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Disciplina Relações Interpessoais Sócio-Ambientais Módulo 1 2� Disciplina Relações Interpessoais Sócio-Ambientais Capítulo 1: Aula introdutória Caro(a) Aluno(a), bem-vindo(a) à disciplina Relações Interpessoais Sócio-Ambientais do Curso de Educação a Distância de Gestão Ambiental. Esta disciplina está dividida em seis módulos, contendo sete capítulos. Cada módulo terá dura- ção de uma semana e você receberá um texto impresso no pólo presencial de seu município sobre o assunto que será tratado no mesmo. Lembre-se de sempre consultar o espaço reservado para esta disciplina na plataforma Moodle. Nela, estará sendo disponibilizada para você uma aula on-line que complementará o módulo, conforme necessário. Ao final de cada módulo (escrito e/ou na aula on-line), você será orientado como proceder para resol- ver as atividades do mesmo. Mantenha as atividades em dia, enviando-as semanalmente via internet, através da Plataforma Moodle, pois estas farão parte de sua avaliação. O arquivo plano de ensino fará uma apresentação geral dos tópicos que serão abordados em cada módulo, bem como da ementa da disciplina, da estratégia didática, da avaliação e da bibliografia recomendada. Você con- tará com um tutor presencial no pólo em que estiver matriculado. O tutor vai auxiliar no entendimento das atividades que você terá que realizar. Também, estaremos durante todo o semestre a sua disposição para tirar dúvidas rela- tivas a esta disciplina. Esperamos interagir com você para que nosso curso seja bem sucedido. Na aba lateral deste texto, você encontrará informações complementares aos tópicos de cada módulo. Também estaremos apresentando o perfil profissional da equipe de professores responsáveis e/ ou colaboradores pela construção dos conteúdos desta disciplina e que deverão estudar com você durante este semestre. Aproveite para observar e desenvolver a(s) atividade(s) solicitada(s). Vamos, então, começar a nos interrelacionar! POR QUE ESTUDAR RELAÇÕES INTERPESSOAIS SÓCIO-AMBIENTAIS? As relações interpessoais ocorrem naturalmente nos mais diversificados espaços sociais, tendo início na família, passando pela escola e trabalho até níveis organizacionais mais complexos, como o das relações entre as cúpulas do Governo internacional. Relação familiar (Foto: Paulo Carvalho). Relação escolar (Foto: Suzene I. Silva). Relações de Trabalho (Foto: 2� Capítulo 2. A Sociedade e Suas Relações no Sistema Produtivo 1. Apresentação O capítulo que iremos trabalhar, neste momento, refere-se a uma compreen- são do que vem a ser sociedade e a sua relação com o trabalho. Inicialmente vamos revisar alguns conceitos importantes para a compreensão da socie- dade e seu sistema produtivo, porém vamos procurar nos focar nos problemas mais comuns à realidade da região nordeste do Brasil, de forma a habilitar o Gestor Ambiental a uma atuação contextualizada. Para isto, primeiro vamos definir o termo sociedade e o termo relação e dis- cutir o trabalho no ambiente rural e urbano, bem como as características da sociedade rural e urbana. 2. A sociedade e o trabalho A sociedade do ponto de vista da Sociologia é definida como o conjunto de pessoas que compartilham costumes, ideais e propósitos, que permitem que as pessoas possam interagir constituindo uma comunidade. A sociedade tem sido objeto de estudo das Ciências Sociais (Sociologia). Toda a humanidade pode ser considerada como uma única sociedade. No sentido sociológico, fala-se de sociedade como um sistema funcional abs- trato, sem identificação com um determinado país ou cultura, ou, então, de forma plural, no tempo (sociedade antiga, medieval, moderna, etc.) e no espaço (sociedade brasileira, portuguesa, americana, entre outras). Na Economia, alguns estudiosos, como Karl Marx, admitem que, dentro da sociedade, exista um complexo de fatores que envolvem interações relati- vas ao Direito, à Economia, à Moral e à Religião, entre outros interagindo. O pensamento marxista admite que a posição do indivíduo na sociedade é definida pelo seu papel no sistema produtivo, que, por sua vez, condiciona o seu conjunto de idéias. Como assim, professora? O que é uma relação, o que é um sistema produtivo? Bem, relação é uma palavra que apresenta múltiplos sentidos nas várias ciências e nas diferentes situações do dia-a-dia. Por exemplo, na Ecologia, Marcelle Almeida). Essas interrelações ocorrem em decorrência da tendência à conectividade que é própria do ser humano em relação. As relações são construídas na dependência de inúmeras interações entre os participantes de um grupo ou comunidade, em função de comportamentos e valores que vão se estabelecendo e tomando lugar ao longo das interações. Uma construção em termos de relacionamento é o resultado de interlocuções e outras formas de auto-expressão e intercâmbio que se dão através de gestos, modos de vestir-se e apresentar- se, movimentos corporais, bem como movimentos de aproximação e distanciamento no espaço virtual que se estabelece entre as pessoas. Sendo assim, considerando as diferentes relações a que um Gestor Ambiental estará suscetível a estabelecer, para discutir os problemas e soluções ambientais que o auxiliem na realização de suas atividades, é que essa disciplina foi planejada. 2� ouvimos falar em relações bióticas e energéticas; na Matemática,em rela- ções de dois números ou de duas grandezas; na sociedade,em relações pais e filhos e entre gerações, relações sociais e relações sexuais; no governo, em relações exteriores, relações de trabalho, relações comerciais e relações culturais. Assim, podemos nos perguntar por que tanta variedade no sentido das relações? A explicação pode ser encontrada na própria origem do vocábulo latino, pois o substantivo relação provém do particípio passado do verbo reférre, que é relatum, do qual provém relátio. O prefixo RE indica movimento e repetição. O verbo FERRE tem uma grande gama de significados, como levar, trazer, propor, guiar, encaminhar-se, etc. REFÉRRE significa trazer de novo, resti- tuir, trazer, levar, propor, encaminhar e muitas outras ações. O substantivo relação origina-se do verbo referir e por isso tem tantos sentidos diferentes e palavras correlatas, como: preferência, deferência, inferência, delação, prolação, ilação, relatar, referir, relacionar. Assim, relacionar-se quer dizer referir-se. A relação assume papel decisivo na estruturação do mundo. A relação é o cordão umbilical que prende o homem à terra mãe. É também o canal que faz circular a vida, a energia e os recursos entre a sociedade humana e o meio ambiente. E sistemas produtivos? Já sistemas produtivos são aglomerados de agentes econômicos, políticos e sociais, localizados em um mesmo território, com foco em um conjunto específico de atividades produtivas e que apresentam vínculos expressivos de interação, cooperação e aprendizagem. O termo sistema refere-se a um conjunto interrelacionado de coisas, liga- das e dependentes umas das outras, todas com sua função determinada, formando uma unidade específica e completa, fechada sobre si mesma. Tudo o que existe dentro de tal sistema possui sua função e não há nada sobrando. Quando trazemos o conceito de sistema para o âmbito social, admitimos a sociedade como sistemas sociais específicos, determinados por diferen- tes fatores que distinguem, dessa maneira, um sistema social do outro. Podemos, assim, considerar a sociedade como uma máquina, onde tudo que existe tem sua função. Ao reconhecer a sociedade como um sistema, admitimos junto o pressuposto de se descrever a sociedade como ela é aqui e agora, no momento presente. Um outro termo utilizado mais recentemente para designar uma sociedade ou um determinadosistema social é a expressão “modo de produção”. O PERFIL DA EQUIPE QUE IRÁ MINISTRAR A DISCIPLINA Suzene Izídio da Silva Bióloga, com mestrado em Botânica pela Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) e doutora em Ciências pela Universidade de São Paulo (USP), atuando, principalmente, nas áreas de Botânica Econômica e Fitoquímica. Atualmente é professora e pesquisadora da UFRPE, onde orienta alunos de graduação, de mestrado e de doutorado em estudos de plantas com potencial econômico. Tem vasta experiência em atividades de Extensão, incluindo trabalhos em comunidades rurais e indígenas. A produção de trabalhos científicos encontra-se disponibilizada na Plataforma Lattes do CNPq (www. cnpq.br). 30 uso desse termo está baseado em pressupostos específicos, e um dos prin- cipais é o de que nenhuma sociedade pode existir e se estruturar a não ser a partir de sua sobrevivência, isto é, de sua produção. Ou seja, isto quer dizer que as formações sociais se desenvolvem a partir do modo como se obtêm as condições para viver (comida, bebida, vestimenta, moradia, etc.), já que as condições de sobrevivência representam a característica fundamental de qualquer sociedade. Um outro pressuposto implícito no conceito “modo de produção” é ligado ao histórico do mesmo. Quem usa o conceito “sistema”, restringe-se ao momento atual. Quem usa conceito “modo de produção” admite que, para compreender uma sociedade em sua essência e profundidade, é preciso conhecer as suas origens, isto é, o seu histórico. Vamos, abaixo, comentar um pouco sobre o trabalho e o sistema produtivo no âmbito rural. 2.1. O trabalho no meio rural O trabalho no ambiente social pode ser entendido como qualquer ocupa- ção remunerada através de dinheiro, produtos, mercadorias ou benefícios (moradia, alimentação, roupas, etc.), exercido no ambiente rural, industrial, comercial e domiciliar. O trabalho também pode ser realizado sem que ocorra a remuneração através do dinheiro. O termo trabalho vem do latim opus, operis, que quer dizer trabalho ou ofício. No meio rural, as populações tidas como rurais são as que se localizam nos núcleos de colonização, em pequenas aldeias, roças, sítios, ocorrendo de forma esparsa em zonas de baixa densidade demográfica. A distância e a dificuldade de transporte isolam parcialmente as populações rurais de outros núcleos e dos centros urbanos, mas não impedem que contatos possam ser feitos com certa freqüência. A pecuária e agricultura são os principais sistemas produtivos no meio rural nordestino. Isto, em parte, deve-se às características climáticas da região. No nordeste brasileiro, o principal tipo vegetacional é denominado de caatinga. Esta vegetação é sujeita a um período de estiagem, conhecida como estação seca. Nesta época, a maioria das plantas perde suas folhas. As plantas deste tipo de ecossistema são, em geral, mais baixas que aquelas de ambientes úmidos e existe um extenso pasto nativo. A precipitação anual varia de 250 a 1.100 mm. Já na zona costeira, a vegetação predominante pertence ao domínio atlântico. A precipitação anual varia de 1.200 a 2.500 mm ano, sendo as características Elcida de Lima Araújo Bióloga, com mestrado em Botânica pela Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) e doutorado em Biologia Vegetal pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), atuando, principalmente, nas áreas de Ecologia dos Ecossistemas do Nordeste e de Ecofisiologia Vegetal. Atualmente é professora e pesquisadora da UFRPE, onde orienta alunos de graduação, de mestrado e de doutorado em estudos de Ecologia de Comunidades e Populações Vegetais, Dinâmica de Populações e Ecofisiologia Vegetal. Atualmente é bolsista produtividade em pesquisa do CNPq e sua produção de trabalhos científicos encontra-se disponibilizada na Plataforma Lattes do CNPq (www.cnpq.br). 31 climáticas também favoráveis à agricultura. Atualmente, esta região encon- tra-se densamente povoada, cerca de 15.000.000 habitantes, e predomina o cultivo da cana-de-açúcar (Sacharum sativum L.)(Figura 1). Além da cana-de-açúcar, são também cultivadas, em larga escala, a banana (Musa paradisiaca L.) e o cacau (Theobroma cacao L.). Essa agricultura é com- plementada por outras fruteiras, como manga (Mangifera indica L.), caju (Anacardium occidentale L.) e jaca (Artocarpus integrifolia L.), muito comuns de serem visualizadas nas paisagens nordestinas. Figura 1. Vista de trecho de mata atlântica onde foi estabelecido o cultivo da cana-de-açúcar (Foto: Suzene I. Silva). Já no ambiente rural, as principais culturas são milho (Zea mays L.), fei- jão (Phaseolus vulgaris L.), algodão (Gossipyum hirsutum L.), mandioca (Manihot esculenta Crantz), mamona (Ricinus communis L.) e agave (Agave sisalana L.), além de algumas fruteiras, como a pinha (Annona squamosa L.) e a goiaba (Psidium guajava L.) (Figura 2). Estas culturas são realizadas com a utilização de técnicas rudimentares, pois boa parte dos agricultores não possui equipamentos para trabalhar a terra. O preparo das lavouras é muitas vezes feito com a utilização de enxada. As técnicas de cultivo são rústicas e inadequadas ao tipo de solo e relevo da região, provocando, em poucos anos de exploração, o esgota- mento da terra. No período da estação seca, a deficiência alimentar é muito grande, com uma grande escassez de alimentos básicos, sendo por isso necessário comprá-los. Grandes áreas são cultivadas com a palma forrageira (Opuntia fícus-indica Mill.) para alimentação de animais. Além disso, muitos se dedi- cam ao trabalho externo à propriedade, através da produção de lenha e carvão. Escreva seu perfil, diga por que escolheu tornar-se um Gestor Ambiental, o que espera encontrar nesta disciplina. Se possível, coloque sua foto e disponibilize este perfil na Plataforma Moodle, no fórum de nossa disciplina, para que todos possam se conhecer. AMBIENTE RURAL Veja, na foto acima, trecho de vegetação de caatinga modificado para a atividade agrícola, um dos principais tipos de trabalho no meio rural (Foto: Suzene I. Silva). A pecuária é outra atividade que marca o trabalho no meio rural. A vegetação herbácea nativa é fonte de alimento para a pecuária (Foto: Edison de Piracicaba, epiazza@terra.com. br) 32 Figura 2. Vista de um cultivo de milho consorciado com feijão em uma área de caatinga de Pernambuco. 2.2 Características da sociedade rural Cerca de 30% da população nordestina encontra-se habitando a zona rural. A sociedade rural nordestina pode ser caracterizada em relação ao seu desen- volvimento econômico. Como a população se distribui de forma esparsa, em pequenos lugarejos, muitos deles, ainda hoje, não têm acesso à utilização de luz elétrica, saneamento básico, serviços escolares adequados, etc., de forma diferente do que ocorre nas sociedades urbanas. Assim, os agricul- tores vivem apenas em função da fazenda e mantêm a tradição da roça de subsistência e do cultivo da lavoura do dono da fazenda, de pai para filho, etc. Ou seja, na sociedade rural, as relações de produção estão, sobretudo, vinculadas ao uso e exploração da terra. Em cidades onde a pobreza é generalizada e o povo vive, principalmente, de escassos produtos produzidos nas fazendas vizinhas, a população, na estação seca, passa a depender de políticas emergenciais que lhe forneçam alimento e água. 2.3 O trabalho no meio urbano O trabalho no meio urbano é caracterizado por uma extrema divisão de tare- fas, traduzida em profissões especializadas marcadas por forte competição. O processo de competição atua como forma de seleção dos indivíduos e de sua inserção no mercado de trabalho. A necessidade de controle nas empresas, na administração pública e nas inumeráveisinstituições (esportivas, políticas, profissionais, religiosas, etc.) confere à sociedade urbana um caráter iminen- temente burocratizado. CURIOSIDADE D0 CAMPO Durante muito tempo a população da zona rural utilizou o carro de boi e a tração animal para auxiliar o trabalho agrícola. Esta prática ainda é mantida em várias cidades interioranas. (Foto: Suzene I. Silva) SAIBA MAIS Por que após o nome de plantas e animais aparecem dois nomes escritos em latim? É porque toda espécie tem um nome científico, o qual é escrito em latim. Após o nome da espécie, sempre existe a abreviatura do nome do autor da espécie, porém a população conhece melhor as espécies pelo nome vulgar, sobretudo, aqueles relacionados que são de interesse econômico. 33 No meio urbano, o trabalho é bastante diversificado, envolvendo diferentes linhas de ação nos setores industrial e comercial. Historicamente, o traba- lho urbano é resultado da revolução industrial, representando um marco da indústria capitalista, capitaneada pelo empresário capitalista que foi pouco a pouco concentrando as máquinas, as terras e as ferramentas sob seu controle, convertendo grandes massas humanas em simples trabalhadores sem posses. Assim, o trabalho urbano resultou do processamento de matéria-prima e consumo da mesma (Figura 3), e não de produção, ocorrendo a transfor- mação da atividade artesanal em manufatureira e, por último, em atividade fabril. Figura 3. Mulheres trabalhando em uma indústria têxtil (Fonte: www.pr.gov.br/ipem/Notícias_2006/imagens/Visita_Indústrias_Têxteis). 2.4 Características da sociedade urbana A sociedade urbana concentra-se na cidade, que é tida como um centro de troca, de comércio, de recepção, transformação e armazenamento. Por conta disso, a cidade distanciou-se dos ecossistemas naturais, porque, por definição, tudo que é produto da invenção e engenho humano é artificial, opondo-se, portanto, ao que é natural (Figura 4). PLANTAS DE INTERESSE ECONÔMICO CULTIVADAS O feijão (Phaseolus vulgaris L.), uma das principais espécies cultivadas para alimento e apreciada pela maioria dos brasileiros (Foto: Suzene I. Silva). O milho (Zea mays L.), espécie cultivada em toda América e muito apreciada pelos nordestinos, sobretudo, no período das festas juninas (Foto: Suzene I. Silva). 34 Figura 4. Aspecto de um trecho urbano da cidade de Recife (Foto: Elcida L. Araújo). A cidade tem recebido inúmeras definições as quais refletem os diferentes pontos de vista sobre sua formação ou função social. Alguns urbanistas con- ceituam a cidade dentro de um enfoque estrutural, considerando-a como uma obra de arte sujeita à contínua modificação pelos seres que nela habitam, os quais são considerados seres coletivos. Sob ótica histórica, a cidade pode ser entendida como o produto da evolução de aglomerados nascidos da necessi- dade de autodefesa de grupos sociais. A sociedade urbana apresenta elevada densidade demográfica, diversidade de profissões e desigualdades na distribuição de renda que promovem uma profunda divisão de classes com interesses conflitantes. Os conflitos de clas- ses da sociedade urbana conduziram à formação de grupos de interesse (associações profissionais, sociedades agrárias, etc.). Estes grupos propor- cionaram, mais tarde, a formação de elites representativas das comunidades (sindicato, partido político, raça, etc.). Essas elites lutam entre si, atuando como pivôs de seus respectivos grupos de interesse, conduzindo esses gru- pos a um posicionamento de contínuo conflito na atual organização social urbano-tecnológica. A sociedade urbana, na atualidade, tem passado por um processo de modernização, envolvendo os avanços tecnológicos. Assim, na sociedade tecnológica moderna, o ser humano não vive mais num meio natural, e sim num meio técnico, onde uma rede de máquinas e técnicas apuradas se inter- põe entre o homem e a natureza. O homem explora a natureza, domina-a e utiliza-a para seus fins. Em decorrência da expansão dos recursos técnicos, a estrutura da sociedade tecnológica torna-se mais complexa do que a da sociedade tradicional, outrora vinculada ao meio rural. Quatro fatores contribuíram para essa mudança social tão profunda: a tec- nologia, o avançado sistema monetário e creditício, a crescente divisão do PLANTAS NATIVAS DE INTERESSE ECONÔMICO A Caesalpinia ferrea Mart, conhecida como jucá, é uma árvore da caatinga que é utilizada pela população rural como planta medicinal, sendo também aproveitada em áreas urbanas como uma planta ornamental (Foto: Suzene I. Silva). A Caesalpinia pyramidalis Tul, conhecida como catingueira, é uma árvore muito comum na paisagem da caatinga, sendo sua madeira utilizada pela população para produção de lenha e carvão. Suas flores são apreciadas pelas abelhas e, por isso, os apicultores costumam conservar essa espécie no pasto apícola (Foto: Suzene I. Silva). 35 trabalho e a migração em massa da mão-de-obra do setor primário de pro- dução (agricultura, caça, pesca e mineração) para os setores secundário (indústria) e terciário (comércio, transportes, profissões liberais, etc.). Em conseqüência da ruptura entre as funções de produtor e consumidor, desempenhadas no passado pelos mesmos indivíduos, e da multiplicação artificial das necessidades de consumo (e por isso esse tipo de sociedade é denominado “sociedade de consumo” ), a organização social desdobrou os papéis sociais atribuídos a uma mesma pessoa. Um indivíduo é, ao mesmo tempo, pai de família, empregado de uma fábrica, membro de um clube, filiado a um partido político, sócio de um sindicato, membro de uma igreja, etc. Por conseguinte, os riscos de conflito entre os papéis são muito maiores do que na sociedade tradicional. Acompanhando o desenvolvimento dessa sociedade urbana, instalou-se uma mentalidade sensivelmente diferente daquela que predominava na sociedade rural, ocorrendo uma substituição da tradição por elementos de racionalidade. Na sociedade urbana, costumes e valores tradicionais foram substituídos por uma valorização da instrução formal, que se vincula dire- tamente ao progresso. Como conseqüência de tudo isso, a racionalidade científica desmistificou a ética e a moral tradicional, alterando profunda- mente as crenças religiosas, num processo denominado “secularização”. 2.5 Implicações dos sistemas produtivos no meio rural e urbano Os sistemas produtivos trazem implicações tanto positivas quanto negativas ao meio e à sociedade que nele vive. Desde o princípio da colonização brasileira, a agropecuária é de reconhecida importância para a economia nacional, destacando-se, na História do Brasil, os ciclos da cana-de-açúcar, do algodão e do café, além de outros, como o da mandioca, o do milho e, mais recentemente, o da soja. Para o desenvolvimento da agricultura foi necessária a desapropriação de terras que resultou em modificações das paisagens naturais, redução do tamanho das populações de plantas e de animais e perda de biodiversidade. A modernização da agricultura deu-se com a mecanização e com o aumento do uso de insumos agrícolas, como adubos e defensivos contra pragas. A mecanização e o uso desses insumos geraram problemas, como compac- tação e salinização dos solos, contaminação do ambiente, sobretudo, do próprio solo e dos alimentos cultivados. Se por um lado a agricultura gerou transtornos ao meio ambiente, por outro, proporcionou uma diversificação de alimentos necessários para a sobrevi- A Anadenanthera colubrina (Benth.) Brenam, conhecida como angico de caroço, é uma árvore da caatinga usada há séculos para curtição do couro, devido aos elevados teores de tanino existentes em suas cascas (Foto: Suzene I. Silva). PRODUTOS PROVENIENTES DO TRABALHOARTESANAL Balaios e cestos que foram confeccionados com caules de gramíneas e cipós da vegetação da caatinga (Foto: Suzene I. Silva). 36 vência da crescente sociedade, bem como geração de renda para melhoria da qualidade de vida, considerando moradia, saúde e educação. Já a indústria e a tecnologia, por sua vez, apesar de gerarem emprego e desenvolvimento social e tecnológico, têm trazido sérias conseqüências ao meio ambiente. Nas cidades, o lixo proveniente das atividades humanas (indústria, comércio, escola, hospitais, residências) tem ocasionado trans- tornos ambientais de grande escala. Hoje, o lixo é um problema social, econômico e ecológico e tem mobilizado a sociedade e o governo para refle- xão, busca de soluções e tomadas de decisões que minimizem os impactos dos resíduos, provenientes do consumo e atividades nos centros urbanos. A evolução dos sistemas produtivos proporcionou uma intensa migração da mão-de-obra da zona rural para a zona urbana, tornando-se um problema social, caracterizado pelo inchamento das cidades e deficiente oferta de emprego. A maciça migração do campo para a cidade gerou um excedente de mão-de-obra de mulheres e crianças que acabaram sendo envolvidas em longas jornadas de trabalho, sem férias nem feriados, ganhando um salário de subsistência. As desigualdades na distribuição de renda e a intensa competição para inser- ção no mercado de trabalho geraram conseqüências visíveis e trágicas, tais como: aumento da prostituição (inclusive infantil), do suicídio, do alcoolismo, da criminalidade, da violência, de surtos de epidemia que dizimaram e dizi- mam parte da população, etc. Embora estes fatos estejam suscetíveis de ocorrerem no meio rural, eles têm sido observados de forma mais contundente nas megametrópoles. Somente nas últimas décadas é que se tem registrado o seu avanço na direção do meio rural. 5. Atividade a ser desenvolvida pelo aluno Caro(a) aluno(a), após leitura do texto abaixo, faça uma reflexão sobre as ações do homem em seu meio de trabalho e escreva sua opinião sobre o texto lido. Coloque a crítica no fórum desta disciplina, na Pataforma Moodle. “Medidas Práticas Rumo a Cidades Mais Saudáveis e a um Meio Ambiente Global mais Limpo David F. Hales - Vice-Administrador Adjunto, Centro de Meio Ambiente Global Agência Norte-Americana para o Desenvolvimento Internacional. Colheres de pau produzidas artesanalmente, a partir da madeira de espécies da floresta atlântica e da caatinga, tais como cedro (Cedrela odorata L.) e imburana de cambão (Commiphora leptophloeos Gillet) (Foto: Suzene I. Siva). PRODUTOS MANUFATURADOS O óleo de pequi é obtido dos frutos do pequizeiro (Cariocar brasiliensis L.), espécie do cerrado brasileiro que ocorre na Chapada do Araripe. O óleo é extraído através do cozimento dos frutos, sendo, posteriormente, envasados. É comercializado tanto para alimentação quanto para fins medicinais (Foto: Suzene I. Silva). 3� Os programas dos Estados Unidos ajudam as cidades de todo o mundo em seu trabalho para a redução da poluição. Um alto funcionário da USAID explica como e por que os Estados Unidos apóiam essas iniciativas. As preocupações com a deterioração das condições ambientais urbanas e suas implicações de longo prazo tornaram-se componente crítico das iniciativas de política externa dos Estados Unidos. As cidades do mundo em desenvolvimento estão crescendo rapidamente. Nessas emergentes áreas urbanas, a velocidade e a escala de crescimento ultrapassaram a capacidade de manutenção de padrões aceitáveis de saúde pública, segu- rança ambiental e crescimento econômico sustentável. Enormes prejuízos na forma de doenças e redução da qualidade de vida afetam os cidadãos dessas cidades. Além disso, essas condições exacerbam os problemas ambientais globais e interpõem ameaças muito reais aos interesses nacio- nais norte-americanos. Os efeitos imediatos sobre as comunidades locais são severos. Alta inci- dência de problemas respiratórios, doenças ligadas às más condições sanitárias e da água e doenças resultantes da exposição a substâncias tóxi- cas reduzem a saúde, o vigor e a dignidade das famílias. A qualidade de vida é reduzida. A capacidade de ganhar a vida é comprometida. As crian- ças aprendem menos, mais devagar e perdem muito da sua escolaridade. Os gastos em assistência médica e remédios são excessivos. A perda de vidas, danos e prejuízos às residências e propriedades são maiores quando atingidas por desastres naturais. Todas as famílias estão em risco, em graus variáveis, mas eles afetam mais severamente as famílias mais pobres, que moram em áreas urbanas superpovoadas e comunidades residentes em terras alheias. As cidades mal administradas contribuem cada vez mais com as severas pre- ocupações ambientais globais. As economias em crescimento necessitam de fornecimentos cada vez maiores de energia e combustível, mas setores energéticos ineficientes e poluentes, má política de transporte e desperdício de energia lançam desnecessariamente grandes quantidades de gases do efeito estufa para a atmosfera. A falta de infra-estrutura ambiental urbana básica na maior parte das cidades do mundo em desenvolvimento canaliza uma torrente de dejetos e esgotos não tratados para os rios, lagos e zonas costeiras, prejudicando os ecossistemas e ameaçando a produtividade e segurança dos corpos d’água. Esses problemas são mais intensos nas cidades em que se originam, mas também prejudicam os interesses norte-americanos de várias e diferentes formas. Os problemas ambientais urbanos minam a expansão econômica sustentável. Economias instáveis podem levar a uma onda crescente de O óleo de Copaíba é extraído do caule da árvore Copaifera langsdorffii Desf.. Esta espécie ocorre na floresta atlântica e amazônica e seu óleo é comercializado para fins medicinais. (Foto: Suzene I. Silva). COMÉRCIO A feira livre de frutas e verduras é um tipo de atividade do setor de produção primária que ocorre no comércio da sociedade rural e urbana (Foto: Suzene I. Silva). 3� refugiados econômicos. As cidades cada vez mais inabitáveis são mais sus- ceptíveis a agitações sociais e instabilidade política. Fortes correntes novas de doenças “exóticas”, que apareceram primeiramente nas ruas sujas e superpovoadas de cidades mal administradas no exterior, vêm aparecendo, com crescente freqüência, nas comunidades norte-americanas, importadas inadvertidamente por visitantes, viajantes de retorno, ou pelo número formi- dável de refugiados ambientais que abandonam suas cidades cada vez mais inabitáveis. Preocupações humanitárias e a necessidade de proteger os cidadãos dos Estados Unidos motivam o alto interesse deste país em ajudar outras nações a aprimorar a administração do seu crescimento urbano e das suas condições ambientais. Esse esforço de apoio funciona através de diversos canais governamentais, com a USAID manipulando a maior parte das inicia- tivas ambientais urbanas no exterior. ” (Fonte: Revista Eletrônica: Assuntos Globais, março de 2000, volume 5, número 1. http://usinfo.state.gov/journals/ itgic/0300/ijgp/ijgp0300.pdf - acesso 9.06.2007)”. Agora, caro(a) aluno(a), identifique os principais problemas do sistema pro- dutivo de seu município, apresentando os mesmos no fórum desta disciplina, na Plataforma Moodle, para uma maior discussão. AMBIENTE URBANO Vista de um aspecto de um centro urbano na sociedade rural. Observe que os elementos presentes no ambiente da cidade no meio rural são menos complexos que os do meio urbano. As famílias moram em casas e não estão submetidas a um tráfego intenso em suas ruas (Foto: Suzene I. Silva). Já na sociedade urbana, as cidades são marcadas pela presença de um complexo conjunto de edifíciose o tráfego é intenso. Estes são fatores que afetam tanto o ambiente quanto o comportamento social das pessoas nas cidades (Fotos: Elcida L. Araújo e Elba M.N. Ferraz). 3� 6. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA ÁVILA-PIRES, F. 15�p. Princípios da ecologia humana. Editora da Universidade. Porto Alegre. BARBIERI, J.C. 1997. Desenvolvimento e Meio Ambiente: as estratégias de mudança da AGENDA 21. Rio de Janeiro, Ed. Vozes. BOCK, A.; BAHIA, O. 2000. Psicologias: uma introdução ao estudo da Psicologia. 1 ª ed. Saraiva, São Paulo. BRAGHIROLLI, M. E.; BISI, G. P.; RIZZEN, L. A.; NICOLETTO, U. 2000. Psicologia Geral. 1ª ed. Vozes, Petrópolis- RJ. CAMPBELL, B. 1983. Ecologia Humana. Edições 70. Lisboa. 260p. DIAS, G.F. 1992. Educação Ambiental: princípios e práticas. Ed. Gaia, São Paulo. HALL, C.S; LINDZEY, G. 1���. Teoria da Personalidade SP, EPU. RICKLEFS, R. E. 1996. A economia da natureza. 3a. ed. Editora Guanabara Koogan. Rio de Janeiro. 469p. ROGERS, C. 1���. Psicologia e pedagogia sobre o poder pessoal. São Paulo, Martins Fontes, 3ª ed. ZIMERMAN, D.; OSÓRIO, L. C. 1���. Como trabalhamos em grupo. 1 ª ed. Artes-Médicas, Porto Alegre. VIRTUAL G O V E R N O F E D E R A L Ministério da Educação
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