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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS SOCIAIS
INSTITUTO DE PSICOLOGIA
TESTES PROJETIVOS E EXPRESSIVOS II
Teste Rorschach
Fernanda Moreira 
Uma breve Introdução sobre o Teste Rorschach:
O Teste Rorschach é um teste psicológico desenvolvido pelo psiquiatra e psicanalista suíço Hermann Rorschach, cuja primeira apresentação oficial foi publicada em junho de 1921. 
Esse teste se caracteriza como um teste projetivo, cuja hipótese se baseia em conceitos psicanalíticos, acreditando que o sujeito quando em frente a estímulos projeta algo de sua subjetividade e singularidade, de seus medos, conflitos, seus processos de pensamento e necessidades.
Além dos fatores emocionais, as técnicas projetivas também se debruçam sobre as características interpessoais, de organização psicológica e alguns aspectos intelectuais do indivíduo. Os conteúdos das projeções da personalidade são sempre do inconsciente, manifesta de maneira latente ou oculta. 
São duas as fases de aplicação. Na primeira, o rapport é estabelecido com o examinando através da associação livre. Dez lâminas com borrões simetricamente replicados, alguns pretos e outros coloridos, são apresentados ao examinando. O examinador entrega-as uma a uma e deve anotar a posição em que o examinando as manipula, seguindo para a segunda parte em que o Inquérito com roteiro pré-estabelecido sobre as manchas que foram observadas é aplicado. O examinador busca entender o que o examinando viu, aonde viu e como chegou a essa resposta. O aplicador deve possuir grande conhecimento das condições de aplicabilidade, assim como domínio do conhecimento científico acerca da técnica. 
2. O Caso
 Método
Estudo de caso clínico.
Objetivo
Realizar avaliação neuropsicológica em uma criança encaminhada pela escola com queixa de agitação e dificuldade em se relacionar interpessoalmente. 
Procedimentos para coleta de dados
Para o estudo de caso foram promovidos quatro sessões de uma hora cada, onde foram realizadas entrevistas preliminares com o sujeito e sua mãe, além da aplicação de bateria de testes que incluíam o Teste Rorschach e os subtestes Velocidade de Processamento, Raciocínio Abstrato e Raciocínio Quantitativo do WISC IV (paradigma dos testes e motivo da escolha)
 Dados da anamnese e histórico da queixa
J., 10 anos, é filho único de uma família de baixo nível socioeconômico. Ingressou em um Espaço de Desenvolvimento Infantil da prefeitura aos 2 anos e atualmente encontra-se no quarto ano do ensino fundamental regular em uma escola municipal perto de sua casa. A mãe conta que já na EDI queixavam-se da agitação de J., e tais queixas se mantêm até o presente. 
A mãe de J. relata que sua gravidez foi complicada, no momento estava se separando do pai da criança e brigavam muito. Depois do nascimento do filho, desenvolveu depressão pós parto e não dava conta dos cuidados com o bebê, além da dificuldade de criar vínculo com ele. O pai de J. não é presente em sua criação.
Na escola, a professora refere-se a J. como um menino inteligente, mas muito agitado, atrapalhando seu rendimento escolar. Diz que a criança tem dificuldade em se relacionar com os colegas de sala, chegando a ser agressivo quando contrariado. No meio do ano envolveu-se em uma briga com um aluno mais velho que culminou em sua suspensão. Após o fato, J. se mostrou muito desinteressado em frequentar a escola e com comportamento desconfiado e arredio. Isso motivou uma preocupação por parte do corpo docente da escola, que fez um  encaminhamento para um atendimento psicológico, a fim de que fosse feita uma avaliação psicológica. Nas sessões com a psicóloga, J. conta que já era provocado pelo colega a muito tempo mas nunca revidava, sempre deixando de lado os acontecidos, não informava a mãe nem a escola. Até que no dia da briga em questão, se protegeu dos ataques pela primeira vez e se sentia injustiçado com a suspensão.
		J. chega então ao consultório e a psicóloga, após as entrevistas com a mãe e uma breve conversa telefônica com a professora de J., decide aplicar três subtestes da bateria WISC IV (velocidade de processamento, raciocínio abstrato e raciocínio quantitativo) para averiguar as funções cognitivas e as questões relacionadas a aprendizagem e o teste  projetivo Rorschach para uma investigação sobre seu funcionamento psicodinâmico.
   
3. Resultados
Os resultados do WISC apontaram para uma boa capacidade cognitiva, o que indica que suas dificuldades de aprendizagem possam ter uma origem psicológica. A agitação do menino pode caracterizar uma ansiedade, visto que sua dificuldade em terminar as tarefas da escola diminuem quando a professora fica próxima dele, incentivando-o. O que também demonstra uma baixa auto-estima.
Seu processo de pensamento tende a ser pouco abstrato e criativo para uma criança da sua idade, mas não por um limite intelectual. Provavelmente porque questões psicológicas na sua relação com o meio o impedem de se expressar livremente - uma consequência de uma infância pouco lúdica a incentivada. J. desde muito jovem precisou se haver com as próprias necessidades básicas físicas quando ainda precisava de alguém que o orientasse, causando um desenvolvimento precoce para habilidades de organização e cuidado da casa. Isso pode ser preocupante visto que crianças costumam ser egocêntricas. 
Os resultados do Rorschach indicaram "Índice de Depressão" (DEPI) positivo, o que indica a presença de acentuadas experiências de depressão, com predomínio de afetos desconfortáveis. 
Sua auto-imagem é carregada de elementos negativos com aspectos desconfortáveis o que pode também influenciar na sua dificuldade de se relacionar interpessoalmente. 
A figura materna internalizada é empobrecida e aparece incapaz de proteger e prover para o filho, aparecendo em J. sempre a necessidade de ser cuidado e protegido. Assim, demonstra-se dependente na sua relação com o mundo, sempre atento a perigos e na defensiva. O quadro de depressão pós parto da mãe corrobora a hipótese de que J. tem dificuldade em sentir-se confortável com contato físico e em demonstrar afeto, visto que não teve acesso a isso na primeira infância. sente as relações de maneira negativa, o que leva a insegurança nas situações sociais. 
Durante o teste, a tomada de decisões se mostrou passiva, o que dialoga com uma necessidade de aprovação. As figuras parentais quando não ausentes, também não representavam proteção e acolhimento, maximizando os sentimentos contraditórios infantis de amor e ódio. Isso acaba mobilizando em J. defesas obsessivas fortes a esses afetos, como um Super Ego rígido, que o impediu de revidar as agressões sofridas, tendendo aos convencionalismos sociais. 
4. Conclusão
J. é uma criança que apresenta dificuldade na expressão dos afetos, prejuízos na auto-imagem e dificuldade nos relacionamentos pessoais. Apesar disso, permanece em acompanhamento psicológico, e pode-se ter esperanças positivas com relação a seu prognóstico por apresentar grande capacidade para introspecção e para auto-reflexão, podendo ainda se beneficiar muito da psicoterapia. 
Dezembro de 2017

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