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Serviço de Restaurante e Bar Symonne de Albuquerque Medeiros 2014 Introdução à Gastronomia Presidenta da República Dilma Vana Rousseff Vice-presidente da República Michel Temer Ministro da Educação José Henrique Paim Fernandes Secretário de Educação Profissional e Tecnológica Aléssio Trindade de Barros Diretor de Integração das Redes Marcelo Machado Feres Coordenação Geral de Fortalecimento Carlos Artur de Carvalho Arêas Coordenador Rede e-Tec Brasil Cleanto César Gonçalves Governador do Estado de Pernambuco João Soares Lyra Neto Secretário de Educação e Esportes de Pernambuco José Ricardo Wanderley Dantas de Oliveira Secretário Executivo de Educação Profissional Paulo Fernando de Vasconcelos Dutra Gerente Geral de Educação Profissional Josefa Rita de Cássia Lima Serafim Coordenador de Educação a Distância George Bento Catunda Coordenação do Curso Annara Perboire Coordenação de Design Instrucional Diogo Galvão Revisão de Língua Portuguesa Letícia Garcia Diagramação Izabela Cavalcanti INTRODUÇÃO ............................................................................................................................ 3 1.COMPETÊNCIA 01 | ENTENDER AS TENDÊNCIAS CULINÁRIAS NO BRASIL E SUA APLICABILIDADE PRÁTICA NOS BARES E RESTAURANTES ........................................................ 5 1.1 O que é Gastronomia? ........................................................................................... 5 1.2 Gastronomia – Evolução ........................................................................................ 7 1.3 Os Grandes Chefs ................................................................................................... 8 1.4 O Guia Michelin .................................................................................................... 10 1.5 Tendências Culinárias no Brasil ............................................................................ 12 2.COMPETÊNCIA 02 | A GASTRONOMIA REGIONAL E SUA UTILIZAÇÃO PARA O ENRIQUECIMENTO CULTURAL ............................................................................................... 14 2.1 A Gastronomia Regional ....................................................................................... 14 2.2 A Gastronomia como Cultura ............................................................................... 19 2.3 A Gastronomia e o Turismo .................................................................................. 20 CONCLUSÃO ........................................................................................................................... 22 REFERÊNCIAS .......................................................................................................................... 23 MINICURRÍCULO DO PROFESSOR ........................................................................................... 26 Sumário 3 Introdução à Gastronomia INTRODUÇÃO Prezado (a) aluno (a), Sejam todos bem-vindos! É um prazer estar com vocês! Nesta disciplina, estudaremos sobre gastronomia. Afinal, você sabe o que essa palavra significa? Qualquer alimento, independente do cuidado com que é preparado, alimenta e nutre, portanto, cumpre uma função. Quando se prepara o alimento com arte, transforma-se o que era apenas alimento para o corpo em experiência estética, prazer e alimento para o espírito! Aí está a gastronomia! A forma, textura, sabor, aroma, cores, temperatura e outros pormenores do alimento compõem-se um conjunto harmonioso que oferece a quem o prova, além de alimentar-se, a experiência do belo e do sensorial. Por meio das mudanças sociais, o papel da alimentação se inverteu. Observamos hoje uma valorização dos alimentos, tanto na maneira de fazê- los como na forma de consumi-los. Também percebemos que todo país e região têm a sua culinária específica, com suas influências culturais e ingredientes típicos. No Brasil, de Norte a Sul, cada cultura dispõe de uma vasta combinação de insumos e hábitos alimentares. Neste caderno você terá a oportunidade de estudar e conhecer a importância da gastronomia e sua relação com restaurantes e bares. A disciplina tem como objetivo proporcionar ao estudante conhecimentos sobre gastronomia: definição, aplicação prática, tendências, regionalização e enriquecimento cultural. 4 Serviço de Restaurante e Bar Na primeira competência apresentaremos a gastronomia – conceito, evolução, os grandes chefs e entenderemos as tendências culinárias no Brasil e sua aplicabilidade prática nos bares e restaurantes. Na segunda competência, estudaremos sobre a gastronomia regional, ou seja, a cozinha do Norte, Nordeste, Centro-Oeste, Sudeste e Sul do Brasil, a relação da gastronomia com o turismo e sua utilização para o enriquecimento cultural. É isso que iremos estudar! Então, mãos à obra! 5 Introdução à Gastronomia 1.COMPETÊNCIA 01 | ENTENDER AS TENDÊNCIAS CULINÁRIAS NO BRASIL E SUA APLICABILIDADE PRÁTICA NOS BARES E RESTAURANTES 1.1 O que é Gastronomia? Figura 1 – Cinco Sentidos Fonte: www.cheftv.com.br Antes de chegarmos a este conceito, convém definirmos Alimentação, Cozinha e Culinária: Alimentação: Conjunto de ingredientes in natura ou industrializados que servem de fonte de nutrição para as pessoas. Está ligada à pecuária, agricultura, indústrias de alimentos, mercados e feiras. Cozinha / Culinária: Termos similares que designam o conjunto de utensílios, ingredientes, e pratos característicos de um país ou de uma região. Ambos os termos também dizem respeito à forma de preparar os alimentos, com práticas e técnicas específicas. Já a Gastronomia: É uma arte ou ciência que exige conhecimento e técnica de quem a executa e formação do paladar de quem a aprecia. Os cinco sentidos são solicitados em sua completude durante o consumo gastronômico. A gastronomia existe Competência 01 6 Serviço de Restaurante e Bar porque além da necessidade de se alimentar, o homem é um animal estético e, sobretudo, um ser social vivendo em comunidade. A Palavra “gastronomia” foi criada por Arquestratus no século IV a.C., pesquisador dos prazeres da mesa, originária dos termos gregos gaster (estômago) e nomo (lei), cuja tradução literal é “as leis do estômago”. O termo adquiriu um caráter mais abrangente no século XVIII, com Brillat- Savarin, um estudioso francês, amante da boa mesa. Brillat-Savarin, apelidado de “O Filósofo Gourmet” dizia que Gastronomia é estilo de vida, o resumo do mundo. É a diferença entre o prazer de comer e o prazer da mesa. Explicando melhor: Prazer de Comer: é a sensação atual e direta de uma necessidade que encontra satisfação; Prazer da Mesa: é a sensação refletida que nasce das várias circunstâncias, dos fatos, do local, das coisas e das pessoas que estão presentes à refeição. Quando comemos alguma coisa de que gostamos, temos prazer. Esse prazer de comer está relacionado à satisfação pessoal e à necessidade fisiológica. Já quando caprichamos na elaboração de um prato para alguém, no menu que será servido em uma festa, e até mesmo quando buscamos o restaurante de um chef renomado, a boa sensação que teremos ao comer não estaráapenas ligada ao paladar, à necessidade fisiológica. Essa sensação, esse prazer da mesa, terá uma forte relação com o fato de prepararmos algum prato ou de prepararem para a gente, e ainda estarmos reunidos com pessoas de quem gostamos que vão compartilhar a refeição. E como a gastronomia evoluiu? É o que veremos agora. Competência 01 7 Introdução à Gastronomia 1.2 Gastronomia – Evolução Figura 2 – Função social da refeição Fonte: http://lacucinagastronomica.blogspot.com.br A partir da descoberta do fogo, há mais de 500 mil anos – etapa essencial para o desenvolvimento da gastronomia – outras se seguiram, como a invenção de utensílios, o descobrimento de especiarias e novos ingredientes, o aprimoramento de técnicas. As cozinhas evoluíram e começaram a lidar com um novo olhar para a comida, recontando histórias através de pratos e criando momentos de interação social em torno de uma mesa. Comer é um ato que raramente se faz sozinho. A comida e a bebida são, em geral, atos sociais em que a família ou os amigos se reúnem ao redor da mesa em algum lugar. O ser humano vive em sociedade para garantir sua segurança e sobrevivência. Nos tempos remotos, superada a fase de alimentação pela coleta de frutos, a preparação e a partilha das carnes exigiam a reunião do grupo ou da família. Portanto, a gastronomia se desenvolveu também graças à função social das refeições, momentos de troca, de prazer e socialização e à comensalidade, que é a existência de vínculos e obrigações mútuas entre os que comem e bebem juntos. Competência 01 8 Serviço de Restaurante e Bar Percebemos então que a gastronomia foi se desenvolvendo ao longo dos anos, das relações sociais, passando por mudanças e inovações importantes e hoje está cada vez mais presente no cenário mundial. 1.3 Os Grandes Chefs Figura 3 – Chef de Cozinha Fonte: http://blogdochefmuran.files.wordpress.com O século XIX é considerado a idade de ouro da gastronomia, quando se firmam os grandes princípios que fizeram da França um modelo internacional. Aparecem novas regras e pessoas para o serviço. Chef de Cozinha é o profissional que, além da função de cozinheiro, reúne as seguintes obrigações: Compra de insumos; Organização da brigada da cozinha e das escalas de trabalho; Determinação e acompanhamento do serviço; Elaboração de cardápios e de festivais; Atendimento ao público. Essa função tem sido reconhecida desde a antiguidade, onde civilizações europeias, asiáticas e africanas valorizavam essa ocupação, considerando seus cozinheiros como imprescindíveis na vida da nobreza. Cada povo tinha suas regras e crenças, como no Egito, onde os Chefs de cozinha recebiam distinção Competência 01 9 Introdução à Gastronomia de ministros de Estado. O Chef de cozinha assume o caráter imaterial da produção da cozinha, como uma arte do tempo, produzindo modificações sobre uma matéria-prima bruta, in natura, não trabalhada, transformando a satisfação de uma necessidade fisiológica em uma experiência de consumo extraordinária. Somente anos de estudo, trabalho e experiência fariam de um cozinheiro um Chef. Alguns chefs foram fundamentais para a gastronomia por serem precursores ou por revolucionarem de alguma forma. Destacam-se mundialmente: Marie-Antoine Carême (1783-1833): é considerado o pai da alta cozinha, padronizou os molhos da cozinha francesa e lançou as bases para a profissionalização da gastronomia. A contribuição de Carême se dá, principalmente, na importância da organização da cozinha, introduzindo ordem e gosto aos pratos. Sua mesa era panejada e executada com detalhes, combinando cores, aromas e equilíbrio. Auguste Escoffier (1846-1935): é o mestre da cozinha moderna que se encarrega de simplificar e reestruturar a cozinha clássica para adaptá-la à clientela da época. Tem seu nome ligado à Hotelaria, em especial aos hotéis de César Ritz. Escoffier simplifica decorações, reduz menus, acelera o serviço e organiza as equipes de cozinha, dividindo tarefas de modo que o preparo da comida fosse mais especializado e eficiente. Paul Bocuse (1926-): Famoso pela alta qualidade de seus restaurantes e suas abordagens inovadoras para a cozinha. Ele é um dos chefs mais importantes associados a “Nouvelle Cuisine”. Considerado um embaixador da cozinha francesa moderna. Joel Robuchon (1945-): Denominado de chef do século XX na França, associa a necessidade de administração culinária ao desenvolvimento do Competência 01 10 Serviço de Restaurante e Bar domínio técnico e da estética. Ferrán Adriá (1962-): Espanhol, é considerado o chef de destaque da gastronomia do século XXI. Depois da Nova Cozinha Francesa, vem dele a maior revolução dos fogões: a “Gastronomia Molecular”, ousada por experimentar novas tecnologias e inesperadas texturas e sabores. No Brasil, atualmente, são destaques: Alex Atala Helena Rizzo Claude Troisgros Érick Jacquin Laurent Suaudeau Roberta Sudbrack, entre outros. E como saber qual restaurante e qual chef de cozinha estão em alta? Quem define o melhor? Para tanto, existem os Guias Gastronômicos. O mais famoso é o Guia Michelin, que veremos em seguida. 1.4 O Guia Michelin Figura 4 – Boneco e Guia Michelin Fonte: http://dicasturisticas.blogspot.com.br ATIVIDADE COMPLEMENTAR Pesquise sobre os chefs de cozinha ao lado! Você vai se surpreender com a história de vida e o caminho seguido por cada um deles... Competência 01 11 Introdução à Gastronomia É um guia turístico publicado pela primeira vez em 1900 por André Michelin, um industrial francês co-fundador da Compagnie Générale des Établissements Michelin, fabricante de pneus mais conhecida como Michelin. Está presente na maioria dos países europeus e em outros do mundo. O guia é publicado em duas cores sendo que cada uma delas tem uma aplicação diferenciada. O vermelho é o de referência para hotéis e restaurantes. Impresso com o máximo de segredo e com tiragem desconhecida, este guia é o mais respeitado do mundo e premia os melhores restaurantes classificando-os com estrelas (de 1 a 3) e que representam o sonho ou o pesadelo de qualquer chef. Ganhar uma estrela do guia significa a ascensão do restaurante e de seus chefs, ao passo que perder uma delas pode levar à falência ou a uma tragédia. A equipe de inspetores profissionais da Michelin visita constantemente os estabelecimentos - sem se identificar - para verificar a qualidade e a regularidade dos serviços prestados. Desde a sua criação, mais de 30 milhões de exemplares do guia vermelho já foram vendidos. Atualmente é publicado em 23 países ou cidades, a maioria na Europa. Em 2006, foi lançado nos Estados Unidos e circula hoje em quatro cidades americanas. O Japão foi o primeiro país fora do Ocidente a ter, no final de 2008, seu guia gastronômico Michelin. Já o Brasil terá de esperar para ter seu famoso guia vermelho. A diretoria de guias e mapas Michelin disse que ainda é cedo para o guia gastronômico chegar ao mercado brasileiro. O guia Michelin é tão importante no meio gastronômico que o chef Bernard Loiseau se suicidou em fevereirode 2003, com um tiro na cabeça aos 52 anos, desesperado com o rumor de que seu estabelecimento perderia a classificação de "três estrelas" no Guia Michelin. Competência 01 12 Serviço de Restaurante e Bar 1.5 Tendências Culinárias no Brasil Figura 5 – Mapa Gastronômico Brasileiro Fonte: http://brasilcultura.com.br Vocês já observaram como é rica a cultura gastronômica do nosso país? Possuímos uma diversidade cultural no que tange à gastronomia. Vocês percebem como são distintos os hábitos e os alimentos preferenciais de cada região, e até mesmo de cada estado do Brasil? A gastronomia dos lugares demonstra e reforça a diversidade cultural existente em nosso país. Os pratos típicos, preparados de acordo com antigas tradições, são transmitidos a cada geração. As comidas são muito variadas de estado para estado, justamente pela grande extensão territorial do País e sua colonização, o que dá uma variedade enorme de ingredientes e sabores. Esta diversidade está diretamente ligada à origem da população que habita cada estado. É uma obra de arte e de criatividade, uma gastronomia fruto da miscigenação da nação, onde se misturam cores, sabores, história e cultura. Teve influências africanas, europeias e indígenas. Os índios não eram requintados no preparo da comida. Usavam o fogo para assar a caça e a pesca e comiam muitos alimentos crus. O cozimento era raro e feito em panelas de barro. Os portugueses contribuíram com a introdução de novas matérias-primas, preparo elaborado e na difusão dos hábitos gastronômicos europeus. Competência 01 13 Introdução à Gastronomia Mais tarde, italianos, árabes, japoneses, alemães, espanhóis, judeus, poloneses e chineses trouxeram outros elementos e formas de preparo e vários passaram a fazer parte de nosso cardápio. Já os africanos originaram a cozinha afro-brasileira, com sede na Bahia. Em todos os estados, diversas iguarias são carregadas de história, de tradição, de segredos centenários, transmitidos entre gerações e famílias, tornando-se um extraordinário conjunto de sabores, refletindo a alma de todo um povo. A grande tendência no Brasil, assim como no mundo, é a “Gastronomia Contemporânea”, ou seja, uma cozinha que não se prende ou restringe a ingredientes ou técnicas de uma só cultura ou tradição culinária. Isso se deve à globalização, onde todo o mundo tem acesso a tudo que o outro faz e também com a chegada de grandes redes de produtos alimentícios levando o mesmo alimento pra todas as partes do mundo. O grande diferencial atualmente é a Cozinha Regional, pois mesmo com a globalização, a tendência é preservar o que lhe é peculiar. No Brasil não é diferente e por ter tamanho continental é um país que possui diversos tipos de culinárias espalhadas pelo país, o que vem permitindo aos chefs inovações, criações ousadas e combinações inusitadas. Outras tendências são: Valorização das comidas regionais – “cozinha de terroir” Comida de casa, que remete a infância ou alguma época específica, que lembra aconchego – “Comfort Food” Industrialização – “Fast Food” Sustentabilidade – “Gastronomia sustentável” ou “Ecogastronomia” Tecnologias e mudanças nos alimentos – “Gastronomia Molecular” Experiências de consumo – “Gastronomia da Experiência” Cozinha de fusão – “Fusion Cuisine” A valorização da nossa culinária é muito importante! Não podemos perder de vista a essência de nossa culinária, afinal de contas ela é representativa da história de um povo. Competência 01 14 Serviço de Restaurante e Bar 2.COMPETÊNCIA 02 | A GASTRONOMIA REGIONAL E SUA UTILIZAÇÃO PARA O ENRIQUECIMENTO CULTURAL 2.1 A Gastronomia Regional A culinária no Brasil tem influências principalmente dos africanos, indígenas e do branco europeu. Em cada região do país, houve maior interferência de um desses povos. De Portugal, veio a apreciação dos brasileiros por doces. Dos índios, a importância da mandioca, que faz parte da culinária típica de quase todos os estados. As escravas africanas também contribuíram muito, já que grande parte delas trabalhava na cozinha das fazendas. Considerando a amplitude do território do país, a culinária brasileira apresenta pratos ou comidas de todos os gêneros, espécies ou tipos praticados na arte culinária universal: crus, grelhados, guisados, cozidos, curtidos ao sol, aerados, avinhados, avinagrados, massas, saladas, apimentados, quentes, frios, embrulhados, picados, refogados, cozidos, recheados, temperados com alho e sal, condimentados, empanados, à milanesa, desidratados, feitos em banho-maria, rescaldados, caramelados, tostados, flambados, entre tantos outros. Nordeste Figura 6 – Carne de Sol Nordestina Fonte: http://seridopintadocompalavras.blogspot.com.br Competência 02 15 Introdução à Gastronomia A diversidade climática (tropical na costa e semiárido no interior) tem reflexos diretos na culinária nordestina. Desde o litoral de Pernambuco até o da Bahia, a presença africana se nota forte devidos aos resquícios da escravidão durante o ciclo da cana. Já em Alagoas, os frutos do mar são mais recorrentes devido às suas diversas lagoas costeiras. No Maranhão, a influência portuguesa é ainda mais forte que nos demais estados da região. No sertão nordestino, o próprio clima favorece o consumo de carnes, sobretudo a carne de sol e os pratos feitos com raízes. Uma grande característica da cozinha nordestina é ser, em boa parte, artesanal, “caseira”, com um suporte “reinol”. Todos os pratos famosos têm o seu Rei ou Rainha e até mesmo seu Imperador. Há o Reio do Camarão, da Carne de Sol, da Buchada, da Fava, da Macaxeira, da Tapioca, etc. E a culinária Pernambucana? Das cozinhas regionais do Brasil, a pernambucana é uma das mais antigas e estruturadoras das panelas nacionais. Diversas iguarias são carregadas de história, de tradição, de segredos centenários, transmitidos entre gerações e famílias. Teve forte influência de três culturas: portuguesa, indígena e africana. Pernambuco se difere de outros estados por ter mesclado essas influências de uma forma mais harmônica. A culinária pernambucana é diferente da culinária dos estados do Norte, onde há um predomínio da influência indígena, e também é diferente da cozinha da Bahia e seus arredores, onde há um predomínio da influência africana. Essa diferença tem uma explicação histórica: na Bahia as cozinhas eram entregues às africanas e elas comandavam aquele espaço, daí a questão do dendê e da pimenta até hoje predominar. Em Pernambuco eram as senhoras portuguesas que dominavam a cozinha nos engenhos, e as escravas africanas eram suas colaboradoras, o que possibilitou uma mistura maior de Competência 02 16 Serviço de Restaurante e Bar influências. Observando os índios, as portuguesas aprenderam e adaptaram seu modelo de cozinha às particularidades de uma região tropical. Norte Figura 7 – Tacacá Fonte: http://vidaeartenamesa.blogspot.com.br A forte presença indígena mesclada com a imigração europeia diferencia a gastronomia do Norte de qualquer outra encontrada no país. É considerada por muitos o maior exemplo de culinária tipicamente nacional. Amazonas e Pará são os estados que deram origem a alguns dos preparos maisexóticos, como o pato no tucupi (caldo extraído da mandioca) e o tacacá, caldo feito com o tucupi, goma de mandioca, camarão e jambu, erva que deixa a boca dormente, além da sempre presente mandioca. A cozinha também sofreu forte influência dos imigrantes portugueses logo no início da colonização. Depois, com o ciclo da borracha, outros povos chegaram e deixaram seus traços na culinária, como é o caso de libaneses, japoneses, italianos e até mesmo os próprios nordestinos que migraram para a região nesse mesmo período. O bolo de rolo, já famoso internacionalmente , é uma receita tipicamente pernambucana! Ele é tão importante para o nosso povo que foi tombado como Patrimônio Cultural Imaterial de Pernambuco. Competência 02 17 Introdução à Gastronomia Centro-Oeste Figura 8 – Arroz com Pequi Fonte: www.comida-tipica-goiana.ardois.com A culinária da região é altamente influenciada pela pecuária, uma das principais atividades econômicas do território, daí a grande preferência da população por carnes. Os ciclos de imigração também trouxeram a culinária africana, portuguesa, italiana e síria. Os pratos com peixes amazônicos são de hábitos indígenas e comuns no Mato Grosso, assim como no Mato Grosso do Sul. Neste último, percebe-se também contribuição dos migrantes do Sul do país, que levaram o churrasco (com mandioca), o arroz de carreteiro e o tereré - uma variação gelada do chimarrão bebido quente nos pampas gaúchos. Sudeste Figura 9 – Virado a Paulista Fonte: http://dicasgratisnanet.blogspot.com.br Competência 02 18 Serviço de Restaurante e Bar Até o século XIX, a cozinha do Sudeste era essencialmente influenciada pelas origens portuguesas, indígenas e africanas. Alimentos simples como raízes, carnes, grãos e vegetais foram disseminados por todo o território o que fez com que a gastronomia de cada estado se tornasse bastante similar em ingredientes e no preparo dos alimentos. A exceção é a culinária capixaba que, por sua proximidade com o Nordeste e grande área litorânea, tem uma forte presença de peixes e frutos do mar nos pratos do dia a dia. Após a chegada de imigrantes japoneses, libaneses, sírios, italianos e espanhóis, a diversidade gastronômica, sobretudo em São Paulo, aumentou. Sul Figura 10 – Churrasco Gaúcho Fonte: http://consuladogaucho.blogspot.com.br A mistura étnica ocorrida na região Sul resultou em uma culinária completamente diferente do resto do país, com a presença ainda mais forte da cozinha italiana, alemã, além das já presentes portuguesa e espanhola. O churrasco, principal prato do Rio Grande do Sul, resultou de um fato histórico. Com a chegada dos italianos, as massas, a polenta e o frango foram integrados ao hábito alimentar regional. Já a influência alemã, ficou restrita às colônias no interior do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina. Competência 02 19 Introdução à Gastronomia 2.2 A Gastronomia como Cultura Figura 11 – Bolo de Rolo Fonte: http://tastefood.wordpress.com O ato de se alimentar não é apenas biológico, mas é também social e cultural. Possui um significado simbólico para cada sociedade, e para cada cultura. É fator de diferenciação cultural, uma vez que a identidade é comunicada pelas pessoas também através do alimento, que reflete as preferências, as aversões, identificações e discriminações. Percebemos então que a gastronomia faz parte da identidade cultural de um povo, pois através das comidas típicas cada lugar ganha uma expressão própria. Normalmente essa culinária é o reflexo, é o rosto de quem mora no lugar. É identificadora de uma sociedade, de um grupo, de um país. Comunica sobre as pessoas, seus cotidianos, suas características e suas diferenças e promove intercâmbios culturais. O significado da comida ultrapassa o simples ato de se alimentar. São muitas as tradições que consideram a hora da refeição como quase sagrada, de silêncio, compostura e de severidade. Manda-se respeitar a mesa e, no interior do país, não se comia e, às vezes, ainda não se come trazendo armas, chapéu na cabeça ou então estando sem camisa. Comer junto é aliar-se: a palavra "companheiro" vem do latim "cum panis", de quem compartilha o pão. Competência 02 20 Serviço de Restaurante e Bar E como uma comida vira patrimônio? A Unesco- Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura- define como Patrimônio Cultural Imaterial as práticas, representações, expressões, conhecimentos e técnicas – junto com os instrumentos, objetos, artefatos e lugares culturais associados – que as comunidades, os grupos e, em alguns casos, os indivíduos, reconhecem como parte integrante de seu patrimônio cultural. E a comida? O tombamento como Patrimônio Cultural e Imaterial leva em consideração a tradição, a representação e a importância da iguaria para o povo, ou seja, a herança cultural que é transmitida de geração para geração, mas não pode ser tocada. Por isso, também é chamado de patrimônio intangível. No Brasil, a defesa desse patrimônio, quando é de interesse nacional, é atribuição da União, por meio do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). 2.3 A Gastronomia e o Turismo Figura 12 – Turismo e Gastronomia em Pernambuco Fonte: http://hotsites.pernambuco.com A Gastronomia, sendo uma das manifestações culturais mais expressivas é um grande polo de atração de fluxos turísticos e constitui um dos eixos do Competência 02 21 Introdução à Gastronomia turismo cultural, além de viabilizar e universalizar a troca humana e o convívio entre culturas, costumes e hábitos distintos. Quando bem trabalhada, pode ter capacidade de atração turística, porém, para que tal iniciativa torne-se realidade, é preciso transmitir aos turistas as origens e tradições alimentares e relacioná-las à história e costumes do lugar. Turistas e produtores das refeições devem ter contato, assim como os operadores turísticos, agentes de viagens, guias devem conhecer com profundidade a comida local. Também se deve motivar a valorização da comida tradicional por parte da população local. Atualmente, todas as regiões brasileiras desenvolvem programas que fazem a ligação do turismo com a culinária, numa visão ampla, gastronômica. Existe também um novo segmento que é o “Turismo Gastronômico” que é um turismo planejado, tendo como atrativo turístico a atividade gastronômica, usando produtos da “terra” como base para todas as atividades. Está diretamente ligado ao prazer e à sensação de saciedade adquirida através da comida e da viagem. Algumas regiões aproveitam-se da cultura, história e tradições e se divulgam por meio da gastronomia, lançando um produto turístico distinto que também é parte integrante do turismo cultural, como os roteiros gastronômicos. Competência 02 22 Serviço de Restaurante e Bar CONCLUSÃO Prezado (a) aluno (a), Chegamos ao final da nossa disciplina. Espero que você tenha gostado e aprendido sobre essa área tão importante, que requer pessoas habilidosas, informadas, preparadas e acima de tudo, de atitude. Observe o quanto a gastronomiafaz parte do nosso dia a dia e o quanto podemos e devemos valorizar a nossa região. O mercado de trabalho para o profissional desta área está bem aquecido! E grandes oportunidades surgirão com os grandes eventos previstos para acontecer no país, como as Olimpíadas no Rio de Janeiro. Mais profissionais serão necessários, logo, estude, pesquise, fique atento! Sucesso! Symonne Medeiros 23 Introdução à Gastronomia REFERÊNCIAS ALBERTIM, Bruno. Recife - guia prático, histórico e sentimental da cozinha de tradição (ou de como se dar bem no reino da peixada, do sarapatel e do caldinho). Recife: 2008 ARROZ COM PEQUI. Disponível em: www.comida-tipica-goiana.ardois.com. Acesso em 08 mar. 2013. ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DE PERNAMBUCO. Disponível em: www.alepe. pe. gov.br. Acesso em 08 mar. 2013. BOLO DE ROLO. Disponível em: http://tastefood.wordpress.com. Acesso em 08 mar. 2013. BONECO E GUIA MICHELIN. Disponível em: http://dicasturisticas.blogspot. com.br. Acesso em 08 mar. 2013. BRAUNE, R.; FRANCO, S. C. O que é gastronomia. São Paulo: Brasiliense (Coleção Primeiros Passos). 2007. CARNE DE SOL NORDESTINA. Disponível em: http:// seridopintadocompala vras.blogspot.com.br. Acesso em 08 mar. 2013. CAVALCANTI, Maria Lectícia. História dos Sabores Pernambucanos. Recife: 2008. CHEF DE COZINHA. Disponível em: http://blogdochefmuran.files.wordpress. com . Acesso em 08 mar. 2013. CHURRASCO GAUCHO. Disponível em: http:// consuladogaucho.blogspot.com. br. Acesso em 08 mar. 2013. 24 Serviço de Restaurante e Bar CINCO SENTIDOS. Disponível em: www.cheftv.com.br. Acesso em 08 mar. 2013. FUNÇÃO SOCIAL DA REFEIÇÃO. Disponível em: http:// lacucinagastronomica. blogspot.com.br. Acesso em 08 mar. 2013. FREIXA, D.; CHAVES, G. Gastronomia no Brasil e no mundo. Rio de Janeiro: Senac Nacional. 2008 GASTRONOMIA BRASILEIRA. Disponível em: www.brasil.gov.br. Acesso em 08 mar. 2013. GIMENES, Maria Henriqueta Sperandio Garcia. Patrimônio Gastronômico, Patrimônio Turístico: uma reflexão introdutória sobre a valorização das comidas tradicionais pelo IPHAN e a atividade turística no Brasil. Apresentado no IV SeminTUR (Seminário de Pesquisa em Turismo do MERCOSUL), cujo tema foi Turismo: Responsabilidade Social e Ambiental, no período de 7 e 8 de julho de 2006. LEAL, Maria Leonor de M.S. Historia da Gastronomia. São Paulo: Editora SENAC, 1999. LEAL, Wills. Conquistando o turista pela boca. João Pessoa: Idéia, 2006 LEAL, Wills e TRIGUEIRO, Carlos. Gastronomia como produto turístico: sabor Nordeste. João Pessoa: Idéia, 2006 LODY, Raul. Brasil Bom de Boca. São Paulo: Editora SENAC, 2008. MACIEL, Marcelo. Sabores Pernambucanos – a arte de fazer uma culinária da Terra. Revista Continente Turismo, Pernambuco. Edição Especial nº 03. Dez. 2005. 25 Introdução à Gastronomia MAPA GASTRONÔMICO BRASILEIRO. Disponível em: http://brasilcultura.com. br. Acesso em 08 mar. 2013. MONTANARI, Massimo. Comida como Cultura. São Paulo: Editora SENAC, 2008. SCHLÜTER, Regina G. Gastronomia e Turismo. São Paulo: Aleph, 2003 (Coleção ABC do Turismo). TACACÁ. Disponível em: http:// vidaeartenamesa.blogspot.com.br. Acesso em 08 mar. 2013. TURISMO E GASTRONOMIA EM PERNAMBUCO. Disponível em: http:// hotsites.pernambuco.com. Acesso em 08 mar. 2013. VIRADO A PAULISTA. Disponível em: http:// dicasgratisnanet.blogspot.com.br. Acesso em 08 mar. 2013. ZARVOS, Nick; DIDATI, Carlos Augusto Silva. Multissabores: a formação da Gastronomia brasileira. Rio de Janeiro: Editora SENAC, 2000. 26 Serviço de Restaurante e Bar MINICURRÍCULO DO PROFESSOR Symonne de Albuquerque Medeiros Especialista em Turismo e Gastronomia pela FAFIRE (Faculdade Frassinetti do Recife). Graduada em Turismo pela FACOTTUR (Faculdade de Comunicação, Tecnologia e Turismo de Olinda), com curso de Técnico em Turismo pela ETFPE. Professora Universitária e Técnica em atuação, das disciplinas de Planejamento e Organização de Eventos, Cultura e Alimentação, Introdução ao Estudo da Hotelaria, Gestão de Empresas Hoteleiras, Relações Públicas, Administração e Marketing Hoteleiro, Viagem Técnica em Turismo e Hotelaria, Hotelaria Hospitalar e Gestão da Qualidade. Professora Conteúdista e tutora do módulo de Governança (2011.2 e 2012.1), Organização de Eventos em Hotelaria (2012.2), Introdução à Gastronomia (2013.1), Hotelaria Hospitalar (2013.2) e Serviços de Banquete e Eventos (2014.1) do curso técnico EAD (Educação a Distância) da Secretaria de Educação de Pernambuco. Conhecimento técnico e operacional de Gerência de Eventos de Hotel e Flat, Departamento Comercial, Recepção e Reservas. Conhecimento na área de Planejamento, Marketing, Roteiros Turísticos, Animação Turística, Informações Turísticas. Experiência de 15 anos em Coordenação de Eventos na Hotelaria nas seguintes empresas: Golden Tulip Golden Beach, Parthenon Golden Beach, Park Hotel e Hotelaria Othon S/A.
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