Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
DIABETES MELLITUS Revisão Otimize o tempo e a qualidade do seu estudo www.sanarflix.com.br 1. Definição Diabetes Mellitus consiste em um distúrbio metabólico caracterizado por hiperglicemia persistente, decorrente da deficiência na produção de insulina ou na sua ação, ocasionando complicações sistêmicas a longo prazo. 2. Epidemiologia A Federação Internacional de Diabetes estimou que 8,8% da população mundial com idade entre 20-79 anos tem o diagnóstico de diabetes, sendo um importante problema de saúde com índices de incidência crescentes em todos os países, sendo o Brasil o quarto país no mundo com maior número de DM nesta faixa etária. A Organização Mundial de Saúde estima que DM é o terceiro fator da causa de mortalidade prematura, sendo superada apenas por hipertensão arterial e o tabagismo. Estima-se que 46% dos adultos com DM não possui diagnóstico precoce e 83,8% dos casos estão nos países em desenvolvimento. O DM está associado a maiores taxas de hospitalização e maior incidência de problemas cardiovasculares e cerebrovasculares, cegueira, insuficiência renal e amputações não traumáticas de membros inferiores. 2 Resumo de Diabetes Mellitus www.sanarflix.com.br 3. Fisiopatologia O DM pode ser causado por dois mecanismos principais: deficiência na produção ou ação da insulina, sendo classificado em dois grupos principais de acordo com a causa, o tipo 1 e o tipo 2, respectivamente. No DM tipo 1, há deficiência na produção da insulina possui dois mecanismos já estabelecidas: • Autoimune (1A): Possui autoanticorpos (Anti-Ilhota, anti-GAD, anti-IA-2) identificados como marcadores da doença autoimune, que muitas vezes aparecem nos exames antes mesmo das manifestações clínicas. • Idiopática (1B): Não possui marcadores de doença autoimune, não sendo identificada a sua causa. Ambos levam a destruição gradual das células β pancreáticas. Infecções virais e exposição a antígenos vem sendo associadas a insulite, por mimetismo molecular, que em indivíduos com predisposição genética. Devido a sua fisiopatologia, os pacientes que recebem o diagnóstico em sua maioria são crianças e adolescentes, sendo uma quantidade muito inferior de adultos (Latent Autoimmune Diabetes of Adults) desenvolve o DM tipo 1. No DM tipo 2, há resistência à insulina nas células, que gera um aumento da demanda de síntese da insulina na tentativa de compensar o déficit em sua ação, e a manutenção deste quadro, causa uma exaustão das células β pancreáticas, explicando parcialmente o déficit na secreção da insulina nestes pacientes. O hipoinsulinismo relativo, devido a produção insuficiente para a alta demanda sistêmica, não consegue manter os níveis glicêmicos normais e, portanto, há uma hiperglicemia persistente. Outras causas de hipoinsulinismo são descritas, sendo elas a hipossensibilidade das células β pancreáticas à glicose, devido há baixa expressão do GLUT2 e deficiência de incretinas, sendo a causa de ambas ainda desconhecida. 3 Resumo de Diabetes Mellitus www.sanarflix.com.br 4. Clínica O DM tipo 1 possui clínica clássica e o diagnóstico mais precoce devido às suas manifestações agudas. Este grupo é composto por crianças e adolescentes, sendo incomum do aparecimento em adultos, que é denominada de Latent Autoimmune Diabetes of Adults (LADA). Os sintomas que esses pacientes apresentam são: • Poliúria • Polidipsia • Polifagia • Emagrecimento • Enurese noturna e candidíase vaginal podem aparecer em crianças pequenas. Uma manifestação que já pode diagnosticar DM tipo 1, é a cetoacidose diabética, devido ao hipoinsulinismo. Os pacientes com DM tipo 2, em sua maioria, são obesos, sedentários e com outros fatores de risco para doenças cardiovasculares. Alguns pacientes com DM tipo 2 podem apresentar sintomas típico de diabetes, mas a maioria passa meses a anos assintomáticos, só apresentando sintomas quando já possuem lesão em órgão- alvo. 5. Diagnóstico O diagnóstico de diabetes requer critérios clínicos e laboratoriais, sendo demonstrado na tabela retirada da Diretriz da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD), com o que é proposto pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e adotado aqui no Brasil. 4 Resumo de Diabetes Mellitus www.sanarflix.com.br Glicose em jejum (mg/dL) Glicose 2 horas após sobrecarga com 75 g de glicose (mg/dL) Glicose ao acaso HbA1c (%) Observações Normoglicemia < 100 < 140 - < 5,7 OMS emprega valor de corte de 110 mg/dL para normalidade da glicose em jejum.² Pré-diabetes ou risco aumentado para DM ≥ 100 e 126* ≥ 140 e < 200# - ≥ 5,7 e < 6,5 Positividade de qualquer dos parâmetros confirma diagnóstico de pré- diabetes. Diabetes estabelecido ≥ 126 ≥ 200 ≥ 200 com sintomas inequívocos de hiperglicemia ≥ 6,5 Positividade de qualquer dos parâmetros confirma diagnóstico de DM. Método de HbA1c deve ser padronizado. Na ausência de sintomas de hiperglicemia, é necessário confirmar o diagnóstico pela repetição de testes. * Glicemia de jejum alterada e # Intolerância oral à glicose O que estabelece o diagnóstico de DM é a presença de sintomas de hiperglicemia clássicos e exames laboratoriais que confirmem. Na ausência dos sintomas inequívocos de hiperglicemia, os exames precisam ser repetidos. 6. Tratamento O tratamento possui metas glicêmicas como objetivo e varia de acordo com a resposta de cada paciente individualmente. • Crianças e adolescentes o Glicemia pré-prandial: 70 – 145 mg/dl o Glicemia pós-prandial: 90 – 180 mg/dl o Glicemia antes de dormir: 120 – 180 mg/dl o Glicemia da madrugada: 80 – 162 mg/dl o HbA1c: < 7,5% 5 Resumo de Diabetes Mellitus www.sanarflix.com.br • Adultos o Glicemia capilar pré-prandial: 80-100 mg/dl o Glicemia capilar pós-prandial: < 160 mg/dl o HbA1c: < 7,0% É importante ressaltar que o controle glicêmico diário desses pacientes é fundamental para acompanhar a resposta ao tratamento. Mudanças no estilo de vida • Acompanhamento nutricional: adequação da dieta é fundamental para o controle glicêmico, sendo individualizada para cada paciente. Varia de acordo com a idade, gestação, lactação e gasto enérgico. • Atividade física: ajuda no controle da obesidade e aumenta a sensibilidade à insulina em pacientes com DM tipo 2. • Álcool: Aumenta o risco de hipoglicemia para os pacientes que fazem insulinoterapia e aumenta o risco de hiperglicemia devido ao alto teor de glicose em certas bebidas. Farmacológico DM tipo 1 - Insulinoterapia A dose diária de insulina varia de acordo com a duração e a fase do diabetes, sendo preconizada para a doença já estabelecida valores entre 0,5 a 1 U/kg/dia. As medidas diárias podem não ser fixas, sendo alterada pela demanda de cada paciente e o período da vida em que ele se encontra. Os tipos de insulina são classificados de acordo com o tempo de ação de cada, sendo agrupadas: • Ultrarrápida: início 5-15 min, pico 30 min a 1h 30min e age por 4-6h o Lispro, Aspart • Rápida: início 30-60 min, pico 2-3h e age por 5-8h o Regular • Intermediária: início 2-4 h, pico 4-8h e age até 16h o NPH 6 Resumo de Diabetes Mellitus www.sanarflix.com.br • Prolongada: Período de ação entre > 18h o Ultralenta, Glargina • Combinada: o 70% NPH – 30% Regular o 50% NPH– 50% Regular A reposição é feita preferencialmente com uma insulina basal, que pode ser de ação intermediária ou prolongada, para evitar a lipólise e a liberação hepática da glicose entre as refeições, uma insulina de ação rápida ou ultrarrápida durante as refeições (bolus de refeição) e doses adicionais de insulina necessárias para correção de hiperglicemias (bolus de correção). DM tipo 2 – Antidiabéticos orais CLASSE Drogas Mecanismo de ação Efeito Desvantagens C.I. Sulfoniureias Clorpropamida Glicazida Glibencamida ↑ secreção de insulina ↓ 60-70 da glicemia de jejum ↓ 1,5 a 2 HbA1c Hipoglicemia Ganho ponderal Gravidez, insuficiência renal ou hepática Biguanidas Metformina ↑ efeito periférico da insulina (↑ ação hepática) ↓ 60-70 da glicemia de jejum ↓ 1,5 a 2 HbA1c Desconforto abdominal, diarreia, náuseas, deficiência de B12 Gravidez, insuficiência renal/hepática/ cardíaca/pulmonar Inibidores da α- glicosidade Acarbose ↓ absorção de carboidratos ↓ 20-30 da glicemia de jejum ↓ 0,5 a 0,8 HbA1c Meteorismo, flatulência, diarreia Gravidez 7 Resumo de Diabetes Mellitus www.sanarflix.com.br Metiglinidas Repaglinida Nateglinida ↑ secreção de insulina ↓ 20-30 da glicemia de jejum ↓ 1 a 1,5 HbA1c Hipoglicemia Ganho ponderal Gravidez Glitazonas Pioglitazona ↑ efeito periférico da insulina (↑ ação muscular) ↓ 35-40 da glicemia de jejum ↓ 0,5 a 1,4 HbA1c Retenção hídrica, anemia, ganho ponderal, IC e fraturas Gravidez, IC classe III e IV insuficiência hepática Agonistas do GLP-1 Exenatida Liraglutida ↑ do nível sérico de GLP-1 ↓ 30-45 da glicemia de jejum ↓ 0,5 a 1,0 HbA1c Hipoglicemia, náuseas, vômitos e diarreia Hipersensibilidade aos componentes Inibidores da DPP-4 Sitagliptina Vildagliptina ↑ do nível sérico de GLP-1 ↓ 20-30 da glicemia de jejum ↓ 0,6 a 0,8 HbA1c Angioedema e urticária Hipersensibilidade aos componentes Inibidores do SGLT-2 Daplaglifozina Empagliflozina Inibem a reabsorção tubular renal da glicose ↓ 30-40 da glicemia de jejum ↓ 0,5 a 1,0 HbA1c Infecção genitourinária, poliúria Disfunção renal Há um consenso mundial que recomenda como medidas iniciais para os pacientes com diagnóstico recente de DM tipo 2, modificações do estilo de vida associada ao uso de metformina. • Pacientes com manifestações leves: Glicemia < 200mg/dl, com sintomas leves ou ausentes, sem complicações associadas, deve-se evitar medicamentos que aumentes a secreção de insulina. 8 Resumo de Diabetes Mellitus www.sanarflix.com.br • Pacientes com manifestações moderadas: Glicemia de jejum 200-300 mg/dl, na ausência de complicações, deve-se associar a metformina com outro hipoglicemiante oral. o Inibidor da DDP-4 ou SGLT-2, acarbose, análogos GLP-1, glitazona • Pacientes com manifestações graves: Glicemia de jejum > 300 mg/dl com perda significativa de peso, cetonúrias e complicações, deve-se iniciar a insulinoterapia. Pacientes com DM possuem uma gama de complicações agudas e crônicas associadas, que devem ser rastreadas rotineiramente: • Agudas: Cetoacidose diabética, estado hiperglicêmico hiperosmolar não- cetótico e hipoglicemia. o Tríade de Wipple: Sinais e sintomas de hipoglicemia, glicemia capilar ≤ 70 e melhora clínica evidente após administração de glicose • Crônicas: Retinopatia diabética, DAC e cerebrovasculares, doença arterial obstrutiva periférica, nefropatia, neuropatia periférica. Referências bibliográficas 1. Diretrizes da Sociedade Brasileira de Diabetes 2017-2018. São Paulo: Editora Clannad, 2017. 2. Longo, DL et al. Harrison’s Principles of Internal Medicine. 19th ed. New York: McGraw-Hill, 2015. 3. Goldman, L.; Schafer, AI. Goldman’s Cecil Medicine. 25th ed. Philadelphia: Elsevier Saunders, 2016. 9 Resumo de Diabetes Mellitus www.sanarflix.com.br
Compartilhar