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Resenha sobre o texto A internacionalização das políticas educativas na América Latina de Beech, J.

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Mariana Tavano Gabriel – Turma 31- 10735093
POEB I- Professora Denise Carreira
Resenha sobre o texto “A internacionalização das políticas educativas na América Latina” de Beech, J. 
	No texto “A internacionalização das políticas educativas na América Latina”, o autor Jason Beech, da Universidad de San Andrés em Buenos Aires, analisa as reformas educacionais ocorridas em diversos países da América Latina nas décadas de 80/90 e qual seria a fonte desses projetos, que além de simultâneos foram bem similares. O autor traz então a presença de três grandes agentes multilaterais (UNESCO, Banco Nacional e OCDE) que tem uma grande participação nessa nova estrutura curricular que foi adotada, e autorizam uma certa agenda política de seu interesse. 
	Esses três agentes internacionais veem a educação baseada em uma previsão de futuro que consiste em acompanhar as inovações cientificas e tecnológicas, que estarão a todo vapor. A educação não pode ser mais conteúdista e sim deve ser uma base para que todos possam acompanhar as novas tecnologias e assim se adaptar ao que será o mercado de trabalho. A maioria dos países latino-americanos que fizeram suas reformas educacionais nas décadas de 80/90 se basearam então nesse pressuposto, e por isso são tão aparentes suas similaridades. Porém, algo que é muito destacado pelo autor, e com base na teoria de Ball, é que mesmo os pressupostos, os “projetos” sendo similares, cada país com seu respectivo governo o aplicou de maneira diferente, com especificidades culturais, sociais, econômicas e políticas. Ou seja, mesmo que a base seja a mesma, a estruturação e aplicação das reformas foram diferentes em cada país, e é impossível analisar a internacionalização de práticas educacionais sem observar essas especificidades. 
Esse grande marco do entendimento pelos agentes multilaterais e consequentemente pelos governos de que as tecnologias estarão sempre se inovando, levou a criação de um currículo que não ensine conteúdos por si só, mas que com estes os alunos tenham a base para continuar sempre aprendendo e acompanhando essas novas tecnologias e demonstrem criatividade, inovação e adaptabilidade. A escola deve então focar na transmissão de habilidades uteis para esse futuro mercado de trabalho, sendo elas: a comunicação, a criatividade, a flexibilidade, o aprender a aprender, o trabalho em equipe e a solução de problemas, e focar o currículo nas ciências e tecnologias, juntamente como matemática leitura e escrita. Assim, o ensino profissionalizante, antes muito presente nos currículos, inclusive no brasileiro, foi extinto, e relegado a uma categoria á parte, como os cursos técnicos opcionais que temos hoje em dia, que são possíveis de serem cursados junto ou separadamente do ensino médio, basta ter educação básica completa.
	Os principais princípios nos quais foram baseadas essas reformas educacionais, e observáveis nos projetos de quase todos os países latinos foram: descentralização, autonomia escolar, profissionalização docente, um currículo baseado em competências e o estabelecimento de sistemas centralizados de avaliação de rendimento. Por exemplo, a descentralização no Brasil se deu pela construção de uma Lei de Diretrizes e Bases da Educação, do Plano Nacional de Educação e da Base Curricular Comum, que ditam precariamente (principalmente no ensino médio), o que se espera de cada matéria em cada ciclo escolar, porém dando autonomia aos professores e diretorias escolares de criar seu projeto pedagógico dentro dessas grades pré- estabelecidas. Na Argentina também foi criada uma base curricular nacional, chamada de Conteúdos Básicos Comuns (CBC), que, assim como a brasileira, daria autonomia para as jurisdições de criar seus programas pedagógicos seguindo essa base, dando uma lista de habilidades a serem estimuladas e trabalhadas a cada ciclo de três anos com diferentes conteúdos e metodologias. Porém, os conteúdos mínimos exigidos pela CBC eram tão extensos que não davam espaço para nenhuma adição de especificidade pelas jurisdições. Já no Chile essa base comum é muito mais autoritária e deixa pouco ou nenhum espaço para a criação autônoma das entidades escolares, estipulando, por exemplo, uma lista de leituras obrigatórias para cada ciclo. Prova disso é que em 2001, 10 anos após a reforma chilena, apenas 14% dos estabelecimentos educacionais contavam com programa próprio para alguma matéria. Além disso, no Brasil, o próprio financiamento foi descentralizado; no texto “O Financiamento da Educação”, Oliveira, R.P., é possível observar como com a criação dos mecanismos citados a cima, a União se absteve de maior financiamento da educação pública, deixando quase todo o financiamento para os estados e municípios. Um bom exemplo disso é a vinculação de impostos arrecadados por cada esfera federal para a educação; 25% dos estados, 25% dos municípios, e apenas 18% da União, ou seja, cerca de apenas 26% do total. Também é argumentado que um sistema escolar mais descentralizado da mais espaço para a participação das comunidades escolares e dos docentes, o que viabilizaria a gestão democrática e traria apenas ganhos para as instituições. 
	Porém, mesmo com certa autonomia então cedida ás instituições escolares, todos os governos latinos analisados mantém uma forte avaliação escolar de nível federal. Ou seja, é como se o projeto e o financiamento fosse descentralizado, mas a avaliação continua bem centralizada. No Brasil temos como maior exemplo o ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio), que ranqueia as escolas de acordo com o desempenho de seus alunos na prova aplicada nacionalmente.
		
Referências:
 OLIVEIRA, R.P. de “O financiamento da educação”. In: OLIVEIRA, R.P. de; ADRIÃO, T. (Orgs) Gestão, financiamento e direito á educação: análise da Constituição Federal e da LDB. 3ª edição revisada. São Paulo: Xamã, 2007, p. 83-122.
BEECH, J. “A internacionalização das políticas educativas na América Latina”. Currículo sem Fronteiras. v.9, n.2, p.35-50, jul/dez. 2009.

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