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www.gustavobrigido.com.br Colégio Lourenço Filho - Centro - 4009.6066 / 4009.6022 |1| www.gustavobrigido.com.br Colégio Lourenço Filho - Centro - 4009.6066 / 4009.6022 |2| www.gustavobrigido.com.br Colégio Lourenço Filho - Centro - 4009.6066 / 4009.6022 |3| SUMÁRIO DIREITO ADMINISTRATIVO 1. ESTADO, GOVERNO E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA ......................................................... 5 2. DIREITO ADMINISTRATIVO ................................................................................................. 9 3. ATOS ADMINISTRATIVOS .................................................................................................. 11 LEI Nº 9.784 , DE 29 DE JANEIRO DE 1999 ...................................................................... 18 4. AGENTES PÚBLICOS ......................................................................................................... 23 5. PODERES ADMINISTRATIVOS .......................................................................................... 31 6. PRINCÍPIOS BÁSICOS DA ADMINISTRAÇÃO .................................................................. 36 LEI Nº 8.429, DE 2 DE JUNHO DE 1992 ............................................................................. 42 7. SERVIÇOS PÚBLICOS ........................................................................................................ 49 8. ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA: Administração Direta e Indireta ............................ 54 www.gustavobrigido.com.br Colégio Lourenço Filho - Centro - 4009.6066 / 4009.6022 |4| |5| 1. ESTADO, GOVERNO E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA O estudo da Administração Pública em geral deve partir da definição de Estado no seu sentido amplo, sobre o qual repousa toda a concepção moderna de organização e funcionamento dos serviços públicos a serem prestadores aos administrados. O objetivo desse tópico não é aprofundar o estudo sobre o Estado, o que é objeto do Direito Constitucional, mas estabelecer premissas para melhor compreender os institutos do Direito Administrativo. 1.1. Conceitos O Estado, sob o prisma constitucional, é pessoa jurídica territorial soberana; é uma nação politicamente organizada, dotada de personalidade jurídica própria, sendo pessoa jurídica de direito público que contém seus elementos e três Poderes. Como ente personalizado, o Estado tanto pode atuar no campo do direito público quanto no direito privado, mantendo sempre sua personalidade de direito público. O Estado brasileiro consiste em uma federação. Disto extrai-se que no território nacional coexistem diversos entes autônomos: União, estados, municípios e Distrito Federal. Esta autonomia política é traduzida pela capacidade de auto- organização e pela possibilidade de legislar. O conceito de Estado está relacionado com o modo de exercício do poder político em função do território de um dado Estado. A existência ou não da repartição regional de poderes autônomos é, pois, o núcleo caracterizador do conceito de forma de Estado. O Estado será federado (federal, composto ou complexo) se o poder político estiver repartido entre diferentes entidades governamentais autônomas, gerando uma multiplicidade de organizações governamentais que coexistem em um mesmo território. Desse modo, o Estado surgiu no intuito de auxiliar e cuidar dos objetivos da sociedade, sendo que no Brasil as atividades foram distribuídas constitucionalmente entre os entes federativos, daí que não somos um Estado unitário, e sim um Estado Federativo. A figura do Governo surge a partir da necessidade de organização desse Estado. O conceito de Governo refere-se à maneira como se dá a instituição do poder na sociedade, e como se dá a relação entre governantes e governados. Caso a instituição do poder se dê por meio de eleições, diretas ou indiretas, por um período certo de tempo, e o governante represente o povo, bem como tenha o dever de prestar contas de seus atos, teremos a forma de governo republicana. Monarquia é o nome dado ao regime político comandado por um monarca (rei, imperador, príncipe, etc.) que exerce de modo hereditário e vitalício, sem qualquer consulta ao povo. O local onde o monarca vive e trabalha é chamada corte, e os cidadãos de uma monarquia são referidos como súditos. Tal sistema de governo predominou em todas as sociedades humanas até o final do século XIX, momento em que o regime republicano passa a ser preferido pela maioria dos países. A Administração Pública surge para exteriorizar as necessidades de perseguição do bem público e dos serviços pela sociedade. Atualmente, divide-se em direta (composta pelos entes federativos) e indireta (composta por autarquias, fundações, sociedades de economia mista e empresas públicas). Cumpre esclarecer ainda que o Estado é composto de três elementos originários e indissociáveis: o povo, que representa o componente humano; o território, que é a sua base física, e o governo soberano, que é o elementos condutor do Estado, que detém e exerce o poder absoluto de autodeterminação e auto-organização, emanado pelo povo. Não se admite Estado independente sem soberania, isto é, sem esse poder absoluto, indivisível e incontrastável de organizar-se e de conduzir-se, segundo a vontade livre de seu povo e de fazer cumprir as suas decisões, inclusive pela força, se necessário. 1.2. Elementos: Direito Público e Direito Privado O Direito é dividido de forma clássica em Direito Público e Direito Privado. Tal classificação é considerada equívoca por alguns doutrinadores. Analisando que em muitos casos não é possível identificar a natureza jurídica do interesse em questão, uma vez que todos estão interligados. A clássica divisão do Direito em Público e Privado, tal como reconhecida por Hely Lopes Meirelles, pauta-se no interesse tutelado. O Direito Público interno é aquele destinado a regular, precipuamente, os interesses estatais e sociais, subdividindo-se em Direito Constitucional, Direito Administrativo, Direito Tributário, Direito Penal, Direito Processual, Direito do Trabalho, Direito Eleitoral e Direito Municipal. O Direito Público externo regulamenta as relações entre os Estados Soberanos (Direito Internacional Público) e entre cidadãos de um Estado com Estados diversos (Direito Internacional Privado). Por fim, o Direito Privado tutela preponderantemente os interesses individuais, bipartindo-se em Direito Civil e Direito Comercial. Essa nova corrente busca o elemento diferenciador no titular da relação jurídica (sujeito). A par disso, o Direito Público é aquele que regula as relações das quais o Estado participa, enquanto que o Direito Privado disciplina as relações entre particulares. Nesse diapasão, o Direito do Trabalho é considerado ramo do Direito Privado. É relevante ressaltar entendimento de Celso Antônio Bandeira de Mello, no sentido de que a Administração (Estado) quando pratica atos próprios dos particulares, com a locação de um imóvel, submete- se ao regime jurídico de direito privado e não de direito público, pois, neste caso, “o direito administrativo só lhes regula as condições de emanação, mas não lhes disciplina o conteúdo e correspondentes efeitos”, que são disciplinados pelo direito privado. Para ambas as classificações, o Direito Administrativo é um ramo do Direito Público Interno. 1.3. Estado de Direito: Origem, Princípios e Fins Estado de Direito é o que se subordina ao Direito, vale dizer, que se sujeita a normas jurídicas reguladoras de sua ação. Sua origem histórica possui como marcos mais notáveis as RevoluçõesFrancesa e Americana (fins do século XVIII), que puseram termo ao regime absolutista (Estado Absolutista), próprio da Idade Média, em que todos os poderes governamentais estavam concentrados nas mãos do Soberano e eram exercidos sem limitações jurídicas. Somente com o Estado Moderno ou Estado de Direito é que se cogitou de normas limitadoras do poder político, resguardando-se direitos e garantias dos indivíduos. |6| A finalidade do Estado resume-se na busca do bem comum, da garantia do fornecimento das necessidades de toda a coletividade. A Administração Pública passa a ser a limitadora das liberdades individuais em prol dos interesses coletivos. Destarte, podemos afirmar que o Estado de Direito está estruturado nos seguintes princípios: a) legalidade – que submete os indivíduos e o próprio Estado ao império da lei, principalmente, à lei fundamental, que é a Constituição definidora da própria estrutura do Estado e da esfera de liberdade dos indivíduos. b) garantia dos direitos individuais – arrolados na Carta Magna, de modo a não poderem ser suprimidos pelo Estado. Relaciona-se à ideia de direito público subjetivo que podem ser exigidos em face do Estado. c) separação dos poderes – significando o desdobramento do poder estatal, que é “uno, indivisível e indelegável” em três (3) funções: legislativa, administrativa (executiva) e jurisdicional, atribuíveis a órgãos (poderes) diferentes (Legislativo, Executivo e Judiciário), independentes e harmônicos entre si, havendo entre esses poderes relação de colaboração e controle recíproco, que integra o mecanismo de “freios e contrapesos” e é essencial para manter o Estado subordinado ao ordenamento jurídico, pois “o poder freia o poder, evitando a tirania”. 1.4. Formação do Direito Administrativo A formação do Direito Administrativo, como ramo autônomo, teve início com as Revoluções do final do século XVIII (Francesa e Americana), que resultaram no Estado de Direito, juntamente com o Direito Constitucional e outros ramos do Direito Público. De fato, a ideia de Direito Público não se coadunava com o Estado Absolutista, que não reconhecia ordenamento jurídico disciplinador sua atividade, e, tampouco, a separação dos poderes, que eram concentrados nas mãos do Soberano. 1.5. Princípios Gerais do Direito Público O ordenamento jurídico é composto de duas espécies de normas: princípios e regras. Princípios são as normas basilares de um sistema jurídico, de hierarquia superior às regras e determinantes do alcance e sentido destas. Os princípios condicionam a interpretação das regras (preceitos de comportamento). Vejamos alguns princípios que não estão previstos no texto constitucional, mas que são utilizados para solucionar conflitos que a Administração Pública: a) Autoridade pública – o Estado existe em função dos interesses públicos ou coletivos, que tem prevalência sobre os interesses privados. Destarte, possui o poder de autoridade que se manifesta, basicamente, impondo unilateralmente comportamentos e atribuindo direitos aos particulares. b) Submissão do Estado à ordem jurídica – significa que o Estado apenas pode agir quando autorizado pela lei. c) Função – o exercício do poder jurídico se traduz em verdadeiro dever jurídico (poder-dever) e é finalístico, isto é, busca satisfazer o interesse público. d) Igualdade dos particulares perante o Estado – insculpido no art. 5º, da CF/88. O tratamento desigual entre os particulares apenas é possível quando possua causa justificadora, isto é, na medida de suas desigualdades. e) Devido processo – implica em garantia aos indivíduos em relação ao processo legislativo, judicial e, também, ao processo administrativo, que devem guardar observância com as regras constitucionais e infraconstitucionais. f) Publicidade – princípio essencial do Estado Democrático de Direito, que favorece o indispensável controle dos atos estatais pelo titular do poder estatal, o povo. g) Responsabilidade objetiva – A Administração Pública será responsável pelos prejuízos que seus agentes causarem a terceiros, independente de dolo ou culpa. O único caso que a administração pode se eximir de responsabilizar será a culpa exclusiva da vítima. Após o pagamento da indenização a terceiros, a administração poderá ingressar com ação regressiva contra o servidor, visando receber os valores pagos com a indenização. h) Igualdade das pessoas políticas – sendo o Estado Brasileiro federado e não unitário, as funções administrativas e políticas estão divididas entre as pessoas políticas (União, Estados, Municípios e Distrito Federal), que, sob a ótica jurídica são iguais entre si, encontrando suas competências diretamente no texto constitucional. Não há hierarquia entre União e Estados ou Estados e Municípios, todos merecem tratamento isonômico. i) Supremacia do interesse público sobre o privado – A Constituição Federal garante os direitos de liberdade e propriedade aos indivíduos, entretanto, a Administração Pública cuida dos interesses de toda a sociedade, de modo que, nos casos em que houver conflito entre particular e Poder Público, os interesses deste último sempre prevalecem. Determina privilégios jurídicos e um patamar de superioridade do interesse público sobre o particular. Em razão desse interesse público, a Administração terá posição privilegiada em face dos administrados, além de prerrogativas e obrigações que não são extensíveis aos particulares. Entretanto, sua utilização só será legítima quando aplicada para alcance de interesses coletivos, jamais para satisfazer interesses ou conveniências pessoais ou de terceiros. j) Continuidade do serviço público – Diz respeito ao fornecimento dos serviços essenciais à população, ou seja, indispensáveis à coletividade. Tais serviços são de competência da Administração Pública e suas autarquias, concessionárias ou permissionárias, de maneira ininterrupta, para que o interesse da coletividade não venha a ser prejudicado. É relevante lembrar que há limites à greve na Administração Pública, justamente devido ao princípio da continuidade. Vejamos alguns serviços essenciais: tratamento e abastecimento de água; produção e distribuição de energia elétrica, gás e combustíveis; assistência médica e hospitalar; distribuição e comercialização de medicamentos e alimentos; serviços funerários e transporte coletivo; captação e tratamento de esgoto e lixo; telecomunicações e a guarda, uso e controle de substâncias radioativas, equipamentos e materiais nucleares; processamento de dados ligados a serviços essenciais; controle de tráfego aéreo e compensação bancária. k) Indisponibilidade do interesse público – Serve para limitar a atuação do agente público, revelando-se um contrapeso à superioridade descrita no princípio da supremacia, podendo se afirmar que, em nome da supremacia do interesse público o Administrador pode muito, pode quase tudo, mas não pode abrir mão do interesse público. Os bens, direitos e interesses públicos são confiados ao administrador para gestão, nunca para sua disposição. |7| l) Finalidade – Pode ser explicitada como a ideia que a lei traz contida em seu texto. É o fator que proporciona compreendê-la dentro do seu contexto legal. m) Isonomia – Significa tratar os iguais de forma igual e os desiguais de forma desigual, na medida de suas desigualdades. Todavia, a dificuldade é fixar quais os parâmetros e definir quem são os iguais ou os desiguais e, o que é pior ainda, qual é a medida da desigualdade. n) Contraditório e Ampla Defesa – A Administração Pública está obrigada a dar ciência da existência de processo e de seu conteúdo ao interessado, para garantiro seu direito de apresentar sua versão dos fatos e as provas que entender cabíveis. A ampla defesa compreende o direito de defender-se, independentemente de usar ou não o prazo que lhe é concedido, utilizando todos os meios de prova possíveis. o) Razoabilidade – Proíbe a atuação do administrador de forma despropositada quando, com a desculpa de cumprir a lei, age de forma arbitrária e sem qualquer bom-senso. Trata-se do princípio da proibição de excessos. Desse modo, as decisões que violarem a razoabilidade não serão inconvenientes, e sim ilegais e ilegítimas, porque ofenderão a finalidade da lei, admitindo correção inclusive pelo Poder Judiciário. p) Proporcionalidade – Para a maioria dos autores, inclusive Hely Lopes Meirelles e Maria Silvia Zanella di Pietro, este princípio está contido no da razoabilidade. O princípio da proporcionalidade exige o equilíbrio entre os meios de que se utiliza a Administração e os fins que ela tem que alcançar, segundo padrões comuns da sociedade em que vive, analisando sempre cada caso concreto. q) Autotutela – Esclarece que a Administração Pública pode controlar os seus próprios atos, seja para anulá-los, quando ilegais, ou revogá- los, quando inconvenientes ou inoportunos, independente de revisão pelo Poder Judiciário. r) Especialidade – Decorre dos princípios da indisponibilidade e da legalidade. Surgiu com base na ideia de descentralização administrativa, apesar de a doutrina também admitir a sua aplicação pela própria Administração Direta. s) Motivação – Implica para a Administração Pública o dever de justificar seus atos, apontando-lhes o fundamentos de direito e de fato, assim como a correlação lógica entre os eventos e situações que lhes deram causa, a providência tomada, a sua compatibilidade com a previsão legal e, quando necessário, o juízo de valor, as razões de conveniência e oportunidade que justificaram a prática desses atos. 1.6. Elementos e organização No dizer de Hely Lopes Meirelles o Estado se manifesta por seus órgãos que são supremos (constitucionais) ou dependentes (administrativos). Àqueles incumbe o exercício do poder político, cujo conjunto se denomina governo ou órgão governamentais. Os outros estão em plano hierárquico inferior, cujo conjunto forma a Administração pública que encontra suas bases na Constituição quer quando estrutura o Poder Executivo, referido às várias esferas de governo, quer quando, nos arts. 37 a 43, define os fundamentos de sua organização, seus princípios e o regime do pessoal administrativo e civil e militar. A Administração Pública é o conjunto de meios institucionais, materiais, financeiros e humanos preordenados à execução de decisões políticas. Esta noção destaca a subordinação da Administração Pública ao Poder Político bem assim como o seu caráter instrumental, ou seja, de algo que serve para o atingimento de determinados fins. Da noção, extrai-se, ainda, os dois aspectos da Administração: um conjunto de órgãos a serviço do poder político e as operações e atividades administrativas. 1.6.1. Conceito de Administração Pública Administração é todo o aparelhamento do Estado pré-ordenado à realização de serviços, visando à satisfação das necessidades coletivas. Não pratica atos de governo, pratica atos de execução, com maior ou menor autonomia funcional. Conforme a competência dos órgãos ou de seus agentes, é o instrumento de que dispõe o Estado para colocar em prática as opções políticas de Governo. Há dois (2) sentidos mais comuns dados à expressão Administração Pública, consoante lição de Maria Sylvia Zanella di Pietro. 1) sentido subjetivo, formal ou orgânico: designa os entes que exercem a atividade administrativa: compreende pessoas jurídicas, órgãos e agentes públicos. É o conjunto de órgãos e de pessoas jurídicas, aos quais a lei atribui o exercício da função administrativa do Estado. Alguns autores até admitem como sinônimo de Estado, quando pensando no aspecto físico, estrutural. Nesse sentido, conforme convenciona parte da doutrina, a expressão Administração Pública deve ser grafada com as primeiras letras maiúsculas. 2) sentido objetivo, material ou funcional: designa a própria função administrativa, que incumbe, predominantemente, ao Poder Executivo. É a atividade concreta e imediata que o Estado desenvolve sob regime jurídico de direito público, para a consecução dos interesses coletivos. Nessa aplicação, a expressão administração pública deve ser grafada com as letras iniciais minúsculas. 1.6.2. Divisão da Administração Pública A atividade administrativa consiste na gestão de bens e interesses qualificados da comunidade, de âmbito federal, estadual ou municipal, segundo os preceitos do Direito e da Moral, visando ao bem comum. Representa toda atividade desenvolvida pela Administração, protegendo os interesses da coletividade e decorre do fato de o Brasil ser uma República, em que toda atividade desenvolvida deve privilegiar a coisa pública. Desse modo, a atuação da Administração Pública divide-se em direta e indireta. a) Administração Direta: Formada por entidades políticas (também conhecidas por entidades federativas) que recebem as suas atribuições da própria Constituição Federal. São consideradas pessoas jurídicas de direito público interno (possuem poderes políticos). São elas: União, Estados, DF e Municípios. b) Administração Indireta: Formada por entidades administrativas que exercem suas competências conforme estabelecida na lei que as instituiu (elas não detêm poderes políticos e nem legislam). São elas: Autarquias, Fundações, Sociedades de Economia Mista e Empresas Públicas. 1.6.3. Formas de prestação da atividade administrativa: Centralizada: Atividade prestada pela Administração Direta, composta por entes políticos. Ocorre sempre que a titularidade e execução do serviço for realizada pelo próprio ente federativo sem passar por interposta pessoa. |8| Descentralizada: Ao contrário do que ocorre com a centralização, entre a pessoa federativa competente (União, Estados, Municípios e Distrito Federal) e o cidadão beneficiário da atuação estatal haverá uma pessoa interposta, qual seja, a entidade descentralizada. Retira a atividade do núcleo e transfere para outra pessoa jurídica, seja da administração indireta ou particular. As concessionárias, permissionárias, SESC, SESI, SENAI e outros, não compõem a administração indireta, pois se tratam de particulares, até mesmo se enquadrando como paraestatais. Ex: INSS; FUNASA, FUNAI, Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, Petrobrás. Desconcentrada: Divisão de atividades dentro da mesma pessoa jurídica, por meio do poder hierárquico. Existe hierarquia dentro da pessoa jurídica, diferente da descentralização, em que só há fiscalização. Ex: Ministros e Ministérios; Secretários e Secretarias; Procuradores e Procuradorias. 1.6.5. Modalidades de Descentralização: a) Outorga: Transferência de titularidade, que só é possível através de lei. A doutrina majoritária entende que só pode ser transferida à Administração Indireta de Direito Público (autarquias e fundações públicas). b) Delegação: Transferência apenas da execução da obra ou serviço. A Administração detém a titularidade. Pode ser feita por lei (para as pessoas jurídicas de direito privado) ou por contrato (para os particulares, como concessões e permissões de serviço público). Também é possível a delegação através de convênios ou por ato unilateral (autorização de serviço). QUESTÕES DE CONCURSOS 01. Pedro e Antônio travaram intenso debate a respeito dos princípios fundamentais encampados pela Constituição de 1988, dentre os quais, a forma de Estado adotada.Após intensas reflexões a esse respeito, chegaram à única conclusão constitucionalmente correta: a de que a forma de Estado prevista na Constituição é a a) federativa, caracterizada pela união indissolúvel dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. b) republicana, caracterizada pela outorga do poder ao povo e pelo exercício direto ou por meio de representantes eleitos. c) federativa, caracterizada pela união indissolúvel dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios e dos Territórios. d) presidencial, em que o Chefe do Poder Executivo é eleito pelo povo, não sendo escolhido entre os parlamentares. e) federativa, caracterizada pela união dissolúvel dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios e dos Territórios. 02. A Forma Federal de Estado, modernamente, nasceu nos Estados Unidos da América, após sua independência da Inglaterra, sendo formalizada quando da sua Constituição, em 1787 e ratificada em 1788. Uma das características marcantes do Estado Federal é a coexistência de ordens ou esferas internas político- jurídico-territoriais dotadas de autonomias próprias, sendo esse todo vinculado ao Estado Federal, ente soberano que possui personalidade jurídica internacional. O Brasil adota a Forma Federal de Estado, desde a Constituição de 1988. Em nossa atual Lei Maior, há um traço diferenciador do nosso Pacto Federativo em relação aos demais existentes no mundo. Desta feita, aponte a assertiva que melhor indica essa característica federativa especial do Brasil. a) Haver permitido que haja a constituição dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário em cada um de seus entes federativos. b) A forma federal ter sido instituída por meio de um Tratado Internacional, de maneira análoga ao que é processado na criação de uma Confederação. c) Não haver uma repartição de competências para as esferas federativas no texto da nossa Carta Magna, sendo essa distribuição de funções explicitamente verificada em leis ordinárias e complementares. d) Ter disposta expressamente a possibilidade de secessão de seus entes internos, caso estes não concordem mais em estarem federados. e) Instituir uma organização política interna composta de União, Estados-membros, Distrito Federal e Municípios, todos dotados de autonomia e competências próprias. 03. O Estado é formado pela união de três elementos originários e indissociáveis. Esses elementos são a) o território, o povo e o soberania. b) o povo, a Constituição Federal e o território. c) o território, a autonomia e a Constituição Federal. d) a autonomia, o povo e o governo. e) a Constituição Federal, o governo e a autonomia. 04. Não se enquadra na subdivisão de "Público" o direito: a) Constitucional b) Administrativo. c) Judiciário / processual. d) Penal. e) Comercial. 05. Nos termos da CF, um ente federativo terá o direito de secessão, isto é, de desagregar-se da Federação, seja em caso de crise institucional, seja por decisão da população diretamente interessada, mediante plebiscito. ( ) 06. O Brasil é uma república federativa presidencialista, uma vez que o seu chefe de Estado e de governo, o presidente da República, é eleito democraticamente e por tempo limitado. ( ) 07. O Brasil adota a forma de Estado unitário puro, em que as competências estatais são exercidas de maneira centralizada pela unidade que concentra o poder político. ( ) 08. A República Federativa do Brasil classifica-se como federação por desagregação. ( ) 09. A forma federativa de Estado adotada pela CF consiste na descentralização política e na soberania dos estados-membros, os quais são capazes de se auto-organizar mediante a elaboração de constituições estaduais. ( ) 10. São formas de governo a federação, a confederação e o governo único. ( ) GABARITO 01 02 03 04 05 A E A E F 06 07 08 09 10 V F F F F |9| 2. DIREITO ADMINISTRATIVO 2.1. Conceito O direito administrativo sofre por não possuir uma codificação própria. Desse modo, são muitos os doutrinadores que buscam definições para o estudo desse ramo do direito público. Assim, cumpre registrar que não existe uniformidade nos conceitos apresentados pela doutrina para o direito administrativo, especialmente porque são distintos os critérios adotados pelos diversos autores para a demarcação de seu alcance. Apresentamos, portanto, a definição utilizada por Vicente Paulo e Marcelo Alexandrino, no livro “Direito Administrativo Descomplicado”: “conjunto de regras e princípios aplicáveis à estruturação e ao funcionamento das pessoas e órgãos integrantes da administração pública, às relações entre esta e seus agentes, ao exercício da função administrativa, especialmente as relações com os administrados, e à gestão dos bens públicos, tendo em conta a finalidade geral de bem atender ao interesse público.” O Direito Administrativo pode ser conceituado, em sentido amplo, como um ramo do Direito Público Interno que tem como objeto a busca pelo bem da coletividade e pelo interesse público. A coletividade deve ser compreendida como uma entidade dotada de interesses, de deveres e direitos, de pretensões e obrigações. Daí por que se fala em direitos difusos e coletivos, ações públicas, interesse público, utilidade pública e outros. Alguns doutrinadores brasileiros conceituaram o Direito Administrativo como o conjunto dos princípios que regulam a atividade jurídica não contenciosa do Estado e a constituição dos órgãos e meios de sua ação em geral. Para Hely Lopes Meirelles, o Direito Administrativo brasileiro sintetiza um conjunto harmônico de princípios jurídicos que regem os órgãos, ao agentes e as atividades públicas tendentes a realizar concreta, direta e imediatamente os fins desejados pelo Estado. 2.2. Fontes Consideram-se fontes de uma determinada disciplina aquelas regras ou comportamentos que provocam o surgimento de uma norma posta. Para o Direito Administrativo a enumeração das fontes que provocaram a sua definição representa um assunto que causa alguma divergência na doutrina. Por não se encontrar codificado, o direito administrativo apresenta dificuldades de identificação de suas fontes. Temos quatro fontes principais: a lei, a jurisprudência, a doutrina e os costumes. - A Lei , que em sentido amplo, é a fonte primária do Direito Administrativo, abrangendo esta expressão desde a Constituição até os regulamentos executivos. E compreende-se que assim seja, porque tais atos, impondo o seu poder normativo aos indivíduos e ao próprio Estado, estabelecem relações de administração de interesse direto e imediato do Direito Administrativo; - A Doutrina, formando o sistema teórico de princípios aplicáveis ao Direito Positivo, é elemento construtivo da Ciência jurídica à qual pertence a disciplina em causa. Influi ela não só na elaboração da lei como nas decisões contenciosas e não contenciosas, ordenando, assim, o próprio Direito Administrativo; - A Jurisprudência, traduzindo a reiteração dos julgamentos num mesmo sentido, influencia poderosamente a construção do Direito, e especialmente a do Direito Administrativo, que se ressente de sistematização doutrinária e de codificação legal. A jurisprudência tem um caráter mais prático, mais objetivo, mas nem por isso se aparta de princípios teóricos que, por sua persistência nos julgados, acabam por penetrar e integrar a própria Ciência Jurídica; - O Costume, no Direito Administrativo brasileiro, exerce ainda influência, em razão da deficiência da legislação. A prática administrativa vem suprindo o texto escrito, e, sedimentada na consciência dos administradorese administrados, a praxe burocrática passa a suprir a lei, ou atua como elemento informativo da doutrina. 2.3. Princípios administrativos constitucionais Estabelecidas as noções introdutórias do Direito Administrativo, é possível partir para a análise dos princípios que embasam o estudo desta disciplina. Inicialmente, para o reconhecimento do Direito Administrativo como disciplina autônoma, esses princípios não podem ser escolhidos de forma aleatória e também não podem ser considerados de forma isolada; é necessária a fixação de um conjunto sistematizado de princípios e normas que lhe ofereça identidade, tornando possível diferenciá-lo dos demais ramos do direito. Os princípios escolhidos para compor esse conjunto devem ser peculiares aos seus objetivos e devem especialmente guardar entre si uma correlação lógica, uma relação de coerência e unidade, um ponto de coincidência, compondo um sistema ou regime: o regime jurídico administrativo. A Constituição Federal de 1988 definiu em seu artigo 37 os princípios administrativos constitucionais. Tais princípios constituem a base das regras administrativas no País. Enfatizamos que a existência destes princípios explícitos na lei não afastam em momento algum os princípios implícitos, já estudados no capítulo anterior e conhecidos como princípios gerais do direito público, haja vista que o Direito Administrativo consiste em uma ciência composta por normas esparsas, fazendo uso constante da doutrina e da jurisprudência. a) Legalidade: Para a Administração Pública tal princípio Indica que os agentes públicos só podem fazer o que a lei determina ou o autoriza. É a base do Estado Democrático de Direito e garante que todos os conflitos sejam resolvidos pela lei. É agir apenas secundum legis, nunca contra legem ou praeter legem. Para os particulares, a legalidade possui um perfil diverso, com uma maior incidência de liberdade, que pode ser sintetizada nos seguintes termos: as partes poderão fazer tudo o que a lei não proíbe. É a autonomia das vontades. Entretanto, é possível apontar três restrições excepcionais ao princípio da legalidade: as medidas provisórias, o estado de defesa e o estado de sítio. b) Impessoalidade: A atuação impessoal da Administração Pública é imperativo que funciona como uma via de mão dupla, pois se aplica em relação ao administrado e aos administrados. Desse modo, a função |10| administrativa deve ser uma atividade destinada a satisfazer a todos e por isso a Administração Pública não poderá atuar discriminando pessoas determinadas de forma gratuita, a não ser que esteja presente o interesse público. Do mesmo modo a responsabilidade dos atos praticados não deve ser imputada ao agente e sim à pessoa jurídica. Sob esse prima, se veda a promoção pessoal de autoridades. O princípio deve, portanto, ser analisado sob dois aspectos diferentes: primeiro, quanto ao dever de atendimento ao interesse público, tendo o administrador o dever de agir de forma impessoal, abstrata, genérica, protegendo sempre a coletividade; segundo, que a atividade administrativa exercida por um agente público seja imputada ao órgão ou entidade e não ao próprio agente. c) Moralidade: Consiste no conjunto de regras de conduta retirada da disciplina interna da Administração. Assim, não basta que o agente público afirme que praticou o ato de acordo com a permissão da lei. É preciso indagar se o ato praticado é também honesto e obedece aos demais preceitos éticos. O princípio da moralidade administrativa não se confunde com a moralidade comum, pois enquanto esta última preocupa-se com a distinção entre o bem e o mal, a primeira é composta não só por correção de atitudes, mas também pelas regras da boa administração. d) Publicidade: Traz a ideia de transparência ou visibilidade de toda a atuação administrativa, permitindo o controle dos atos praticados. Possui exceções, haja vista a necessidade de segurança público e respeito à intimidade das pessoas. A publicidade também representa condição de eficácia para os atos administrativos, marcando o início da produção de seus efeitos externos, já que ninguém está obrigado a cumprir um ato administrativo se desconhece a sua existência. e) Eficiência: Inserido pela Emenda Constitucional nº 19/98, visa aperfeiçoar os serviços e as atividades prestadas, buscando otimizar os resultados e atender o interesse público com maiores índices de rapidez (ausência de burocracia e presença de celeridade e dinâmica), perfeição (serviço satisfatório e completo) e rendimento (mais economicidade e produtividade). ANOTAÇÕES |11| 3. ATOS ADMINISTRATIVOS 3.1. Conceito: É toda manifestação unilateral de vontade da Administração Pública que, agindo nessa qualidade, tenha por fim imediato adquirir, resguardar, transferir, modificar, extinguir e declarar direitos, ou impor obrigações aos administrados ou a si própria. - Quem edita: a Administração Pública; - Como: debaixo de regras de Direito Público; - Para que: preservação dos interesses da coletividade. Celso Antônio Bandeira de Mello conceitua ato administrativo como toda “declaração do Estado, ou de quem lhe faças as vezes, no exercício de prerrogativas públicas, manifestada mediante providências jurídicas complementares da lei, a título de lhe dar cumprimento, sujeito a controle de legitimidade por órgão jurisdicional”. Para Hely Lopes Meirelles ato administrativo consiste em “toda manifestação unilateral de vontade da Administração Pública que, agindo nessa qualidade, tenha por fim imediato adquirir, resguardar, transferir, modificar, extinguir e declarar direitos, ou impor obrigações aos administrados ou a si própria”. Maria Sylvia Zanella Di Pietro entende o ato como uma “declaração do Estado ou de quem o represente, que produz efeitos jurídicos imediatos, com observância da Lei, sob regime jurídico de direito público e sujeita a controle pelo Poder Judiciário”. As regras que comandam a edição desses atos são de Direito Público, logo, não são as mesmas que comandam os atos dos particulares. As regras de Direito Público conferem atributos e requisitos de validade que não se estendem aos particulares. Os atos administrativos podem ser: típicos e atípicos; unilateral ou bilateral; vinculado e discricionário. Os atos típicos são aqueles praticados pela administração no uso de seus poderes estatais. Os atos atípicos, também chamados de ato da administração, são os que não envolvem esses poderes; sendo regidos pelo direito civil e comercial e pelas normas usuais de direito público. 3.2. Requisitos ou elementos do Ato Administrativo: Todo ato administrativo é formado por requisitos ou elementos. Prevalece o entendimento que os requisitos ou elementos do ato administrativo são: - Competência: Competência é o conjunto de atribuições das pessoas jurídicas, órgãos e agentes, fixados pelo direito positivo. Desse modo, nenhum ato pode ser realizado validamente sem que o agente disponha de poder legal para praticá-lo. É importante destacar que os poderes são conferidos aos agentes públicos na medida de suas atribuições e cada agente público possui poderes específicos definidos por lei. Assim, a competência decorre sempre da lei, não podendo o próprio órgão estabelecer, por si, suas atribuições. É também inderrogável, seja pela vontade da Administração ou por acordocom terceiros. Por fim, temos que esclarecer que a competência pode ser objeto de delegação (transferência de atribuições) ou de avocação (atrair atribuição de outrem), desde que não se trate de competência conferida a determinado órgão ou agente, com exclusividade, pela Lei. Destacamos ainda o disposto no art. 13 da Lei nº 9.784/99, que trata de matérias impossibilitadas de delegação: a edição de atos de caráter normativo; a decisão de recursos administrativos; as matérias de competência exclusiva do órgão ou autoridade. - Finalidade: É o objetivo do interesse público a atingir (sentido amplo). É o resultado, definido em lei, que o ato produzir (sentido restrito). Se o ato administrativo for praticado com outro objeto, que não seja o interesse público, o agente incidirá em desvio de poder, e o ato será considerado nulo. - Forma: É o meio pelo qual se exterioriza a vontade do agente. A Administração Pública exige a forma escrita e solene para seus atos, o que possui exceções, como na Lei de Processo Administrativo. Excepcionalmente, admitem-se formas não-escritas, como as verbais (ordens dadas pelo chefe ao seu subordinado), gestuais (guarda de trânsito gesticulando para automóveis seguirem no fluxo do trânsito), placas etc. - Motivo: É o pressuposto de fato e de direito que fundamenta o ato administrativo. A análise dos motivos mostra-se relevante para se constatar a aplicação do princípio da impessoalidade e da moralidade administrativa. A ausência de motivo em um ato ou mesmo a indicação de um motivo falso faz surgir o vício. Trata-se da Teoria dos Motivos Determinantes, em que a obrigatoriedade da existência dos motivos alegados é que determinam a prática do ato administrativo. Só é válido o ato, se os motivos acontecerem. Mesmo nos atos discricionários, onde o motivo é facultativo, se o agente decidir motivar, este deverá ser verdadeiro, sob pena de nulidade do ato. Objeto: É o efeito jurídico imediato do ato administrativo, que cria, modifica ou extingue uma relação jurídica. Trata-se do resultado prático do ato e consiste na própria alteração no mundo jurídico a que o ato se propõe. OBS.: Diferenças entre Ato Jurídico e Ato Administrativo: O primeiro requisito do ato administrativo é a competência (equivalente ao agente capaz do Código Civil). O ato será inválido se for praticado por quem não tem legitimidade para tal. O segundo requisito do ato administrativo é o objeto. Para a Administração objeto lícito é aquele que a lei expressamente determina. Para o particular objeto lícito é todo aquele que a lei não proíbe. |12| O terceiro requisito de validade é a forma. Para a Administração a forma é somente aquela expressamente prevista em lei. Para os particulares é a não proibida por lei. Geralmente a forma utilizada pela Administração é a escrita, existindo exceções. Exemplo: os apitos e gestos de um guarda de trânsito. 3.3. Atributos do Ato Administrativo Não aparecem de forma gratuita, pois a Administração preserva os interesses da coletividade. - Presunção de legitimidade/veracidade: Todos os atos administrativos nascem com a presunção de legitimidade, ou seja, a presunção de que nasceram de acordo com as devidas normas legais. A presunção não é absoluta, admitindo prova em contrário (“juris tantum”). Até que essa prova apareça, os atos pressupõem-se legítimos e são de cumprimento obrigatório. Ex.: Execução de Dívida Ativa – cabe ao particular o ônus de provar que não deve ou que o valor está errado. Alguns doutrinadores utilizam a expressão presunção de legitimidade como sinônima de veracidade. Entretanto, outros fazem uma distinção sutil, tal como Maria Sylvia Zanella Di Pietro e Celso Antônio Bandeira de Mello: presunção de legitimidade diz respeito à conformidade do ato com a lei, enquanto que a veracidade diz respeito aos fatos. - Imperatividade: É o atributo pelo qual os atos administrativos se impõem a terceiros, independentemente de sua concordância. Ex.: Secretário de Saúde quando dita normas de higiene – decorre do exercício do Poder de Polícia – pode impor obrigação para o administrado. É o denominado poder extroverso da Administração. Destacamos que a qualidade da imperatividade do ato administrativo o distancia dos atos privados, vez que nesses, alguém só estará obrigado a fazer algo se concordar com essa determinação. Exceção a esta regra são os atos negociais, como a licença, a permissão e a autorização, que só podem ser praticados se existir um encontro de vontades entre particular e Administração. - Auto-executoriedade: Consiste na possibilidade que certos atos administrativos poderem ser postos em execução pela própria Administração, sem necessidade de intervenção do Poder Judiciário. A justificativa de existência desse atributo reside no Princípio da Separação dos Poderes (art. 2º da CF/88), autorizando o Poder Executivo (Administração Pública) a praticar suas ações sem precisar de manifestação ou autorização do Poder Judiciário. Ex.: para lavrar um auto de infração em uma discoteca tocando músicas acima do volume permitido, o fiscal não precisa de nenhuma autorização, nem mesmo judicial. Vale lembrar que o único controle que o Judiciário pode fazer dos atos da Administração é o controle de legalidade, ou seja, esse controle só pode existir quando o ato é ilícito. Observações: Para Marçal Justen Filho só deve ser aplicada em situações excepcionais e observados os princípios da legalidade e da proporcionalidade. Não há auto-executoriedade sem lei que a preveja, e mesmo assim a auto-executoriedade só deverá ser aplicada quando não existir outra alternativa menos lesiva. José dos Santos Carvalho Filho cita como exemplo do exercício da auto- executoriedade, a destruição de bens impróprios para o consumo público, a demolição de obra que apresenta risco iminente de desabamento. A vigente Constituição traça limites à executoriedade em seu art. 5º, LV, contudo mencionada restrição constitucional não suprime o atributo da auto-executoriedade do ato administrativo, até porque, sem ele, dificilmente poderia a Administração em certos momentos concluir seus projetos administrativos. - Tipicidade: É o atributo do ato administrativo que determina que o ato deve corresponder a uma das figuras definidas previamente pela lei, como aptas a produzir determinados resultados, sendo corolário, portanto, do princípio da legalidade. A sua função é impossibilitar que a Administração venha a praticar de atos inominados, representando, pois, uma garantia ao administrado, já que impede que a Administração pratique um ato unilateral e coercitivo sem a prévia previsão legal. Representa, também, a segurança de que o ato administrativo não pode ser totalmente discricionário, pois a lei define os limites em que a discricionariedade poderá ser exercida. Esses atributos só existem nos atos unilaterais, não sendo encontrados nos contratos. Obs.: Não confundir exigibilidade com tipicidade. A exigibilidade é um dos aspectos da auto-executoriedade, referindo-se aos meios à disposição da Administração para fazer valer o seu "império", mas com a utilização, em todo caso, de meios indiretos de coerção. Em síntese, ao ultrapassar um sinal no vermelho, além da infração, em vermelho ficará a conta, em face da aplicação de multa pela Administração, enfim, a Administração pode aplicar diretamente a multa, visando ao seu reenquadramento às normas vigentes, sob pena de dissolução da sociedade. Todavia, observe que a multa não pode ser, via de regra, cobrada diretamente,ou seja, não possui EXECUTORIEDADE quanto à cobrança, dependendo da ajuda do Judiciário para a devida execução. A multa é exigível, mas não auto-executável. Mas, com certeza, empurra-nos ao cumprimento da obrigação imposta, pois, em determinados casos, não podemos sequer renovar a licença anual, existe forma mais "INDIRETA". |13| Por sua vez, a tipicidade, atributo pertinente aos ATOS UNILATERAIS, diz respeito ao fato de para cada objetivo traçado pela Administração existe instrumento adequado para o seu alcance. Exemplo: se é demissão, faz-se por Decreto; se é nomeação de comissão de sindicância, faz-se por Portaria; se é desapropriação, faz-se por Decreto; se visa diligência a outros órgãos, faz-se Ofício; e assim em diante. Em suma, para cada finalidade, existe um instrumento próprio. Di Pietro, acertadamente, assevera que a tipicidade garante maior segurança jurídica aos administrados, atendendo ainda ao princípio da legalidade. 3.3. Discricionariedade e Vinculação Para melhor estudar o ato administrativo e suas consequências, principalmente ressaltando as diferenças entre os atos vinculados e os discricionários, parte-se da premissa de que o regime de direito público objetiva, em sua grande parte, impedir que o sujeito que atua no órgão público seja orientado para satisfação de suas vontades individuais, mas sim, que busque resultados favoráveis a toda coletividade. Desse modo, um ato administrativo pode se apresentar como discricionário ou vinculado, de acordo com a sua origem e extensão. Vejamos: a) Vinculado ou Regrado É aquele que o administrador não tem liberdade de escolha, estando a sua vontade adstrita exclusivamente à lei. Ex: concessão de aposentadoria quando preenchidos os requisitos legais. A lei determina os elementos e requisitos necessários à sua formalização, ou seja, já estabelece um único modo de agir pelo administrador diante do caso concreto. Com efeito, a lei regulou o ato de tal forma que não há espaços para juízos de conveniência e oportunidade. b) Discricionário A Administração concede ao administrador a liberdade de escolha de conveniência, oportunidade e conteúdo, possibilitando um juízo de valor que deve ser exercido dentro dos limites da lei e de forma que melhor atenda ao interesse público. Ex: permissão de uso de bem público (colocar mesas na calçada); exoneração de ocupantes de cargo comissionado. O poder discricionário é exercido sempre que a atividade administrativa resultar da opção, permitida pela lei, realizada pelo administrador; a discricionariedade não é absoluta, pois estará sempre vinculada ao fim que se destina. Não se confunde com a arbitrariedade, que é a ação contrária ou excedente da lei. O ato praticado com discricionariedade (motivo e forma) pode ser modificado pelo Judiciário? A justiça somente anula atos ilegais, não podendo revogar atos Inconvenientes ou inoportunos, mas formal e substancialmente legítimos. 3.5. Classificação dos Atos a) Quanto aos Destinatários: - Gerais: Destinam-se a uma parcela grande de sujeitos indeterminados e todos aqueles que se vêem abrangidos pelos seus preceitos. Exemplos: edital, regulamentos, instruções. - Individuais: Destina-se a uma pessoa em particular ou a um grupo de pessoas determinadas. Exemplos: demissão, exoneração e outorga de licença. b) Quanto ao Alcance: - Internos: Os destinatários são os órgãos e agentes da Administração, não se dirigindo a terceiros. Exemplos: circulares, portarias, instruções. - Externos: Alcançam os administrados de modo geral (só entram em vigor depois de publicados). Exemplos: Admissão, licença. c) Quanto ao objeto: - Império: Aquele que a Administração pratica no gozo de suas prerrogativas, em posição de supremacia perante o administrado. Exemplos: desapropriação, interdição, requisição. - Gestão: São os praticados pela Administração em situação de igualdade com os particulares, sem usar a sua supremacia. Exemplos: alienação e aquisição de bens, certidões. - Expediente: Aqueles praticados por agentes subalternos, consistentes em atos de rotina interna. Exemplo: protocolo. d) Quanto ao regramento: - Vinculado: Quando não há, para o agente, liberdade de escolham devendo este se sujeitar às determinações da lei. Exemplos: liceça, pedido de aposentadoria. - Discricionário: Quando há liberdade de escolha (na lei) para o agente, no que diz respeito ao mérito (conveniência e oportunidade). Exemplo: autorização. e) Quanto à forma: - Simples: Produzido por um único órgão e decorrente de uma única manifestação de vontade. Podem ser simples singulares ou simples colegiais. Exemplo: despacho; exoneração de servidor ocupante de cargo em comissão; ato que altera o horário de atendimento da repartição pública, emitido por uma única pessoa; direção das Agências Reguladoras. - Composto: Produzido por um órgão, mas dependente da ratificação de outro órgão para se tornar exequível. Exemplo: dispensa de licitação; autorização; visto; homologação. - Complexo: Resultam da soma de vontade de 2 ou mais órgãos. Não deve ser confundido com procedimento administrativo. Exemplo: escolha em lista tríplice; a nomeação de Ministro do STF, feita pelo Presidente da República, após aprovação da maioria absoluta do Senado. f) Quanto à apresentação - Ato válido: É aquele que está em total conformidade com o ordenamento jurídico. |14| - Ato nulo: Nasce com vício insanável. - Ato inexistente: Possui apenas aparência de manifestação de vontade da Administração Pública, mas na verdade não se origina de um agente público, mas por alguém que se passa por tal condição. - Ato anulável: Contém vício sanável, podendo ser objeto de convalidação. - Ato perfeito: Seu processo de formação está concluído. - Ato eficaz: Já está disponível para a produção de seus efeitos próprios. A produção de efeitos não depende de evento posterior. - Ato pendente: É um ato perfeito, mas ineficaz, ou seja, está concluído (perfeito), mas ainda não pode produzir efeitos (ineficaz), porque depende de autorização, aprovação etc. - Ato exaurido (consumado): Já produziu todos os efeitos que poderia. Está finalizado. 3.6. Invalidação Dentre as várias formas de extinção dos atos administrativos duas se destacam especialmente: a) Anulação: Consiste na supressão do ato administrativo, com efeito retroativo (efeito ex tunc), por razões de legalidade e legitimidade. Pode ser examinado tanto pelo Poder Judiciário como pela Administração Pública. - Fundamento: Razões de ilegalidade, o ato é ilícito. - Legitimidade: Administração Pública e Poder Judiciário. - Efeitos: “Ex tunc”, a anulação retroage até a data de publicação, os efeitos são anulados e não se pode invocar direito adquirido. O efeito retroage para eliminar todos os efeitos por ele gerados. - Prazo: Estabelecido pela Lei 9784/99, é de 5 anos. É importante esse prazo para privilegiar o princípio da segurança das relações jurídicas. b) Revogação: É a extinção de um ato administrativo legal e perfeito, por razões de conveniência e oportunidade, pela Administração, no exercício do poder discricionário. O ato revogado conserva os efeitos produzidos durante o tempo em que se operou. A partir da data da revogação é que cessa a produção de efeitos do ato até então perfeito e legal. A revogação não pode atingir os direitos adquiridos, em razão de sua proteção constitucional. Não admite revogação: atos consumados; atos vinculados; atos que geraramdireitos adquiridos; meros “atos administrativos” (que simplesmente declararam situação existente, como certidões e atestados). - Fundamento: Conveniência e oportunidade, o ato é lícito. - Legitimidade: Somente a Administração Pública. - Efeitos: “Ex nunc”, a revogação é válida daquele momento em diante; os efeitos anteriores serão mantidos e se pode invocar direito adquirido. - Prazo: Não há prazo, as razões podem ser alteradas a qualquer momento. Observações: A auto tutela, princípio não expresso do Direito Administrativo, vem do fato da Administração poder anular seus atos por razões de ilegalidade. Para o Poder Judiciário anular um ato ele deve ser provocado por terceiros. Estamos falando aqui de controle de legalidade. Pergunta: Pode existir direito adquirido em relação à anulação de ato? Resposta: Não, pois se trata de efeito “ex tunc”, retroagindo até quando o ato foi editado. Como eliminamos os efeitos do ato não se pode falar em direito adquirido. A Súmula 473 súmula do STF contempla anulações e revogações: Súmula 473 STF A administração pode anular seus próprios atos quando eivados de vícios que os tornam ilegais porque deles não se originam direitos ou revogá-los por motivos de conveniência e oportunidade respeitados os direitos adquiridos e ressalvada em todos os casos a apreciação judicial. A Súmula inicialmente trata de anulação e na seqüência de revogação. O trecho final também é importante, garantindo que se direitos adquiridos de terceiros não forem respeitados o Judiciário poderá ser acionado. O artigo 5° inciso XXXV da CF diz: XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito; Convalidação: convalidar é tornar válido o que inicialmente não era. Um ato editado inicialmente viciado que posteriormente tem seu vício sanado pode tornar-se válido. Pergunta: É possível a convalidação de atos administrativos? Resposta: O artigo 55 da Lei 9784/99 admite a convalidação dizendo que será possível se e somente se o vício inicialmente apresentado pelo ato puder ser corrigido. Art. 55. Em decisão na qual se evidencie não acarretarem lesão ao interesse público nem prejuízo a terceiros, os atosque apresentarem defeitos sanáveis poderão ser convalidados pela própria Administração. c) Convalidação: Ocorre nos casos em que o ato apresenta- se viciado na sua origem, entretanto, o vício apresentado consiste em vício sanável, podendo ser validado pela Administração Pública. |15| Quanto aos requisitos de validade dos atos administrativos, a convalidação é possível quando o vício for de: - Competência: basta modificar quem editou o ato; - Forma: o ato permanece o mesmo, bastando modificar sua forma; - Motivo: pode existir convalidação, bastando modificar o motivo. Os vícios nos requisitos de finalidade e objetivo não podem ser convalidados pois modificariam a estrutura do ato: - Vício de finalidade: não se pode falar em convalidação, já que a finalidade não seria pública; - Vício no objeto: se o objeto for alterado, o ato não é mais o mesmo e a convalidação não pode ocorrer. d) Cassação: É a extinção do ato quando o seu beneficiário deixa de cumprir os requisitos que deveria permanecer atendendo. e) Caducidade: Ocorre quando uma nova legislação impede a permanência da situação anteriormente consentida pelo poder público. Exemplo: Permissão consentida, mas que a lei impede o uso pelo particular. f) Contraposição: Um ato, emitido com fundamento em uma determinada competência, extingue outro ato, anterior, editado com base em competência diversa, ocorrendo a extinção porque os efeitos daqueles são opostos aos deste. Exemplo: exoneração, que tem efeitos contrapostos à nomeação. 3.7. Espécies de Atos A) ATOS NORMATIVOS: são aqueles que contêm um comando geral, visando à correta aplicação da lei. O objetivo imediato de tais atos é explicitar a norma legal a ser observada pela administração. Exemplos: Decretos, deliberações. - DECRETOS: são atos administrativos, da competência exclusiva dos Chefes do Executivo, destinados a prover situações gerais ou individuais, abstratamente previstas de modo expresso, explícito ou implícito, pela legislação. O decreto pode se enquadrar na categoria dos atos normativos (gerais), mas também pode ter caráter individual, quando for para especificar uma situação determinada, como ocorre com o decreto expropriatório. - INSTRUÇÃO NORMATIVA: são atos administrativos expedidos pelos Ministros de Estado para a execução de leis, decretos e regulamentos, mas são também utilizados por outros órgãos superiores para o mesmo fim. - REGIMENTOS: são atos administrativos normativos de atuação interna. Destinam-se a reger o funcionamento de órgãos colegiados e de corporações legislativas. Não obrigam os particulares em geral, atingindo unicamente as pessoas vinculadas à atividade regimental. - RESOLUÇÕES: são atos administrativos normativos expedidos pelas altas autoridades do Executivo (mas não pelo Chefe do Poder Executivo, que expede decretos) ou pelos presidentes de tribunais, órgãos legislativos e colegiados administrativos, para disciplinar matéria de sua competência específica. Não se deve confundir a resolução editada em sede administrativa com a resolução prevista no art. 59, VII da CF. Esta equivale, sob o aspecto formal, à lei, pois é compreendida no processo de elaboração das leis, previsto no Texto Constitucional. B) ATOS ORDINATÓRIOS: são atos que visam a disciplinar o funcionamento da Administração e a conduta funcional de seus agentes. São provimentos, determinações ou esclarecimentos que se endereçam aos servidores públicos, a fim de orientá-los no desempenho de suas funções. Tais atos só atuam no âmbito interno das repartições e só alcançam os servidores hierarquizados à chefia que os expediu. Não obrigam os particulares, nem os funcionários submetidos a outras chefias. Não criam, normalmente, direitos ou obrigações para os administrados, mas geram deveres e prerrogativas para os agentes administrativos a que se dirigem. Assim, não podem disciplinar o comportamento de particulares por constituírem determinações internas. Exemplos: instruções e portarias. - INSTRUÇÕES: são ordens escritas e gerais a respeito do modo e da forma de execução de determinado serviço público, expedidas pelo superior hierárquico, com a finalidade de orientar os subalternos no desempenho das atribuições que lhes estão destinadas e assegurar a unidade de ação no organismo administrativo. As instruções não são utilizadas somente no âmbito interno; por vezes, são utilizadas para decisões de repercussão externa, sobretudo nos órgãos que tratam de assuntos financeiros e econômicos. Às circulares se aplica a mesma regra. - CIRCULARES: são ordens escritas, de caráter uniforme, expedidas a determinados funcionários ou agentes administrativos, incumbidos de certo serviço ou do desempenho de certas atribuições, em circunstâncias especiais. PORTARIAS: são atos internos pelos quais os chefes de órgãos, repartições ou serviços expedem determinações gerais ou especiais a seus subordinados, ou designam servidores para funções e cargos secundários. Também dão início a sindicâncias e a processos administrativos. - AVISOS: são atos emanados dos Ministros de Estado a respeito de assuntos referentes aos respectivos ministérios. - ORDENS DE SERVIÇO: são determinações especiais dirigidas aos responsáveis por obras ou serviços públicos autorizando seu início, ou contendo imposições de caráter administrativo ou especificaçõestécnicas sobre o modo de sua realização. - OFÍCIOS: são comunicações escritas que as autoridades fazem entre si, entre subalternos e superiores e entre a Administração e particulares, em caráter oficial. - DESPACHOS: são decisões que as autoridades executivas (ou legislativas e judiciárias, em função administrativa) proferem em papéis, requerimentos e processos sujeitos à sua apreciação. Despacho normativo é aquele que, embora proferido em caso individual, a autoridade competente determina que se aplique aos casos idênticos, passando a vigorar como norma interna da Administração para situações análogas subsequentes. |16| C) ATOS NEGOCIAIS: são atos praticados contendo uma declaração de vontade do Poder Público, coincidente com a pretensão particular. Tais atos, embora unilaterais, encerram um conteúdo tipicamente negocial, de interesse recíproco da Administração e do administrado, mas não adentram na esfera contratual. São e continuam sendo atos administrativos (e não contratos administrativos), mas de uma categoria diferenciada dos demais, porque geram direitos e obrigações para as partes e as sujeitam aos pressupostos conceituais do ato, a que o particular se subordina incondicionalmente. Tais atos podem ser: 1) VINCULADOS: quando a lei estabelecer os requisitos para sua formação e se o interessado preencher as condições fixadas na lei, surgirá o direito à pretensão solicitada. 2) DISCRICIONÁRIOS: quando sua expedição ficar a critério da autoridade competente; 3) DEFINITIVOS: quando embasar-se num direito individual do requerente e não couber a revogação com base em critérios de conveniência e oportunidade por parte da Administração. 4) PRECÁRIOS: quando couber revogação por parte da Administração. Os atos negociais são específicos, só ocasionando efeitos jurídicos entre as partes, Administração e Administrado, impondo a ambos a observância das condições de execução, sob pena de cassação do ato. - LICENÇA: é o ato administrativo vinculado e definitivo, por meio do qual o Poder Público, verificando que o interessado atendeu a todas as exigências legais, possibilita o desempenho de determinada atividade, que não poderia ser realizada sem consentimento prévio da Administração, como, por exemplo, o exercício de uma profissão ou o direito de construir. A licença resulta de um direito subjetivo do administrado, razão pela qual a Administração não pode negá-la quando o requerente satisfaz a todos os requisitos legais para sua obtenção. O direito do requerente é anterior à licença, mas o desempenho da atividade somente se legitima se o Poder Público exprimir o seu consentimento favorável ao administrado. Por essa razão, o ato é de natureza declaratória. Quanto à licença para construir, doutrina e jurisprudência a têm considerado como mera faculdade de agir e, por conseguinte, suscetível de revogação enquanto não iniciada a obra licenciada, ressalvando-se ao prejudicado o direito à indenização pelos prejuízos causado. - AUTORIZAÇÃO: é o ato administrativo discricionário e precário pelo qual o Poder Público torna possível ao pretendente a realização de certa atividade ou utilização de determinados bens particulares ou públicos. Na autorização, assim como ocorre com a licença, o particular necessita do consentimento estatal para que possa realizar a atividade pretendida, na medida em que estará praticando conduta ilícita se não possuir anuência prévia da Administração. São exemplos: o uso especial de bem público, como ruas e praças, autorização para estacionamento de veículos particulares em terreno público, autorização para porte de armas. A autorização é ato constitutivo, uma vez que estará estabelecendo uma nova situação jurídica, sendo a licença ato declaratório, na media em que o Estado apenas reconhece um direito do particular de realizar a atividade. - PERMISSÃO: é o ato administrativo discricionário e precário, pelo qual o Poder Público faculta ao particular o uso especial de bens públicos, a título gratuito ou remunerado, visando ao interesse da coletividade ou à prestação de serviços públicos. A permissão e a autorização também podem se confundir, uma vez que os dois atos podem ter por objeto a utilização de bens públicos. Na autorização, a utilização do bem público ocorre para o interesse privado (predominante) do particular, como, por exemplo, a autorização para colocação de mesas de bar na calçada. Por outro lado, na permissão, faculta-se a utilização privativa de bem público com finalidade de interesse público, a exemplo do que se dá com a utilização de praça para feira ou festa de uma igreja que visa à arrecadação de alimentos e verbas para pessoas necessitadas. - APROVAÇÃO: é o ato administrativo pelo qual o Poder Público verifica a legalidade e o mérito de outro ato ou de situações e realizações materiais de seus próprios órgãos, de outras entidades ou de particulares, dependentes de seu controle, e consente na sua execução ou manutenção. Pode ser prévia ou subsequente, discricionária consoante os termos em que é instituída, pois, em certos casos, limita- se à confrontação de requisitos específicos na norma legal e, noutros, estende-se à apreciação de oportunidade e conveniência. - ADMISSÃO: é ato administrativo vinculado, por meio do qual o Poder Público, verificando a satisfação de todos os requisitos legais pelo particular, defere-lhe determinada situação jurídica de seu exclusivo ou predominante interesse, como ocorre no ingresso aos estabelecimentos de ensino mediante concurso de habilitação. - VISTO: é ato administrativo pelo qual o Poder Público controla outro ato da própria administração ou do administrado, aferindo sua legitimidade formal, para dar- lhe exequibilidade. Incide sempre sobre um ato anterior e não alcança seu conteúdo. É ato vinculado. - HOMOLOGAÇÃO: é ato administrativo de controle, pelo qual a autoridade superior examina a legalidade e a conveniência, ou somente aspectos de legalidade de ato anterior da própria Administração, de outra entidade ou de particular, para dar-lhe eficácia. Não admite alteração no ato controlado pela autoridade homologante, que apenas pode confirmá-lo ou rejeitá-lo, para que a irregularidade seja corrigida por quem a praticou. - DISPENSA: é o ato administrativo que exime o particular do cumprimento de determinada obrigação até então exigida por lei, como, por exemplo, a dispensa do serviço militar. É ato discricionário. - RENÚNCIA: é ato pelo qual o Poder Público extingue unilateralmente um crédito ou um direito próprio, liberando, definitivamente, a pessoa obrigada perante a Administração. A renúncia não admite condição e é irreversível, uma vez consumada. Tratando-se de renúncia por parte da Administração, há dependência, sempre, de lei autorizadora. - PROTOCOLO ADMINISTRATIVO: é o ato pelo qual o Poder Público acerta com o particular a realização de determinado empreendimento ou atividade ou a abstenção de certa conduta, no interesse recíproco da Administração e do administrado signatário do instrumento protocolar. |17| Esse ato é vinculante para todos que o subscrevem, pois gera alterações e direitos entre as partes. D) ATOS ENUNCIATIVOS: são todos aqueles em que a Administração se limita a certificar ou a atestar fato, ou emitir uma opinião sobre determinado assunto, sem se vincular ao seu enunciado. Também chamados atos de pronúncia, certificam ou atestam uma situação existente, não contendo manifestação de vontade da Administração Pública. - CERTIDÕES: são cópias ou fotocópias fiéis e autenticadas de atos ou fatos constantes de processo, livro ou documentoque se encontre em repartições públicas. Podem ser de inteiro teor, ou resumidas, desde que expressem fielmente o que se contém no original de onde foram extraídas. Em tais atos o Poder Público não manifesta sua vontade, limitando-se a trasladar para o documento a ser fornecido ao interessado o que consta de seus arquivos. - ATESTADOS: são atos pelos quais a Administração comprova um fato ou uma situação de que tenha conhecimento por seus órgãos competentes. Difere da certidão porque o atestado comprova um fato ou uma situação existente, mas não constante de livros, papéis ou documentos em poder da Administração. - PARECERES: são manifestações de órgãos técnicos sobre assuntos submetidos à sua consideração. Tem caráter meramente opinativo, salvo quando tiver caráter vinculante. - APOSTILAS: são atos enunciativos ou declaratórios de uma situação anterior criada por lei. Equivale à averbação. E) ATOS PUNITIVOS: constituem uma sanção imposta pela administração em relação àquele que infringe as disposições legais, sejam servidores ou particulares. Visam a punir e reprimir as infrações administrativas ou a conduta irregular de seus servidores ou dos particulares, perante a administração. Ex: multa, interdição, demolição e etc. QUESTÕES DE CONCURSOS 01. (FUNDEP-Assistente Administrativo-CODEMIG-2018) Não constitui ato administrativo: a) licença dada a particular, por secretaria municipal de obras, para construir. b) nomeação de candidato aprovado em concurso público. c) contrato celebrado entre a administração pública estadual e uma empresa privada vencedora de procedimento licitatório. d) autorização de porte de arma. 02. (IBADE-TÉCNICO TI-RO-2018) O ato administrativo tem como um de seus requisitos a Finalidade, que, em sentido amplo, será sempre atender ao interesse público, da coletividade. Esse aspecto abordado se relaciona mais especificamente com qual dos princípios expressos que regem a Administração Pública no Brasil, dentre aqueles expressos no texto constitucional? a) Impessoalidade b) Publicidade c) Moralidade d) Eficiência e) Legalidade 03. (FGV-Câmara de Salvador-2018) Em matéria de elementos do ato administrativo, a doutrina de Direito Administrativo destaca o elemento: a) da competência, que é a atribuição normativa da legitimação para a prática de um ato administrativo; b) da finalidade, em que se aplica o princípio da supremacia do interesse privado sobre o público; c) da forma, segundo o qual todo ato administrativo deve ser publicado no prazo de quinze dias no diário oficial; d) do motivo, que está inserido no âmbito da íntima convicção do administrador com finalidade privada; e) da capacidade, que, em regra, é discricionária, não havendo margem de liberdade para o administrador. 04. (FCC-TRE-PB-Técnico Judiciário-Área Administrativa-2007) A ideia segundo a qual a Administração Pública pode atuar sozinha, conforme o caso, mediante coação, sem a necessidade do consentimento do Poder Judiciário, refere-se ao atributo do ato administrativo conhecido como a) presunção de legitimidade. b) presunção de veracidade. c) legalidade. d) imperatividade. e) autoexecutoriedade. 05. (CESPE-STM-2018) A respeito do direito administrativo, dos atos administrativos e dos agentes públicos e seu regime, julgue o item a seguir. A imperatividade é o atributo pelo qual o ato administrativo é presumido verídico até que haja prova contrária à sua veracidade. 06. (CESPE-STM-2018) Considerando a doutrina majoritária, julgue o próximo item, referente ao poder administrativo, à organização administrativa federal e aos princípios básicos da administração pública. De acordo com o princípio da autoexecutoriedade, os atos administrativos podem ser aplicados pela própria administração pública, de forma coativa, sem a necessidade de prévio consentimento do Poder Judiciário. 07. (FGV-Câmara de Salvador-2018) João estacionou seu carro com as quatro rodas em cima da calçada, impedindo que os pedestres transitassem por ela, obrigando-os a passar pela via pública. Por tal razão, seu veículo foi guinchado por ordem do agente público municipal de trânsito. Na hipótese em tela, foi aplicado o meio direto de coerção do ato administrativo, pelo seu atributo da: a) coercitibilidade, com imprescindível recurso prévio ao Poder Judiciário; b) imperatividade, com anterior processo administrativo para aplicação da pena administrativa; c) autoexecutoriedade, que prescinde de prévio provimento jurisdicional; d) presunção de legitimidade absoluta, que vigora em favor dos atos administrativos praticados pelo agente público; e) autotutela, que autoriza o agente público a praticar atos de urgência em prol da coletividade. |18| 08. (FCC-DPE-AM-2018) Considere que determinado órgão administrativo, encarregado da fiscalização das condições de segurança de estabelecimentos comerciais, tenha identificado danos na estrutura de edifício onde funciona um grande shopping center. Diante de tal circunstância, interditou o local, proibindo o acesso ao público. Entre os atributos do ato administrativo, o que autoriza a referida interdição, independentemente de decisão judicial, é a) Motivação. b) Discricionariedade. c) Executoriedade. d) Tipicidade. e) Legitimidade. Julgue o item que se segue, a respeito dos atos da administração pública. 09. (CESPE-TEC. JUD-STJ-2018) Todos os fatos alegados pela administração pública são considerados verdadeiros, bem como todos os atos administrativos são considerados emitidos conforme a lei, em decorrência das presunções de veracidade e de legitimidade, respectivamente. 10. (FUNDATEC-ANAL. LEGISLATIVO-AL-RS-2018) A Súmula nº 473 do Supremo Tribunal Federal estabelece que a administração pública poderá __________ seus próprios atos, quando eivados de vícios que os tornem _________, porque deles não se originam direitos; ou _________ por motivo de conveniência ou oportunidade, respeitados os direitos adquiridos, e ressalvada, em todos os casos, a apreciação judicial. Assinale a alternativa que preenche, correta e respectivamente, as lacunas do trecho acima. a) revogar – ilegais – anulá-los b) anular – ilegais – revogá-los c) revogar – inconvenientes – anulá-los d) anular – inconvenientes – revogá-los e) anular – inoportunos – revogá-los 11. (CESPE-PC-MA-2018) Caracteriza-se como unilateral e vinculado o ato da administração denominado a) permissão. b) aprovação. c) parecer. d) autorização. e) licença. 12. (CESPE-TRF-ANALISTA-2018) A respeito dos atos administrativos, julgue o item seguinte, considerando o posicionamento da doutrina majoritária. Enquanto no ato complexo as manifestações de dois ou mais órgãos se fundem para formar um único ato, no ato composto se pratica um ato administrativo principal que depende de outro ato para a produção plena dos seus efeitos. GABARITO 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 LEI Nº 9.784 , DE 29 DE JANEIRO DE 1999. Regula o processo administrativo no âmbito da Administração Pública Federal. O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: CAPÍTULO I DAS DISPOSIÇÕES GERAIS Art. 1o Esta Lei estabelece normas básicas sobre o processo administrativo no âmbito da Administração Federal direta e indireta, visando, em especial, à proteção dos direitos dos administrados e ao melhor cumprimento dos fins da Administração. § 1o Os preceitos desta
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