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Resumo de Filosofia


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Surgimento da Filosofia
No século V a.C., Pitágoras de Samos inventa a palavra FILOSOFIA. Literalmente, significa a amizade (FILO) pela sabedoria (SOFIA), indicando que a sabedoria completa e plena não é propriedade de qualquer ser humano, mas que todos podem e devem amá-la e desejá-la.
A figura do filósofo é o homem que deseja, incessantemente, encontrar a sabedoria. Sabendo que nunca a possuirá integralmente, mas sempre precisará buscá-la.
Alguns acontecimentos históricos dão fundamentos para o surgimento da filosofia, são eles: viagens marítimas que levaram os gregos a regiões nas quais deveriam habitar deuses e seres extraordinários. Todavia, os navegantes constatam que essas regiões eram habitadas apenas por seres naturais. Essas viagens promovem um desencantamento com o mundo, trazendo consigo uma série de questionamentos acerca das explicações mitológicas do mundo.
Invenções como: o alfabeto que trouxe consigo uma relação diferente da conhecida entre as linguagens; o calendário que revelou uma modificação no que tange a medida do tempo, tornando-se um conceito onde tudo pode ser registrado e medido; e a moeda representa o desenvolvimento do valor econômico, podendo comprar e trocar de maneira concreta as coisas.
Surgimento da vida urbana e do dinamismo comercial das cidades leva a um questionamento às explicações dos mitos. A Razão mostra-se mais adequada a esse dinamismo.
Invenção da política que traz consequências marcantes para a sociedade grega e soma-se aos fatores que negam força aos mitos. A Política, em suma, consiste na organização da vida comum, que se passava nas cidades (Pólis). Essa organização materializava-se nas leis (normas). 
Diferenças entre filosofia e mito
O grande desafio do filósofo é encontrar explicações que se bastem na própria razão, sendo satisfatória sem a necessidade de recorrer a fundamentos sobrenaturais ou irracionais. Para vencê-lo, deve constantemente demonstrar e fundamentar (racionalmente) suas afirmações, apresentando argumentos e submentendo-as às dúvidas e às discussões.
O mito volta à origem das coisas e dos fenômenos, encontrando, uma narrativa que recorre aos deuses. Já a filosofia, não se limita a buscar a origem dos fenômenos, embora também se preocupe com isso. A Filosofia busca a explicação sobre tudo, em todos os tempos, durante todo o tempo.
O Mito explica a origem recorrendo aos seres divinos. Todas as coisas derivam de atos que envolvem deuses. Já a Filosofia limita-se a explicar as coisas e os fenômenos a partir de elementos naturais e de seus movimentos, sem o recurso ao sobrenatural.
O mito não é racional, não se preocupa com a eliminação de contradições ou com o esclarecimento do incompreendido. Trata-se de um discurso movido pela autoridade de quem o revela cercado de mistérios e sem a necessidade de um encadeamento lógico. A filosofia não aceita “irracionalidades”. Seu discurso precisa ser coerente, não podendo justificar-se na autoridade de quem o profere, mas precisando submeter-se, reiteradamente, à prova das discussões públicas. As contradições precisam ser eliminadas, assim como o incompreendido torna-se inaceitável e precisa ser esclarecido.
Pré-socráticos
Estão entre aqueles que primeiro pensaram. Os filósofos pré-socráticos não viveram necessariamente antes de Sócrates. Muitos deles foram contemporâneos a ele, ou viveram posteriormente. Todavia, ao contrário dos filósofos “socráticos”, não colocaram o ser humano como tema central de suas reflexões. Seus pensamentos enfrentam tópicos como: questões universais, preocupadas com os temas gerais que explicam a existência de todos os objeto, a qualidade essencial do SER. Os filósofos pré-socráticos, assim, discutem a essência do cosmos (universo) e da phýsis (natureza). São eles:
Anaximandro de Mileto, nesse sentido, afirma que existe algo único que dá origem e causa o desaparecimento de todas as coisas.
Heráclito de Éfeso considera o SER, em sua essência universal, como o constante movimento, a eterna mudança. Um pensador que deseje chegar à verdade, assim, deve negar a ilusão causada pela aparência e constatar a mobilidade essencial de tudo. Exemplo: a chama de uma vela, noutro exemplo, parece imóvel; sua essência, porém, é um processo contínuo de combustão, um movimento.
Parmênides de Eleia defende a tese oposta. Considerado por muitos o criador da lógica tradicional, desenvolve seu pensamento a partir de um raciocínio inflexível: o ser é; o não ser não é. Jamais admite-se a hipótese de que algo que seja, deixe de ser, tornando-se o que não era (o não ser). Seu pensamento considera que todas as coisas, em sua essência, são imóveis e imutáveis.
Zenão de Eleia, que defende a impossibilidade lógica do movimento. 
Sofistas
Os sofistas dominavam a “arte da palavra” ou do “discurso”. Estudavam os mecanismos de argumentação e convencimento utilizados nas discussões e cobravam para ensiná-los. Pois bem, os sofistas, entre outras coisas, ensinavam técnicas para se fazerem discursos convincentes. Daí muitos cidadãos passarem a procurá-los, pagando altas somas, para educarem seus filhos, na expectativa de que se tornassem ótimos oradores e, por consequência, atenienses memoráveis. O foco da crítica estava no fato de a maioria dos sofistas não acreditarem na existência de uma verdade universal (alethéia), mas apenas de uma verdade relativa derivada do debate e do convencimento (doxa).
Sócrates
A partir dele, a filosofia deixa de preocupar-se com questões mais amplas, como o fundamento universal do SER e caracteres gerais da natureza, para focar o ser humano, como seu grande tema.
Para ele, o conhecimento não é um estado da alma, ou um objeto que se possui, mas um processo, uma busca constante. A verdade plena existe, mas é muito maior do que qualquer humano. O sábio aproxima-se dessa verdade ao constatar que cada nova verdade parcial descoberta suscita um vasto e infinito campo de dúvidas, que levam a outras verdades parciais, resultando numa busca ininterrupta.
É preciso deixar claro que Sócrates, durante sua vida, sempre buscou diferenciar-se de outro grupo de pensadores, os Sofistas. Primeiro, conforme mencionado acima, ele acredita na existência de uma verdade plena; os Sofistas, por sua vez, acreditavam apenas nas verdades derivadas do consenso discursivo (se as pessoas concordarem quanto a algo, esse algo torna-se uma verdade). Além disso, Sócrates não vende seus ensinamentos nem apresenta respostas às perguntas de seus discípulos. Ao contrário, seu papel é formular perguntas, instigar as dúvidas, abalar as certezas. Os Sofistas eram considerados professores, pois “ensinavam” respostas e certezas a seus alunos, úteis nos momentos de discussão.
A ética em Sócrates
A ética pode ser resumida como a busca do aperfeiçoamento do indivíduo. Uma pessoa age eticamente quando seu ato pode levá-la a uma melhoria em seu caráter. Por outro lado, as pessoas fazem coisas erradas, ou “besteiras”, como diríamos hoje, porque não pensaram o suficiente antes de agir. O ser humano deveria controlar suas paixões, investigar os fatos sem se iludir com as aparências ou os preconceitos, buscando conhecê-los verdadeiramente.
Platão
Platão foi um discípulo de Sócrates. Graças a ele, conhecemos o discurso socrático, uma vez que era Platão quem registrava em textos os pensamentos de Sócrates. Sua teoria busca a sabedoria de modo incessante e consolida a crença de que a descoberta da verdade leva à ação correta.
Conforme a perspectiva de Platão, a retórica ensina aos jovens a arte do convencimento por meio da sedução e do prazer causados pelas palavras e pelos argumentos pré-elaborados. Não teria a capacidade de convencer pela força racional de suas teses, única capaz de levar à verdade. Assim, a retórica tornar-se-ia a arte do logro e do engano, afastando seus adeptos do conhecimento.
Aristóteles
Aristóteles afirmava que todas as pessoas desejam saber, que esse desejo é intrínseco a natureza humana. O objeto de estudo da filosofia é o SER,que “se diz de muitas maneiras”. Ou seja, a filosofia deve estudar tudo o que é, tudo o que existe, em todas as suas formas de manifestação. Um objeto bastante ambicioso, portanto: estudar TUDO. 
Para satisfazer essa ambição, o filósofo reflete sobre o papel da ciência e investiga os princípios e as causas da natureza do SER. 
A ética em Aristóteles
Há uma diferenciação entre a política, o direito e a ética. A ética se mostra em duas facetas, uma que busca o bem individual e a ciência que a estuda.
Os seres humanos seriam compostos por duas correntes: a vontade racional, que permite agir conforme o conhecimento e a paixão (páthos), que impulsiona para a prática de atos que causam prazer e evitam a dor. Aristóteles não elimina a paixão da conduta humana, e nem tenta transformá-la. A paixão existe e se o indivíduo age conforme suas paixões, fica submisso a objetos exteriores a esse indivíduo. 
Já a ação ética, deve ser governada pela vontade racional. A razão permite ao agente identificar quais atos levam ao prazer passional sem desviar do fim da conduta (bem individual) que causa felicidade. 
Se o indivíduo age conforme a racionalidade, estará agindo com virtude. A virtude nada mais é que a moderação de uma paixão. Aqui desenvolve-se o conceito de justiça universal. 
Para que o indivíduo possa agir racionalmente, encontrando a justiça universal moderando suas paixões, há a necessidade que ele viva em um ambiente o qual possua todas as coisas que o mantém vivo. Sendo assim, concretizada a justiça particular. 
A justiça particular se materializa, inicialmente, como justiça distributiva, organizando a cidade. Sua finalidade é consumar o ideal de “dar a cada um o seu”, distribuindo, para os cidadãos, os benefícios, as honrarias e as riquezas. Essa distribuição compara as pessoas e se consuma mediante proporções que levam em consideração os méritos e as necessidades de ambas.
O fato de a cidade estabelecer a proporção para a distribuição de bens por meio de normas gerais não significa que isso ocorra sem falhas. Aqui surge a justiça corretiva, cuja finalidade é corrigir os desequilíbrios persistentes mesmo após a distribuição política dos bens. Que pode se dividir em duas vertentes. São elas: a justiça comutativa que norteia o processo de troca; o valor de um produto trocado deve ser equivalente ao do outro produto trocado, mantendo-os na igualdade e satisfazendo as necessidades de ambos. A outra vertente é a justiça judiciária onde em alguns casos a igualdade criada pela política pode ser rompida pela ação voluntária ou culposa de alguém; o Estado deve intervir, por meio de um julgamento que leve ao restabelecimento da igualdade, condenando o responsável à indenização dos danos causados e, eventualmente, punindo-o.
Cícero
Cícero diferencia o povo de um aglomerado qualquer de pessoas. Para que um conjunto de homens seja um povo, haveria a necessidade de se associarem por dois consensos: o direito e o bem comum. Assim, quando um grupo define quais serão suas regras fundamentais e quais valores correspondem ao bem comum, transforma-se em um povo. Cícero avalia o Estado pela liberdade de quem governa. Quanto mais livre for o governante, melhor será o Estado. Como o verdadeiro detentor do poder político é o povo, ele deve ser o grande soberano, pois somente o povo pode governar livremente. Mas, para que o sistema funcione, há a necessidade de o Estado submeter-se às leis que limitam seus atos e preservam a liberdade do povo. Sua força decorre de ela derivar do direito natural (são aqueles que às regras são aplicáveis à universalidade do gênero humano), sendo expressão racional da vontade dos deuses e, por isso, colocando-se num patamar acima dos homens.
Estoicismo
Zenão de Cício (336-264 a.C.) é considerado o fundador do estoicismo. Podemos afirmar que os estoicos eram filósofos, no sentido estrito da palavra: amam a sabedoria e buscam conhecer a razão de todas as coisas. Essa postura deriva de sua crença de que a razão está presente na matéria, sendo capaz de dar um sentido à natureza e à ética. Descobrir a razão presente nas coisas significa identificar sua ordem natural e descobrir os limites da conduta humana. Como adotam uma perspectiva materialista, não admitindo a existência de forças ou princípios universais, fora da natureza, acreditam que o verdadeiro conhecimento é atingido por meio da experiência, do contato do ser vivo com o mundo, que possui a essência de si. As pessoas nasceriam como um livro em branco, sem qualquer conhecimento inato. Conforme experimentam sensações empíricas, começam a conhecer as coisas, cujas imagens ficam gravadas na alma. Haveria dois princípios que organizam o mundo: um passivo (a matéria) e um ativo (a razão). A matéria que compõe os objetos é inerte, não se move nem se transforma. 
Dado que o universo estoico é pleno, harmonioso, ocupado pela simpatia, podemos pensar que naturalmente os homens se relacionem, havendo um direito natural que regularia essas relações.
Santo Agostinho
Santo Agostinho está dentro da filosofia patrística. Período filosófico marcado pelo rompimento juidaco-cristão que levará a formação desse novo período. O primeiro momento dessa filosofia é marcado pela consolidação do cristianismo. A partir do século IV, o cristianismo deixa de ser proibido no Império Romano, tornando-se a religião oficial de Roma. 
Agostinho considera a fé fundamental na vida humana. Somente aqueles que norteiam seus atos pela fé podem ser salvos. Assim, a resposta às questões acima passa por ela. Ainda que os humanos sejam incapazes e seus atos sempre imperfeitos, Deus escolheria alguns para governar. O objetivo dessa escolha é garantir um mínimo de segurança para os escolhidos poderem viver com fé. 
Desse modo, caberia a todos respeitarem integralmente essa autoridade que, claro, passaria pela Igreja Católica. Aqueles escolhidos por Deus para exercerem o poder político deveriam elaborar leis inspirados naquelas existentes na Cidade de Deus. O modelo de legislação e também de justiça torna-se transcendente, devendo ser encontrado pela fé. Mas, dada à falibilidade humana, essas leis sempre seriam imperfeitas, por maior que fosse o esforço dessas autoridades. Mesmo nesse caso, em nome da segurança, as pessoas deveriam curvar-se, pois não podem compreender e julgar a escolha inicial, de Deus. Somente uma ampla obediência à autoridade traria o grau de segurança necessário para uma vida repleta de fé na Cidade dos Homens.
São Tomás de Aquino
Durante os séculos IX ao XII forma-se a filosofia medieval. São Tomás é o principal nome dessa corrente e elabora um pensamento que possibilita a reabilitação da capacidade humana e de seus atos, reintroduzindo a razão como fundamento para a ética, ao lado da fé. Tomás apresenta duas verdades: as verdades naturais, conhecidas pela razão, e as verdades sobrenaturais, dependentes da fé. A autoridade acima é exercida pelo Estado e deve conduzir sua sociedade a Deus, concretizando a justiça distributiva por meio da adaptação da lei natural à lei humana. O Estado, pois, não cuida apenas da segurança; é, também, um promotor do bem e do aperfeiçoamento da sociedade, aproximando-a do Criador. Deus limitar-se-ia a revelar, para a razão, as leis naturais, semelhantes a princípios gerais. 
Cada sociedade precisaria completar a criação, especificando os atos que levariam a Deus, transformando o direito natural no direito positivo. Também no direito, constatemos, o uso da razão terminaria por consagrar a fé em Deus: a boa lei positiva corresponde racionalmente à lei natural que, acredita-se (por meio da fé), corresponde à lei divina.
Contratualismo de Thomas Hobbes, John Locke e Jean Jacques Rousseau
Thomas Hobbes (1588-1679) é um filósofo de transição para a modernidade. Sua teoria política é comumente destacada como consolidadora do Absolutismo, embora o objeto de suas reflexões tenha sido, propriamente, a Soberania. As pessoas seriam, naturalmente, más, mesquinhas, egoístas, somentebuscando a satisfação dos próprios interesses e, muitas vezes, entrando em conflito com outros. a vida humana na natureza resultaria na guerra de todos contra todos. 
Hobbes afirma que o “homem é o lobo do homem”, numa perspectiva pessimista quanto à índole de nossa espécie, considerando que nos devoramos mutuamente. Embora seja um direito inato, a preservação da própria integridade não prevaleceria na bélica natureza. Mesmo que as pessoas tentassem manter-se vivas e lutassem contra as ameaças dos outros, a situação levaria a uma generalização do medo, tornando insuportável a vida natural. 
Em virtude desse medo de ser destruído pelo próximo, os humanos associar-se-iam, voluntariamente, celebrando um contrato coletivo e fundando a sociedade. Nesse processo, todo indivíduo abriria mão, integralmente, de seus poderes (e direitos), transferindo-os para uma pessoa, que se tornaria o Soberano. Logo, o Estado criado por essa pessoa seria portador de todos os poderes sociais, sendo capaz de definir os limites da conduta dos indivíduos e de, eventualmente, reconhecer direitos. Por outro lado, as pessoas não conservariam qualquer direito, esperando apenas que houvesse, por parte do Estado, a garantia da segurança que minimizasse o medo. Hobbes compara o Estado ao Leviatã (ser mitológico) que possuía tentáculos que deveriam ser projetados pelo Estado sobre cada indivíduo, controlando suas ações e sua vida. 
John Locke (1632-1704) também não admite a origem divina do poder real. Deus não conferira poderes especiais a qualquer ser humano, nem escolhera um governante para agir em seu nome. O poder político seria uma construção humana, derivado de um ato voluntário e consensual, pelo qual as pessoas celebrariam um contrato e fundariam a sociedade. Locke não é pessimista como Hobbes quanto ao caráter natural do ser humano. Graças ao conhecimento empírico, as pessoas, por meio de suas experiências, conseguiriam perceber, já na natureza, que existem direitos naturais e, inclusive, tenderiam a respeitá-los. Haveria, portanto, paz e harmonia. Agora, os direitos naturais já foram reconhecidos na natureza e chegam a ser respeitados, diferentemente do que ocorria em Hobbes. 
O Estado deve preservá-los, colocando-se como um continuador dos mesmos, pois seu papel é aperfeiçoar o que já havia antes de sua existência, e não suprimir os direitos. As leis devem reconhecer os direitos naturais, positivando-os. Nesse cenário inaugura-se o paradoxo liberal: o mesmo Estado que comanda, determina, limita, deve fazê-lo para garantir o máximo possível de liberdade. Ora, em outras palavras, o Estado deve limitar a liberdade (criando leis) para garantir a liberdade (eis o paradoxo).
Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) difere dos demais em muitos aspectos. Não considera, por exemplo, a sociedade humana como melhor do que a vida na natureza. Ao contrário, ele a responsabiliza pela degeneração moral da humanidade: ela desperta paixões artificiais, como a ganância, a ambição, a vaidade, a cobiça, a luxúria, entre outras. Seu pensamento é crítico e propõe mecanismos para corrigir a civilização, restaurando o contrato social. 
Rousseau considera o ser humano como essencialmente bom, inaugurando a perspectiva do bom selvagem, ou seja, de que as pessoas seriam, na natureza, puras, incapazes da maldade, dotadas de amor próprio e de amor pelo próximo, respeitando-se, portanto, mutuamente. Se as pessoas são tão boas, por que precisariam de normas e de uma sociedade? Rousseau justifica isso com a perfectibilidade que todo ser humano possui (busca pelo aperfeiçoamento e pela melhoria). Vivendo na natureza, as pessoas padecem de limitações decorrentes das oscilações climáticas e da falta de controle sobre a produção alimentar, podendo passar fome ou frio, ou ainda correndo riscos ao se deparar com outras espécies animais. Para aperfeiçoar sua existência, os seres humanos celebrariam o contrato social, fundando a sociedade e dividindo o trabalho. 
Mas, durante esse processo, as pessoas dariam um “passo em falso”, cometendo um erro: num momento, alguém teria demarcado um pedaço de terra no chão e dito “é meu!”, instaurando a propriedade privada. A partir daí, começariam as desigualdades entre os homens e a consequente corrupção de seus caracteres. Sendo assim, a lei deve ser a expressão da vontade de todas as pessoas, devendo ser elaborada de modo diretamente democrático, consistindo em um texto com o qual todas as pessoas possam concordar, pois verificam que sua vontade individual está, de algum modo, nela materializada. Quando alguém obedece a uma lei geral como essa, obedece a sua própria vontade que autorizou a sua criação. Resolve-se o problema de ordenar-se com liberdade: ser livre é obedecer à lei geral.
Immanuel Kant
Kant admite que as coisas têm existência material, independentemente dos sujeitos e de sua racionalidade. Essa existência material é percebida pelas pessoas por meio da sensibilidade (audição, olfato, paladar, tato e visão). Ocorre que nós não conseguimos, todavia, captar toda a existência do objeto por meio dos sentidos. A parte do objeto que captamos chama-se fenômeno; a totalidade do objeto, sua essência, não apreensível pelos sentidos, chama-se númeno. As duas formas da sensibilidade mais importantes são o espaço e o tempo. Assim, todas nossas sensações dos objetos são apreendidas de forma espacial e temporal. 
O ser humano é, ao mesmo tempo, númeno, em sua existência espiritual, e fenômeno, em sua existência sensorial. Enquanto fenômeno, o ser humano está condicionado a uma existência regida pela causalidade: os fenômenos determinam os limites físicos das pessoas. A ação não será determinada por fenômenos se primeiro, o sujeito agir motivado apenas por seu próprio desejo, por sua vontade absoluta. Em segundo lugar, a ação deve ser praticada de boa vontade, ou seja, as pessoas devem realmente desejar fazer aquilo o que fazem ou farão. Uma ação praticada de má vontade não é sincera, pois não obedece ao íntimo desejo do sujeito. 
A vida moral, na perspectiva kantiana, seria plena a partir do momento em que as pessoas fossem livres e somente agissem respeitando essa liberdade. Um ser humano jamais encararia outro como um meio para concretizar seus anseios, pois não desejaria que essa conduta se tornasse universal, sendo simples meio da vontade de outro. Todavia, o estágio evolutivo da humanidade ainda não permitiria esse grau de maturidade na ação coletiva, havendo a necessidade de imposição de regras jurídicas para conduzir externamente as pessoas.
 Kant parte da constatação que o imperativo categórico permite criar algumas regras que devem ser universalizadas. Essas regras correspondem a sua visão de direito natural. É interessante notar que ele descobre tais regras sem recorrer a uma natureza humana, sem partir da noção de indivíduo, comum a outros pensadores modernos. 
Sua perspectiva rompe com o raciocínio antropológico ao encarar o direito natural como uma abstração racional que deriva do imperativo categórico, não da essência individual humana. Além disso, o direito natural não corresponde a uma situação anterior à sociedade, na qual os seres humanos viviam isolados e sem a presença do Estado. Essa análise é irrelevante para a perspectiva kantiana. A ele, interessa que os Estados existentes aperfeiçoem-se ao positivar as regras racionalmente descobertas pelo direito natural, derivadas do imperativo categórico. 
O direito natural é apenas um guia para o Estado e serve para julgar suas leis (nesse sentido, há uma semelhança com Locke e Rousseau, mas os dois ainda falam em estado de natureza). O direito é necessário apenas porque a maioria das pessoas não é capaz de escolher corretamente a melhor ação, respeitando-se mutuamente. Seu objeto é o comportamento externo dos seres humanos, independentemente de sua vontade interna (objeto da moral). 
Dada essa faceta externa, Kant conclui que a forma do direito legal é a publicação. Uma norma moral rege o interior de um indivíduo;ele cria a norma para si mesmo, não a divulgando. Uma norma jurídica, porém, rege o comportamento externo das pessoas; o Estado a cria para os cidadãos, devendo ser publicada. Ao agir, uma pessoa deve pensar e buscar a forma pura da ação. Ao fazê-lo, concluirá que essa ação corresponde ao previsto nas leis. 
Nem todos, todavia, possuem tal capacidade, agindo de modo contrário ao direito e exigindo que o Estado se imponha mediante recurso à força. Tal situação estabelece limites à liberdade de certas pessoas que não agem motivadas pelo imperativo categórico. Esse problema seria resolvido quando a humanidade atingisse um grau máximo de maturidade, havendo a coincidência generalizada entre as normas jurídicas e as ações dos indivíduos. Assim, todos seriam livres, pois sempre escolheriam praticar atos em conformidade com as leis. Enquanto isso não ocorre, a lei é fundamental e resolve o problema internamente. As pessoas, seja por livre escolha moral, seja por imposição estatal, respeitam-se.