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CAPÍTULO 4 Contextos Atuais e Desafios Sobre o Conhecimento na Escola A partir da concepção do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: � Compreender as mudanças atuais no contexto social e escolar e suas implicações para a produção de conhecimento. � Descrever os modos de produção de conhecimento e sua relação com a disciplinaridade e interdisciplinaridade. � Identificar os principais desafios das mudanças atuais na produção de conhecimento para o currículo escolar. � Conhecer os debates atuais sobre o retorno da centralidade do conhecimento como conteúdo nas instituições de ensino. 100 A PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO NO AMBIENTE ESCOLAR 101 Capítulo 4 Contextos Atuais e Desafios Sobre o Conhecimento na Escola 1 Contextualização Vivemos em um momento de questionamento e reforma em relação ao currículo e à ampla missão das escolas, universidades e outras instituições de ensino e, em particular, em relação ao papel destas instituições como mediadoras do processo de ensino e aprendizagem e construtoras de novos conhecimentos. Este capítulo analisa algumas ideias e pesquisas que enquadram a “questão do conhecimento” para escolas e universidades hoje. Começamos com um breve tópico sobre o contexto em mudança que impacta nessa questão e, em seguida, analisamos várias linhas de argumentação que abordam o papel de disciplinas escolares. O conhecimento em si é um termo ambíguo que atravessa esses debates. Escolas e universidades estão preocupadas com, pelo menos, três maneiras diferentes de abordar o conhecimento em seus programas e propósitos. A primeira relaciona-se ao objeto de estudo que constitui o currículo dessas instituições. Nela, as decisões são tomadas embasadas no que deve ser conhecido ou aprendido, sobre o que é delimitado como relevante no mundo. Isso inclui decisões sobre qual gama de estudos é exigida, bem como sobre o peso relativo a ser dado ao “saber-como” e ao “saber-que” ou variantes desses saberes. Uma segunda preocupação é sobre as características particulares que distinguem o conhecimento da “mera” crença ou “habilidade inata” e similares, o sentido em que o conhecimento é visto como um tipo especial de aprendizagem ou reivindicação cognitiva com poder especial. Esta preocupação representa a aspiração das instituições de disponibilizar aos alunos algo mais poderoso, confiável, verdadeiro e valioso do que teriam de outra forma. Aqui as instituições de ensino devem abordar a estrutura ou a forma associada aos modos de conhecer que são mais poderosos, incisivos, confiáveis ou conceitualmente astutos. A terceira questão seria a forma com que as escolas e universidades lidam com o conhecimento, como elas levam em conta as práticas sociais associadas ao conhecimento no sentido que acabamos de mencionar. Aqui podemos incluir a atenção dada a como disciplinas ou campos de conhecimento operam, ou a como o conhecimento é utilizado no local de trabalho, ou o reconhecimento da maneira pela qual o conhecimento está ligado ao poder e ao capital. Estas questões também estão subjacentes e são implicitamente tratadas pelas formas e reformas das escolas e universidades. E cada um desses enfoques sobre o conhecimento tem sido objeto de considerável debate no final do século XX e na atualidade. Até certo ponto, é evidente que as escolas e universidades estão localizadas de maneira diferente em relação ao conhecimento, mas ambas têm enfrentado versões de algumas questões semelhantes que serão analisadas neste capítulo. 102 A PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO NO AMBIENTE ESCOLAR 2 O Contexto em Mudança Embora os sistemas de ensino básico e universitário em países como o Brasil tenham, por muito tempo, uma história em que se busca inspiração de outros países (particularmente dos Estados Unidos da América, da Alemanha e da França) sobre suas instituições de ensino, a partir do final do século XX, começou- se a assumir uma nova forma. Preocupações sobre o desemprego e o bem-estar econômico nacional tornaram-se enquadradas em um contexto de competição global e dentro de uma perspectiva em que recursos, incluindo recursos humanos, foram avaliados global e comparativamente. Ao mesmo tempo, os economistas começaram a enfatizar o papel da educação como um fator central na força econômica (SHARMA, 2004). Assim como um crescente corpo de influentes medidas supranacionais, através da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), do Banco Mundial e das classificações (ranking) internacionais dos sistemas de ensino em todos os níveis, ofereceu algumas novas lentes padronizadas de alto perfil sobre o que os sistemas educacionais, tanto o ensino básico quanto o superior, estavam atingindo. O impacto dessa lente econômica comparativa global tem sido amplamente sentido no rápido crescimento e nas aspirações de sistemas de ensino em vários países do globo. No Brasil, por exemplo, a expansão e democratização da rede de ensino básica se depara com as mudanças provocadas pela reforma do Ensino Médio, que visam explicitamente atender às demandas políticas e econômicas (ROSA; LOPES; CARBELLO, 2015; PASCHOETO; LEITE, 2018). Além disso, há uma expansão acelerada do setor de Ensino Superior privado em território nacional, com uma forte presença de financiamento internacional de vários setores (FRANCA, 2017). Diante disso, vemos fenômenos similares na China e outros países asiáticos em desenvolvimento. Fenômenos estes que fazem ressurgir debates públicos sobre padrões e qualidade nas redes de ensino, como vemos acontecendo nos EUA, na Europa e na maioria das regiões do mundo (HOPMANN, 2013; YATES; GRUMET, 2011). Esse posicionamento do conhecimento como um recurso econômico comparativo sustenta, por um lado, uma atenção constante a processos de benchmarking (processo de comparação de produtos, serviços e práticas em busca das melhores que conduzam ao desempenho superior), testes, métricas de pesquisa e afins; e, por outro, uma preocupação constante sobre que tipos de conhecimento são economicamente potentes e devem ser priorizados nas escolas e universidades – por exemplo, capacidade empreendedora, idiomas e capacidade de trabalhar em equipe. O foco na educação e no conhecimento como um bem competitivo econômico tem sido acompanhado por expectativas de Os economistas começaram a enfatizar o papel da educação como um fator central na força econômica. 103 Capítulo 4 Contextos Atuais e Desafios Sobre o Conhecimento na Escola uma educação mais extensa, onde os países mais desenvolvidos agora esperam ter a conclusão escolar como norma, em vez de apenas para uma minoria, e a graduação se torna uma busca mais massiva do que em tempos anteriores. Associado a isso, o papel e a função do Ensino Médio e do Ensino Superior têm sofrido consideráveis reformulações, em termos de duração, de função genérica ou de preparação vocacional, e sua relação com o ensino de pós-graduação. 3 Mudança Tecnológica As discussões sobre conhecimento e educação no final do século XX e início do século XXI são marcadas pela necessidade de envolver-se com um mundo material em rápida mudança e capacidades tecnológicas dramaticamente modificadas (COPE; KALANTZIS, 2009; SUGRUE, 2008). Comparado com um mundo onde o conhecimento era principalmente comutado em papel ou em reuniões face a face, o poder, a velocidade e as formas de novas tecnologias impõem desafios à educação em todos os níveis, especialmente em relação ao que é agora fundamental. Por exemplo, o poder dos computadores para trabalhar com uma enorme quantidade de dados e a forma distribuída de parte desse trabalhoglobalmente colocam questões sobre as direções de influência entre teoria e cálculo, que têm ramificações para o currículo de ciências da escola de ensino básico, assim como no currículo e treinamento em pesquisa na graduação. As mudanças levantam questões sobre a localidade do conhecimento e sobre os vários agentes do conhecimento (humanos e não humanos). Em relação ao estudo de história, por exemplo, a disponibilidade de novos tipos de capacidades de busca, novos tipos de arquivos on-line, capacidade de pesquisar e trabalhar com textos visuais e registros orais e similares também é potencialmente transformadora, em termos do que os alunos podem precisar aprender ou ser capazes de fazer. Um outro grande impacto da internet e das novas capacidades de busca e comunicação tem sido levantar questões sobre o papel (ou mesmo a existência continuada) de escolas e universidades tradicionais em comparação à aprendizagem informal, novos empreendimentos comerciais e novas entidades, como MOOCs (Massive Open Online Courses) e outras formas de aprendizagem on-line (GRIFFIN et al., 2012; GÓMEZ, 2015). O poder, a velocidade e as formas de novas tecnologias impõem desafios à educação em todos os níveis. 104 A PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO NO AMBIENTE ESCOLAR 4 Movimentos Sociais e a Política do Conhecimento Os currículos das escolas e universidades nunca reproduzem simplesmente um dado ou uma dedução do seu cenário nacional e histórico. Eles sempre representam algumas escolhas, propósitos e interesses deliberados, e tradicionalmente, especialmente no caso do Ensino Superior, refletem alguma orientação aos interesses e papéis sociais das elites, mas a partir de meados do século XX, a política do que conta como conhecimento tem sido objeto de contestações muito mais vigorosas. Os movimentos sociais preocupados com gênero e raça direcionaram sua atenção ao conteúdo e à linguagem do currículo como fontes de discriminação. Eles argumentaram e ganharam apoio considerável para a compreensão de que o que estava sendo transmitido como conhecimento era, na verdade, ideológico e ele mesmo contribuía para a contínua marginalização e desvantagem das mulheres e dos grupos não favorecidos. O ataque à política do conhecimento nas escolas e universidades e sua relação com o poder também ficaram evidentes em ataques mais amplos, por exemplo, nos escritos de Paulo Freire, Ivan Illich e outros em relação às escolas; e também nas manifestações dos estudantes em maio de 1968, em relação ao Ensino Superior. Mais tarde, quando a política mundial mudou da configuração da guerra fria para novos tipos de conflitos, uma série de escritos identificou e criticou suposições que foram consideradas como subjacentes ao conhecimento moderno ocidental e iluminista. Estas críticas levantaram questões sobre sistemas de conhecimento seculares e não seculares e os modos como os sistemas de conhecimento no Ocidente foram orientados para o interesse das grandes potências do “norte global” (CONNELL, 2007; SAID, 1979). 5 Internacionalização e Fluxos de População Globais No século XXI, um tema importante para o currículo dos sistemas de ensino básico e superior tem sido a globalização, incluindo os fluxos globais e os movimentos das populações para migração e busca de emprego, e as oportunidades e medos associados a isso. Em sistemas educacionais como o do Brasil, já podemos perceber a preocupação com a necessidade de se orientar para A partir de meados do século XX, a política do que conta como conhecimento tem sido objeto de contestações. 105 Capítulo 4 Contextos Atuais e Desafios Sobre o Conhecimento na Escola Arjun Appadurai (2004) introduziu a imagem dos fluxos globais de ideias, práticas, instituições e pessoas que interagem com as populações locais. O autor utiliza termos próprios, como etnopaisagem, mediapaisagem, financiopaisagem, ideopaisagem e tecnopaisagem. Em grandes centros universitários, nos mais diversos países, podemos perceber uma competição global por estudantes internacionais como fonte de sua viabilidade financeira, mas também por talentos para construir sua capacidade de pesquisa. Internacionalmente, há também uma crescente conscientização do crescente significado econômico de países em desenvolvimento e com potencial econômico para o século XXI. E tudo isso traz novas ênfases ao trabalho de conhecimento das escolas e universidades. Um dos problemas a ser focado no currículo escolar é como este deve se basear e trabalhar com a diversidade de tradições, origens linguísticas e conhecimento que os alunos trazem. E a questão de que tipo de pessoa e de escola cidadã deve ter como objetivo formar – como alcançar a integração social com uma população diversificada – adquiriu maior visibilidade. As universidades anunciam suas preocupações para se internacionalizarem, mas o que isso significa em termos de experiência para os alunos e para o currículo em si não está claro. O que significa, por exemplo, “internacionalizar” o currículo em ciências? Isso é um conceito significativo? Este tópico quase não tocou a superfície de algumas mudanças importantes que atravessam os debates e fazem parte dos desenvolvimentos que agora ocorrem neste contexto. Vamos a um debate que estimulou e encapsulou uma boa parte do pensamento sobre a finalidade da “criação do conhecimento” no trabalho das instituições de ensino no contexto do século XXI, e continuaremos com um tópico que aborda algumas formas em que esse contexto em mudança tem sido abordado na pesquisa, na política e nas reformas do currículo escolar. Podemos perceber uma competição global por estudantes internacionais como fonte de sua viabilidade financeira. um mundo do século XXI onde os estudantes viajarão, interagirão e trabalharão com pessoas de outras partes do mundo (GADOTTI, 2007; COSTA, 2004). Esta realidade é vista em várias partes do mundo (PETERS, 2010; RIZVI, 2011). 106 A PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO NO AMBIENTE ESCOLAR 6 Modos 1 e 2 da Produção do Conhecimento Em 1994, um grupo de observadores sociológicos das mudanças da cena da produção de conhecimento publicou um livro intitulado The New Production of Knowledge: the dynamics of science and research in contemporary societies (A nova produção de conhecimento: a dinâmica da ciência e da pesquisa nas sociedades contemporâneas) (GIBBONS et al., 1994). Este livro cunhou uma distinção amplamente discutida e influente entre a produção de conhecimento do “modo 1” e do “modo 2”. O “Modo 1” é um termo aplicado ao que é considerado a forma mais tradicional de construção de conhecimento e pesquisa dentro das universidades. É hierárquico, especializado e opera em uma amplitude considerável por ter uma forma limitada e autorreferencial. Busca refinamento e criação trabalhando no interior e construindo sobre o foco e os modos das linhas de pesquisa já estabelecidas (tal como as disciplinas). A produção de conhecimento do “Modo 2” está associada ao tipo de inovação que antes era mais característico na indústria e no governo: conhecimento desenvolvido em “contextos de aplicação”, ou seja, as preocupações sociais e econômicas são construídas desde o início e fazem parte dos critérios de avaliação do conhecimento. O conhecimento aqui também é construído de forma colaborativa, muitas vezes reunindo sujeitos com diferentes tipos de treinamento e interesses. Gibbons et al. (1994) argumentaram que as produções de conhecimento do Modo 2 estavam se tornando muito mais proeminentes no final do século XX, e cada vez mais o trabalho nas universidades, embora não em todas, estavacomeçando a assumir essa forma. Hessels e Van Lente (2008) resumem os principais elementos que compreendem as formas divergentes de produção de conhecimento, como podemos ver na Tabela 1. O “Modo 1” é um termo aplicado ao que é considerado a forma mais tradicional de construção de conhecimento e pesquisa. Produções de conhecimento do Modo 2 estavam se tornando muito mais proeminentes no final do século XX. TABELA 1 – ATRIBUTOS NA PRODUÇÃO DE CONHECIMENTO Modo 1 Modo 2 Contexto acadêmico Contexto de aplicação Disciplinaridade Transdisciplinaridade Homogeneidade Heterogeneidade Autonomia Reflexividade/Responsabilidade social Controle de qualidade tradicional (peer review) Controles de qualidade originais FONTE: Adaptado de Hessels e Van Lente (2008, p. 741). 107 Capítulo 4 Contextos Atuais e Desafios Sobre o Conhecimento na Escola Os argumentos no livro original de 1994 foram desenvolvidos e refletidos tanto por alguns dos autores originais quanto por muitos outros (NOWOTNY et al., 2001; PEREIRA, 2007; MOURA, 2011). Nowotny et al. (2001) argumentaram que está ocorrendo uma “desdiferenciação” – o enfraquecimento das fronteiras entre ocupações e domínios de conhecimento – nas esferas sociais (estado, mercado, cultura), com mudanças observáveis nos modos de operação das universidades e institutos de pesquisa do governo e conselhos de pesquisa. Eles argumentam que a pesquisa de Modo 2 (contextualizada) produz conhecimento socialmente robusto e que essa forma de conhecimento agora fala de volta à ciência e é um referente central das políticas de inovação do governo. Em sua revisão de um grande corpo de literatura relacionada ao modo 1 e modo 2 de produção de conhecimento, Hessels e Van Lente (2008) identificam uma série de outras teorias e linhas de argumentação que anteciparam ou que se sobrepõem ou são aliadas aos argumentos da “nova produção de conhecimento”. Por exemplo, alguns falam de pesquisa estratégica, tripla hélice, capitalismo acadêmico, sistemas de inovação e vários outros. Eles concluem que a estrutura da nova produção de conhecimento não é única nem conceitualmente rígida, e que pesquisas mais empíricas sobre mudanças reais são necessárias. Mas eles também reconhecem a saliência amplamente sentida dos desenvolvimentos reunidos nesses novos modos de produção de conhecimento. Grande parte da discussão em toda a literatura aceita a crescente visibilidade de práticas associadas ao Modo 2 e sua relação mais próxima com contextos de aplicação, preocupações sociais e econômicas e trabalho colaborativo que cruza fronteiras universitárias e disciplinares (PEREIRA, 2007; MOURA, 2011). O que está em questão é se essa distinção é inteiramente nova, pois sabemos que alguns campos da ciência, engenharia e afins, sempre foram mais aplicados e colaborativos em seus relacionamentos e agendas. Outra questão levantada é se o Modo 2 da nova produção de conhecimento possibilita uma mudança de equilíbrio relativo entre os dois modos (o Modo 1 e o Modo 2), com ambos continuando presentes no trabalho das instituições de ensino. Se assim não for, poderíamos perceber o Modo 2 como parte de uma tendência em que o que resta da inquirição disciplinar (Modo 1) estaria apenas contido e circunscrito pelos mecanismos e critérios de avaliação do Modo 2 (WEINGART; PADBERG, 2014). Uma questão adicional levantada na literatura é a extensão em que as discussões de uma nova produção de conhecimento funcionam como uma posição de normatividade ou de defesa ao gerar novas visões do que deveria A pesquisa de Modo 2 (contextualizada) produz conhecimento socialmente robusto. A a estrutura da nova produção de conhecimento não é única nem conceitualmente rígida. 108 A PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO NO AMBIENTE ESCOLAR ser (para os políticos em particular), bem como as práticas políticas associadas e instanciações políticas. Aqui, questões sobre o que está sendo ganho e perdido em contextos de mudança da produção de conhecimento são importantes. Estes são um ponto de discórdia em muitos escritos recentes sobre a mudança de formas do Ensino Superior (BLACKMORE et al., 2010; KING et al., 2013; PETERS, 2007), bem como em argumentos sobre disciplinaridade, interdisciplinaridade e transdisciplinaridade (SOBRAL, 2001). 7 Disciplinaridade e Interdisciplinaridade Anterior às discussões sobre a nova produção de conhecimento, e continuando ao lado delas, está um corpo de literatura preocupado com as dimensões social, epistêmica e histórica das disciplinas acadêmicas, na forma de estudos etnográficos (BECHER, 1989; KNORR-CETINA, 1999) e estudos preocupados com as estruturas organizacionais, de construção de conhecimento e autoridade das universidades (ABBOTT, 2001; KAGAN, 2009). Um interesse em disciplinas, diferenças disciplinares e suas implicações para a formação escolar acadêmica e de pesquisa tem recebido nova atenção através do despertar do interesse do século XX e início do século XXI pela “interdisciplinaridade” (FAZENDA; GODOY, 2014; KLEIN, 1996; TROWLER et al., 2012). As “disciplinas” são tradições de investigação socialmente construídas que se originaram no século XIX e que foram formalizadas dentro de estruturas de sistemas de ensino, especialmente no Ensino Superior, e através de associações de profissionais, revistas científicas, conferências e similares, e distinguidas por conceitos, metodologias e às vezes por seus objetos de investigação. Eles desempenham funções culturais e organizacionais, bem como propósitos epistemológicos (LOPES; MACEDO, 2013; ABBOTT, 2001). Kagan (2009, p. 3) observa que a maioria dos esforços intelectuais consiste em três componentes que são diferenciados entre diferentes disciplinas: (1) Um conjunto de premissas inquestionáveis que criam preferências por questões particulares e respostas igualmente particulares, (2) uma coleção favorecida de ferramentas analíticas para coletar evidências e (3) um conjunto preferido de conceitos que são o núcleo de explicações. Mas ele também argumenta que as disciplinas são realmente diferenciadas umas das outras em termos de nove dimensões diferentes: Interesse em disciplinas, diferenças disciplinares e suas implicações para a formação escolar acadêmica e de pesquisa tem recebido nova atenção. 109 Capítulo 4 Contextos Atuais e Desafios Sobre o Conhecimento na Escola 1. As principais questões colocadas, incluindo o grau em que a previsão, explicação ou descrição de um fenômeno é o principal produto da investigação 2. As fontes de evidências nas quais as inferências são baseadas e o grau de controle sobre as condições nas quais as evidências são coletadas 3. O vocabulário utilizado, [...] incluindo o grau em que se presumia que uma relação funcional generalizava as configurações ou era restrito ao contexto de observação 4. O grau em que as condições sociais, produzidas por eventos históricos, influenciam as questões 5. O grau em que os valores éticos penetram nas perguntas feitas e as conclusões inferidas ou deduzidas 6. O grau de dependência do apoio financeiro externo do governo ou indústria 7. A probabilidade de o acadêmico trabalhar sozinho, com um ou dois outros, ou como um membro de uma grande equipe 8. A contribuição para a economia nacional 9. Os critérios que os membros de cada grupo usam quando julgam um corpo de trabalho elegante ou bonito (KAGAN, 2009, p. 2-3). Essa lista representa critérios em termos de quais campos ou disciplinas potencialmente ou frequentemente desenvolvem conhecimento de forma diferente um do outro. Se eles são geridos institucionalmentede maneiras que pressupõem critérios uniformes de desempenho ou normas organizacionais (por exemplo, 2, 3, 4 e 7, na lista anteriormente citada, devem se parecer com a ciência – ou pelo menos alguns campos da ciência), isso terá consequências para os diferentes campos e este é um dos rumos da governança e da administração nos últimos tempos. Ao mesmo tempo, as disciplinas, embora sejam sempre estabilizadas por suas funções científicas, educacionais, administrativas e profissionais plurais, nunca são estruturalmente estáticas, mas sujeitas a processos de diferenciação e desdiferenciação (STICHWEH, 1992). Um dos temas do presente período é que este é um período em que os processos de diferenciação, desdiferenciação e mudança para a interdisciplinaridade se aceleraram consideravelmente, mas não apenas os processos endógenos de diferenciação e desdiferenciação proliferaram e aceleraram, também as pressões exógenas de mudança se tornaram cada vez mais complexas e poderosas. Um outro ponto é que, na realidade, os limites entre as disciplinas costumam ser confusos. O Relatório do Conselho Nacional de Pesquisa dos Estados Unidos de 1986, por exemplo, observou que a interface entre física e química “tem sido cruzada com tanta frequência que sua localização exata é obscura”, e ainda As disciplinas nunca são estruturalmente estáticas, mas sujeitas a processos de diferenciação e desdiferenciação. 110 A PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO NO AMBIENTE ESCOLAR observou que “o grau de interação direta colaborativa entre físicos e químicos nos EUA, especialmente nas universidades, se manteve surpreendentemente limitado” (KLEIN, 1996, p. 6). Tudo isso coloca desafios significativos para as autoridades educacionais e para os órgãos de financiamento da pesquisa. Devem ser tomadas decisões sobre quais fundamentos curriculares e formas organizacionais são importantes como facilitadores do conhecimento e sobre os papéis apropriados das disciplinas, comparados a outras perspectivas de enquadramento. Uma questão para a prática e política de educação é entender a estrutura ou forma em que o conhecimento é desenvolvido em diferentes campos. Tanto a literatura internacional como as ações orientadas para a gestão reconhecem frequentemente a necessidade de diferenciar as disciplinas “STEM” (ciência, tecnologia, engenharia e matemática) das disciplinas “HASS” (humanidades e ciências sociais) e estas, por sua vez, dos campos profissionais (preparação de médicos, professores, contadores e afins). No entanto, essa diferenciação, muito utilizada entre STEM e HASS, também ignora as grandes diferenças entre as disciplinas e subdisciplinas que estão dentro de ambos os agrupamentos (considere a matemática comparada à zoologia, por exemplo; ou economia comparada à literatura). Em termos de nosso foco neste capítulo, que são as questões educacionais da produção de conhecimento, podemos encontrar na obra de Julie Thompson Klein (1996) uma elucidativa discussão sobre uma série de diferenças significativas em como os campos disciplinares têm operado. Estas incluem diferenças entre os campos das ciências sociais que têm operado com uma busca de leis abrangentes comparadas a aquelas que atentam mais para o simbólico e o interpretativo; e a questão de até que ponto as disciplinas têm conceitos e metodologias distintos. Klein (1996, p. 39) argumenta que “dois tipos de disciplinas, a aplicada e a sinótica, estão associadas a uma permeabilidade tão alta que são frequentemente descritas como ‘inerentemente interdisciplinares’”. Podemos pensar, como exemplo, na disciplina de história, que seria indiscutivelmente considerada sinótica e “inerentemente interdisciplinar”, pelo menos em alguns elementos. No entanto, outras vozes na literatura sobre disciplinas e interdisciplinaridade (ABBOTT, 2001; BECHER, 1989; KAGAN, 2009) argumentariam que mesmo disciplinas que são sinóticas criam identidades e limites inerentes à forma como elas incorporam elementos interdisciplinares, e em termos de como elas produzem conhecimento. As perspectivas e tipologias sociológicas sobre as formas de conhecimento e as mudanças nas disciplinas formam um pano de fundo para as discussões sobre a produção de conhecimento nos sistemas de ensino no século XXI, e isto ocorre de duas maneiras, como veremos a seguir. Diferenciação, muito utilizada entre STEM e HASS, também ignora as grandes diferenças entre as disciplinas e subdisciplinas. 111 Capítulo 4 Contextos Atuais e Desafios Sobre o Conhecimento na Escola Em primeiro lugar, este é um período de agitação e mudança na governança das instituições de ensino de todos os níveis, especialmente das universidades, e nas estruturas de financiamento associadas a elas. Se existem algumas diferenças importantes nas formas de conhecimento promovidas através de diferentes disciplinas – no que é necessário como estudo fundamental, ou em sua forma de desenvolvimento durante o ciclo educacional, ou na forma de publicação que melhor represente suas realizações –, isso é provável ser uma questão em que as universidades passem a adotar avaliações de produtividade uniformes, semelhantes a modelos, ou reformas curriculares abrangentes. Em segundo lugar, por sua natureza, as tipologias são formas rudimentares de entender o que é importante em um campo. Por exemplo, poderíamos perguntar como professores e pesquisadores de campos disciplinares distintos veem seus campos hoje – em que sentido eles entendem isso como hierárquico ou horizontal, os tipos de coisas que eles veem como fundamentais, como eles pensam e trabalham em um fluxo de nova especialização, diferenciação e desdiferenciação. A literatura sociológica sobre disciplinas concentrou-se tanto no aspecto social quanto no epistemológico e, na maioria dos casos, chamou a atenção tanto para o que é produtivamente avançado pelas formas disciplinares de investigação e relações sociais, como também reconheceu os elementos conservadores que estão associados a estas formas (ABBOTT, 2002). Uma questão importante que ficou evidente nos debates do Ensino Superior no século XXI, sinalizada no tópico anterior sobre o conhecimento do “Modo 2”, tem sido a extensão em que disciplinas, como história e física, por exemplo, devem manter seu lugar como um importante fundamento e fluxo especificado de estudo. Os departamentos tradicionais baseados em disciplinas são importantes, ou faz sentido transformá-los de novas maneiras – por exemplo, como “ciência dos materiais” ou “nanotecnologia” – ou enquadrá-los em termos de tópicos ou desafios sociais? (WEINGART; PADBERG, 2014). Essas questões foram um foco de interesse em uma conferência sobre o futuro da universidade realizada nos EUA no início deste século (BRINT, 2002). Abbott (2002) argumentou, nesta conferência, que, apesar dos novos desafios e interesses investidos nos departamentos disciplinares que formavam o coração das universidades americanas, estes provavelmente persistiriam porque, além de seus interesses pessoais em autoperpetuar, formam modos de administrar e enfocar a investigação que permite que formas mais poderosas de compreensão se desenvolvam. O autor argumentou também que as disciplinas proporcionam um conhecimento “problema-portátil” em contraste com um currículo “problema- focado”, cujo aprendizado seria de natureza mais aplicada a curto prazo, menos profundo e menos duradouro em relação a novos problemas. As tipologias são formas rudimentares de entender o que é importante em um campo. 112 A PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO NO AMBIENTE ESCOLAR Todavia, mais ou menos uma década depois, muita coisa mudou nas instituições de ensino,e principalmente nas universidades, em todo o mundo, e mais mudanças parecem estar em andamento. Ressaltamos, portanto, a necessidade de inquirir como os profissionais educadores e pesquisadores veem a forma e o lugar de seus campos disciplinares. Seria importante que fossem preservados em sua forma tradicional como algum tipo de suporte para novas atividades colaborativas? As disciplinas estão mudando ou sendo forçadas a mudar à medida que as instituições de ensino enfrentam um novo fluxo de alunos e novos tipos de demandas sobre o que elas produzem para esses alunos? 8 O Currículo Escolar Historicamente, tem havido considerável variação nacional e filosófica nas abordagens escolares ao conhecimento e aos propósitos da escola, incluindo experimentos com diferentes formas de pedagogias progressistas ou radicais ou comportamentalistas. No entanto, os debates sobre como dar sentido a quais fundamentos importantes para os jovens de hoje ganharam nova vida nas últimas décadas, na esteira dos desdobramentos observados na primeira parte deste capítulo e diante de um apelo cada vez maior sobre o que as escolas deveriam ensinar ou ser responsáveis. Em contraste às instituições de Ensino Superior, o escopo geral e a forma do que é mandatório é uma questão-chave para as escolas. Há muita preocupação sobre como responder aos desenvolvimentos rápidos em conhecimento e tecnologias, à explosão do conhecimento e às novas maneiras pelas quais as pessoas no século XXI podem trabalhar, viajar e se envolver com outras pessoas. Argumentos sobre o currículo superlotado, as possibilidades e o significado dos computadores, que conhecimento ou habilidades devem ser considerados fundamentais, sustentam uma miríade de revisões e reformas do currículo em todo o mundo. Uma abordagem para transpor essas grandes mudanças no mundo e o problema do “currículo superlotado” é encontrar um tipo diferente de concepção básica para o currículo e sua estrutura, em vez de tentar alterar ou elaborar o currículo passado e os assuntos que ele continha. Várias versões diferentes foram oferecidas – chamadas de “capacidades”, “competências”, “aprendizagens essenciais”, “habilidades do século XXI”, “novos fundamentos” e muito mais (LOPES; MACEDO, 2013; CARBONELL, 2016). Existem diferenças significativas entre essas abordagens – por exemplo, podemos ter a abordagem focada em capacidades que estão relacionadas ao Tem havido considerável variação nacional e filosófica nas abordagens escolares ao conhecimento e aos propósitos da escola. Há muita preocupação sobre como responder aos desenvolvimentos rápidos em conhecimento e tecnologias. 113 Capítulo 4 Contextos Atuais e Desafios Sobre o Conhecimento na Escola amplo corpo de trabalho de Amartya Sen sobre direitos humanos (SEN, 2000, 2001; NUSSBAUM; SEN, 2010), enquanto parte da literatura de competências é derivada de relatórios setoriais encomendados sobre o que os empregadores esperaram dos trabalhadores, mas, em linhas gerais, essas várias linhas de pensamento começam tentando identificar qualidades do cidadão/trabalhador que serão eficazes no século XXI e construirão o currículo sobre elas, ou tentando buscar semelhanças ou maior integração de habilidades e capacidades que estão dentro do currículo baseado em disciplinas, e focar diretamente nessas capacidades ou habilidades como uma maneira de dar coerência e mais unidade ao que as escolas devem fazer. Várias linhas de pensamento começam tentando identificar qualidades do cidadão/trabalhador que serão eficazes no século XXI e construirão o currículo sobre elas. Assista ao vídeo O currículo precisa preparar os alunos para a vida, que apresenta uma entrevista, durante o Seminário Internacional sobre a Base Nacional Comum, com o CEO da Curriculum Foundation. Disponível em: <https://www.youtube.com/ watch?v=NW9itH3AgC0&t=22s>. De passagem, devemos observar aqui que a ideia de um currículo “tradicional” (baseado em disciplinas/conteúdos) pode ser enganoso. Existem variações nacionais e locais de quais foram as normas em termos da variedade de assuntos comumente incluídos (LOPES; MACEDO, 2013; TRÖHLER, 2016). Algumas disciplinas escolares estão intimamente ligadas a disciplinas universitárias ou de pesquisa com o mesmo nome, outras têm uma filiação mais frouxa com diferentes propósitos. Em muitos países, por exemplo, o conteúdo disciplinar nominado pela língua nacional (por exemplo, língua portuguesa, língua inglesa, língua espanhola) tem um propósito mais amplo e diferente daquele da disciplina de graduação do mesmo nome – incluindo elementos de educação cívica, além de alfabetização básica e introdução a estudos de literatura. A disciplina escolar de mesmo nome pode não incluir ou pode resistir a mudanças agora consideradas convencionais na disciplina cognata do ensino superior. Em alguns lugares, por exemplo, a filosofia, a psicologia ou os estudos de tecnologia podem ser um conteúdo duradouro para os alunos no ensino básico, e em outros lugares são somente encontrados no Ensino Superior. Neste capítulo, somente poderemos apontar que questões de escopo geral do currículo (abrangência) e sua estrutura influenciam diretamente no conhecimento 114 A PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO NO AMBIENTE ESCOLAR que é produzido em todos os níveis de ensino. Por exemplo, se pensarmos nas disciplinas de história e de física, como esses dois conteúdos são inclusões duradouras no currículo do ensino básico, como também do Ensino Superior e na pesquisa universitária, a questão de como professores e acadêmicos entendem os propósitos e formas dos conteúdos que ensinam – e o tipo de desenvolvimento necessário em diferentes níveis da educação – é algo que deve ser investigado. Comumente, as reformas curriculares escolares não são simplesmente elaboradas por especialistas em disciplinas ou conteúdos, mas têm uma participação profissional, comunitária ou política mais ampla. Tais reformas geralmente tentam acomodar uma avaliação voltada para fora, para o que é importante para os alunos além da escola, bem como alguma representação do que é importante dentro dos conteúdos (BELTRÁN LLAVADOR, 1991; LOPES; MACEDO, 2013). As propostas em mudanças e reformas dos currículos nos sistemas de ensino podem desenvolver-se a partir de abordagens bem diferentes, mesmo tendo uma mesma finalidade, como a de fundamentar um currículo em “aprendizagens essenciais”. Por exemplo, já houve tentativas de construir propostas curriculares de baixo para cima, a partir de consultas comunitárias sobre quais conhecimentos ou habilidades são importantes hoje em dia. Por outro lado, a busca pelos padrões essenciais de aprendizagem pode representar uma tentativa profissional de mapear habilidades e processos subjacentes como uma matriz entre as diferentes disciplinas e campos de estudo (BELTRÁN LLAVADOR, 1991; LOPES; MACEDO, 2013). Portanto, nomes de propostas semelhantes podem ter subjacente tipos muito diferentes de abordagens à questão do currículo escolar. A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) também patrocinou uma série de relatórios relacionados com as “habilidades do século XXI” (OCDE, 2005). Em outro lugar, um consórcio internacional de acadêmicos e grandes empresas de tecnologia (CISCO, Intel e Microsoft), liderado por Patrick Griffin (GRIFFIN et al., 2012), vem desenvolvendo protocolos e materiais relacionados a como avaliar e medir habilidades do século XXI como equipes, resolução de problemas e afins. Comumente, o trabalho nesse modo faz referência aos tipos de contexto emmudança que foram descritos no início deste capítulo e pressupõe um mundo onde haverá considerável mobilidade global e onde o futuro trabalhador precisará ser flexível e aprendente vitalício (COLOMBO, 2011). Em uma perspectiva histórica sobre as abordagens adotadas pelos diferentes países no globo (BELTRÁN LLAVADOR, 1991; LOPES; MACEDO, 2013), podemos identificar que houve revisões e reformas curriculares muito frequentes no final do século XX e início do século XXI. As propostas em mudanças e reformas dos currículos nos sistemas de ensino podem desenvolver- se a partir de abordagens bem diferentes. Houve revisões e reformas curriculares muito frequentes no final do século XX e início do século XXI. 115 Capítulo 4 Contextos Atuais e Desafios Sobre o Conhecimento na Escola Alguns países mantiveram uma estrutura bastante tradicional do currículo escolar baseada em disciplinas, alguns tentaram formas importantes de alternativas não baseadas no conteúdo e muitos incluíram alguns elementos de ambos. Na prática, muitos planos curriculares formais hoje tentam incluir tanto algumas especificações baseadas em disciplinas quanto em domínios, e algumas habilidades ou rastreamento de capacidades, muitas vezes expressas como uma matriz. Em resumo, uma das grandes questões para o currículo escolar nos últimos tempos tem sido “qual conhecimento é importante atualmente?”. Isto tomou a forma de tentar adicionar disciplinas (por exemplo, estudos de computação, ou disciplinas de linguagem diferentes) ou disciplinas transversais, para mudar o conteúdo de disciplinas tradicionais (por exemplo, em relação ao ambiente, ou para um foco mais internacional) ou para focalizar uma série de competências ou habilidades ou capacidades como questões centrais, mas qualquer que tenha sido a direção tomada, dois temas foram frequentemente observados. Um é o problema de um “currículo superlotado” – em que a expansão do que se pretende cobrir é minada pela impossibilidade de se fazer isso de maneiras não superficiais; o segundo é a questão dos professores e da prática curricular. Propostas para grandes mudanças no currículo (por exemplo, afastar-se de uma estrutura disciplinar no Ensino Médio) muitas vezes ignoram as identidades e experiências profissionais existentes dos professores quando introduzem grandes mudanças com pouco tempo e apoio aos professores. 9 Trazendo de Volta o Conhecimento Do ponto de vista sistêmico, o currículo escolar, em todos os níveis de ensino, é construído para servir a uma função social em relação à população, preparando as pessoas para sua vida futura e coletivamente para o que é visto como necessidades da nação. Nos países democráticos, a questão das desigualdades e oportunidades promovidas pelo currículo tem sido uma das principais preocupações e tornou-se tema central da sociologia da educação. Entretanto, nos últimos tempos, uma linha de estudos denominada de Realismo Social emergiu na sociologia da educação e argumenta que o papel do conhecimento das escolas e das instituições de Ensino Superior tem sido inadequadamente priorizado, tanto na ampla literatura de pesquisa da sociologia da educação quanto na reforma curricular, mediado por agendas políticas e vários grupos de interesse: Qual é o conhecimento importante que os alunos devem poder adquirir na escola? Se, como teóricos do currículo, não podemos responder a essa pergunta, não está claro quem pode, e é mais provável que ela seja deixada para as decisões pragmáticas e ideológicas de administradores e políticos (YOUNG, 2013, p. 103). Uma das grandes questões para o currículo escolar nos últimos tempos tem sido “qual conhecimento é importante atualmente?”. O currículo escolar, em todos os níveis de ensino, é construído para servir a uma função social em relação à população. 116 A PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO NO AMBIENTE ESCOLAR Em um corpo de trabalho que começou amplamente no final da década de 1990, um número de sociólogos argumentou que a corrente dominante da sociologia da educação que se preocupa com desigualdades e reprodução na educação tem se enganado, tanto em sua descrição inadequada do conhecimento em si quanto na sua incapacidade de impactar a desigualdade via educação. A abordagem do realismo social parece ter iniciado com um artigo de Moore e Muller (MOORE; MULLER 1999), e uma subsequente elaboração em artigos e livros deles e de outros autores (MOORE, 2007; MORGAN, 2014; MULLER, 2000; YOUNG; MULLER, 2013), mas também adquiriu especial destaque com a publicação de um livro de Michael Young (2008), Bringing knowledge back in (Trazendo de volta o conhecimento). Este livro foi particularmente proeminente porque Michael Young era bem conhecido como o editor de uma publicação anterior de 1971, Conhecimento e Controle, um dos textos marcantes sobre o foco na política do conhecimento no currículo e que se tornou agora o assunto de sua crítica e retratação. Assista ao vídeo Construindo uma Base Curricular Comum, com o pensador Michael Young, em sua participação no seminário Construindo uma Base Nacional Comum. Disponível em: <https:// www.youtube.com/watch?v=Q9ZH4AcW0y0>. Em certo sentido, a alegação de que o conhecimento está sendo negligenciado pode parecer estranha. Do que se tratam todas essas avaliações e reformas curriculares se não sobre o conhecimento? E pode parecer bastante exagerada, dado que apesar de todo repensar evidente nos debates discutidos anteriormente, muitos comentaristas afirmam que a educação foi mais distinguida por sua continuidade reconhecível do que por sua diferença dramática, e que os professores, pelo menos no ensino básico, e os acadêmicos são ainda amplamente ensinados e comprometidos com assuntos e disciplinas particulares e com o conhecimento associado a eles, mas os argumentos feitos no corpo desta abordagem do “realismo social” estão relacionados à perda da “voz do conhecimento” e não são simplesmente superficiais. Eles desafiam algumas outras linhas de pensamento sobre o papel da educação hoje. Para começar, eles desafiam os sociólogos que veem o currículo escolar apenas como um sistema de mensagens (transmitindo mensagens sobre quem é importante ou sobre sexismo ou racismo, por exemplo). Os sociólogos realistas Os argumentos feitos no corpo desta abordagem do "realismo social" estão relacionados à perda da "voz do conhecimento". 117 Capítulo 4 Contextos Atuais e Desafios Sobre o Conhecimento na Escola sociais argumentam que as consequências dessa perspectiva são que ela pode identificar o que a escola pode estar fazendo mal, mas poderia fazer mais do que substituir por outras mensagens mais positivas. Todavia, eles argumentam que o potencial do conhecimento, em relação às mensagens, não é reconhecido por meio de tal abordagem. Isso levanta a preocupação de que a educação continue a ser esperada por assumir a responsabilidade por uma gama ilimitada de coisas e práticas sociais que são consideradas problemáticas. Um pano de fundo para os debates aqui são os desafios para as políticas de conhecimento associadas aos movimentos sociais da segunda metade do século XX: feminismo da segunda onda, movimentos antirracistas e pós- coloniais, movimentos pelos direitos das pessoas com deficiência e estudos do gênero. Resumindo, esses movimentos não apenas fizeram afirmações sobre sua opressão ou marginalização na sociedade, mas identificaram conhecimento, linguagem e currículo, como um elemento-chave nessa opressão. A sociologia da educação tornou-se particularmente interessada no currículo como um “sistema de mensagem”, em quetanto a seleção do conhecimento quanto a forma do que era considerado conhecimento avançado em comparação com o conhecimento de baixo status contribuíam para a perpetuação das elites. A ação curricular associada a essas preocupações assumiu várias formas. Incluiu o desenvolvimento de novos temas (Estudos de Gênero, Estudos Indígenas) e diferentes seleções do que deveria ser ensinado dentro dos assuntos (história social e movimentos populares, em vez de história política, por exemplo); textos diferentes para as aulas de ciências, tornando a presença das mulheres cientistas mais visível, mas incluiu argumentos muito mais abrangentes sobre as formas de conhecimento que estavam sendo valorizadas na escola. Bourdieu e Passeron (1982) argumentaram que o conceito de racionalidade valorizado na escola era tendencioso, aumentando as chances de que os estudantes da classe trabalhadora, mulheres e minorias pudessem ser reconhecidos como “sujeitos racionais” adequados. A sociologia da educação tornou- se particularmente interessada no currículo como um "sistema de mensagem". Assista à entrevista com Pierre Bourdieu, realizada em 2000, pelo Canal Universitário com apresentação da antropóloga Maria Andrea Loyola (UERJ). Disponível em: <https://www.youtube.com/ watch?v=F2WXVTdfAOk>. 118 A PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO NO AMBIENTE ESCOLAR Richard Teese (2000), seguindo Bourdieu, sugeriu que o tipo de disposição necessária para comprometer-se com o conhecimento mais valorizado pelas escolas (por exemplo, as formas mais abstratas de física e similares) era o que tornava mais impossível o sucesso para os estudantes da classe trabalhadora. Grande parte desse trabalho assumiu uma postura crítica, com o objetivo de expor a injustiça e os efeitos negativos do que o currículo fez, em vez de promover diretamente práticas diferentes. Onde as alternativas eram defendidas, elas estavam preocupadas em mostrar maneiras para os estudantes em grupos marginalizados "resistirem" às formas dominantes, ou com o objetivo de ensinar "pedagogia crítica" de vários tipos, para que os estudantes pudessem identificar a política naquilo que contava como conhecimento. Muitas abordagens enfatizaram a necessidade de se concentrar nos próprios entendimentos dos alunos sobre seu mundo e construir a partir disso. Ao mesmo tempo, um movimento semelhante para concentrar mais as discussões curriculares escolares nos alunos e sua aprendizagem e menos na seleção e prescrição do currículo também foi construído a partir de outra fonte não diretamente política: um interesse pelas teorias construtivistas da aprendizagem e a ideia de um aprendente ativo em vez de corpos de conhecimento como centrais para o processo da educação (HATTIE, 2008). Em suma, o argumento associado ao “realismo social”, “trazer o conhecimento de volta” e “conhecimento poderoso” (MULLER, 2000; MOORE, 2013; YOUNG, 2008, 2011, 2013, 2016) foi que os sociólogos da educação ficaram muito preocupados em rastrear a quem representa o conhecimento no currículo, à custa de que tipo de conhecimento/desenvolvimento intelectual os estudantes estavam tendo acesso. Eles argumentam que o foco no construtivismo social, na diferença, nos resultados, na relevância e competências sociais, ofereceu a todos os alunos (mas especialmente àqueles de menor nível socioeconômico) acesso a uma forma de educação empobrecida. Subjacente a isso, havia alegações de que a ideia de que o conhecimento estava irremediavelmente ligado à política e aos interesses de grupos estava errada. Mas os argumentos realistas sociais também criticavam a visão extremada positivista de que o conhecimento é algo fora da atividade social humana e imutável. Em vez disso, o tipo de conhecimento que tem sido associado às disciplinas é visto como de origem social, mais organizado, focado e refinado ao longo do tempo, de uma forma que lhe confere uma força epistêmica e um poder particulares. Diferentes grupos sociais podem ter mais capital de conhecimento desse tipo do que outros, mas é uma associação contingente, não uma característica inerente dessa forma de conhecimento poderoso ou mais confiável em si. O tipo de conhecimento que tem sido associado às disciplinas é visto como de origem social. 119 Capítulo 4 Contextos Atuais e Desafios Sobre o Conhecimento na Escola O argumento "realista social" aplicado às disciplinas é que estas são, na origem, socialmente construídas (nesse sentido, não essencialistas ou realistas) e, portanto, falíveis. Entretanto, foram desenvolvidas, desafiadas, estendidas de forma disciplinada, por uma comunidade disciplinar e processos organizados ao longo do tempo, e ao fazê-lo, construíram um poder epistemológico e autoridade diferente do conhecimento "voltado para o exterior", que é orientado para processos genéricos e problemas concretos. Para obter acesso a essa maneira mais poderosa e confiável de compreender o mundo, é necessário aprender o foco, as metodologias e o modo de proceder dessas formas disciplinadas de conhecimento, em vez de apenas escolher partes e fragmentos que possam parecer relevantes para o que os alunos estão interessados . Em resumo, esta abordagem está formulando a seguinte alegação sobre o conhecimento e o currículo escolar: (1) o desenvolvimento do conhecimento, em vez de uma ampla gama de propósitos sociais, deve ser reconhecido como a tarefa central do que a educação faz; (2) o que se entende por conhecimento é o tipo de formas poderosamente refinadas de compreensão, contidas em disciplinas/conteúdos, como matemática, ciência, história, literatura, música (contrastando, por exemplo, com aprendizagem de “habilidades de comunicação” ou “competências voltadas ao trabalho” e similares); (3) levar a sério o valor dessas formas de conhecimento tem implicações para a estrutura e sequenciamento dos sujeitos que as representam; e (4) as desigualdades e diferenças entre os alunos são desafios reais para as escolas, mas essa é uma questão pedagógica para estas instituições, e não um motivo para evitar a tarefa central de dar aos alunos acesso às formas de conhecimento que não obteriam de outra forma (YOUNG et al., 2014; YOUNG, 2000, 2011, 2016). Estes argumentos atraíram alguma atenção favorável no Brasil (MOREIRA, 1990), no Reino Unido e outros países da Europa (BECK, 2013; PRIESTLY; SINNEMA, 2014), África do Sul (SHAY, 2012), Austrália (WHEELAHAN, 2010) e Nova Zelândia (RATA, 2012). Os autores que responderam criticamente alegaram que esses argumentos sobre o conhecimento são de fato conservadores, muito ligados a tradições específicas do Ocidente e não abordam formas mutáveis de conhecimento dentro das disciplinas existentes ou através delas (BALARIN, 2008; YATES, 2009). Os críticos continuaram a argumentar que a desigualdade e a diferença entre os estudantes, na prática, serão reproduzidas se esses argumentos forem abordados (WHITTY, 2010). E eles apontam também que os argumentos que estão sendo feitos no trabalho de Moore, Muller e Young podem ter valor em alguma reformulação ampla da discussão ("trazendo o conhecimento de volta"), mas deixam muitas questões específicas não bem tratadas (por exemplo, a relação entre conteúdos escolares e “disciplinas” e a questão sobre o que importa agora com mudanças significativas no interior das disciplinas). Essas perguntas são centrais para compreendermos os contextos atuais e os desafios sobre o conhecimento na escola. É necessário aprender o foco, as metodologias e o modo de proceder dessas formas disciplinadas de conhecimento. O que se entende por conhecimento é o tipo de formas poderosamente refinadas de compreensão, contidas emdisciplinas/ conteúdos. 120 A PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO NO AMBIENTE ESCOLAR Uma outra questão é a linha excessivamente aguda que essa abordagem de raciocínio "realista social" parece estabelecer entre o papel do conhecimento na educação e seu papel de formação social ou pessoal. Embora os argumentos realistas sociais enfatizem a necessidade de aprender sobre disciplinas e modos de investigação, não apenas tratam o currículo como um sistema de mensagens. Isso não implica que as mensagens refletidas na seleção de tópicos e afins sejam irrelevantes – por exemplo, se as mulheres são visíveis em materiais científicos; que história da nação e do mundo é transmitida no currículo de história; e similares. Estas questões são potencialmente relevantes para a forma como diferentes grupos de alunos se envolvem na produção de conhecimento e para quais tipos de entendimentos cívicos são formados. Atividades de Estudos: 1) Um grupo de sociólogos publicou em 1994 um livro cuja discussão envolvia a nova produção de conhecimento, impactando na dinâmica da ciência e da pesquisa nas sociedades contemporâneas. Nesse contexto, apresentaram dois tipos de produção de conhecimento, a do “modo 1” e do “modo 2”. Explique a diferença entre a produção de conhecimento entre cada um dos modos: ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 2) Considerando uma perspectiva histórica sobre as abordagens adotadas pelos diferentes países na questão da produção do conhecimento, podemos identificar que: 121 Capítulo 4 Contextos Atuais e Desafios Sobre o Conhecimento na Escola Agora assinale V para verdadeiro e F para falso: ( ) Houve revisões e reformas curriculares muito frequentes no final do século XX e início do século XXI. ( ) Alguns países mantiveram uma estrutura bastante tradicional do currículo escolar baseada em disciplinas. ( ) Alguns países tentaram formas importantes de alternativas não baseadas no conteúdo, e muitos incluíram alguns elementos de ambos. ( ) Muitos planos curriculares formais hoje tentam incluir tanto algumas especificações baseadas em disciplinas quanto em domínios, e algumas habilidades ou rastreamento de capacidades, muitas vezes expressas como uma matriz. Agora assinale a opção correta: a) V, V, V, V. b) F, F, V, V. c) V, F, V, V. d) F, V, F, F. 10 Algumas Considerações Neste capítulo, apresentamos algumas das reflexões sobre o conhecimento, as disciplinas, o papel e conteúdos escolares em todos os níveis de ensino que estão formando um contexto para as práticas atuais. Mas há sérias preocupações também sobre o valor de campos disciplinares específicos na educação escolar, assim como preocupações sobre como as mudanças que estão ocorrendo podem afetar o sucesso acadêmico e a produção de conhecimento dos aprendentes. Além disso, neste capítulo vimos que os pesquisadores que estudaram disciplinas (e a interdisciplinaridade) reconhecem algumas características distintamente diferentes de como diferentes campos são constituídos, e que esta é uma questão potencial para um período que visa direcionar a produção de conhecimento educativo de forma mais deliberada. Nas escolas, a questão 122 A PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO NO AMBIENTE ESCOLAR da diferença entre estudantes, a desigualdade e o que o currículo deve fazer em relação a tudo isso são questões-chave, repetidamente revividas. Contudo, percebemos fortes impulsos em direção a um sentido de novos tempos que exigem novas abordagens organizacionais se as escolas e as instituições de Ensino Superior quiserem aproveitar as possibilidades das novas tecnologias, novos conhecimentos e novos desafios das sociedades humanas. Referências ABBOTT, A. The disciplines and the future. In: BRINT, S. (Ed.). The future of the city of intellect: the changing american university. Stanford: Stanford University Press, 2002, p. 205-230. ______. Chaos of disciplines. Chicago: The University of Chicago Press, 2001. APPADURAI, Arjun. Dimensões culturais da globalização: a modernidade sem peias. Trad. Telma Costa. Lisboa: Teorema, 2004. BALARIN, M. Post-structuralism, realism and the question of knowledge in educational sociology: a Derridian critique of social realism in education. Policy Futures in Education, v. 6, n. 4, p. 507-527, 2008. BECHER, T. 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