objetivos estabelecidos por outra pessoa, nesse caso, uma autoridade ou alguém hierarquicamente superior. Se fizéssemos uma comparação de estilos versus nível hierárquico, poderíamos observar que, no nível estratégico das empresas brasileiras, há uma predominância do estilo “toma e controla”; já no nível tático, existe uma frequência maior do estilo “dá e apoia”, no que se refere à distribuição de recursos e à delegação de tarefas, e do estilo “adapta e negocia”, para as questões que ganham importância, ou para as metas que precisam ser administradas com escassez de recursos. Portanto, podemos notar a relação entre o nível hierárquico ocupado pelo indivíduo e seu estilo comportamental de negociação. Outra comparação possível seria analisar a relação entre o estilo comportamental e o nível de escolaridade. Quando comparamos os estilos com a escolaridade dos executivos brasileiros, observamos que entre administradores e engenheiros predomina o estilo “toma e controla”; já em outras áreas das Ciências Sociais, como psicólogos, economistas, advogados, médicos, entre outros, predomina o estilo “dá e apoia”. Quanto à comparação de estilos de negociação e faixa etária, nota‑se que entre os executivos brasileiros existe o predomínio do estilo “toma e controla” para as pessoas mais jovens, até os 29 anos de idade. Entre 30 e 49 anos, predomina o estilo “dá a apoia”. Para maiores de 49 anos, prevalece o estilo “mantém e conserva”. No que se refere à relação entre o estilo gerencial e o sexo, nota‑se entre os profissionais brasileiros um equilíbrio bastante expressivo dos estilos “dá e apoia” e “toma e controla” distribuídos entre homens e mulheres. Essas reflexões sobre os estilos gerenciais nas organizações brasileiras são importantes por descreverem várias facetas possíveis do comportamento, além de diferentes aspectos que podem ser estudados no vasto campo a ser explorado sobre as técnicas de negociação. 8.6.1 Dicas de como se comportar com executivos brasileiros Vamos observar algumas dicas de como os executivos brasileiros se comportam em situações cotidianas no ambiente organizacional. Essa análise assume importância para identificar os aspectos essenciais do meio empresarial. 150 Re vi sã o: Ju lia na - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 09 /0 9/ 20 14 Unidade IV 8.6.1.1 Reuniões Os brasileiros preferem realizar negócios por meio de conexões pessoais, deixando o entendimento implícito de que a relação de negócios irá manter‑se em longo prazo. Dicas: • Antes de investir em um negócio, pesquise a rede de contatos e as conexões estratégicas que possam facilitar as oportunidades de reuniões etc. Isso lhe proporcionará informações mais detalhadas sobre o ambiente em que você almeja conquistar objetivos. • Faça consultas e levante informações variadas com antecedência, para que possa selecioná‑las e estudá‑las antes da negociação. • Marque um horário com os interessados. Aparecer em um escritório sem hora marcada é inaceitável na cultura empresarial brasileira. • Deixe um intervalo de duas a três horas entre uma reunião e outra, em vez de agendar seus compromissos um em seguida do outro. Uma exceção é caso você esteja em uma localização central e as pessoas virão para vê‑lo. • Falta de pontualidade é característica da cultura empresarial brasileira. Você vai ter de aceitar a espera dos seus colegas brasileiros. O tráfego nas principais cidades é caótico e, na maioria das vezes, é responsável pelos atrasos. • Alterar a equipe de negociação pode comprometer todo o contrato e é considerado uma quebra de protocolo empresarial brasileiro. Além disso, você vai ter de enfatizar que valoriza as pessoas e os relacionamentos mais do que os negócios. • A cultura empresarial brasileira é intensamente hierárquica; apenas a pessoa na posição mais alta toma a decisão final. • Normalmente, os documentos não são assinados imediatamente após a conclusão de um acordo; um aperto de mão e a palavra de uma pessoa são considerados suficientes. Geralmente, os documentos necessários serão preparados de acordo com o combinado e assinados mais tarde. • Nas diversas subculturas do Brasil, um acordo escrito não pode ser considerado obrigatório e, portanto, pode sofrer alterações. 8.6.1.2 Vestuário Para se sentir confortável no clima tropical brasileiro, use roupas feitas de materiais leves e de cores claras. Isso ajudará a mantê‑lo fresco. Algodões leves e fibras naturais semelhantes são geralmente escolhas confiáveis. 151 Re vi sã o: Ju lia na - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 09 /0 9/ 20 14 TÉCNICAS DE NEGOCIAÇÃO Dicas: • A aparência é vital em qualquer cultura de negócios; no entanto, no Brasil, as sutis diferenças são mais aceitáveis. Por exemplo, você pode usar jeans e uma bela camisa e blazer para uma reunião e ser totalmente aceito. No Brasil há muito mais tendências da moda em trajes de negócios do que em outros países. • Os homens devem usar ternos escuros (preto, cinza‑carvão, ou azul‑marinho). Mais uma vez, dependendo da indústria, cores claras nos meses de verão são aceitáveis. Escuro será melhor se você estiver viajando, assim não haverá como errar. O mesmo é recomendado para as mulheres (ternos femininos ou tailleurs). As opções do guarda‑roupa para mulheres incluem vestidos conservadores, ternos, terninhos, saias e blusas. • Certifique‑se de que seus sapatos estejam polidos e mantidos em bom estado de conservação, ou, se quiser – dependendodo setor –, você poderá usar sandálias ou tênis. 8.6.1.3 Conversa de boas‑vindas Manter contato visual constante em todos os momentos. No Brasil, é considerado falta de educação quebrar o contato visual. Os brasileiros são um povo gregário e, como tal, eles gostam de proximidade. Dicas: • Os brasileiros tendem a falar muito rápido. É normal para uma conversa ser altamente animado, com interrupções frequentes, exclamações de “Não!” e uma enorme quantidade de contato físico. Não se assuste se algumas das interjeições soarem como confronto; esta é simplesmente uma maneira bem‑humorada de expressar interesse no que está sendo discutido. A tentativa de dirigir ou monopolizar uma conversa é, geralmente, rejeitada. Tópicos para evitar: • Diferenças étnicas e ou de classe. • Política: dependendo do tipo de negociação, esse item fará parte do negócio em si. Os posicionamentos nesse caso serão muito relevantes. • Questões pessoais: especialmente aquelas em relação à família, renda e ao estado no local de trabalho. Os brasileiros são muito sociáveis, mas a aproximação e certa intimidade só ocorrem depois que se estabelecem laços de confiança. • Primeiro nome ou título? Trate os outros com o respeito devido. No Brasil, as pessoas se movem rapidamente para uma base de tratamento pelo primeiro nome. No entanto, não use o primeiro nome até que você seja convidado a fazê‑lo. 152 Re vi sã o: Ju lia na - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 09 /0 9/ 20 14 Unidade IV • Troque cartões de visitas e entregue material promocional. Esses itens são muito valorizados por negociadores brasileiros. • Sempre bata à porta antes de entrar em um escritório. Alguns ambientes já estão projetados de maneira mais informal; mesmo assim, anuncie sua chegada. 8.6.1.4 Selecionando o presente adequado no mundo dos negócios Dar um presente não é necessário durante a primeira reunião. Em vez disso, ofereça‑se para pagar o almoço ou o jantar e aproveite essa oportunidade para aprender mais sobre os gostos do destinatário. Dessa forma, quando chegar o momento adequado para presentear, você vai ser capaz de fazê‑lo com mais informação. Dicas: • Presentes excessivamente caros podem causar constrangimento ou ser mal‑interpretados como um suborno. • Evite dar itens como facas, tesouras, abridores de carta, ou serão interpretados como o rompimento de um vínculo estreito. • Evite presentes que possam ser percebidos como muito pessoais, por exemplo: carteiras, chaveiros, gravatas, óculos, joias e perfumes. Resumo Os pesquisadores comportamentalistas apontam várias possibilidades de análise e aplicação de estilos de negociação. A compreensão do conceito que estrutura os estilos de negociação e seus respectivos limites será benéfica quando colocada em prática, pois o negociador estará mais bem‑preparado e apto para o desenvolvimento do negócio. Um das vantagens do reconhecimento do estilo empregado pelo oponente é que os negociadores podem realizar previsões e antecipar lances que serão executados pelos oponentes. Os estilos de negociação, segundo o Modelo de Jung, combinam a capacidade de controle ou aceitação do controle de uma pessoa em relação à outra com o nível de consideração ou desconsideração dessa pessoa com os indivíduos do relacionamento. Segundo a Teoria dos Tipos de Personalidade, esses impulsos podem ser combinados em pares ordenados e, ao se misturarem, produzem quatro estilos de oponentes: restritivo, ardiloso, amigável e confrontador. 153 Re vi sã o: Ju lia na - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 09 /0 9/ 20 14 TÉCNICAS DE NEGOCIAÇÃO Segundo Jung ([s.d.]), os negociadores poderão guiar‑se por quatro diretrizes fundamentais quando estiverem em um enfrentamento com todos os estilos de negociadores envolvidos: deixar o oponente à vontade, usar o mesmo sistema de valores do oponente, conduzir o oponente para a posição desejada e evitar o desejo de dominar o oponente mais fraco ou o menosprezo do oponente. Os negociadores também podem expressar‑se por estilos secundários. Há três causas que motivam essa alteração bruscamente: natural, diretiva e reativa. Gottschalk (apud MARTINELLI, 2002) desenvolveu o conceito de estilos de negociação baseado na análise de um conjunto de fatores. Segundo esse modelo, considera‑se inadequada a mudança deliberada de estilo. Os estilos descritos por esse autor são: duro, caloroso, dos números e negociador. A classificação LIFO (Life Orientation) apresenta quatro estilos de negociadores, como segue: dá e apoia; toma e controla; mantém e conserva; e adapta e negocia. Segundo Marcondes (1993, p. 37), a observação do ambiente e sua correta percepção favorecem a adaptação necessária para a negociação. O autor descreve quatro tipos de negociadores com base em formas de classificação de comportamento: afirmação, persuasão, ligação, atração e “destensão”. Apesar de não ser essencial que as pessoas envolvidas nos processos de negociação conheçam seu estilo, o fato de conhecê‑lo é um diferencial estratégico potencial, pois permite o aumento da predição dos lances e o autocontrole comportamental. Ao antecipar as reações das pessoas, podemos tomar a dianteira no processo e levar vantagem. Ainda que conheçamos o estilo mais evidente e os secundários do negociador, temos de considerar que, em condições de pressão, as pessoas tendem a mudar a sua forma de atuação, ou, pelo menos, alteram aspectos na forma de conduta. É fundamental para o processo de solução de conflitos o entendimento integrado de que as pessoas não têm um único estilo, mudam a maneira de agir de acordo com a situação e também podem alterar o comportamento ao longo da negociação. Embora a própria interação de negociadores com diferentes estilos seja suficiente para que surjam conflitos adicionais, a utilização das técnicas de negociação pode ser crucial para que esses agentes negociadores possam encontrar caminhos para a solubilidade dos impasses presentes. Assim, ater‑se aos fundamentos, como separar pessoas de problemas, concentrar‑se 154 Re vi sã o: Ju lia na - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 09 /0 9/ 20 14 Unidade IV nos interesses, e não nas posições, negociar com vistas aos ganhos mútuos e estabelecer critérios claros, pode ser fundamental para que se encontre uma base de negociação que leve à resolução das adversidades. Mais uma vez, fica evidente a importância da flexibilidade para que sejam estancadas as possibilidades de tumultos e barreiras de comunicação. São vários os estilos que podem ser utilizados nas negociações conflituosas. De fato, o estilo mais apropriado para lidar com o conflito depende diretamente da pessoa, da outra parte e dos resultados pretendidos. No ambiente dos negócios, a análise dos aspectos básicos dos estilos comportamentais assume aspectos essenciais para a descrição da realidade empresarial brasileira. Observamos que um estilo comportamental depende diretamente da área de trabalho e das circunstâncias: normais ou de pressão. Se fizéssemos uma comparação de estilos versus nível hierárquico, poderíamos observar que, no nível estratégico das empresas brasileiras, há uma predominância do estilo “toma e controla”; já no nível tático, existe uma frequência maior do estilo “dá e apoia”, no que se refere à distribuição de recursos e à delegação de tarefas, e do estilo “adapta e negocia”, para as questões que ganham importância, ou para as metas que precisam ser administradas com escassez de recursos. Exercícios Questão 1. Leia as afirmativas abaixo: Nas atividades empresariais hodiernas, as ações de marketing envolvem toda a vida do produto ou serviço ofertado pelas empresas ao mercado existente
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