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CAPÍTULO 3 Sucessão de Empregadores A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: � Entender a sucessão trabalhista. � Compreender a abrangência da sucessão trabalhista. 84 O Empregado e o Empregador 85 Sucessão de Empregadores Capítulo 3 Contextualização A sucessão de empregadores, ou também chamada de sucessão trabalhista, ou ainda de sucessão de empresas, ocorre quando o empregador é uma pessoa jurídica. É certo que o Direito do Trabalho não desconsidera o conceito ou até mesmo a existência da pessoa jurídica, em que o empregador pode ser uma pessoa jurídica ou uma pessoa física. Contudo, por autorização da lei, ou em caso de abuso ou fraude, tem-se adotado a tese da despersonificação como forma de garantir e resguardar direitos trabalhistas. Não se considera relevante a pessoa jurídica do empregador e sim o fato de o empregado estar ligado a uma unidade produtiva, para a teoria da despersonificação, na qual a empresa pode ser tanto uma pessoa física, como uma pessoa jurídica. Assim, o empregador pode ser pessoa física ou jurídica, mas, em certas circunstâncias, isso não é relevante. O que é relevante é o fato de estar o empregado ligado a uma unidade produtiva, então, não é o mais importante a personalidade jurídica do empregador em determinadas situações. Tem-se a seguinte situação: um empregador, com o intuito de reduzir o salário de seus empregados, altera a razão social da sua empresa ou altera a estrutura jurídica da sua empresa, como no caso da empresa Logs LTDA que passa a ser a empresa Logs S.A. Diante desta situação, indaga-se: os contratos de trabalho dos empregados que trabalhavam na Logs LTDA poderão ser alterados por causa da alteração na razão social desta empresa? Será, então, válida uma redução salarial destes empregados, já que houve alteração na estrutura da empresa? É claro que a resposta é NÃO para as duas indagações. Caso fosse possível, seria muito fácil o empregador se desonerar de certos encargos, principalmente os trabalhistas. Na situação que se apresenta, o empregado continua a trabalhar da mesma maneira, integrado à mesma unidade produtiva da empresa, então, não há motivo para alteração no seu contrato de trabalho. Não se provoca o rompimento ou a descaracterização do vínculo empregatício em uma sucessão de empregadores, mudança na propriedade, alteração na forma societária, fusão, incorporações etc. ocorridas durante a vigência do contrato de trabalho. O que predomina é a ligação do empregado com a empresa e não com a pessoa física do sócio ou titular do empreendimento. Desta feita, temos dois artigos importantes previstos na CLT que cuidam deste assunto, qual seja, a sucessão trabalhista, que são os arts. 10 e 448. Assim, no presente estudo, trataremos da definição e da denominação da sucessão de empregadores, entendendo como se caracteriza a sucessão Não se provoca o rompimento ou a descaracterização do vínculo empregatício em uma sucessão de empregadores, 86 O Empregado e o Empregador trabalhista. Em seguida, trataremos dos requisitos da sucessão trabalhista, bem como dos fundamentos dessa sucessão. Logo após, estudaremos a abrangência e os efeitos da sucessão trabalhista. E, por fim, compreenderemos a natureza jurídica da sucessão trabalhista. Dominado o assunto sobre a sucessão trabalhista, poderemos ter o entendimento, também trazido pelo presente trabalho e de forma complementar, sobre a presença do Estado-Administração, ou também conhecida como Administração pública, no instituto da sucessão. Desta forma, o estudo principal deste capítulo é voltado à compreensão da sucessão trabalhista, que se dá no contexto da transferência de titularidade de empresa ou estabelecimento, uma completa transmissão de créditos e assunção de dívidas trabalhistas entre alienante e adquirente envolvidos, ou seja, o novo adquirente assume os créditos e débitos em face do antigo dono da empresa, quando ocorrerá a alienação ou a cessão da empresa ou do estabelecimento entre estes titulares. Por enquanto, a compreensão do instituto da sucessão de empregadores com a aplicação do Direito do Trabalho na sucessão trabalhista é que será estudada na modalidade EAD. Definição e Denominação A sucessão é uma figura regulada nos artigos 10 e 448 da CLT que está relacionada ao instituto justrabalhista, em virtude do qual se opera, no contexto da transferência de titularidade de empresa ou estabelecimento, uma completa transmissão de créditos e assunção de dívidas trabalhistas entre alienante e adquirente envolvidos, ou seja, o novo adquirente assume os créditos e débitos em face do antigo dono da empresa, quando ocorrerá a alienação ou a cessão da empresa ou do estabelecimento entre estes titulares. Assim prescreve o artigo 10 da CLT (BRASIL, 1943, p. 3): Art. 10 - Qualquer alteração na estrutura jurídica da empresa não afetará os direitos adquiridos por seus empregados. Você encontrará, no próximo capítulo, um conteúdo mais específico sobre outros tipos de empregadores. 87 Sucessão de Empregadores Capítulo 3 Art. 10 - A. O sócio retirante responde subsidiariamente pelas obrigações trabalhistas da sociedade relativas ao período em que figurou como sócio, somente em ações ajuizadas até dois anos depois de averbada a modificação do contrato, observada a seguinte ordem de preferência: I - a empresa devedora; II - os sócios atuais; e III - os sócios retirantes. Parágrafo único. O sócio retirante responderá solidariamente com os demais quando ficar comprovada fraude na alteração societária decorrente da modificação do contrato. O artigo 448 da CLT prevê o seguinte (BRASIL, 1943, 136): Art. 448 - A mudança na propriedade ou na estrutura jurídica da empresa não afetará os contratos de trabalho dos respectivos empregados. Art. 448-A. Caracterizada a sucessão empresarial ou de empregadores prevista nos arts. 10 e 448 desta Consolidação, as obrigações trabalhistas, inclusive as contraídas à época em que os empregados trabalhavam para a empresa sucedida, são de responsabilidade do sucessor. Parágrafo único. A empresa sucedida responderá solidariamente com a sucessora quando ficar comprovada fraude na transferência. No que se refere à alteração contratual subjetiva, esta está ligada à figura da impessoalidade do empregador, pois este é que pode se fazer substituir, ou que haja uma alteração durante o contrato de trabalho, é certo que isto provoca o rompimento ou descaracterize a relação de emprego, então, se houver uma alteração subjetiva do contrato, esta só pode ocorrer em virtude do empregador, tendo em vista o elemento da impessoalidade inerente ao empregado – que são os atributos pessoais desse empregado que interessam à empresa, não podendo se fazer substituir por outra pessoa. Alienação: Esta expressão pode ter diversos significados, mas, no âmbito empresarial está no sentido de cessão de bens ou a transferência de domínio de algo com valor. Cessão: significa que parte da empresa será transferida para outra empresa. Está ligada à figura da impessoalidade do empregador. 88 O Empregado e o Empregador Alice Monteiro de Barros, acerca do conceito e requisitos da sucessão trabalhista, assim dispõe (BARROS, 2017, p. 391): Sucessão de empregadores: o conceito de sucessão no Direito do Trabalho possui contorno distinto daquele encontrado em outros ramos do direito. A sucessão, no Direito do Trabalho, traduz uma substituição de empregadores, com uma imposição de créditos e débitos. A sucessão pressupõe os seguintes requisitos: a) mudança na estrutura jurídica ou na propriedade da empresa; b) continuidade no ramo do negócio; c) continuidade dos contratos de trabalho com a unidade econômica de produção e não a pessoa natural que a explora. Acerca da jurisprudência sobre o assunto, temos a OJ 261 – SDI-I, TST: Orientação jurisprudencial nº 261 da sdi-1 do TST: bancos. Sucessão trabalhista. As obrigações trabalhistas, inclusive as contraídas à época em que os empregados trabalhavam para o banco sucedido, são de responsabilidade dos sucessores, uma vez que a este foram transferidos os ativos, as agências, os direitos e deveres contratuais caracterizando típica sucessão trabalhista. As normas que dispõem sobre a temática (art. 10 e 448, da CLT) são imperativas, insuscetíveis de transação entre as partes. Atividade de Estudos: 1) O que dispõem os artigos 10 e 448 da CLT? ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 89 Sucessão de Empregadores Capítulo 3 Sucessão Trabalhista: Caracterização Conforme determinado pelo artigo 10 da CLT (BRASIL, 1943), os direitos adquiridos pelos empregados de uma empresa não serão afetados se houver qualquer alteração na sua estrutura jurídica, como também no artigo 448 da CLT (BRASIL, 1943), que prevê que a mudança na propriedade ou na estrutura jurídica da empresa não irá afetar os contratos de trabalho de seus respectivos empregados. Convém esclarecer que a alteração jurídica trazida pela definição técnica da CLT tende a ocorrer na estrutura jurídica do titular da empresa, ou seja, na pessoa física ou na pessoa jurídica, ou até mesmo no ente despersonalizado, a qual possui o controle dos estabelecimentos e da empresa. A CLT registra que se houver alteração na estrutura jurídica da empresa, não afetará os contratos de trabalho, isto é, caso a empresa transforme o tipo jurídico da sociedade, por exemplo, a transformação de uma sociedade limitada para uma sociedade anônima ou uma firma individual em sociedade por cotas, esta transformação não afetará os contratos de trabalho até então existentes. Desta forma, qualquer alteração na modalidade societária em relação aos antigos contratos será preservada com os seus efeitos passados, presentes e futuros, mesmo com uma nova forma societária que surgiu. Convém lembrar que o elemento pessoalidade, já estudado em capítulo anterior, não se aplica ao empregador, mas tão somente ao empregado, assim, a expressão empresa utilizada pelo diploma celetista apresenta caráter funcional e prático, qual seja, pode trazer a ênfase em relação à despersonalização do empregador e insistir em uma relevante vinculação do contrato de trabalho ao empreendimento empresarial, sem qualquer dependência a seu efetivo titular. Em relação a estes conceitos, a jurisprudência passou a julgar e considerar determinadas situações-tipo, tidas como tradicionais de sucessão e novas ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ Os direitos adquiridos pelos empregados de uma empresa não serão afetados se houver qualquer alteração na sua estrutura jurídica, a mudança na propriedade ou na estrutura jurídica da empresa não irá afetar os contratos de trabalho de seus respectivos empregados. 90 O Empregado e o Empregador de sucessão, as quais submetem-se à regência dos artigos 10 e 448 da CLT (BRASIL, 1943), considerando que quaisquer modificações não afetarão os contratos de emprego dos trabalhadores, assim consideradas: 1) Situações-tipo tradicionais de sucessão: Algumas dessas situações são consideradas clássicas e outras são consideradas mais recentes, tendo em vista uma nova leitura trazida pela jurisprudência, e, consequentemente, pela doutrina atualizada, que se faz em relação a este instituto do Direito do Trabalho. A situação-tipo que se destaca em primeiro lugar é a da alteração na estrutura formal da pessoa jurídica que contrata a força de trabalho. Esta alteração está ligada a modificações na modalidade societária, como ocorre nos processos de fusão, incorporação, cisão e outros institutos correlatos; aqui também temos a situação de uma mudança em relação a uma firma individual para outro modelo societário e vice-versa. A segunda situação-tipo em destaque está ligada à substituição do antigo titular passivo da relação empregatícia por uma outra pessoa física ou jurídica. Esta situação está ligada a aquisições de estabelecimentos isolados ou em conjunto ou aquisições da própria empresa em sua integralidade. Essas duas situações-tipo são consideradas clássicas em relação ao enquadramento da leitura tradicional que se faz dos artigos 10 e 448 da CLT (BRASIL, 1943). Tais situações podem ter desdobramentos em inúmeras possibilidades concretas, que se apresentam pela prática do mercado empresarial, como no caso de aquisição de controle, incorporação, fusão etc., em que se dá origem a uma nova pessoa jurídica titular do empreendimento, e, consequentemente, dos respectivos contratos de trabalho, nos quais terá um novo controlador para antiga pessoa jurídica. Neste caso, a sucessão que ocorre entre uma sociedade por outra ou quando ocorrer alteração na titularidade da empresa ou do estabelecimento, irá se preservar os contratos de trabalho, sejam antigos ou com novos empregados, isto em relação aos novos empregadores, garantindo-se todos os efeitos da relação empregatícia, seja para o passado, presente e futuro. 2) Situações-tipo em relação às novas sucessões: essas novas situações surgiram no final do século XX, em decorrência de uma reestruturação no mercado empresarial do Brasil, principalmente no mercado financeiro, em relação às privatizações e outros segmentos correlatos, assim, este tipo legal é considerado o mais amplo do que originalmente concebido pela doutrina e jurisprudência dominantes até então. Esta alteração está ligada a modificações na modalidade societária, Este tipo legal é considerado o mais amplo do que originalmente concebido pela doutrina e jurisprudência dominantes até então. Esta situação está ligada a aquisições de estabelecimentos isolados ou em conjunto ou aquisições da própria empresa em sua integralidade. 91 Sucessão de Empregadores Capítulo 3 A base desta nova interpretação está ligada a uma garantia em relação a qualquer mudança intra ou interempresarial, na qual os contratos de trabalho não poderão ser afetados, pois houve uma maior amplitude de alcance no sentido objetivo do instituto sucessório trabalhista previsto nos artigos 10 e 448 da CLT (BRASIL, 1943). O cerne desta alteração está ligado ao fato de que qualquer mudança significativa na estrutura da empresa possa afetar os contratos empregatícios, em que, caso se verifique a real mudança, irá se operar a sucessão trabalhista, isto independentemente de uma continuidade efetiva da prestação de trabalho. Qualquer mudança na empresa que afete a garantia original dos contratos de trabalho irá provocar a incidência dos artigos 10 e 448 da CLT (BRASIL, 1943), pois é desta forma que a interpretação dada pela jurisprudência deve ser aplicada, considerando uma configuração da situação própria à sucessão de empregadores a alienação ou transferência de parte significativa dos estabelecimentos ou da empresa, de modo a afetar significativamente os contratos de trabalho. Neste sentido, tem-se o posicionamento de Mauricio Godinho Delgado: Isto significa que a separação de bens, obrigações e relações jurídicas de um complexo empresarial, com o fito de se transferir parte relevante dos ativos saudáveis para outro titular (direitos, sobre obrigado e relações jurídicas), preservando-se o restante de bens, obrigações e relações jurídicas no antigo complexo - agora significativamente empobrecido -, afeta, sim, de modo significativo, os contratos de trabalho, produzindo a sucessão trabalhista com respeito ao novo titular (artigos 10 e 448 da CLT) (DELGADO, 2017, p. 448). Então, mesmo que ocorra a transferência de parte relevante de uma empresa para a outra, em que haverá a preservação da outra parte do complexo empresarial, haverá o entendimento de que há sucessão trabalhista, mesmo que a transferência seja de somente parte da empresa, na qual o entendimento é de que os contratos de trabalho sejam preservados e garantidos, conforme a nova visão jurisprudencial do texto consolidado. A base desta nova interpretação está ligada a uma garantia em relação a qualquer mudança intra ou interempresarial, na qual os contratos de trabalho não poderão ser afetados, Atividades de Estudos: 1) Quais são as situações-tipo que se apresentam em relação às novas sucessões? ____________________________________________________ ____________________________________________________ 92 O Empregado e o Empregador Requisitos da Sucessão Trabalhista Em geral, a sucessão trabalhista envolveria dois requisitos: um relacionado a uma unidade econômico-jurídica, em que haja a transferência de um para outro titular, o outro requisito é que não haja uma relação de continuidade na prestação dos serviços pelo trabalhador. Esta interpretação dos dois requisitos está ligada ao modelo tradicional de sucessão trabalhista. Já no modelo extensivo, dado pela nova interpretação jurisprudencial, a sucessão ocorreria, essencialmente, caso seja verificado o primeiro requisito, que é a unidade econômico-jurídica, em que haja transferência de um para outro titular. Assim iremos analisar estes dois requisitos que se apresentam: a) Transferência de Unidade Econômico-jurídica Para o Direito do Trabalho, numa análise objetiva, a transferência empresarial é a transferência da unidade econômico-jurídica, em que, ou a transferência está ligada ao controle da sociedade ou ao conjunto desta, ou está ligada a um ou alguns de seus estabelecimentos específicos, como no caso de agência, filial, entre outros, ou a transferência abrange uma fração empresarial significativa que não traduz uma noção de unidade econômico-jurídica. Então, para o texto consolidado ocorrerá a sucessão de empregadores não somente com o transpasse de toda a organização, mas também com a transferência de apenas uma ou algumas de suas frações, isto é, alguns ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 2) Quais são as situações-tipo tradicionais de sucessão? ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 93 Sucessão de Empregadores Capítulo 3 estabelecimentos; nestas situações haverá alteração subjetiva do contrato, na qual irá ingressar no polo passivo o novo titular. A lei ainda considera como sucessão de empregadores a modificação na titularidade do empreendimento, como quando ocorre a mudança de uma sociedade anônima para uma sociedade em nome coletivo, por exemplo. Com este entendimento, verifica-se que não produzirá efeitos previstos no artigo 10 e no artigo 448 da CLT uma transferência simples de coisas singulares, pois estas coisas simples não compõem uma universalidade de fato, como no caso de equipamentos e máquinas, não havendo, então, uma sucessão de empregadores quando ocorre a transferência dessas coisas singulares de uma para outra empresa. O que se pretende, com interpretação legal, é que se garanta os efeitos do contrato de trabalho, independentemente de como a figura da sucessão trabalhista se apresenta, assim, o significado principal que se pretende alcançar é que, qualquer mudança intra ou interempresarial significativa provocaria incidência dos artigos 10 e 448 da CLT (BRASIL, 1943). Não esquecendo que a ideia central desta nova interpretação da lei está ligada a uma transferência de parte significativa do estabelecimento da empresa, a qual pode afetar significativamente os contratos de trabalho. • Título jurídico da transferência Neste ponto, o destaque está relacionado a ser indiferente ao Direito do Trabalho a modalidade de título jurídico utilizada para o trespasse efetuado, assim, qualquer título jurídico que seja considerado a transferência de universalidades para o direito brasileiro é compatível com a sucessão de empregadores, como no caso de compra e venda, arrendamento etc. O tema relacionado ao respectivo título jurídico de transferência e sucessório possui três situações concretas e interessantes, quais sejam: a viabilidade ou não da sucessão trabalhista em hipótese de alteração ocorrida na empresa concessionária de serviço público é a primeira situação. A segunda situação está ligada aos efeitos do arrendamento da sucessão trabalhista, já a terceira situação está ligada à aplicabilidade dos artigos 10 e 448 da CLT (BRASIL, 1943) em relação às aquisições de ativos empresariais em hasta pública.Essas situações são descritas por Mauricio Godinho Delgado da seguinte forma: 94 O Empregado e o Empregador No primeiro caso, prepondera já antigo entendimento de que, assumindo a nova empresa concessionária o acervo da anterior ou mantendo parte das relações jurídicas contratadas pela concessionária precedente, submete-se às regras imperativas dos dois preceitos celetistas, impositivos de obrigações e direitos trabalhistas prévios (19). Este caso (como o das privatizações) não escapa, pois, à regra geral relativa à sucessão de empregadores. A segunda situação merece destaque apenas para fins de se enfatizar que não se verifica qualquer óbice à incidência das regras cogentes da alteração subjetiva do contrato de emprego em casos de arrendamento de empresas ou estabelecimentos. Produz-se, no caso, sucessão trabalhista, em direção ao novo titular provisório do estabelecimento. Mais à frente pode-se operar, outra vez, nova alteração subjetiva do contrato, retornando ao polo passivo da relação a antiga pessoa física ou jurídica originariamente arrendante. O título jurídico que confere substrato formal à transferência é, de fato, irrelevante. A terceira das situações destacadas (transferência por hasta pública) consistiria, entretanto, em singular exceção às regras estabelecidas nos arts. 10 e 448 da CLT (DELGADO, 2017, p. 480). Este autor continua ainda sobre o mesmo assunto: Há entendimentos de ser juridicamente viável que os dispositivos da hasta pública elidam a incidência das normas da sucessão de empregadores na transferência operada. Já houve inclusive decisão do Tribunal Superior do Trabalho de que “inexiste a sucessão trabalhista, quando o acervo da empresa falida é adquirido em hasta pública e repassado, sem qualquer ônus sobre ele incidente, para um terceiro adquirente” (21). Nesta hipótese, a excepcional modalidade de transferência é que estaria conferindo a elisão acolhida jurisprudencialmente. É que objetivamente não há diferenciação substantiva entre esta e as demais situações em que se transfere a titularidade do estabelecimento ou empresa, preservando-se as relações de trabalho contratadas. Mas o título jurídico enfocado é tido como excepcional — submetido ao interesse de materializar a coisa julgada a que se refere —, sendo hábil, portanto, a neutralizar a regra geral justrabalhista. Esclareça-se, contudo, que ainda assim emerge como relevante ao efeito elisivo aqui mencionado a previsão nos editais de hasta pública da ruptura propiciada pela aquisição do patrimônio a ser arrematado (DELGADO, 2017, p. 480). Na mesma direção está a nova lei de falências e recuperação empresarial (Lei n. 11.101/2005), a qual determina que nas falências processadas a partir do novo diploma legal, que teve vigência desde 9 de junho de 2005, não há incidência da sucessão de empregadores no caso de alienação de empresa falida ou de um ou alguns de seus estabelecimentos, conforme determina o artigo 141, inciso II e parágrafo 2º da lei 11.101/2005 (BRASIL, 2005, p. 141). 95 Sucessão de Empregadores Capítulo 3 O STF também considerou excluída a sucessão trabalhista nos casos de alienação de ativos de empresas submetidas a recuperação judicial, conforme interpretação dada recentemente aos dispositivos da nova lei, na Adi 3.934 do Distrito Federal e no Recurso Extraordinário 583955-9 do Rio de Janeiro, ambos tiveram a relatoria do Ministro Ricardo Lewandowski e foram julgados em 2009. A corte, então, entendeu constitucionais o artigo 60, parágrafo único, e 141, II, da Lei 11.101/2005 (BRASIL, 2005), em que houve a compreensão de que os preceitos são remetidos às situações de recuperação judicial. b) Continuidade na prestação laborativa Esse é o segundo requisito apresentado pela vertente tradicional, em relação ao tipo legal de sucessão trabalhista, em que o obreiro irá prestar serviço ao novo titular. Como ilustração, temos a transferência da agência para outro banco, onde há manutenção dos bancários e seus antigos postos de trabalho. Este requisito é considerado importante para o exame de diversas situações fático-jurídicas concretas, muito embora não há que se sustentar que este requisito é imprescindível para a existência do instituto sucessório trabalhista. O tipo legal celetista apresenta-se, inquestionavelmente, quando há a presença do segundo requisito ao lado do primeiro já estudado. Quando se verificar a continuidade laborativa em um cenário de transferência interempresarial, ocorrerá a sucessão de empregadores com respeito ao novo titular da empresa ou estabelecimento. Contudo, caso falte o segundo requisito, o operador jurídico será obrigado a conduzir-se a necessidade de exame mais circunstanciado do tipo de transferência entre empresas que ocorrer. Não é em toda transferência intraempresarial que ocorrerá a sucessão de empregador, mas, tão somente, aquela transferência que afetar de modo significativo as garantias anteriores do contrato laborativo. Quando se verificar a continuidade laborativa em um cenário de transferência interempresarial, ocorrerá a sucessão de empregadores com respeito ao novo titular da empresa ou estabelecimento. 96 O Empregado e o Empregador Em contraponto, ocorrerá a sucessão, mesmo que a transferência interempresarial não tem afetado significativamente o contrato de trabalho, mas desde que se verifique a continuidade da prestação laborativa para o novo titular da empresa. c) Situações-tipo consideradas novas de sucessão Em relação aos requisitos deste ponto, a nova tendência interpretativa da situação sucessória trabalhista considera que é essencial, tão somente, a garantia de que qualquer mudança intra ou interempresarial não venha afetar os contratos empregatícios, isto de forma independente em relação a ter ocorrido a continuidade da prestação laborativa. Isto quer dizer que qualquer alteração intra ou interempresarial de forma significativa, ou seja, que possa afetar os contratos de trabalho, seria considerado hábil a provocar a incidência dos artigos 10 e 448 da CLT (BRASIL, 1943). Há que se destacar que, o que é essencial, é a transferência da universalidade, ou seja, é que haja, pelo menos, uma transferência de parte significativa do estabelecimento ou da empresa, de modo que irá afetar significativamente os contratos de emprego. A transferência para outro titular, de uma parte importante de um complexo empresarial, que envolve bens materiais e imateriais e que irá comprometer de modo importante o antigo complexo, pode caracterizar a sucessão de empregadores, pois afeta também de maneira significativa os antigos contratos de emprego. Mauricio Godinho Delgado, em relação ao entendimento exposto, tem a seguinte posição: Não será, pois, toda e qualquer transferência interempresarial, isoladamente, que será apta a provocar a sucessão trabalhista. Se ela vier acompanhada da continuidade da prestação laborativa para o novo titular, ocorrerá, sim, é claro, a sucessão (vertente tradicional). Porém, não se verificando o segundo requisito, é preciso que se trate de transferência de universalidade empresarial que seja efetivamente apta a afetar os contratos de trabalho (sob pena de se estender em demasia o instituto sucessório, enxergando-o em qualquer negócio jurídico interempresarial). Conforme já exposto, não será toda transferência intraempresarial que propiciará a sucessão de empregador... mas somente aquela transferência que afetar de modo significativo as garantias anteriores do contrato de emprego (DELGADO, 2017, p. 482). Consegue-se perceber que há uma nítida distinção entre a nova interpretação extensiva e a clássica situação sucessória existente, pois esta não exige a 97 Sucessão de Empregadores Capítulo 3 continuidade da prestação laborativa pelo trabalhador, trata-se, então, de uma sucessão civil e/ou empresarial. Caso certa empresa adquira o controle, encampe ou se funda com outra empresa, dando origem a uma nova entidade, mesmo que seja em meses ou anos após a ruptura do contrato de trabalho, irá assumir as velhas obrigações trabalhistas da antiga empresa que desapareceu, isto por conta do instituto da sucessão civil/empresarial, a qual irá assumir de forma obrigatória as pendências previdenciárias, tributárias, entre outras. Para que seja configurada a sucessão trabalhista, é necessária a presença de dois requisitos: a) transferência do estabelecimento: a necessidade de transferência da parte produtiva (unidade econômico-jurídica), possibilitando que o sucessor (que adquiriu o estabelecimento) continue explorando a atividade econômica do sucedido. A transferência apenas de partes separadas da sucedida (venda de equipamentos isolados para diversos computadores, um carro para determinado comprador, equipamentos eletrônicos para outro etc.), sem que proporcione a continuidade da atividade, não configura a sucessão. A transferência da unidade produtiva ocorre com a cessão do ponto comercial e da clientela, equipamentos, marca, banco de dados etc., essa transferência poderá ser realizada mediante venda, incorporação, arrendamento, cisão, fusão etc. b) não ocorrência da paralisação da atividade: após a sucessão, o sucessor deverá dar continuidade ao empreendimento, sem que fique paralisado por muito tempo. Destaca-se que essa continuidade se refere à manutenção da mesma atividade-fim exercida pelo sucedido, não havendo prazo mínimo ou máximo para que isso ocorra, o que será aferido pela utilização do critério da razoabilidade. Se aquele que adquire o estabelecimento não prosseguir com nenhuma atividade empresarial, ou se alterar a atividade-fim, não há sucessão, ainda que os empregados sejam os mesmos no mesmo local de trabalho (CORREIA, 2018, p. 322). 98 O Empregado e o Empregador Fundamentos da Sucessão Trabalhista O instituto sucessório trabalhista possui seus fundamentos localizados na teoria do Direito do Trabalho e, também, nos textos de legislação laborativa heterogênea estatal do Brasil. a) Fundamentação embasada na doutrina A sucessão trabalhista é o resultado da convergência de três princípios que informam o Direito do Trabalho. Primeiro temos o princípio da intangibilidade objetiva do contrato empregatício e o princípio da despersonalização da figura do empregador. Em um segundo momento, temos o princípio da continuidade do contrato de trabalho, considerando que esteja presente o segundo requisito do instituto sucessório. Visto de uma maneira objetiva, a figura sucessória aparece como veículo de afirmação da intangibilidade dos contratos de trabalho, mesmo que se altere o sujeito de direito que se localiza no polo passivo do contrato, no caso o empregador, o contrato irá se manter inalterado em relação às obrigações e direitos dele decorrentes. A sucessão mantém preservadas as mesmas garantias tradicionais que foram originadas pelo antigo empregador, isto em benefício de seu empregado, já que o efeito da sucessão incide de maneira direta no caso de transferência interempresarial de uma certa unidade econômico-jurídica e que afeta os contratos de trabalho anteriores de maneira significativa. A sucessão trabalhista evidencia a afirmação da impessoalidade em relação à figura do empregador, isto considerando a relação de emprego, pois a lei não se opõe a alteração subjetiva do contrato empregatício, desde que esta alteração seja efetuada apenas no polo passivo do contrato. Haverá a continuidade da relação de emprego, caso se constate a presença dos dois requisitos então estudados, quando ocorrer as alterações intra ou interempresariais, mesmo que haja mudança na figura do empregador, no qual, o que se garante é a manutenção da antiga relação de emprego em face do novo titular da empresa. 99 Sucessão de Empregadores Capítulo 3 b) Fundamentação embasada na lei O fundamento legal da sucessão trabalhista está nos artigos 10 e 448 da CLT (BRASIL, 1943). Estes fundamentos legais não se aplicam apenas aos empregados urbanos, mas também, à aplicação aos rurícolas, isto em virtude da plena compatibilidade das regras em face a esta categoria de trabalhadores, conforme determina o artigo 1º, caput, da Lei 5.889/1973 (BRASIL, 1973). Em um primeiro momento, verifica-se que a única categoria específica em que não se aplicam estes preceitos é dos empregados domésticos, essa situação será estudada no ponto a seguir que trata da abrangência da sucessão trabalhista. Vólia Bomfim Cassar (CASSAR, 2011, p. 486-487), sobre a estatização de empresas, trouxe uma importante informação: Quanto à estatização, o fenômeno ocorre quando a exploração da atividade sai da empresa privada e volta para o controle do Estado. Neste caso não há que se falar em sucessão. Todos os contratos são extintos no momento de regresso da atividade para o Estado. Para que possam ser empregados novamente terão que ser aprovados em concurso público, na forma do artigo 37, II da Constituição Federal. Se você quiser conhecer mais sobre o papel da administração pública na sucessão trabalhista, existem bons livros sobre este assunto, tais como: CASSAR, Vólia Bomfim. Direito do trabalho. 13. ed. São Paulo: Editora Gen Método, 2017. 100 O Empregado e o Empregador Abrangência da Sucessão Trabalhista O instituto da sucessão trabalhista abrange de maneira geral toda relação de emprego, independentemente das cláusulas que são fixadas no contrato de trabalho pelos sujeitos envolvidos neste liame. Quando se fala em toda relação de emprego, está se referindo ao contrato empregatício que envolve o trabalhador urbano ou rural, nos moldes da aplicação dos artigos 10 e 448 da CLT (BRASIL, 1943) combinados com artigo 1º, caput, da Lei 5.889/73 (BRASIL, 1973). a) Restrições tópicas à sucessão trabalhista Há localizadas restrições em relação à incidência do instituto da sucessão trabalhista. Estas restrições estão ligadas à categoria do empregado doméstico, como também do empregador que se constitui em empresa individual e que falece, e também em relação ao desmembramento de estado ou de município onde se dará origem a uma nova entidade pública. Também há relação com as situações geradas pela nova lei de falências e recuperação empresarial e a peculiar situação relativa aos cartórios extrajudiciais, nos moldes do artigo 236 da Constituição Federal de 1988 (BRASIL, 1988) – artigo regulamentado pela Lei 8.935/94. Atividade de Estudos: 1) Quais são os fundamentos da sucessão trabalhista localizados na teoria do Direito do Trabalho e, também, nos textos de legislação laborativa heterogênea estatal do Brasil? ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ Quando se fala em toda relação de emprego, está se referindo ao contrato empregatício que envolve o trabalhador urbano ou rural. 101 Sucessão de Empregadores Capítulo 3 • Empregado doméstico Em relação à categoria dos empregados domésticos, que se refere à primeira das restrições colocadas pela sucessão trabalhista, não incidirão as normas e condutas próprias a uma alteração subjetiva do contrato de trabalho dos empregados domésticos. Tem-se três fundamentos centrais que suportam esta exceção: o primeiro fundamento está no artigo 7º, letra A da CLT (BRASIL, 1943), que exclui expressamente o empregado doméstico da incidência das normas celetistas, desta forma não se aplicaria nos artigos 10 e 448 da CLT (BRASIL, 1943). Houve um enfraquecimento desta determinação com entrada em vigor da Lei complementar nº 150, de 2015, que determinou a aplicação de maneira subsidiária do texto consolidado aos contratos de trabalho dos domésticos, conforme determina o artigo 19, caput, da LC 150/15 (BRASIL, 2015). Contudo, há uma necessidade atual de se investigar sobre a compatibilidade do instituto da sucessão trabalhista com as relações do trabalho doméstico. Assim, o instituto sucessório apresenta incompatibilidade com os contratos de trabalho do empregado doméstico, uma vez que a CLT utiliza o conceito de empresa para aplicar as suas regras, apresentando-se, pois, uma incompatibilidade com a realidade do empregador doméstico, uma vez que, como se sabe, na relação do empregado doméstico com seu empregador doméstico não se pode considerar qualquer conteúdo econômico do trabalho para o tomador, este é o segundo fundamento. A noção de empresa exclui o tipo legal para aplicação em relação ao empregador doméstico. Já o terceiro fundamento é de natureza doutrinária e está relacionado ao princípio da despersonalização da figura do empregador, pois desaparece drasticamente na relação do empregado doméstico, uma vez que nesta relação jamais podem assumir a qualidade de empregador as pessoas jurídicas ou entes despersonalizados, como no caso do condomínio e da massa falida, por exemplo, já que a relação do empregado doméstico é feita apenas com a pessoa ou a família que são considerados tomadores do trabalho do doméstico. Também está ligado à questão da pessoalidade do empregador doméstico, uma vez que, com a morte deste empregador, o contrato se extingue automaticamente, a menos que a prestação do trabalho se mantenha nos mesmos moldes em que vinha sendo realizado em face da mesma família ou da mesma unidade familiar. Não incidirão as normas e condutas próprias a uma alteração subjetiva do contrato de trabalho dos empregados domésticos. 102 O Empregado e o Empregador • Empregador considerado como empresa individual Outra exceção a ser analisada está ligada à morte do empregador constituído em empresa individual. Nesta situação, a legislação permite que o empregado haja com faculdade em dar por terminado o contrato de trabalho, mesmo que o empreendimento tenha continuidade através de seus sucessores, conforme determina o artigo 483, parágrafo 2º da CLT (BRASIL, 1943). Isto é, nesta situação de alteração subjetiva do empregador, deixa de ser imperativa a aplicação do texto legal, sobre o ponto de vista do trabalhador, é claro que se o obreiro continuar laborando no empreendimento, ocorrerá a sucessão trabalhista. • O Estado-administração ou o Município desmembrado como empregador Esta é mais uma exceção em relação à aplicação legal do instituto da sucessão trabalhista e que tem previsão legal no artigo 18, parágrafo 3º e parágrafo 4º da Constituição Federal de 1988. A Entidade de direito público que se institui recentemente, mesmo absorvendo parte dos servidores celetistas do ente público desmembrado, não sofrerá os efeitos dos artigos 10 e 448 da CLT (BRASIL, 1943), isto em virtude do princípio da autonomia político-administrativa dos relativos entes, conforme previsão constitucional, artigo 18, caput, da Constituição Federal de 1988, tendo ainda o entendimento no TST nesta mesma linha, que é a Orientação Jurisprudencial nº 92 da SDI-I (BRASIL, 1997). • Empregador em estado de falência ou recuperação empresarial Uma outra exceção foi criada pela Lei 11.101, de 2005, que cuida da regulação do processo de falência e de recuperação empresarial e que teve vigência a partir de 9 de junho de 2005. Às falências que foram processadas a partir da vigência da nova lei, não incidirá a sucessão trabalhista dos empregadores no caso de alienação da empresa falida ou de um ou de alguns de seus estabelecimentos, isto é o que determina o artigo 141, inciso II e parágrafo 2º da Lei 11.101, de 2005 (BRASIL, 2005). Serão, pois, considerados como novos os contratos de trabalho iniciados com o empregador adquirente, mesmo que se trate de antigos empregados da antiga empresa que se extinguiu. 103 Sucessão de Empregadores Capítulo 3 Esta exceção não se aplicaria às alienações efetivadas durante os processos de simples recuperação extrajudicial ou de recuperação judicial das empresas. Quanto à modalidade de recuperação extrajudicial, o artigo 161, parágrafo 1º, e o artigo 163, parágrafo 1º, combinado com o artigo 83, da Lei 11.101, de 2005 (BRASIL, 2005), trazem a abrangência da excludente sucessória. Os créditos dos empregados, sejam eles trabalhistas ou acidentário, possuem absoluta preponderância na ordem jurídica, em decorrência dos princípios constitucionais da dignidade da pessoa humana na ordem jurídica, da prevalência do valor do trabalho, da justiça social, e o princípio da subordinação da propriedade à sua função social, tornando-se inviável proceder uma interpretação extensiva das regras infraconstitucionais que agridem os direitos individuais e sociais assegurados pela Constituição Federal de 1988. Sobre este assunto, tem-se o entendimento do STF quanto à interpretação excludente da sucessão trabalhista, conforme registrado por Mauricio Godinho Delgado (DELGADO, 2017, p. 487): Registre que, não obstante, o STF decidiu-se pela interpretação excludente da sucessão trabalhista também nos casos de alienações de ativos de empresa submetida a recuperação judicial. Quer na ADI 3.934/DF, quer no RE 583.955-9/RJ, ambos sob relatoria do Min. Ricardo Lewandowski, julgados em 2009, a Corte Máxima entendeu constitucionais os arts. 60, parágrafo único, e 141, II, da Lei n. 11.101/05, compreendendo ainda que os dispositivos remetem-se inegavelmente às situações de recuperação judicial. Com esta interpretação trazida pelo STF em relação a este tema, nos moldes da Lei 11.101, de 2005, a sucessão trabalhista não se aplicaria às situações de alienação de ativos nos processos de falência e mesmo nos processos de recuperação judicial das empresas. Recuperação extrajudicial ou de recuperação judicial das empresas. Para saber mais sobre a inexistência de sucessão civil, trabalhista e tributária do adquirente de empresa falida, tem o sítio virtual Portal de e-governo, inclusão digital e sociedade do conhecimento, da UFSC, que apresenta um excelente conteúdo acerca deste assunto: Disponível em: <http://www.egov.ufsc.br/ portal/conteudo/inexist%C3%AAncia-de-sucess%C3%A3o-civil- trabalhista-e-tribut%C3%A1ria-do-adquirente-de-empresa-falida>. Acesso em: 18 abr. 2018. 104 O Empregado e o Empregador • Os Cartórios Extrajudiciais, peculiaridades da situação Os cartórios possuem peculiaridades que se estruturam em torno da figura pessoal do titular da serventia, conforme determina o artigo 5º da Lei 8.935/94 (BRASIL, 1994), que ostenta a delegação pública pessoal e das circunstâncias, de que as novas titularidades da serventia devam ser instituídas com prévia aprovação em concurso público de provas e títulos. Assim, se considera empregador a pessoa natural de seu titular, ao invés de um suposto fundo notarial ou de um estabelecimento cartorário, o mesmo do próprio cartório, é assim que dispõe a Lei 8.935 no seu artigo 20, caput e no seu artigo 48, caput. Estas peculiaridades restringem, pois, a incidência da sucessão trabalhista dos empregadores regulada pela CLT, na qual essa sucessão somente se aplica às situações fáticas e jurídicas em que estejam presentes, de maneira concomitante, os dois elementos que integram a sucessão trabalhista, que seriam a transferência da titularidade da serventia e a continuidade da prestação de serviços dos trabalhadores. Caso não estejam reunidos estes dois elementos, a relação de emprego que existia anteriormente não irá se transferir para o novo titular da serventia, em que a vinculação será mantida somente ao antigo empregador. Aqui, nesta situação dos cartorários, não se aplica a interpretação extensiva do instituto da sucessão trabalhista, mesmo que verificada a presença de apenas o primeiro elemento que integra esta figura jurídica, sem a continuidade da prestação laboral. Efeitos da Sucessão Trabalhista O principal objetivo da lei em relação ao instituto da sucessão trabalhista é que se assegure a intangibilidade dos contratos de trabalho que existam no conjunto da organização empresarial, caso haja alguma alteração ou transferência, ou mesmo que haja a transferência de uma parte dessa organização. É, pois, desta forma, que o instituto visa assegurar que a alteração intra ou interempresarial não afete os contratos de trabalho da empresa, do estabelecimento, e dos titulares envolvidos. Essa sucessão somente se aplica às situações fáticas e jurídicas em que estejam presentes, de maneira concomitante, os dois elementos que integram a sucessão trabalhista, que seriam a transferência da titularidade da serventia e a continuidade da prestação de serviços dos trabalhadores. Assegure a intangibilidade dos contratos de trabalho. 105 Sucessão de Empregadores Capítulo 3 A partir disto, tem-se dois efeitos a serem examinados, o efeito que envolve o novo titular da empresa ou do estabelecimento e o efeito ligado ao empregador sucedido. a) Posição jurídica do sucessor empresarial A figura da sucessão trabalhista provoca uma transferência automática dos direitos e das obrigações contratuais, em virtude de força legal, do antigo titular do empreendimento para o novo titular deste empreendimento, ou seja, do antigo empregador para o seu sucessor. A imediata e automática assunção dos contratos trabalhistas é o que acontece para o novo titular da organização empresarial ou de uma parte que foi transferida. Este novo titular da empresa passa a responder pelas repercussões presentes, futuras e passadas dos contratos de emprego que lhe foram transferidos, isto imediatamente. Os direitos e as obrigações do contrato de trabalho transferem-se de maneira interativa por determinação legal, isto em decorrência da transferência interempresarial que se opera. Os ativos e os passivos trabalhistas transferem-se em sua totalidade ao novo empregador em que os efeitos jurídicos são plenos. • Cláusula prevista de não responsabilização Numa relação intra e interempresarial de transferência de universalidade de estabelecimento ou de empresa é comum haver a estipulação contratual de cláusula de não responsabilização. O adquirente, que será o novo empregador, enfatiza qual será o início da sua responsabilidade trabalhista, que no caso, só contará a partir da efetiva transferência, na qual se firma a responsabilidade do antigo empregador até a data da efetiva transferência. Estas cláusulas que restringem a responsabilização trabalhista não possuem qualquer valor para o Direito do Trabalho. Isto porque, na medida que o instituto sucessório é criado e regulado por normas jurídicas imperativas, é irrelevante para o Direito do Trabalho a existência de cláusulas contratuais firmadas no âmbito dos empregadores envolvidos e que sustentam que o alienante responderá por todos os débitos trabalhistas até a data da transferência, sem responsabilização do adquirente. Para a CLT, os débitos trabalhistas transferem-se de maneira imperativa ao adquirente. Essas cláusulas excludentes e previstas nos contratos de 106 O Empregado e o Empregador transferência produzirão repercussões apenas fora do Direito do Trabalho, não gerando qualquer consequência trabalhista. Contudo, não se pode negar a importância da existência deste tipo de cláusula nas relações interempresariais, o que se quer é apenas esclarecer os seus efeitos, que terão repercussões nas áreas civis e comerciais, não afetando os direitos e prerrogativas dos contratos dos trabalhadores. b) Posição jurídica do empregador sucedido O instituto da sucessão trabalhista opera uma assunção plena dos direitos e das obrigações trabalhistas pelo novo titular da empresa ou do estabelecimento, em que este passa a responder, na qualidade de empregador sucessor, tanto pelo passado, quanto pelo presente e futuro dos contratos de trabalho. Esta situação gera os seguintes questionamentos: Qual a posição jurídica do empregador sucedido neste quadro? O empregador responderia ou não pelos contratos de trabalho e qual seria a intensidade e a extensão dessa responsabilidade? Afirma-se que, para o Direito do Trabalho, como regra, não se preserva qualquer responsabilidade, seja solidária ou subsidiária, do alienante pelos créditos trabalhistas relativos ao período anterior à transferência. O sucessor assume, integralmente, o papel de empregador e responde por toda a história do contrato de trabalho. Este é o resultado da consumação plena dos efeitos da figura sucessória, como regra geral. A jurisprudência coloca como imperioso a aplicação dos artigos 10 e 448 da CLT na presente situação, conforme estudo trazido pelo Mauricio Godinho Delgado (DELGADO, 2017, p. 490): Contudo, a jurisprudência também tem inferido do texto genérico e impreciso dos arts. 10 e 448 da CLT a existência de responsabilidade subsidiária do antigo empregador pelos valores resultantes dos respectivos contratos de trabalho, desde que a modificação ou transferência empresariais tenham sido aptas a afetar (arts. 10 e 448) os contratos de trabalho. Ou seja, as situações de sucessão trabalhista propiciadoras de um comprometimento das garantias empresariais deferidas aos contratos de trabalho seriam, sim, aptas a provocar a incidência da responsabilização subsidiária da empresa sucedida. Isso significa que a jurisprudência tem ampliado as possibilidades de responsabilização subsidiária do antigo titular do empreendimento por além das situações de fraude comprovadas no contexto sucessório (art. 9º, CLT; art. 159, 107 Sucessão de Empregadores Capítulo 3 CCB/1916, e art. 186, CCB/2003, combinados com art. 8º, parágrafo único, CLT) (26). Mesmo que não haja fraude, porém comprometimento das garantias empresariais deferidas aos contratos de trabalho, incide, portanto, a responsabilidade subsidiária da empresa sucedida. Nas sucessões trabalhistas ditas precárias, que são aquelas resultantes de títulos jurídicos que não transferem de modo definitivo, mas sim de maneira transitória ou precária, como ocorre no arrendamento, a responsabilidade subsidiária do sucedido se justifica ainda mais, na aplicação dos artigos 10 e 448 da CLT (BRASIL, 1943). É que as novas garantias que são ofertadas aos contratos de trabalho pelo novo titular arrendante são provisórias, o que afeta de modo significativo os respectivos contratos de emprego. c) Insurgência obreira contra a sucessão trabalhista A sucessão importa em uma alteração do pacto laboral primitivo, que é alteração subjetiva do contrato, esta alteração é provocada de modo unilateral pelo empregador. Em princípio, não se poderia invocar o artigo 468 da CLT (BRASIL, 1943), no qual o empregador opor-se-ia à sucessão, invocada pelo princípio da inalterabilidade assegurado pela lei, pois a sucessão trabalhista se configura como uma alteração contratual permitida pela ordem jurídica. Contudo, o instituto da sucessão trabalhista atual foi concebido de forma a ser um veículo protetor muito importante em benefício dos interesses contratuais do trabalhador, mesmo que em certas situações possa lhe trazer algum desconforto ou até mesmo algum individual prejuízo. Assim, o Direito do Trabalho não considera relevante a essência expressa, ou, até mesmo de maneira tácita, feita pelo trabalhador, a validade do processo de modificação ou transferência interempresarial e que corresponde às repercussões dos artigos 10 e 448 da CLT (BRASIL, 1943). Não existe qualquer suporte no Direito do Trabalho a uma situação do empregador poder pleitear a rescisão indireta do contrato de trabalho, nos moldes do artigo 483 da CLT (BRASIL, 1943), isto pelo fato de não concordar com a transferência da empresa ou do estabelecimento em que trabalha. Esta situação não seria possível em virtude do princípio da despersonalização da figura do empregador e da imperatividade das regras da sucessão trabalhista. As novas garantias que são ofertadas aos contratos de trabalho pelo novo titular arrendante são provisórias, o que afeta de modo significativo os respectivos contratos de emprego. A sucessão trabalhista se configura como uma alteração contratual permitida pela ordem jurídica. 108 O Empregado e o Empregador Contudo, este entendimento não é pacífico na doutrina, Délio Maranhão vê uma possibilidade do trabalhador insurgir-se de maneira válida contra essa sucessão trabalhista, isso ocorreria quando o pacto da relação feita com o empregado esteja diretamente ligado à figura do empregador e sua decisão tenha sido tomada como causa para a fixação do pacto laboral, registra o doutrinador: “Pense-se na situação de um jornalista e na mudança radical de orientação da empresa jornalística de que era empregado” (MARANHÃO, 1987, p. 25). Esta possibilidade deve ser entendida como absolutamente excepcional, sob pena de descaracterizar completamente o próprio instituto da sucessão trabalhista. É de se destacar que, no caso do falecimento do empregador que se constituiu como empresa individual, a lei faculta ao empregado rescindir o contrato de trabalho nos moldes do artigo 483, parágrafo 2º da CLT (BRASIL, 1943). Isto é, mesmo que o empreendimento tenha continuidade por meio dos sucessores do falecido, tem-se a possibilidade do trabalhador dar por encerrado o pacto laboral, mas esta atitude não lhe propicia efeitos plenamente favoráveis, pois conforme parte da doutrina defendida por Mozart Victor Russomano, Valentin Carrion e Nélio Reis, este tipo de ruptura apenas tira do empregado o ônus do pedido de demissão, que teria como consequência a concessão de aviso-prévio ao empregador sob pena de desconto rescisório, mas não lhe dá o direito às vantagens de uma rescisão indireta. RESPONSABILIDADE DOS SUCESSORES DE ACORDO COM A REFORMA TRABALHISTA Com a reforma trabalhista, houve a inclusão do artigo 448-A na CLT, para prever a responsabilidade do sucessor e do sucedido caso configurada a sucessão de empresa: Art. 448-A. Caracterizada a sucessão empresarial ou de empregadores prevista nos arts. 10 e 448 desta Consolidação, as obrigações trabalhistas, inclusive as contraídas à época em que os empregados trabalhavam para a empresa sucedida, são de responsabilidade do sucessor. Parágrafo único. A empresa sucedida responderá solidariamente com a sucessora quando ficar comprovada fraude na transferência. 109 Sucessão de Empregadores Capítulo 3 A reforma trabalhista acrescentou o presente artigo à CLT para prever a responsabilidade do sucessor e do sucedido caso configurada a sucessão trabalhista. Anteriormente, a responsabilidade das empresas era determinada pela doutrina e jurisprudência, que já estabelecia a responsabilidade do sucessor pelos débitos trabalhistas. O sucessor, portanto, assumia o bônus (riquezas produzidas pela empresa sucedida) e os ônus (débitos trabalhistas) decorrentes da sucessão. De acordo com a redação do artigo em análise, as obrigações trabalhistas, inclusive aquelas contraídas à época em que os empregados trabalhavam para a empresa sucedida, são de responsabilidade do sucessor. Portanto, o sucessor tem a responsabilidade sobre todos os débitos trabalhistas, ainda que a verba se refira a momento de prestação dos serviços para o sucedido. A empresa sucessora teve tempo para verificar a viabilidade do negócio, devendo, portanto, assumir os riscos dessa aquisição. A responsabilidade passiva deve ser total, ou seja, atingindo os débitos referentes aos antigos, presentes e futuros empregados. O posicionamento doutrinário e jurisprudencial (OJ número 261 da SDI-I do TST) já reconhecia na sucessão de bancos a responsabilidade total do sucessor, o que agora passou a ser expressamente previsto a todos os empregadores no artigo 448-A da CLT. Inclusive, entendemos que não há mais discussão quanto à responsabilidade pelos débitos trabalhistas decorrentes de contratos extintos antes da sucessão, pois o sucessor responderá pelos débitos que tenham sido contraídos antes da sucessão, o que inclui os débitos de antigos empregados ainda não quitados (processo em trâmite na Justiça do Trabalho). O parágrafo único do artigo 448-A da CLT estabelece uma única exceção para que haja a responsabilidade tanto do sucessor como do sucedido. Ambos responderão solidariamente quando ficar constatada a fraude na transferência das empresas. Por exemplo: se a empresa sucedida efetuar a transferência para evitar o pagamento dos débitos trabalhistas ou para dificultar sua exigência em juízo, responderá solidariamente com a empresa sucessora. Entendemos que esse dispositivo traz maior segurança jurídica às relações de trabalho, pois permite ao empregado exigir todas as parcelas do sucessor e incluir o sucedido como solidariamente responsável caso comprovada a fraude na sucessão. 110 O Empregado e o Empregador Natureza Jurídica Da Sucessão Trabalhista Entender a natureza jurídica de um instituto é posicioná-lo no universo de todas as figuras existentes no direito. A reflexão da figura da sucessão trabalhista em relação à sua natureza jurídica tem de assimilar os preceitos dos artigos 10 e 448 da CLT em relação às figuras semelhantes e clássicas do direito civil, tais figuras se referem a novação, estipulação em favor de terceiro, sub-rogação e cessão. O que se conclui, atualmente e de maneira consensual, é que o tipo jurídico clássico de quaisquer dessas figuras civilistas não se ajusta de maneira satisfatória à sucessão trabalhista. Todas as tentativas de assimilar e que foram efetuadas conduziram a uma perda ou distorção de alguns elementos característicos importantes da figura sucessória trabalhista ou das figuras civilistas enfatizadas, o que comprometeu a validade daquelas tentativas de assimilações. a) Figura civilista clássica Em um primeiro momento examina-se o instituto da novação. Percebe-se que este instituto do Direito Civil possui uma relação estranha aos institutos dos artigos 10 e 448 da CLT. O que se observa é que o instituto trabalhista não tem a intenção de novar obrigação, pois a sucessão trabalhista tem efeitos imperativos, até mesmo contra a vontade dos titulares da empresa ou dos estabelecimentos envolvidos. Ocorre, na prática, a celebração de contrato, chamado de contrato de exclusão de responsabilidade, prevendo que o comprador do estabelecimento não será responsável pelo passivo trabalhista, fiscal e previdenciário. O acordo entre sucessor e sucedido para exclusão de responsabilidades trabalhistas do novo empregador (sucessor) não tem efeito na Justiça do Trabalho, pois a expressa previsão em lei sobre a sucessão, os artigos 10, 448 e agora 448- A, da CLT são imperativos, não cabendo transação entre as partes. É importante ressaltar que será possível o ajuizamento de ação de regresso por uma empresa em relação a outra. Essa ação deverá ser proposta perante a justiça comum. Fonte: Correia (2018, pp.323-324). O tipo jurídico clássico de quaisquer dessas figuras civilistas não se ajusta de maneira satisfatória à sucessão trabalhista. 111 Sucessão de Empregadores Capítulo 3 Também não se verifica no instituto trabalhista a extinção da obrigação prévia, em decorrência da celebração da nova obrigação. A novação civilista exige consentimento expresso do credor, como regra geral, ao contrário do que se verifica no instituto trabalhista. Em relação ao instituto da estipulação em favor de terceiro, também é estranho ao fixado nos artigos 10 e 448 da CLT.O empregado é credor dos seus direitos trabalhistas e devedor da obrigação de prestar trabalho e de outras prestações contratuais, ele não é mero terceiro favorecido. Assim, a sucessão provoca efeitos dialéticos, ou seja, distintos, mas combinados, que se verificam tanto no âmbito dos direitos do empregado, como no âmbito de suas obrigações, ao contrário do que se verifica na figura civil comparada. Em relação ao instituto civilista da sub-rogação, a distinção é substantiva em contraponto à figura da sucessão trabalhista. Em um primeiro momento, preserva- se, no instituto civil, a relevância da vontade das partes, ao contrário do que ocorre no instituto da sucessão de empregadores. No momento seguinte, a sub-rogação tende a ser parcial, enquanto a figura sucessória do Direito do Trabalho é plena. O último contraponto se refere à cessão. Em relação a este instituto, as diferenciações são bem marcantes. A figura do Direito Civil confere especial relevo à vontade das partes, que é diferente do instituto trabalhista. O instituto civil tem efeitos parciais, ao contrário da generalidade dos efeitos da sucessão dos empregadores na seara trabalhista. Pressupõe, ainda, certas formalidades para se valer perante terceiros, conforme determina o artigo 1.067 do Código Civil brasileiro de 1916 e o artigo 288 do Código Civil brasileiro de 2002 (BRASIL, 2002), já a figura sucessória do Direito do Trabalho opera-se independentemente de qualquer significativo ritual prévio, e, por fim, a figura civil abrange créditos e não dívida, diferente do instituto justrabalhista. b) Singularidade trabalhista A sucessão de empregadores surge com caráter próprio, que é assimilável a qualquer figura clássica do Direito Civil, contudo, o instituto justrabalhista não se enquadra nos institutos civilistas de que se tem conhecimento, pois possui natureza jurídica própria. O empregado é credor dos seus direitos trabalhistas e devedor da obrigação de prestar trabalho e de outras prestações contratuais, ele não é mero terceiro favorecido. O instituto justrabalhista não se enquadra nos institutos civilistas de que se tem conhecimento, pois possui natureza jurídica própria. 112 O Empregado e o Empregador A figura juslaboral consiste na conjugação de duas operações distintas, porém combinadas, que são a transmissão de crédito e a assunção de dívida, em que ambas se realizam em decorrência da lei e no mesmo momento. Assim, não se pode comparar a sucessão trabalhista a qualquer instituto civil existente. DESMEMBRAMENTO DE MUNICÍPIO De acordo com a Orientação Jurisprudencial no 92 da SDI-I do TST, no caso de desmembramento de município, cada um deles deve ser responsável pelas obrigações trabalhistas referentes ao período em que foram “realmente empregadores.” Quis dizer, no período que apareceram formalmente como empregadores, pois a pessoa jurídica é apenas o empregador aparente (o que aparece na CTPS e nos documentos como tal), pois a real empregadora é a EMPRESA. Neste caso, o empregado poderá optar pelo município que tiver interesse em trabalhar e, se for para o novo município, este responderá a partir desse momento, enquanto o antigo responde pelas obrigações trabalhistas até o momento do desmembramento. Esta posição contraria todos os fundamentos da sucessão e viola os arts. 10 e 448 da CLT, pois a nova unidade deveria suceder as dívidas trabalhistas porventura existentes antes do desmembramento, assim como os contratos vigentes na época. Ora, se o novo município aproveitou o concurso realizado pelo trabalhador para ingresso no emprego, dentro da antiga região, com toda razão, pois incluía em seu limite territorial, deve trazer o contrato como um todo e não apenas a parte que permanece no novo município. Dividir o contrato em dois períodos, com “empregadores” diferentes, é o mesmo que dizer que são dois os contratos, logo, o segundo teria sido firmado sem a observância do art. 37, II, da CRFB, pois sua nova admissão ocorreu sem prévia aprovação em concurso público. Há argumentos contrários à tese, no sentido de que não se pode criar um município com dívidas e que o concurso foi realizado para aquele “espaço territorial geográfico” também, e, por isso, haverá sucessão do contrato de trabalho, todavia, com responsabilidade trabalhista limitada à data do desmembramento em diante. 113 Sucessão de Empregadores Capítulo 3 Não pode o empregado trabalhar em dois municípios distintos e cada um responder por seu período. O que se admitiria nesta situação seria a ruptura do primeiro contrato, com o pagamento de todas as verbas devidas no caso de resilição contratual e uma nova pactuação com o novo empregador, após aprovação em novo concurso público. Ou, no máximo, a cessão provisória dos empregados ao município primitivo (para o qual fez o concurso) para o novo (com ou sem encargos) até que o novo município contrate (por concurso público) seus próprios empregados. RECURSO DE REVISTA. DESMEMBRAMENTO DE MUNICÍPIOS. RESPONSABILIDADE. DIREITOS TRABALHISTAS. Consoante estabelecido na Orientação Jurisprudencial no 92 da SDI-I desta Corte, em caso de criação de novo município, por desmembramento, cada uma das novas entidades responsabiliza- se pelos direitos trabalhistas do empregado no período em que figurarem como real empregador. Recurso conhecido e provido. T STRR-423494/98 - Rel. Designado: Juiz Convocado André Luís Moraes de Oliveira. DJU 29/08/2003. Existem ainda na jurisprudência alguns entendimentos no sentido de não reconhecer a existência de sucessão entre municípios, pois eles possuem natureza de direito público, o que inviabiliza a aplicação da regra de sucessão que seria de direito privado. Neste sentido: MUNICÍPIOS. Os municípios são pessoas jurídicas distintas e de direito público. A sucessão referente a entes da Administração Pública não tem a mesma natureza da sucessão trabalhista disposta nos arts. 10 e 448 da CLT. TST-RR 121053/94.2 - Rel. Min. Galba Velloso. DIU 28/06/96. Fonte: Extraído de Cassar (2011, p. 491). 114 O Empregado e o Empregador Faça uma pesquisa nas empresas que você conhece e procure saber se ocorreu alguma forma de sucessão, como aqui estudado. Procure saber que tipo de sucessão ocorreu e como ficou a responsabilidade em relação aos contratos de trabalho. Isto para verificar a identificação do conteúdo em situações práticas e as responsabilidades perante os créditos trabalhistas no instituto da sucessão. Atividade de Estudos: 1) No que concerne às responsabilidades decorrentes da existência de grupo econômico, analise as seguintes assertivas e assinale a alternativa correta. a) A responsabilidade solidária decorrente da existência de grupo econômico somente pode ser reconhecida judicialmente, e desde que o trabalhador ajuíze a ação em face de todas as empresas integrantes do grupo econômico. b) Mesmo sem previsão nesse sentido em seu contrato de trabalho, Agnaldo presta serviços a todas as empresas do grupo econômico a que pertence seu empregador. Entendendo que tal situação caracteriza a coexistência de mais de um contrato de trabalho, Agnaldo pretende o recebimento de direitos trabalhistas de todas as empresas para as quais presta serviços. c) Marcelo, empregado de empresa de processamento de dados que presta serviço a banco integrante do mesmo grupo econômico, pretende o reconhecimento de sua condição de bancário, tendo em vista que a empresa de processamento de dados empregadora não presta serviços a qualquer outro cliente que não o banco. d) Paula, empregada de banco, que vende valores mobiliários de empresa pertencente ao mesmo grupo econômico de seu empregador, pretende a integração na sua remuneração da vantagem pecuniária auferida em decorrência dessa atividade. No entanto, considerando tratar-se de atividades correlatas, ligadas à atividade bancária em geral, não procede a pretensão de Paula. 115 Sucessão de Empregadores Capítulo 3 Algumas Considerações Este capítulo procurou definir a sucessão trabalhista e entender a sua denominação, compreendendo a caracterização deste instituto (da sucessão trabalhista), entendendo a letra da lei e sua aplicação nos casos registrados doutrinariamente, além de apresentar algumas orientações de estudos em EAD. É de primordial importância compreender o instituto da sucessão trabalhista, pois é da sua compreensão que saberemos como ficará a responsabilidade pelos créditos decorrentes da relação de trabalho e a continuidade dos contratos de trabalho firmados com o empregado. Entendemos, com este estudo, que a sucessão trabalhista possui dois artigos na CLT que tratam da sua previsão legal, que são os artigos 10 e 448, da CLT (BRASIL, 1943, pp. 3 e 136). Identificamos os requisitos, a abrangência e os efeitos da sucessão trabalhista, como também entendemos a natureza jurídica deste instituto. O capítulo também trouxe um estudo complementar relativo à presença da Administração Pública quando ocorrer uma sucessão trabalhista com ela envolvida. No próximo capítulo, continuaremos a abordar a figura do empregador, mas agora em relação aos empregadores em destaque, entre os quais se incluem o empregador estatal, a pessoa jurídica de direito público, a empresa pública e a sociedade de economia mista, o cartório judicial e o consórcio de empregadores. A identificação da importância da leitura e a forma com que auxiliamos no autoaprendizado do aluno são de grande valia, convindo não ser demais registrar que, se você não escolher um local adequado para estudo e não organizar seu tempo, certamente muitas oportunidades para interagir com o texto serão excluídas ou minimizadas, assim, não perca a chance de fazer a diferença e estudar com responsabilidade. e) O sucessor responde solidariamente por débitos trabalhistas de empresa não adquirida, integrante do mesmo grupo econômico da empresa sucedida, tendo em vista que, com a sucessão, o sucessor assume todas as dívidas do sucedido. 116 O Empregado e o Empregador Referências BARROS, Alice Monteiro de. Curso de direito do trabalho. 11. ed. São Paulo: LTr, 2017. BRASIL. Consolidação das Leis do Trabalho, de 1º de maio de 1943. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del5452.htm>. Acesso em: 5 fev. 2018. BRASIL. Constituição da República do Brasil, de 05 de outubro de 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/ constituicaocompilado.htm>. Acesso em: 5 fev. 2018. BRASIL. Lei nº 5.889, de 08 de junho de 1973. Disponível em: <http://www. planalto.gov.br/CCivil_03/leis/L5889.htm>. Acesso em: 5 jan. 2018. BRASIL. Lei nº 8.935, de 18 de novembro de 1994. Disponível em: <http://www. planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8935.htm>. Acesso em: 5 fev. 2018. BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho. Orientação Jurisprudencial nº 92 da SDI-I. DESMEMBRAMENTO DE MUNICÍPIOS. RESPONSABILIDADE TRABALHISTA (inserida em 30.05.1997). Disponível em: <http://www3.tst.jus.br/ jurisprudencia/OJ_SDI_1/n_s1_081.htm#TEMA92>. Acesso em: 5 fev. 2018. BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Disponível em: <http://www. planalto.gov.br/CCivil_03/leis/2002/L10406.htm>. Acesso em: 5 fev. 2018. BRASIL. Lei Complementar nº 150, de 1º de junho de 2015. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/lcp150.htm>. Acesso em: 5 fev. 2018. CASSAR, Vólia Bomfim. Direito do trabalho. 13. ed. São Paulo: Editora Gen Método, 2017. CORREIA, Henrique. Direito do trabalho. 3. ed. atual. e ampl. BA: Editora Juspodium, 2018. DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de direito do trabalho. 16. ed. rev. e ampl. São Paulo: LTr, 2017. MARANHÃO, Délio. Direito do Trabalho. 14. ed. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1987.
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