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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS INSTITUTO DE FÍSICA LABORATÓRIO DE ENSINO Profª Maria Cristina Hellmeister Adaptado pelo Laboratório de Ensino Erros e Medidas Roteiro de Física Experimental 1 Roteiro 1 Maceió 2017 Sumário 1 Relatório ......................................................................................................................... 3 2 Objetivos do laboratório ................................................................................................. 4 3 Elementos da teoria de erros e medidas ...................................................................... 4 3.1 Introdução ................................................................................................................ 4 3.2 Erros e desvios ........................................................................................................ 5 3.3 Algarismos significativos .......................................................................................... 6 3.4 Medidas e incertezas ............................................................................................... 7 3.5 Propagação de incertezas ..................................................................................... 10 3.5.1 Incerteza devido à soma ou subtração .......................................................... 11 3.5.2 Incerteza devido a outras operações ............................................................. 12 3.6 Gráficos .................................................................................................................. 13 3.7 Avaliação de incertezas em gráficos ..................................................................... 15 3.7.1 Coeficiente angular: avaliação de sua incerteza ........................................... 15 3.8 Determinação da dependência funcional a partir dos dados experimentais........ 17 3.8.1 Relações lineares ........................................................................................... 18 3.8.2 Relações não lineares .................................................................................... 19 3.9 Escala regular e escala logarítmica ...................................................................... 21 3.9.1 Escala regular ................................................................................................. 21 3.9.2 Escala logarítmica .......................................................................................... 21 3.9.2.1 Algumas características .......................................................................... 21 3.9.2.2 Gráfico retilíneo no papel log-log ............................................................ 22 3.9.3 Papel mono-log............................................................................................... 23 1 Relatório O que é? - A descrição de um trabalho realizado. Para que serve? - Registrar e/ou divulgar um trabalho realizado. É interessante notar que o relato de um trabalho científico, de um projeto de engenharia, ou simplesmente de um experimento de laboratório de disciplina de graduação pode ser dividido nas seguintes partes: Título; Objetivos; Material utilizado; Fundamentação; Procedimento; Resultados e discussão; Conclusão. Título: Todas as coisas têm nome para serem identificadas, existe a necessidade de identificação do seu trabalho. Objetivo: Deve mostrar a finalidade do seu experimento. Material Disponível: A descrição do material com as suas características principais. É útil no julgamento de decisão do método utilizado para chegar ao objetivo de seu trabalho. Fundamentação: Uma descrição fenomenológica dos conceitos envolvidos no experimento com suas principais relações. É útil para a compreensão dos procedimentos adotados para chegar ao objetivo de seu trabalho. Procedimento: Descreve-se aqui como e porque foram feitas as medidas. Uma das razões desta descrição é melhor avaliar a precisão dos resultados do seu trabalho. Resultados e discussão: Nesta parte devem ser apresentados os resultados das suas medidas (tabelas, gráficos, cálculos, etc.), assim como uma breve discussão dos mesmos. Conclusão: É nesta parte que se deve apresentar uma discussão sobre seus resultados, os métodos de medida utilizados, tendo em vista o objetivo do seu trabalho. 2 Objetivos do laboratório Este curso foi preparado com intuito de orientar os alunos a adquirirem conhecimentos sobre física experimental, visando especificamente: a compreensão dos conceitos fundamentais, a medição das grandezas relacionadas com esses conceitos, interpretação e representação correta dessas medidas. O texto dessa apostila está dividido em duas partes. Na primeira, o aluno terá conhecimento sobre algarismos significativos, medidas, erros, desvios, incertezas como também o tratamento adequado para representar corretamente os resultados dos experimentos, quer seja uma única medida ou de um conjunto de medidas. A segunda parte visa familiarizar o aluno na construção de gráficos, linearização de curvas e a determinação da dependência funcional entre as grandezas medidas a partir do conhecimento dos dados experimentais. Pretendemos aqui dar ao aluno alguns conceitos e procedimentos básicos para que ele possa expressar corretamente as medidas e resultados de suas experiências, assim como discuti-los com um mínimo de correção e rigor tanto do ponto de vista numérico como conceitual. 3 Elementos da teoria de erros e medidas 3.1 Introdução Toda operação de medida exige do experimentador habilidade no manuseio de instrumentos de medida e a capacidade de efetuar corretamente a leitura destes instrumentos. Não basta, por exemplo, determinar o comprimento de uma barra através de uma régua; é preciso saber expressar corretamente essa medida e avaliar adequadamente a sua incerteza, que vem das características dos aparelhos usados na sua determinação e mesmo do próprio experimentador. Assim a experiência mostra que sendo uma medida repetida várias vezes com as mesmas precauções pelo mesmo observador ou observadores diferentes, os resultados achados não são, em geral, idênticos. Muitas vezes efetuam-se diversas medidas de uma mesma grandeza; neste caso a melhor maneira de expressar o valor desta grandeza será através do valor médio dos dados. A incerteza destas grandezas será obtida por um tratamento estatístico elementar. Há grandezas ainda que nem sempre podem ser obtidas diretamente, como áreas, volume, densidade, etc. Assim são feitas várias medidas e através de fórmulas matemáticas ou físicas, determina-se a grandeza desejada. É claro que, em geral, cada termo da fórmula está afetado de uma incerteza e que todas elas interferirão no valor final da grandeza. Observamos que as incertezas se propagam e o processo de cálculo para determiná-las denomina-se propagação de incertezas. 3.2 Erros e desvios Quando um experimentador determina o valor de uma grandeza, três situações são possíveis: 1. O valor da grandeza já é conhecido com exatidão – Ex. A soma dos ângulos internos de um triângulo. 2. O valor da grandeza não é conhecido exatamente, mas há um valor adotado como “melhor” – Ex. A aceleração da gravidade num determinado local. 3. O valor da grandeza não é conhecido – Ex. O comprimento de uma barra, o volume de uma esfera, etc. Quando o valor obtido para uma grandeza difere do seu valor real (verdadeiro) (item 1), dizemos estar afetado de um erro. Matematicamente:ERRO = │VALOR MÉDIO - VALOR REAL│ (Valor em módulo) Quando o valor obtido difere do valor adotado como o melhor (item 2), dizemos estar afetado de um desvio. Então: DESVIO = │VALOR MÉDIO - VALOR REAL│ (Valor em módulo) Embora conceitualmente haja diferença entre erro e desvio, matematicamente são equivalentes. A partir deles define-se desvio (ou erro) relativo e percentual, sendo que este último permite avaliar melhor o resultado de uma experiência. Re Desvio Desvio lativo Valor Adotado Re 100 %Desvio Percentual Desvio lativo Exemplo: Ao determinar a aceleração da gravidade, onde g é 9,80 m/s2 um experimentador obteve 10,04 m/s2. Determine: DESVIO = __________________ DESVIO RELATIVO = __________________ DESVIO PERCENTUAL = ___________________ Para avaliação dos resultados, qual deles nos dá uma informação mais objetiva? 3.3 Algarismos significativos Seja AB o comprimento de uma barra medida em uma régua centimétrica. Se três experimentadores fossem anotar o comprimento AB, por exemplo: AB = 12,8 cm (exp. 1) AB = 12,7 cm (exp. 2) AB = 12,6 cm (exp. 3) Algum desses valores estaria errado? Se um quarto experimentador avaliasse 12,75 cm, em que sentido se poderia atribuir esse resultado? Medindo-se com régua centimétrica tem sentido avaliar décimos, mas é discutível ou mesmo inaceitável avaliar centésimos ou frações menores. Em medições, é costume fazer estimativas com aproximações até décimos da menor divisão da escala do instrumento. Estimar centésimos ou milésimos da menor divisão da escala está fora dos limites de percepção da maioria dos seres humanos. Na medida do segmento AB, observamos que existe uma divergência entre os três observadores na avaliação da fração da menor divisão da escala do instrumento (nos algarismos ou dígitos 8, 7 e 6), na qual reside a dúvida ou incerteza da medida, enquanto que, os dígitos 1 e 2 que constituem o número 12 são isentos de dúvidas. Algarismos duvidosos (sempre o último à direita): AB = 12,8 cm AB = 12,6 cm AB = 12,7 cm OS ALGARISMOS CORRETOS (NÃO DUVIDOSOS) E TAMBÉM O ALGARISMO DUVIDOSO (UM SÓ), CONSTITUEM OS ALGARISMOS SIGNIFICATIVOS DE UMA MEDIDA. EXERCÍCIO 1: Quantos são os algarismos significativos das seguintes medidas? a) 12,6 cm b) 9 cm c) 2 cm d) 12,6×10-5 m e) 1,2×103 m OS DÍGITOS DE UM NÚMERO CONTAM-SE DA ESQUERDA PARA A DIREITA, A PARTIR DO PRIMEIRO NÃO NULO, SÃO SIGNIFICATIVOS TODOS OS CORRETOS, TAMBÉM O PRIMEIRO ALGARISMO DUVIDOSO E MAIS NENHUM. 3.4 Medidas e incertezas Para estudar um fenômeno físico é preciso adotar um procedimento que se possa repetir e variar tantas quantas forem necessárias, até que se tenha reunido certa quantidade de dados experimentais. Esses dados são obtidos através do processo de medidas. A importância desses processos e muitas vezes sua complexidade tornam o ato de medir uma tarefa fundamental e frequentemente nada simples. Nenhuma medida pode ser considerada absolutamente precisa. Por exemplo, o valor atualmente aceito para a velocidade da luz propagando-se no vácuo é: c = (2,99792458 ± 0,00000004) x 108 m/s Isto significa que, apesar das sofisticadas técnicas empregadas e do esforço de muitos cientistas, ainda persiste uma incerteza de medida de 4x 10-8 m/s na velocidade da luz. Na obtenção de uma medida podem ocorrer dois tipos de erros: o aleatório e o sistemático. Este último deve ser evitado de todas as formas; um instrumento mal calibrado ou com defeito, um experimentador que repete erro na operação, de interpretação ou de leitura ou de fatores externos ao laboratório, como fenômenos climáticos, são fontes de erros sistemáticos que devem ser controlados pelo experimentador. O erro aleatório decorre de flutuações dos resultados das medidas em torno de um valor médio, essas flutuações acarretam uma imprecisão para mais ou para menos nesse valor. Qual é, então, o valor de uma grandeza que se quer medir? Nem sempre a resposta é simples e em parte a solução deste problema está num estudo mais profundo da teoria de erros. Apesar de caber nesta disciplina a análise mais geral deste problema, podemos convencionar critérios para obter um valor confiável da grandeza a ser medida. Para escrever o resultado final da medição de uma grandeza, adotaremos a forma: (valor mais provável ± incerteza) x 10N unidades de grandeza “A incerteza estimada será escrita com no máximo um algarismo significativo” Se o experimentador realizar apenas uma medida da grandeza, o valor mais provável desta será a própria medida. A incerteza estimada dependerá da forma como foi construído o instrumento de medidas. Se o instrumento não permitir avaliar o algarismo duvidoso, a incerteza estimada será a menor divisão na escala do instrumento. Exemplo. Um estudante fez um experimento d e m e d i d a d e t e m p o u s a n d o um cronômetro eletrônico. A figura abaixo mostra o valor no cronômetro. 7 9 6 ms A medida é expressa como (796 ± 1) ms ou (796 ± 1) x 10-3 s Se for possível avaliar o algarismo duvidoso, a incerteza estimada será adotada como a metade da menor divisão da escala do instrumento. Exemplo: Um estudante mede o comprimento de um pêndulo simples, em relação ao centro de massa, como o indicado abaixo. A medida é expressa como: (774,3 ± 1) mm ou (77,43 ± 0,05) cm Se o experimentador tiver um conjunto de medidas, o valor mais provável da grandeza será a média aritmética�̅�das medidas. 1 n i G G n e a incerteza estimada poderá ser obtida, de uma maneira mais apurada, através da média aritmética 〈G〉 dos desvios absolutos: 1 1 1 1n n i i i i G G G G n n EXERCÍCIO 2: Determinar a força eletromotriz de uma pilha elétrica e a sua incerteza (ver tabela 01 abaixo). Ordem das medidas ME V ME E 1 1,55 0,000667 2 1,56 0,009333 3 1,57 0,019333 4 1,54 0,010667 5 1,55 0,000667 6 1,56 0,009333 7 1,53 0,020667 8 1,54 0,010667 9 1,55 0,000667 10 1,54 0,010667 11 1,55 0,000667 12 1,57 0,019333 13 1,56 0,009333 14 1,55 0,000667 15 1,54 0,010667 E 1,550667 0,008889 Tabela 1 3.5 Propagação de incertezas Nem sempre é possível determinar certas medições diretamente; para determinar a densidade de um objeto, por exemplo, é preciso medir a sua massa e o seu volume, que por sua vez é determinado pela medida de suas dimensões. Todas estas medidas estarão afetadas de incertezas que na, determinação da densidade, se propagarão e darão origem a uma incerteza na densidade. Inicialmente vamos uniformizar a nossa linguagem; em vez de erros, desvios e incertezas, utilizaremos apenas incertezas, que nos parece mais abrangente. Quanto à representação matemática, para grandezas tais como X, Y, T, V, etc. representaremos suas incertezas por ΔX, ΔY, ΔT, ΔV, etc. e consequentemente suas incertezas relativas por: ΔX/X, ΔY/Y, ΔT/T, ΔV/V, etc. 3.5.1 Incerteza devido à soma ou subtração Suponha que vamos determinar a grandeza, S A B C para qual a foram feitas as seguintes medidas: ; ; ; A A B B C C Como determinar S? Para simplificar, adotaremos o critério mais desfavorável, isto é, vamos supor que todas as incertezas tenham o mesmo sinal, então obteremos: ΔS = ΔA + ΔB + ΔC +… Exemplo: Na determinação do perímetro de um quadrilátero mediram-se seus lados a, b, c e d com instrumentos diferentes: a = (2,03 ± 0,02) cm; b = (4,1 ± 0,2) cm; c = (0,842 ± 0,001) cm e d = (1,26 ± 0,03) cm o perímetro será: p a b c d então, 𝑝 = 2,03 + 4,1 + 0,842 + 1,26 = 8,232𝑐𝑚 a incertezaserá: p a b c d portanto, Δ𝑝 = 0,02 + 0,2 + 0,001 + 0,03 = 0,251𝑐𝑚 O resultado de perímetro será expresso como: 8,232 0,251p cm 0 38,2 ,p cm Observe que em nossos cálculos, propositalmente, colocamos grandezas com números de algarismos significativos diferentes. Como a incerteza será representada por um e somente um algarismo significativo, que atua no duvidoso, é ela quem comandará o número de algarismos significativos no resultado final. Isto é, os algarismos após o primeiro duvidoso são descartados (contando da esquerda para direita). 3.5.2 Incerteza devido a outras operações Para Calcular a incerteza numa expressão envolvendo multiplicações, divisões, potenciação e/ou radiciação como em p q rY K a b c Usaremos a seguinte expressão, Δ𝑌 𝑌 = |𝑝| Δ𝑎 𝑎 + |𝑞| Δ𝑏 𝑏 + |𝑟| Δ𝑐 𝑐 Para verificar o resultado acima, lembre que o diferencial de uma função , ,Y Y a b c é dado por: Y Y Y dY da db dc a b c que após dividirmos ambos os lados por Y e tomarmos os módulos, da origem a expressão para a incerteza estimada. Exemplo: Na determinação do volume de um cilindro foram feitas as seguintes medidas: 2,02 0,03r cm , 8,432 0,005h cm Sabemos que 2V r h , então: V = 3,14 (2,02)2 (8,432) = 108,0346 cm3 De acordo com a primeira expressão, já que 0 por ser constante, temos: 0,03 0,005 2 1 0,0303 2,02 8,432 V V = 3,2734𝑐𝑚3 Teremos então, 30,0303 108,0346 0,0303 3,2734 V V cm 𝑉 = (108 ± 3)𝑐𝑚3 EXERCÍCIO 3: Num tubo capilar de raio r, um líquido de densidade ρ e tensão superficial Y, devido à capilaridade, ergue-se de uma altura h, tal que,𝑌 = (𝑟 × ℎ × 𝜌 × 𝑔)2, onde g é a aceleração da gravidade. Dados obtidos: 2 0,030 0,001 5,000 0,005 9,81 r cm h cm g m s adotado como exato Determine a tensão superficial. 3.6 Gráficos Nas atividades experimentais, muitas vezes, objetiva-se estudar a maneira de como uma propriedade ou quantidade depende ou varia com relação à outra propriedade ou quantidade. Por exemplo: “De que modo a variação do comprimento de um pêndulo simples afeta o seu período ou como se comporta a força de atrito entre duas superfícies relativamente à força normal exercida por uma superfície sobre a outra?” Tais variáveis podem s e r convenientemente tratadas pelo método gráfico no sentido de ilustrar e sintetizar suas relações. As leis físicas expressam relações entre quantidades de grandezas físicas. Estas relações podem ser expressas de três modos: a) Em palavras, formando as sentenças conceituais; b) Em símbolos matemáticos em forma de equações; c) Em representações pictóricas conhecidas como gráficos. A escolha do meio (ou meios) para expressar as relações entre grandezas depende do uso que se pretende fazer destas relações. Particularmente, analisaremos a terceira representação. Para representar graficamente a relação entre duas variáveis deve-se observar os seguintes pontos: a) No eixo horizontal (abscissa) é lançada a variável independente; no eixo vertical (ordenada) é lançada a variável dependente. Evite tomar margens do papel como eixos. b) Em geral a curva deve cobrir pelo menos três quartos do papel. Em muitos casos não é necessário ou possível que a interseção dos eixos represente simultaneamente o valor zero. c) Escolha as escalas de forma que as divisões principais possam ser facilmente subdivididas. A escala do eixo vertical não necessita ser a mesma do eixo horizontal. d) Se os valores forem excessivamente grandes ou pequenos utilizar um artifício que permita usar um ou dois dígitos para indicar os valores das divisões principais. Pode-se usar um fator multiplicativo como 10-2, 10-3, etc., à direita da escala. e) Escreva em cada eixo o título, ou seja, o nome da grandeza e sua unidade, separados por vírgula ou parênteses. f) Localizar o ponto e não escreva no eixo o valor relativo ao ponto localizado, se estiver fora da divisão adotada na escala. g) A representação gráfica de uma grandeza é feita por uma barra de incerteza que é um pequeno segmento de reta que abrange o intervalo no qual o valor verdadeiro deve estar contido. Se houver incerteza nos dois eixos a grandeza será representada por uma cruz cujos braços serão as barras de incertezas, como mostra a figura. h) O traçado da curva deve ser suave e contínuo, adaptando-se da melhor forma aos dados experimentais a menos que não se trate de uma função contínua. Unir pontos experimentais com traços retos implica em que a relação entre duas grandezas tenha forma quebrada o que, exceto circunstâncias especiais, é pouco provável ocorrer. i) Se for preciso desenhar várias curvas na mesma folha, faça a distinção das curvas por símbolos diferentes (círculos, quadrados, triângulos, etc.), ou utilize cores diferentes ou ainda linhas deferentes (pontilhadas, interrompidas, etc.). 3.7 Avaliação de incertezas em gráficos A representação gráfica, como vimos, tem a sua importância, no sentido de ilustrar e sintetizar as relações entre as variáveis de grandezas representativas de um fenômeno. Estas variáveis a serem plotadas em papel gráfico, podem originar-se de: a) Medições diretas através de instrumentos de medição. b) Derivadas de medições diretas, mediante operações matemáticas. De qualquer forma, as variáveis vêm afetadas de incertezas (precisão experimental, desvios provenientes de propagação, etc.). Essas incertezas podem ser representadas, graficamente, por uma barra de incerteza, que é um segmento de reta que abrange o intervalo no qual o valor verdadeiro está contido. Os dados emersos de um gráfico virão, portanto, afetados de incertezas. Como avaliá- los? Concentraremos no caso específico de um gráfico linear cujo coeficiente angular tem significado físico, e muitas vezes representa a quantidade procurada em ensaios experimentais. Para uma melhor avaliação, o experimentador deve tomar alguns cuidados iniciais, ou seja: Ter certeza que a curva traçada representa mais de ¾ do papel gráfico, para uma melhor visualização do comprimento das barras de incerteza. Desprezar pontos que fogem consideravelmente da tendência geral, derivados de erros grosseiros. 3.7.1 Coeficiente angular: avaliação de sua incerteza a) Traçar duas retas paralelas que contenham a maioria das barras de incertezas, formando uma figura retangular. b) Traçar duas retas que corresponderão às diagonais da figura retangular, nos pontos ABCD. c) Determinar seus coeficientes angulares. A média aritmética entre esses dois coeficientes angulares dará a reta média e a metade do intervalo entre esses coeficientes dará a incerteza angular. Exemplificando: Vamos supor que o gráfico construído a abixo foi para determinar o coeficiente angular K de uma reta. Da figura, temos que: Reta BC = Kmax Reta AD = Kmin O coeficiente angular da reta média será: e a sua incerteza Δ𝐾 = |𝐾𝑚𝑎𝑥 − 𝐾𝑚𝑖𝑛| 2 logo: 𝐾 = (𝐾 ± Δ𝐾)𝑢𝑛𝑖𝑑. 𝑎𝑟𝑏𝑡. Pela dificuldade que se tem para traçar a reta média achamos sempre preferível a determinação do coeficiente angular pela média dos coeficientes máximo e mínimo, como no exemplo acima. É interessante observar que muitas vezes as barras de incerteza são tão pequenas que, no gráfico reduzem-se no próprio ponto, mesmo assim este processo para determinação do coeficiente angularpode ser aplicado. EXERCÍCIO 4: Determine a constante elástica de uma mola ideal, bem como a sua incerteza. Precisão do instrumento de medida (dinamômetro) igual a 0,5N. F N 4,1 7,9 12,2 15,8 20,1 23,7 30,9 32,4 X cm 5 10 15 20 25 30 35 40 3.8 Determinação da dependência funcional a partir dos dados experimentais Feita a representação gráfica de duas grandezas, a análise do gráfico pode conduzir a uma relação matemática, embora isso nem sempre seja possível. Se o gráfico mostrar que tal relação existe, deve-se continuar a análise à procura do tipo de relação, ou seja, da forma que define a curva encontrada. Uma norma do método analítico é que apenas duas grandezas podem ser relacionadas de uma só vez. Tanto o experimento como os dados devem ser ordenadas de modo a manter todas as variáveis constantes, exceto duas, estudando-se então a maneira como uma destas variáveis afeta a outra. A equação que descreve uma curva desconhecida, nem sempre pode ser definida com exatidão. Relações do tipo1 𝑥⁄ e1 √𝑥⁄ facilmente podem ser confundidas num gráfico. Esta dificuldade desaparece quando se obtém uma linha reta. A linha reta é, portanto, a chave da análise gráfica. Ela pode ser identificada com segurança. O problema então é como lançar dados experimentais no gráfico para obter uma linha reta. Embora não exista um método geral, normalmente é preciso fazer algumas tentativas antes de obter-se uma solução. Falaremos aqui apenas do método gráfico, o mais facilmente aproveitável no laboratório no caso de duas grandezas X e Y, relacionadas por uma dependência funcional simples. 3.8.1 Relações lineares Y aX b (equação de uma reta) A equação acima mostra a dependência linear entre duas grandezas X e Y. Para X = 0 o valor de Y intercepta o eixo y, definido a constante b. O quociente Δ𝑌 Δ𝑋 define a constante a (inclinação da reta) e suas unidades são dadas pelo quociente das unidades de X e Y. Seja (X1, Y1), (X2, Y2) dois pontos quaisquer da reta, de modo que; 𝑎 = 𝑦2 − 𝑦1 𝑥2 − 𝑥1 e 𝑌1 = 𝑎𝑋1 + 𝑏 Quando a reta traçada está sobre uma sucessão de pontos, deve-se escolher o traçado de modo a deixar alguns pontos acima e outros abaixo. Convêm, entretanto, tomar o cuidado de não converter a reta em alguma curva suave. O exemplo a seguir mostra como, a partir de gráficos construídos com dados experimentais, pode-se obter um a relação matemática entre as variáveis envolvidas no experimento. A figura abaixo representa o gráfico plotado da velocidade em função do tempo. A reta mostra a relação linear entre velocidade e tempo. A equação correspondente é, então, da forma: 𝑌 = 𝑎𝑋 + 𝑏 ou 𝑉 = 𝑏 + 𝑎𝑡 Onde as constantes 𝑎 e 𝑏 são: a = coeficiente angular da reta (inclinação da reta) b = coeficiente linear da reta (ordenada p/ abscissa zero, X = 0) A inclinação da reta (a) é obtida dos pontos A e B do gráfico. 𝑎 = Δ𝑣 Δ𝑡 = (60 − 20) (4,6 − 0,5) = 9,8 𝑚 𝑠2⁄ que é a aceleração da gravidade g, e a constante b é o valor da velocidade para t = 0, ou seja, a velocidade inicial v0. 𝑏 = 𝑣0 = 15 𝑚 𝑠⁄ Logo, a equação da reta no gráfico é: 𝑣 = 𝑏 + 𝑎𝑡 = 𝑣0 + 𝑔𝑡 = 15 + 9,8𝑡(𝑚 𝑠⁄ ) A partir da equação obtida, frequentemente, outras informações podem ser derivadas, através de processos matemáticos. Por exemplo: 𝑣 = 15 + 9,8𝑡(𝑚 𝑠⁄ ) Integrando, tem-se: 𝑆 = 𝑆0 + 𝑣0𝑡 + 1 2 𝑔𝑡2 3.8.2 Relações não lineares Como vimos, sempre que os pontos experimentais caem sobre uma linha reta, a lei de variação que relaciona as quantidades físicas são facilmente deduzidas. Entretanto, quando os pontos experimentais não se ajustam a uma linha reta como frequentemente acontece, o problema torna-se um pouco mais difícil. O método mais simples para encontrarmos as leis de variação entre duas quantidades relacionadas entre si que obedecem as equações não lineares, é o que consiste em transformar tais equações em lineares e fazermos o mesmo tratamento usado anteriormente para equações da reta. Vamos supor que duas grandezas físicas obedeçam às seguintes leis de variação não linear: a) 𝑌2 = 𝑎 + 𝑏𝑋3 Se fizermos Y2 igual a uma nova variável (v) e X3 igual a (u) a equação tornar-se- á: 𝑣 = 𝑎 + 𝑏𝑢 que é uma equação linear, portanto, o gráfico de v x u será linear e todo tratamento relatado anteriormente pode ser empregado aqui. b) 𝑌 = 𝐴𝑋𝐵 Aplicando a função logarítmica na base “a” a ambos os lados da relação teremos: log𝑎𝑌 = log𝑎(𝐴𝑋 𝐵) = log𝑎𝐴 + log𝑎(𝑋 𝐵) = log𝑎𝐴 + 𝐵log𝑎𝑋 Fazendolog𝑎𝑌 = 𝑌’;log𝑎𝐴 = 𝐴’; elog𝑎𝑋 = 𝑋’; teremos: 𝑌’ = 𝐴’ + 𝐵𝑋’, que é uma equação linear. c) 𝑌 = 𝐴𝑒𝐵𝑋 Aplicando a função logarítmica na base “a” a ambos os lados dessa equação teremos: log𝑎𝑌 = 𝑙𝑜𝑔𝑎(𝐴𝑒 𝐵𝑋) = log𝑎𝐴 + 𝐵log𝑎(𝑒 𝑋) = log𝑎𝐴 + (𝐵log𝑎𝑒)𝑋 Fazendolog𝑎𝑌 = 𝑌’;log𝑎𝐴 = 𝐴’;𝑋 = 𝑋’e sabendo quelog𝑎𝑒é uma constante, teremos então: 𝑌’ = 𝐴’ + 𝐵log𝑎(𝑒)𝑋’ que é uma equação linear. 3.9 Escala regular e escala logarítmica Neste item desenvolveremos algumas noções básicas sobre escalas, principalmente a logarítmica, usada no papel log-log e no papel mono-log. 3.9.1 Escala regular O exemplo mais comum de um papel para gráficos com escala regular é o milimetrado. Neste tipo de papel os traços são igualmente espaçados – tanto no eixo das ordenadas como no eixo das abscissas – podendo este espaçamento ser em mm, cm, m, etc. Durante a representação de grandezas físicas neste tipo de papel, faz-se corresponder o valor da grandeza a ser representada com uma das distâncias entre os traços. Deste modo, cada intervalo corresponde a uma distância fixa em cada eixo. 3.9.2 Escala logarítmica Vamos começar a incursão no assunto através do papel log-log (ou di-log). 3.9.2.1 Algumas características a) A origem não é no ponto (0,0), mas sim no ponto (1,1) podendo deslocar o eixo de um ciclo a mais ou a menos de acordo com os dados experimentais. (Lembrem que na origem log x = 0, log y = 0 → x = 1, y = 1). b) Em ambos os eixos a escala é sempre a mesma, ou seja, ela é fixada no próprio papel. c) Se o primeiro ciclo vai de 1 (100) até 10 (101), o segundo ciclo vai de 10 (101) até 100 (102) e assim por diante, pois em cada ciclo os números variam de um fator de dez. d) A distância entre os pontos de 1 a 2 no primeiro ciclo é a mesma de 10 a 20 no segundo, de 100 a 200 no terceiro e assim por diante. e) Não é necessário calcular o logaritmo dos números, pois o papel já se apresenta na escala logarítmica. 3.9.2.2 Gráfico retilíneo no papel log-log O papel log-log é aquele que apresenta escala logarítmica nas duas dimensões, isto é, tanto no eixo das ordenadas quanto no eixo das abscissas. A representação da relação entre duas grandezas, neste tipo de papel, pode resultar uma curva qualquer. No caso particular da curva mais simples, isto é, segmento de reta, pode-se facilmente determinar a correspondente equação matemática. A equação da reta será 𝑦 = 𝑎𝑥 + 𝑏 onde Y = log (y); X = log (x) e B = log (b). Y e X são grandezas plotadas nos eixos das ordenadas e no das abscissas, respectivamente, a e b são constantes. A equação que representa uma reta no papel di-log é: log𝑦 = 𝑎log𝑥 + log𝑏 que pode ser modificada aplicando a transformação logarítmica inversa para y = bx a que é a função y = f(x) procurada. DETERMINAÇÃO DAS CONSTANTES “a” E “b” Se a função é y = bxa, a constante “b” será igual a y para x = 1. 𝑦 = 𝑏(1)𝑎 = 𝑏ou então da equação, log (y)= a log (x) + log (b) 𝑥 = 1 → log(𝑦) = 𝑎log(1) + log(𝑏) = log(𝑏)log(𝑦) = log(𝑏) → 𝑦 = 𝑏 Como se pode observar no gráfico do papel di-log procura-se o valor de y para x = 1 e desta forma encontra-se, neste caso, y = b = 80. Para determinar a constante a, basta tomar dois pontos quaisquer da reta. Sejam(𝑥1, 𝑦1)e(𝑥2, 𝑦2)dois pontos pertencentes a reta dada pela equação: log𝑦 = 𝑎log𝑥 + log𝑏 então, log𝑦2 = 𝑎log𝑥2 + log𝑏 log𝑦1 = 𝑎log𝑥1 + log𝑏 Como as escalas das ordenadas e das abscissas são iguais, podemos medir com uma régua as variações𝛥𝑙𝑜𝑔𝑦 = 𝛥𝑦e𝛥𝑙𝑜𝑔𝑥 = 𝛥𝑥e obter o valor da constante a: 𝛥𝑙𝑜𝑔𝑦 = 𝛥𝑦 Do gráfico do papel di-log temos que,𝛥𝑦 = 5,9𝑐𝑚e𝛥𝑥 = 9,8𝑐𝑚, portanto,𝑎 = 0,6e a equação para𝑦será: 𝑦 = 800,60 que é a função procurada. A determinação de coeficiente angular torna-se bastante simples quando em ambos os eixos a escala é a mesma, como no caso do papel di-log, e o procedimento é o adotado na determinação da constante acima. 3.9.3 Papel mono-log Em geral o papel mono-log apresenta o eixo das ordenadas em escala logarítmica e o eixo das abscissas em escala regular. Neste caso pode-se atribuir origem igual a ZERO quando da graduação do eixo das abscissas, enquanto que para o eixo das ordenadas prevalecem as normas da escala logarítmica. Neste papel, quando os pontos plotados estiverem alinhados (linha reta) a função pode ser uma exponencial da forma: 𝑦 = 𝑎𝑒𝑏𝑥 onde𝑎e𝑏são constantes positivas ou negativas e𝑒 = 2,718 …(base do logaritmo neperiano). A razão de uma função exponencial transparecer como uma reta (função linear) no papel mono-log é pelo seguinte: log𝑦 = log𝑎 + 𝑏𝑥 log𝑒 ou log𝑦 = │𝑏log𝑒│ + log𝑎 onde a constante │𝑏log𝑒│é o coeficiente angular e a constante log a é o coeficiente linear da reta. Podemos observar que a variável dependente (eixo das ordenadas) varia logaritmicamente enquanto a variável independente (eixo das abscissas) varia linearmente. Para se determinar a função exponencial, devemos determinar os valores das constantes a e b. DETERMINAÇÃO DAS CONSTANTES “a” E “b” Como a função exponencial é𝑦 = 𝑎𝑒𝑏𝑥observa-se que para𝑥 = 0tem-se que𝑦 = 𝑎𝑒𝑏0 = 𝑎𝑒0 = 𝑎 ⋅ 1 = 𝑎. Portanto, determina-se a procurando-se o valor de𝑦 = 𝑎para𝑥 = 0, então do gráfico do papel mono-log,𝑎 = 23,2. Para se determinar a constante b toma-se dois pontos quaisquer, que pertençam a reta do papel mono-log, (t1,I1) e (t2,I2) onde, log𝐼2 = (𝑏log𝑒)𝑡2 + log𝑎 log𝐼1 = (𝑏log𝑒)𝑡1 + log𝑎 subtraindo as equações tem-se 𝑏 = Δlog(𝑙) log𝑒 ∙ ∆𝑡 do gráfico no papel mono-log,𝑏 = −1,4 × 10−3𝑠−1. Substituindo a e b na equação𝑦 = 𝑎𝑒𝑏𝑥tem-se 𝐼 = 23,2exp(−1,4 ∙ 10−3𝑡) que é a função procurada.
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