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1 D. C. HAMMOND O QUE É O NEUROFEEDBACK: UMA ATUALIZAÇÃO D. Corydon Hammond Medicina Física e Reabilitação, Escola de Medicina da Universidade de Utah, Salt Lake City, Utah, EUA Escrito com o intuito de educar os profissionais e o público em geral, este artigo fornece uma atualização e uma visão geral do campo de atuação do neurofeedback (Biofeedback de eletroencefalograma). Explica-se o processo de avaliação e de treinamento de neurofeedback. Em seguida, são identificadas as áreas em que o neurofeedback vem sendo utilizado como tratamento e apresenta-se um levantamento dos resultados da pesquisa. São citados os riscos potenciais, os efeitos colaterais e as reações adversas, e são fornecidas orientações para a seleção de um profissional legitimamente qualificado. INTRODUÇÃO No final dos anos 1960 e 1970, descobriu-se que é possível recondicionar e retreinar padrões de ondas cerebrais (Kamiya, 2011; Sterman, LoPresti & Fairchild, 2010). Alguns desses trabalhos começaram com o treinamento para aumentar a atividade das ondas alfa no cérebro, com a finalidade de aumentar o relaxamento, enquanto outros trabalhos, originados na Universidade da Califórnia, Los Angeles, enfocaram primeiramente na pesquisa com animais e, em seguida, com seres humanos, objetivando-se ajudar nos casos de epilepsia fora de controle. Este treinamento de ondas cerebrais é chamado de neurofeedback, ou biofeedback de eletroencefalograma (EEG). Antes de uma discussão mais detalhada, o autor irá rever algumas informações preliminares relativas à atividade das ondas cerebrais. Ondas cerebrais ocorrem em várias frequências. Algumas são rápidas, outras são bastante lentas. Os nomes clássicos dessas faixas de EEG são delta, teta, alfa, beta e gama. Elas são medidas em ciclos por segundo ou hertz (Hz). As definições a seguir, embora careçam de rigor científico, fornecerão ao leitor em geral uma concepção da atividade associada a cada uma das diferentes faixas de frequência. Ondas cerebrais gama são visualizadas como uma atividade muito rápida no EEG, acima de 30 Hz. Apesar da necessidade de pesquisas adicionais sobre essas frequências, sabemos que essa atividade está associada à atenção concentrada e intensa e ao auxílio no processamento e na associação das informações em diferentes áreas do cérebro. Ondas cerebrais beta são ondas cerebrais pequenas e relativamente rápidas (de 13 a 30 Hz), associadas a um estado de atividade mental e intelectual e concentração voltada para o ambiente externo. Este é basicamente um estado de alerta atento e interessado. A atividade na extremidade inferior dessa banda de frequência (por exemplo, o Ritmo Sensório Motor, ou SMR) está associada a atenção relaxada. Ondas cerebrais alfa (de 8 a 12 Hz) são mais lentas e maiores. São geralmente associadas a um estado de relaxamento. A atividade na metade inferior dessa faixa representa, até certo ponto, o cérebro mudando para uma engrenagem de marcha lenta, mais relaxado e um pouco em piloto automático, esperando para responder quando necessário. Se alguém simplesmente fecha os olhos e começa a imaginar algo calmo, em menos de meio minuto inicia-se um aumento na produção de ondas cerebrais alfa. Essas ondas cerebrais são especialmente grandes no terço posterior da cabeça. A atividade teta (de 4 a 8 Hz), em geral, representa um estado mental de devaneio, bastante desligado e associado à ineficiência mental. Em níveis muito lentos, a atividade de ondas cerebrais teta representa um estado muito descontraído, marcando a fronteira entre estar acordado e dormindo. Ondas cerebrais delta (de 0,5 a 3,5 Hz) são ondas cerebrais muito lentas 2 D. C. HAMMOND e de alta amplitude, que experimentamos durante um sono profundo e restaurador. De modo geral, diferentes níveis de consciência estão associados a diferentes estados de ondas cerebrais dominantes. Deve notar-se, contudo, que todos nós temos sempre algum grau de cada uma dessas diferentes frequências de ondas cerebrais presentes em diversas partes do nosso cérebro. Ondas cerebrais delta também ocorrerão, por exemplo, quando algumas áreas do cérebro entram em “estado de espera” para receber nutrientes, e essas ondas também estão associadas a dificuldades de aprendizagem. Quando alguém fica sonolento, isso quer dizer que estão surgindo ondas delta e ondas teta mais lentas, e quando a pessoa está um pouco desatenta ao mundo exterior e sua mente está vagando, há mais ondas teta presentes. Quando alguém está excepcionalmente ansioso e tenso, frequências excessivamente altas de ondas cerebrais beta podem estar presentes em diferentes partes do cérebro, mas, em outros casos, isso pode estar associado a um excesso de atividade ineficiente de ondas alfa nas áreas frontais do cérebro, associadas ao controle emocional. Pessoas com transtorno de déficit de atenção e transtorno de hiperatividade (TDA e TDA/H), ferimentos na cabeça, derrame cerebral, epilepsia, problemas de desenvolvimento, e muitas vezes síndrome de fadiga crônica e fibromialgia, tendem a apresentar um excesso de ondas lentas (geralmente teta e, algumas vezes, um excesso de alfa). Quando uma quantidade excessiva de ondas lentas está presente nas partes executivas do cérebro (porção frontal), torna-se difícil controlar a atenção, o comportamento e/ou as emoções. Tais pessoas geralmente têm problemas com a atenção, com a memória, com o controle de seus impulsos e estados de espírito, ou com a hiperatividade. Elas têm dificuldade em concentrar-se e apresentam eficiência intelectual diminuída. Como o leitor pode ver, há certa complexidade no funcionamento do cérebro. Pesquisas (Hammond, 2010b) constataram que existe uma heterogeneidade nos padrões de EEG associados a diferentes condições diagnosticadas, tais como TDA/H, ansiedade ou transtorno obsessivo-compulsivo (TOC). A pesquisa científica identificou, por exemplo, um mínimo de três subtipos principais de TDA/H, nenhum dos quais pode ser diagnosticado a partir da simples observação do comportamento da pessoa, e cada um demanda um protocolo de tratamento diferente. O cenário pode tornar-se ainda mais complicado pelo fato de que às vezes há outras comorbidades presentes, e não simplesmente o TDA/H sozinho. Assim, antes de começar a fazer o neurofeedback é importante que uma avaliação adequada seja realizada, com o objetivo de determinar quais frequências de EEG estão excessivas ou deficitárias, ou se há problemas na velocidade de processamento ou na coerência cerebral, e em quais partes do cérebro. Isso permite que o tratamento seja individualizado e adaptado ao paciente. O treinamento de neurofeedback é um biofeedback de EEG (através de ondas cerebrais). Durante um treinamento típico, um ou mais eletrodos são colocados sobre o couro cabeludo e um ou dois são geralmente colocados nos lóbulos das orelhas. Então, equipamentos eletrônicos de alta tecnologiaproporcionam um feedback instantâneo em tempo real (geralmente auditivo e visual) sobre sua atividade de ondas cerebrais. Os eletrodos nos permitem medir os padrões elétricos que vêm do cérebro – de forma bastante semelhante a um médico escutando seu coração a partir da superfície da sua pele. Nenhuma corrente elétrica é transmitida para o cérebro. A atividade elétrica do cérebro é transmitida para o computador e gravada. Normalmente, os pacientes não podem influenciar seus padrões de ondas cerebrais de forma confiável por não terem consciência deles. No entanto, quando podem ver suas ondas cerebrais em uma tela de computador alguns milésimos de segundo depois delas ocorrerem, eles adquirem a capacidade de influenciá-los e, 3 D. C. HAMMOND gradualmente, mudá-los. Esse mecanismo de ação é geralmente considerado um condicionamento operante. Estamos literalmente recondicionando e retreinando o cérebro. Num primeiro momento, as mudanças são de curta duração, mas elas tornam-se gradualmente mais duradouras. Com o feedback contínuo, treinamento e prática, geralmente é possível treinar padrões mais saudáveis de ondas cerebrais na maioria pessoas. Como será analisado posteriormente neste artigo, a maioria das pesquisas sugere que melhorias significativas parecem ocorrer em 75% a 80% dos casos. O processo é um pouco similar a uma fisioterapia para o cérebro, aumentando a flexibilidade cognitiva e o controle. Assim, independentemente da origem dos sintomas, seja TDA/H, dificuldade de aprendizagem, derrame cerebral, traumatismo craniano, déficits posteriores a uma neurocirurgia, epilepsia fora de controle, disfunção cognitiva associada ao envelhecimento, depressão, ansiedade, TOC, autismo, ou outras condições relacionadas ao cérebro, o treinamento de neurofeedback oferece oportunidades adicionais para a reabilitação através de treinamento direto dos padrões de atividade elétrica no cérebro. O interessante é que, mesmo quando um problema é de natureza biológica, existe agora uma alternativa ao tratamento medicamentoso. O neurofeedback também vem sendo usado cada vez mais para facilitar um desempenho ótimo em indivíduos “normais”, executivos e atletas. Há mais de uma década, o médico Frank H. Duffy, professor e neurologista pediátrico da Escola de Medicina de Harvard, afirmou na revista Clinical Electroencephalography que a literatura acadêmica já havia sugerido que o neurofeedback “deve desempenhar um papel terapêutico importante em muitas áreas problemáticas. Na minha opinião, se qualquer medicação demonstrasse um espectro tão amplo de eficácia, ela seria universalmente aceita e amplamente usada” (Duffy, 2000, p. V). “É um campo que deve ser levado a sério por todos” (p. VII). Um número considerável de pesquisas foi publicado desde então. Este artigo, escrito para educar tanto os profissionais quanto o público em geral sobre o campo de atuação do neurofeedback, fornece uma visão geral dessa literatura, sem ter a intenção de citar todas as publicações com todos os seus detalhes metodológicos. AVALIAÇÃO ANTERIOR AO TREINAMENTO DE NEUROFEEDBACK Algumas pessoas gostariam de poder simplesmente comprar seu próprio equipamento de neurofeedback e treinar a si próprios ou ao seus filhos. Como é explicado mais adiante neste artigo, isso é potencialmente ineficaz ou até mesmo danoso. Para ser feito corretamente, o neurofeedback deve ser conduzido ou supervisionado por alguém com conhecimentos especializados sobre o funcionamento do cérebro e que tenha uma perícia superior ao simples conhecimento relativo à operação de equipamentos e softwares. Como já mencionado, para que o treinamento seja bem sucedido e os efeitos colaterais evitados, é de vital importância que seja realizada uma avaliação e que o treinamento seja personalizado para os padrões distintos de ondas cerebrais e sintomas de cada pessoa. O mesmo treinamento, nos mesmos locais do cérebro, não é o necessário para todas as pessoas, e as pesquisas mostraram que os padrões de ondas cerebrais de uma pessoa não podem ser identificados pela simples observação de seus sintomas comportamentais. Portanto, antes de fazer o treinamento de neurofeedback, médicos ou clínicos licenciados deverão fazer perguntas sobre a história clínica do cliente ou paciente. Vez ou outra, em casos mais graves eles podem sugerir fazer testes psicológicos ou neuropsicológicos. Além disso, clínicos competentes (Hammond et al., 2011) farão uma avaliação cuidadosa e examinarão seus padrões de ondas cerebrais. Alguns profissionais poderão realizar uma avaliação através da colocação de um ou dois eletrodos no 4 D. C. HAMMOND couro cabeludo para medir padrões de ondas cerebrais em um determinado número de pontos. Outros clínicos executarão uma avaliação mais abrangente, fazendo um mapa cerebral através de um eletroencefalograma quantitativo (QEEG), onde colocam-se 19 ou mais eletrodos no couro cabeludo. O QEEG é uma ferramenta de avaliação para analisar o funcionamento das ondas cerebrais de uma pessoa de forma objetiva e cientifica. O procedimento geralmente leva entre 60 e 75 minutos e consiste na colocação de uma touca contendo pequenos eletrodos que medem a atividade elétrica proveniente do cérebro. Isto é efetuado enquanto o cliente está em repouso, com os olhos fechados ou abertos, e, por vezes, durante a realização de uma tarefa. Em seguida, usa-se um processo minucioso para remover da forma mais completa possível os artefatos que ocorreram, como quando os olhos se moveram ou piscaram, quando houve movimentos do corpo, tensão no maxilar, no pescoço ou na testa. Os dados de ondas cerebrais recolhidos são, então, estatisticamente comparados com um grande e sofisticado banco de dados normativo, que fornece informações cientificamente objetivas sobre como um cérebro deve funcionar na faixa etária do cliente. Esse procedimento de avaliação permite que o profissional possa determinar, então, de forma científica e objetiva, se os padrões de ondas cerebrais de um cliente são significativamente diferentes do normal, e em caso afirmativo, como e onde diferem. A partir dos anos 1970 e 1980 houve uma grande quantidade de pesquisas com QEEG para uma ampla gama de problemas. Numerosos indícios sintetizados por Thatcher (2010) verificam a credibilidade da avaliação de QEEG, e centenas de estudos científicos foram publicados utilizando-os. Esses estudos mostram que o QEEG possui capacidade comprovada de ajudar na avaliação de doenças como traumatismo crânio-encefálico moderado (TCE e concussões relacionadas a atividade esportiva), TDA/H, dificuldades de aprendizagem, depressão, TOC, ansiedade, síndrome do pânico, abuso de drogas, autismo e uma variedade de outras condições (incluindo esquizofrenia, derrame cerebral, epilepsia, e demência; Alper, Prichep, Kowalik, Rosenthal & John, 1998; Amem et al, 2011.; Barry, Clarke, Johnstone, McCarthy& Selikowitz, 2009; Clarke, Barry, McCarthy & Selikowitz, 2001; Clarke et al., 2007; Harris et al., 2001; Hoffman et al., 1999; Hughes & John, 1999; Newton et al., 2004; Thatcher, 2010; Thatcher et ai., 1999). O QEEG foi até mesmo capaz de prever os resultados do tratamento nas intervenções em condições tais como TDA/H (Suffin & Emory, 1995) e alcoolismo e abuso de drogas (Bauer, 1993, 2001; Prichep, Alper, Kowalik, John et al., 1996; Prichep, Alper, Kowalik & Rosenthal, 1996; Winterer et al., 1998). A Associação Americana de Psicologia também endossou o QEEG como estando dentro do âmbito de aplicação da prática de psicólogos que sejam adequadamente treinados, e a Sociedade Internacional de Neurofeedback e Pesquisa (ISNR) similarmente endossou sua utilização por profissionais de saúde qualificados que sejam devidamente treinados (Hammond et al., 2004), criando padrões para a utilização do QEEG em neurofeedback. Profissionais certificados nessa especialidade de avaliação podem ser localizados através da EEG & Clinical Neuroscience Society (http://www.ecnsweb.com/ provider-directory.html) ou da Quantitative Electroencephalography Certification Board (http://www.qeegboard.org). O TREINAMENTO DE NEUROFEEDBACK Uma vez que a avaliação esteja completa e o objetivo do tratamento definido, o que normalmente ocorre é a colocação de um ou mais eletrodos sobre o couro cabeludo e um ou mais nos lóbulos das orelhas para que se iniciem as sessões de treinamento de neurofeedback. A seguir, o paciente usualmente assiste a uma imagem na tela 5 D. C. HAMMOND de um computador e ouve tons de áudio, às vezes ao realizar uma atividade, tal como a leitura. Essas sessões de treinamentos são concebidas para ajudar a pessoa a gradualmente mudar e treinar seus padrões de ondas cerebrais. Algumas pessoas, por exemplo, precisam aprender a aumentar a velocidade ou a amplitude de ondas cerebrais em áreas específicas do cérebro, enquanto outros indivíduos necessitam de um treinamento para diminuir a velocidade e a amplitude de suas ondas cerebrais. Em geral, os primeiros progressos começam a ser notado entre cinco e dez sessões iniciais. A duração do tratamento pode ser de apenas quinze a vinte sessões para ansiedade ou insônia, mas com outras condições, tais como TDA/H ou dificuldade de aprendizagem, frequentemente serão necessárias de trinta a cinquenta sessões, dependendo da gravidade do problema. Nos casos de condições muito complexas ou quando múltiplos distúrbios ou diagnósticos estão presentes, o clínico nem sempre consegue prever quantas sessões de tratamento podem ser necessárias. Cada sessão dura geralmente cerca de 20 a 25 minutos a partir do momento em que se colocam os eletrodos. TIPOS ESPECIALIZADOS DE NEUROFEEDBACK Existem também várias formas inovadoras de neurofeedback que devem ser explicadas. Cada uma difere de alguma maneira dos métodos tradicionais do neurofeedback que foram descritos, e cada uma representa avanços importantes e fascinantes da nossa tecnologia. Treinamento de Potenciais Corticais Lentos Falando muito tecnicamente por um momento, potenciais corticais lentos são as polarizações positivas ou negativas do EEG na lentíssima faixa de frequência entre 0,3 Hz a cerca de 1,5 Hz. Eles podem ser entendidos como a corrente contínua da linha de base, sobre a qual ocorre a corrente alternada do EEG. Geralmente, observa-se um padrão negativo nos potenciais de corrente contínua que ocorrem durante o processamento cognitivo (para criar efeitos excitatórios) e potenciais corticais lentos positivos ocorrem durante a inibição das redes corticais. Antes e durante um ataque epiléptico, por exemplo, o córtex é eletronegativo, e esse mesmo tipo de hiperexcitabilidade tende a ser identificado antes de muitas enxaquecas. Depois de um ataque, quando o córtex está cansado, ele tende a ficar eletropositivo. O treinamento de neurofeedback dos potenciais corticais lentos vem sendo feito (Kotchoubey, Blankenhorn, Froscher, Strehl & Birbaumer, 1997; Kotchoubey et al., 2001; Strehl et al., 2006) especialmente na Europa, com epilepsia e TDA/H. Este tipo de neurofeedback também apresenta grande potencial no tratamento da enxaqueca (Kropp, Siniatchkin & Gerber, 2002). Neste treinamento, um eletrodo é colocado no centro do topo da cabeça e um atrás de cada orelha, enquanto o cliente concentra-se em alterar uma imagem exibida na tela de um computador (Strehl, 2009). O SISTEMA DE NEUROFEEDBACK DE BAIXA ENERGIA O Sistema de Neurofeedback de Baixa Energia (LENS - Low Energy Neurofeedback System; Hammond, 2007b; Larsen, 2006; Ochs, 2006) é uma forma passiva de neurofeedback única, que produz seus efeitos através de um feedback que envolve um minúsculo campo eletromagnético, com uma força de campo de apenas 10-18 watts/cm2. Esse feedback é tão pequeno que sua força é o equivalente a apenas 1/400 da força recebida ao se segurar um 6 D. C. HAMMOND celular comum junto ao ouvido, e com quase a mesma intensidade de emissão proveniente de uma bateria de relógio. Esse feedback é aplicado em intervalos de 1 segundo através de eletrodos, enquanto o paciente permanece relativamente imóvel, geralmente de olhos fechados. Esse feedback é ajustado 16 vezes por segundo para que permaneça sempre um determinado número de ciclos por segundo mais rápido que a frequência de ondas cerebrais dominante. A maior parte das pesquisas preliminares e dos experimentos clínicos são encorajadores, com artigos publicados sobre o tratamento com LENS para condições tais como TCE (Hammond, 2010c; Schoenberger, Shiflett, Esdy, Ochs & Matheis, 2001), fibromialgia (C. C. S. Donaldson, Sella & Mueller, 1998; Mueller, Donaldson, Nelson & Layman, 2001), raiva (Hammond, 2010a), síndrome das pernas inquietas (Hammond, ainda não publicado), TDA/H, ansiedade, depressão, insônia e outras condições (Larsen, 2006; Larsen, Harrington & Hicks, 2006). O LENS foi até mesmo utilizado para modificar problemas comportamentais em animais (Larsen, Larsen et al., 2006). As vantagens da abordagem do LENS incluem o fato de que geralmente aparenta produzir resultados mais rápidos do que o neurofeedback tradicional, e de poder ser utilizado com crianças muito pequenas e com indivíduos que são menos motivados e que não têm o impulso de controle ou a resistência necessária às outras abordagens do neurofeedback. Hemoencefalografia Há dois sistemas diferentes de hemoencefalografia (HEG), que fornecem um feedback que, conforme acredita-se, influencia o fluxo sanguíneo cerebral (Toomim & Carmen, 2009). Pesquisas preliminares, consistindo em relatórios de uma série de casos em que se aplicou o HEG, parecem encorajadoras (Carmen, 2004; Coben & Pudolsky, 2007b; Duschek, Schuepbach, Doll, Werner & Reyes Del Paso, 2010; Friedes & Aberbach, 2003; Mize, 2004; Sherrill, 2004; Toomimet al., 2004), talvez especialmente nos casos de enxaqueca. Treinamento de Neurofeedback de Z-Score ao vivo O Treinamento de Neurofeedback de Z-Score ao vivo é uma inovação mais recente que geralmente utiliza dois, quatro ou mais eletrodos na cabeça. Cálculos contínuos são computados, e a maneira como o cérebro está funcionando, tendo como base diferentes variáveis (como por exemplo potência, assimetrias, phase-lag e coerência), é comparada com um banco de dados normativo cientificamente desenvolvido. O feedback então baseia-se nessas comparações estatísticas feitas a cada momento, levando-se em conta o normal para a faixa etária aproximada do paciente. Tal como acontece com outros métodos de neurofeedback, o feedback que é proporcionado é concebido de forma a guiar o cérebro rumo a uma função normalizada. Esse feedback muitas vezes consiste em observar um DVD cuja imagem escurece e pisca quando a pessoa não está indo tão bem e se torna mais clara e brilhante quando seu cérebro está funcionando de forma mais próxima do normal. Atualmente, quase todas as publicações que se referem a esta abordagem são dados de séries de casos (Collura, 2008a, 2008b, 2009; Collura, Guan, Tarrant, Bailey & Starr, 2010; Collura, Thatcher, Smith, Lambos & Stark, 2009), com exceção de um novo estudo controlado mostrando resultados positivos no tratamento da insônia (Hammer, Colbert, Brown & Ilioi, 2011), mas esses resultados preliminares, que incluem QEEGs anteriores e posteriores ao tratamento, são 7 D. C. HAMMOND muito encorajadores. No momento em que escrevo este texto, já encontra-se no mercado uma nova modalidade dessa abordagem, na qual uma touca com 19 eletrodos pode também ser usada para o treinamento. Treinamento de Neurofeedback LORETA LORETA refere-se à tomografia eletromagnética de baixa resolução (Low Resolution Eletromagnetic Tomography). Esse é um tipo de análise do QEEG que fornece uma estimativa da localização dos geradores cerebrais subjacentes (como por exemplo, o giro do cíngulo anterior, a ínsula e o giro fusiforme) da atividade de EEG do paciente dentro de uma faixa de frequência. Foram publicadas pesquisas preliminares sobre essa abordagem (Cannon & Lubar, 2007;. Cannon et al, 2007; Cannon et al., 2006; Congedo, Lubar & Joffe, 2004). Esse método requer uma preparação mais trabalhosa, em que uma touca inteira com 19 eletrodos deve ser usada em todas as sessões. Acredita-se que essa abordagem apresenta potencial para melhorar os resultados nos casos mais difíceis e/ou encurtar a duração do tratamento, e um relatório preliminar (Cannon & Lubar, 2011) sugere que as alterações podem ser duradouras. Neurofeedback por Ressonância Magnética Funcional A ressonância magnética funcional é um tipo muito sofisticado de neuroimagem que examina a ativação cerebral para avaliar o funcionamento do cérebro (ao contrário do IRM tradicional, que examina a estrutura do cérebro). A utilização da ressonância magnética funcionaI no neurofeedback é um avanço científico fascinante dos últimos anos (Caria et al., 2007; deCharms, 2007; deCharms et al., 2004; deCharms et al., 2005; Haller, Birbaumer & Veit, 2010; Johnston, Boehm, Healy, Goebel & Linden, 2010; Rota et al., 2009; Weiskopf et al., 2004; Weiskopf et al., 2003; Yoo et al., 2006). Uma vantagem do neurofeedback por ressonância magnética funcional é que ele pode examinar áreas profundas sub-corticais do cérebro durante seu funcionamento. No entanto, a desvantagem prática mais grave do neurofeedback por ressonância magnética funcional é ser extremamente caro. Com um equipamento que custa aproximadamente US$ 1 milhão ou mais, além de enormes despesas cotidianas associadas ao funcionamento de tais equipamentos, essa abordagem não parece ser uma opção de tratamento muito promissora do ponto de vista clínico em uma previsão realista. ÁREAS DE APLICAÇÃO DO TRATAMENTO COM NEUROFEEDBACK Desde o final da década de 1970, o neurofeedback vem sendo pesquisado, refinado, e testado nos casos de TDA/H e dificuldades de aprendizagem. O trabalho clínico realizado pelo Dr. Joel Lubar e seus colegas (por exemplo, Lubar, 1995) na Universidade do Tennessee, bem como muitos outros trabalhos, demonstraram repetidamente que é possível treinar o cérebro. De fato, um estudo controlado (Levesque, Beauregard & Mensour, 2006) documentou, através de neuroimagem por ressonância magnética funcional, as mudanças positivas na função cerebral em crianças com TDA/H, que eram correspondentes às suas mudanças comportamentais que surgiram após o tratamento com neurofeedback. Tanto essa pesquisa quanto a que será citada a seguir fornecem fortes indícios que demonstraram a eficácia do neurofeedback no tratamento do TDA/H. Enquanto a duração média do acompanhamento dos estudos do tratamento com medicação estimulante é de apenas 3 semanas, com apenas quatro estudos de medicação com acompanhamento a longo prazo que duraram 14 meses ou mais, Lubar (1995) publicou casos com acompanhamento de 10 anos e constatou que, em cerca de 80% 8 D. C. HAMMOND dos clientes, o neurofeedback pode melhorar substancialmente os sintomas de TDA/H e que as alterações obtidas são mantidas. Rossiter e Lavaque (1995) constataram que 20 sessões de neurofeedback produzem uma melhora nos processos de atenção e de concentração comparáveis às produzidas com o uso de Ritalina. Fuchs, Birbaumer, Lutzenberger, Gruzelier & Kaiser (2003) e Rossiter (2005) demonstraram também que o neurofeedback produz uma melhora comparável à Ritalina. Drechsler et al. (2007) descobriram que o treinamento de potenciais corticais lentos produz efeitos superiores à terapia de grupo com crianças com TDA/H. Em estudos randomizados controlados também foi constatado que o neurofeedback é superior ao biofeedback por eletromiografia (Bakhshayesh, 2007). Em um estudo de acompanhamento de um grupo de controle no período de 1 ano, Monastra, Monastra & George (2002) constataram que o neurofeedback produz melhoras superiores às produzidas pela Ritalina, não necessitando de manutenção da medicação. Em, Leins et al. (2007) demonstrou-se que 30 sessões de treinamento de potenciais corticais lentos ou de neurofeedback tradicional foram igualmente eficazes na produção de melhoras cognitivas, comportamentais, de atenção e de QI, que permaneceram estáveis 6 meses após o tratamento. Gevensleben et al. (2009b), em um estudo randomizado e controlado, documentou a superioridade do treinamento de neurofeedback (tamanho do efeito = 0,60) quando comparado com treinamentos de atenção computadorizados (que teriam as características de controle de um placebo). Melhoras comportamentais e de atenção foram consideradas estáveis em estudos de acompanhamento de até 6 meses, como observado por Strehl et al. (2006) e Gevensleben et al. (2010), que verificaram, assim como Holtmann et al. (2009), que o treinamento de neurofeedbackproduz resultados superiores aos treinamentos de atenção computadorizados. Em dois estudos duplo-cego controlados por placebo (deBeus & Kaiser, 2011; deNiet, 2011) foi documentada a eficácia do neurofeedback no tratamento do TDA/H. Outros grandes estudos randomizados controlados recentes (Gevensleben et al, 2009a; Wrangler et al, 2010) também ajudam a eliminar as preocupações de que as melhoras produzidas pelo treinamento de neurofeedback sejam simplesmente reflexo de efeitos placebo inespecíficos. Esses estudos demonstraram alterações de protocolo específico na função cerebral eletrofisiológica, observadas por meio de EEG e de um sistema sofisticado de medição de potenciais ligados a eventos, replicando algumas conclusões anteriores (Heinrich, Gevensleben, Freisleder, Moll & Rothenberger, 2004) e demonstrando mecanismos neuronais distintos envolvidos nas diferentes técnicas de treinamento. Um acompanhamento de 2 anos (Gani, Birbaumer & Strehl, 2008) da pesquisa realizada por Heinrich descobriu que não só as melhoras na atenção e no comportamento eram estáveis, mas que algumas avaliações realizadas pelos pais mostravam melhora contínua durante os dois anos. Melhora contínua também foi encontrada por deNiet (2011) em acompanhamentos por 6 e 12 semanas após a conclusão do tratamento com LENS de adultos com TDA/H, como observado em seu estudo randomizado duplo-cego controlado por placebo. Assim, os acompanhamentos de 3 meses a 10 anos após o tratamento (Gani et al, 2008;. Heinrich et al., 2004; Lubar, 1995; Monastra et al., 2002; Strehl et al., 2006) fornecem fortes indícios de que as melhoras do neurofeedback no TDA/H podem ser duradouras, a menos que algo como um ferimento na cabeça ou o abuso de drogas venha a ocorrer e altere de forma negativa a função cerebral. Uma meta-análise recente (Arns, de Ridder, Strehl, Breteler & Coenen, 2009) concluiu que o tratamento com neurofeedback para o TDA/H atende aos critérios para ser classificado como um tratamento eficaz e específico – o mais alto nível de validação científica (La Vaque et al., 2002). Uma meta-análise (Schachter, Pham, King, 9 D. C. HAMMOND Langford & Hoher, 2001) de estudos randomizados e controlados de tratamento medicamentoso para TDA/H concluiu que os estudos eram de má qualidade, tinham um perfil de publicações extremamente tendencioso (ou seja, raramente submetem-se para publicação os estudos financiados pelas empresa de medicamentos que não conseguem suportar a eficácia do produto), e muitas vezes apresentavam efeitos colaterais. Eles também indicaram que os efeitos a longo prazo (além dos efeitos de placebo) por períodos superiores a 4 semanas de acompanhamento não foram observados. Uma recente análise abrangente (Drug Effectiveness Review Project, 2005) do tratamentos medicamentosos para TDA/H concluiu que não havia prova da segurança dos medicamentos usadosno tratamento de TDA/H a longo prazo, e que faltam indícios de boa qualidade que comprovem que o tratamento medicamentoso melhora o desempenho acadêmico ou comportamentos de risco a longo prazo, tanto em adolescentes quanto em adultos. Essas últimas conclusões também foram obtidas por Joughin & Zwi (1999). O maior estudo randomizado multicêntrico controlado comparava o tratamento medicamentoso, ''cuidados comunitários rotineiros'', e terapia comportamental. Os avaliadores do resultado não eram cegos, gerando resultados tendenciosos, e a maioria dos indivíduos em cuidados comunitários foram também medicados. Após 14 meses de acompanhamento (MTA Cooperative Group, 1999), todos os grupos apresentaram melhoras, e a medicação produziu melhoras superiores na atenção e na hiperatividade (esse último apenas nas avaliações feitas por pais), mas não em agressão, habilidades sociais, notas na escola, ou na relação pai-filho. As classificações fornecidas pelo único avaliador cego (um monitor da sala de aula), no entanto, não mostraram diferença entre grupos e, em 3 anos de acompanhamento (Swanson et al., 2007), não houve diferença em nenhuma das medidas de resultados entre os grupos, resultados que foram confirmados em 8 anos de acompanhamento (Molina et al., 2009). Estudos (por exemplo, Swanson et al., 2007) confirmaram a perda de apetite e supressão do crescimento como efeitos colaterais do tratamento medicamentoso, juntamente com outros efeitos colaterais tais como aumento da frequência cardíaca e da pressão arterial, insônia, perda da capacidade de resposta emocional, tonturas, dor de cabeça e dor de estômago. No estudo do MTA, 64% das crianças relataram efeitos colaterais, 11% deles moderadamente graves e 3% graves. Os efeitos colaterais associados à medicação para TDA/H também são tão comuns que menos do que 50% das crianças usam as dosagens prescritas por mais de 6 meses (Hoagwood, Jensen, Feil, Vitiello & Blatara, 2000). Em função desses resultados, o neurofeedback parece bem validado como um método alternativo não invasivo e relativamente livre de efeitos colaterais para o TDA/H. A longo prazo, é também muito interessante do ponto de vista financeiro. Alguns indivíduos demonstram preocupação com a possibilidade de o custo do neurofeedback ser maior do que a despesa envolvida no tratamento medicamentoso. A pesquisa mostrou, no entanto, que os custos associados ao tratamento medicamentoso são consideráveis. Por exemplo, um estudo (Marchetti et al., 2001) de seis medicamentos diferentes para o tratamento de TDA/H descobriu que o custo médio por paciente em idade escolar foi de 1.678 dólares por ano. Outro estudo (Swensen et al., 2003) examinou os custos dos cuidados de saúde em mais de 100 mil famílias nas quais o TDA/H estava ou não presente. Descobriu-se que nas famílias em que um dos membros apresenta TDAH, os custos diretos dos gastos com a saúde, mais custos indiretos (como a perda de trabalho) eram em média 1.288 dólares a mais por ano para os outros membros da família (que não tinham sido diagnosticados com TDA/H) em comparação com os membros de famílias em que o TDAH não 10 D. C. HAMMOND estava presente. Isso significa que o custo com medicação supracitado, combinado com os custos indiretos anuais para uma família com dois filhos, um dos quais tenha TDA/H, seria de 5.542 dólares. O treinamento de Neurofeedback para TDA/H é normalmente associado com a diminuição da impulsividade e da hiperatividade, um aumento da estabilidade do humor, melhores padrões de sono, aumento da capacidade de atenção e concentração, melhoria do desempenho acadêmico e aumento da retenção e memória, e com uma taxa muito menor de efeitos colaterais. É fascinante notar que estudos do TDA/H ou da dificuldade de aprendizagem que avaliaram o QI antes e após o tratamento constataram um aumento de QI após o treinamento de neurofeedback. Essas melhoras variam entre um valor médio de 9 pontos de QI a mais em um estudo (Linden,Habib & Radojevic, 1996), um aumento de 12 pontos no QI em um estudo realizado por L. Thompson e Thompson (1998), uma média de 19 pontos de QI em outro estudo (Tansey, 1991b), e até mesmo uma média de aumento de 23 pontos de QI em um estudo realizado por Othmer, Othmer & Kaiser (1999). Dificuldade de Aprendizagem e problemas de Desenvolvimento Com relação à dificuldade de aprendizagem, Fernandez et al. (2003) mostrou, em um estudo controlado por placebo, que o neurofeedback é um tratamento eficaz, e as melhoras foram mantidas durante os 2 anos de acompanhamento (Becerra et al., 2006). Um relatório adicional realizado por Fernandez (Fernandez et al., 2007) com 16 crianças com dificuldades de aprendizagem apresentou significativas mudanças no EEG dois meses após o neurofeedback, quando comparadas ao grupo de controle com placebo, no qual não houveram alterações no EEG. Além disso, 10 das 11 crianças no grupo de tratamento com neurofeedback obtiveram mudanças objetivas no desempenho acadêmico, contra 1 em cada 5 crianças no grupo do placebo. Outros artigos também foram publicados sobre o valor do neurofeedback no tratamento das dificuldades de aprendizagem (Orlando & Rivera, 2004; Tansey, 1991a; Thornton & Carmody, 2005). Crianças com dislexia submetidas a um estudo randomizado controlado (Breteler, Arns, Peters, Giepmans & Verhoeven, 2010) apresentaram melhoria significativa na ortografia, e Walker (2010a; Walker & Norman, 2006) observou melhoras consideráveis na capacidade de leitura em 41 dos casos de dislexia. Nos primeiros 12 casos relatados por Walker (Walker & Norman, 2006), todas as crianças tinham melhorado a habilidade de leitura em pelo menos dois níveis a partir de 30 a 35 sessões. Barnea, Rassis & Zaidel (2005) identificaram melhoras na capacidade de leitura em crianças com dificuldade de aprendizagem após 20 sessões. Ainda que uma pesquisa controlada não tenha sido feita, Surmeli e Ertem (2007) avaliaram a eficácia do neurofeedback guiado por QEEG no tratamento de crianças com Síndrome de Down. Todas as oito crianças que completaram até 60 sessões de tratamento (uma das criança saiu após apenas oito sessões) apresentaram melhora significativa em atenção, concentração, impulsividade, problemas de comportamento, fala e vocabulário, e mesmo nas medições do QEEG. Surmeli & Ertem (2010) trataram 23 crianças diagnosticadas com retardo mental de leve a moderado, com 80 a 160 sessões de neurofeedback guiado por QEEG. Vinte duas das 23 apresentaram melhora clínica de acordo com a Lista de Verificação dos Comportamentos do Desenvolvimento, e dezenove dos 23 apresentaram melhora na Escala Wechsler de Inteligência para Crianças e em um teste de atenção computadorizado. 11 D. C. HAMMOND Aumento das capacidades cognitivas e de memória O neurofeedback também tem resultados documentados para a melhoria cognitiva e de memória em indivíduos em condições normais (Angelakis et al, 2007; Boulay, Sarnacki, Wolpaw & McFarland, 2011; Egner & Gruzelier, 2003; Egner, Strawson & Gruzelier, 2002; Fritson, Wadkins, Gerdes & Hof, 2007; Gruzelier, Egner & Vernon, 2006; Hanslmayer, Sauseng, Doppelmayr, Schabus & Klimesch, 2005; Hoedlmoser et al., 2008; Keizer, Verment & Hommel, 2010; Rasey, Lubar, McIntyre, Zoffuto & Abbott, 1996; Vernon et al., 2003; Zoefel, Huster & Herrmann, 2010). O uso do neurofeedback para melhorar o funcionamento cognitivo e para combater os efeitos do envelhecimento tem sido chamado de ''brain brightening'', ou clareamento cerebral (Budzynski, 1996). Ros, Munneke, Ruge, Gruzelier & Rothwell (2010) encontraram indícios de que o treinamento com neurofeedback em pessoas normais pode melhorar a neuroplasticidade. Epilepsia fora de controle O tratamento medicamentoso da epilepsia obteve sucesso no controle completo das crises em apenas dois terços dos pacientes (Iasemidis, 2003), e o uso a longo prazo de muitos medicamentos anticonvulsivantes pode apresentar riscos para a saúde. Quando o tratamento medicamentoso não é bem-sucedido, a neurocirurgia é muitas vezes recomendada, mas tem sucesso limitado (Witte, Iasemidis & Litt, 2003). Além disso, muitos dos pacientes com epilepsia são mulheres em idade fértil que desejam ter filhos, mas temem os efeitos dos medicamentos sobre o feto. Portanto, uma opção de tratamento alternativo ou complementar à medicação e à cirurgia seria desejável. A pesquisa mostrou que quando a medicação é insuficiente para controlar a ocorrência das crises, o neurofeedback pode oferecer uma modalidade adicional que pode ser incorporada no tratamento, com o potencial para contribuir no controle das convulsões, permitindo uma redução na dosagem de medicamentos e ajudando a evitar a neurocirurgia. A investigação nessa área começou no início de 1970 e é extensa e rigorosa, incluindo estudos cruzados cegos controlados com placebo (Revisados em Sterman, 2000, e na meta-análise por Tan et al., 2009). As amostragens utilizadas nos estudos feitos consistem normalmente dos pacientes mais graves, fora de controle, e resistentes ao tratamento com medicação. No entanto, mesmo nesse grupo de pacientes mais graves, a pesquisa constatou que o treinamento de neurofeedback produz, em média, uma redução de 70% das convulsões. Nesses casos severos de epilepsia intratável com medicamentos, o neurofeedback foi capaz de facilitar o controle das convulsões em 82% dos pacientes, reduzindo muitas vezes o nível de medicação necessária, o que pode ser muito positivo devido aos efeitos negativos a longo prazo da alguns medicamentos. Muitos pacientes, no entanto, ainda podem precisar de manter a medicação após neurofeedback, mesmo que reduzida. Mais recentemente Walker & Kozlowski (2005) realizaram um estudo com 10 casos consecutivos, e 90% não apresentaram crises após o neurofeedback, embora apenas 20% tenham sido capazes de cessar o uso da medicação. Em outro grupo de 25 pacientes com epilepsia fora de controle (Walker, 2008), 100% ficaram livre de crises após o neurofeedback guiado por QEEG, com 76% já não exigindo um anticonvulsivante para controle de crises durante o acompanhamento, que durou em média 5,1 anos. Walker (2010b) também realizou estudos com outros 20 pacientes com epilepsia intratável, 18 dos quais ficaram livres de crises após o treinamento de neurofeedback, ao passo que dois continuaram a relatar crises esporádicas. Dois dos 18 pacientes continuaram com 12 D. C. HAMMOND um único medicamento anticonvulsivante. O tempo médio de acompanhamento nesses casos foi de 4 anos. Nesse mesmo relatório, Walker relatou que nove mulheres que desejavam parar de tomar anticonvulsivantes engravidaram, e todos as nove mantiveram-se livre de crises por uma média de 6 anos. TCE e AVC Concussões e lesões na cabeça que causam problemas emocionais, cognitivos e comportamentais podem ocorrer como resultado de vários fatores,tais como acidentes de trânsito, guerra (Trudeau et al., 1998), e atividades esportivas (McCrea, Prichep, Powell, Chabor & Barr, 2010; McKee et al., 2009), incluindo futebol americano (Amen et al., 2011), futebol (Tysvaer, Stroll & Bachen, 1989) e boxe (Ross, Cole, Thompson & Kim, 1983). Foram publicados estudos dos resultados do tratamento com neurofeedback nos casos de lesões e fraturas na cabeça (Ayers, 1987, 1991, 1999; Bounias, Laibow, Bonaly & Stubbelbine, 2001; Bounais, Laibow, Stubbelbine, Sandground & Bonaly, 2002; Byers, 1995; Hammond, 2007a, 2007b, 2010c; Hoffman, Stockdale, Hicks & Schwaninger, 1995; Hoffman, Stockdale & Van Egren, 1996a, 1996b; Keller, 2001; Laibow, Stubbelbine, Sandground & Bounais, 2001; Schoenberger et al., 2001; Thornton, 2000; Tinius & Tinius, 2001), bem como com acidente vascular cerebral (Ayers, 1981, 1995a, 1995b, 1999; Bearden, Cassisi & Pineda, de 2003; Cannon, Sherlin & Lyle, de 2010; Doppelmayr, Nosko, Pecherstorfer & Fink, 2007; Putnam, 2001; Rozelle & Budzynski, 1995; Walker, 2007; Asa, 2001), mas mais pesquisas de alta qualidade ainda precisam ser realizadas. Um artigo (Hammond, 2007b) relatou um caso de TCE de gravidade moderada tratado com LENS, o que resultou na reversão completa de uma anosmia pós-traumática (perda total do olfato) que perdurou por 9 anos e meio, algo até então inédito, bem como a melhoria clínica significativa em sintomas pós-concussão. O relatório de uma pesquisa recente (Thornton & Carmody, 2008) sugere especialmente que o neurofeedback guiado por QEEG é superior às estratégias de reabilitação neurocognitivas e ao tratamento medicamentoso na reabilitação do TCE. Tradicionalmente, fisioterapeutas e médicos de reabilitação dizem àqueles que sofreram trauma craniano que, decorrido um ano e meio após o TCE, não é possível esperar melhoras adicionais, e que o paciente deve simplesmente se ajustar às suas deficiências. As pesquisas e a experiência clínica indicam muito claramente que o neurofeedback pode muitas vezes produzir melhoras significativas mesmo muitos anos depois de um ferimento na cabeça. Indícios crescentes indicam que o neurofeedback oferece um tratamento adicional valioso na reabilitação de lesões na cabeça e para atletas que sofreram concussões. Alcoolismo e Abuso de Drogas Estudos do EEG de alcoólatras (e filhos de alcoólatras) têm documentado que mesmo após períodos prolongados de abstinência, eles frequentemente têm baixos níveis de ondas alfa e teta no cérebro e um excesso de atividade de beta rápido. Isto sugere que os alcoólatras e seus filhos tendem a funcionar de forma diferente das outras pessoas, o que faz com que tenham dificuldade em relaxar. Após a ingestão de álcool, no entanto, os níveis de alfa e teta aumentam. Assim, indivíduos com uma predisposição biológica para desenvolver o alcoolismo (e seus filhos) são particularmente vulneráveis aos efeitos do álcool, porque, mesmo sem perceber, alcoólatras parecem estar tentando se automedicar, em um esforço para tratar sua própria patologia cerebral. O estado mental relaxante que ocorre após o uso de álcool reforça fortemente esse comportamento, devido a seu padrão de atividade cerebral 13 D. C. HAMMOND subjacente. Várias pesquisas agora mostram que a melhor forma de prever as recaídas é uma atividade excessiva de ondas beta, presente em ambos alcoólatras e viciados em cocaína (Bauer, 1993, 2001; Prichep, Alper, Kowalik, John et al., 1996; Prichep, Alper, Kowalik & Rosenthal, 1996; Winterer et al., 1998). Recentemente, o treinamento de neurofeedback para ensinar alcoólatras a conseguir a redução do stress e atingir estados de relaxamento profundo por meio do aumento de ondas alfa e teta e redução de ondas beta rápidas demonstrou um potencial promissor como adjuvante para o tratamento do alcoolismo. Peniston & Kulkosky (1989) usaram esse treinamento em um estudo com alcoólatras crônicos comparados com um grupo de controle de não alcoólatras e um grupo de controle de alcoólatras em tratamento tradicional. Alcoólatras que receberam 30 sessões de treinamento de neurofeedback demonstraram aumento significativo nos percentuais de frequências alfa e teta em seu EEG, e um aumento das amplitudes de alfa. O grupo de tratamento com neurofeedback também demonstrou acentuada redução na depressão quando comparado aos grupos de controle. Alcoólatras em tratamento tradicional mostraram uma elevação significativa nos níveis de beta-endorfina (um índice de estresse e um estimulante de ingestão calórica – como etanol, por exemplo), enquanto aqueles que tiveram o treinamento de neurofeedback adicionado ao seu tratamento não demonstraram este aumento dos níveis de beta-endorfina. Durante os 4 anos de acompanhamento (Peniston & Kulkosky, 1990), apenas 20% do grupo de alcoólatras tratado de forma tradicional permaneceu sóbrio, em comparação a 80% do grupo experimental que recebeu o treinamento de neurofeedback. Além disso, o grupo experimental apresentou uma melhora no ajuste psicológico em 13 escalas no Inventário Clínico Multiaxial de Millon, em comparação aos alcoólicos tratados tradicionalmente, que melhoraram em apenas duas escalas e pioraram em uma escala. No inventário de personalidade 16PF, o grupo de treinamento de neurofeedback demonstrou melhoria em sete escalas, comparado com apenas uma escala entre os membros do grupo de tratamento tradicional. Resultados positivos semelhantes, com 92% de sobriedade, em 21 meses de acompanhamento, foram relatados por Saxby & Peniston (1995) em 14 alcoólatras deprimidos, e resultados encorajadores foram relatados em um programa de acompanhamento de 3 anos de tratamento de nativos americanos (Kelley, 1997). Scott, Kaiser, Othmer & Sideroff (2005) realizaram um estudo randomizado controlado com 121 indivíduos submetidos a um programa de internação para abuso de drogas. Os pacientes receberam de 40 a 50 sessões de tratamento. Pessoas que tiveram o neurofeedback adicionado ao seu tratamento mantiveram-se em terapia por um período significativamente mais longo, um fator importante no tratamento de abuso de drogas. Em 1 ano de acompanhamento, 77% dos pacientes que receberam neurofeedback permaneceram sóbrios, contra apenas 44% dos pacientes de tratamento tradicional. Foram encontradas diferenças significativas no grau de atenção e em sete escalas no Inventário Multifásico da Personalidade de Minnesota-2, comparado a uma melhora em apenas uma escala naqueles que receberam o tratamento tradicional. Os relatórios gerados a partir de um programa de tratamento semelhante (Burkett, Cummins, Dickson & Skolnick, 2005), com 270 desabrigados viciados em crack, mostraram que a adição de neurofeedback ao tratamento mais do que triplicou o tempo de permanência no centro de recuperação. Em 1 ano de acompanhamento dos 94 pacientes que completaram o tratamento, 95,7% passaram a ter residência fixa,93,6% estavam empregados ou estudando, 88,3% não haviam sofrido novas detenções, e 53,2% ficaram livres de álcool e drogas por um ano, enquanto outros 23,4% haviam usado álcool ou drogas apenas de 1 a 3 vezes, como corroborado por exame de urina. 14 D. C. HAMMOND Arani, Rostami & Nostratabadi (2010) compararam os resultados de 30 sessões de neurofeedback fornecidas a dependentes de opiáceos submetidos a tratamento ambulatorial (manutenção com Metadona ou Buprenorfina), comparados com um grupo de controle que recebeu somente o tratamento ambulatorial. Os pacientes que receberam neurofeedback mostraram significativamente mais melhoras nas medições dos resultados (por exemplo, de hipocondria, obsessão, sensibilidade interpessoal, agressão, psicose, antecipação de resultados positivos, e desejo de usar drogas) e nos QEEGs. Pesquisas preliminares (Horrell et al., 2010) sugerem que o neurofeedback pode também ter potencial para reduzir a fissura pela droga em usuários de cocaína. A descoberta acima valida o imenso potencial de que o tratamento com neurofeedback tenha provavelmente o dobro senão o triplo das taxas de sucesso no tratamento do alcoolismo e do abuso de drogas quando adicionado como um complemento de um programa de tratamento abrangente (Sokhadze, Cannon & Trudeau, 2008). Ele pode ter verdadeiro potencial não só no tratamento da dependência, mas também na correção de alguns dos danos sérios ao cérebro que ocorrem através do abuso de drogas (por exemplo, Alper et ai., 1998; Prichep, Alper, Kowalik & Rosenthal, 1996; Struve, Straumanis & Patrick, 1994). Personalidade Antissocial e Justiça Criminal Quirk (1995) relatou a reincidência reduzida usando uma combinação de neurofeedback e biofeedback de resposta galvânica da pele. Smith & Sams (2005) mostraram melhorias na atenção e comportamento de um grupo de jovens infratores, e um estudo com sete jovens infratores do projetoBoys Totem Town (Martin & Johnson, 2005) mostrou melhoras em diversos aspectos. Mais recentemente, Surmeli & Ertem (2009) apresentaram uma série de casos de 13 pacientes que receberam de 80 a 100 sessões de tratamento com neurofeedback guiado por QEEG. Os resultados foram medidos com o Inventário Multifásico da Personalidade de Minnesota, um teste de atenção, os resultados do QEEG e entrevistas com membros da família. Doze dos 13 pacientes apresentaram melhora significativa, mantida durante 2 anos de acompanhamento. A ocorrência anormal de dificuldades de aprendizagem, TDA/H, ferimentos na cabeça, abuso infantil, alcoolismo e abuso de drogas dentre os infratores encarcerados (Wekerle & Wall, de 2002; Wilson & Cumming, 2009) e do alcoolismo e abuso de drogas nos casos de violência doméstica (Lin et al., 2009) sugere um potencial considerável para a utilização de neurofeedback, especialmente dadas as altas taxas de reincidência que atestam a limitada eficácia dos tratamentos tradicionais com psicoterapia e farmacologia. Essa será outra área promissora para pesquisas futuras. Transtorno de Estresse Pós-Traumático Em um estudo realizado por Peniston & Kulkosky (1991) com um grupo de veteranos de combate do Vietnã que sofriam de transtorno de estresse pós-traumático, foram adicionadas trinta sessões de 30 minutos de treinamento de neurofeedback de ondas alfa e teta ao tratamento tradicional oferecido pelo Hospital de Veteranos. Aos 30 meses pós-tratamento, esse grupo foi comparado a outro que recebeu apenas tratamento tradicional. No acompanhamento, todos os 14 pacientes que passaram somente pelo tratamento tradicional tiveram recaídas e foram hospitalizados novamente, enquanto apenas três dos 15 pacientes que tiveram treinamento de neurofeedback recaíram. Embora todos os 14 pacientes que estavam fazendo uso de medicação e receberam 15 D. C. HAMMOND tratamento com neurofeedback tenham apresentado uma redução nas suas necessidades de medicação durante o acompanhamento, dentre os pacientes que receberam só o tratamento tradicional, apenas um paciente apresentou redução na necessidade de medicação, dois não relataram nenhuma mudança, e 10 precisaram de um aumento nos medicamentos psiquiátricos. No Inventário Multifásico da Personalidade de Minnesota, pacientes que passaram pelo treinamento de neurofeedback melhoraram significativamente em todas as 10 escalas clínicas – drasticamente em muitas delas – ao passo que não houve melhora significativa em qualquer das escalas no grupo de tratamento tradicional. Um estudo (Huang-Storms, Bodenhamer-Davis, Davis & Dunn, 2006) também relatou melhoras positivas em 20 crianças adotadas com histórico de abuso e/ou negligência. Foram observadas melhoras na externalização e internalização de problemas, problemas sociais, comportamento agressivo e transgressor, ansiedade, depressão, problemas de raciocínio e problemas de atenção. O neurofeedback parece muito promissor no tratamento do transtorno de estresse pós-traumático, mas pesquisas que corroborem isso ainda são necessárias. Autismo e síndrome de Asperger Surgiu recentemente um conjunto bastante significativo de pesquisas sobre o uso do neurofeedback no tratamento do autismo e da síndrome de Asperger (Coben & Myers, 2010; Coben & Pudolsky, 2007a; Jarusiuwicz, 2002; Knezevic, Thompson & Thompson, 2010; Kouijzer, de Moor, Gerrits, Buitelaar & van Schie, 2009; Kouijzer, Demoor, Gerrits, Congedo & van Schie, 2009; Kouijzer, van Schie, de Moor, Gerrits & Buitelaar, 2010; Pineda et al., 2007; Pineda et al., 2008; Scolnick, 2005; Sichel, Fehmi & Goldstein, 1995). L. Thompson, Thompson & Reid (2010) elaboraram um relatório baseado em uma série de casos de 150 pacientes que apresentavam Síndrome de Asperger e nove pacientes com transtornos do espectro do autismo. Após receberem entre 40 a 60 sessões, geralmente com algum biofeedback periférico complementar, os pacientes apresentaram melhoras estatisticamente significativas nos índices de atenção, impulsividade, atenção auditiva e visual, leitura, ortografia, aritmética e nos resultados do EEG, além de um ganho médio de QI de 9 pontos. Alguns dos estudos citados acima foram feitos com grupo de controle. Um estudo controlado por placebo também foi realizado (Pineda et al., 2008), e há acompanhamentos de 6 meses (Kouijzer et al., 2010) e 1 ano (Kouijzer et al., 2009) documentando a manutenção de resultados positivos. Uma resenha do uso de neurofeedback com problemas do espectro do autismo, que inclui uma revisão de artigos não publicados apresentados em seminários científicos, foi publicada por Coben, Linden & Myers (2010). Em um estudo ainda não publicado citado por esses autores, após o uso do neurofeedback e do treinamento de HEG, Coben encontrou uma redução de 42% dos sintomas de autismo em geral, incluindo uma diminuição de 55% em déficits de interação social e melhorias nos déficits de comunicação e interação social de 55% e 52%, respectivamente. No geral, o neurofeedback temo respaldo das pesquisas como um tratamento benéfico para os problemas do espectro do autismo, com relatos de mudanças positivas na função cerebral, atenção, QI e impulsividade, bem como nas avaliações dos pais em relação a outros problemas de comportamento, tais como comunicação, comportamento estereotipado e repetitivo, interações sociais recíprocas e sociabilidade. Embora o neurofeedback certamente não seja uma cura para essas condições, parece geralmente produzir melhoras significativas nestas condições crônicas. Ansiedade e Depressão 16 D. C. HAMMOND Pesquisas preliminares encorajadoras foram publicadas relatando a eficácia do neurofeedback no tratamento da ansiedade em 10 estudos controlados (Hammond, 2005c; Moore, 2000). Dos oito estudos de ansiedade que foram revisados, sete mostraram alterações positivas. Outro estudo, (Passini, Watson, Dehnel, Herder & Watkins, 1977) usando apenas 10 horas de neurofeedback com alcoólatras ansiosos, encontrou melhorias muito significativas nos estados e traços de ansiedade, em comparação com o grupo de controle, com resultados que se mantiveram durante os 18 meses de acompanhamento. Um estudo randomizado controlado e cego, (Egner & Gruzelier, 2003) foi feito no Royal College of Music de Londres, avaliando a ansiedade da performance. Foi avaliada a eficácia do treinamento de neurofeedback de alfa e teta para melhorar o desempenho musical de músicos talentosos, enquanto se apresentavam sob condições estressantes nas quais seu desempenho estava sendo avaliado. Quando comparado com o grupo de tratamento alternativo (exercício físico, treinamento de habilidades mentais, treinamento da técnica de Alexander e outros dois protocolos de neurofeedback que se concentravam mais no reforço da concentração), apenas o grupo de neurofeedback alfa e teta apresentou melhora na performance musical sob estresse. Estudos randomizados controlados similares sobre a redução da ansiedade da performance foram realizados avaliando as apresentações musicais (Egner & Gruzelier, 2003), a dança de salão (Raymond, Sajid, Parkinson & Gruzelier, 2005), e o canto (Kleber, Gruzelier, Bensch & Birbaumer, 2008; Leach, Holmes, Hirst & Gruzelier, 2008). Em um estudo randomizado controlado com placebo, (Raymond, Varney, Parkinson & Gruzelier, 2005) o uso de neurofeedback com estudantes de medicina reforçou o humor, a confiança e a sensação de energia e calma. Também foi demonstrado que o neurofeedback tem o objetivo potencial de melhorar a depressão (Baehr, Rosenfeld & Baehr, 2001; Hammond, 2001a, 2005b; Hammond & Baehr, 2009). O grau em que foi possível normalizar a atividade do EEG dos pacientes deprimidos durante neurofeedback, foi correlato à melhora dos sintomas depressivos (Paquette, Beauregard & Beaulieu-Prevost, 2009). Um estudo cego controlado por placebo (Choi et al., 2011) demonstrou a superioridade do neurofeedback durante o tratamento com placebo na redução da depressão concomitante à melhora das funções executivas. No entanto, são necessárias mais pesquisas sobre o uso de neurofeedback para a depressão. Insônia Um estudo randomizado controlado (Hoedlmoser et al., 2008) mostrou que apenas 10 sessões de neurofeedback focadas no reforço do SMR produziram um aumento nos fusos de sono e uma redução da latência do sono. Como a consolidação da memória ocorre durante o sono, este estudo também relatou memória melhorada nos pacientes. Esse estudo apresentou resultados similares a alguns estudos anteriores (Berner, Schabus, Wienerroither & Klimesch, 2006; Sterman, Howe & MacDonald, 1970). Hammer et al. (2011) publicou um estudo randomizado controlado e duplo-cego documentando a eficácia de 20 sessões de treinamento de Z-score ao vivo no tratamento da insônia. O neurofeedback individualizado também apresentou efeitos duradouros em pacientes com insônia em estudos de grupo de controle realizados por Hauri (1981; Hauri, Percy, Hellekson, Hartmann & Russ, 1982). Um estudo randomizado com grupo de controle feito recentemente com pacientes com insônia primária (Cortoos, De Valck, Arns, Breteler & Cluydts, 2010), descobriu que uma média de 18 sessões de treinamento de neurofeedback feitas em casa pela Internet produziu uma melhora significativa no tempo necessário para adormecer e no tempo 17 D. C. HAMMOND de sono total, conforme medido em um laboratório do sono, quando comparado ao grupo de controle. Até mesmo três pacientes esquizofrênicos ou esquizoafetivos com perturbações no sono mostraram melhora na qualidade do sono, quando comparado ao grupo de controle (Cortoos et al., em processo de publicação). Dores de cabeça e enxaqueca Walker (2011) elaborou um estudo com 71 de casos de pacientes com enxaqueca recorrente que buscaram tratamento neurológico. Quarenta e seis dos pacientes consentiram ao tratamento de neurofeedback guiado por QEEG, enquanto 25 escolheram o tratamento medicamentoso. Frequências excessivas da faixa superior de beta estavam presentes em todos os casos. Após um ano de acompanhamento, 54% do grupo de neurofeedback apresentou cessação completa das enxaquecas, contra nenhum caso no grupo de tratamento com medicação. No grupo de neurofeedback, 39% mostraram uma redução de mais de 50% das enxaquecas (em comparação com 8% daqueles no tratamento medicamentoso), e uma redução inferior a 50% foi encontrada em 4% dos pacientes (comparado a 20% no tratamento com medicamentos). 68% do grupo de tratamento com medicação não relatou nenhuma mudança na frequência da dor de cabeça, enquanto apenas um paciente (2%) recebendo neurofeedback não relatou redução na frequência. Siniatchkin, Hierundar, Kropp, Gerber & Stephani (2000) encontraram uma redução significativa do número de dias por mês com enxaqueca em crianças tratadas com treinamento de potenciais corticais lentos, contra um grupo de controle na lista de espera. Carmen (2004) relatou uma melhora de mais de 90% em pessoas que sofrem de enxaqueca que completaram pelo menos seis sessões de treinamento de HEG. De acordo com Stokes & Lappin (2010), 70% dos pacientes que sofriam com enxaqueca apresentaram uma redução na frequência de 50%, no mínimo, durante mais de um ano de acompanhamento após uma combinação de 40 sessões de neurofeedback e treinamento de HEG. Tansey (1991a) publicou quatro relatos de casos. Embora seja encorajador, ainda são necessários mais estudos controlados. Treino para alta performance O neurofeedback também vem sendo utilizado no treinamento para máximo desempenho (Vernon, 2005). Para exemplificar, em um estudo randomizado cego e controlado (Egner & Gruzelier, 2003), o desempenho musical foi significativamente melhorado com o neurofeedback, e um estudo realizado de modo semelhante (Raymond, Sajid et al., 2005) documentou significativa melhoria do desempenho na dança de salão. Tais resultados também foram relatados em estudosfeitos avaliando o desempenho no golfe (Arns, Kleinnijenhuis, Fallahpour & Breteler, 2007) e no tiro com arco (Landers, 1991;. Landers et al, 1994), em estudos sobre a melhoria no tempo de reação rápida e habilidades visuo-espacial (que são relevantes para o desempenho atlético; Doppelmayr & Weber, 2011; Egner & Gruzelier, 2004), a melhoria do desempenho no canto (Kleber et al, 2008;. Leach et al., 2008), na atuação (Gruzelier, Inoue, Smart, Steed & Steffert, 2010), bem como em tarefas de monitoramento de radares (Beatty, Greenberg, Diebler & O'Hanlon, 1974). Um estudo fascinante (Ros et al., 2009), comparou um grupo de microcirurgiões oftalmológicos que receberam treinamento para aumentar as frequências de ondas cerebrais SMR ou alfa e teta, e um segundo grupo em uma lista de espera (sem tratamento). Em apenas oito sessões de treinamento de SMR, os médicos demonstraram melhorias significativas na habilidade cirúrgica, uma redução na ansiedade, e uma redução de 26% no tempo gasto para realizar as tarefas cirúrgicas. Pesquisas documentando melhoras no desempenho 18 D. C. HAMMOND cognitivo e na memória já foram abordadas anteriormente. O potencial de aplicações do neurofeedback como otimizador de desempenho será uma área muito frutífera para futuras pesquisas. Outras Aplicações Clínicas do Treinamento de Neurofeedback Foram também publicados relatórios preliminares sobre o uso de neurofeedback no tratamento da síndrome de fadiga crônica (Hammond, 2001b); síndrome de Tourette (Tansey, 1986); transtorno obsessivo compulsivo (Hammond, 2003, 2004; Surmeli, Ertem, Eralp & Kos, 2011); tremores de Parkinson (M. Thompson & Thompson, 2002); zumbido (Tinnitus) (Crocetti, Forti & Bo, 2011; Dohrmann, Elbert, Schlee & Weisz, de 2007; Gosepath, Nafe, Ziegler & Mann, 2001; Schenk, Lamm, Gundel & Ladwig, 2005; Weiler, Brill, Tachiki & Schneider, 2001); dor (Ibric & Dragomirescu, 2009; Jensen, Grierson, Tracy-Smith, Bacigalupi & Othmer, 2007; Sime, 2004); equilíbrio, problemas de deglutição, engasgos, e incontinência (Hammond, 2005a); crianças com histórico de abuso e negligência (Huang-Storms et al., 2006) ou transtorno de apego reativo (Fisher, 2009); paralisia cerebral (Ayers, 2004); síndrome das pernas inquietas ou movimentos periódicos das pernas (Hammond, em processo de publicação); sintomas físicos e emocionais associados ao diabetes mellitus tipo I (Monjezi & Lyle, 2006); tremor essencial; e para ''quimioneblina'' (Raffa & Tallarida, 2010; Schagen, Hamburger, Muller, Boogerd & van Dam, 2001), após tratamentos com quimioterapia ou radioterapia. Resultados mistos foram encontrados para o tratamento da fibromialgia com neurofeedback. Um ensaio sem grupo de controle (Mueller et al., 2001), com 30 pacientes com fibromialgia (usando uma versão inicial de LENS) encontrou melhorias significativas no humor, clareza e sono. C. C. S. Donaldson et al. (1998) utilizaram uma versão anterior do LENS (e uma pequena quantidade de biofeedback de EMG) e relataram melhoria significativa em 77% dos pacientes no acompanhamento a longo prazo, mas esse também consiste de uma série de casos sem grupo de controle. Por outro lado, esses resultados não foram confirmados por Kravitz, Esty, Katz & Fawcett (2006) em um estudo duplo-cego controlado por placebo, e Nelson et al. (2010) encontraram melhoras na dor, fadiga e na turvação cognitiva, além de um aumento da atividade, quando comparado ao grupo de controle com placebo, mas os efeitos não foram duradouros. No entanto, Kayiran, Dursan, Dursun, Ermutlu & Karamursel (2010) compararam 20 sessões de neurofeedback e um tratamento com Lexapro em um estudo randomizado cego com grupo de controle, e descobriram que ambos os tratamentos produziam melhorias significativas nos sintomas, mas os benefícios eram consideravelmente maiores no grupo de neurofeedback. A pesquisa mostrou que é possível que esquizofrênicos realizem o treinamento de neurofeedback (Guzelier, 2000; Gruzelier et al., 1999; Schneider et al., 1992) e a experiência clínica com esquizofrênicos crônicos (Bolea, 2010; Cortoos et al., em processo de publicação; M. Donaldson, Moran & Donaldson, 2010; Surmeli, Ertem, Eralp & Kos, em processo de publicação) prevê que essa possa ser uma intervenção de tratamento adicional com bastante potencial. MAIS PESQUISAS CONTROLADAS POR PLACEBO SÃO NECESSÁRIAS? Apesar do número considerável de pesquisas citado neste artigo, há muitas áreas em que ainda são necessárias mais pesquisas controladas dos resultados da aplicação de neurofeedback para vários problemas. Estudos controlados com placebo são muitas vezes considerados o mais alto nível de validação de uma informação científica. Pode-se supor que resultados positivos do neurofeedback sejam devidos a uma combinação de efeitos de 19 D. C. HAMMOND expectativa (placebo) e efeitos específicos do tratamento com neurofeedback (Hammond, 2011; Perreau-Linck, Lessard, Levesque & Beauregard, 2010), uma vez que o efeito placebo parece ser um ingrediente ativo em praticamente todas as modalidades terapêuticas. Sabemos, no entanto, que alguns progressos são muito específicos do neurofeedback, pois vários estudos controlados com placebo demonstraram significativa eficácia e efeitos específicos no treinamento de neurofeedback, que vão além das influências do placebo (Raymond, Varney, et al., 2005), tanto em casos de dificuldades de aprendizagem (Becerra et al, 2006;.. Fernandez et al, 2003), TDA/H (deBeus & Kaiser, 2011; deNiet, 2011), ansiedade (Raymond, Varney et ai., 2005), epilepsia (Lubar et al., 1981), latência do sono e aprendizado declarativo (Hoedlmoser et al., 2008), melhoria cognitiva em idosos (Angelakis et al., 2007), autismo (Pineda et al., 2008) e depressão (Choi et al., 2011), ainda que um estudo preliminar não tenha encontrado esses efeitos (Lansbergen, van Dongen-Boomsma, Buitelaar & Slaats-Willemse, 2010). Certamente, estudos com animais (por exemplo, Sterman, 1973; Larsen, Larsen et al., 2006) também sugerem que o neurofeedback tenha efeitos terapêuticos independentes dos efeitos do placebo. Não seria possível que gatos criassem expectativas positivas de se tornarem mais resistentes à convulsões simplesmente porque um pesquisador colocou eletrodos na cabeça desses felinos. Apesar de todos os estudos controlados com placebo sobre o neurofeedback existentes, alguns pesquisadores acadêmicos (por exemplo, Loo & Barkley, 2005), as companhias de seguros e os defensores do tratamento medicamentoso se queixam de que deve haver mais pesquisas controladas por placebo sobre o neurofeedback, apesar de especialistas em ética médica (Andrews, 2001; Lurie & Wolfe, 1997; Rothman, 1987), defensores do neurofeedback (La Vaque, 2001), e da Declaração de Helsinque (Associação Médica Mundial, 2000) manifestarem a opinião de que a exigência de estudos controlados com placebo quando já se conhece um