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GESTÃO DE PORTFÓLIO E MARCAS Francisco Antonio Serralvo Osnei Francisco Alves G es tã o G E S T Ã O D E P O R T F Ó L IO E M A R C A S Fr an ci sc o A nt on io S er ra lv o O sn ei F ra nc is co A lv es Administrar marcas e portfólios de produtos tem ocupado a maior parte do tempo dos profissionais de marketing das empresas, com vistas a consolidar participação de mercado, desenvolver novas oportunidades competitivas, defender efetivamente posições de mercado, entre inúmeras outras possibilidades gerenciais. Este livro procura orientar o leitor no sentido de compreender como deve proceder o profissional que atua no campo das marcas nas empresas, sejam elas de cunho lucrativo ou não, do setor público ou privado. Fundação Biblioteca Nacional ISBN 978-85-387-6397-0 Francisco Antonio Serralvo Osnei Francisco Alves IESDE BRASIL S/A Curitiba 2017 Gestão de Portf lio e Marcas CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ S496g Serralvo, Francisco Antonio Gestão de portfólio e marcas / Francisco Antonio Serralvo, Osnei Francisco Alves. - 1. ed. - Curitiba, PR : IESDE Brasil, 2017. 196 p. : il. ; 21 cm. Inclui bibliografia ISBN 978-85-387-6397-0 1. Marketing. I. Alves, Osnei Francisco. II. Título. 17-45560 CDD: 658.8 CDU: 658.8 Direitos desta edição reservados à Fael. É proibida a reprodução total ou parcial desta obra sem autorização expressa da Fael. © 2009-2017 – IESDE BRASIL S/A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito dos autores e do detentor dos direitos autorais. Todos os direitos reservados. IESDE BRASIL S/A. Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 Batel – Curitiba – PR 0800 708 88 88 – www.iesde.com.br Produção FAEL Direção Acadêmica Francisco Carlos Sardo Coordenação Editorial Raquel Andrade Lorenz Revisão IESDE Projeto Gráfico Sandro Niemicz Capa Vitor Bernardo Backes Lopes Imagem Capa Olas/Shutterstock.com Arte-Final Evelyn Caroline dos Santos Betim Sumário Carta ao Aluno | 5 1. Estratégia das marcas no lançamento de novos produtos | 7 2. Gestão de portfólio com enfoque em marcas e produtos | 29 3. Consolidação das marcas e vantagem competitiva | 51 4. Princípios da gestão dos serviços | 73 5. Desenvolvimento de novos produtos | 89 6. A dimensão das marcas | 103 7. Estrutura da marca | 117 8. Posicionamento da marca | 129 9. Patrimônio da marca | 141 10. Embalagens | 157 Gabarito | 177 Referências | 189 Carta ao aluno A gestão de portfólios e marcas tem sido uma das áreas mais demandadas do marketing, assumindo importância crucial notada- mente a partir dos anos 1960, devido à criação do cargo de gerente de produto nas organizações empresariais na década de 1950. Durante todos esses anos, diversos modelos de gerencia- mento foram desenvolvidos, a fim de melhorar o desempenho com- petitivo das organizações e ampliar o leque de oportunidades das empresas, envolvendo as áreas de produto (pesquisa e desenvolvi- mento), finanças e, claro, marketing. – 6 – Gestão de Portfólio e Marcas A partir dos anos 1970, a área ganhou significativo reforço com o sur- gimento do branding (ou, em português, gestão da marca), resultante das teorias de posicionamento da marca desenvolvidas por Al Ries e Jack Trout. Desde então, administrar portfólios e marcas tem ocupado a maior parte do tempo dos profissionais de marketing das empresas, objetivando consoli- dar participação de mercado, desenvolver novas oportunidades competitivas, defender efetivamente posições de mercado, entre inúmeras outras possibili- dades gerenciais. Esta obra procura orientar você, leitor, no sentido de compreender como deve proceder o profissional que atua no campo das marcas nas empresas, sejam elas de cunho lucrativo ou não, do setor público ou privado. Boa leitura! Estratégia das marcas no lançamento de novos produtos Neste capítulo abordaremos a importância da estratégia no lançamento de novos produtos. É notório que para as empresas alcan- çarem o sucesso em suas marcas, a cada novo produto a ser lançado, devem analisar a estratégia e o planejamento, bem como os atributos necessários ao produto, por meio de pesquisa com possíveis compra- dores, tendo por objetivo compreender qual a necessidade ou o desejo do público-alvo1. Muitas empresas não conseguem captar e avaliar o potencial dos seus produtos com relação ao ambiente externo e, assim, não promovem uma marca de sucesso na mente das pessoas. Afinal, todas as marcas novas estão sujeitas a uma incerteza no seu lançamento, que pode ser minimizada com ferramentas eficazes. 1 São os clientes que a empresa tem prioridade em alcançar. O público-alvo é delimitado por renda, necessidades, faixa etária etc. Diante disso, as organizações analisam formas de estabelecer o atingimento das suas metas de vendas. Por exem- plo: o público-alvo de produtos básicos de extrema necessidade, como arroz, feijão, açúcar, são as famílias; no entanto, as vendas poderão sofrer decréscimo devido à falta de renda de tal público. 1 Osnei Francisco Alves Gestão de Portfólio e Marcas – 8 – 1.1 Planejamento estratégico dos produtos e das marcas O planejamento é utilizado pelos gestores para identificar os objetivos e definir as linhas de ação apropriadas para uma organização. Podemos constatar a existência de três tipos de planejamento: 1. Planejamento estratégico: vinculado ao ambiente externo da orga- nização (clientes, fornecedores, governo, mídia). Nesse caso, os diretores e presidentes definem o futuro da organização, as modi- ficações de determinados produtos, a industrialização de outros, a captação de investimentos etc. 2. Planejamento tático: consiste no gerenciamento do ambiente interno da organização. Ele é utilizado na implantação das estra- tégias pelos gerentes de departamentos (marketing, vendas, produ- ção, financeiro). 3. Planejamento operacional: executa as estratégias visualizadas pelo planejamento estratégico e implementadas pelo tático, porém den- tro do ambiente produtivo ou de prestação de serviços. Desse processo de planejamento resulta o plano organizacional: O plano organizacional resultante do processo de planejamento deta- lha os objetivos da organização e o conjunto específico de estratégias que os administradores implementarão para atender a esses objetivos. A estratégia é um conjunto de decisões e ações gerenciais relacionadas para ajudar uma organização a atingir um de seus objetivos. Portanto, o planejamento é tanto o processo de estabelecer metas como o pro- cesso de elaboração de estratégias. (JONES; GEORGE, 2012, p. 173) Portanto, o planejamento estratégico pode ser resumido como a formu- lação de estratégias que serão empregadas para atingir os objetivos previa- mente estabelecidos. Segundo Jones e George (2012), o planejamento pode ser desenvolvido em três etapas: 1. Determinação da missão e dos objetivos da organização: A missão é o propósito prioritário da empresa e se destina a diferenciá-la de seus concorrentes, focando no que é único ou mais importante a respeito de seus produtos e de sua marca. – 9 – Estratégia das marcas no lançamento de novos produtos 2. Formulação da estratégia: Depois de analisarem a situação da orga- nização, os gestores formulam as estratégias para concretizar a sua missão. Por exemplo, uma instituição financeira tem como missão estabelecer soluções financeiras para os clientes. Em uma primeira leitura pode parecer que a instituição empresta dinheiro, porém a estratégia é, em curto prazo, solucionar a falta de dinheiro do cliente para honrar seus compromissos.3. Implementação da estratégia: Os gestores decidem o que é necessá- rio para implementar as estratégias entre as pessoas da organização, como a decisão de alocar recursos e responsabilidades. Por exem- plo, uma empresa automobilística deseja lançar um automóvel com um custo mais acessível e, com isso, haverá um impacto na forma de montagem e alterações nos procedimentos, o que exigirá trei- namento específico para os funcionários. A demanda do ambiente externo também deve ser considerada, pois, se houver um aumento excessivo de pedidos, os colaboradores poderão ser afetados pelo volume de trabalho. Assim, uma vez que se determine no planejamento quais os produtos e as marcas que serão implementados, os gestores devem estabelecer um con- junto de objetivos básicos com os quais a organização estará comprometida. Desenvolver esses objetivos confere a toda a equipe um senso de direção ou um propósito, além de não se perder de vista que o produto e a marca estão relacionados com os valores da empresa. Em grande parte das organizações, cabe ao CEO2 articular os principais objetivos, contudo, isso pode ser feito com a ajuda dos demais gestores. Essas declarações, quando são ambiciosas, põem a organização à prova e desafiam seus membros a trabalharem para aumentar o seu desempenho. O papel de liderança estratégica do CEO e dos gestores de transmitirem a seus subordinados uma visão convincente daquilo que querem atingir é de fundamental importância. Afinal, se todos os colabo- radores comprarem a ideia, eles buscarão realizar seu trabalho com o propó- sito de atingir as metas da organização (JONES; GEORGE, 2012). A estratégia é entendida como um fio condutor para a organização, uma referência de compreensão e ação para comportamentos individuais, devido 2 Do inglês Chief Executive Officer, que significa diretor-executivo, em português. Gestão de Portfólio e Marcas – 10 – ao impacto que ela gera ao ambiente interno, principalmente na gestão de pessoas. Disso emerge a questão: como se processam e/ou se desenvolvem efetivamente pelos indivíduos a apreensão e a percepção da(s) estratégia(s)? Seguramente, os executivos de todos os níveis têm um papel fundamental na construção da compreensão e da percepção da estratégia da empresa, particu- larmente por terem, como uma de suas funções, a responsabilidade pela ela- boração, adoção e implementação de estratégias. Todas as pessoas que fazem parte da organização serão afetadas pelas decisões da alta administração, então os executivos que são encarregados das decisões mais complexas devem avaliar muito bem o modo de efetivar as mudanças. Logo, o entendimento dos exe- cutivos, expresso não apenas verbalmente, mas por atitudes em suas decisões e ações, orienta ou, ao menos, fornece elementos para o conhecimento desen- volvido pelos indivíduos no interior das organizações. Apesar da preocupação teórica acerca da implantação efetiva da estraté- gia, o que os dirigentes da empresa procuram como resultado final é um bom desempenho organizacional, muitas vezes comparando-o com resultados anteriores, outras vezes com os resultados planejados (CARDOSO, 2007). As organizações precisam estudar todo o seu ambiente de atuação, determinando quais as variáveis que mais afetam as suas atividades e quais as principais tendências no setor. Por isso, a principal fonte de inspiração de um planejador são os movimentos de mercado, pois é com base nessas informações que as empresas podem buscar e obter elementos básicos para seus planos. Existem diversos níveis de competição, dados pela competência essencial de cada empresa. De acordo com Hamel e Prahalad (1995), as organizações que visam a competir pelo desenvolvimento de competências exibem três níveis de competição: 2 1º nível: aquisição das habilidades ou tecnologias. Exemplo: a com- pra do YouTube pela Google, devido ao grande sucesso e ao fato de a empresa ser um concorrente em potencial. 2 2º nível: sintetização, absorção e retenção dessas competências. Exemplo: a compra do WhatsApp pelo Facebook. Apesar de o WhatsApp não ser muito rentável na época, era um produto prá- tico e rápido que poderia ser uma grande ameaça no futuro. – 11 – Estratégia das marcas no lançamento de novos produtos 2 3º nível: aumento da participação no mercado do produto princi- pal da organização. Exemplo: a aquisição do Unibanco pelo Itaú, para alavancar as receitas e os clientes. Também é importante que os gestores conheçam os pontos fortes e fra- cos da organização para competir no mercado, sendo capazes de identificar as oportunidades e as ameaças. Para tanto, podem fazer uso da análise SWOT, uma ferramenta que ajuda os gestores na identificação dos pontos fortes (Strengths) e fracos (Weaknesses) internos da organização e as oportunidades (Opportunities) e ameaças (Threats) externas. Com base nessa análise, os gestores podem escolher estratégias corpora- tivas, de negócios e funcionais, para buscar um melhor posicionamento da organização no mercado, a fim de que ela atinja sua missão e seus objetivos. Observamos que as organizações, ao valorizar seus pontos fortes (como exce- lentes habilidades em marketing e pesquisa e desenvolvimento), aprimorar seus pontos fracos (como elevação nos custos de produção e tecnologia desa- tualizada), identificar as oportunidades e proteger-se das ameaças, tornam-se mais preparadas para competir no mercado e crescer. Os pontos fortes fazem parte do ambiente interno da organização, ou seja, provêm de equipamentos utilizados, bom atendimento, colaboradores qualificados. Os pontos fracos são características negativas, como falta de capital financeiro e de bons profissionais. A segunda etapa da análise SWOT começa quando os administradores se dedicam com afinco a uma operação de planejamento plena para iden- tificar as oportunidades e ameaças potenciais no ambiente e que afetam a organização no presente ou poderão afetá-la no futuro. O planejamento por cenários muitas vezes é usado para reforçar essa análise. As ameaças e oportunidades referem-se aos fatos positivos ou negativos que existem para determinado setor de atuação. São vinculadas ao ambiente externo, como a falta de financiamento devido à crise econômica (ameaça) e a introdução de novos produtos em meio à crise (oportunidade). Dessa forma, uma empresa tem uma série de variáveis interferindo em seu âmbito de atuação, como economia, política, concorrência etc. Essas variáveis modificam-se de forma constante e as empresas devem ajustar-se Gestão de Portfólio e Marcas – 12 – a essas mudanças, conduzindo os seus planos de marketing de maneira mais adequada. Assim, uma oportunidade para uma empresa que tenha um ponto forte em determinado aspecto deve ser aproveitada, enquanto uma ameaça ambiental para uma empresa que tenha um ponto fraco deve ser evitada ou modificada, a fim de não acarretar maiores problemas futuros. Desse modo, com a análise SWOT, os administradores podem conti- nuar o processo de planejamento e determinar estratégias específicas para concretizar a missão e os objetivos da organização. As estratégias resultantes devem capacitar a organização a atingir seus objetivos, tirando proveito de oportunidades, contra-atacando ameaças, construindo os pontos fortes e cor- rigindo os pontos fracos da organização. Figura 1 – Análise SWOT. S Strengths (Forças) Variáveis positivas controláveis Variáveis negativas controláveis Threats (Ameaças) Opportunities (Oportunidades) Weaknesses (Fraquezas) Variáveis positivas não controláveis Variáveis negativas não controláveis W O T Ambiente interno Ambiente externo Fonte: IESDE Brasil S/A. Todas as empresas apresentam pontos fortes e fracos em relação aos seus concorrentes. São vários os aspectos, como uma marca, umaboa imagem – 13 – Estratégia das marcas no lançamento de novos produtos no mercado, um produto com qualidade superior, uma equipe de vendas diferenciada, entre uma série de outras possibilidades. Esses pontos devem ser analisados com todo o cuidado, pois eles serão determinantes para o desen- volvimento de uma estratégia. Um ponto forte com um fato favorável no mercado constitui-se em uma oportunidade, enquanto um ponto fraco com uma situação desfavorável no mercado constitui-se em uma ameaça. Por exemplo, uma das investidas da Pepsi-Cola no mercado de São Paulo contra a Coca-Cola foi com base em uma análise de pontos fortes e fracos da empresa em relação à concorrência. Ao saber que a Coca-Cola não estava bem com a rede de distribuidores de que dispunha na época, devido a problemas de comunicação, a Pepsi investiu em campanhas dirigidas aos distribuido- res, procurando agradá-los com estratégias de relacionamento. Mesmo que a estratégia não tenha surtido os efeitos esperados, esse é um bom exemplo de investida com base em uma análise de pontos fortes e fracos. Para a estratégia de marketing, os estrategistas devem, em primeiro lugar, preocupar-se com o cliente. A determinação do mercado-alvo é um dos primeiros passos para uma estratégia bem-sucedida. Porém, muitas vezes isso não ocorre. Por meio da análise de mercado é possível descobrir um novo nicho ou segmento que esteja em crescimento. Outras vezes, é necessário fazer uma pesquisa mais detalhada para identificar os consumidores em potencial. Uma vez determinado o público-alvo visado pela empresa, é preciso estabelecer um posicionamento, que começa com o produto. Mas não é o que a organização faz com seu produto, e sim o que ela faz na mente do cliente em perspectiva, ou seja, como ela posiciona o produto na mente do comprador em potencial (RIES; TROUT, 1987). Portanto, o posicionamento representa uma posição que a empresa ou o produto ocupa na mente do cliente. Geralmente, isso ocorre por um atri- buto especial ou diferencial do produto em relação à concorrência. Quando é citada uma determinada marca, logo se associa a ela algum atributo específico do produto ou da marca. Por exemplo, ao citar a marca Volvo, logo pensa-se na segurança dos veículos; a marca Mercedes-Benz faz lembrar qualidade e status, e assim por diante. As empresas que fizeram o marketing dessas marcas e desses produtos preocuparam-se em se posicionar desse modo específico e, com certeza, foram Gestão de Portfólio e Marcas – 14 – bem-sucedidas. Quando as empresas procuram posicionar as suas marcas, planejam todo o seu composto de marketing – que são os chamados 4 Ps: Produto, Preço, Praça e Promoção – para atingir esses objetivos. Portanto, tanto o produto como o preço, a distribuição e a promoção são desenvolvidos para atingir esses propósitos. Uma vez que o plano está feito, ele representa apenas uma orientação inicial para o período analisado e uma previsão para prováveis ocorrências no futuro. No entanto, como as variáveis incontroláveis estão em constante mudança, é necessário ajustar as táticas. O recomendável é que os gestores fiquem atentos ao ambiente todo o tempo e não se descuidem dos movimen- tos do mercado um só minuto. Definidos tanto o posicionamento como o público-alvo, o passo seguinte no planejamento de marketing é o de estabelecer as estratégias de marketing propriamente ditas. Qualquer organização poderia criar uma longa lista dos recursos que tem à sua disposição. No entanto, nem todos esses recursos serão igualmente úteis na elaboração de uma estratégia de marketing. Da mesma forma, se for honesta, qualquer organização poderia relacionar muitas fraquezas, mas nem todas são fatais. Ao definir a estratégia central, as organizações tentam estabe- lecer os recursos diferenciadores (ativos e capacidades) que servem para defi- nir a própria organização. Isso ajuda a estabelecer quais opções estão abertas à empresa e identificar onde suas forças podem ser utilizadas plenamente, ao mesmo tempo que se minimiza a vulnerabilidade causada pelas suas fraquezas. As competências essenciais ou habilidades centrais podem resultar de qualquer aspecto da operação da empresa. Entende-se por habilidade as predis- posições herdadas pelos seres humanos para determinadas funções. Exemplo: um vendedor deverá ter a habilidade de comunicação para descrever e argu- mentar sobre um produto; os trabalhadores de uma fábrica precisam ter habi- lidade em montar o produto eficaz ou eficientemente. Já as competências envolvem o aprimoramento contínuo das habilidades com conhecimentos, atitudes e valores, como a capacidade do gestor do Departamento de Pesquisa e Desenvolvimento, por exemplo, de gerar novas ideias de produtos ou criar novos produtos com base em pesquisas com os consumidores. No entanto, o que mais importa, sob a perspectiva da estratégia de marketing, é se esses – 15 – Estratégia das marcas no lançamento de novos produtos pontos podem ser utilizados no mercado para fornecer um valor superior do produto/serviço ao consumidor. As competências distintivas da empresa podem estar em seus ativos de marketing, como imagem e presença de mercado, assim como em sua rede de distribuição ou no serviço de pós-venda. Ao identificar a competência distin- tiva, é crucial que ela seja algo a ser explorado no mercado. Ter habilidades tecnológicas especiais para a fabricação de um produto tem pouco valor se não houver uma demanda por esse produto. Assim, um papel importante do gerente de marketing é o de avaliar as competências distintivas em potencial da organização à luz da possibilidade de sua exploração mercadológica. O contraponto das competências distintivas, ou forças exploráveis, são as fraquezas em relação à concorrência. Por exemplo, quando os concorren- tes têm um suprimento de matérias-primas mais favorável ou protegido, ou clientes mais fiéis, a empresa precisa estar plenamente ciente de suas limitações e gerar estratégias para superá-las ou evitá-las. Fraquezas estruturais, aquelas que são inerentes às operações da empresa, provocadas por seu próprio modo de fazer negócios, podem ser difíceis ou até impossíveis de eliminar. Assim, as estratégias devem ser desenvolvidas para afastar a presença desses fatores e torná-los menos importantes ao sucesso competitivo. Outras fraquezas, uma vez identificadas, podem ser mais fáceis de serem evitadas, ou mesmo altera- das para forças, quando exploradas de maneira diferente. Kotler (2003) afirma que a decisão de compra dos consumidores sofre influências sociais, como da cultura, subcultura, classe social, de grupos de referência e família. Da mesma forma, sofre influências do composto de marketing, assim como está à mercê das influências situacionais, tais como: ambiente físico (onde estão localizados os produtos ou serviços; por exemplo, em um restaurante, a arquitetura e a decoração fazem a diferença); ambiente social (as mídias sociais, como o Facebook, propiciam a intera- ção entre as pessoas e a organização por meio da publicação dos produtos dos patrocinadores); tempo (no caso do McDonald’s e de outras redes de fast food, o cliente busca rapidez e qualidade, tornando o fator tempo um diferencial); e tarefa e condições momentâneas (é o caso de uma instituição financeira, em que a tarefa de um gerente em resolver um problema do cliente gera uma satisfação). Gestão de Portfólio e Marcas – 16 – Sob essa perspectiva, fica evidente que as decisões sobre os elementos do composto, como apreçamento ou campanhas publicitárias, não podem ser consideradas de modo isolado à estratégia perseguida. Por exemplo, um posicionamento premium, que diferencia as ofertas da empresa daquelas de sua concorrência em termos de alta qualidade do produto, poderia ser des- truído pela cobrança de um preçomuito baixo. Da mesma maneira, para esse posicionamento ser alcançado, o produto em si tem de entregar a qualidade prometida e a promoção usada para comunicar sua qualidade. Além disso, os canais de distribuição selecionados, bem como os sistemas de distribuição física usados ou criados, precisam assegurar que os produtos ou serviços che- guem adequadamente até os clientes-alvo. O modo como o esforço de marketing e o departamento de marketing são organizados terá um efeito sobre a forma como a estratégia pode ser rea- lizada. Fundamentalmente, é essencial que a força de trabalho, bem como os recursos financeiros, estejam disponíveis. No entanto, dados os recursos, sua organização também pode afetar a capacidade de implementar a estratégia de maneira eficaz. 1.2 Ciclo de vida dos produtos com enfoque nas marcas Na formulação de estratégias para o lançamento de produtos, os gestores trabalham para a elaboração do conjunto dessas estratégias (corporativas, de negócios e funcionais) que possibilitará à organização cumprir sua missão e atingir a liderança no mercado. Embora qualquer organização possa listar vários recursos de que dispõe, o importante é identificar aqueles que irão ajudá-la a criar uma vantagem competitiva e, idealmente, uma vantagem que pode ser sustentada no futuro previsível (Vantagem Competitiva Sustentável, ou VCS). O papel da estratégia na geração de valor para os clientes é claro, mas será que é fácil se proteger contra a imitação do concorrente (e, consequen- temente, contra a erosão da vantagem)? Alguns recursos, como capital, plan- tas e equipamentos, são mais fáceis para os concorrentes copiarem do que a reputação da empresa e da marca e a posição competitiva criada e reforçada ao – 17 – Estratégia das marcas no lançamento de novos produtos longo do tempo. Muitos recursos de marketing são intangíveis por natureza e, portanto, mais difíceis para os concorrentes compreenderem e reproduzirem. Uma empresa que tem um relacionamento estreito com clientes-chave pode ser mais difícil de ser copiada por um concorrente do que outra que ofereça produtos com redução de preços. O funcionamento da primeira exi- girá habilidades superiores de aproximação com o cliente, como a gestão de relacionamento (habilidades tácitas), e as habilidades técnicas para atender às necessidades do cliente. No caso da segunda, isso pode ser baseado em um sistema eficaz de controle de custos, o que pode ser instalado com relativa facilidade por um concorrente. É perceptível o fato de que todos os ativos de marketing do mundo são de pouco valor se não forem ativamente explorados no mercado. Os proces- sos e as práticas que implementam os ativos de marketing são chamados de capacidades de marketing. As capacidades de marketing são efetivamente as capacidades de imple- mentação – a habilidade de aplicar as atividades do composto de marketing, como promoções, vendas pessoais, relações públicas, acordos de preços e ofer- tas especiais para os clientes. As capacidades de escolha do mercado-alvo e de posicionamento incluem a habilidade de identificar oportunidades alternativas e, em seguida, selecionar alvos de mercado adequados, em que os recursos e as capacidades da empresa estejam alinhados para um melhor resultado. Entretanto, o posi- cionamento não é apenas uma decisão de marketing. Para alinhar os recursos e as capacidades de acordo com as mudanças do mercado, as competências de todos os aspectos do negócio (incluindo operações, financiamento e pesquisa e desenvolvimento) e do marketing devem ser levadas em consideração. Assim como os mercados mudam, diante da economia, de gostos e perfis de compradores, o posicionamento adotado também pode precisar de uma mudança. Em telecomunicações, por exemplo, as empresas antigamente esta- vam habituadas somente com os serviços telefônicos, já na atualidade agrega- ram serviços diferenciados, como internet e televisão por assinatura. Em uma organização funcional, o Departamento de Marketing con- siste de especialistas nas várias atividades de marketing que reportam a um Gestão de Portfólio e Marcas – 18 – coordenador de marketing (gerente ou diretor). Entre as funções habituais estão a gestão de vendas, gestão de propaganda e promoção, pesquisa de marketing e desenvolvimento de novos produtos. Uma extensão da organi- zação funcional é a organização geográfica, em que, no âmbito das funções (como gestão de vendas), os gestores têm responsabilidade por mercados geográficos específicos. Os desenhos funcionais servem para descrever as ati- vidades, tornando visíveis as atribuições. Por exemplo, o vendedor interno trabalha com telemarketing e mídias sociais, já o externo com a abordagem presencial. Dessa forma, os desenhos funcionais simplificam o detalhamento das funções e da estrutura e promovem um alto nível de especialização em cada função. Muitas vezes, eles são o primeiro passo para uma empresa adotar um perfil mais avançado para o marketing como um todo. Tais desenhos são mais aplicáveis quando o número e a complexidade dos produtos ou serviços que a empresa tem no mercado são limitados. É possível constatar que, se as ferramentas do composto de marketing não forem coerentes ou se contradizerem, o posicionamento gerado será con- fuso para os clientes, não estando de acordo com os fundamentos para a satisfação deles. Recentes e drásticas mudanças no ambiente de marketing, em virtude da política econômica e das recessões, fizeram com que muitas empresas repen- sassem o papel do gerente de produto, que deve tomar decisões com base nas pesquisas de marketing, com as quais o público-alvo contribui para a asserti- vidade das decisões. Os consumidores na atualidade encontram várias marcas no mercado, que não param de crescer, e assim passam a se mostrar mais suscetíveis a descontos e promoções. Diante disso, as empresas estão deixando a propaganda nacio- nal e migrando para as táticas de preços e promoções específicas no ponto de venda. Os gerentes de marcas têm se focado, tradicionalmente, em estratégias de longo prazo, de construção de marcas para uma audiência de massa, mas a realidade do mercado atual demanda estratégias de curto prazo, de construção de vendas, desenvolvidas para mercados locais. Nesse sentido, a característica da localização é importante, em virtude dos gostos e costumes de cada região. Por exemplo, o Carnaval – e as ações de marketing respectivas – tem uma forte representação em alguns estados brasileiros – como Rio de Janeiro e Bahia –, – 19 – Estratégia das marcas no lançamento de novos produtos enquanto em outros estados, como o Paraná e o Rio Grande do Sul, a represen- tação é bem menor. Analisando os mercados locais, é preciso compreender que eles fazem parte de mercados organizacionais, devido ao fornecimento de produtos e ser- viços para a região. Dessa forma, nem sempre um produto com vendas em uma região será facilmente vendido em outra. Os mercados organizacionais com- preendem as organizações comerciais, industriais, de serviços, agrícolas, gover- namentais e as instituições sem fins lucrativos que compram produtos e servi- ços para produzir certos bens e serviços ou para suas operações normais. Essas organizações tomam decisões de compra buscando satisfazer suas necessidades. A compra industrial ou organizacional é um processo complexo, e não um ato de impulso. As fases de compra valem, sobretudo, para uma situa- ção de compra nova ou compra pela primeira vez. No entanto, as mesmas fases podem ser aplicadas parcialmente para as classes de compra denomina- das recompra pura e simples e recompra nova. Por exemplo, a compra de uma máquina para produção de cervejas artesanais para o Carnaval da Bahia é uma compra industrial; se houver um aumento de demanda, a máquina poderá ser adaptada ou será compradaoutra, com maior potencial produtivo. Uma empresa também precisa estudar com cuidado seus concorrentes, tanto os diretos como os latentes. No estudo dos concorrentes, o benchmarking, sendo a aplicação das melhores práticas, é o fator de competitividade das organizações. O concorrente não deve ser analisado como ponto negativo, pois ele é o termômetro para indicar onde as empresas precisam de melhorias. Por outro lado, um erro do concorrente pode desencadear uma prática vanta- josa, devido ao aprimoramento das técnicas que não deram certo. Concorrentes diretos são os que procuram satisfazer os mesmos clientes e as necessidades com ofertas similares. Os latentes são os que podem ofe- recer novas maneiras de satisfazer as mesmas necessidades. A empresa, para identificar seus concorrentes, pode usar uma análise do setor industrial e uma análise de mercado, elaborando um quadro em que se delineia o campo de disputa. Em um dos eixos do quadro aparece o produto segmentado por alguma característica importante (modelo, tamanho, tecnologia etc.) e em outro eixo aparece o mercado também segmentado por qualquer caracterís- tica relevante (aplicação, tamanho do usuário, região geográfica etc.). Diante Gestão de Portfólio e Marcas – 20 – da análise dos concorrentes e das formas de satisfação das necessidades, é preciso identificar o processo de análise. O processo de análise competitiva passa, em seguida, a avaliar as forças e fraquezas dos concorrentes. Na primeira etapa, a empresa vai tentar reunir dados sobre vendas, participação de mercado, retorno sobre o investimento, fluxo de caixa, novos investimentos e utilização da capacidade de produção. Se possível, são efetuadas projeções dos dados e previsões da continuidade do bom desempenho dos indicadores. Já com relação às fraquezas, procura-se identificar quais pressupostos os concorrentes fazem sobre seus negócios e o mercado e que há muito tempo já não são mais válidos. Avaliam-se também a extensão das fraquezas e a possibilidade e capacidade de o concorrente rever- ter a situação desfavorável. Além da análise do ambiente externo de marketing e do ambiente competitivo, é preciso elaborar a análise interna, que tem a finalidade de ressaltar as deficiências e as qualidades da empresa do ponto de vista de marketing. Com base em Kotler (2003), nesse caso, são levantados os pon- tos fortes e fracos de aspectos diversos de marketing, como: 2 Administração de marketing – estratégias, planos e programas; estrutura organizacional; desempenho dos executivos; implantação e controle de programas de marketing; 2 Funções de marketing – necessidades satisfeitas dos consumido- res e dos segmentos de mercado; reações dos clientes às ofertas da empresa; avaliação dos produtos e serviços de distribuição, da pro- moção e propaganda, da equipe de vendas, da imagem e reputação diante dos mercados, das políticas de preço. Uma empresa pode optar por vender um produto ou serviço único para todo o mercado ou oferecer um conjunto de produtos ou serviços em que cada um deles é adaptado às características de grupos de clientes. A primeira estra- tégia parece ser apropriada quando o mercado apresenta poucas diferenças em termos de necessidades dos clientes. Além disso, quando for operacionalmente difícil desenvolver produtos distintos ou programas de marketing diferencia- dos, há grandes oportunidades para a estratégia do primeiro tipo, também cha- mada de marketing não diferenciado. Por exemplo, no McDonald’s, o cliente já espera um produto padrão fornecido em todas as regiões do mundo. – 21 – Estratégia das marcas no lançamento de novos produtos 1.3 Estratégia de rentabilidade das marcas No mercado, surgem e desaparecem concorrentes a todo o momento, o que exige dos administradores constante adaptação das táticas de marketing. A tarefa de um administrador de marketing não é fácil, visto que ele deve pro- curar constantemente atender às exigências de seus clientes. Assim, ele busca estudá-los sempre, entender seus hábitos de consumo, além de visar à forma- ção de um banco de dados. No entanto, ao mesmo tempo em que se preo- cupa com seus clientes – tanto na obtenção de novos como na manutenção dos atuais –, o administrador de marketing deve considerar o movimento das variáveis incontroláveis, como economia, política, tecnologia, entre outras. São diversos os efeitos de tais variáveis e o impacto delas pode ser facilmente percebido nos resultados dos negócios. Durante uma crise econômica, em datas comemorativas como o Natal, as pessoas procuram por produtos mais acessíveis ou por parcelamento das compras; assim, as organizações devem ficar atentas a essas práticas e adequar os produtos e serviços nessas situações. Outro ponto de atenção é que a indústria como um todo deve ser ana- lisada em busca de concorrentes indiretos que possam ter os recursos ou a necessidade de superar as barreiras de entrada para o grupo estratégico da empresa encarregada da análise. Embora as barreiras à entrada possam ser ele- vadas, o grupo estratégico dessa organização pode atrair novos participantes caso apresente lucros elevados ou grande potencial de crescimento. Muitas empresas, quando buscam consolidar suas marcas diante dos clien- tes, acabam gerando uma certa “miopia do marketing”, pensando que os seus produtos sempre venderão e que não é necessário fazer inovações constantes. Durante muito tempo, os fabricantes europeus de automóveis de luxo sofreram com essa “miopia” ao se concentrar uns nos outros, em vez de ficarem de olho em fabricantes japoneses em massa existentes no mercado norte-ameri- cano. Os japoneses tinham construído continuamente uma reputação em ter- mos de qualidade e de tecnologias exploradas, juntamente com seus enormes recursos, para competir contra os europeus no próprio mercado europeu. A análise dos concorrentes, portanto, envolve a avaliação de uma série de círculos concêntricos de adversários. Esses círculos identificam a competitivi- dade diante do mercado, a satisfação dos clientes e quais são as fraquezas da Gestão de Portfólio e Marcas – 22 – organização: no centro estão os concorrentes diretos dentro do grupo estraté- gico; depois vêm as empresas do setor que são levadas a superar as barreiras à entrada no grupo estratégico; e mais afastados estão os entrantes e substitutos em potencial. Lehmann e Winer (1991) sugerem quatro estágios principais na análise da concorrência: 1. Avaliar os objetivos atuais e futuros da concorrência. Entender o que o concorrente está se propondo a atingir pode dar pistas quanto ao rumo a ser seguido e à agressividade com que ele prosse- guirá nessa direção. 2. Avaliar as estratégias atuais da concorrência. Compreendendo as estratégias usadas pelos concorrentes na busca de suas metas e obje- tivos, a empresa pode identificar oportunidades e ameaças decor- rentes de ações da concorrência. 3. Avaliar os recursos da concorrência. O ativo e o perfil da capaci- dade dos concorrentes demonstram o que eles são capazes de fazer atualmente. Esses recursos podem não estar sendo totalmente apli- cados no momento, mas podem dar novas pistas sobre como o concorrente agirá no futuro ou como ele reagirá às ameaças. 4. Prever estratégias futuras da concorrência. Por meio da combinação das análises anteriores, a empresa pode começar a responder talvez à questão mais fundamental na análise da concorrência: o que a empresa provavelmente fará no futuro? Mas, se a intenção é a coexistência rentável, muitas vezes é melhor com- petir em áreas que são consideradas de interesse secundário para as grandes empresas, em vez de competir diretamente. Essa foi a oportunidade criada quando tanto a General Motors quanto a Ford declararam que o mercado de carros pequenos nos Estados Unidos e na Europa era não rentável e, portanto,de pouco interesse para elas. O interessante é que ambas estão agora perse- guindo esse mercado de maneira ativa, visto que seu potencial se revelou por completo. Isso porque pressões no ambiente competitivo devido à poluição automobilística e ao congestionamento nas ruas estão levando os governos a – 23 – Estratégia das marcas no lançamento de novos produtos implantar medidas para incentivar a comercialização de pequenos carros com motores mais eficientes. A resposta inicial da Ford na Europa foi o lançamento do Ka, um carro pequeno, com baixo consumo de combustível, bom para rodar em trechos menores e como opção para ser o segundo carro da família. Isso mostra que os objetivos mudam conforme as circunstâncias do ambiente competitivo se alteram, e que mudanças na direção estratégica dos concorrentes precisam ser constantemente monitoradas. As metas de uma empresa também podem indicar o tipo de escolhas que ela provavelmente tomará quando enfrentar uma adversidade. Por exemplo, a obsessão de muitas filiais norte-americanas no exterior pela necessidade de relatar um aumento gradual e constante de lucros significa que elas estão, muitas vezes, dispostas a renunciar a uma parte do mercado para atingir suas metas de lucro a curto prazo. As metas podem indicar ainda os pontos que a empresa tem a intenção de desenvolver e em que mercados as principais iniciativas podem ser esperadas, seja dentro da indústria ou internacionalmente. As áreas de expansão podem indicar mercados que virão a se tornar particularmente competitivos, mas que podem, ao mesmo tempo, representar empresas não tão comprometidas. Implicações em todo o portfólio de projetos da empresa também são derivadas das metas. O portfólio consiste na gestão de recursos disponíveis de um projeto para aumentar a lucratividade da organização. Os projetos devem ter uma conexão com a visão dos diretores e é preciso haver uma gestão asser- tiva, com indicadores para o alcance de metas e objetivos traçados. Quando se está competindo com uma empresa diversificada, as metas ambiciosas dela em um setor podem indicar que o compromisso com outro setor está dimi- nuindo. Da mesma forma, muitas empresas grandes e diversificadas podem, muitas vezes, não ser capazes de tirar proveito de suas enormes vantagens financeiras, em virtude de sua falta de vontade para fazer mudanças estra- tégicas em seus recursos. Também pode ocorrer que empresas voltadas para finanças possam não estar dispostas a assumir os riscos de novos empreendi- mentos, preferindo reutilizar os “restos” daqueles que não foram bem-sucedi- dos a assumir o risco de um novo início. Gestão de Portfólio e Marcas – 24 – As metas e os objetivos dos concorrentes podem ser inferidos por meio da observação das estratégias que eles estão buscando, além das declarações que fazem em relatórios da empresa, comunicados para a mídia etc. Por exemplo, as decisões de construir novas fábricas são um sinal claro da meta de crescer no mercado. O recrutamento de pessoal com habilidades especiais (identificado pela observação dos anúncios de emprego) pode indicar novas direções em que o concorrente deseja seguir. Estruturas de recompensa para os funcionários também podem indicar os objetivos organizacionais. Quando o pessoal de vendas, por exemplo, é recompensado em uma porcentagem de comissão de vendas, a prática sugere que o volume de vendas (em vez de rentabilidade) é um objetivo-chave (LEHMANN; WINER, 1991). Outro indicador de metas para o futuro pode ser a estrutura de pro- priedade do concorrente. Concorrentes que pertençam aos funcionários e/ ou aos gestores podem priorizar a continuidade dos empregos em compa- ração à empresa constituída de acionistas convencionais. Da mesma forma, concorrentes administrados pelo setor público podem estabelecer priorida- des mais voltadas para metas sociais do que para rentabilidade. Concorrentes que sejam parte de um conglomerado diversificado podem ser administrados tendo em vista a geração de caixa em curto prazo, em detrimento de objetivos de longo prazo em relação ao posicionamento de mercado. Existem duas rotas principais: uma vinculada ao preço e outra à satis- fação de clientes exclusivos, por exemplo, com produtos de luxo, para criar vantagem competitiva. A primeira se dá por meio de baixos custos em relação aos concorrentes. A segunda, por meio da prestação de serviços e do forne- cimento de produtos valorizados e exclusivos pelos quais clientes específicos estarão dispostos a pagar. Oferecer algo diferente, mas de valor para os clientes, é um caminho para a criação de vantagem competitiva que todos no mercado podem adotar. O aspecto criativo dessa estratégia é identificar as características diferenciadas que a empresa tem ou pode construir como uma vantagem defensável. Sinais de diferenciação serão tão variados como os meios de diferenciação: maior ênfase no serviço ao cliente, atributos adicionais para o – 25 – Estratégia das marcas no lançamento de novos produtos produto, acordos especiais para volume ou compra continuada e programas de fidelização são formas de se diferenciar. Todas as ideias são altamente visíveis para os concorrentes e mostram o motivo por que um determinado fornecedor escolheu competir. Por outro lado, sinais de que os concorrentes estão adotando um enfo- que de baixo custo incluem sua atenção para despesas administrativas no balanço, o vigor com que perseguem insumos de baixo custo e o controle financeiro rígido que exercem sobre todas as funções e atividades. Por exem- plo, é possível identificar que a China se tornou muito competitiva devido a uma política de preços baixos. A definição dos preços é notoriamente difícil. Ao estabelecer preços dema- siado elevados, as vendas tendem a ser baixas; ao estabelecer preços muito bai- xos, os retornos para a empresa podem não fornecer uma margem suficiente para sobreviver ou investir no futuro. Essa definição envolve muitas conside- rações, incluindo os custos de produção dos produtos físicos ou da entrega de serviços, os preços praticados pelos concorrentes, a elasticidade da demanda e a posição no mercado que se quer atingir. Gerenciar mudanças de preços tam- bém é uma capacidade que requer a avaliação do momento certo e uma comu- nicação eficaz. Decisões sobre propostas, amplamente utilizadas, por exemplo, na indústria da construção, envolvem certo grau de estimativa em relação a quem mais fará propostas e qual preço essa concorrência adotará. A habilidade de definir preços requer competências não só em marketing, mas também em finanças e em gestão de operações. É possível constatar que muitas empresas investem mais na marca e terceirizam as operações, como é o caso da Nike. Dependendo do país, como ocorre no Brasil, a carga tributária é desfavorável, assim a estratégia pode ser trabalhar com a marca e terceirizar a produção. Esses fatores estão vinculados à estratégia de preços. Conclusão As estratégias e os produtos/serviços estão presentes em muitos momentos da história da humanidade. Todas as pessoas, por mais que não conheçam as metodologias estratégicas, de algum modo já usaram de modo inconsciente as Gestão de Portfólio e Marcas – 26 – ferramentas e os propósitos da estratégia e adquiriram e utilizaram um produto/ serviço. Com a evolução das necessidades humanas, os produtos e serviços assu- miram um papel importante e estão presentes no cotidiano das sociedades. O aprimoramento das técnicas de competitividade alicerçou as metodolo- gias do marketing, para que as organizações negociem os seus produtos e con- solidem suas marcas, com o propósito de garantir a lucratividade. Não é uma tarefa fácil ter uma marca de sucesso, porém é possível aprender e compartilhar estratégias eficazes, para que as organizações possam ter mais chances de acertono mercado, pois, no ambiente de extrema complexidade em que vivemos, as probabilidades de insucesso são grandes. Ampliando seus conhecimentos As estratégias sempre impactam as organizações em virtude dos riscos e possíveis insucessos que advêm da falta de fer- ramentas eficientes. É fato que as empresas que analisam o ambiente externo, de acordo com o perfil e as necessidades dos seus clientes, conseguem uma assertividade notória na implementação e consolidação das ferramentas de marketing. O texto a seguir explica como algumas organizações elaboram estratégias para se tornarem mais competitivas por meio da diversificação e de que modo essa estratégia pode auxiliar no crescimento da empresa como um todo. Como fazer funcionar a diversidade relacionada (JONES; GEORGE, 2012, p. 193) Diversificação relacionada é a estratégia de entrar em um novo negócio ou setor para criar vantagem competitiva em uma ou mais das divisões ou negócios já existentes de uma organi- zação. A diversificação relacionada pode agregar valor aos – 27 – Estratégia das marcas no lançamento de novos produtos produtos de uma organização se os administradores consegui- rem fazer com que as várias divisões ou unidades de negócios da empresa compartilhem seus valiosos recursos ou habilida- des de modo a criar sinergia. Obtém-se sinergia quando o valor criado por duas divisões em cooperação for maior que o valor que seria caso as duas divisões operassem separada e independentemente. Suponhamos, por exemplo, que duas ou mais divisões de uma empresa diversificada possam utilizar as mesmas instalações industriais, os mesmos canais de distribui- ção e campanhas publicitárias – isto é, compartilhar atividades funcionais. Cada divisão terá que investir menos recursos em uma atividade funcional compartilhada do que teria que inves- tir caso ela realizasse a mesma atividade funcional por si só. A diversificação relacionada pode ser uma fonte importante de economia dos custos quando as divisões compartilham os custos de execução de uma atividade funcional. Da mesma forma, se as habilidades em Pesquisa e Desenvolvimento de uma divisão puderem ser usadas para melhorar os produtos de uma outra divisão e aumentar sua atração diferenciada, essa sinergia poderá dar à segunda divisão uma importante vanta- gem competitiva em relação a seus rivais do setor – portanto, a empresa como um todo se beneficiaria da diversificação. [...] Atividades 1. A busca pela cooperação envolvendo empresas concorrentes tende a ser favorável na medida em que evita as crises provocadas pela com- petição por baixo custo ou as guerras de preços que implicam em um impacto negativo para toda a indústria. Descreva a visão positiva da cooperação com concorrentes para a lucratividade. Gestão de Portfólio e Marcas – 28 – 2. O posicionamento começa com o produto, mas não é o que a orga- nização faz com o produto, e sim o que ela faz na mente do cliente. Explique como é possível posicionar a marca na mente do cliente. 3. Além da análise do ambiente externo de marketing e do ambiente competitivo, é preciso elaborar a análise interna, que tem a finalidade de ressaltar as deficiências e as qualidades da empresa do ponto de vis- ta de marketing. Descreva a análise interna de acordo com as funções de marketing. 4. No mercado, não são raras as situações em que o preço é injustamente apontado como a principal causa da queda nas vendas. Na empre- sa, os primeiros a se manifestar são os vendedores. Nas convenções de vendas, os profissionais sugerem que a principal medida a tomar objetivando a conquista de mercado é a redução dos preços. Esse po- sicionamento é sempre a melhor opção? Explique. Gestão de portfólio com enfoque em marcas e produtos A razão da existência de uma organização consiste em manter clientes satisfeitos e ter resultados satisfatórios. Dessa forma, possuir vários produtos com diversificações é uma oportunidade que deve ser avaliada e implementada com muito cuidado. Nesse contexto, a gestão de portfólio analisa a necessidade de diversificação de produtos para que a empresa possa ter opções de preços e operar em mercados desconhecidos ou ainda não explorados por ela. No ambiente externo, principalmente no que diz respeito a produtos de grande escala, os preços são acessíveis e leva-se em conta o fator custo-benefício, ou seja, se os valores atribuídos correspondem às características desejadas. Isso ocorre devido às necessidades do mer- cado em transacionar produtos e serviços inovadores – nesse sentido, a inovação deve corresponder às expectativas. Por isso, uma pesquisa de campo e uma degustação de produtos, por exemplo, podem auxi- liar na aceitação da inovação, entendida pelo cliente como uma nova experiência. Entretanto, embora a inovação seja primordial, o cliente deve constatar a transformação e o diferencial dos produtos ou servi- ços e estar disposto a pagar por eles. 2 Osnei Francisco Alves Gestão de Portfólio e Marcas – 30 – 2.1 Gestão de portfólio Segundo Patterson e Fenoglio (1999), os desejos e as necessidades dos clientes estão em constante mudanças. Além disso, as condições do mercado, em virtude das variáveis econômicas, culturais e financeiras, incidem sobre o portfólio de produtos, o qual deve se adaptar aos novos cenários o mais rapidamente possível, de modo que a empresa possa se manter competitiva. Uma linha de produtos consiste em dois ou mais itens que têm por objetivo atender a uma mesma necessidade principal e que proporcionam benefícios semelhantes aos consumidores. Mattar et al. (2014) afirmam que uma empresa pode aumentar o aproveitamento de seus recursos ao utilizar a estratégia de ter diversas linhas de produtos. Tal conjunto será denominado mix ou composto de produto da empresa. Cada um desses produtos será consi- derado um item de produto; dessa forma, uma linha de produtos será com- posta de itens, e o conjunto dessas linhas é o que irá formar o composto – o portfólio de produtos da empresa (Figura 1). Portanto, o portfólio de produtos pode ser definido como a diversifica- ção de projetos de desenvolvimento que a empresa estabelece, isto é, o con- junto de produtos que a organização elabora ou os que ela já comercializa. Ou seja, o portfólio de produtos de uma empresa são seus produtos atuais e projetos de produtos futuros (ROZENFELD et al., 2006). Os portfólios são desenvolvidos para proporcionar uma maior com- petitividade às organizações, pois as empresas necessitam buscar inovações constantes para a sustentabilidade econômica e conquista de novos mercados. Quando um produto é lançado e é realizada a pesquisa de mercado, o pró- ximo passo é desenvolver o portfólio dos produtos, tendo como base o pla- nejamento de todas as etapas e de todos os processos. Afinal, não adianta ter uma excelente ideia de um produto inovador se não houver o planejamento das atividades e dos padrões que serão estabelecidos. O portfólio deve ser planejado em termos de sua amplitude e profun- didade. A amplitude diz respeito a quantas linhas de produtos a empresa tem; já a profundidade depende do número de itens de produtos que cada linha possui. Empresas com portfólio de produtos muito amplo e pouco pro- fundo, como de produtos de higiene pessoal (sabonete, pasta de dentes, entre – 31 – Gestão de portfólio com enfoque em marcas e produtos outros), apostam na diversificação da produção, lançando muitas mercado- rias diferentes. O inverso também é possível: existem organizações que pre- ferem compostos de produtos mais profundos e menos amplos. É o caso de empresas que escolhem especializar a produção e concentrar seus esforços em poucas linhas de produtos, como aquelas que produzem somente smartphones e se dedicam à especialização dos equipamentos. Figura 1 – Exemplo de portfóliode produtos da Danone. Lacticínios Água Alimentos para bebês Suplementos alimentares Fonte: Divulgação. Gestão de Portfólio e Marcas – 32 – Ao montar seu portfólio, a organização deve levar em conta fatores como a necessidade de agregar valor ao produto, desenvolver formas de satisfação ao cliente e de competitividade, além de ter conhecimento da escala e dos custos envolvidos na operação – os custos são de extrema importância, pois qualidade com preço baixo aumenta as chances de venda. É preciso conside- rar, ainda, que as estratégias de expansão de produtos precisam ser planejadas com relação ao “canibalismo”, isto é, à transferência de resultados entre pro- dutos de uma mesma empresa. Consideremos, por exemplo, o composto de produtos da empresa Coca-Cola: cada marca de refrigerante é uma linha de produtos diferente. A quantidade de marcas da companhia determina a amplitude de seu mix (Figura 2), já o número de itens de produtos de cada linha indica a sua pro- fundidade (Figura 3). Figura 2 – Mix de produtos da Coca-Cola no Brasil. Fonte: Coca-Cola Company/Divulgação. Figura 3 – Itens de produtos da linha Coca-Cola no Brasil. Coca-Cola Coca-Cola zero açúcar Coca-Cola com Stevia e 50% menos açúcares Fonte: Coca-Cola Company/Divulgação. – 33 – Gestão de portfólio com enfoque em marcas e produtos É importante ressaltar que na gestão de portfólio alguns fatores deverão ser considerados para a tomada de decisões relacionadas a qualidade, carac- terísticas, design, embalagem e rótulo e marca dos produtos. A seguir, iremos analisar cada um desses itens detalhadamente: 2 Qualidade: constitui uma das decisões determinantes do sucesso de um produto. No âmbito do marketing, a qualidade técnica – capacidade de um produto de proporcionar os benefícios prometi- dos – é um componente indispensável, com base no qual se discute a qualidade percebida. Para efeitos de marketing, a qualidade de um produto pode possuir diferentes níveis – premium, alta, média e baixa, por exemplo. O nível de qualidade escolhido deve ser com- patível com os demais elementos do produto e do composto de marketing, levando em conta também o posicionamento almejado pela empresa. Quando o objetivo do posicionamento é convencer o público-alvo de que se trata de um produto sofisticado, é neces- sário manter um nível de qualidade premium, adequado à sensação de status que se pretende transmitir. Caso contrário, a proposta da empresa torna-se frágil e deixa brechas que podem ser exploradas pela concorrência. Além disso, é importante ressaltar que qualidade é um conceito relativo, e não absoluto; podemos aqui traduzi-lo como a capacidade de satisfazer necessidades. Em outras palavras, um produto terá ou não qualidade dependendo da necessidade que se propõe a satisfazer. Portanto, uma mercadoria de boa qualidade não precisa apresentar acabamentos e materiais resistentes ou sofis- ticados: basta incluir características adequadas à necessidade de seu público-alvo. Consideremos, por exemplo, a comparação entre duas mercadorias: uma camiseta de grife, vendida por um preço alto e confeccionada com os melhores materiais, e uma camiseta básica, barata e de material menos nobre. Se o objetivo é vestir a camiseta para ir a uma festa, a primeira terá mais qualidade; por outro lado, se a finalidade é obter uma roupa para usar enquanto lava o carro, a segunda terá mais qualidade. 2 Características: abrangem os atributos físicos de um produto, bem como os processos e as etapas da realização de um serviço. As carac- terísticas são elementos fundamentais dos produtos, incluindo, Gestão de Portfólio e Marcas – 34 – também, questões relacionadas à sua funcionalidade. Um telefone celular, por exemplo, pode possuir ou não câmera de alta quali- dade ou acesso à internet de alta velocidade. Essas características são aspectos do produto que o consumidor consegue avaliar obje- tivamente no momento da compra. Como a incorporação de cada característica gera custos, cabe à empresa identificar aquelas que são, de fato, de interesse dos clientes. 2 Design: corresponde não apenas ao desenho ou estilo de um pro- duto, mas também à sua eficácia, que significa o resultado espe- rado. Por exemplo, em um celular, a embalagem e os acessórios possibilitam uma identidade visual que contribui para a venda, o preço e a funcionalidade, pois, quanto mais simples for a interação do usuário com o software, melhor será o acesso. Por ter uma inter- face artística, o design pode constituir um importante elemento de diferenciação. Além disso, ele contribui para a eficiência e a eficácia da logística, na medida em que melhorias no desenho do produto podem permitir que mais unidades sejam transportadas com um número menor de perdas, reduzindo custos. 2 Embalagem e rótulo: dizem respeito ao invólucro que envolve um produto e às informações nele disponibilizadas. Podem incluir eti- quetas e impressos acrescentados ao próprio invólucro. A embalagem e o rótulo de muitos produtos constituem elementos diferenciadores, pois contribuem com o esforço de comunicação de modo a atrair a atenção do consumidor. Ou seja, eles não servem somente para proteger a mercadoria, mas também para expor imagens vistosas e informações sedutoras que cumprem um papel fundamental no pro- cesso de marketing, influenciando as expectativas do consumidor em relação ao produto. Além disso, estudos têm apontado que grande parte das escolhas de produtos ocorre no momento da compra – o que reforça a importância da embalagem e do rótulo. 2 Marca: diz respeito ao termo, nome, signo, símbolo que permite a identificação de um produto específico. Um bom nome de marca deve levar em consideração o seguinte critério: ser fácil de pronun- ciar e de soletrar. O sabão em pó Omo, por exemplo, tem um – 35 – Gestão de portfólio com enfoque em marcas e produtos nome curto e simples, o que facilita sua memorização e divulgação. O nome da marca também pode estar relacionado à aplicação prá- tica do produto. É o caso da marca Bombril, cujo nome foi for- mado pela combinação das palavras bom e brilho. A escolha do nome foi tão bem-sucedida que a marca se transformou em sinô- nimo de lã de aço. Outras marcas sugerem uma imagem que a organização deseja vincular ao produto. O modelo EcoSport, lan- çado pela montadora de veículos Ford, por exemplo, está ligado à ideia de aventura e natureza. Também há marcas que enfatizam a diferenciação em relação à concorrência, como a Pepsi. Por último, vale citar as marcas que se destacam por serem adaptáveis e oportu- nas, como a Puma, uma vez que ela é associada tanto à prática de esportes quanto à moda. Como a marca é utilizada pelo processo de comunicação para levar ao cliente a proposta da empresa, ela acaba incorporando uma identidade e uma série de valores que a diferenciam das demais. A gestão de portfólio torna-se mais precisa quando concentra esforços em parâmetros bem definidos e é capaz de diminuir o risco inerente à tomada de decisões, fazendo com que os consumidores se sintam mais atraídos pela oferta da empresa. A melhor medição da eficiência também é fruto do pro- cesso de segmentação de mercado, uma vez que esta auxilia os profissionais de marketing a definir com maior precisão os objetivos de marketing. Além disso, ao identificar a existência de vários segmentos e avaliar as suas características, a empresa tem mais condições de eleger aqueles que ofe- recem melhores oportunidades e menores ameaças em relação às suas forças e fraquezas. Isso se traduz em melhores chances de obter vantagem competitiva no(s) segmento(s) em que se decida operar. A segmentação é um facilitador do empreendimento da vantagem competitiva e tal vantagem possibilita à empresa identificar seus concorrentes com mais exatidão e impor maioresdificuldades a eles, reduzindo a pressão por menores preços e também a pro- babilidade de entrada de ofertas substitutas no segmento. Quanto maior a segmentação, melhores são as chances de diminuir os riscos, pois quando alguns setores da economia em recessão estiverem em baixa – como da construção civil, produtos de luxo e de consumo de extrema Gestão de Portfólio e Marcas – 36 – necessidade do segmento alimentício –, as empresas poderão alavancar as suas vendas, porém com preços mais baixos. A segmentação propicia, ainda, o aumento da lucratividade, por redu- zir a alocação de verbas de marketing, principalmente as de comunicação. Em outras palavras, a oferta, por si só, é capaz de atrair a demanda, já que a proximidade entre empresa e cliente confere a possibilidade de desenvolver compostos de marketing sob medida para as necessidades deste. A empresa também pode lançar um produto novo seguindo uma comunicação que deu certo. Uma mídia televisiva que realizou um lançamento de um produto e atingiu o resultado esperado pode contribuir para consolidar a marca de outros produtos. Outro benefício gerado pela segmentação de mercado é a possibilidade de entender mais profundamente os fatores macroambientais, como os eco- nômicos e os sociais, que interferem especificamente no segmento-alvo. Além disso, ela permite identificar oportunidades para desenvolver novas ofertas. Assim, segmentando o mercado, as empresas tornam-se capazes de responder mais rapidamente às mudanças macroambientais, em função de uma maior compreensão destas, adquirindo flexibilidade compatível ao grau de modifi- cação do mercado. Apesar de os benefícios da segmentação de mercado suplantarem por larga margem suas limitações e os entraves que ela enfrenta, é importante termos conhecimento das dificuldades envolvidas em sua implementação. A segmentação aumenta a necessidade de investimentos, pois as decisões que a precedem dizem respeito à diferenciação da oferta, e não à padroniza- ção. A necessidade de um constante monitoramento do segmento, visando a identificar sua estabilidade, também contribui para maiores custos. Além disso, a segmentação provê perfis genéricos, e não individuais. Em outras palavras, apesar de a variação dentro do segmento ser substancialmente menor que a do mercado como um todo, ela existe, pois um indivíduo nunca é igual a outro. Outro entrave à segmentação de mercado com resultados é que alguns profissionais de marketing que tomam decisões complexas no mercado, mesmo baseados em pesquisas de marketing e em informações pertinentes – 37 – Gestão de portfólio com enfoque em marcas e produtos sobre os segmentos nos quais operam, têm dificuldades para integrar tais informações aos seus planos de marketing. Às vezes, isso ocorre porque se considera a segmentação como uma ferramenta tática, e não uma atividade estratégica; outras vezes, porque não se encontra amparo na literatura de marketing que enfatize muito mais as técnicas de segmentação, e as estatísti- cas que podem ser utilizadas para tal, do que a implantação delas. De acordo com os objetivos da segmentação de mercado, os empresários procuram alcançar suas metas de lucratividade em longo prazo no terreno dos preços, não só por meio de estratégias adequadas, mas também de diretrizes em conformidade com tais objetivos. A administração emprega as diretrizes sobre preços como orientação geral para tomar decisões relativas a eles por longos períodos. Essas decisões tomadas para se adequar às dinâmicas e mutá- veis situações competitivas de produtos específicos constituem a estratégia da administração para a fixação de preços. Assim, as diretrizes a respeito de preços são genéricas e operam em longo prazo, enquanto as estratégias na fixação dos preços são específicas e abran- gem períodos mais curtos. O próprio estabelecimento do preço é um elemento-chave na formula- ção da estratégia e, à medida que se altera a situação de competição no mer- cado – com os diversos estágios do ciclo do produto –, também se modifica a relativa margem de liberdade que a administração possui para fixar os preços dos produtos. Portanto, o preço também precisa ser constantemente avaliado, de modo a ser competitivo, e, para tanto, é necessário avaliar não apenas o mercado, mas também os preços dos insumos, que variam bastante. 2.2 Procedimentos para o lançamento de novos produtos Embora o produto seja entendido como o principal elemento do com- posto de marketing, deve-se compreender que não haverá êxito se ele for trabalhado de maneira isolada, já que é parte da oferta. Não teremos sucesso se tivermos um bom produto que não seja distribuído adequadamente nos pontos de venda em que os potenciais clientes desejam comprá-lo, se ele não Gestão de Portfólio e Marcas – 38 – tiver um preço compatível com o seu posicionamento, ou, ainda, se a comu- nicação não contribuir nesse processo, estimulando o cliente. Novos produtos são fundamentais para o sucesso de longo prazo de uma empresa. Mas o processo não é fácil. A capacidade de inovação é fator de diferenciação junto aos consumidores. A importância do marketing no lançamento de novos produtos é grande. Primeiramente por saber o que os consumidores estão desejando, para que os produ- tos já nasçam com grande chance de sucesso. (NEVES; CASTRO, 2003, p. 41) Mattar et al. (2014) advertem que o fracasso de determinado produto nem sempre está associado à sua qualidade, mas ao fato de ele não ser devi- damente trabalhado com consistência e coerência. Antes de ser testado entre os clientes, o produto deve ser submetido a testes internos que certifiquem sua funcionalidade, segurança, durabilidade e confiabilidade, atestando sua fidelidade à ideia aprovada no início do processo e mantendo a coerência do programa. Porém, partindo do pressuposto de que a qualidade técnica não constitui um diferencial competitivo, privilegia-se a abordagem externa. Assim, uma vez satisfeita com o desempenho do novo produto, a empresa deve dar início à abordagem externa, a qual tem por objetivo obter a opinião de consumidores, fornecedores e intermediários – o que pode resultar em mudanças no produto. Durante essa etapa, os participantes devem ser con- sultados com relação a preço, embalagem, marca e características do produto. Existem algumas técnicas específicas que podem ser utilizadas para o bom cumprimento dessa etapa. A pesquisa de flutuação das vendas é uma delas, a qual consiste em fornecer ao consumidor uma amostra gratuita para experimentação e, após um determinado período, oferecer uma nova amostra do produto da empresa e de um produto concorrente. O objetivo é verificar quantos consumidores optam pelo produto da empresa e identificar o nível de satisfação obtido com o seu uso. A vantagem dessa pesquisa está ligada à rapidez de sua realização e ao consequente baixo custo, pois não é condição essencial que o produto já possua uma embalagem, marca ou campanha promocional em execu- ção. Por outro lado, essas vantagens podem se converter em desvanta- gens, pois esse tipo de pesquisa desconsidera o impacto da campanha promocional sobre o consumidor, a opinião dos envolvidos nos pontos – 39 – Gestão de portfólio com enfoque em marcas e produtos de venda acerca do produto e a influência da marca sobre consumidores, intermediários e concorrentes. Uma vez que as empresas estejam organizadas para o desenvolvimento de novos produtos, elas podem estabelecer procedimentos para transpor as ideias de novos produtos ao mercado. Com frequência, o desenvolvimento de novos produtos, além de levar muito tempo, acaba sendo arriscado e caro. Em geral, as empresas precisam gerar dezenas de ideias de novos produtos para produzir um que seja bem-sucedido no mercado. Os produtos fracassam por muitas razões, incluindoavaliações de mer- cado inadequadas, falta de orientação de mercado, triagem e avaliações de projetos ineficientes, defeitos de produtos e esforços de lançamentos insu- ficientes. Esses equívocos podem custar caro: muitas empresas investem quase a metade de todos os fundos dedicados às inovações em produtos que podem vir a se tornar fracassos comerciais. Assim, um fator decisivo para o sucesso dos produtos é entender a real necessidade do mercado. As lojas de varejo notaram que parcelas de menor valor fazem a diferença na venda dos produtos, então elas vendem o crédito para o cliente, pois, dependendo das condições, ele pode optar por outra marca ou, até mesmo, por um produto substituto na hora da compra. Essa pressão tem incentivado muitas empresas a implementar progra- mas acelerados de desenvolvimento de produtos – que, em geral, consis- tem em equipes de especialistas de design, de fabricação, de marketing e de vendas que executam projetos de desenvolvimento, desde a organização de ideias até a comercialização. O desenvolvimento de novos produtos começa com ideias de várias ori- gens: sugestões vindas de consumidores, equipes de venda, especialistas em pesquisa e desenvolvimento, produtos concorrentes, fornecedores, varejistas e inventores independentes. Alguns executivos de alto escalão, como presi- dentes e diretores que têm poder de decisão na empresa, estão começando a reconhecer o valor de manter seus olhos, ouvidos e mente abertos para ideias de colaboradores de todos os níveis da organização. Ideias de produtos que sobrevivem à triagem inicial devem passar por uma detalhada análise de negócios. Esse estágio consiste na avaliação de pos- síveis mercados de novos produtos, na taxa de crescimento e em prováveis Gestão de Portfólio e Marcas – 40 – forças concorrentes. Os telefones celulares antigos, por exemplo, tinham como única finalidade fazer ligações; atualmente eles têm diversas outras funções e atuam como minicomputadores pessoais – e isso tudo advém de mudanças no mercado e no perfil dos clientes. A empresa deve submeter as ideias de produtos a estudos de aceitação adicionais antes de seu desenvolvimento real. Esse importante aspecto de aná- lise de negócios representa um projeto de pesquisa de marketing que tenta medir as atitudes e as percepções dos consumidores sobre as ideias de novos produtos. Grupos de discussão e pesquisas em lojas podem contribuir eficaz- mente para o teste de conceito. Os gastos financeiros também aumentam substancialmente quando as companhias convertem ideias em produtos visíveis. O processo de conver- são é de responsabilidade conjunta dos engenheiros de desenvolvimento da empresa, que transformam o conceito original em produtos, e dos profissio- nais de marketing, que fornecem um feedback das reações dos consumidores em relação a design, embalagem, cor e outras características físicas dos pro- dutos. Muitas organizações implementam sistemas de design com o auxílio de computador para alinhar o estágio de desenvolvimento, e os protótipos podem passar por muitas mudanças antes que os modelos originais se trans- formem nos produtos finais. Desse modo, os profissionais de marketing que querem ver os produtos alcançar os mercados com sucesso têm muitas opções para desenvolvê-los, customizá-los e criar uma forte identidade de marca entre consumidores e clientes corporativos. O segredo é integrar todas as opções para que elas sejam compatíveis com todos os negócios globais da empresa, com suas estratégias de marketing e, principalmente, com a missão da companhia. Quando os profissionais de marketing consideram ideias para novos produtos, precisam tomar cuidado para não direcionar as empresas em sentidos muito diferentes, porque isso pode diluir as identidades de suas marcas, tornando quase impos- sível concentrar-se naquilo que as empresas fazem bem. O gerenciamento de categoria pode ajudar as companhias a desenvol- verem um mix de produtos com marcas fortes, ao mesmo tempo em que atendem às necessidades dos consumidores. Procurar maneiras de expandir uma marca sem diluí-la nem comprometer seu valor de marca é também – 41 – Gestão de portfólio com enfoque em marcas e produtos uma importante estratégia de marketing. Os profissionais dessa área devem continuar a trabalhar com o objetivo de produzir produtos de alta qualidade que sejam também seguros a todos os usuários. Pressionadas pelo aumento da concorrência, e amparadas por soluções tecnológicas mais acessíveis, as empresas passaram a ser impelidas a diferen- ciar suas ofertas e, dessa maneira, satisfazer melhor as necessidades de gru- pos de consumidores. Esses consumidores, vislumbrando a possibilidade de terem sua necessidade por produtos diferenciados satisfeita, em vez de possuí- rem acesso apenas a produtos padronizados, naturalmente passaram a preferir os produtos a eles direcionados. Nesse contexto, a estratégia de preços varia consideravelmente de acordo com a situação competitiva. Em um dos extremos, o preço aparece como elemento incontrolável e forças que fogem ao controle da administração o determinam. Assim, muitos preços de produtos agrícolas, por exemplo, são estabelecidos pelo relacionamento existente entre a oferta disponível do pro- duto e a demanda do mercado. Os produtores de alface, por exemplo, não precisam se preocupar com estratégia para seus preços – sua única decisão sobre o assunto é aceitar ou rejeitar o preço vigente no mercado. No outro extremo, nos raros casos em que o empresário detém o mono- pólio de um produto, a fixação do preço é fator quase 100% controlável. Nesse caso, geralmente o monopolista (empresa ou empresário que exerce o monopólio, como no caso dos postos de combustíveis) fixa seu preço com o objetivo de maximizar os lucros, procurando obter o que puder dos compra- dores – mas, no mundo real, várias pressões de ordem externa impedem que esse empresário consiga, de fato, obter um preço ideal, típico do monopolista. Mesmo assim, o preço do monopolista ainda é o exemplo mais puro de preço administrado, controlado, ou seja, um preço estabelecido pela administração e mantido estável por um longo período. Na maioria dos casos intermediários, o preço é fator controlável, mas raramente até o ponto de chegar ao monopólio absoluto, como é teorica- mente viável em termos econômicos. O preço se torna fator controlável por meio de uma combinação de habilidades em marketing e intuição. As empresas que comercializam arroz, por exemplo, impõem um valor de com- pra para o produtor rural, buscando o controle de precificação do produto. Gestão de Portfólio e Marcas – 42 – A habilidade do marketing em trabalhar com a marca é que faz a diferença diante do cliente final, já que o arroz pode possuir características parecidas, mas a forma de trabalhar com a exposição do produto e a embalagem serão os diferenciais para o cliente. Da mesma maneira, essa maioria diferencia outros aspectos de suas ofertas, por meio de suas escolhas individualizadas de canais de distribuição e de intermediários, sistemas de distribuição física e assim por diante. Em outras palavras, a maioria dos empresários modernos manipula os demais fatores controláveis a fim de aumentar sua possibilidade de utilizar o preço como elemento controlável – e, para tanto, formula uma estratégia de fixa- ção de preços. Em geral, os produtos que se encontram em estágio inicial apresentam uma diferenciação perecível, que gradualmente diminui com a chegada dos estágios de crescimento e da maturidade do mercado, até alcançar o estágio de declínio. Isso acontece à medida que os concorrentes aparecem com suas próprias versões do produto – as quais se tornam progressivamente mais pró- ximas da versão lançada pela empresa inovadora – e também conforme sua estratégia global de marketing vai se
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