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1 PRÁTICA DE ENSINO: TRAJETÓRIA DA PRÁXIS 2 Wanderlei Sérgio da Silva Doutor em Geociências e Meio Ambiente pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho – Unesp, mestre em Ciências (Geografia Humana) e graduado em Geografia pela Universidade de São Paulo – USP. Durante quinze anos, trabalhou no Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo – IPT, com pesquisas relacionadas às geociências e ao meio ambiente. Atuou como consultor em trabalhos da área durante seis anos, totalizando cerca de cem projetos de pesquisa, em muitos deles atuando como coordenador de equipe. Em 2001, ingressou na Universidade Paulista – UNIP, onde lecionou disciplinas do curso presencial de Turismo relacionadas à geografia, ao meio ambiente e ao planejamento, bem como disciplinas didático- pedagógicas do curso presencial de Psicologia (licenciatura). Atualmente, é membro da Coordenadoria de Estágios em Educação e professor nos cursos de Letras e Matemática da UNIP Interativa, sendo responsável pelas disciplinas relacionadas a Prática de Ensino, Didática Geral, Estrutura e Funcionamento da Educação Básica e Planejamento e Políticas Públicas da Educação. Taíz Maria Caldas Gonçalves de Oliveira Formada em Magistério, graduada em Letras (Português/Inglês) e pós-graduada em Psicopedagogia Clínica e Educacional, com Formação em Educação a Distância. Há mais de quinze anos, atua como docente, carreira esta que teve início na educação infantil e prosseguiu no ensino das línguas portuguesa e inglesa em instituições educacionais particulares de educação básica – incluso o EJA –, em curso preparatório para vestibulares e em cursos livres de idiomas, incluindo português para estrangeiros. É autora de poemas em antologia poética e de paradidáticos. Desenvolve trabalhos de orientação e correção de estágios na coordenadoria de estágios em educação. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) © Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Universidade Paulista. 3 Prof. Dr. João Carlos Di Genio Reitor Prof. Fábio Romeu de Carvalho Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças Profa. Melânia Dalla Torre Vice-Reitora de Unidades Universitárias Prof. Dr. Yugo Okida Vice-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa Profa. Dra. Marília Ancona-Lopez Vice-Reitora de Graduação Unip Interativa – EaD Profa. Elisabete Brihy Prof. Marcelo Souza Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar Prof. Ivan Daliberto Frugoli Material Didático – EaD Comissão editorial: Dra. Angélica L. Carlini (UNIP) Dra. Divane Alves da Silva (UNIP) Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR) Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT) Dra. Valéria de Carvalho (UNIP) Apoio: Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos Projeto gráfico: Prof. Alexandre Ponzetto Revisão: Valéria Nagy Andréia Andrade 4 Prática de Ensino: Trajetória da Práxis Apresentação...............................................................................................................6 1. Contextualização da atividade ..........................................................................7 2. O papel da prática e do estágio na formação de professores...................................................................................................... 09 3. Observação e ação na escola ........................................................................................................................ 12 4. Observação e ação na sala de aula.................................................................................................................. 15 5. A importância da experiência vivenciada........................................................................................................17 6. Aplicação dessa experiência ........................................................................................................................ 18 SUMÁRIO 5 Apresentação De modo geral, a disciplina Prática de Ensino: Trajetória da Práxis tem como objetivo levá-lo a reflexões sobre a trajetória percorrida no âmbito da dimensão prática do seu curso e colocá-lo em contato com novos conceitos. O processo de construção de sua identidade profissional desenvolve-se pela vivência e identificação das necessidades e expectativas da escola inseridas em um contexto educacional, social e cultural. Neste curso você é gradativamente preparado para selecionar e organizar dados de maneira crítica e reflexiva, de modo a possibilitar melhor a compreensão da prática docente. O processo atinge seu clímax com a realização do estágio curricular supervisionado, momento ideal para o início das reflexões básicas acerca da sua formação. 6 1 Contextualização da atividade É importante, neste momento, relembrar o contexto no qual esta atividade está inserida na dimensão prática do curso. Essa informação é passada em todos os livros-texto das disciplinas de Prática de Ensino, objetivando inseri-lo no contexto real da sua formação nesse particular, para que você “não se perca no meio do caminho”. A Prática de Ensino está sendo desenvolvida em seis semestres, com atividades distribuídas por eles. Naturalmente deve haver uma articulação entre elas, perpassando todo o curso. As atividades relacionadas à Prática de Ensino são as seguintes: De modo geral, a Prática de Ensino: Trajetória da Práxis, ora em desenvolvimento, visa, prioritariamente, ao apoio necessário para que você complete a carga horária de estágio iniciada no semestre anterior. Adicionalmente estão previstas atividades que irão enriquecer sua formação e contribuir para a sua qualificação no exercício da docência, basicamente com a apresentação de uma reflexão sobre a trajetória seguida durante o estágio. Lembrete A Prática de Ensino perpassa todo o curso de modo a articular, na segunda metade, o estágio curricular supervisionado. Na Prática de Ensino: Introdução à Docência, o objetivo era levá-lo a perceber a existência da educação que está ao seu redor e que o acompanha por toda a vida, influenciando-o – e a todos que o rodeiam –, não se restringindo ao ambiente escolar, ou seja, ocorrendo também em outros ambientes educativos. Em seguida, a Prática de Ensino: Observação e Projeto objetivou a análise dos termos “observação” e “projeto”, a fim de levá-lo a uma aproximação dessa educação que o rodeia, dirigindo o seu olhar à observação mais próxima das 7 escolas e de outros ambientes onde a educação ocorre (teatros, parques, ginásios de esporte etc.). Depois, foi solicitado a você que elaborasse um pequeno projeto pedagógico de integração entre um ambiente não escolar e uma escola. Unidade I Em Prática de Ensino: Integração Escola X Comunidade, o objetivo foi aproximá- lo ainda mais da educação, por meio da observação e do estudo integrado entre uma unidade escolar e a comunidade onde ela está inserida. Na Prática de Ensino: Vivência no Ambiente Educativo, teve início o seu estágio de observação, participação e regência em unidades escolares. Agora, em Prática de Ensino: Trajetória da Práxis, o seu estágio será enriquecido com a reflexão sobre a trajetória seguida, visando ao término com qualidade e estímulo.8 2 O papel da prática e do estágio na formação de professores Do ponto de vista conceitual, “práxis” significa “ação prática”. Sendo assim, neste texto, trata-se de reflexões e esclarecimentos de alguns pormenores vinculados à trajetória da ação prática desenvolvida no período do estágio curricular supervisionado. Observação Práxis = ação prática. A sua trajetória é o objeto desta disciplina. A prática de ensino e o estágio supervisionado, em verdade, assumem um papel antes de tudo aglutinador na formação de professores. Considerados modos de um fazer docente, são constituídos pelas ações e práticas que demandam o embate com a realidade social, educacional e escolar. O estágio pode ser definido como um espaço de aprendizagem e de saberes, mesmo que estejam incluídas as atividades tradicionais de observação, participação e regência, desde que estas sejam redimensionadas a uma perspectiva reflexiva e investigativa. As escolas de educação básica – em especial as públicas – passam por um momento extremamente problemático em relação à qualidade do processo ensino- aprendizagem. Nesse contexto, a formação do professor tem sido pauta obrigatória nas discussões que visam à busca de melhorias, porque o professor é peça-chave no processo. O papel do atual estagiário assume proporções importantes quando pensamos na sua futura atuação em sala de aula e na escola como um todo. Além do importante papel de auxiliar os alunos no seu desenvolvimento cognitivo, afetivo e social, o futuro professor deve ter formação política suficiente para entender, criticar e procurar soluções para os diferentes problemas a serem vivenciados no sistema educacional. As escolas públicas de educação básica, de modo geral, passam por um momento cuja boa formação de professores é crucial. A escola é muito mais do que a sala de aula, é mais do que regras de linguagem e matemática, do que muros e grades. Em certo sentido, a escola é a vida em processo e, como tal, precisa ser conhecida na sua integridade (no presente), para que possa ser compreendida (no futuro). 9 Do ponto de vista filosófico, este é um momento especial para a sua formação como professor. Paulo Freire (1998) já apontava que na formação permanente dos professores, o momento fundamental é o da reflexão crítica sobre a prática. É pensando criticamente a prática de hoje ou de ontem que se pode melhorar a próxima prática. O próprio discurso teórico, necessário à reflexão crítica, tem de ser de tal modo concreto que quase se confunda com a prática (FREIRE, 1998 apud BARREIRO & GEBRAN, 2006, p. 126). Pense em você mesmo como um profissional. Um professor não apenas reproduz conhecimento, mas pode, por meio de uma reflexão crítica, fazer do seu trabalho em sala de aula um espaço de transformação individual e social. É na ação refletida e no redimensionamento de sua prática que é possível ao docente ser agente de mudanças na escola e na sociedade. O estágio curricular, neste curso trabalhado no âmbito das disciplinas Prática de Ensino: Vivência no Ambiente Educativo e Prática de Ensino: Trajetória da Práxis, ora em desenvolvimento, articula a teoria e a prática. Essa relação, na sua formação como professor, constitui, portanto, o núcleo articulador do seu currículo, permeando todas as disciplinas. O estágio deve ser norteado por alguns princípios, dentre os quais se destacam: • a docência é a base da identidade do seu curso de formação; • o estágio é um importante momento de integração entre teoria e prática; • o estágio não se resume à aplicação imediata, mecânica e instrumental de técnicas rituais, princípios e normas aprendidas na teoria; • o estágio é o ponto de convergência e equilíbrio entre o aluno e o futuro professor. Deve-se atribuir valor e significado ao estágio curricular supervisionado, considerando-o muito mais que um simples cumprimento de horas formais exigidas pela legislação, como um lugar por excelência para que você, futuro professor, reflita sobre a sua formação e a sua ação, e, dessa forma, possa aprofundar conhecimentos e compreender o seu papel e o papel da escola na sociedade. 10 Em sentido mais amplo, o estágio deve efetivar a articulação do seu curso de licenciatura com as escolas de educação básica, sejam públicas ou privadas, servindo, assim, para o aprimoramento da formação profissional da educação, promovendo uma ação mais comprometida com o processo educativo. As práticas desenvolvidas pelas diferentes disciplinas do curso, articuladas, favorecem a sistematização coletiva dos novos conhecimentos adquiridos, preparando-o, como futuro professor, a compreender, de forma mais profunda, a prática docente e refletir sobre as possibilidades de transformação social no exercício da sua profissão. Unidade I A prática de ensino (que permeia todo o curso) e o estágio curricular supervisionado (que integra a segunda parte do curso de formação) devem contemplar a formação de um professor capaz de atender às demandas de uma realidade que se renova a cada dia; deve propiciar a você não apenas uma vivência em sala de aula, mas o contato com a dinâmica escolar nos seus mais diferentes aspectos. A partir da observação do ambiente escolar e da sala de aula, a trajetória da práxis por você vivenciada favorece a reflexão e o desenvolvimento de ações coletivas e, ao mesmo tempo, integradoras. 11 3 Observação e ação na escola Na trajetória da práxis, a observação a ser realizada na escola deve ser pautada por uma perspectiva investigativa da realidade. Ao mesmo tempo em que as observações servem para compreender as práticas institucionais e as ações na escola, fundamentais para a sua formação, elas servem para balizar suas ações como futuro professor, no sentido de facilitar a compreensão da realidade, dos fatos e da prática docente. O hábito e a capacidade de observar adquiridos por você, no âmbito da dimensão prática do curso desde a disciplina Prática de Ensino: Observação e Projeto, o ajudarão a planejar adequadamente seu trabalho educativo, a avaliar quando ele deve ser mudado e em que sentido, de modo a construir conhecimentos, competências e habilidades que sejam extensivos aos seus futuros alunos. Na prática, durante o estágio, é sempre importante lembrar que a observação é uma técnica de investigação científica para coleta de dados, muito relevante quando se tem claro seu objeto de estudo; caso contrário, podem-se coletar informações inúteis e desconsiderar outras essenciais. Após receberem as orientações técnicas para a realização do estágio, os alunos costumam centrar sua atenção no processo de observação da escola como um todo, procurando conhecer seu espaço físico e entorno, inteirando-se de sua estrutura e de seu funcionamento, da organização pedagógica e administrativa e das relações interpessoais que acontecem na escola. Em síntese, nessa fase do estágio, investiga-se a escola, seu entorno e a relação dela com a comunidade. Algumas indagações básicas devem permear esse momento: • como é a escola e em que estágio de desenvolvimento ela está? • como eu vejo essa escola? • como ela se vê? • como a comunidade vê a escola e vice-versa? Para inteirar-se da realidade da escola, passa-se necessariamente pela análise do contexto social e histórico em que ela se insere e pela percepção da realidade social, em processo contínuo de transformação, procurando compreender suas múltiplas determinações, contradições, expressões e relações. 12 ObservaçãoPerceber o extraordinário no ordinário. Este é o grande desafio na busca do diferencial no estágio. Compreender o que há de extraordinário no que parece ordinário é um grande desafio e poderá favorecer a construção de novas ações e novas práticas. Isso implica necessariamente atenção e observação mais acuradas a respeito do que ocorre ao nosso redor e que normalmente passaria despercebido. O estágio permite que você compreenda melhor como as ações e as relações se deflagram no espaço escolar e, a partir daí, propicia mais uma vez a construção e reconstrução contínua de novas ações investigativas, reflexivas, analíticas e interpretativas. Para uma boa análise e interpretação da realidade investigada, é de fundamental importância saber como os dados serão registrados e organizados. Não basta apenas ser capaz de responder à lista de indagações, e sim compreender que significados atribuir ao conjunto de dados coletados e como eles podem contribuir para as investigações e problematizações. Os registros das ações significativas do cotidiano escolar e sua socialização favorecem o enriquecimento e o aprimoramento da formação de professores. O contato com o conjunto de sujeitos inseridos no contexto escolar permite que, por meio de suas falas e ações, você possa visualizar possibilidades de inserção na busca por soluções de determinados problemas. Esse processo propicia entender o espaço escolar como um espaço que permite, ao mesmo tempo, formação individual e coletiva, onde cada pequena ação tem potencial para gerar uma postura permanente de questionamento da prática educativa que ali se desenvolve, bem como o desencadeamento de projetos de investigação que abordem o conhecimento da realidade escolar, a prática de reflexão sobre essa realidade e a proposição de novas ações. É importante mencionar que na trajetória da práxis a observação e a ação na escola promovem o envolvimento do estagiário em diferentes ações e projetos, aprofundando as relações estabelecidas com alunos e professores da escola. O confronto dessas vivências com aquelas trazidas da universidade, muitas vezes, pode constituir-se em momentos de tensão entre as partes. Para evitar que isso ocorra, é bom que você saiba trabalhar bem seus relacionamentos coletivos, tenha 13 sensibilidade para o enriquecimento que a ressignificação de valores e saberes pode promover, tendo em vista os universos e valores diferentes que, nesse caso, se cruzam. 14 4 Observação e ação na sala de aula No momento seguinte à trajetória da práxis vivenciada no estágio, você, como aluno-estagiário, deve ter retomado o processo de observação, só que agora do espaço da sala de aula, o que deve ter suscitado questionamentos sobre a prática pedagógica na sua singularidade, possibilitando a apreensão das condições que interferem na ação educativa e nos sujeitos nela envolvidos. A exemplo do momento anterior (de observação e ação na escola como um todo), você deve se pautar na perspectiva investigativa da realidade e ter clareza no que fará em sala de aula; não pode perder de vista que ela serve, antes de tudo, para a construção de habilidades e competências apoiadas em conhecimentos. Sua presença na sala de aula (como costuma ocorrer com a maior parte dos estagiários de cursos de licenciatura) pode causar certa desestabilização nos alunos e insegurança no professor em relação à própria imagem. Ele pode sentir-se questionado no que diz respeito aos seus conhecimentos específicos e pedagógicos, à sua competência e à forma como se relaciona com seus alunos. Por isso é normal que ele tente fugir de determinadas situações, seja omitindo-se, seja tentando passar uma imagem diferente da real. Ele faz isso para negar aquela imagem que lhe está sendo imputada, a partir da percepção que o estagiário tem dele. Essa linha que se institui entre estagiários e professores é tênue e precisa ser trabalhada muito bem, a fim de que não se estabeleçam práticas competitivas com o professor baseadas em saberes que você, como estagiário, julga ter e naqueles que atribui ou não ao professor. Também nesse momento o processo de construção coletiva pode trazer contribuições positivas para a prática docente. Essa reflexão sobre a prática docente, para você, implica compreender e analisar como ela se concretiza no cotidiano escolar, em ações individuais e coletivas que expressam as concepções que os docentes têm sobre seu mundo, a sociedade, a educação, a escola e, em mais detalhes, o processo ensino-aprendizagem. No estágio de observação em sala de aula, a exemplo da observação da escola, deve-se estar atento ao que será analisado e de que maneira será registrado. Além das questões pontuais e objetivas, definidas claramente, há outras de natureza subjetiva que interferem no julgamento e podem nos levar a realizar uma leitura e compreensão equivocadas da realidade. Por isso, todo o cuidado é pouco. 15 Novamente, trata-se de perceber o que há de extraordinário no que parece ordinário. Mais do que detalhes perceptivos, é necessário que você seja capacitado a desenvolver posturas corretas de observação, levantar hipóteses, avaliar, analisar cotidianamente a sala de aula, desenvolver competências e habilidades, a fim de perceber a necessidade permanente de redimensionar sua prática docente futura. Sua atuação como estagiário e como futuro professor não deve ser pautada por um processo pedagógico de reprodução do saber. As novas exigências sociais têm direcionado e encaminhado a ação docente para novos rumos, ou seja, um professor diferente, capaz de se ajustar às novas realidades da sociedade, do conhecimento, dos meios de comunicação, da cultura e dos alunos em seus diferentes contextos. Lembrete Sua atuação profissional como professor não se restringe à reprodução do saber. Seja diferente... Assim, a busca de uma nova identidade que envolve reflexão permanente sobre sua ação docente vai-se (re)construindo no cotidiano da sala de aula, que deixa gradativamente de ser o espaço de reprodução do saber e passa a configurar-se como espaço de formação, tanto para o aluno quanto para o professor. 16 5 A importância da experiência vivenciada A experiência vivenciada no estágio deve levá-lo a ver-se como futuro professor. O conjunto de atividades possibilitou a você vivenciar e experimentar uma prática pedagógica integradora, reflexiva, em que a relação teoria versus prática constitui-se na matriz do processo educativo, orientando a comunicação com a realidade social. É uma rica oportunidade de aprendizagem, pois interliga o conhecimento teórico ao prático, o que leva a reflexões profundas sobre o conhecimento das diferentes disciplinas do curso, principalmente aquelas que se ligam mais diretamente ao processo de Prática de Ensino. Neste curso, a prática de ensino perpassa suas atividades em disciplinas articuladas. No primeiro momento, você pôde aprender a perceber a educação que ocorre ao seu redor e o influencia a refletir sobre ela e revisar seus conhecimentos. Trata-se de uma experiência ímpar, pois, ao contrário do que faz a maior parte das disciplinas, ao invés de afunilar sua visão sobre o tema, age no sentido contrário, abrindo seus olhos sobre o seu futuro campo de atuação profissional: a educação. Na sequência, você aprendeu conceitos e técnicas extremamente importantes para o seu desenvolvimento profissional: observação e projeto. Teve a oportunidade de compreender a importância de ampliar o seu olhar sobre a realidade, passando do “olhar” para o “observar”. Foiincentivado a ter atenção permanente durante o curso e a dar forma às suas ideias, uma experiência que servirá de apoio para toda a sua vida profissional. Em seguida, foi passada a você a noção de relevância da articulação entre a escola e a comunidade onde ela está inserida. Toda escola cumpre uma função social junto à comunidade e pode colaborar para a solução de problemas por ela enfrentados. A noção dessa verdade representa uma experiência adquirida na raiz, que perdurará por toda a sua carreira profissional. No estágio de observação, participação e regência, você pôde vivenciar diretamente o ambiente escolar com todas as suas nuances. Detalhes a respeito estão presentes em todos os demais capítulos deste texto, demonstrando a experiência única que ele representa. Finalmente, você terá a oportunidade de refletir um pouco mais sobre essa experiência no exercício da disciplina Prática de Ensino: Reflexões. No conjunto, caso você tenha aproveitado as oportunidades, as experiências individuais e coletivas acumuladas o seguirão e farão diferença na qualidade de sua atuação como docente. 17 6 Aplicação dessa experiência Refletir sobre sua formação docente e a prática educativa implica conceber um processo no qual o professor se coloca como agente e sujeito de sua ação, além do processo de construção e reconstrução do conhecimento. Cotidianamente ele deve ser repensado e realimentado, articulando-se com as concepções teóricas que vêm sendo discutidas nas diferentes instâncias educativas. Implica compreender como esse processo é concretizado e viabilizado no cotidiano escolar, em ações individuais e coletivas que expressam a concepção que os professores têm do mundo; não um processo simplesmente de reprodução do saber acumulado, mas um processo de formação de um professor diferente, um professor que motive seus alunos a mudarem para melhor. Por definição, “motivação” é apresentar a alguém estímulos e incentivos que lhe favoreçam determinado tipo de conduta. Em sua futura atuação como professor significa oferecer aos seus alunos os estímulos e incentivos apropriados para tornar a aprendizagem e sua aplicação mais eficazes. Por mais que disponham de recursos didáticos e procedimentos de ensino variados, a maior fonte de motivação continua sendo a personalidade do professor. Não é à toa que alunos geralmente preferem matérias lecionadas por professores amigos, ou associadas a situações agradáveis, ou a procedimentos de ensino adequados. Como professor, você não atuará apenas por intermédio daquilo que dirá e fará, mas pelo que você é e representará para seus alunos. Segundo Piletti (2001), pesquisa realizada pela revista norte-americana Times revelou que os melhores professores dos Estados Unidos não eram os que utilizavam técnicas de ensino mais refinadas, mas aqueles que, estimulados pelo seu próprio entusiasmo, encontravam maneiras próprias de se comunicar e ensinar. Outro estudo que pode ajudar a estimulá-lo no exercício da profissão e na aplicação correta da experiência obtida durante sua formação foi desenvolvido pela Universidade da Califórnia, também nos Estados Unidos, e sintetiza os cinco tipos diferentes de professores: o instrutor ou professor de autômatos: • procura desenvolver no aluno a capacidade de responder imediatamente, sem necessidade de pensar; 18 • incentiva o aluno a recitar definições, explicações e generalizações que memorizam a partir de suas exposições ou de um texto indicado por ele;: • é a autoridade máxima na sala de aula e não admite diálogo. o professor que se concentra no conteúdo • sua maior preocupação é cumprir sistematicamente o conteúdo programático da sua disciplina; • dá pouca importância à originalidade do aluno e muita importância ao estudo da matéria que já foi descoberta no passado; • não acredita que o processo de ensinar e aprender deva consistir em uma atividade conjunta entre professor e aluno; • valoriza o aluno que domina totalmente a matéria apresentada nas aulas ou nos textos recomendados. o professor que se concentra no processo de instrução: • procura impor um modelo de raciocínio aos alunos; • dá mais importância ao processo de aprender do que ao produto da aprendizagem (conteúdo); • exige que seus alunos demonstrem, nos exercícios, provas e discussões, que sabem imitar seus métodos, bem como sua maneira de usar os dados existentes sobre determinado assunto. o professor que se concentra no intelecto do aluno: • sua maior preocupação é desenvolver as habilidades intelectuais do aluno; • utiliza a análise e a solução de problemas como o principal método de ensino; • dá mais importância ao intelecto do que às atitudes e emoções demonstradas pelo aluno. 19 o professor que se concentra na pessoa total: • não acredita que o desenvolvimento intelectual deva ou possa ser desligado dos outros aspectos da personalidade do aluno; • trata o aluno integralmente como pessoa, pois acredita que, separando o aspecto intelectual dos demais, o crescimento do aluno na direção de um ser adulto e cidadão fica seriamente comprometido. Observação Professor? Educador? Orientador? Pesquise o significado didático dos termos e veja qual mais se encaixa em seu perfil. Unidade I Qual dos tipos mencionados você pretende ser? Ou que aspectos de cada tipo fazem parte, hoje, da sua personalidade? Motivar os alunos não é tarefa fácil. O importante é fazer uma autoanálise. Ressalta-se também que a articulação entre a teoria e a prática é um processo constante e definidor da qualidade da sua formação como sujeito, porque lhe abre as portas para uma permanente busca de respostas acerca de fenômenos e contradições vivenciados no cotidiano da sua prática, ou seja, na sua experiência. Por fim, a reflexão constante o encaminhará para o desenvolvimento incessante de competências que se configuram como conhecimentos e ações necessários ao exercício da sua profissão, nas suas dimensões humana, política e técnica, e inseridos em um processo permanente de construção e reconstrução da prática docente. Como em qualquer prática, não temos respostas para todas as questões que surgiram e continuarão surgindo, mas temos disposição para continuar pesquisando e buscando caminhos que possam auxiliar a formação de professores críticos e atuantes. Procurar melhorias para os aspectos injustos da nossa realidade educacional é o objetivo último do trabalho e, para tanto, precisamos de profissionais que tenham condições de propiciar essa transformação. 20 Resumo De início, é importante saber a contextualização da disciplina na dimensão do curso. Essa prática encontra-se, de modo ideal, prevista para o quinto semestre do curso, havendo uma articulação entre ela e as demais práticas. A Prática de Ensino: Trajetória da Práxis visa à orientação na finalização do seu estágio, enriquecendo-o com a reflexão sobre a trajetória seguida, com o objetivo de chegar ao término com qualidade e estímulo. Adicionalmente você se depara com informações que o ajudam a refletir sobre a importância do estágio e das demais atividades práticas, não apenas no seu curso de formação, mas em todo e qualquer curso de formação de professores. A ideia é auxiliá-lo no que realmente importa, distinguindo esse aspecto com maior facilidade na sua reflexão futura já como professor atuante na educação básica. A partir daí, a reflexão passa por um afunilamento, culminando na importância dessa reflexão na sua formação e na sua futura atuação profissional. 21 Referências BARREIRO,I. M. F.; GEBRAN, R. A. Prática de ensino e estágio supervisionado na formação de professores. São Paulo: Avercamp, 2006. p. 126. GARCIA, W. E. Educação: visão teórica e prática pedagógica. São Paulo: McGraw- Hill do Brasil, 1981. PICONEZ, S. C. B. A prática de ensino e o estágio supervisionado. Campinas: Papirus, 2007. PILETTI, C. Didática geral. São Paulo: Ática, 2001. p. 258. 22
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