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Eficácia efetividade e eficiência_Alipio Filho (1)

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EFICÁCIA, EFETIVIDADE, EFICIÊNCIA E ECONOMICIDADE EM 
AUDITORIA DE DESEMPENHO OPERACIONAL 
 
Vimos no artigo AUDITORIA DE NATUREZA OPERACIONAL: O QUE É? 
que há quatro dimensões de avaliação das ações governamentais: a 
eficácia, a efetividade, a eficiência e a economicidade. Portanto, o 
objetivo da Auditoria de Natureza Operacional é dizer se essas 
dimensões foram alcançadas na avaliação dos gastos públicos. Chegou 
a hora de vermos o conceito de cada uma delas. 
 
A literatura de nosso País não é próspera em definir de uma forma clara 
o significado desses termos. Por vezes, usam linguagens rebuscadas 
que nem o estudante mais graduado consegue alcançar o seu sentido. 
 
Então vamos direto ao assunto. 
 
A eficácia está relacionada ao atingimento de um objetivo (que fora 
previamente determinado). Por exemplo: um ente da federação coloca 
como sua meta construir 10 mil casas populares no período de 4 anos. 
Se ele conseguir realizar essa meta, então ele cumpriu o requisito da 
eficácia. O problema é que nem sempre o cumprimento de metas traz 
benefícios sociais. Daí a importância da efetividade na avaliação dos 
programas governamentais. 
 
A efetividade é, portanto, uma dimensão da avaliação das 
ações públicas pela qual verificamos se determinada iniciativa surtiu 
ou não os benefícios (sociais, econômicos, ambientais, etc.) que se 
esperavam. Um exemplo nos dará uma melhor ideia. 
 
Um ente federativo construiu um terminal pesqueiro. Concluída a obra 
(eficácia) verificou-se que os benefícios inicialmente projetados não 
foram atendidos a contento: o terminal simplesmente não funciona. 
Com isso, ficaram comprometidos os benefícios 
econômicos perseguidos. O mesmo se diga de um hospital, uma 
escola, uma lixeira, etc. A ideia é a seguinte: tanto o hospital, quanto 
a escola e a lixeira foram construídos para atenderem a uma 
necessidade pública (saúde, educação, ambiental/saúde/segurança). 
Mas isso não foi conseguido, mesmo após eles terem sido construídos. 
Não houve efetividade. 
 
A efetividade é um indicador por excelência. É através dele que 
podemos esquadrinhar o grau de qualidade dos serviços públicos. Por 
isso, talvez seja ele o indicador de maior importância. 
 
A eficiência mede a relação entre o custo (financeiro, material, 
humano) na realização das ações governamentais e padrões de 
desempenho estabelecidos. Vamos a um exemplo bem simples e fácil 
de assimilar. 
 
Fulano foi jogador de futebol. Durante toda a sua carreira, marcou 900 
gols em 450 jogos, ou seja, 2 gols por jogo. Beltrano também foi 
jogador de futebol. Ele marcou 1350 gols em 450 jogos, isto é, uma 
média de 3 gols por partida. Questionamos: adotando-se esses 
padrões de avaliação (número de gols x número de jogos) quem foi 
mais eficiente? Certamente que Beltrano, concorda? Mas...e se 
mudássemos o padrão? Será que Beltrano continuaria sendo mais 
eficiente que Fulano? É possível que sim, é possível que não. Vejamos. 
 
Fulano marcou 900 gols em 10 anos de carreira, isto é, 90 gols por 
ano. Já Beltrano, marcou 1350 gols em 16 anos de carreira, 
portanto, média de 83,3 gols por ano. Por esse parâmetro Fulano seria 
mais eficiente que Beltrano. Ou seja, tudo se inverteria. Ficou mais 
claro agora? 
 
O mesmo acontece com os programas governamentais. Quando desejo 
saber se um ente federativo foi eficiente ou não eu preciso de um 
modelo, de uma referência, de um padrão para comparar. Desta feita, 
se desejo avaliar a construção de uma quadra poliesportiva por um 
município qualquer eu preciso, sob o prisma da eficiência, dispor de 
uma referência de como o governo do estado, p. exemplo, constrói 
quadras poliesportivas. E, a partir daí, fazer as comparações. Aqui um 
importante detalhe. 
 
Para avaliarmos a eficiência é preciso que tenhamos padrões de 
excelência. Em outras palavras, não posso comparar algo ruim com 
algo pior ainda. É preciso que o meu modelo de comparação seja de 
qualidade aceitável. Do contrário, é como se eu fosse comparar um 
jogador "perna de pal" com outro, de igual "quilate". E isso não é 
tarefa fácil em se tratando de avaliação das ações governamentais 
(mas não impossível de realizá-la). 
 
A última dimensão é a dimensão da economicidade. Ela mede a 
redução de custos sem que se comprometa a qualidade do produto 
obtido. Exemplo: compro 100 computadores ao custo total de 200 mil 
reais. Se numa segunda aquisição gasto dois terços desse valor e 
adquiro os mesmos computadores (mesmo modelo, capacidade, etc.) 
fui econômico. Se, ao contrário, compro-os pelo dobro do preço 
certamente que a nova operação foi antieconômica. Ou seja, o quesito 
da economicidade me dá a dimensão custo/benefício (mas em relação 
aos custos de aquisição). 
 
No Brasil, infelizmente, as avaliações das contas anuais dos órgãos 
públicos não admitem o critério da eficiência, da eficácia e da 
efetividade. Apenas o quesito da economicidade serve como parâmetro 
no modelo constitucional vigente, conforme dispõe o artigo 70 da CF (A 
fiscalização contábil, financeira, orçamentária, operacional e 
patrimonial da União e das entidades da administração direta e 
indireta, quanto à legalidade, legitimidade, economicidade, aplicação 
das subvenções e renúncia de receitas, será exercida pelo Congresso 
Nacional, mediante controle externo, e pelo sistema de controle interno 
de cada Poder). E, ainda, assim os órgãos de controle ainda são tímidos 
em explorar essa excelente ferramenta de avaliação das ações de 
governo. 
 
Temos, portanto, que avançar. Há um espaço brutal para isso. Tomar 
por parâmetro na avaliação das contas anuais o critério da efetividade, 
já seria um bom começo. 
 
Texto extraído do blog de Alipio Reis Firmo Filho, 
http://alipiofilho.blogspot.com.br 
31 de julho de 2012