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Relatório Flexner

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RESPOSTA QUESTÃO 2
O Relatório Flexner: Para o Bem e Para o Mal
 “Em 1910, foi publicado o estudo Medical Education in the United States and Canada – A Report to the Carnegie Foundation for the Advancement of Teaching1, que ficou conhecido como o Relatório Flexner (Flexner Report) e é considerado o grande responsável pela mais importante reforma das escolas médicas de todos os tempos nos Estados Unidos da América (EUA), com profundas implicações para a formação médica e a medicina mundial.”
Até os dias atuais o Relatório Flexner continua a gerar debates e polêmicas, esse propunha que os currículos para as escolas de medicina fossem bem divididos entre as disciplinas básicas e os estudos clínicos, e por esse motivo foi tão defendido por alguns e bravamente criticado por outros. No entanto, atualmente esse é o modelo vigente na maior parte das escolas médicas.
	“Abraham Flexner nasceu em Lousville, Kentucky, em 13 de novembro de 1866. Era o sexto de nove filhos de Moritz Flexner e de Esther Abraham. Seus pais, judeus alemães, imi-graram para os EUA em 1853.”
	Simon Flexner, irmão mais velhor de Abraham, foi um grande patologista, descobriu o bacilo de Flexner, causador da disenteria e desenvolveu um soro para o tratamento da meningite. 
	Abraham ingressou na faculdade aos 17 anos, em 1886 obteve o grau em artes e humanidades. Em 1890, fundou sua própria escola, Mr. Flexner’s School. Em 1898, Flexner casou-se com Anne Crowford, uma ex-aluna, com quem teve duas filhas. Em 1906 conclui pós-graduação em Havard e mudou-se com a família para Berlim. 
	Em 1908 publicou o livro: The American college: a criticism, no qual critica o sistema educativo norte-americano. Após a publicação deste, foi convidado a fazer visitas às escolas de medicina nos EUA e Canadá durante seis meses, com base nas avaliações dessas visitas escreveu o relatório.
	Após a publicação do relatório, retornou a Europa com a finalidade de estudar a educação médica. Produziu então um estudo sobre a educação medica na Europa, em seguida realizou um estudo comparativo entre a educação medica na Europa e os EUA. Contribuiu para a formação de uma fundação nos EUA que tinha como examinar o estado das universidades da América do Norte e a educação médica em particular. Foi o organizador e o primeiro diretor do Instituto de Estudos Avançados de Princeton, com suas três escolas – matemáticas, economia e política e humanidades –, onde ficou até encerrar suas atividades acadêmicas. 
	Faleceu no dia 21 de setembro de 1959, aos 92 anos em Falls Church, uma pequena cidade da Virginia. Antes, escreveu sua autobiografia, publicada em 1960.
	Seu trabalho foi executado sem a utilização de um instrumento de avaliação padronizado. Muitos especialistas o criticaram por isso, eles alegavam que sua pesquisa era incrédula e invalida devido a não utilização de métodos para a avaliação. Flexner se justificava dizendo que: 
“Em umas poucas horas, uma estimativa confiável pôde ser feita a respeito das possibilidades de ensinar medicina moderna em quase todas as 155 escolas que visitei” [destaque de Hiatt].
 Ele afirmava também que o treinamento de qualidade inferior era obvio e por isso não era necessário nenhum método avaliativo para obter tal classificação.
A concessão estatal para o exercício da medicina fora abolida em meados do século XIX. Com isso, havia grande proliferação de escolas de Medicina, com abordagens terapêuticas as mais diversas. Essas eram abertas de maneira indiscriminada, muitas vezes sem vinculo com universidades, sem o material necessário e sem critérios de admissão padronizados. 
A partir do final do século XIX a indústria farmacêutica começa a ganhar espaço. Essa possui grande capital e vai então se unir a classe medica. Nesse contexto e em meio a estes interesses Flexner se insere, produz seus trabalhos e ganha notoriedade.
Ele considerava a maioria das escolas médicas dos EUA e Canada inadequedas, dizia que das 155 existentes apenas 31 eram necessárias, o mesmo ditava minuciosamente como deviam ser cada uma delas. Ele buscava introduzir nessas faculdades uma racionalidade cientifica, desconsiderando outros fatores importantes a formação médica. Por outro lado, nessa mesma época a França sofria influencia do modelo de educação medica da Alemanha. 
“No modelo anatomoclínico francês, os estudantes aprendiam ao lado do leito do paciente e nos anfiteatros anatômicos no hospital treinavam as técnicas diagnósticas e terapêuticas, e faziam pesquisas clínicas na faculdade de Medicina. Já o modelo de pesquisa médica alemã estava centrado no laboratório, na hierarquia, na especialização e nas pesquisas experimentais.”
O modelo de educação medica francês foi apenas parcialmente implementado nos EUA. Em 1912, Flexner assume um cargo importante no General Education Board, a partir dai ele exercer grande controle sobre as instituições de ensino norte-americanas.
	Flexner propunha a instalação de uma nova ordem para a reconstrução do modelo de ensino médico. Ele dizia que as escolas medicas deviam estar baseadas em universidades e que os programas educacionais deviam ter bases cientificas. O mesmo recomendava um processo de admissão rigoroso, o curso deveria ter quatro anos: dois anos de ciclo básico e mais dois em hospitais, exigia também a existência de laboratórios e instalações adequadas.
“Flexner defendia como mais importante para o aprendizado da medicina, sob o ponto de vista pedagógico, as atividades práticas, tanto no laboratório como na clínica, combatendo desde seus primeiros trabalhos o ensino por meio de conferências e aprendizado pela simples memorização.”
	Para ele o estudo deveria ser concentrado na doença, sendo esta considerada parte de um processo natural, não lhe importavam fatores sociais. O método cientifico era apresentado como a única forma de adquirir um conhecimento seguro. Além disso, ele defendia que as instituições de ensino não deveriam ter o lucro como um objetivo e que estas deveriam ser serviços públicos.
A partir da década de 60 ocorreram crises recorrentes no setor de saúde, essas eram evidenciadas pelo descompromisso com a realidade e as necessidades da população. Com isso, em 1980 iniciaram processos de reforma no setor da saúde em vários países. As reformas iam desde medidas administrativas ate medidas constitucionais, sendo o desenvolvimento dos recursos humanos sempre deixado de lado. As tentativas de mudanças foram muitas, mas os resultados foram poucos, devido ao não interesse dos próprios profissionais da área. 
No Brasil, isso ocorreu de forma semelhante, onde as escolas se concentravam na formação e a maioria dos médicos se fixava nos grandes centros urbanos, devido a interesses financeiros. Atualmente, existem as Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) do Curso de Graduação em Medicina, que definem como deve ser a formação medica: 
“com formação generalista, humanista, crítica e reflexiva, capacitado a atuar, pautado em princípios éticos, no processo de saúde-doença em seus diferentes níveis de atenção, com ações de promoção, prevenção, recuperação e reabilitação à saúde, na perspectiva da assistência, com senso de responsabilidade social e compromisso com a cidadania, como promotor da saúde integral do ser humano.”
	De acordo com as DCN, o currículo das escolas de medicina deve atender as necessidades de saúde da população e da comunidade. Em 2004, o Ministério da Educação instituiu um sistema de avaliação que pretende avaliar as instituições, os cursos e o desempenho dos estudantes. Essas medidas pretendem mudar o perfil dos futuros profissionais de saúde, provocando um profundo impacto em todo o complexo formador de médicos no país. 
	Nas ultimas décadas ocorreram muitas modificações no modelo ensino-aprendizagem e nas estratégias de educação. As neurociências e a psicologia demonstraram que fatos e conceitos são mais facilmente assimilados quando visto na teoria e na pratica. O que mostrou a necessidade de uma reconfiguração no modelo de ensino das escolas medicas.
	O cuidadoem saúde também sofreu modificações, sendo esse atualmente considerado um direito social. Hoje temos uma população mais idosa, fazendo com que o nosso perfil epidemiológico fosse transformado, com isso, temos um maior numero de doenças crônico-degenerativas, o que exigiu um remodelamento de nossos profissionais.
	Cada vez mais podemos enxergar a necessidade de ações multiprofissionais, para que enfrentemos as necessidades de saúde da sociedade. O individuo não é mais visto como um ser unitário, mas sim como um integrante de uma comunidade. Por isso, se faz necessária a mudança nos currículos formativos de novos profissionais, para que esses tenham uma visão mais ampla, não somente se fixando na doença, como proposto por Flexner.
	O Relatório de Flexner é dito do bem quando se parte do pressuposto de que na época em que foi lançado as escolas medicas eram desorganizadas e não tinham uma metodologia de ensino padronizada. O que Flexner fez foi estabelecer regras que sistematizavam a formação nas escolas de medicina, bem como impunha preceitos para que as mesmas existissem.
	Este mesmo Relatório é dito do mal, pois a formação medica objetivada por ele se preocupa apenas com a doença, tendo esta como um processo natural e biológico, onde o doente é visto como um ser individual, como se ele não fizesse parte de uma comunidade e como se esta não tivesse nenhuma influencia sobre ele, tampouco sobre o seu processo de adoecimento.

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