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História da Educação como disciplina curricular e como disciplina científica Nailda Marinho 2 • História da Educação como disciplina curricular e como disciplina científica • • Meta Apresentar a História da Educação como disciplina curricular e como disciplina científica que estuda a Educação numa abordagem histórica e que já constitui uma historiografia. Objetivos Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de: 1. apontar as diferenças e semelhanças entre a ciência da História e a História da Educação; 2. identificar elementos que aproximam e/ou distanciam a História da Educação como disciplina curricular, a História da Educação como disciplina científica e sua importância para compreensão do fenômeno educativo. 3 História da Educação Por que estudar História da Educação? Esta é a primeira aula da disciplina História da Educação. Para seu me- lhor entendimento, ela foi construída em cinco seções, a saber, Educa- ção, História e História da Educação; História da Pedagogia e/ou His- tória da Educação; a História da Educação como disciplina escolar; a História da Educação como disciplina científica: campo de estudos e pesquisas; o que é Historiografia da Educação? Veja que estamos falan- do de História da Educação e não de História na Educação, também disciplina do currículo do curso que você está fazendo. Assim sendo, nesta aula, você estudará a História da Educação como disciplina curri- cular necessária à formação de professores e de pedagogos, mas também como disciplina cientifica, ou seja, como campo de conhecimento, de estudos e pesquisas da área de Educação, entendendo que a primeira não prescinde da segunda e vice e versa. Você deve estar se perguntando: Por que estudar História da Educação num curso de Licenciatura em Pedagogia? O que é História da Edu- cação e o que ela estuda? Estudar História da Educação significa estu- dar também a História da Pedagogia? As respostas para estas perguntas você encontrará nesta aula. Para começar a responder, recorro a Adair Ângelo Dalarosa (1999), que escreveu o artigo “Anotações à questão para que estudar História da Educação”, a partir de sua experiência como professor de História da Educação, tendo em vista as preocupações manifestadas por seus alunos durante suas aulas. Neste artigo, o autor coloca que constantemente busca-se, no estudo da História da Educação, um retorno ao passado, na tentativa de explicá-lo ou entendê-lo. Para esse autor, este estudo é muito fragmentado e cita como exemplo o estudo da história da Educação na Grécia, em Roma, nas Idades Média, Moderna e Contemporânea. No Brasil, podemos ci- tar o estudo da Educação nos seus vários períodos históricos como Co- lônia, Império e República. De forma crítica, Dalarosa entende que uma história nesse tipo de periodização é feita na ótica dos governantes, é uma história dos grandes acontecimentos, dos grandes feitos. Assim, os conteúdos ministrados por essa ótica acabam por apresentar e defender a história dos “vencedores”, dos “heróis”, perdendo de vista que “Pensar e repensar as condições históricas é também o papel da Educação e do educador, de modo especial, do historiador da Educação” (p.46), diz o autor. Para ele: 4 • História da Educação como disciplina curricular e como disciplina científica • • É fundamental estudar a história da Educação, atentando-se para alguns pontos fundamentais no que se refere ao papel desempenhado pela Educação nas diferentes organizações da sociedade: a relação entre Estado e sociedade civil, o papel do Estado e sua representatividade, o modelo educacional desen- volvido para os trabalhadores e o modelo desenvolvido para as elites e o ideal de homem cidadão. [...] Por todas estas questões levantadas, entendemos que não faz sentido estudar a história da Educação como sendo algo descolado da realidade, distan- te e sem sentido para nossa atividade diária de educadores. É preciso buscar o significado de cada acontecimento histórico dentro do conjunto de situações que determinaram cada con- texto do qual a Educação é produto. Produto social, portan- to, e que traz consigo as próprias contradições da sociedade. (DALAROSA, 1999, p.47) Este livro, como você pode observar no seu sumário, quando da sua construção, foi dividido em duas partes e, talvez contrariando o que diz, é apenas uma introdução ao estudo da História da Educação. A partir da Aula 2, dispomos os conteúdos cronologicamente. Apesar de outras periodizações serem possíveis, acreditamos que desta forma ficará mais fácil para a sua compreensão. Assim, tentando que o con- teúdo do curso de Pedagogia a Distância não perca em quantidade e qualidade, este livro foi produzido com quinze aulas, estruturado em duas partes: • 1ª parte: História da Educação: geral, composta de oito aulas; • 2ª parte: História da Educação: Brasil, composta de sete aulas. Mas o que estamos denominando História da Educação? A resposta a esta pergunta, pretendo esclarecer a seguir. Para começar, digo que a História da Educação tem se configurado como docência/ensino e como pesquisa científica. Como docência/ensino refere-se à História da Educação como disciplina de um curso como este que você está fazendo - de Licenciatura em Pedagogia. Como pesquisa científica, busca a interpretação das fontes para melhor conhecer o passado educacional, não para “copiá-lo ou negá-lo”, mas para ampliar nos- sos conhecimentos e a capacidade de análise crítica da Educação do tempo presente. Pensar o passado “não é um exercício de saudosismo, curiosidade ou erudição: o passado não está morto, porque nele se fundem as raízes do passado e do presente”, diz Maria Lúcia de Arruda Aranha (2006, 5 História da Educação p.19). Conforme esta autora, o fenômeno educacional se desenrola no tempo e faz parte da nossa história. Portanto, a História da Educação não é apenas uma disciplina escolar presente no currículo de um cur- so, mas é também uma abordagem científica da realidade educacional na perspectiva histórica. Educação, História e História da Educação Para que você entenda o que estamos chamando de História da Edu- cação, de início, é preciso apresentar os termos em separado. No Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa, encontramos nove definições para o termo Educação. Deles, destacamos sete, por se relacionarem com a Educação direcionada aos seres humanos, tendo em vista que os outros dois se referem à Educação dos animais e ao cultivo das plantas. Assim, temos Educação como: 1. Ato ou efeito de educar (se). 2. Processo de desenvolvimen- to da capacidade física, intelectual e moral da criança e do ser humano em geral, visando à sua melhor integração individual e social: Educação da juventude; Educação de adultos; Educação de excepcionais. 3. Os conhecimentos ou as aptidões resultantes de tal processo; preparo: É um autodidata: sua educação resul- tou de sério esforço pessoal. 4. O cabedal científico e os métodos empregados na obtenção de tais resultados; instrução, ensino: É uma autoridade em Educação, sendo seus livros largamente ado- tados. 5. Nível ou tipo de ensino: Educação primária; Educação musical; Educação sexual; Educação religiosa; Educação física. 6. Aperfeiçoamento integral de todas as faculdades humanas. 7. Conhecimento e prática dos usos de sociedade; civilidade, deli- cadeza, polidez, cortesia: Vê-se que é pessoa de muita educação. (...) (p. 619) Mas qual o papel da Educação na sociedade? Dalarosa (1999, p.45) entende que, historicamente, cabe à Educação “o papel de socializar e formar o indivíduo para viver em sociedade”. Porém, para este autor, “o ser humano vive em condições históricas determinadas”, assim sendo, ao “mesmo tempo em que faz a história, é também, “feito” por ela”. En- tão,é preciso conhecer o que é história. Conforme o Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa, História significa: 6 • História da Educação como disciplina curricular e como disciplina científica • • 1. Narração metódica dos fatos notáveis ocorridos na vida dos povos, em particular, e na vida da humanidade em geral: a his- tória do Brasil; história universal. 2. Conjunto de conhecimentos adquiridos através da tradição e/ou por meio dos documentos, relativos à evolução, ao passado da humanidade. 3. Ciência e mé- todo que permitem adquirir e transmitir aqueles conhecimen- tos. 4. O conjunto das obras referentes á história. 5. Conjunto de conhecimentos relativos a esta ciência, ou que tem implicações com ela, ministrados nas respectivas faculdades: estudante de história. 6. Tratado ou compêndio de história. 7. Exemplar de um desses compêndios. 8. Estudo das origens e processos de uma arte, uma ciência ou de um ramo do conhecimento: história da pintura, história da medicina. 9. Narração de acontecimentos, de ações, em geral cronologicamente dispostos: a história das via- gens do Capitão Cook; a história de Napoleão (...). (1993, p.901) Junto a essas definições, o dicionário apresenta mais oito. Mas, de todas as definições trazidas, destaco, a princípio, a história entendida como narração de acontecimentos, de feitos, de ação, de sujeitos. Neste sentido, Aranha (2006) nos apresenta Heródoto de Halicarnasso, grego nascido na Jônia no século V a.C, que escreveu o livro “Histórias”. Nes- ta obra, procurou relatar os grandes eventos praticados pelos gregos e pelos bárbaros, além dos conflitos entre esses dois povos, para que não fossem esquecidos. “Naquele tempo, o termo grego historiê significava na verdade “investigação”, tendo por base o próprio testemunho de al- guém ou o relato oral de outras pessoas” (p.21). Sendo assim, Heródoto ficou conhecido como o “Pai da História”. Figura 1.1: Heródoto (484–425 a.C.). Grego que escreveu o livro “Histórias”. Fonte: http://en.wikipedia.org/wiki/ Herodotus#mediaviewer/File:Herodotos_ Met_91.8.jpg 7 História da Educação Após você ter conhecido o “Pai da História”, podemos voltar às de- finições do dicionário. Ele, como você pode ler, apresenta ainda que a história é entendida como o estudo das origens e processos de uma arte, uma ciência ou de um ramo do conhecimento. Assim, exemplifica com a história da pintura e a história da medicina, e a estas duas acrescento a História da Educação. José Claudinei Lombardi, no artigo História e historiografia da Edu- cação no Brasil, diz que, de acordo com o Dicionário de Filosofia, de Nicola Abbagnano, o termo história registra uma ambiguidade. Assim, se por um lado história: significa o conhecimento dos fatos ou a ciência que estuda os acontecimentos no tempo, em latim historia rerum gestarum; por outro, o termo história significa os próprios fatos ou a totalidade deles, em latim historia res gestae. Essa antiga ambiguidade ainda sobrevive em todas as línguas cultas modernas, inclusive o por- tuguês. (LOMBARDI, 2004, p.1) O autor informa ainda que, em nossa língua, tentou-se resolver essa ambiguidade que paira sobre o termo história, grafando a história rerum gestarum (a ciência que estuda os fatos) com H maiúsculo e a historia res gestae (o fato em si) com h minúsculo. Entretanto, se tal procedimento foi suficiente para esta diferenciação, a discussão possibilitou “que se pense que o termo [história] designa duas faces de uma mesma e úni- ca moeda, mas permanecendo a ambiguidade etimológica da palavra”. (LOMBARDI, 2004, p.2) Analisando as diferenças e afinidades entre a Ciência da História e a História da Educação em diversos aspectos, Lombardi alerta que o termo história não tem uma única definição. Entre outros, entende-se por história: os fatos ou acontecimentos, também, o campo de conhecimento que faz a narração metódica desses mesmos fatos: ainda, para designar o conjunto de conhecimentos sobre as transformações do passado; finalmente para referir-se ao conjunto das obras re- ferentes à história. (LOMBARDI, 2004, p.1) 8 • História da Educação como disciplina curricular e como disciplina científica • • Quanto à História da Educação, Lombardi afirma que esta tem como “objeto de investigação - a Educação -, a partir dos métodos e teorias próprias à pesquisa e investigação da Ciência da História” (2004, p.7). Mas por que é importante estudar História da Educação? Buscando esta compreensão, recorremos agora à Cynthia Greive Veiga, que se po- siciona da seguinte maneira: O conhecimento em história da Educação é altamente relevante para os estudos da sociedade de maneira geral. Podemos afir- mar que conhecermos os processos e as práticas históricas é fun- damental para ampliarmos nossa compreensão das maneiras, como, em tempos e espaços distintos, homens e mulheres or- ganizaram e organizam seus modos de aprender e de transmitir seus fazeres e saberes. (VEIGA, 2007, p. 10) Quem sabe, depois de tudo que você leu, não se anima e faz sua pes- quisa monográfica de final de curso abordando a História da Educação? Para estimulá-lo mais ainda, a seguir, falaremos da História da Pedago- gia e da História da Educação. História da Pedagogia e/ou História da Educação Há uma história da Pedagogia e uma história da Educação? Seria a História da Educação uma ciência auxiliar da Pedagogia? Do ponto de vista científico, poderíamos entender Pedagogia como a ciência da Educação? Para Aranha, (2006), conhecemos mais sobre a História da Pedagogia e de suas doutrinas pedagógicas do que propriamente das práticas de Educação. No jogo das definições, é preciso entender o que é Pedagogia. No Dicionário Aurélio, de referência, encontramos Peda- gogia assim definida: 1. Teoria e ciência da Educação e do ensino. 2. Conjunto de doutrinas, princípios e métodos de Educação e instrução que tendem a um objetivo prático. 3. O estudo dos ideais de Educa- ção, segundo uma determinada concepção de vida, e dos meios (processos e técnicas) mais eficientes para efetivar estes ideais. 4. Profissão ou prática de ensinar. (p.1290) 9 História da Educação Agora vejamos o que explica Franco Cambi sobre a história da “His- tória da Pedagogia” e a “História da Educação”: A história da pedagogia no sentido próprio nasceu entre os séculos XVIII e XIX e desenvolveu-se no decorrer deste último como pesqui- sa elaborada por pessoas ligadas à escola, empenhadas na organização de uma instituição cada vez mais central na sociedade moderna (para formar técnicos e para formar cidadãos), preocupadas, portanto, em su- blinhar os aspectos mais atuais da Educação-instrução e as ideias mes- tras que haviam guiado seu desenvolvimento. A história da pedagogia nascia como uma história idelogicamente orientada, que valorizava a continuidade dos princípios e dos ideais, convergia sobre a contempora- neidade e construía o próprio passado de modo orgânico e linear; pon- do particular acento sobre os ideais e a teoria, representada, sobretudo, pela filosofia. Tratava-se de uma história persuasiva, por um lado, e te- oreticista, por outro, sempre muito distante dos processos educativos reais, referentes às diversas sociedades, diferenciados por classes sociais, sexo, idade; distantes das instituições em que se desenvolviam (a famí- lia, a escola, a oficina artesanal e, em seguida, a fábrica, mas também o seminário ou o exército etc.); distante das práticas de Educação ou de instrução, das contribuições das ciências, sobretudo humanas, para o conhecimento dos processos formativos (em primeiro lugar, psicologia e sociologia). (...) (CAMBI, 1999, p.23-4) Ainda, conforme Cambi, é no século XX, mais especificamente a partir da década de 1940, após a segunda Grande Guerra Mundial, que vão surgir novas orientaçõeshistoriográficas também no campo peda- gógico, colocando em xeque alguns pressupostos do modo pelo qual vinha se fazendo a História da Pedagogia desde seu surgimento, entre os séculos XVIII e XIX. É a partir dos anos de 1970, que um novo modo de fazer a história dos eventos pedagógicos e educativos vai se consoli- dando, rompendo com o que então estava instituído. Dessa forma, vai se impondo uma pesquisa mais problemática e pluralista, podendo ser definida, então, como a História da Educação que toma “a noção de Educação, seja como conjunto de práticas sociais, seja como feixe de saberes”. (CAMBI, 1999, p.24) Para que você entenda melhor esta passagem da “História da Peda- gogia” para a “História da Educação”, na visão de Cambi, continue lendo o que ele diz: 10 • História da Educação como disciplina curricular e como disciplina científica • • Desde a metade dos anos 70, a passagem da história da Pedago- gia para uma mais rica e orgânica história da Educação tornou- -se explícita, insistente e consciente, afirmando-se como uma virada decidida e decisiva. E não se tratou de uma simples mu- dança de rótulo; pelo contrário: tratou-se de uma verdadeira e le- gítima revolução historiográfica que redesenhou todo o domínio histórico da Educação e todo o arsenal de sua pesquisa. Esque- matizando, podemos dizer: passou-se de um modo “fechado” de fazer história em Educação e pedagogia para um modo “aberto”, consciente da riqueza/complexidade do seu campo de pesquisa e da variedade/articulação de métodos e instrumentos que devem ser usados para desenvolver de modo adequado o próprio traba- lho. (CAMBI, 1999, p.24) Para saber mais sobre a História da Pedagogia, veja a obra de Francisco LARROYO, História geral da pedagogia. Tradução de Luiz Aparecido Caruso. 2ª ed. São Paulo: Editora Mestre Jou, 1974. Funcionará como um manual da História da Pedagogia, com uma abordagem rica sobre Educação. Com relação à pedagogia no Brasil, veja a obra de Demerval SA- VIANI. História das ideias pedagógicas no Brasil. Campinas, SP: Autores Associados, 2007. (Coleção memória da Educação). Esta obra apresenta as ideias pedagógicas desde 1549, durante o Brasil Colônia, até os anos 1990. Atividade 1 Atende ao Objetivo 1 Com base nas considerações trazidas nesta aula, discorra sobre as dife- renças e afinidades entre a História e a História da Educação. 11 História da Educação Resposta comentada O termo história não tem uma única e precisa definição, porém é co- mum se entender por História os fatos ou acontecimentos. Esses fatos ou acontecimentos também estão sujeitos a interesses contraditórios no tempo e no espaço da sociedade em que se vive. Nesse sentido, o fazer científico é permeado por concepções de mundo, de homem, de histó- ria, de política, etc. Não se coloca em dúvida que a História da Educação também possui um status científico. Possui afinidade com a História à medida que o historiador da Educação (investigadores-educadores especializados na História da Educação) utiliza os métodos e teorias próprios à pesquisa da Ciência da História. A diferença entre História e História da Educa- ção é que esta última apresenta em seu nome o tema de estudo de seu objeto de investigação: a Educação. É um campo científico que estuda a Educação numa abordagem histórica. Para alguns autores, não existe história da Educação, já que a Educação é parte integrante da história, mas a história não é da Educação. Mas também não existe história nem Educação sem a ação humana. Sen- do assim, historiadores e historiadores da Educação tratam da história tendo em vista a ação do homem no tempo, no caso do historiador da Educação - da ação do homem no tempo em relação à Educação. Dessa forma, há necessidade de uma convergência dos campos nos que diz respeito a teorias, métodos, abordagens, enfoques e fontes. 12 • História da Educação como disciplina curricular e como disciplina científica • • A História da Educação como disciplina escolar Conforme Diana Gonçalves Vidal e Luciano Mendes de Faria Filho (2005), em 1928, a disciplina História da Educação seria introduzida no currículo da Escola Normal do Distrito Federal (então Rio de Janei- ro), no bojo da Reforma de Fernando Azevedo da instrução pública do Distrito Federal, iniciada em 1927, que, entre outras ações, reorganizou o curso de formação para o magistério. De acordo com esses autores, a disciplina História da Educação surgia: no contexto das reformas [educacionais] que, nos anos 1920, pretendiam modificar a Educação nacional, introduzindo prin- cípios da escola ativa, posteriormente aglutinados em torno do ideal da Escola Nova, no ensino primário e elevando o prepa- ro docente pela ampliação e especialização do curso Normal. (VIDAL; FARIA FILHO, 2005, p.88). A História da Educação era ministrada no quinto ano do curso, ao lado de Sociologia, Higiene, Puericultura, Didática, Pedagogia e Trabalhos Ma- nuais. Entre os professores da nova disciplina na Escola Normal, no Rio de Janeiro, destaca-se Júlio Afrânio Peixoto, menos por isso do que por ter sido o autor do primeiro manual didático brasileiro sobre História da Edu- cação, publicado em 1933. (VIDAL; FARIA FILHO, 2005) Figura 1.2: Júlio Afrânio Peixoto (1876-1947). Professor de História da Educação do Instituto de Edu- cação do Rio de Janeiro em 1932 e um dos signatários do Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova. Puericultura Área médica que se dedica ao cuidado de crianças e adolescentes em desenvolvimento. Como disciplina da Escola Normal, tratava- se do ensino de um conjunto de preceitos higiênicos e técnicas da área médica empregadas para assegurar o perfeito desenvolvimento físico, mental e moral da criança, desde a gestação. Júlio Afrânio Peixoto (1876-1947) Médico formado pela Faculdade de Medicina da Bahia em 1897. Foi diretor da Escola Normal do Distrito Federal em 1915 e reformador da instrução pública da capital brasileira em 1916. Tornou-se professor de História da Educação do Instituto de Educação do Rio de Janeiro, em 1932 e, no mesmo ano, um dos signatários do Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova. Foi professor universitário, sendo catedrático de Higiene da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro e reitor da Universidade do Distrito Federal em 1935. 13 História da Educação Em 1932, outra reforma educacional, a empreendida por Anísio Tei- xeira, transformou a Escola Normal do Distrito Federal em Instituto de Educação, integrando a História da Educação à Filosofia da Educação como uma única disciplina curricular das escolas de formação para o magistério, denominada História e Filosofia da Educação. Fonte: https://www.flickr.com/photos/ secultba/8869852948/ Anísio Spínola Teixeira (1900-1971) formou-se em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade do Rio de Janeiro. Em 1929, obteve o título de Master of Arts pelo Teachers College da Co- lumbia University, em Nova York, onde foi aluno de John Dewey, sendo influenciado por suas ideias, divulgando-as no Brasil. Ele foi diretor de Instrução Pública do Distrito Federal (1931- 1935), signatário do Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova (1932), participou da Associação Brasileira de Educação (ABE) e criou a Universidade do Distrito Federal (UDF). Porém, em 1935, demitiu-se diante de pressões políticas. Se afastou da vida pública no Brasil até 1946, quando se tornou Conselheiro de Ensino Su- perior da UNESCO. 14 • História da Educação como disciplina curricular e como disciplina científica • • Em 1947, Anísio Teixeira volta ao Brasil para ocupar a Secreta- ria de Educação e Saúde da Bahia (1947-1951). Neste período, construiu em Salvador o Centro Popular de Educação CarneiroRibeiro (mais conhecido como Escola Parque), uma experiência de Educação integral. Em 1951, assumiu a Secretaria Geral da Campanha de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, transformada por ele em órgão, a CAPES. Em 1952, quando dire- tor do Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos (INEP), criou o Centro Brasileiro de Pesquisas Educacionais (CBPE) com cinco Centros Regionais. Anísio Teixeira foi eleito duas vezes presidente da SBPC e par- ticipou da discussão da LDBEN 4024/1961. Em 1957, publica “Educação não é privilégio”, tornando-se professor universitário da cátedra de Administração Escolar na Faculdade Nacional de Filosofia da Universidade do Brasil, hoje UFRJ. Junto com Darcy Ribeiro, foi um dos mentores da Universidade de Brasília (1961), sendo seu 2º reitor, em 1963. Durante o golpe militar de 1964, foi afastado novamente de suas funções públicas. A convite, ele viaja para os Estados Unidos para lecionar como “visiting scholar” (professor visitante). De volta ao Brasil, completa seu mandato no Conselho Federal de Educação (1962-1968), tornando-se consultor da Fundação Getúlio Vargas. Alguns estudos em História da Educação informam que a criação do curso de Pedagogia na Faculdade Nacional de Filosofia, em 1939, da Universidade do Brasil, hoje UFRJ, consolida a História e Filosofia da Educação como uma única disciplina em todo o Brasil. Os cursos nor- mais e os cursos de Pedagogia incluíram a História da Educação em seus currículos, unida à Filosofia da Educação, geralmente de responsabili- dade de professores de orientação religiosa, como padres, seminaristas e cristãos em geral. Entretanto, na leitura de Dermeval Saviani (2013), não foi no decreto de criação do curso de Pedagogia, baixado por Capanema, em 1939, que a vinculação da História da Educação à Filosofia da Educação ocor- reu efetivamente. Segundo Saviani, “pelo referido decreto, o currículo de Pedagogia incluía História da Educação no segundo e terceiro anos, 15 História da Educação e Filosofia da Educação apenas no terceiro ano, sendo, pois, tratadas como duas disciplinas distintas e autônomas entre si” (2013, p.158). Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Gustavo_Capanema#mediaviewer/ File:Gustavo_Capanema_1932.jpg Gustavo Capanema (1900-1985) formou-se em 1924, em Direito, na Faculdade de Direito da Universidade de Minas Gerais. Após se formar, Capanema retornou a Pitangui, sua cidade natal, em Minas Gerais, para exercer a advocacia e o magistério na Escola Normal, como professor de Psicologia Infantil e Ciências Natu- rais. Nesta época, é eleito vereador. Retorna à capital mineira em 1930, ocupando cargos no governo. Em 1934, substitui Francisco Cam- pos no Ministério da Educação e Saúde Pública, criado em 1930, onde permanece até 1945. Continua o autor dizendo que, somente pela instituição da Lei Or- gânica do Ensino Normal, através do Decreto-lei nº 8.530, de 2 de janeiro de 1946, irá aparecer no currículo do curso normal a disciplina Lei Orgânica do Ensino Normal Em 1942, por uma iniciativa de Gustavo Capanema, iniciam-se as reformas de ensino, de níveis primário e secundário e do ensino técnico profissional: industrial, comercial, normal e agrícola, que ficaram conhecidas como “leis orgânicas do ensino” ou reformas Capanema, que se estendem até 1946. 16 • História da Educação como disciplina curricular e como disciplina científica • • denominada História e Filosofia da Educação, sendo adotada também no curso de Pedagogia da Universidade de São Paulo – USP. Daremos um salto no tempo e vamos para os dias atuais. Como não será possível falarmos da História da Educação como disciplina dos cursos de Pedagogia e Licenciaturas de todo o Brasil, como exemplo, daremos destaque a História da Educação como disciplina curricular do curso de Pedagogia da Unirio. A trajetória da História da Educação como disciplina do curso de Licenciatura em Pedagogia, na modalidade presencial, da Unirio A História da Educação estará presente na história dos currículos dos cursos de Pedagogia desde sua criação em 1939 na Faculdade Na- cional de Filosofia da Universidade do Brasil (hoje UFRJ), disciplina já existente nos currículos das escolas normais de formação de professores. Em sua origem, a História da Educação, ao lado da Filosofia, da So- ciologia, da Psicologia, da Biologia e da Educação, irá compor o grupo das disciplinas que fundamentam a Educação, por isso, obrigatória. No caso da Unirio, a História da Educação estará desde o primeiro curso de Pedagogia presencial na Unirio até é o último criado, em 2011, o curso de Licenciatura em Pedagogia no período vesperti- no. Observe que a História da Educação irá se desdobrar em vários componentes curriculares ao longo do tempo. Eles se modificam, são extintos ou se ampliam de acordo com as necessidades impostas de conhecimento à formação do pedagogo, considerando as característi- cas do currículo de flexibilidade e atualização à medida que o próprio curso de Pedagogia vai se modernizando. O que se mantém é o seu objetivo principal: o ensino da História da Educação como um dos fundamentos da Educação. No currículo do primeiro curso de Pedagogia presencial na Unirio, em 1987, o ensino de História da Educação especificamente irá apare- cer no 1º período como componente curricular História da Educação I. Sua ementa era: “O significado da Educação através da história: os dife- rentes contextos políticos econômico-sociais e o papel da Educação. A Pedagogia Liberal. A Pedagogia do Conflito”; no 2º período, História da Educação II, tendo como ementa: “O pensamento pedagógico de auto- res que influenciaram a prática da Educação até nossos dias, em especial 17 História da Educação no contexto da Educação brasileira”; e ainda as disciplinas História das Ideias Educacionais e História das Instituições Escolares. Outras versões curriculares ocorreram ao longo da história do curso, porém é na versão curricular de 2008 que se mantém a disciplina “His- tória das Instituições Escolares” no primeiro período do curso, com a seguinte ementa: Escola na Antiguidade. Escola na Idade Média. Fundação das universidades no período medieval. Instituição escolar na Idade Moderna. Instituição escolar na Idade Contemporânea. E se institui a disciplina “História da Educação Brasileira” no se- gundo período: a primeira como pré-requisito da segunda, contendo a seguinte ementa: Pedagogia jesuítica. Reformas pombalinas. Legislação e ensino no Brasil imperial. Legislação e ensino na Primeira República. Reformas educacionais. A Educação no período Vargas. Primei- ra LDBEN – 4.024/61. Educação no período nacional-desen- volvimentista. Movimentos de Educação popular. Educação no período da ditadura militar e a pedagogia autoritária. Pedagogia social e crítica. Educação no período da abertura democrática e a construção da Lei 9.394/96. Nesta versão curricular, constam 76 disciplinas optativas. Delas, des- taco História da Profissão e Formação Docente e História da Educação Brasileira: tópicos específicos. Essas disciplinas também podem ser ofe- recidas ao Curso de Pedagogia na modalidade a distância. Apresentar as ementas de algumas disciplinas tem por objetivo que você percebe a gama de conhecimentos que a História da Educação pode oferecer nos seus diversos componentes curriculares, como tam- bém acontece no curso de pedagogia a distância. As mudanças ocorrem à medida que as pesquisas no campo da História da Educação se am- pliam, provocando a produção de novos conhecimentos, ressignifican- do ou complementando os já existentes. Visando dar suporte de pesquisa ao ensino de História da Educação, é criado em 2002, pelas professoras Nailda Marinho e Angela Martins, o NEB (Núcleo de Estudos em Educação Brasileira.Em 2008, o Nú- 18 • História da Educação como disciplina curricular e como disciplina científica • • cleo passa a se denominar – NEPHEB (Núcleo de Estudos e Pesquisas em História da Educação Brasileira), sendo registrado no Diretório do CNPq. (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnoló- gico) como grupo de pesquisa. Em 2011, com a possibilidade trazida pelo Plano REUNI da Unirio, foi criado o LEFHE (Laboratório para Estudos e Ensino de Filosofia e História da Educação) pelas mesmas professoras, objetivando o desenvolvimento de estudos e cursos ligados ao ensino de Filosofia e História da Educação. Para saber mais, acesse nepheb.wordpress.com/ Instituído em 2007, no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expan- são das Universidades Federais – REUNI, destinando recursos financeiros adicionais às IFES – Instituição de Ensino Superior, objetivava ampliar o acesso e a permanência dos alunos no en- sino superior. Assim, cada universidade que aderiu ao Programa elaborou seu próprio Plano. A trajetória da História da Educação como disciplina do curso de Licenciatura em Pedagogia, na modalidade a distância, da Unirio. É importante que você conheça a história desta disciplina do seu currículo. Criado na Unirio, desde 2001, o Curso de Gra- duação em Pedagogia – Licenciatura para os Anos Iniciais do Ensino Fundamental, da Escola de Educação, é legalmente instituído pela Resolução nº 2642, de 16 de novembro de 2005 retroagindo esta ao segundo semestre de 2001. (Cf Boletim In- terno, de novembro de 2005, p.3) Art. 1º Fica aprovada a criação do Curso de Graduação em Pe- dagogia – Licenciatura para os Anos Iniciais do Ensino Fun- damental, da Escola de Educação, conforme matriz curricular anexa à presente Resolução. Parágrafo Único – A criação de que 19 História da Educação trata o caput deste artigo está registrada na Ata da 212ª Sessão do Conselho de Ensino e Pesquisa, de 28 de junho de 2001, que aprovou a proposta de criação do Curso de Pedagogia a distância em Convênio com o Consórcio CEDERJ (Centro de Educação Superior a Distância do Estado do Rio de Janeiro). Art. 2º Esta Resolução retroage ao segundo semestre de 2001. O Consórcio CEDERJ congrega seis universidades públicas do Estado do Rio de Janeiro, a saber: Unirio, UERJ, UFF, UFRURJ, UENF, UFRJ. Neste Consórcio, a responsabilidade pela oferta do Curso de Licenciatura em Pedagogia é da Unirio e da UERJ. No primeiro momento do curso, os conteúdos referentes à História da Educação ficaram distribuídos nos diversos livros elaborados para as disciplinas Fundamentos I, II, III e IV, juntamente com os conteúdos de Psicologia, Sociologia, Antropologia e Filosofia da Educação. Estas dis- ciplinas, com carga de 60 horas, são distribuídas nos quatro primeiros períodos do curso. Com uma reforma curricular em 2008, foram extintas as discipli- nas de Fundamentos da Educação e criadas disciplinas específicas, en- tre elas, História da Educação. Com carga de 60 horas, esta disciplina é ofertada no 2º semestre do curso, sendo sua ementa elaborada pela “Comissão de Alteração/Reforma Curricular”. A escola e a Antiguidade. A escola na Idade Média. A funda- mentação das Universidades no período medieval. A instituição escolar na Idade Moderna. O aparecimento das Escolas Normais nos séculos XVIII e XIX. A instituição escolar na Idade Contem- porânea. A instituição escolar no Brasil nos séculos XIX e XX. 20 • História da Educação como disciplina curricular e como disciplina científica • • Conheça um pouco mais sobre a História da Educação como disciplina Para saber mais sobre a História da Educação como disciplina nos cursos da Unirio, leia o artigo “O ensino de História da Educação na Unirio: alguns apontamentos”, publicado no livro “História da Educação no Rio de Janeiro: instituições, saberes e sujeitos”, or- ganizado por José Gonçalves Gondra e Maria de Lourdes Silva e Roni Cleber Dias de Menezes, e o artigo “A Escola de Educa- ção e a Pedagogia presencial na Unirio: da criação ao (con)texto”, de Nailda Marinho e Janaina S. S. Menezes, publicado na revista Chronos, v.1, nº 9 (2013), p.15-42 Para saber sobre a história do curso de Licenciatura em Peda- gogia da Unirio, na modalidade a distância, convido você a ler o artigo intitulado “A Pedagogia; Unirio na EAD do Estado do Rio de Janeiro”, de Leila L. de Medeiros e Leonardo V. de Castro, publicado na revista Chronos, v.1, nº 9 (2013), p.44-53. A História da Educação como disciplina científica: campo de estudos e pesquisas Conforme Aranha (2006), a partir das décadas de 1930 e 1940 foram criadas, no âmbito das mais recentes instituições de ensino superior no Brasil, as universidades, as faculdades de Educação. Isso proporcionou estudos e pesquisas e elaboração de monografias e teses decorrentes nesta área e mais especificamente na produção de uma história da Edu- cação mais autônoma. Citando a professora Miriam Jorge Warde: Há indícios de que nos anos 50 começa a se esboçar na USP, a partir do setor de Educação e, posteriormente, da relação entre este setor e o Centro Regional de Pesquisa Educacional, o CRPE/ SP, algo como um projeto de construção de uma história da Edu- cação brasileira, autônoma, apoiada em levantamentos documen- tais originais, capaz de recobrir o processo de desenvolvimento do sistema público de ensino. (WARDE Apud ARANHA, 2006, p.25) 21 História da Educação O Centro Regional de Pesquisa Educacional de São Paulo – CRPE/SP fazia parte do Centro Brasileiro de Pesquisas Educacio- nais – CBPR, com sede no Rio de Janeiro. Embora já viesse atuan- do anteriormente, o CBPR foi criado oficialmente pelo decreto nº 38.460, datado de 28 de dezembro de 1955. Idealizado por Anísio Teixeira, diretor do INEP – Instituto Nacional de Estudos e Peda- gógicos, o CBPR foi integrado a esse Instituto para trabalhar com estudos e pesquisas aplicadas ao campo da Educação, tendo em vista o aperfeiçoamento do magistério. Desta maneira, visando à abrangência nacional, foram criados os CRPE. No período da ditadura militar, a reforma universitária instituída pela Lei nº 5.540, de 28 de novembro 1968, propiciou a criação dos cursos de Pós-Graduação no Brasil, entre eles, os de Educação. A par- tir desses cursos, várias pesquisas foram realizadas, tendo em vista a elaboração de teses neste campo de estudos, entre as quais aquelas com abordagem histórica. Desta maneira, o ensino e a pesquisa em História da Educação passaram a se constituir como um campo arti- culado de conhecimento. Desses programas, o da Pontifícia Universi- dade Católica do Rio de Janeiro - PUC-Rio foi o primeiro a se cons- tituir em 1965, seguido do programa da PUC-SP, em 1969, e vários outros ao longo do tempo. O curso de pós-graduação em Educação na Unirio só irá surgir em 2004. Embora sua história remonte a 1969, como instituição de ensino su- perior, a Unirio só irá surgir como universidade dez anos depois, em 1979, instituindo-se logo após os seus primeiros programas de pós- -graduação. No caso da área de Educação, o curso de Pedagogia sur- girá em 1987 e, logo no ano seguinte, a Escola de Educação. Porém, o Programa de Pós-Graduação na Unirio data de 2004, com apenas um curso – o de Mestrado em Educação, com duas linhas de Pesquisa: “Prá- ticas Educativas, Linguagens e Tecnologias e Subjetividade, Cultura” e “História da Educação”. Desta linha, consta, no desenho curricular do curso, a disciplina obrigatória “Temas em Subjetividade, Cultura e His- tória da Educação”. 22 • História da Educação como disciplina curricular e como disciplina científica • • No ano de 2013, a linha de pesquisa de “Temas em Subjetividade, Cultura e História da Educação” se fundeà linha Políticas em Educação - que havia sido criada posteriormente à criação do Curso de Mestrado, compondo uma única linha denominada “Políticas, História e Cultura em Educação”. Neste mesmo ano, é apresentada à CAPES – Coorde- nação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - a proposta de criação do curso de Doutorado em Educação, não contemplando o ensino de História da Educação. O curso de mestrado conta com a disci- plina Pensamento Educacional no Brasil como obrigatória, abrangendo conteúdos de História e Filosofia da Educação. Nessa trajetória, vão surgindo diversos grupos de estudo e pesquisa focados na História da Educação. Em 1984, é criado o grupo de trabalho “História da Educação” da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pes- quisa em Educação (Anped – entidade criada em 1976). Em 1986, sob a coordenação de Dermeval Saviani, é criado o grupo de estudos “Histó- ria, sociedade e Educação no Brasil (HISTEDBR), ligado ao Programa de Pós-Graduação da UNICAMP. O HISTEDBR tem como preocupação investigar a História da Educação pela mediação da Sociedade, buscando uma compreensão global da Educação em seu desenvolvimento O Grupo HISTEDBR possui em torno de 26 grupos de trabalho em diversas universidades do Brasil. Para acessá-lo, veja: http://www. histedbr.fae.unicamp.br/. Na Unirio (Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro), ele se configura por meio do NEPHE- BUnirio (Núcleo de Estudos e Pesquisas em História da Educação Brasileira). Para acessá-lo, veja: http://nepheb.wordpress.com/ Desta maneira, novos grupos de estudos e pesquisas vão surgindo ao longo do tempo, tendo como consequência o crescimento da produ- ção de trabalhos em História da Educação no Brasil. Em dezembro de 1988, realiza-se, na Universidade Federal Fluminense (UFF), em Nite- rói, o I Encontro de Núcleos de Pesquisa e Documentação em História da Educação Regional; e em setembro de 1991, o I Seminário Nacional 23 História da Educação de Estudos e Pesquisas “História, Sociedade e Educação no Brasil”, do HISTEDBR (Lombardi, 1999). Atualmente, informações sobre os grupos de pesquisa e sobre os pesquisadores brasileiros estão disponíveis num banco de dados denominado “Plataforma Lattes” (nome dado em homenagem ao físico César Lattes). Este banco é gerenciado pelo o CNPq. (Con- selho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), um órgão governamental de implementação da política nacional de ciência e tecnologia e de financiamento das atividades cientificas. Está curioso? Então acesse o site www.cnpq.br; lá, você pode acessar a Plataforma Lattes e ver o currículo de vários pesquisa- dores, além de descobrir outros grupos de pesquisa relacionados à história da Educação (http://dgp.cnpq.br/dgp/faces/consulta/ consulta_parametrizada.jsf) Além dos eventos citados, para divulgação da produção acadêmica e científica em História da Educação, há ainda artigos em periódicos, livros, DVDs e outros eventos nacionais e internacionais específicos, tais como: • ISCHE (International Standing Conference for the History of Educa- tion) - um encontro internacional permanente, que permite fomen- tar a investigação e fortalecer o intercâmbio e a cooperação intelec- tual entre os historiadores da Educação de todo o mundo. • Congresso Luso-Brasileiro de História da Educação (COLUBHE) • Congresso Ibero-americano de História da Educação (CIHELA) • Congresso Brasileiro de História da Educação (CBHE) • GT História da Educação da Associação Nacional de Pesquisa e Pós- -graduação em Educação (ANPEd) Há alguns eventos regionais, estaduais e locais que ocorrem em todo o Brasil, tais como: 24 • História da Educação como disciplina curricular e como disciplina científica • • • Encontro de História da Educação do Estado do Rio de Janeiro (EHEd-RJ), que ocorre desde 2007; • Jornadas e Seminários do HISTEDBR. • As produções desta área também são divulgadas em Eixos e Sim- pósios temáticos que oportunizam a abordagem de trabalhos em história da Educação, como nos Encontros da Associação Nacional de História (ANPUH), tanto nacional quanto estaduais, entre tantos outros não menos importantes do campo da Educação e áreas afins. Pensando em fortalecer o campo científico da História da Educa- ção e congregar os historiadores da Educação no Brasil, em 1998, é fundada a SBHE (Sociedade Brasileira de História da Educação). Essa sociedade organizou o I Congresso Brasileiro de História da Educa- ção, em novembro de 2000, na UFRJ. O evento teve como temática “Educação no Brasil: História e Historiografia”. Para saber mais sobre a SBHE, acesse www.sbhe.org.br O que estuda o historiador da Educação e como ele pesquisa? Para a pergunta que dá título a esta seção, respondo que o historia- dor da Educação estuda e pesquisa, por exemplo, a história das institui- ções escolares e educacionais, o próprio ensino de História da Educação, a história da Educação feminina, a história da formação docente, o en- sino das disciplinas escolares, entre tantos outros exemplos. Para isso, é necessário que o historiador da Educação tenha direções metodológicas em busca de fontes documentais, sejam elas escritas ou não. No início, apenas os documentos oficiais escritos eram considerados fontes para o historiador. Porém, Lucien Fevbre e Marc Bloch, fundado- res da revista Analles d’historie-économique et sociele ( Anais da história econômica e social), em 1929, trouxeram a perspectiva de ampliação da noção de documento. Jacques Le Goff, em “Documento monumento”, publicado em seu livro “História e memória” apresenta a perspectiva de Fevbre, assim o citando: A história faz-se com documentos escritos, sem dúvida. Quan- do estes existem. Mas pode fazer-se sem documentos escritos, quando não existem. Com tudo o que a habilidade do historia- dor lhe permite utilizar para fabricar o seu mel, na falta das flores habituais. (FEVBRE 1949 apud LE GOFF, p.540,1996) 25 História da Educação Quanto à questão da ampliação das fontes, Bloch assim se posicio- nava: “Seria uma grande ilusão imaginar que a cada problema históri- co corresponde a um tipo único de documento, especializado para esse uso...” (Bloch [1941-42] apud Le Goff, 1996, p.540,). Le Goff cita ainda o que dizia Charles Samaran: “Não há história sem documentos (...): Há que tomar a palavra ‘documento’ no sentido mais amplo, documento es- crito, ilustrado, transmitido pelo som, a imagem, ou de qualquer outra maneira” (SARAMEN, 1961 apud LE GOFF, 1996, p.540). Neste sentido, assim como o historiador, o historiador da Educação também se utiliza de fontes documentais: • Escritas Textuais (manuscritas ou impressas) – como atas, leis e re- gulamentos, pareceres, cartas, memorandos, diários, biografias, jor- nais, revistas, discursos, mapas de notas, correspondência, cadernos escolares, relatórios, processos, dossiês de alunos e professores, entre tantas outras possibilidades; • Iconográficas - carte de visite, daguerreotipo, negativo de vidro, car- tão postal, fotografias, charges, caricaturas, desenhos, estampa, telas, incluindo também a documentação cartográfica como mapas, plan- tas, croquis; • Documentação audiovisual – fonográfica, micrográfica, eletrôni- ca, multimeios como filmes, discos, CD-Rom, DVD, fitas magné- ticas, microficha; • Fontes orais – por meio de entrevistas e depoimentos. De modo geral, documento é entendido na sua forma “clássica e genérica” como “qualquer elemento gráfico, iconográfico, plástico ou fônico” sendo “produzido por razões funcionais, jurídicas, científicas, culturais ou artísticas pela atividade humana”, nos explica Heloisa Libe- ralli Bellotto (1991, p.14). Para saber mais sobre fontes documentais na pesquisa em His- tória da Educação, veja o texto de Demerval Saviani, intitulado “Breves Consideraçõessobre Fontes para a História da Educa- ção”, In: LOMBARDI, José Claudinei; NASCIMENTO, Maria Isabel Moura. Fontes, História e Historiografia da Educação. 26 • História da Educação como disciplina curricular e como disciplina científica • • Campinas: Autores Associados; Curitiba: PUCPR; Palmas (PR): UNICS; Ponta Grossa: UEPG, 2004. p.3-12. A documentação conservada em arquivos, entre estes os arquivos escolares, museus, bibliotecas, centro de documentação são ferramentas fundamentais para que a narrativa do historiador da Educação possua argumentos. Conforme Lombardi (2004), “O argumento central a ser considerado diz respeito ao entendimento do que é História da Edu- cação e encontra-se no interior de um fazer científico localizado numa rede discursiva (documentos, depoimentos etc...)”. Para o estudo das instituições escolares, por exemplo, destacamos a necessidade de pre- servação e conservação dos arquivos escolares como fontes. Para saber mais sobre fontes, documentação e conservação de do- cumentos e acervos (como os arquivos escolares), leia os artigos: • “Memória e patrimônio educacional no Rio de Janeiro” – pu- blicado em 2013 no livro A História da Educação no Rio de Janeiro: identidades locais, memória e patrimônio, organizado por Nailda Marinho da Costa Bonato e Libânia Xavier. • “Os arquivos escolares como fonte para a História da Edu- cação” – de Nailda Marinho da Costa Bonato, publicado na Revista Brasileira de história da Educação da SBHE em 2005. Caso queira descobrir mais sobre os gêneros documentais, consulte: • Dicionário de terminologia arquivística – organizado por Ana Maria de Almeida Camargo e Heloísa Liberalli Bellotto, em 1996, e publicado pela Associação dos Arquivistas Brasileiros, Núcleo de São Paulo em parceria com a Secretaria de Estado de Cultura; • Dicionário brasileiro de terminologia arquivística – organizado por técnicos do Arquivo Nacional e por ele publicado em 2005. 27 História da Educação Mas o historiador da Educação também tem-se utilizado do uso das tecnologias da informação e comunicação. Isso possibilita a consulta rápida a bancos de dados de bibliotecas, arquivos, museus e centros de documentação, disponibilizados via internet. Assim, é possível aces- sar fontes documentais, iconográficas, audiovisuais, entre outras. Por exemplo, no momento pesquiso sobre a história da Educação e forma- ção das mulheres no ensino superior desde o século XIX ao XX. Para isso, estamos consultando, via web, as páginas do Arquivo Nacional e da Biblioteca Nacional, entre outras possibilidades de busca das fontes antes da visita às instituições onde estão localizados os acervos. Pesquisadores e o uso da internet como fonte de pesquisa Quer entender como os pesquisadores utilizam a internet como fonte para a pesquisa em História da Educação? Leia o artigo “A leveza dos Bits: História da Educação e as novas tecnologias”, de José G. Gondra, publicado no ano 2000, no livro “Arquivos, fon- tes e novas tecnologias: questões para a História da Educação”, organizado por Luciano Mendes de Faria Filho. Para concluir esta aula, é preciso que você saiba que a História da Educação já possui uma historiografia da Educação, como você poderá ver na próxima seção. Atividade 2 Atende ao Objetivo 2 Construa um quadro comparativo, mostrando os elementos que apro- ximam e distanciam a História da Educação como disciplina curricular da História da Educação como disciplina científica. 28 • História da Educação como disciplina curricular e como disciplina científica • • Resposta comentada Numa perspectiva curricular, o ensino de História da Educação pode aparecer na forma de mais de um componente (disciplina) curricular, como História da Educação I e II, História das Instituições Escolares, História da Educação Brasileira. Cada componente curricular apresen- ta conteúdo específico, como se pode observar, por exemplo, em suas ementas. É importante dizer que o ensino e a pesquisa não estão desvin- culados; eles se retroalimentam. O fenômeno educacional se desenrola no tempo e faz parte da nossa história. Esse estudo não pode ser algo descolado da realidade, distante e sem sentido para a atividade cotidiana de ensino do professor. Para que o ensino aconteça, é necessário conteúdo e material como livros, artigos, manuais, material didático-pedagógico. Mas também a valida- de desse material pode ser “testada” nas atividades de ensino. Podemos dizer que o conteúdo, o ensino e a produção desse material são frutos das atividades de pesquisa. O historiador da Educação pesquisa sobre a história das instituições escolares e educacionais, o próprio ensino de História da Educação, a história da Educação feminina, as práticas pe- dagógicas, a história da formação docente, o ensino das disciplinas es- colares, o material escolar, as técnicas e métodos de ensino, o currículo, utilizados no cotidiano escolar em seus diversos tempos e espaços. 29 História da Educação Esses estudos levam a repensar o ensino e, ao mesmo tempo, constitui material e conteúdo de ensino. Para isso, é necessário que o historiador da Educação tenha direções teórico-metodológicas em busca de fon- tes documentais, sejam elas escritas ou não. Atualmente ele também se beneficia das tecnologias da informação e comunicação, ao consultar bancos de dados de bibliotecas, arquivos, museus e centros de docu- mentação, disponibilizados via internet. Assim, é possível acessar fontes documentais, iconográficas, audiovisuais, entre outras. O que é Historiografia da Educação? Agora que você já sabe o que é e o que estuda a História da Educação, ve- jamos o que é Historiografia da Educação. Começamos com a definição do Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa: “1. Arte de escrever a his- tória. (...) 2. Estudo histórico e crítico acerca da história e dos historiadores”. A partir desta definição, poderíamos dizer que a historiografia da Educação é a arte de escrever a história da Educação; é o estudo his- tórico e crítico acerca da Educação e dos educadores. Para Lombardi, historiografia é: um campo de estudo que tem por objeto de investigação as pro- duções históricas e por objeto de estudo o educacional. Apesar de ser um campo recente, a historiografia da Educação pratica- mente reproduziu as características da produção historiográfica, com trabalhos onde a produção no campo da história educacio- nal é de caráter descritivo, com ênfase nos aspectos formais da produção (tema, período, fontes, etc.); mas também possuin- do alguns trabalhos que fazem uma análise dessa mesma pro- dução a partir de seus pressupostos metodológicos e teóricos”. (LOMBARDI, 2004, p.9) Ainda tendo o Dicionário de Filosofia de Nicola Abbagnano como referência, Lombardi (2004) apresenta a etimologia da palavra historio- grafia como resultante da composição de dois termos: grafia e historia, mais propriamente, as escritas da história, na língua portuguesa. O termo historiografia remonta ao século XVII, tendo sido cunhado pelo monge Tommaso Campanella, em 1638, para designar uma parte Monge Tommaso Campanella (1568-1639) Monge dominicano e filósofo italiano, cuja primeira obra, Philosophia Sensibus Demonstrata (A Filosofia Demonstrada pelos Sentidos), foi condenada pela Inquisição. Devido às suas ideias reformadoras, foi preso por vinte e sete anos, sendo libertado em 1626, seguindo para Roma, sendo recebido pelo papa Urbano VIII. Porém, novamente perseguido, fugiu para a França, falecendo em Paris. 30 • História da Educação como disciplina curricular e como disciplina científica • • de sua obra Philosophiae Rationalis, como forma diferenciada da histó- ria e com o significado de arte de escrever corretamentea história. Porém, de acordo com Lombardi, o termo historiografia mudou de significado com Croce. Considerado pai do presentismo, Croce enten- dia que historiografia “designava o conjunto dos conhecimentos históri- cos em geral, ou o complexo das ciências históricas.” (2004, p.7) “O Presentismo considera que o historiador é influenciado pela cultura, valores e referências da época em que vive, sendo, por- tando, relativo todo o conhecimento produzido sobre o passa- do. Na concepção presentista, o historiador observa o passado a partir do ponto de vista do presente”. Para os presentistas, não se deve temer o esgotamento da documentação. (Clark, Nascimento, Bonato. “Do presentismo ao hipercriticismo” http://www.histedbr.fe.unicamp.br/revista/revis/revis02/rev02.html (clique em Comunicações para acessar o texto completo) Para saber mais sobre história e historiografia da Educação, indico os textos: • “Debates e noções no campo da história da Educação” – dos autores Liliane Men e Fátima Maria Neves, publicado na Re- vista HISTEDBR On-line, Campinas, nº 25, p.141-155; • “Historiografia educacional brasileira e os fundamentos te- órico-metodológicos da história” – do autor José Claudinei Lombardi, publicado no livro, organizado pelo próprio au- tor, Pesquisa em Educação: História, Filosofia e Temas trans- versais. Campinas, SP: Autores Associados: Histedbr; Caça- dor, SC: UnC, 1999. 31 História da Educação Para concluir essa aula, é importante dizer que a História da Educa- ção surge como disciplina curricular nos cursos de formação de profes- sores das escolas normais. Quando os cursos de Pedagogia são criados, geralmente a História da Educação permanece nos currículos desses cursos, muitas vezes atrelada à Filosofia da Educação. Com o tempo, a História da Educação se consolida como campo científico que estuda a Educação (o fenômeno educativo) numa abordagem histórica, notada- mente dentro dos Programas de Pós-graduação em Educação, já consti- tuindo hoje uma Historiografia da Educação. Atividade 3 Atende aos Objetivos 1 e 2 Considerando-se que todos os tipos de fontes podem ser váli- dos para o entendimento do mundo e da vida dos homens, tem- -se que convir que o tipo de fonte a ser utilizada decorre, em grande medida, do objeto de investigação. [...] Certamente que nem todas as ações históricas ficaram registradas para a posteri- dade. São, pois, vivências sociais que, apesar de terem existido, não foram de alguma forma registradas, não podendo ser recu- peradas e contadas. Apesar da impossibilidade de se recuperar muitos acontecimentos, experiências e vivências do ser huma- no, também temos que convir que desde tempos imemoriais os homens produziram (e ainda produzem) artefatos, documentos, testemunhos... que tornam possível o entendimento do homem sobre sua própria trajetória. São exatamente esses registros his- tóricos que constituem os documentos, os testemunhos usados pelo historiador para se aproximar e tornar inteligível seu objeto de estudo. (LOMBARDI, José Claudinei. “História e historiografia da Educação no Brasil”. Histedbr - http://www.histedbr.fae.unicamp.br/art4_14.pdf ) Com base nas considerações acima e com o que aprendeu nesta aula, discorra acerca das fontes históricas para o trabalho do historiador e do historiador da Educação contemporâneos. 32 • História da Educação como disciplina curricular e como disciplina científica • • Resposta comentada Para responder a esta questão, você deverá: 1. ressaltar que é a fonte histórica que fundamenta e embasa o trabalho do historiador da Educação e do historiador, conferindo a credibilidade científica ao seu ofício de reconstrução do passado; 2. assinalar que as fontes históricas são produtos da ação do homem no tempo, sendo produzidas com ou sem intencionalidade; 3. indicar que, a partir da ampliação dos objetos de investigação do trabalho historiográfico, demandam-se novas fontes documentais, am- pliando-se mesmo o sentido da palavra documento, não mais restrito à palavra escrita: monumentos, registros orais, fotografias, filmes, qua- dros, enfim, tudo o que é produzido pelo ser humano em sociedade; 4. evidenciar o papel ativo do historiador na escolha, organiza- ção e interpretação das fontes históricas, de acordo com o seu objeto de investigação. Resumo Esta aula tratou do conhecimento sobre a História da Educação como disciplina de ensino e a História da Educação como disciplina científica, como campo de estudo e pesquisa da área de Educação. Estabeleceu di- ferenças e semelhanças entre a História e a História da Educação, assim como sua importância para a Educação e a Pedagogia na atualidade. Informou também que a História da Educação já possui uma Historio- 33 História da Educação grafia da Educação e sobre a importância das fontes de estudos para o historiador da Educação. Explicou que o estudo da História da Educa- ção entendido como pesquisa científica tem como objeto de investiga- ção a própria Educação, a partir dos métodos e teorias da investigação da Ciência da História. A pesquisa é necessária para compreendermos as maneiras como, em tempos e espaços distintos, homens e mulheres organizaram e organizam seus modos de aprender e de transmitir seus fazeres e saberes. Esclareceu que, como disciplina escolar no seu senti- do técnico, a história da Educação pode aparecer no currículo escolar ensinada nos vários componentes curriculares (disciplinas). Informou que a historiografia da Educação tem como campo de investigação as produções históricas (da Educação) e, por objeto, o estudo educacional. É importante que o futuro pedagogo estude (seja como disciplina es- colar ou como atividade de pesquisa) a história da Educação, não para copiá-la ou negá-la, mas sim para ampliar as possibilidades de conhe- cimentos do passado, e assim pensar suas práticas pedagógicas e edu- cacionais no presente, disponibilizando aos seus alunos uma prática pedagógica consistente.