Buscar

MATERIAL DE FATOS E NEGÃ_CIOS JURÃ_DICOS

Esta é uma pré-visualização de arquivo. Entre para ver o arquivo original

MATERIAL DE 2019/1
FATOS E NEGÓCIOS JURÍDICOS
(CC ARTS.104 À 188)
DOS FATOS JURÍDICOS
Conceito
Fatos jurídicos são todos os acontecimentos (provindos da atividade natural ou humana) capazes de influenciar na órbita do direito por criar, modificar ou extinguir relações jurídicas. O instituto "fato jurídico" como um todo é chamado de "fato jurídico lato sensu".
 
“Lato sensu é uma expressão em latim que significa, literalmente, "em sentido amplo", em contraposição ao stricto sensu ("sentido estrito").”
O fato jurídico, por força do direito objetivo, dá margem a que se crie relação jurídica, que submete certo objeto ao poder de determinado sujeito. A esse poder se denomina direito subjetivo.
Nem todo fato jurídico faz nascer ou perecer um direito, posto que às vezes atua sobre uma relação jurídica já existente. Fatos jurídicos seriam os acontecimentos, previstos em norma de direito, em razão dos quais nascem, se modificam, subsistem e se extinguem as relações jurídicas. O fato jurídico lato sensu é o elemento que dá origem aos direitos subjetivos “impulsionando a criação da relação jurídica”.
Espécies
- Fatos naturais (stricto sensu): São os fatos que decorrem da ação da natureza. 
Exemplo: nascimento, morte, avulsão etc. 
- Fatos naturais (stricto sensu): podem ser classificados em:
 Ordinários: como o nascimento e a morte, que constituem o termo inicial e final da personalidade, bem como a maioridade, o decurso do tempo, todos de grande importância, entre outros.
 Extraordinários: enquadram-se, em geral, na categoria do caso fortuito e da força maior: 
Exemplo: terremoto, raio, tempestade etc. 
- Fatos humanos (jurígeno ou ato jurídico): são os atos que decorrem da atividade humana, isto é, ações humanas que criam, modificam, transferem ou extinguem direitos. 
Exemplo: casamento, contrato etc. 
Fatos humanos (jurígeno ou ato jurídico): podem se subdividir em:
- Lícitos: são aqueles em que o ordenamento jurídico permite que os efeitos almejados pelo agente decorram de seu ato. Em outras palavras, por estar de acordo com o ordenamento jurídico, o ato humano irá realizar efeitos na esfera jurídica.
- Ilícitos: são aqueles que por lhe faltar licitude, produzem EFEITOS diversos dos almejados por seu agente, ou seja, são atos contrários ao ordenamento jurídico (podendo ser aplicada a responsabilidade civil - art. 186 a 188 C.C. art. 927 do Código Civil).
- Atos Jurídicos (fatos humanos): Os atos jurídicos classificados em três diferentes espécies:
- Ato jurídico strictu sensu: é a simples manifestação da vontade que determina a produção de efeitos legalmente previstos. Não tem nenhum conteúdo negocial e tem como finalidade a mera realização da vontade do titular de um determinado direito. 
Ex.: pagamento, fixação de domicílio, reconhecimento de filho, entre outros. 
- Negócio jurídico: trata-se de uma declaração expressa de vontade dirigida à provocação de determinados efeitos jurídicos (com conteúdo negocial). Neste caso, temos a criação de um instituto jurídico especializado para a composição do interesse das partes, cuja finalidade é alcançar um objetivo aceito pela lei. 
O exemplo clássico dos negócios jurídicos são os contratos. 
- Ato-fato jurídico: "é o fato jurídico qualificado por uma atuação humana. No ato-fato jurídico não importa a intenção da pessoa que realizou o ato, tendo relevância apenas os efeitos que o ato produziu. 
Ex.: menor de idade comprando uma água", segundo preceitua André B. C. Barros.
Prescrição extintiva
É a causa extintiva da pretensão de direito material (não processual, portanto) em virtude do seu titular, no prazo previsto em lei.
A pretensão é o poder de exigir de outrem, coercitivamente, o cumprimento de um dever jurídico. De acordo com Nelson Nery: "Nasce a pretensão com a violação do direito e o titular pode exigir uma prestação do devedor. Assim, as pretensões condenatórias de obrigação de fazer ou de não fazer, de cobrança, de execução de honorários profissionais, de execução por quantia certa contra devedor solvente, de abatimento do preço por vício redibitório (ação quanti minoris) etc., todas essas sujeitam-se a prazos de exercício que são de prescrição".
O Código Civil disciplinou os prazos prescricionais nos artigos 205 e 206, sendo que o primeiro se trata de um prazo geral de 10 anos e o segundo de casos específicos (prazos de 1 a 5 anos). O primeiro só será usado caso não exista hipótese já traçada no segundo, ou seja, analisa-se se é aplicável o artigo 206, se não, aplica-se o prazo do artigo 205 do Código Civil. 
Decadência (caducidade)
Há direitos subjetivos que não ensejam a formação de obrigações, posto que são destituídos dos respectivos deveres. O direito potestativo é o poder que o agente tem de influenciar no âmbito jurídico de outra pessoa, podendo constituir, modificar ou extinguir uma situação subjetiva sem que esta possa fazer alguma coisa sem submeter-se. 
Exemplo de direito potestativo é a dispensa do empregado realizada pelo patrão (o patrão foi capaz de influenciar na esfera jurídica do empregado, sendo que este foi obrigado sujeitar-se).
A decadência é "a extinção do direito potestativo, pela falta de seu exercício no prazo previsto em contrato ou na lei. A decadência está ligada, portanto, aos direitos potestativos e com as ações que tenham por objeto a constituição ou desconstituição de relações jurídicas.
(Ex.: ações anulatórias)" direitos potestativos "são aqueles que conferem o poder de influir ou determinar mudanças na esfera jurídica de outrem por ato unilateral, sem que haja um direito correspondente, apenas uma sujeição".
Existem duas espécies de decadência: 
Legal: é aquela que está previamente exposta na Lei. 
Exemplo. O prazo de 1 ano para anular a partilha emanada por vícios e/ou defeitos que invalidam, em geral, os negócios jurídicos. 
Convencional: são os prazos fixados espontaneamente pelas partes em contrato. 
Exemplo: O prazo de garantia dado pelo vendedor de um produto. 
A renúncia só é permitida na decadência convencional. Não é possível a renúncia no caso de decadência legal, pois trata-se de matéria de ordem pública. Conforme o artigo 210 do Código Civil, o juiz deve conhecer de ofício a existência da decadência, mas este dispositivo só é aplicável na espécie legal, sendo nula, portanto, a aplicação desse artigo na decadência convencional.
Os prazos de decadência estão espalhados no Código Civil, exceto aqueles que tratam da prescrição (CC, art. 205 e 206), alguns prazos:
3 e 60 dias (art. 516, CC);
30 dias (art. 445, CC);
180 dias (art. 1.560, inciso I, CC);
1 ano (art. 2.027, parágrafo único, CC);
5 anos (art. 1.859, CC);
15 anos (maior prazo de decadência no Código Civil) (art. 1.423, CC).
Nota: Quando o juiz extingue processo, reconhecendo a decadência ou a prescrição, estará extinto o processo com resolução do mérito (art. 487, II do Código de Processo Civil).
CLASSIFICAÇÃO DOS FATOS JURÍDICOS
Fato aquisitivo: É todo o fato que cria direito.
Fato modificativo: É todo o fato que modifica o direito.
Fato extintivo: É todo o fato que extingue um direito.
Fato conservativo: É todo o fato que conserva um direito. Ex: Conservação, transferência e modificação de direitos.
Fato natural: É aquele que ocorre sem a intervenção da vontade humana, decorre de um fenômeno natural (fato jurídico stricto sensu). Os fatos jurídicos naturais podem ser: ordinários, como o nascimento, que marca o início da personalidade do homem, e a morte, que põe termo à personalidade jurídica; ou extraordinários (caso fortuito ou força maior), como tempestades e furacões. Todos esses eventos são geradores de efeitos jurídicos, v.e. o nascimento de alguém faz nascer a personalidade jurídica, tornando o indivíduo sujeito de direitos e obrigações.
Fato humano: Os fatos jurídicos humanos, ou atos jurídicos em sentido amplo, compreendem: os atos jurídicos em sentido estrito ou meramente lícitos,
cujos efeitos jurídicos derivam fundamentalmente da lei, como o registro civil; e os negócios jurídicos, nos quais os efeitos são resultado principalmente da manifestação de vontade dos agentes, como o contrato. Os fatos jurídicos humanos podem ser ainda lícitos, quando realizado em conformidade com o ordenamento jurídico, ou ilícitos, quando realizado em desconformidade com o ordenamento jurídico.
O fato jurídico humano pode ser:
 
a) voluntário, hipótese na qual os efeitos gerados são os esperados pelo agente. Nesse caso «se tem o ato jurídico em sentido amplo, que abrange: o ato jurídico em sentido estrito, se objetivar a mera realização da vontade do agente (perdão, ocupação, confissão etc) e o negócio jurídico, se procura criar normas para regular o interesse das partes, harmonizando vontades que, na aparência, parecem antagônicas (testamento, contratos, adoção etc);
b) involuntário, se acarretar consequências jurídicas alheias à vontade do agente, hipótese em que se configura o ato ilícito»
EFEITOS
Os fatos que originam efeitos jurídicos são denominados fatos jurídicos, podendo ser classificados e subdivididos de acordo com seus elementos principais. Assim, os fatos jurídicos podem ser meio de aquisição, modificação ou extinção de direitos, classificando-os da seguinte forma:
Aquisição: adquirem-se os direitos reais e pessoais.
Originária: o direito surge pela primeira vez na pessoa do adquirente, sendo adquirido em toda sua plenitude. P.e. usucapião.
Derivada: funda-se na ideia de relação de precedente e consequente sujeito de direito. 
O direito adquirido transmite-se com as mesmas qualidades, condições e restrições quando com o transmitente. Ex: sucessão.
Gratuita: não há contraprestação
Onerosa: há contraprestação. Ex: avulsão.
Título universal: transmissão de todo o patrimônio do indivíduo ou de uma de suas partes constituída em universalidade de direito.
Título singular: transmissão de bens determinados
Os direitos podem ser adquiridos mediante ato do adquirente; por intermédio de outrem ou por fato jurídico stricto sensu. A primeira pressupõe declaração de vontade emitida por pessoa capaz, observando as formalidades legais. A segunda forma se dá mediante representação legal (pátrio poder, tutela ou curatela) ou convencional (por vontade do representado por meio do instrumento de procuração).
NEGÓCIOS JURÍDICOS
Conceito.
Negócio jurídico é uma subcategoria da modalidade relação jurídica. Relação jurídica, por sua vez, "consiste em um vínculo entre dois ou mais sujeitos de direito, segundo formas que são previstas pelo ordenamento jurídico e geram direitos e/ou obrigações para as partes".
“Art. 104. A validade do negócio jurídico requer:
I - agente capaz;
II - objeto lícito, possível, determinado ou determinável;
III - forma prescrita ou não defesa em lei.”
Planos dos Negócios Jurídicos.
No plano da existência dos Negócios Jurídicos, existência, validade e sua eficácia.
- No plano da existência temos os elementos essenciais que pressupõem a própria existência do negócio jurídico; sem eles, não há negócio válido ou inválido, eficaz ou ineficaz. São eles a vontade e sua declaração, o agente, o objeto e a forma.
- No plano da validade, qualificando a vontade como livre, o agente como capaz, o objeto como lícito, entre outros requisitos. Pode-se pensar no plano da validade como os “adjetivos” pros “substantivos” do plano de existência. Sem os qualificativos de validade dados aos elementos essenciais, um negócio jurídico existente pode ser inválido, e portanto nulo — ou anulável.
Uma vez verificados e validados os elementos essenciais, passa-se à repercussão do negócio jurídico no plano social, identificando os efeitos materiais por ele produzidos; isto é, a sua eficácia. Um negócio existente e válido pode ser ineficaz enquanto pender sobre ele uma condição suspensiva, por exemplo. 
Os negócios jurídicos, podem virem a ser compostos de elementos acidentais (não essenciais): a condição, o termo e o encargos.
EFEITOS DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS
Gera direitos e obrigações;
Obriga aquele que não cumpre com suas obrigações a pagar uma indenização por perdas e danos;
Confere o direito de ação judicial para a defesa dos direitos correspondentes; e
Transfere aos herdeiros os direitos decorrentes do negócio jurídico (salvo nos casos de natureza personalíssima).
CLASSIFICAÇÃO DO NEGÓCIO JURÍDICO
O Negócio Jurídico deve ser unilateral, bilateral ou plurilateral.
- Negócio unilateral (receptício ou não receptício), é aquele que acontece quando há declaração de vontade de apenas uma das partes (ex: testamento). 
Ele pode ser receptício, ocorre quando quem recebe o efeito sabe a intenção/vontade da outra parte (exemplo: oferta de recompensa), ou não receptício, quando não se sabe da vontade da outra parte.
No Direito Civil brasileiro, o adjetivo receptício refere-se a atos unilaterais negociais, significando que para que se produza efeitos jurídicos, a declaração de vontade unilateral deve ser levada a conhecimento do seu destinatário (ex. Promessa de recompensa). Por outro lado, negócios unilaterais não receptícios não requerem conhecimento de terceiro para se validarem, como, por exemplo, o testamento.
- Negócio bilateral é aquele que ocorre com a declaração de vontade de ambas as partes, tendo efeitos no momento por elas determinadas enquanto vivas. 
- Negócio Plurilateral é o que se forma mediante associação de interesses em regime de comunhão de direitos.
- Quanto à titularidade, pode ser inter vivos, se for celebrado e tiver efeitos durante a vida de ambas as partes, ou mortis causa, formado pela declaração de uma das partes e com efeitos apenas após a sua morte, desde que ocorra aceitação pela outra parte.
- Quanto à onerosidade. O negócio pode ser oneroso (há contraprestação) gratuito (apenas uma das partes tem vantagem patrimonial), neutro (sem alguma vantagem ou desvantagem para as partes) ou bifronte (quando o negócio se inicia oneroso e por fim acaba sendo gratuito, ou vice versa) dependendo se há disposição patrimonial de ambas as partes ou não.
Quanto à forma. O Negócio pode ser formal, se tiver que adotar a forma prevista em lei para ter validade, ou informal, cabendo apenas às parte estabelecerem livremente a forma a ser adotada.
INTERPRETAÇÃO DO NEGÓCIO JURÍDICO
Nas declarações de vontade se levará em conta mais a intenção real das partes do que o sentido literal usado por elas;
No caso de dúvida, a interpretação será mais favorável ao devedor, pois toda obrigação é uma restrição de liberdade individual;
Em caso de dúvida, a interpretação do contrato de adesão será mais favorável ao aderente;
Na análise da eficácia do negócio jurídico, devem prevalecer os interesses sociais, direta ou indiretamente ligados, sobre os interesses meramente individuais das partes;
A cláusula ambígua, omissa ou contraditória deve ser interpretada em conformidade com os costumes locais e de forma a se harmonizar com a natureza do negócio;
São implícitas ao negócio as cláusulas de uso;
Os atos benéficos são interpretados de forma restritiva;
O conteúdo de um negócio compreende tão somente os bens que as partes pretendem por meio dele regular;
A expressão ininteligível deve ser considerada não escrita;
A transação deve ser interpretada de forma estrita;
A fiança deve ser concedida por escrito e se sujeita à interpretação restritiva;
O negócio inter vivos não se sujeita às mesmas regras interpretativas que o negócio causa mortis, devendo o testamento ser interpretado de acordo com o sentido dado pelo testador. 
CAPÍTULO II
Da Representação
Art. 115. Os poderes de representação conferem-se por lei ou pelo interessado.
Art. 116. A manifestação de vontade pelo representante, nos limites de seus poderes, produz efeitos em relação ao representado.
Art. 117. Salvo se o permitir a lei ou o representado, é anulável o negócio jurídico que o representante, no seu interesse ou por
conta de outrem, celebrar consigo mesmo.
Parágrafo único. Para esse efeito, tem-se como celebrado pelo representante o negócio realizado por aquele em quem os poderes houverem sido substabelecidos.
Art. 118. O representante é obrigado a provar às pessoas, com quem tratar em nome do representado, a sua qualidade e a extensão de seus poderes, sob pena de, não o fazendo, responder pelos atos que a estes excederem.
Art. 119. É anulável o negócio concluído pelo representante em conflito de interesses com o representado, se tal fato era ou devia ser do conhecimento de quem com aquele tratou.
Parágrafo único. É de cento e oitenta dias, a contar da conclusão do negócio ou da cessação da incapacidade, o prazo de decadência para pleitear-se a anulação prevista neste artigo.
Art. 120. Os requisitos e os efeitos da representação legal são os estabelecidos nas normas respectivas; os da representação voluntária são os da Parte Especial deste Código.
DA REPRESENTAÇÃO NO NEGÓCIO JURÍDICO
CONCEITO
A representação é a relação jurídica pela qual certa pessoa se obriga diretamente perante terceiro, por meio de ato praticado em seu nome por um representante. Entretanto, para que esta situação ocorra, é necessário, primeiramente, que o ordenamento jurídico a permita e, em segundo lugar, que os requisitos desse mesmo ordenamento tenham sido cumpridos.
REPRESENTAÇÃO LEGAL
Representante legal. O representante legal é aquele a quem a norma jurídica confere poderes para administrar bens alheios, como o pai, ou mãe, em relação a filho menor, quanto o tutor ao pupilo e curador, no que concerne ao curatelado. A representação legal presta-se para servir aos interesses do incapaz.
CONTRATO CONSIGO MESMO
O autocontrato, é também denominado de contrato consigo mesmo, é um dos tipos de contrato. É considerado incomum, pois, assim como o próprio nome já diz, é um contrato de uma pessoa com si mesma, ou seja, não tem a pluralidade e o acordo de vontades. Se auto representa.
Anulabilidade do contrato consigo mesmo ou autocontrato.
Ocorre o chamado contrato consigo mesmo ou autocontrato em duas situações:
a) as duas partes têm o mesmo representante;
b) o representante de uma das partes é a outra parte.
Como o contrato, por definição, é um acordo de vontades, não se admite a existência de contrato consigo mesmo, sendo este anulável, salvo se o permitir a lei ou o representado. Caso o representante venha a efetivar negócio jurídico consigo mesmo no seu interesse ou por conta de outrem anulável será tal ato, exceto se houver permissão legal ou autorização do representado.
DO NÚNCIO
Núncio ou mensageiro é a pessoa encarregada de levar ou transmitir um recado de outrem. É o que se pode chamar de porta-voz. A tarefa do Núncio podia consistir no simples ato de entrega do documento, no qual haja declaração de vontade do interessado, ou na reprodução, de viva voz, da declaração de alguém. Em ambos os casos, o mensageiro coopera na conclusão do negócio jurídico, mas não atua em nome e por conta do verdadeiro titular.
NÚNCIO – DIPLOMACIA – ECLESIÁSTICO - representante permanente da Igreja católica romana junto a um governo com o qual mantém relações Diplomáticas
REPRESENTAÇÃO VOLUNTÁRIA
É baseada, em regra, no mandato, cujo instrumento é a procuração. A figura da representação não se confunde com a do mandato. O representante convencionado é o munido de mandato expresso ou tácito, verbal ou escrito, do representante, como o procurador, no contrato de mandato.
DAS REGRAS RELATIVAS À REPRESENTAÇÃO
- A manifestação de vontade do representante.
- A manifestação de vontade do representante, no limite de seus poderes, vincula o representado, de tal arte que fica aquele fica vinculado às manifestações de vontade exaradas pelo representante, nos limite dos poderes que lhe foram outorgado.
 
- A manifestação da vontade do representante ao efetivar um negócio em nome do representado, nos limites dos poderes que lhe foram conferidos, produz efeitos jurídicos relativamente ao representado, que adquirirá os direitos dele decorrentes ou assumiras obrigações que dele advierem. Logo, uma vez realizado o negócio pelo representante, os direitos serão adquiridos pelo representado, incorporando-se em seu patrimônio; igualmente os deveres contraídos em nome do representado devem ser por ele cumpridos, e por eles responde o seu acervo patrimonial.
Substabelecimento 
Se, em caso de representação voluntária, houve substabelecimento de poderes, o ato praticado pelo substabelecido reputar-se-á como tendo sido celebrado pelo substabelecente, pois não houve transmissão do poder, mas mera outorga do poder de representação. 
É preciso esclarecer que no caso de poder de representação legal é insuscetível de substabelecimento. Os pais, os tutores ou os curadores não podem substabelecer os poderes que têm em virtude de lei.
DOS ATOS PRATICADOS CONTRA O INTERESSE DO REPRESENTADO
Anulabilidade dos atos praticados contra o interesse do representado
O Código Civil protege os interesse do terceiro de boa-fé, tornando anulável o negócio apenas se o fato era ou devia ser do conhecimento do terceiro, pois nesta hipótese não existe mais a figura do terceiro de boa-fé. Assim se, porventura, o representante concluir o negócio jurídico, havendo conflito de interesses com o representado, com pessoa que devia ter conhecimento desse fato, aquele ato negocial deverá ser declarado anulável.
Obrigatoriedade de provar a condição de representante
Como os negócios jurídicos realizados pelo representante são assumidos pelo representado, aquele terá o dever de provar àqueles, com quem vier a tratar em nome do representado, não só a sua qualidade, mas também a extensão dos poderes que lhe foram conferidos. Assim, sem que o terceiro tenha plena ciência da representação, sua extensão e qualidade, seja ela voluntária ou legal, o dito representante responderá perante este terceiro pela prática de atos que excederem os poderes.
EFEITOS DA REPRESENTAÇÃO
Uma vez realizado o negócio jurídico pelo representante, é como se o representado houvesse atuado, pois seus efeitos repercutem diretamente sobre o último.
- Reserva Mental
Prescreve o art. 110 do C.C.: A manifestação de vontade subsiste ainda que o seu autor haja feito a reserva mental de não querer o que manifestou, salvo se dela o destinatário tinha conhecimento.
Ocorre a reserva mental quando um dos declarantes oculta a sua verdadeira intenção, isto é, quando não quer um efeito jurídico que declara querer. Tem por objetivo enganar o outro contratante ou declaratário.
Se este, entretanto, não soube da reserva, o ato subsiste e produz os efeitos que o declarante não desejava. A reserva, isto é, o que se passa na mente do declarante, é indiferente ao mundo jurídico e irrelevante no que se refere a validade e eficácia do negócio jurídico.
Se o declaratário conhece a reserva, a solução é outra.
No sistema atual do Código Civil brasileiro, configura-se a hipótese de ausência de vontade, considerando-se inexistente o negócio jurídico.
Exemplo: O casamento realizado por estrangeiro com mulher do país em que está residindo, com a única finalidade de não ser expulso (se a mulher não tiver conhecimento da reserva, o casamento é válido e não poderá ser anulado; se tiver dela conhecimento, em tese, poderá o casamento ser anulado ou declarado inexistente, conforme a legislação desse país).
CAPÍTULO III
Da Condição, do Termo e do Encargo
Art. 121. Considera-se condição a cláusula que, derivando exclusivamente da vontade das partes, subordina o efeito do negócio jurídico a evento futuro e incerto.
Art. 122. São lícitas, em geral, todas as condições não contrárias à lei, à ordem pública ou aos bons costumes; entre as condições defesas se incluem as que privarem de todo efeito o negócio jurídico, ou o sujeitarem ao puro arbítrio de uma das partes.
Art. 123. Invalidam os negócios jurídicos que lhes são subordinados:
I - as condições física ou juridicamente
impossíveis, quando suspensivas;
II - as condições ilícitas, ou de fazer coisa ilícita;
III - as condições incompreensíveis ou contraditórias.
Art. 124. Têm-se por inexistentes as condições impossíveis, quando resolutivas, e as de não fazer coisa impossível.
Art. 125. Subordinando-se a eficácia do negócio jurídico à condição suspensiva, enquanto esta se não verificar, não se terá adquirido o direito, a que ele visa.
Art. 126. Se alguém dispuser de uma coisa sob condição suspensiva, e, pendente esta, fizer quanto àquela novas disposições, estas não terão valor, realizada a condição, se com ela forem incompatíveis.
Art. 127. Se for resolutiva a condição, enquanto esta se não realizar, vigorará o negócio jurídico, podendo exercer-se desde a conclusão deste o direito por ele estabelecido.
Art. 128. Sobrevindo a condição resolutiva, extingue-se, para todos os efeitos, o direito a que ela se opõe; mas, se aposta a um negócio de execução continuada ou periódica, a sua realização, salvo disposição em contrário, não tem eficácia quanto aos atos já praticados, desde que compatíveis com a natureza da condição pendente e conforme aos ditames de boa-fé.
Art. 129. Reputa-se verificada, quanto aos efeitos jurídicos, a condição cujo implemento for maliciosamente obstado pela parte a quem desfavorecer, considerando-se, ao contrário, não verificada a condição maliciosamente levada a efeito por aquele a quem aproveita o seu implemento.
Art. 130. Ao titular do direito eventual, nos casos de condição suspensiva ou resolutiva, é permitido praticar os atos destinados a conservá-lo.
Art. 131. O termo inicial suspende o exercício, mas não a aquisição do direito.
Art. 132. Salvo disposição legal ou convencional em contrário, computam-se os prazos, excluído o dia do começo, e incluído o do vencimento.
§ 1o Se o dia do vencimento cair em feriado, considerar-se-á prorrogado o prazo até o seguinte dia útil.
§ 2o Meado considera-se, em qualquer mês, o seu décimo quinto dia.
§ 3o Os prazos de meses e anos expiram no dia de igual número do de início, ou no imediato, se faltar exata correspondência.
§ 4o Os prazos fixados por hora contar-se-ão de minuto a minuto.
Art. 133. Nos testamentos, presume-se o prazo em favor do herdeiro, e, nos contratos, em proveito do devedor, salvo, quanto a esses, se do teor do instrumento, ou das circunstâncias, resultar que se estabeleceu a benefício do credor, ou de ambos os contratantes.
Art. 134. Os negócios jurídicos entre vivos, sem prazo, são exequíveis desde logo, salvo se a execução tiver de ser feita em lugar diverso ou depender de tempo.
Art. 135. Ao termo inicial e final aplicam-se, no que couber, as disposições relativas à condição suspensiva e resolutiva.
Art. 136. O encargo não suspende a aquisição nem o exercício do direito, salvo quando expressamente imposto no negócio jurídico, pelo disponente, como condição suspensiva.
Art. 137. Considera-se não escrito o encargo ilícito ou impossível, salvo se constituir o motivo determinante da liberalidade, caso em que se invalida o negócio jurídico.
CONDIÇÃO, TERMO E ENCARGO NO 
NEGÓCIO JURÍDICO
As cláusulas que estabelecem alguma condição, termo ou encargo a um negócio jurídico são meramente acidentais, ou seja, estarão presentes nos contratos somente se as partes optarem por utilizá-las. Todavia, uma vez convencionados pelos contratantes, tais cláusulas facultativas terão o mesmo valor que os elementos legalmente estabelecidos.
Essas três espécies de elementos acidentais possuem suas particularidades, no entanto, também comportam certas semelhanças. A principal delas é que, sendo autolimitações de vontade, normalmente, só são admitidas nos atos de natureza patrimonial, logo, não podem figurar em relações jurídicas que digam respeito a direitos personalíssimos, a direito de família ou a direito de sucessões.
CONDIÇÃO
É o acontecimento futuro e incerto de que depende a eficácia do negócio jurídico.
Futuro e incerto é o evento que ainda acontecerá, mas as partes não têm ciência do dia da sua ocorrência. Isso pode acontecer porque as partes dependem de um fato alheio à sua vontade, como um fenômeno natural ou a vontade de um terceiro (condição causal); seja porque o implemento da condição depende do arbítrio de uma das partes, que também não conhece o dia certo da ocorrência.
Outra classificação importante da condição é quanto ao seu modo de atuação, podendo ser suspensiva ou resolutiva. A condição suspensiva impossibilita a produção dos efeitos até que o evento futuro e incerto seja realizado, logo, não haverá aquisição do direito antes do implemento da condição. 
Exemplo: Dar-te-ei um carro se passares na faculdade.
De modo oposto, a condição resolutiva extingue o direito após a ocorrência do evento futuro e incerto, ou seja, cessa para o beneficiário a aquisição dos direitos anteriormente garantidos. 
Exemplo: Tirarei sua mesada quando conseguires um emprego.
Importante ressaltar que, em promessa de doação, por exemplo, o bem estará sob condição suspensiva. Caso o mesmo bem passe a ser objeto de um contrato de compra e venda com um terceiro e a condição primeira se realizar posteriormente, este último contrato será extinto. Visa-se proteger o credor condicional, o qual não pode ver frustrada sua expectativa.
REQUISITOS DA CONDIÇÃO
São requisitos da condição:
A FUTURIDADE – não se considera condição o fato passado ou presente, mas somente o futuro.
A INCERTEZA – o evento a que se subordina o negócio deve serincerto. Se for certo, como a morte por exemplo, não haverá condição, mas sim termo.
ESPÉCIES DA CONDIÇÃO
Há várias espécies de condições que podem ser classificadas:
QUANTO À LICITUDE
CONDIÇÕES LÍCITAS – dispõe o art. 122 do Código Civil que são lícitas, em geral, todas as condições não contrárias à lei, à ordem pública ou aos bons costumes.
CONDIÇÕES ILÍCITAS – a contrario sensu, serão ilícitas todas as que atentarem contra proibição expressa ou implícita do ordenamento jurídico, a moral ou os bons costumes.
QUANTO À POSSIBILIDADE
- CONDIÇÕES POSSÍVEIS – são as que podem ser cumpridas.
- CONDIÇÕES IMPOSSÍVEIS – estas podem ser:
- Condições Fisicamente impossíveis – são as que não podem ser cumpridas por nenhum ser humano (ex.: colocar toda a água de um oceano num copo).
- Não se consideram fisicamente impossíveis se a impossibilidade não atingir a toda e qualquer pessoa, indistintamente.
- Condições Juridicamente impossíveis – é a que esbarra em proibição expressa do ordenamento jurídico, ou fere a moral e os bons costumes (ex.: adotar pessoa da mesma idade, realizar negócio que tenha por objeto herança de pessoa viva, etc.).
QUANTO À FONTE DE ONDE PROMANAM
- Condições Causais – são as que dependem do acaso, do fortuito, de fato alheio à vontade das partes (ex.: darte-ei tal quantia se chover amanhã).
 - Condições Potestativas – são as que decorrem da vontade de uma das partes.
Podem ser:
- Condições Puramente potestativas – são as que sujeitam todo o efeito do ato ao puro arbítrio de uma das partes, sem a influência de qualquer fato externo.
Ex.: se eu quiser, se eu entender conveniente, se eu assim decidir, etc. É uma condição ilícita (art. 122 -  CC).
- Condições Simplesmente potestativas – dependem não só da manifestação de vontade de uma das partes como também de algum acontecimento ou circunstância exterior que escapa ao seu controle.
Ex.: se eu viajar a tal lugar, se eu vender a minha casa, etc. Estas condições não são consideradas ilícitas.
- Condições Mistas – são as condições que dependem simultaneamente da vontade de uma das partes e da vontade de um terceiro (ex.: darte-ei tal quantia se casares com fulano, se constituíres sociedade com beltrano, se for eleito deputado,
etc.).
QUANTO AO MODO DE ATUAÇÃO
- Condição Suspensiva – impede que o ato produza efeitos até a realização do evento futuro e incerto. 
Ex.: darte-ei tal bem se lograres tal feito.
Assim, não se terá adquirido o direito
enquanto não se verificar a condição suspensiva (art. 125 – CC).
O titular tem apenas situação jurídica condicional, mera expectativa de direito. Verificada a condição suspensiva, o direito é adquirido.
- Condição Resolutiva – é a que extingue, resolve o direito transmitido pelo negócio, ocorrido o evento futuro e incerto, por exemplo, o beneficiário da doação, depois de recebido o bem, casa-se com a pessoa que o doador proibira, tendo este conferido ao eventual casamento o caráter de condição resolutiva).
Em outras palavras, é a condição cujo implemento faz cessar os efeitos do ato ou negócio jurídico. Logo, até que seja implementada a condição, vigorará o negócio jurídico, podendo exercer-se desde o momento deste o direito por ele estabelecido (art. 127 – CC).
Condição resolutiva e negócio jurídico de execução continuada ou periódica – o art. 128 – CC deixa claro que, o implemento da condição resolutiva, salvo disposição em contrário, não tem eficácia quanto aos atos já praticados, que se reputam válidos para todos os fins e efeitos de direito, desde que compatíveis com a natureza da condição pendente e conforme os ditames da boa-fé.
A condição resolutiva pode ser expressa ou tácita.
QUANTO AO ESTADO
- Condição Pendente – a condição encontra-se pendente enquanto não se verifica o evento futuro e incerto.
- Condição Implementada – diz-se implementada a condição quando se verifica a ocorrência do evento futuro e incerto, isto é, quando o evento efetivamente ocorre.
 - Condição Frustrada – diz-se frustrada a condição quando não se verifica a ocorrência do evento futuro e incerto, ou seja, quando o evento definitivamente não tem mais a possibilidade
CONDIÇÕES QUE INVALIDAM OS NEGÓCIOS JURÍDICOS QUE LHES SÃO SUBORDINADOS
Se pactuada qualquer das condições abaixo, tanto a condição como o negócio jurídico serão nulos:
CONDIÇÕES FÍSICA OU JURIDICAMENTE IMPOSSÍVEIS
Quando suspensivas, consideram-se impossíveis as condições que violam as leis naturais ou o direito expresso.
No primeiro caso, dizem-se fisicamente impossíveis; no segundo, juridicamente impossíveis. Estas, quando suspensivas, são inválidas, assim como os negócios jurídicos que lhes são subordinados.
CONDIÇÕES ILÍCITAS OU DE FAZER COISA ILÍCITA
O Código Civil considera ilícitas as seguintes condições (art. 122 - CC), tornando-as inválidas e anulando também o negócio jurídico a que são subordinadas (art. 123, II – CC):
Condições contrárias ordenamento jurídico, a moral ou os bons costumes - serão ilícitas todas as que atentarem contra proibição expressa ou implícita do ordenamento jurídico, a moral ou os bons costumes (ex.: cláusula que obriga alguém a mudar de religião, por contrariar a liberdade de credo assegurada pela CF; cláusula que obriga alguém a entregar-se à prostituição, etc.).
Em geral, as cláusulas que afetam a liberdade das pessoas só são consideradas ilícitas quando absolutas, como a que proíbe o casamento ou exige a conservação do estado de viuvez.
Sendo relativas, como a de se casar ou de não se casar com determinada pessoa, não se reputam proibidas.
Condições puramente potestativas – diz-se potestativa a condição quando a realização do fato, de que depende a relação jurídica, subordina-se à vontade de uma das partes, que pode provocar ou impedir a sua ocorrência.
Nem todas as condições potestativas são ilícitas. Só o são as puramente potestativas, isto é, aquelas em que a eficácia do negócio fica ao inteiro arbítrio de uma das partes sem a interferência de qualquer fator externo; é a cláusula si voluero, ou seja, se me aprouver.
NEGÓCIOS JURÍDICOS QUE NÃO ADMITEM CONDIÇÃO
Geralmente, todos os atos com conteúdo econômico permitem a pactuação de condição.
Há, contudo, certos negócios jurídicos que não a admitem. São exemplos os direitos de família puros e os direitos personalíssimos.
DEFEITOS DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS
Conforme previsão do Código Civil de 2002, os vícios do negocio jurídico podem ser classificados em vícios do consentimento e vícios sociais.
CONCEITO
Negócio jurídico é uma relação formada dentro dos limites do ordenamento jurídico, por duas ou mais vontades, em que os atos praticados nesta relação visam em adquirir, modificar ou extinguir direitos e obrigações. 
TIPOS
Em regra, os negócios jurídicos são bilaterais, com duas vontades, ou plurilaterais com mais de duas vontades. Mas há também, os negócios jurídicos unilaterais, em que há uma única manifestação de vontade.
QUANTO À FORMA
Quanto à forma Dos negócios, a regra é a forma prescrita ou não proibida em lei, conforme se extrai da leitura do artigo 104 do Código Civil de 2002. 
Conclui-se, portanto, que a manifestação de vontade no negócio jurídico poderá ocorrer tanto de forma escrita, quanto verbal, por gestos, etc. Contudo há algumas exceções, que se referem a negócios jurídicos voltados para constituição, transferência, modificação ou renúncia de direitos reais sobre imóveis de valor superior a trinta vezes o maior salário mínimo vigente no País, segundo o artigo 108 do CCB/02.
A vontade é o elemento fundamental para que os atos e negócios jurídicos se efetivem, pois ela representa os desejos e anseios do agente, o que ele quer alcançar. Essa vontade deve ser externada de forma livre, espontânea e clara afim de que o negócio celebrado alcance os efeitos desejados. 
Silvio de Salvo Venosa em sua obra, ressalta: “a vontade é a mola propulsora dos atos e negócios jurídicos. Essa vontade deve ser manifestada de forma idônea para que o ato tenha vida normal na atividade jurídica e no universo negocial. Se essa vontade não corresponda ao desejo do agente, o negócio jurídico tornar-se-á suscetível de nulidade ou anulação”.
Os defeitos ou vícios do negócio jurídico, consistem em negócios em que a real vontade do agente não foi observada, havendo a presença de fatos que o tornam nulo ou passível de anulação. São, pois, falhas, anomalias, que fazem com que a vontade não seja corretamente ou totalmente manifestada e observada. Como consequência fazendo que o negocie acabe provocando efeitos indesejados, efeitos esses que não são o que realmente queria o agente, e causando prejuízo ao próprio agente ou a outrem. 
De acordo com Carlos Roberto Gonçalves, defeitos do negócio jurídico “são imperfeições que nele podem surgir decorrentes de anomalias na formação da vontade ou na sua declaração”.
A atual codificação, dentro do plano da anulação dispõe em seu artigo 178: 
“É de quatro anos o prazo de decadência para pleitear-se a anulação do negócio jurídico, contando: 
I – no caso de coação, do dia em que ela cessar; 
II – no erro, dolo, fraude contra credores, estado de perigo ou lesão, do dia em que se realizou o negócio jurídico”.
Os referidos defeitos, exceto a fraude contra credores, são classificados como vícios de consentimento.
VICIOS DE CONSENTIMENTO
Os vícios de consentimentos estão relacionados à formação e declaração da vontade da pessoa. Pode-se dizer que eles surgem no negócio jurídico em que o declarante está viciado, havendo fatos, anomalias que fazem com que a vontade seja manifestada de uma forma que não era a real pretensão da pessoa. Os vícios de consentimento, de acordo com o Código Civil de 2002, são: erro ou ignorância, dolo, coação, lesão, estado de perigo.
ERRO OU IGNORÂNCIA
O erro consiste falsa ideia da realidade, do real estado ou situação das coisas. A pessoa supõe que é uma coisa, mas na verdade se trata de outra, podendo tornar o negócio anulável. Neste caso, o agente erra sozinho, não sendo induzido a errar, pois se fosse, caracterizar-se-ia como dolo. 
Segundo Flavio Tartuce “erro é um engano fático, uma falsa noção, em relação a uma pessoa, objeto do negócio ou a um direito, que acomete a vontade de uma das partes que celebrou o negócio jurídico”.
No artigo 138, diz que: “são anuláveis os negócios celebrados com erro, desde que este seja substancial.”
O erro é substancial é aquele em a pessoa ao
manifestar sua vontade, pretende praticar certo ato e acaba praticando outro, ou seja, erro quanto à espécie de negócio. 
Exemplo simples de erro: “é quando uma pessoa vai a uma relojoaria com o intuito de comprar um relógio de ouro, mas ao chegar à loja não especifica, não diz à vendedora que deseja e um relógio de ouro. Então compra um relógio acreditando que é de ouro maciço, mas que na verdade é folheado a ouro.”
DOLO
O dolo define-se como a indução maliciosa a cometer o erro, neste caso, o agente declarante da vontade não erra sozinho, o erro não é espontâneo, ele é induzido a praticar ato que não seja de sua real vontade. 
Carlos Roberto Gonçalves, em sua obra, conceitua dolo “como o artificio ou expediente astucioso, empregado para induzir alguém a pratica de um ato que o prejudica, e aproveita ao autor do dolo ou a terceiro. Consiste em sugestões ou manobras maliciosamente levadas a efeito por uma parte, a fim de conseguir da outra uma emissão de vontade que lhe traga proveito, ou a terceiro”.
Quanto aos tipos de dolo, o código civil trata de duas classificações: dolo principal e dolo acidental. 
Entretanto, no artigo 145 do CC, diz que o negócio jurídico só é anulado por dolo quando este for a sua causa, isto é, o negócio só é anulável se este foi celebrado em consequência de que o agente foi induzido pela outra parte.
O dolo principal (dolus causans dans contratui) é aquele em que é a causa determinante da confirmação do negócio jurídico. Configura-se quando o negócio é realizado e uma das partes utiliza-se de artifícios maliciosos para fazer que a outra parte erre e realize o negócio normalmente, o agente é enganado acerca da real situação e persuadido, fazendo com que acreditasse que aquele ato esteja certo, e se não fosse induzido, não teria realizado o negócio.
O dolo é acidental, como diz o artigo 146 do Código Civil de 2002: “O dolo acidental só obriga à satisfação das perdas e danos, e é acidental quando, a seu despeito, o negócio seria realizado, embora por outro modo”. 
Trata-se então das condições do negócio, em que ele seria realizado independentemente da malicia empregada por outra parte ou terceiro ao agente. Portanto, define-se como aquele dolo que não é causa daquele ato. Neste caso, o agente realizaria o negócio em benefício próprio e independente da ação maliciosa de outrem, porem comportamento desta outra pessoa acaba influenciando nas condições estipuladas. 
O negócio jurídico é celebrado pelo agente para seu benefício, mas o comportamento da outra parte ou terceiro influencia em como o negócio irá se efetivar. Essa espécie de dolo não torna o negócio anulável, apenas obriga a parte que enganou a satisfazer a vítima por perdas e danos.
Outro tipo de dolo, mas não muito importante, é o dolo por terceiro, que ocorre quando a parte que se aproveitar da outra tiver ciência ou não dos fatos. Se o autor do dolo tinha conhecimento acerca dos fatos, o negócio torna-se anulável, mas se não tiver conhecimento, o negócio não é anulável, entretanto a parte prejudicada poderá requer perdas e danos.
COAÇÃO
É conceituada como sendo a pressão física ou psicológica que é usada contra o negociante a fim de obriga-lo a realizar atos que não lhe interessam que não são do seu querer. A princípio a pessoa não tinha desejo, intensão de realizar certo negócio, mas ela é forçada por outrem que se utiliza de algum motivo ou fato a celebrar tal negócio. Neste caso, não há manifestação de vontade, que é o elemento mais essencial para a efetivação do negócio. 
Carlos Roberto Gonçalves ressalta:
[...] “coação é o vício mais grave e profundo que pode afetar o negócio jurídico, mais até que o dolo, pois impede a livre manifestação da vontade, enquanto este incide sobre a inteligência da vítima” [...].
Espécies de coação: 
- a coação absoluta, que surge quando há violência física, isto é, o coator utiliza de força física para obrigar uma pessoa a realizar certo ato ou negócio jurídico, e, portanto não possui nenhum consentimento da vítima, tornando o negócio ou ato nulo, invalido.
- a coação relativa ou moral, surge quando há uma violência, uma pressão, psicológica ou moral, o coator faz ameaças a vítima e a deixa sem escolhas, ou seja, a pessoa realiza certo ato ou sofrerá as consequências da ameaça.
Exemplo: “é quando uma pessoa que está portando arma de fogo, ameaça outra pessoa, dizendo que se ela não realize certo negócio, ela ira morrer.
ESTADO DE PERIGO
O estado de perigo consiste em uma situação que o agente esta, como o próprio nome diz, em perigo de vida. Constitui-se como a situação em que o negociante, temeroso de grave estado de perigo, seja seu ou de sua família, assume obrigação desproporcional e excessiva, e, sendo esta necessidade conhecida pela outra parte por quem salva. Em suma, estado de perigo, consiste em situação de necessidade extrema física de vida, em que, o negociante com medo desta situação, aceita obrigação exorbitante onerosa, que é conhecida pela outra parte, a qual se aproveita desta situação para cobrar abusivamente do agente.
LESÃO
O Código Civil de 2002, em seu artigo 157, prescreve que:
“A lesão se constitui quando no ato da celebração ou execução do negócio jurídico, a pessoa obriga a si própria a uma prestação de valor desproporcional ao da prestação oposta, qual seja, a prestação da outra parte que compõe o negócio jurídico, tanto sendo credor ou devedor.”
Para que haja a lesão numa relação jurídica, é preciso que existam dois requisitos, sendo um objetivo e o outro subjetivo: 
O requisito objetivo diz respeito à onerosidade da prestação de uma parte da relação, isto é, ao sacrifício, ao gasto que a pessoa irá ter em seu patrimônio econômico. Portanto, a onerosidade deverá ser excessiva, ao tanto que a tornará desproporcional à outra prestação, e consequentemente fazendo com o indivíduo perca o interesse em manter o vínculo. 
O requisito subjetivo, está relacionado com a pessoa que compõe a relação jurídica. É a situação pessoal do indivíduo formador da relação jurídica, sendo esta situação de premente necessidade ou por inexperiência em celebrar negócios. Em se tratando de premente necessidade, um simples exemplo é o de uma pessoa que está muito doente, e que para tentar se curar, paga uma quantia exorbitante por algum tratamento que, geralmente não chega àquela quantia.
DOS VÍCIOS SOCIAIS
Nos denominados vícios sócias do negócio jurídico, ocorre de forma contrária dos vícios do consentimento, pois enquanto este o defeito se encontra na declaração de vontade de umas das partes da relação processual, já os vícios sociais caracterizam-se pelo fato de o defeito se encontra na intenção do indivíduo em manifestar a sua vontade, em que esta intenção é voltada para o fim de prejudicar o meio social, ou seja, para enganar a sociedade, para enganar terceiros. Os vícios são a Fraude Contra Credores e Simulação.
DA FRAUDE CONTRA CREDORES
Esta modalidade de vício do negócio jurídico, está prevista legalmente nos artigos 158 a 165 do Código Civil de 2002.
“É todo artificio malicioso que uma pessoa emprega com intenção de transgredir direito ou prejudicar interesses de terceiros” (Venosa).
Portanto, o devedor quer fraudar, prejudicar interesses de terceiros ou ainda burlar a lei. Entende-se, que fraudar credores, é o ato praticado pelo devedor, que já está insolvente, ou que por praticar este ato, se torna insolvente causando prejuízos aos credores. 
Insolvente, é aquela pessoa que já não possui patrimônio, condições econômicas de adimplir, de pagar o que deve. Dessa forma, caracteriza-se pelo fato de o devedor, de um ou mais credores, que assume obrigações com estes, mas não tem como cumprir a prestação, ou quando possui condições, se desfaz de seu patrimônio, tornando-se insolvente, e, portanto não tendo como cumprir com a prestação que lhe cabe.
Observa-se então que existem dois requisitos, sendo o primeiro a má – fé do devedor, ou seja, a malícia, o fato deste manifestar a
sua vontade com o planejamento de causar prejuízo para com o credor. O segundo requisito, à intenção do devedor de prejudicar o credor, tendo a consciência de que está produzindo um dano. 
O artigo 158 do CC/02, diz as hipóteses que podem ocorrer à fraude contra credores:
“Os negócios de transmissão gratuita de bens ou remissão de dívida, se os praticar o devedor já insolvente, ou por eles reduzido à insolvência, ainda quando o ignore, poderá ser anulado pelos credores quirografários, como lesivos dos seus direitos.”
§ 1o Igual direito assiste aos credores cuja garantia se tornar insuficiente.
§ 2o Só os credores que já o eram ao tempo daqueles atos podem pleitear a anulação deles.”
Pela leitura da parte inicial do caput deste dispositivo legal, se extrai duas hipóteses, quais sejam: transmissão gratuita de bens, ou a remissão de dívida, sendo que se forem praticados, em ambos os casos, por devedor que já não possui patrimônio ou que pela pratica destes atos jurídicos, o tornem insolvente, sem patrimônio. 
DA SIMULAÇÃO
Esta espécie de vicio social do negócio jurídico, está estabelecida no artigo 167do Código Civil Brasileiro de 2002, que diz: 
“É nulo o negócio jurídico simulado, mas subsistirá o que se dissimulou se válido for na substância e na forma”. § 1º Haverá simulação nos negócios jurídicos quando:
I - aparentarem conferir ou transmitir direitos a pessoas diversas daquelas às quais realmente se conferem, ou transmitem;
II - contiverem declaração, confissão, condição ou cláusula não verdadeira;
III - os instrumentos particulares forem antedatados, ou pós-datados.
§ 2º Ressalvam-se os direitos de terceiros de boa-fé em face dos contraentes do negócio jurídico simulado.
Simulação, significa enganar, iludir. Tal ilusão se configura no fato de a manifestação da vontade das partes, se diverge da real intenção destas ao celebrar o pacto jurídico, há o conluio das partes, que intencionalmente celebram o negócio manifestando a falsa vontade, a falsa realidade, mas o real querer delas é intrinsicamente divergente do que foi declarado. Em resumo, há a manifestação da vontade das partes em pactuar e produzir os efeitos inerentes ao negócio jurídico, mas que no plano dos fatos, estes efeitos existem para iludir, enganar terceiros que não estejam envolvidos na relação, sobre a real situação que está acontecendo entre as partes, sendo o conteúdo do pacto inverídico.
INVALIDADE DO NEGÓCIO JURÍDICO
O negócio jurídico que se apresenta de forma irregular, defeituosa, é ineficaz; isto é, não produz os efeitos que produziria caso perfeito. Quando o negócio defeituoso é declarado judicialmente como tal, dada a sua ineficácia, é anulado e torna-se INVÁLIDO.
A invalidade é gênero de anulação para suas duas espécies: a NULIDADE e a ANULABILIDADE. 
Na ANULABILIDADE, o ato é admitido ainda que defeituoso, pois seu defeito é leve e interessa apenas às partes envolvidas; este prosseguirá válido a menos que um interessado demande sua anulação. 
A NULIDADE é mais grave, com a lei removendo o ato do mundo jurídico, dado o interesse público de que este não tenha produzido efeitos.
A ineficácia mais grave é a da INEXISTÊNCIA, em que a lei simplesmente ignora o ato. 
Nulidade é de interesse público, podendo ser alegada por todos os interessados ou pelo MP e declarada pelo juiz de ofício, dado o seu vício grave. 
Anulabilidade é de interesse particular, podendo ser alegada apenas por aqueles diretamente interessados e exigindo sentença declaratória, dado o seu vício brando.
NULIDADE
A função da nulidade é tornar sem efeito o ato ou negócio jurídico, fazendo-o desaparecer como se nunca houvesse existido. Portanto, a sentença que decreta a nulidade retroage ao momento de formação do ato: é ex tunc (“desde então”, em latim). Isto se dá por respeito à ordem pública, dado que a nulidade pressupõe interesse social no ato viciado. No mesmo sentido, a nulidade não pode ser retificada, com o ato adquirindo eficácia por meio de um “conserto”, tampouco convalesce com o tempo. Dividem-se em quatro classificações as nulidades: totais/parciais, textuais/virtuais, de pleno direito/não e absolutas/relativas.

Teste o Premium para desbloquear

Aproveite todos os benefícios por 3 dias sem pagar! 😉
Já tem cadastro?