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Cartilha caminhos da convivência

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Realização Apoio
 Convênio 3122/05
Secretaria de Estado de Saúde
do Distrito Federal
Ministério
da SaúdeNúcleo de Estudos e Programas
para os Acidentes e Violências
Esta publicação, com uma linguagem simples e acessível a públicos 
variados, compartilha olhares de diversos autores, estudiosos e 
experientes no assunto relativo à violência contra crianças, adolescentes, 
mulheres, homens e idosos.
A sua finalidade primordial é contribuir para o paradigma da 
prevenção primária da violência nas unidades de saúde, principalmente 
no âmbito da Atenção Básica, bem como na Educação, Assistência, entre 
outras áreas que lidam com tais grupos sociais. 
Dada a complexidade da violência em nossa sociedade, a efetiva 
prevenção passa pela compreensão do fenômeno e por ações que 
possam interferir em suas circunstâncias e seus eixos desencadeadores.
À frente desta proposta está o Núcleo de Estudos e Programas para 
os Acidentes e Violências – NEPAV – da Secretaria de Estado de Saúde 
do Distrito Federal, com a incumbência de apontar caminhos para 
diferentes profissionais, sempre com o intuito de apoiar a promoção da 
convivência saudável nos diversos ciclos de vida.
CAMINHOS PARA UMA
CONVIVÊNCIA SAUDÁVEL
NA PERSPECTIVA DA SAÚDE
Secretaria de Estado de Saúde
do Distrito Federal
Secretaria de Estado de Saúde
do Distrito Federal
Brasília, 2009
CAMINHOS PARA UMA
CONVIVÊNCIA SAUDÁVEL
Na PersPectiva da saúde
SECRETARIA DE ESTADO DE SAÚDE DO DISTRITO FEDERAL
É permitida a reprodução parcial ou total desta obra, desde que citada a fonte
Organização do Projeto
Laurez Ferreira Vilela
Grupo de Trabalho Técnico
Ana Lúcia Correa e Castro
Eliane Figueiredo Souza Jardim Corrêa
Laurez Ferreira Vilela
Marcelle Passarinho Mori
Tânia Mara Campos de Almeida
Vanessa Canabarro Dios
Edição, discussão e informações
SECRETARIA DE ESTADO DE SAÚDE DO DISTRITO FEDERAL
Subsecretaria de Atenção à Saúde
Diretoria de Assistência Especializada
Gerência de Recursos Médico Hospitalares
Núcleo de Estudos e Programas para os Acidentes e Violência
SIA Sul Quadra 4C Lotes 02/07 Sobreloja do BRB
CEP: 71200-040
Tel.: (61) 3905 4635
Fax: (61) 3905 4637
E-mail: nepavses@gmail.com
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
NAU/BCE/FEPECS
 Caminhos para uma convivência saudável na perspectiva da saúde. / Laurez Ferreira
 Vilela (Org.). – Brasília: Secretaria de Estado de Saúde do Distrito Federal, 2009.
 128 p. il.
 ISBN 85-89439-50-x
 1. Prevenção da violência contra crianças e adolescentes. 2. Prevenção da violência 
 contra mulheres. 3. Promoção da saúde do homem versus violência. 
 4. Prevenção da violência contra a pessoa idosa. 5. Novas possibilidades de relações. 
 6. Atividades Preventivas. I. Vilela, Laurez Ferreira.
 CDU 316.48:614
Apresentação 5
I – Módulo – Prevenção da violência contra crianças e adolescentes 7
A importância do desenvolvimento saudável da criança e do adolescente 8
Negligência – estratégias preventivas 13
Caminhos para educar sem castigo físico 19
Prevenção da violência sexual na infância e na juventude 23
A prevenção do trabalho infantil e a proteção do adolescente no trabalho 30
Bullying Escolar – conhecer para enfrentar 35
Prevenção da violência psicológica 38
Prevenção à violência na juventude 44
Aprendendo a conviver para prevenir a violência 48
Grupo de Instrumentalização de Pais – GIP 52
II – Módulo – Prevenção da violência contra mulheres 55
Orientações para a prevenção da violência contra as mulheres 56
III – Módulo – Promoção da saúde do homem x violência 64
IV – Módulo – Prevenção da violência contra a pessoa idosa 67
Prevenção primária da violência contra o idoso 68
V – Módulo – Novas possibilidades de relações 73
Assédio moral no trabalho: é possível prevenir 73
No caminho pedagógico da paz nas águas 78
Resiliência 84
VI – Módulo – Atividades preventivas para fortalecer grupo 100
Dança maluca ...............................................................................................................102
Construção coletiva da PAZ ............................................................................................102
Atravessando um rio ......................................................................................................102
O varal da violência – conhecer para prevenir ................................................................. 103
Definindo violência psicológica ......................................................................................104
Convivência familiar ......................................................................................................104
Roda de conversa – cuidando do corpo ..........................................................................105
sumário
Caminhos para uma ConvivênCia saudável na perspeCtiva da saúde
4
Empoderamento – acreditando no seu potencial ............................................................105
Prevenção de situações de risco na adolescência ...........................................................106
Textos de apoio..............................................................................................................106
Todo mundo já teve a primeira vez menos eu .................................................................106
Estudo de caso ..............................................................................................................107
Prevenção do Bullying ......................................................................................................................107
Atividades com mulheres ...............................................................................................108
Técnicas para trabalhar relações de poder e gênero .......................................................109
Tempestade de idéias ....................................................................................................109
Pessoas e coisas ............................................................................................................109
O que é ‘gênero’? ...........................................................................................................110
Risco e violência: as provas de coragem .........................................................................111
Prevenção da violência contra o idoso ............................................................................112
Sentimentos ..................................................................................................................112
Trabalhando preconceitos ..............................................................................................113
Juntos somos mais ........................................................................................................113
Técnicas para utilização em metodologias participativas – realização de Oficinas ...........114
Desenho do nome ..........................................................................................................115
Mãozinhas .....................................................................................................................116
Salada de frutas ............................................................................................................116
Passando a bola ............................................................................................................117
Balão na roda ................................................................................................................118
Projeto de vida ..............................................................................................................119Texto de apoio ...............................................................................................................120
Música: Tente Outra Vez .................................................................................................121
Anexos 122
Locais na Rede de Saúde que realizam acompanhamento especializado
às vítimas de violência ...................................................................................................122
Telefones Úteis do Distrito Federal ...................................................................................123
COSE’s – Relação dos Centros de Orientação Socioeducativa ...........................................125
CREAS – Relação dos Centros de Referência Especializados de Assistência Social ..................127
aPreseNtaÇÃo
O Núcleo de Estudos e Programas para os Acidentes e Violência – NEPAV – da Secretaria de Estado 
de Saúde do Distrito Federal, cujo objetivo é reduzir a morbimortalidade por acidentes e violências, 
implantou como estratégia para desenvolver ações locais os Programas de Prevenção e Atendimento 
às Vítimas de Acidentes e Violência – PAVs – nas regionais de saúde do DF.
Diante da dificuldade em realizar a prevenção primária da violência a equipe desse Núcleo elabo-
rou esta publicação com uma linguagem positiva, que aponta alternativas a profissionais que lidam 
com a população de todas as áreas, principalmente para os que atuam na Atenção Básica à Saúde 
para desenvolver um trabalho de multiplicação sobre promoção da saúde e prevenção das diversas 
formas de violência. Aponta ações possíveis no espaço da saúde, educação, igrejas, instituições, co-
munidade, em ambientes que reúnam grupos de crianças e adolescentes, mulheres, adultos e idosos.
Considera-se prevenção primária as medidas de promoção à saúde e proteção específica, cujo 
objetivo é evitar que a violência se manifeste. Para isso deve-se atuar nos fatores de risco, visando 
reduzir a exposição de grupos populacionais, bem como atuar nos mecanismos protetores. Dessa 
forma, buscamos proporcionar alguns caminhos e possibilidades para uma convivência saudável.
Sabe-se que as violências se reproduzem de forma naturalizada, invisível e simbólica em nosso 
cotidiano. Elas atingem parcela importante da população e repercutem de forma significativa sobre 
a saúde física e mental das pessoas a ela submetidas, independente de idade, sexo, raça, religião, 
nacionalidade, escolaridade ou classe social.
A violência também configura um problema de Saúde Pública relevante que provoca mortes e 
adoecimento. Tal situação aumenta o número de atendimentos hospitalares, causa debilidade físi-
ca, sofrimento e transtornos mentais, reduz a qualidade e o tempo de vida, abala a autoestima e o 
bem-estar da população.
Fenômeno complexo, a violência envolve fatores sociais, ambientais, culturais, econômicos e polí-
ticos, constituindo-se em um desafio para profissionais e gestores do Sistema de Saúde e parceiros. 
Para seu enfrentamento, necessita-se de ações interdisciplinares, transdisciplinares e intersetoriais, 
além de comprometimento profissional e comunitário para juntos atuarem na formação de redes 
de prevenção e atendimento.
Abordaremos as várias formas de violência, pois algumas pessoas não percebem seus atos 
agressivos. É indispensável dar visibilidade ao fenômeno e suas consequências para mudança do 
padrão de comportamento.
Situações opressoras ainda são aceitas, pois estão alicerçadas em crenças e costumes familiares 
e culturais repassados de modo praticamente automático e que, portanto, não são questionados 
por nós nem nos são conscientes.No entanto, esses valores, preconceitos e julgamentos autoritários 
violam nosso direito a uma vida autônoma e feliz. Por isso, é preciso uma auto-reflexão constante 
para identificar valores conservadores, a influência destes padrões no cotidiano e se nos dispomos 
a romper com ideologias impostas que causam prejuízos e restringem possibilidades de uma exis-
tência plena.
Independente de a pessoa vivenciar ou não situações de violência, devemos apontar ou facilitar 
o caminho para que o/a usuário/a do serviço desfrute de uma melhor existência, autonomia, boa 
saúde física e mental e tenha noção plena de seus direitos a uma vida sem violência.
Para tal consecução, esta publicação está dividida em seis módulos. Contempla os seguintes temas:
Prevenção da violência contra crianças e adolescentes
Prevenção da violência contra mulheres
Promoção da saúde do homem versus violência 
Prevenção da violência contra a pessoa idosa
Novas possibilidades de relações: no trabalho, com a água e estratégia de superação/resiliência
Atividades preventivas para fortalecer grupos
5
Caminhos para uma ConvivênCia saudável na perspeCtiva da saúde
6
A proposta é atuar em favor de mudanças no padrão de sentimentos, pensamentos e compor-
tamentos do sujeito, da família e da comunidade, o que sabemos não ser nada fácil, além de exigir 
respeito e esforço árduo de todos envolvidos no processo.
É imprescindível a ação intersetorial para alcançarmos uma cultura de paz, para o resgate de 
valores essenciais para a boa convivência como o respeito ao próximo e às diferenças de raça, idade, 
gênero, orientação sexual, classe social e outros. A escola é uma parceira indispensável na prevenção 
da violência, seguida das unidades de saúde, assistência social, igrejas, associações comunitárias, 
de bairro, prefeituras, mídia, dentre outros. Equipes interdisciplinares com formação específica para 
acompanhar famílias em situações de violência, possibilitando intervenção qualificada e resolutiva, 
também são fundamentais nesse enfrentamento.
Destaca-se a importância de realizar o diagnóstico da violência local a partir das notificações 
da Saúde e órgãos envolvidos com a mesma temática, divulgar os dados na comunidade para que 
juntos – comunidade, instituições e/ou órgãos, possam buscar estratégias de prevenção e promoção 
da qualidade de vida da população.
Sem a intenção de responder todas as questões relacionadas à violência e muito menos propor 
receitas prontas, a equipe do NEPAV acredita que este material possa apoiar profissionais de todas 
as áreas, pais e responsáveis, na busca por relações mais harmoniosas, igualitárias e prazerosas 
em suas famílias e em sua comunidade, promovendo, assim, uma convivência saudável.
Caminhos para uma ConvivênCia saudável na perspeCtiva da saúde
Na nossa sociedade a família é o espaço ideal para o desen-
volvimento físico, mental e social de suas crianças e adolescen-
tes. A comunidade e o Estado são corresponsáveis por legitimar 
e contribuir com esse pleno desenvolvimento, principalmen-
te no fortalecimento das competências familiares, para que 
possam cuidar adequadamente de sua prole, na busca da pro-
teção integral.
Esse módulo visa apontar alternativas positivas para educação 
de crianças e adolescentes, abordando aspectos relacionados 
ao estabelecimento de limites, resgate da autoridade dos pais e 
cuidadores, ritmo com disciplina e reconhecimento dos direitos 
básicos. Além de estimular a reflexão acerca das necessidades 
para o crescimento e o desenvolvimento saudável das crianças 
e adolescentes. É dirigido aos profissionais da Atenção Básica à 
Saúde e a todos os outros que lidam com essa população.
Será abordada a importância de se conhecer as fases de desenvolvimento da criança e do 
adolescente, além de relações de respeito e afeto, diálogo e bons exemplos de pais, responsáveis, 
profissionais e educadores. Os cuidadores desempenham um papel crucial na formação do indivíduo, 
pois é a partir da construção do vínculo, do sentimento de pertencimento e do suporte de modelos 
adultos positivos que ocorre o desenvolvimento.
Destaca-se a importância de vivenciar o lúdico na infância para o desenvolvimento de capaci-
dades e habilidades, e também a compreensãodo período da adolescência com suas mudanças 
biopsicossociais que necessitam ser compreendidas dentro de seu contexto. Assim, discute-se a 
necessidade de um ambiente familiar e social que lhes propicie condições saudáveis e que inclua 
estímulos positivos, equilíbrio, vínculo afetivo, momentos lúdicos, diálogo, o resgate de valores, o 
incentivo ao projeto de vida, entre outros aspectos.
Alguns contornos serão traçados para a compreensão da violência familiar. Na nossa sociedade, 
a família é um dos espaços onde ocorrem os fatos mais expressivos da vida das pessoas: a desco-
berta do afeto, da subjetividade, da sexualidade, experiências de vida extremamente significativas, 
socialização, a formação da identidade pessoal e social, dentre outras construções emocionais. 
Nesse meio realizamos o primeiro aprendizado sobre os significados dos afetos e sobre represen-
tações, opiniões, valores, esperanças e frustrações.
Geralmente, a família é o porto seguro, sendo considerada por seus membros a referência 
primária e espaço de proteção e segurança. Nela, procuram refúgio sempre que ameaçados. No 
entanto, há vários casos em que, no núcleo familiar, acontecem situações extremamente dolorosas, 
que modificam para sempre a vida de um indivíduo, deixando marcas em sua existência. A violência 
física, psicológica, sexual e a negligência, que muitas vezes é vista como forma natural de educação, 
podem causar prejuízos à saúde física e emocional. Um ambiente familiar hostil e estressante 
afeta seriamente não só a capacidade de aprendizagem da criança e do adolescente, como o 
desenvolvimento físico, mental, social e emocional de todos. 
Portanto, realizar a prevenção de todas as formas de violência e encaminhar os casos de violação 
de direitos para a Rede Intersetorial para que haja uma intervenção multidimensional é um compro-
misso profissional. Tal Rede é composta por várias instituições governamentais e não-governamentais 
que realizam proteção, responsabilização e atendimento às vítimas.
Espera-se que ações de prevenção e a educação de crianças e adolescentes voltada para o afeto, 
o vínculo e o respeito ao próximo venha possibilitar a construção de relações mais saudáveis em 
nossa sociedade.
módulo i
PreveNÇÃo da violÊNcia 
coNtra criaNÇas e adolesceNtes
7
8
a imPortâNcia do deseNvolvimeNto 
saudável da criaNÇa e adolesceNte
Laurez Ferreira Vilela*
Toda criança precisa de cuidados desde a sua concepção. Por isso, é necessário evitar que entre 
em contato com os efeitos danosos do álcool, tabaco e outras drogas, além de um ambiente livre 
de brigas.
A gestante necessita realizar o pré-natal para prevenir danos a ela e ao filho. A participação do 
pai no momento das consultas, no parto e nos cuidados com a criança também é importante para 
fortalecer laços afetivos e de responsabilidades.
Contar com outras pessoas da comunidade e parentes nos cuidados com a criança, principalmente 
em situações excepcionais ou imprevistas, permite apoio e segurança para a família.
Além destas redes informais, deve-se identificar os serviços existentes em sua comunidade como 
saúde, educação, assistência social, creche, ONGs e associação de moradores, para ampliar a rede 
de apoio e garantir seus direitos.
Conhecer as fases de desenvolvimento da criança, com suas características, limitações e os 
cuidados em cada etapa do infante contribui para reduzir atos de violência intrafamiliar. Os adultos 
muitas vezes esperam que a criança faça ou entenda alguma coisa para a qual não está prepara-
da. Outras vezes não percebem que o seu modo de se relacionar com a criança está lhe causando 
algum dano. Além disso, a família deve reconhecer a necessidade da criança de vivenciar o lúdico, 
a interação afetiva com seus pais ou responsáveis, vivenciar exemplos construtivos e o respeito para 
que possam se desenvolver de forma saudável.
Por favor, mamãe e papai
Minhas mãos são pequenas – eu não derramo meu leite de propósito.
Minhas pernas são curtas – por favor, andem devagar, assim eu posso acompanhá-los.
Eu amo coisas brilhantes e bonitas, então tenham paciência comigo quando eu tento tocá-las.
Por favor, olhem para mim quando eu falo com vocês – eu me sinto muito bem quando 
eu sei que vocês estão me ouvindo.
Eu preciso experimentar coisas novas – me ajudem a fazer erros sem me sentir estúpido.
A cama que eu faço ou o quadro que desenhei podem não ser perfeitos – só me amem por tentar.
Lembre-se, eu sou uma criança, não um adulto pequeno. Algumas vezes eu não entendo quando 
vocês estão falando.
Eu os amo, me ajude a entender que vocês me amam pelo que sou.
In: Vírginia Coalition for Child
Abuse prevention Month, 1996
Ao nascermos somos totalmente dependentes e temos necessidades que precisam ser supridas 
pelos nossos cuidadores, mas nem sempre há um entendimento desses cuidados da maneira mais 
adequada. Quer seja pela imposição de regras rígidas, quer seja em nome da distorcida “educação 
do bebê” para que não fique manhoso e dependente de colo, seus responsáveis podem acabar por 
negligenciar suas necessidades de carinho, de troca de roupa e até mesmo de alimentação. Há 
crenças comuns como, por exemplo, as que afirmam rigidamente existir “hora ou momento” certo 
para cada atividade, sem levar em conta o choro compulsivo, o medo ou a insegurança da criança. 
Assim, devemos rever esses valores distorcidos e proporcionar à criança um desenvolvimento de 
acordo com as suas particularidades etárias e individuais.
* Assistente Social, Especialista em Violência Doméstica contra Criança e Adolescente, Especialista em Terapia Familiar, Pós gra-
duada em Educação Sexual.
Caminhos para uma ConvivênCia saudável na perspeCtiva da saúde
9
CONHECENDO AS CARACTERÍSTICAS DAS FASES DE DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA
CARACTERÍSTICAS DAS FASES DE DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA (0 A 11 ANOS)
Nascimento
até 2 anos
 O bebê depende completamente e o tempo 
todo dos adultos.
 Uma das formas privilegiadas que ele tem 
para comunicar-se é o choro.
 Nessa fase, o contato físico é muito impor-
tante para o desenvolvimento do bebê.
 O colo dá segurança ao bebê.
 Ele ainda não consegue compartilhar seus 
brinquedos quando está brincando com 
outras crianças.
 Quando o bebê chora, tenha paciência e des-
cubra porque ele está chorando. Veja se está 
com fome, sujo, se sente calor, frio ou dor. Às 
vezes, ele chora só porque quer estar perto da 
mãe, do pai ou de outro cuidador.
 Não deixe o bebê aos cuidados de outra crian-
ça, mesmo que seja só por alguns instantes.
 De um a dois anos, o bebê não entende direito o 
que você fala, mas percebe claramente quando 
um adulto fala afetivamente com ele.
Dos 2 aos
3 anos
 A criança começa a manifestar sua vontade 
e é extremamente curiosa.
 Nesta fase, a exploração dos diferentes 
espaços e dos objetos é necessária e 
importante para o desenvolvimento do 
conhecimento da criança.
 Entretanto, é preciso que um adulto esteja 
sempre junto dela para evitar acidentes.
 A criança precisa aprender o que pode e o 
que não pode fazer. Prepare-se para dizer 
“não” muitas vezes.
 Ela começa a aprender a controlar seu xixi 
e cocô e a pedir para ir ao banheiro e já 
pode começar o treinamento da higiene, 
abandonando as fraldas aos poucos.
 Entende várias coisas do que se pede a ela, 
mas pode se recusar a entender.
 Evite acidentes. Procure criar um ambiente 
seguro para as crianças brincarem. Tire do 
alcance qualquer objeto perigoso (medicamen-
tos, produtos de limpeza, coisas que possam 
quebrar, ser engolidas, que cortem ou com 
pontas). Cubra as tomadas.
 Também é preciso impedir que as crianças 
fiquem sozinhas em locais como banheiro 
molhado, perto do fogão, perto de janelas ou 
na porta da rua.
 Se ela está na creche, procure conhecer bem 
o local e ascrecheiras e esteja presente e 
interessado nas atividades da escolinha e do 
seu filho. Mantenha esses cuidados durante 
toda a vida escolar.
Dos 3 aos
5 anos
 A criança é muito ativa; fala sozinha; 
inventa “amigos imaginários”; colabora 
com seus pais e professores e espera a 
aprovação deles.
 Nessa fase ela está testando os limites do 
que pode e não pode fazer.
 Costuma tocar seus genitais e fazer per-
guntas sobre como nascem os bebês.
 Explique sempre seus motivos quando disser 
não.
 Eduque seu filho por meio de brincadeiras. 
Brinque sempre com ele.
 Quando sair com ele, leve algo para distraí-lo, 
como um brinquedo.
 Responda às perguntas sobre sexo, na medida 
em que surgem e de forma bem simples.
Dos 6 aos
11 anos
 As crianças começam a se relacionar em 
sociedade e podem acontecer situações 
de conflito na família e na escola.
 Por outro lado, a criança já é capaz de 
escutar e entender as razões dos outros.
 Gostam de se relacionar com outras crian-
ças por meio de conversas ou jogos e de 
explorar o mundo correndo e pulando. 
Cada vez mais, ela consegue repartir os 
brinquedos
 É uma fase de muitos acidentes, brigas 
com irmãos e também de muita bagunça.
 Já têm consciência sobre as atitudes que 
sociedade espera de um homem e de 
uma mulher.
 A influência do grupo de amigos começa 
a ficar mais forte.
 É o momento para os pais, mães e educado-
res apresentarem com clareza os valores e os 
limites de comportamento que acham impor-
tantes, envolvendo mais responsabilidades de 
acordo com a idade.
 É sempre bom explicar a importância dos 
estudos e da rotina.
 Os pais são tomados como modelos de com-
portamento. As atitudes familiares dizem mais 
que as palavras.
 Assim como se devem impor limites e chamar 
a atenção para a importância de se respeitar 
os outros e as regras, também é necessário 
valorizar as crianças pelo bom comportamento 
e elogiá-las por suas conquistas.
 É importante que a criança participe das deci-
sões familiares e que seus desejos e vontades 
sejam levados em consideração.
 Os pais devem estar de acordo sobre a edu-
cação do filho. Quanto mais velho, mais ele 
percebe as contradições entre os pais.
Fonte: Cuidar sem violência todo mundo pode – Guia Prático para Famílias e Comunidades – Instituto Promundo.
Caminhos para uma ConvivênCia saudável na perspeCtiva da saúde
10
Você sabe como deve proceder para a 
criança crescer de forma saudável?
A televisão é um importante veículo de informação 
e repasse de valores, mas nem sempre a programação 
é adequada às crianças. É imprescindível que os pais 
selecionem os programas que possam contribuir com a 
formação da criança e do adolescente. No entanto, não 
podemos deixar que a TV seja a única fonte de entrete-
nimento dessa faixa.
A música também é um canal de transmissão de valo-
res. Os pais devem selecionar o repertório apropriado a 
cada faixa etária, debater com os filhos as músicas que 
por ventura estejam ouvindo ou cantando e que tenham 
cunho pejorativo, para desenvolver senso crítico e des-
cartar, por exemplo, as que possuem letras de incentivo 
à violência contra a mulher.
O lúdico adequado a cada idade é crucial no desenvol-
vimento de capacidades e habilidades da pessoa humana. 
Sendo o brincar a principal atividade das crianças, vão vivenciando experiências e internalizando o 
funcionamento do mundo adulto. Nessa fase de aprendizado acelerado e de descobertas, é importante 
se relacionar com adultos e com outras crianças.
A família deve proporcionar um ambiente seguro e 
livre de acidentes para que as crianças possam explo-
rar, tocar, mexer, cantar, dançar. Além disso, os pais 
devem reservar um tempo para interagir com os filhos, 
brincar, estimular a leitura, contar estórias, passear, 
incentivar novas atividades, elogiar suas pequenas 
conquistas, monitorar as tarefas escolares. Sabemos 
que, com a vida agitada no dia a dia, não sobra tempo 
para essa interação, mas esses momentos lúdicos e 
de atenção devem ser prioridade. Uma estratégia é 
buscar atividades que a criança goste e que também 
agradem ao adulto. Isso faz bem para toda a família. 
A criança, por ser totalmente dependente de seus 
responsáveis, fica insegura quando vê seus pais sain-
do de casa para o trabalho. Muitas vezes espera o dia 
inte iro 
na porta aguardando a volta do pai ou da mãe. Dessa 
forma, é necessário conversar com a criança e informar 
que na hora do almoço, jantar ou noite estará de volta 
para que ela sinta que não foi abandonada.
Portanto, além da fantasia, a criança precisa e tem 
direito de estudar, estar a salvo de todas as formas 
de opressão, viver em local seguro e protetor, ou seja, 
crescer em famílias onde estejam livres da violência e te-
nham os cuidados que precisam para se desenvolver.
A importância do referencial familiar 
Nosso referencial tem importância na vida de nos-
sos filhos, pois existe uma tendência a repetir nossas 
histórias de vida. Os pais e responsáveis, querendo ou 
não, são modelos de comportamento para a criança e 
Caminhos para uma ConvivênCia saudável na perspeCtiva da saúde
11
o adolescente. O cérebro apreende mais rápido e com consistência aquilo que vê, de tal modo que 
as atitudes familiares dizem mais que as palavras, o que exige uma avaliação constante de seus 
atos. Assim, devemos fazer uma reflexão e verificar quais são os valores e crenças que estamos 
passando para nossos filhos.
A maneira como os pais expressam e administram sentimentos torna-se um modelo que será 
lembrado por seus filhos em suas vidas. As crianças absorvem tudo que os pais fazem. Assim, quando 
os pais adotam comportamentos negativos sobre tudo e todos, ensinam a não ver o lado positivo. 
Um padrão de agressividade na família pode ensinar crianças que esta é uma forma natural de re-
solver conflitos. O uso de substâncias químicas, álcool, fumo, auto-medicação ou comportamento 
ansioso ou discriminatório pode ser uma influência danosa para os filhos.
Quando os pais buscam apoio no cônjuge, nos amigos 
e na família, e em troca proporcionam apoio e afeto, 
mostram o valor da gratidão e também que precisamos 
dos outros. Por outro lado, quando resolvem os proble-
mas sozinhos sinalizam que somos capazes de buscar 
a solução, através de forças interiores. Esses modelos 
fortalecem a criança e adolescente para lidar com adver-
sidades no futuro. 
O reconhecimento do que fazemos bem é uma for-
ma de motivação e satisfação pessoal. A família que 
tem o hábito de elogiar as ações (tarefas domésticas 
realizadas, contribuição na comunidade, escola, igre-
ja), comportamentos (generosidade, responsabilidade, 
sinceridade) além de êxitos e habilidades (escolares, 
esporte, artísticos, no trabalho...), possibilita fortalecer 
a autoestima de seus membros e os vínculos afetivos.
A negociação que é estabelecida entre o casal, o 
compartilhar tarefas domésticas, o respeito nas relações 
amorosas são legados importantes para a prole, além 
de modelos para os relacionamentos futuros.
Destacamos que a demonstração de afeto para com 
os filhos exige atitudes. Não basta dizer “amo você”. As palavras precisam ser acompanhadas de 
gestos de carinho, aceitação, afeição, apreciação e atenção ao que sentem e dizem. Crianças que 
sentem que são amadas e aceitas estruturam recursos próprios indispensáveis para perseguir seus 
objetivos, criar laços com outras pessoas, se defender de situações de risco, além de desenvolver 
respeito por seu valor pessoal.
Você conhece os direitos da criança e do adolescente?
As crianças e adolescentes não são propriedade dos pais. São pessoas que possuem direitos e 
precisam ser respeitadas de acordo com suas características e necessidades individuais. Conforme 
o artigo 227 da Constituição Federal doBrasil, “É dever da família, da sociedade e do Estado asse-
gurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à 
educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivên-
cia familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, 
exploração, violência, crueldade e opressão.” 
Art. 5° – “Nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de negligência, discri-
minação, exploração, violência, crueldade e opressão, punido na forma da lei qualquer atentado, por 
ação ou omissão, aos seus direitos fundamentais.” Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA.
Um instrumento que ajuda a fazer cumprir as leis é o Conselho Tutelar. A sociedade e a família 
podem recorrer a esse órgão sempre que os direitos das crianças forem desrespeitados.
Ressaltamos que ao nascer o bebê tem direito a Certidão de Nascimento. Qualquer Cartório 
de Registro Civil ou hospital com esse serviço pode emiti-la gratuitamente, garantindo o direito de 
Caminhos para uma ConvivênCia saudável na perspeCtiva da saúde
12
cidadania, que permite o acesso aos serviços de saúde, educação e outros. Nessa fase, a criança 
deve ser vacinada, conforme o calendário do Cartão da Criança, para prevenir doenças. 
Portanto, é de suma importância cuidar, conhecer e educar crianças e adolescentes para que 
possam impulsionar seus direitos e garantir sua proteção.
Direitos da criança e adolescente
 Direito de ser respeitado
 Direito a dar sua opinião nas decisões da família
 Direito de mudar de ideia
 Direito de escolher livremente
 Direito de viver sem medo
 Direito de não ser maltratado
 Direito de sentir raiva pelas palavras que ouve
e pancadas que leva
 Direito de mudar sua situação
 Direito de pedir e receber ajuda
 Direito de não estar isolado e de compartilhar 
seus sentimentos
 Direito de dizer o que pensa e sente
 Direito de não ser perfeito
 Direito de ser diferente. 
Fonte: Adaptação: Cuidar sem violência todo mundo pode – Guia Prático para Famílias e Comunidades – Instituto Promundo
Concluindo, a criação dos filhos exige muito mais que alimentação e vestuário. É necessário aten-
ção, amor, proteção, monitoramento, interação com os pais, referencial construtivo, reconhecimento 
e acesso aos seus direitos para o pleno desenvolvimento, nas suas diversas fases.
Referências Bibliográficas
PROMUNDO e CIESPI. Cuidar sem violência, todo mundo pode. Fortalecendo as Bases de Apoio e 
Comunidades para Crianças e Adolescentes. Disponível em www.promundo.org.br.
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resources_10178.htm.
NOLTE, D.L; HARRIS, R. As crianças aprendem o que vivenciam. Rio de Janeiro: Sextante, 2003.
VILELA, Laurez (coord.). Manual para Atendimento às Vítimas de Violência na Rede Pública do DF. Se-
cretaria de Estado de Saúde do Distrito Federal. Brasília, 2008.
13
NegligÊNcia – estratégias PreveNtivas
Ana Lucia Correa e Castro*
“Nenhum idoso será objeto de qualquer tipo de negligência, discriminação, violência, crueldade 
ou opressão, e todo atentado aos seus direitos, por ação ou omissão, será punido na forma da lei”. 
Art. 4º do Estatuto do Idoso.
“Nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de negligência, discriminação, 
exploração, maus-tratos, crueldade e opressão, punido na forma da lei qualquer atentado, por ação 
ou omissão, aos seus direitos fundamentais”. Artigo 5° do Estatuto da Criança e do Adolescente.
“É assegurado à gestante, através do Sistema Único de Saúde, o atendimento pré e perinatal”. 
Artigo 8° do Estatuto da Criança e do Adolescente
A legislação brasileira, no tocante a temas 
sociais, é tida como uma das mais avançadas do 
mundo. A Constituição Federal, base de todas as 
demais legislações, observa no artigo 3º, nos ob-
jetivos fundamentais da República Federativa do 
Brasil: (I) construir uma sociedade livre, justa e 
solidária; (II) garantir o desenvolvimento nacional; 
(III) erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir 
as desigualdades sociais e regionais; (IV) promo-
ver o bem de todos, sem preconceitos de origem, 
raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de 
discriminação.
Fica explícita a busca de uma sociedade onde 
respeito, cuidado, atenção, proteção, prevenção, 
assistência das pessoas e, consequentemente, das 
famílias, fazem parte de um projeto nacional. Neste 
âmbito, as relações, sejam individuais ou institucio-
nais, não toleram qualquer situação que viole o paradigma acima exposto. A violência seja qual for 
sua expressão, tipo ou intensidade, se constitui uma violação dos direitos do cidadão. Neste contexto 
se inscreve a negligência, porta de entrada para as demais situações de violência. 
No âmbito deste trabalho, entende-se negligência como a omissão de responsabilidades da fa-
mília, sociedade e/ou Estado em suprir as necessidades básicas, físicas e emocionais, em relação a 
pessoas em situação de vulnerabilidade em face de idade e/ou situação permanente ou temporária 
de vida.
No tocante a pessoas vulneráveis, pode-se citar crianças, adolescentes, gestantes, puérperas, 
usuários com patologias graves, acometidos de transtorno mental grave, acidentados, portadores 
de necessidades especiais, idosos, dentre outros.
Conforme a intensidade do dano, uma negligência pode ser enquadrada como moderada ou se-
vera. Na primeira, o fato desencadeador e as consequências não geram danos graves e não houve 
intencionalidade. Na negligência severa, havendo ou não a intenção, configuram-se prejuízos físicos 
e psíquicos podendo levar a sequelas graves, irreversíveis, inclusive à morte. Também se enquadra 
nesta categoria família com polireincidência de denúncias ou serviço que, por omissão ou descaso, 
agrave a situação da pessoa vulnerável. O dano emocional proveniente de negligência tende a causar 
sequelas, uma vez que o sofrimento psíquico intenso pode desdobrar-se em quadros ansiosos, medo, 
fobia, delinquência, agressividade, dificuldade na aprendizagem, diversos transtornos, inclusive de 
comportamento, suicídio e outros. A negligência, familiar ou social, também pode levar à delinquên-
cia ou mesmo à criminalidade.
* Assistente Social. Terapeuta Familiar. Especialista em Violência Doméstica contra Crianças e Adolescentes. Especialista em Saúde Mental.
Caminhos para uma ConvivênCia saudável na perspeCtiva da saúde
14
O processo preventivo, apesar de considerar as situações de risco, deve investir na perspectiva 
das possibilidades, tendo como lócus principal a comunidade, onde famílias sejam escutadas na 
busca de soluções e participem da promoção e desenvolvimento local. Instituir ambiente social 
e doméstico que proporcione condições de segurança física e emocional, cidadania, aceitação, 
autoestima, autonomia, cuidado, atenção, aconchego e demais construções que atendam, pelo 
menos, a necessidades básicas do ser humano, é um desafio que merece ser enfrentado.
Ao se deparar com situação negligente, o profissional precisa estar atento para intervir em situa-
ções aparentemente simples, mas que trazem no bojo um olhar de pouca atenção às necessidades 
para com aquele que está sob sua responsabilidade. Isto é válido para cuidadores de pessoas vulne-
ráveis que precisem de supervisão sistemática. Identificados os sinais e sintomas, evite intervir no 
dano utilizando comparações de uma história de vida com a de outrem, pois causam paralisações 
e resistência, dificultando mudanças. Na abordagem de negligência simples, busca-se compreender 
o contexto e, junto com a família, traçar alternativas possíveis de serem implementadas. No tocante 
à negligência severa ou grave, após a notificação, inserir os responsáveis em programa/atividade 
direcionado a mudançasna relação doméstica. O prognóstico da vítima pode ser bem reservado, 
dependendo do comprometimento emocional e/ou físico. É preciso acreditar que, em algum patamar, 
a intervenção técnica pode chegar à mudança de trajetória, não só para a situação vigente, como 
também para prevenir nas gerações vindouras.
Formas de negligência
 No campo da Saúde: vacinas em atraso, doenças crônicas não tratadas ou com acompa-
nhamento irregular, descaso ou longos períodos sem atendimento médico, padrão de cres-
cimento deficiente, obesidade por falta de atenção, perdas constantes do cartão de saúde, 
desnutrição, descaso no tratamento dentário, não se engajar no pré natal, privação de me-
dicamentos, responsáveis não realizam conduta protetiva; não acompanhamento adequado,
 sendo levado apenas a serviços de emergência, acidentes repetiti-
vos, agravo passível de prevenção, danos na pele sem tratamento, 
por uso de fraldas ou imobilização na cama, etc. 
 Na área de Educação: excesso de faltas escolares, criança/adoles-
cente fora da escola, não acompanhamento no andamento escolar, 
hiper ou hipo-atividade sem cuidado, não matricular no período per-
tinente, etc. 
 Desleixo da família: criança com a aparência descuidada e suja, 
fezes e urina pela casa, ambiente físico muito sujo ou lixo ao redor 
deste, recusa de acolhimento ou expulsão de crianças/adolescen-
tes/idosos bem como a não busca para localizar a pessoa evadi-
da, a ausência de documentos, vestuário incompatível com o clima, 
ausência de rotinas domésticas, roupas, alimentação ou outro indi-
cador que traduza tratamento desigual entre os filhos ou mesmo privilegiando os pais, anuên-
cia aos menores para o uso de álcool ou drogas, não acesso aos direitos de filiação, convivência 
familiar, etc.
 Ausência de supervisão dos responsáveis: crianças pequenas sozinhas em casa ou constante-
mente fora de casa, em festas populares, em casa de vizinhos, nas ruas, em abandono, sem 
cinto de segurança, vestimentas e alimentação ina-
dequadas, pedintes nas ruas. Crianças, adolescentes 
e idosos são muitas vezes deixados sozinhos por di-
versos dias ou mesmo por muitas horas, chegando a 
perecer em consequência de acidentes domésticos, 
inanição e desidratação; não colocar limites; gravidez 
precoce; prostituição e indiferença.
 Acidentes previsíveis como: 
 quedas da cama, berço, janelas, escadas, banheiras, 
carro, na casa face a tapetes, pisos escorregadios;
Caminhos para uma ConvivênCia saudável na perspeCtiva da saúde
15
 asfixias por objetos pequenos, brinquedos, travesseiros, fios de telefone, saco plástico, peda-
ços grandes de alimentos, cordão de chupeta e outros;
 intoxicações por medicamentos, material de limpeza, veneno de rato, cosméticos, bebida 
alcoólica, dentre outros;
 queimaduras no forno quente, tomada, ferro de passar, velas, fósforos, panelas, líquidos 
quentes, álcool e exposição excessiva ao sol;
 atropelamentos e afogamentos em piscinas, lagos, praias, banheiras, baldes e vasos sanitá-
rios, crianças na garupa de motocicletas ou andando no banco da frente de um carro;
 Outras formas: conviver com violência a outros familiares, a permissividade, privação de con-
tatos sociais, inclusive ao lazer, mãe que protege o marido em detrimento dos filhos, substi-
tuição do afeto e proteção por bens de consumo, cuidados por terceiros às vezes desconhe-
cidos para os pais, profissional não realizar a notificação e encaminhamentos pertinentes, 
assistir situação de violência sem buscar socorro, uso de drogas na gravidez.
Fatores causais
 Apesar de ocorrer em todas as classes, a inadequada distribuição de renda e desigualdades 
sociais gera desemprego, exclusão social e moral, e dificuldades sócioeconômicas da po-
pulação desdobrando na pobreza excessiva. Somando-se a este contexto, o pouco acesso a 
informações interfere no padrão de higiene, cuidado com o ambiente e o corpo, nas escolhas 
no manejo da alimentação, aumentando a situação de risco para a negligência.
 Dificuldade de acesso ao registro civil, comum no interior do País.
 Pouco investimento em estruturas sociais como creches, escolas com qualidade, espaço para 
o contra-turno escolar, crianças abandonadas, fome, população de rua e similares.
 Políticas públicas inexistentes ou inadequadas, como valor reduzido dos programas de com-
plementação de renda, o parco ou nenhum monitoramento profissional de casos sob respon-
sabilidade técnica e ausência de intersetorialidade.
 Valores, crenças e atitudes culturais e sociais da família sobre o cuidado infantil, atitudes coer-
civas de manejo de conflitos e que justifiquem e naturalizem o comportamento negligente; 
 Modelo transgeracional, isto é, conteúdos repassados pelos ascendentes, ex: mãe – incapaci-
dade de modelo maternal por ter sido negligênciada por sua mãe.
 Falta de recursos financeiros e oportunidades de trabalho.
Características da família em situação de risco
 História de negligência quando criança;
 Familiar ou cuidador dependente químico cria ambiente desprotegido propiciador a diversas 
violências, inclusive abuso sexual; 
 Presença de grave desorganização de emocional no espaço do cuidado;
 Espaço doméstico extremamente sujo, produtos de limpeza e medicamentos acessíveis à 
criança, sem porta no banheiro e/ou quarto do casal sem delimitação;
 Genitor(a) portador (a) de doença mental severa ou inteligência diminuída;
 Passividade familiar demonstrando pouca ou nenhuma preocupação com a situação da crian-
ça/adolescente, principalmente se apresentam dificuldade no controle do comportamento;
 Genitor(a) com baixa autoestima, severo desleixo com a higiene e aparência pessoal;
 Paternidade oriunda da falta de planejamento familiar, gravidez precoce com filhos indesejados;
 Apatia, desesperança, impulsividade, estresse, depressão, autoritarismo dos pais, bem como 
rejeição, descuido, desproteção, indiferença, desafeto;
 Papéis deficitários ou invertidos na família. Por exemplo, quando crianças são cuidadas por 
menores não existe experiência acumulada para que o cuidado possa ocorrer;
 Pouca ou nenhuma valorização, expressão de carinho e atenção ao idoso, ao jovem e ao in-
fante, inclusive quando é alvo de comentários depreciativos, frieza e distanciamento. Recusa 
em segurar o bebê, alimentar, amamentar, repulsa pelas secreções e excrementos;
Caminhos para uma ConvivênCia saudável na perspeCtiva da saúde
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 Patologia/situação crônica em membros familiares que exija atenção cuidadosa e sistemá-
tica; 
 Isolamento da família, pois não possibilita trocas e novas perspectivas;
 Dificuldades da família em utilizar a rede informal e as instituições de sua comunidade;
 Prole extensa e famílias monoparentais que sobrecarrega o responsável;
 Descaso em estabelecer limites e disciplina;
 Troca constante de parceiros expondo as crianças a valores às vezes antagônicos, como tam-
bém a situações de risco para abuso sexual;
 Desconhecimento dos pais quanto às necessidades infantis e os diferentes estágios de desen-
volvimento da criança, bem como habilidades insuficientes no manejo parental.
Características de pessoas sob negligência
 Crianças com crescimento inadequado para sua idade;
 Comportamento depressivo, infantilizado, apático, submisso, agressivo, destrutivo, delin-
quente, apreensivo, medo principalmente quando estão com os cuidadores/responsáveis;
 Expressões de grave insegurança emocional, de culpabilização, de dificuldade de auto aceita-
ção ou autoestima, pouco valor de si, coloca outros como prioritários às suas necessidades;
 Pouco ou nenhum toque dos familiares com a pessoa vulnerável;
 Verbalização de autoextermínio, atitudes masoquistas.
Mecanismos de proteção
As principais ferramentas protetoras são a informação e o acesso. O local maisimportante é 
a comunidade.
 Instituir programa que permita o acompanhamento sistemático de famílias que desejem 
aprendizado nesta temática, bem como famílias em situação de vulnerabilidade social;
 Montar Grupos de Instrumentalização de Pais – GIP, no mínimo um em cada Regional 
de Saúde;
 Ampliar conhecimento das fases do desenvolvimento infanto-juvenil e os cuidados com 
crianças;
 Compreender a velhice com suas possibilidades e limites;
 Compreender os cuidados importantes na gestação e a realização do pré-natal;
 Garantir um pré-natal de qualidade;
 Alimentação adequada para as fases de vida;
 Portadores de necessidades especiais precisam de cuidados específicos. Uma ótima alter-
nativa é buscar grupos por especificidades;
 No atendimento puerperal e perinatal, observar sinais de depressão pós-parto, expressões 
pejorativas, distanciamento ou repulsa do bebê, irritabilidade, apatia, distanciamento ou 
rejeição na amamentação para atendimento específico e sistemático monitoramento;
 Estimular o aconchego, toque como shantala, colo, canções infantis, verbalizando o seu 
sentimento;
 Resgatar aspectos culturais, histórias dos idosos;
 Trabalhar habilidades pessoais, familiares e na interlocução com a rede de apoio;
 Investir na melhora da situação econômica das famílias, principalmente as numerosas, através 
da profissionalização dos adultos e adolescentes e da sua capacitação para profissões com 
melhor remuneração, de forma a que a família possa suprir as necessidades básicas;
 Construir redes locais, formais e informais, conhecendo os serviços oferecidos e formas 
de acesso de políticas públicas para construir cenário protetivo às pessoas nos diversos 
ciclos de vida;
 Conhecer instituições religiosas ou não que favoreçam o convívio saudável e apoio familiar;
 Identificar entidades sociais que tenham programas de melhora da moradia ou traçar es-
tratégias que favoreçam o mutirão para tal consecução;
Caminhos para uma ConvivênCia saudável na perspeCtiva da saúde
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 Participar de atividades comunitárias que fortaleçam a autoestima e possibilitem treinamento 
no cuidado e trocas para construção de alternativas a situações desprotetoras; 
 Instrumentalizar os organismos sociais – escolas, unidades de saúde, igrejas, creches...
 – para a compreensão do fenômeno, enfrentamento e formas de proteção;
 Estimular debates na comunidade (escola, saúde, associação de moradores...) sobre o 
respeito às diferenças e aos diferentes;
 Disponibilizar anticonceptivos com facilidade para possibilitar o planejamento familiar e 
prevenir a gravidez indesejada;
 Trabalhar projeto de vida no espaço escolar e/ou nos COSEs (Centros de Orientação Sócio 
Educativa);
 Capacitar para a convivência cotidiana na perspectiva da proteção integral;
 Grupo de pré-natal com gestantes adolescentes preferencialmente realizados em conjunto 
com o pai do bebê que possibilite trabalhar as fases da gestação, amamentação, DSTs, a 
maternagem, paternagem, importância de hábitos saudáveis, estimulação, compartilhar 
valores, crenças, dentre outros assuntos. Trabalhar a importância do vínculo para a criança. 
Buscar ampliar a rede de apoio destas jovens. Trabalhar com a família extensa dos jovens 
com ênfase naquela que irá acolher a jovem e o bebê;
 Grupo de Crescimento e Desenvolvimento de Crianças nas unidades de saúde, ou similares 
em outras instituições, que possibilitem a participação do pai e da mãe, principalmente 
se adolescentes, para conhecer as fases das crianças, favorecer o apoio de rede ampliada, 
ser espaço de trocas e monitoramento dos profissionais; acompanhar/monitorar puérperas 
adolescentes com especial cuidado e atenção;
 Empoderar famílias para que construam novas formas de relações sociais e domésticas a 
partir das suas habilidades, vínculos, autonomia e apoio social;
 Prevenção secundária e/ou terciária a partir de plano de intervenção construído em conjunto 
com a família e, se necessário, com organismos sociais, identificando os atores protetivos 
(pessoas e instituições) com monitoramento;
 Trabalhar o enfrentamento a partir de situações cotidianas trazidas pelos comunitários, 
buscando identificar qual apoio deve ser mobilizado e o paradigma para conseguirem 
alcançar a qualidade de convivência desejada.
 Engajar cuidadores e familiares de idosos em capacitações que sirvam também como 
espaço de trocas;
 Trabalhar famílias no sentido de revezamento no cuidado de pessoas com pouca ou nenhu-
ma autonomia;
 Para os idosos é importante a segurança na residência evitando tapetes, móveis instáveis, 
com boa iluminação no ambiente, sem material que possa interferir na circulação domés-
tica (fiações no espaço de circulação), vestuário que permita liberdade nos movimentos 
e sapatos com sola de borracha que calcem facilmente e sem cadarços. Utensílios com 
alcance facilitado. Barras de apoio, em especial no banheiro;
 Favorecer a auto-determinação e respeito à privacidade do idoso, espaços de ajuda mútua 
e atividades de lazer;
 Campanhas publicitárias que sensibilizem para o tema;
 Instrumentalizar sobre a qualidade da proteção treinando cenários de enfrentamento co-
tidiano;
 Uso de cinto de segurança mesmo no banco traseiro dos carros e conduções escolares;
 Estimular para o controle social, onde os conselhos de saúde (gestor, regional, distrital) 
atendam às demandas reais, fortalecendo o cuidado e atenção da população.
Estes são alguns olhares na complexidade que envolve a negligência. Buscou-se compreender as 
Formas de Negligência, Fatores Causais, Características da Família em Situação de Risco e, por fim, 
os Mecanismos de Proteção para o enfrentamento e consequente mudança do cenário atual da Negli-
gência. Muitas outras formas de prevenção podem ser produzidas a partir de trabalhos comunitários, 
pois a população tem soluções que demandam escuta para captar as várias formas do cuidar.
Caminhos para uma ConvivênCia saudável na perspeCtiva da saúde
18
“O que se opõe ao descuido e ao descaso é o cuidado. Cuidar é mais que um ato; é uma atitude. 
Portanto, abrange mais que um momento de atenção, de zelo e de desvelo.
Representa uma atitude de ocupação, de responsabilização e de envolvimento afetivo com o outro”
Leonardo Boff
Referências Bibliográficas
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de Assistência Social (CNAS). Plano Nacional de Promoção, Proteção e Defesa do Direito de Crianças e 
Adolescentes à Convivência Familiar e Comunitária. Brasília, 2006.
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cretaria de Estado de Saúde do Distrito Federal, 2008.
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camiNhos Para educar sem castigo físico
Código Penal Brasileiro
(Lei nº 2.848 de 07/09/1940)
Maus-tratos
Art. 136 – Expor a perigo a vida ou a saúde de pessoa sob sua autoridade, guarda ou vigilân-
cia, para fim de educação, ensino, tratamento ou custódia, quer privando-a de alimentação 
ou cuidados indispensáveis, quer sujeitando-a a trabalho excessivo ou inadequado, quer 
abusando de meios de correção ou disciplina: 
Pena – detenção, de dois meses a um ano, ou multa.
§ 1º – Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave:
Pena – reclusão, de um a quatro anos.
§ 2º – Se resulta a morte: Pena – reclusão, de quatro a doze anos.
§ 3º – Aumenta-se a pena de um terço, se o crime é praticado contra pessoa menor de 14 
(catorze) anos. (Incluído pela Lei nº 8.069, de 1990)
Para se trabalhar prevenção à violência física não se pode falar à comunidade ou a alguém sobre 
o tema sem ser autêntico. E, para alcançar a autenticidade, temos que acreditar realmente que o 
caminho para prevenir a agressão física só é trilhado por intermédio da queda de barreiras inter-
nas – a começar por nós, ao mesmo tempo em que há o empenho na construção e ampliação do 
diálogo e respeito ao próximo.
Um bom começo operacional para o referido trabalho pode ocorrer pela comunicação e discussão 
nos grupos onde atuamos e no diagnóstico da violência física levantado pela Saúde e outros órgãos, 
partindo das notificações da área. Juntos, certamente, encontraremos estratégias e alternativas de 
solução para a prevenção, a atenção e o encaminhamento mais eficaz dessa problemática.
Educar não é uma tarefa fácil. Relacionamento e convivência é um constante aprendizado, par-
tindo do princípio de que cada indivíduo é único, o mundo é dinâmico e questões vão surgindo, 
temos que buscar novas formas de orientação para crianças e adolescentes. O diálogo, a paciência, 
a orientação respeitosa, a fixação de limites e regras de convivência na família, escola e comunidade 
e a definição de papéis parentais ainda são alternativas viáveis.
Muitos pais e responsáveis buscam formas diversas para educar seus filhos, mas não têm conhe-
cimento ou prática de como discipliná-los sem o castigo físico. No entanto, existem aqueles que até 
conhecem, mas por processo de estresse acentuado, e expectativas irreais sobre o desempenho de 
seus filhos, não controlam sua raiva, descarregando a tensão com agressões físicas.
O castigo físico de crianças e adolescentes é transmitido em nossa cultura, de geração a geração, 
como método pedagógico, sem considerar que essa prática é danosa e não resolve o problema. 
A palmada, a surra, o beliscão, o puxão de cabelo e outros atos similares são considerados agres-
sões, além de um meio errôneo de educação, e ainda atentam contra os direitos fundamentais da 
criança e do adolescente à vida, à integridade física e psicológica e à dignidade.
Será que bater em nossos filhos resolve?. Quando são castigados fisicamente tendem a repetir 
o erro de forma velada, demonstrando a falta de resultado desse método e gerando um sentimento 
de que não são amados. Algumas crianças fogem de casa por não tolerar a agressão daqueles que 
deveriam protegê-las, ficando expostas a outras violências e ao uso de drogas. Segundo Azevedo e 
Guerra (1996), o risco da utilização do castigo físico na educação dos filhos é a escalada da violência, 
além do resultado não ser eficaz como método pedagógico. Hoje você bate na criança, amanhã ela 
faz a mesma coisa. A reação é bater com mais força e chegar uma escalada para níveis de violência 
mais elevados. Também afeta negativamente sua autoestima e ainda ensina a resolver os conflitos 
com agressividade na família, escola e comunidade. 
Laurez Ferreira Vilela*
* Assistente Social, Especialista em Violência Doméstica contra Criança e Adolescente, Especialista em Terapia Familiar, Pós gra-
duada em Educação Sexual.
Caminhos para uma ConvivênCia saudável na perspeCtiva da saúde
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No entanto, outras crianças e adolescentes reagem de forma contrária ao sofrer castigo físico. Tor-
nam-se limitados, inseguros, medrosos e não conseguem reagir ou se defender de agressões. Assim, a 
agressão física pode levar padrões de agressividade ou passividade e submissão para a vida adulta.
Devemos considerar que alguns pais, depois de disciplinarem fisicamente seus filhos, apresentam 
sentimento de culpa, o que os leva a procedimentos permissivos na orientação de sua prole.
Muitas vezes, verificamos que as pessoas têm a tendência a dizer que sofreram punição corporal 
na infância e que isto não lhes fez mal algum, querendo com isso significar que este tipo de ação 
não causa dano. Segundo Straus (1992), a razão para que os aspectos danosos desta punição 
sejam ignorados reside no fato de que muitas pessoas se negam a admitir que seus próprios pais 
fizeram algo de errado e se negam também a admitir que estão fazendo algo de errado com seus 
próprios filhos.
Caminhos para educar criança e adolescente sem agressão física
Fatores de Risco Consequências danosas do castigo físico Caminhos para prevenir a agressão física
 Famílias monoparentais; 
traumas; desilusões; iso- 
lamento; estresse; dificul- 
dades financeiras; pais 
e mães com histórico de 
maus-tratos na infância;
 Gravidez indesejada; de-
pressão na gravidez; au-
sência ou pouca mani-
festação de afeto entre 
pai/mãe/filho;
 Culpar a criança pelos 
problemas;
 Fanatismo religioso;
 Transtorno mental;
 Uso de drogas.
 Agressividade ou submissão;
 Apatia; hiperatividade ou depres-
são; tendências auto-destrutivas e 
ao isolamento;
 Baixa autoestima; fugas de casa;
 Medo dos pais; tristeza; uso de 
drogas; ideação e/ou tentativa de 
suicídio; problema de aprendiza-
do; faltas frequentes à escola;
 Não estimular a autonomia, nem 
permitir elaborar normas e crité-
rios morais próprios; medo; limitar 
o comportamento, a criatividade, a 
inteligência e os sentidos;
 Ambivalência de amor e ódio em
relação os pais/responsáveis 
agressores;
 Transgressão para chamar atenção 
dos pais;
 Sentimento de injustiça;
 Sentimento de que não tem apro-
vação e nem amor dos pais;
 Legitimar o abuso de poder dentro 
das relações familiares.
 Disponibilizar creches nas comunidades;
 Buscar apoio na rede primária: amigos e par-
entes no cuidado com a criança;
 Possibilitar o acesso ao planejamento familiar;
 Incentivar interação de pais e filhosatravés do 
lazer;
 Incluir obrigatoriamente crianças, adolescentes 
e famílias em situação de vulnerabilidade em 
programas de saúde, educação, renda mínima, 
erradicação do trabalho infantil, cursos de edu-
cação profissionalizante, geração de emprego e 
renda, microcrédito entre outros;
 Possibilitar o acesso ao atendimento biopsicos-
social para pessoas com transtorno mental e 
usuários de drogas;
 Capacitar profissionais de educação, saúde, 
assistência social, esporte, cultura, segurança 
pública e outros para a prevenção à violência 
física;
 Fortalecer as competências familiares para educar 
sem agressão;
 Ressignificar o conceito de educação, respeito 
e integridade física e mental de criança e ado-
lescente;
 Estabelecer com a criança e adolescente limites 
claros, coerentes e consistentes, para que saibam 
o que podem ou não fazer;
 Compartilhar valores com a criança, de acordo 
com a etapa de seu desenvolvimento, assim ela 
terá parâmetros para definir entre o correto e o 
errado;
 Dizer aos filhos o que eles devem fazer – não 
apenas o que não devem;
 Explique suas verdadeiras razões além de mostrar 
os riscos para eles e/ou para outras pessoas;
 Esteja pronto para elogiar o comportamento que 
você gostou, bem como repreender o comporta-
mento que você não gostou;
 Quando eles fazem alguma coisa errada, explique-
lhes o que é e de que forma poderão consertá-la;
 Mesmo quando você não aprecia o comporta-
mento de seu filho, nunca sugira que você não 
gosta dele;
 Dedicar um tempo do dia para ficar com eles;
Caminhos para uma ConvivênCia saudável na perspeCtiva da saúde
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Fatores de Risco Consequências danosas do castigo físico Caminhos para prevenir a agressão física
 Procurar tomar as decisões junto com crianças 
e adolescentes, explicando os porquês quando 
a sugestão da criança ou adolescente não puder 
ser aceita;
 Ser flexível, buscar acordos justos à situação;
 Escutar e respeitar a opinião da criança e esti-
mular a sua autonomia;
 Elogiar o que elas fazem bem e, no caso de uma 
crítica, falar sobre a ação realizada não como se 
fosse um problema pessoal;
 Procurar se colocar no lugar da criança e do 
adolescente para entender o porquê dela estar 
agindo ou pensando de uma determinada forma;
 Passar bons exemplos, pois a tendência é copiar 
os atos dos pais e responsáveis;
 Conhecer as possibilidades das crianças em 
cada uma das faixas etárias e deixá-las assumir 
responsabilidades segundo suas capacidades;
 Estabelecer regras dentro da família:
 Organizar brinquedos, livros, roupas e seu 
quarto;
 Ajudar nas tarefas domésticas;
 Respeitar as diferenças;
 Respeitar os pais;
 Respeitar os professores;
 Respeitar os mais velhos;
 Respeitar os irmãos;
 Respeitar os colegas.
Falta de Políticas Públicas Investir em Políticas Públicas
 Educação de qualidade, Cultura, Esporte, Saúde, 
profissionalização e geração de renda;
 Garantir verba orçamentária específica para 
prevenção da violência física;
 Implementar políticas de creches, de ações 
sócioeducativas; 
 Realizar capacitação de multiplicadores: lide-
ranças comunitárias, Igrejas, profissionais de 
educação, saúde segurança pública, esporte, 
cultura, assistência, ONGs para prevenir as 
várias formas de violência.
Ressaltamos que no início 
não é fácil, mas com o tempo 
crianças e adolescentes vão 
aprendendo a respeitar regras 
e limites. Por isso é necessário 
paciência, firmeza e respeito 
nas orientações.
Os profissionais da Atenção Básica, após identificar situações 
de risco para agressão física e outras violências, devem comparti-
lhar a situação com a equipe para traçarem estratégias de enfren-
tamento. É interessante intervenção de forma coletiva (ex: visita 
com vários membros da equipe) de forma a configurar a questão 
técnica e legal, evitando ficar focalizado em um profissional. 
Inserir outros profissionais da Saúde, Educação, Assistência Social 
A violência é crime
mesmo quando os adultos têm 
a intenção de educar a criança 
e o adolescente.
Crianças filhas de pais que 
não utilizam a punição cor-
poral são mais fáceis de lidar 
e se comportam com mais 
tranquilidade, pois tendem 
a controlar seu próprio com-
portamento com base no 
que sua consciência informa 
ser certo ou errado, assim, 
forma seu próprio senso de 
responsabilidade.
Caminhos para uma ConvivênCia saudável na perspeCtiva da saúde
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e outras instituições da Rede de Proteção e sensibilizar a família a buscar apoio na rede primária 
ampliada – parentes, amigos e vizinhos – como alternativas de proteção da criança e do adolescente 
e de empoderamento dos pais.
Por fim, é imprescindível desenvolver ações educativas em todos os espaços, visando desconstruir 
a metodologia do castigo físico e construir uma nova forma de educação, uma cultura de respeito 
aos direitos individuais de crianças e adolescentes. 
É possível vislumbrar um futuro sem violência se cada um de nós contribuir para novas formas 
de relações sociais.
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PreveNÇÃo da violÊNcia sexual 
Na iNfâNcia e Na juveNtude
Laurez Ferreira Vilela*
De acordo com o Código Penal a violência sexual é crime e fere a dignidade sexual. Apesar 
de estar prevista em Lei, ainda existe muita dificuldade em falar sobre o esse tipo de violência, 
principalmente contra crianças e adolescentes. O mais grave é que não se fala, mas se permite, 
seja por negação de que possa existir um ato tão cruel na sociedade, principalmente dentro da 
família, seja por medo do agressor, medo de desestruturar a família e de reviver a história pessoalde violência. Nesse emaranhado perpetua-se o sofrimento da vítima e o fortalecimento do agressor. 
Por isso, é necessário falar desse problema para preveni-lo.
A Convenção Internacional sobre os Direitos da Criança, aprovada em 1989 pela Assembleia Geral 
das Nações Unidas, define que os países signatários devem tomar “todas as medidas legislativas, 
administrativas, sociais e educativas” adequadas à proteção da criança, inclusive no que se refere 
à violência sexual.
Educar é a melhor maneira de prevenir. Os pais, responsáveis, profissionais de educação, saúde 
e outros que lidam com essa faixa etária devem promover contextos de proteção, além de fortalecer 
as competências familiares para intervir nos fatores de risco, fortalecer os mecanismos protetores 
e reconhecer formas de violência sexual para evitar maiores danos.
Conforme artigo 70 do ECA – “é dever de todos prevenir a ocorrência de ameaça ou violação dos 
direitos da criança e do adolescente”. Dessa forma, a família, a sociedade e os órgãos governamen-
tais e não-governamentais devem atuar na educação e na informação junto a pessoas, grupos e à 
comunidade em geral.
Você sabe o que é violência sexual?
É uma situação em que a criança ou adolescente é usado para a gratificação sexual de um adulto 
ou mesmo de um adolescente mais velho, baseado numa relação de poder, incluindo desde carícias, 
manipulação da genitália, mama ou ânus, exposição de órgãos genitais à criança, toques, masturba-
ção, sexo oral, anal e genital; quando uma pessoa tem prazer em observar a nudez de crianças ou 
adolescentes, ou ainda, após sua indução, observar os comportamentos masturbatórios ou sexuali-
zados de crianças ou adolescentes; uso de linguagem erotizada, em situação inadequada; exploração 
sexual; pornografia e até o ato sexual com ou sem penetração e com ou sem violência física.
Esta forma de violência resulta da falta de fronteiras entre as gerações, predomínio da cultura 
adultocêntrica, coisificação da infância e adolescência e abuso do poder econômico, da força física 
e/ou hierarquia.
Ressaltamos que a exploração sexual de crianças e adolescentes englobam a prostituição tradi-
cional, o tráfico para fins sexuais e o turismo sexual. Geralmente, a criança e o adolescente inseridos 
na prostituição já foram abusados por algum familiar, sendo também esses os aliciadores diretos 
ou coniventes com a situação. Além da família, outras pessoas lucram indiretamente com essa 
prática criminosa: donos de bares próximos onde adolescentes se oferecem, os donos de motéis 
que permitem sua entrada, os donos de boates que toleram ou incentivam a presença de menores, 
taxistas, que às vezes fazem a intermediação, entre outros.
As causas da exploração são múltiplas: o poder do adulto, a cultura de coisificação da criança e 
do adolescente, o gênero feminino como objeto sexual, o mercado ascendente para o gênero mascu-
lino, a má distribuição de renda, a miséria, desestruturação familiar, falta de acesso a uma rede de 
educação de qualidade, as migrações, o desemprego, o consumo de drogas e o trabalho precoce.
* Assistente Social, Especialista em Violência Doméstica contra Criança e Adolescente, Especialista em Terapia Familiar, Pós gra-
duada em Educação Sexual.
Caminhos para uma ConvivênCia saudável na perspeCtiva da saúde
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Dessa forma, faz-se necessária uma intervenção intersetorial para desconstruir os aspectos cul-
turais, atuar nas causas socioeconômicas e realizar capacitação para profissionais que lidam com 
essa faixa etária e prestadores de serviços que toleram essa prática, visando uma mudança nesse 
quadro.
Destacamos que a dominação sexual perversa, exercida contra crianças e adolescentes, pode 
ser incestuosa ou não, heterossexual ou homossexual. Pode ocorrer em lugares fechados como 
residências, consultórios,internatos, hospitais, escolas e incluem diferentes e variadas formas de 
relações abusivas.
É incestuosa quando o agressor faz parte do grupo familiar (pai, mãe, avós, tios, irmãos, pa-
drasto, madrasta, cunhados, tutor, curador, preceptor ou por qualquer outro título com autoridade 
sobre ela). Nesse caso, considera-se família não apenas a consanguínea, mas também as famílias 
adotivas e substitutas.
De acordo com a Lei nº 11.106, de 2005, artigo 226, II “A pena é aumentada:
I – de quarta parte, se o crime é cometido com o concurso de duas ou mais pessoas;
II – de metade, se o agente é ascendente, pai ou mãe adotivos, padrasto ou madrasta, tio, irmão, 
tutor, curador, preceptor, ou empregador da vítima, ou pessoa que, por qualquer outro título, tenha 
autoridade sobre ela.”
Sabe-se que a maioria dos agressores sexuais é algum familiar e/ou amigo íntimo da família, 
pessoas em quem a criança confia. A violência com frequência é cometida dentro ou perto da casa 
da criança ou do agressor, sendo que a maioria não é denunciada por motivos afetivos, medo de ser 
causador da discórdia familiar ou medo do agressor.
 Segundo Azevedo e Guerra (1996), os abusadores sexuais podem ser situacionais quando não 
há preferência sexual por crianças, mas se aproveitam de oportunidade para cometer o crime, ou 
pedófilos, onde o desejo sexual é voltado somente por crianças. 
Segundo a Organização Mundial da Saúde, a Pedofilia consiste na preferência sexual por crianças, 
quer se trate de meninos ou meninas. É classificada como transtorno de personalidade que atinge 
a esfera psicossexual.
Pedófilos violentam um número maior de crianças, uma vez que desenvolvem estratégias eficazes 
para abordar suas vítimas. Muitas vezes fazem parte do círculo de amizade da família e preferem 
a companhia de crianças a conversar com adultos. Outra estratégia comumente utilizada é usar a 
internet para ganhar a confiança, pois entram com perfil infantil com assuntos próprios da idade 
da criança, manifestando interesses a desenhos, jogos, brinquedos e outros. 
É importante destacar que a criança raramente mente que é molestada. Por isso, é preciso estar 
atento aos sentimentos envolvidos no momento do relato e desenvolver estratégias para sua proteção 
e responsabilização do agressor.
Conhecendo os fatores de risco para prevenir
Segundo a literatura, estima-se que no Brasil 165 crianças ou adolescentes sofrem abuso sexual 
por dia ou sete a cada hora (ABRAPIA, 2002).
A violência sexual ocorre em todas as classes sociais, no entanto as estatísticas indicam que 
ocorrem com mais intensidade em meninas entre 07 a 14 anos, negras e pardas, das camadas po-
pulares menos favorecidas. Cabe aqui uma discussão: se de fato ela é mais frequente nessa parcela 
da população ou se apenas ela apresenta maior visibilidade, sendo mais notificada e denunciada. 
Meninos também são alvos de violência sexual e, às vezes, enfrentam preconceito e a acusação de 
terem uma orientação homossexual. 
Muitas vezes a violência contra meninos é entendida pela família e outros como sendo uma ex-
periência de iniciação sexual importante para o adolescente.
Dessa forma, a violência passa a ser negada, dificultando sua visibilidade, seu tratamento e sua 
prevenção.
As mães de classe de menor poder aquisitivo, não raramente, possuem parcas condições de fa-
zer a supervisão de suas crianças, pois não contam com creches e outras redes de apoio enquanto 
trabalham, em geral, os filhos maiores cuidam dos irmãos menores. Essas mulheres muitas vezes 
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têm pouca informação sobre como abordar temas relativos à sexualidade com crianças e adoles-
centes. 
Algumas mulheres dependem emocionalmente ou possuem maior grau de dependência da con-
tribuição financeira do companheiro/marido. Sendo estes os maiores agressores fica difícil para 
elas denunciar o abuso.
Essa omissão tem raízes na cultura, pois até pouco tempo o homem detinha o poder familiar, 
mas com a luta do movimento feminista e consequente

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