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AULA 06 Sucessão legítima

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Da Sucessão Legítima
Sucessão legítima, também denominada ab intestato, é a que se opera por força de lei e que ocorre em caso de inexistência, invalidade, ou caducidade de testamento e, também, em relação aos bens nele não compreendidos. Nesses casos a lei defere a herança a pessoas da família do de cujus e, na falta destas, ao Poder Público. (Carlos Roberto Gonçalves)
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A legítima
Art. 1.789. Havendo herdeiros necessários, o testador só poderá dispor da metade da herança.
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Ordem de vocação hereditária
Art. 1.829. A sucessão legítima defere-se na ordem seguinte:
I - aos descendentes, em concorrência com o cônjuge sobrevivente, salvo se casado este com o falecido no regime da comunhão universal, ou no da separação obrigatória de bens (art. 1.640, parágrafo único); ou se, no regime da comunhão parcial, o autor da herança não houver deixado bens particulares;
II - aos ascendentes, em concorrência com o cônjuge;
III - ao cônjuge sobrevivente;
IV - aos colaterais.
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Critério de vocação: é a proximidade familiar. Os herdeiros mais próximos excluem os mais remotos, salvo no caso de representação. 
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Da Sucessão dos Descendentes
Art. 1.833. Entre os descendentes, os em grau mais próximo excluem os mais remotos, salvo o direito de representação.
Art. 1.834. Os descendentes da mesma classe têm os mesmos direitos à sucessão de seus ascendentes.
 
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Art. 1.835. Na linha descendente, os filhos sucedem por cabeça, e os outros descendentes, por cabeça ou por estirpe, conforme se achem ou não no mesmo grau.
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Concorrência do cônjuge com o descendente
O cônjuge concorre com o descendente nos seguintes casos:
Nos regimes da: comunhão parcial, separação convencional e participação final nos aquestos.
Existindo bens particulares
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Em concorrência com filhos comuns:
Deve receber quinhão igual, não podendo ser inferior a ¼ da herança.
Em concorrência com filhos unilaterais: Deve receber quinhão igual.
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Concorrência do companheiro com o descendente
O art. 1.790 do CC, que regulava a sucessão dos companheiros, foi considerado inconstitucional pelo STF em maio/2017, aprovando a seguinte tese: “No sistema constitucional vigente é inconstitucional a diferenciação de regime sucessório entre cônjuges e companheiros devendo ser aplicado em ambos os casos o regime estabelecido no artigo 1829 do Código Civil.”
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Sucessão do ascendente
Art. 1.836. Na falta de descendentes, são chamados à sucessão os ascendentes, em concorrência com o cônjuge sobrevivente.
§ 1o Na classe dos ascendentes, o grau mais próximo exclui o mais remoto, sem distinção de linhas.
§ 2o Havendo igualdade em grau e diversidade em linha, os ascendentes da linha paterna herdam a metade, cabendo a outra aos da linha materna.
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Concorrência do cônjuge com o ascendente
Art. 1.837. Concorrendo com ascendente em primeiro grau, ao cônjuge tocará um terço da herança; caber-lhe-á a metade desta se houver um só ascendente, ou se maior for aquele grau.
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Concorrência do companheiro com o ascendente (Art. 1.790, I e II)
O companheiro em concorrência com outros parentes sucessíveis tem direito a 1/3 da herança.
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Da sucessão dos cônjuges
Como já visto, o cônjuge pode concorrer com descendentes (nos casos dos regimes da comunhão parcial, separação convencional e participação final nos aquestos) e com ascendentes (em qualquer regime).
No entanto, se não houver descendente, ou mesmo havendo ascendente, o cônjuge será chamado à sucessão, independentemente do regime de bens (art. 1.829, III e 1.838 CC).
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Das condições para o cônjuge sobrevivente suceder
Art. 1.830. Somente é reconhecido direito sucessório ao cônjuge sobrevivente se, ao tempo da morte do outro, não estavam separados judicialmente, nem separados de fato há mais de dois anos, salvo prova, neste caso, de que essa convivência se tornara impossível sem culpa do sobrevivente. (críticas a este ponto)
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Da Sucessão dos Companheiros
Lei 8.971/94
Lei 9.278/96
Código Civil de 2002
Recursos Extraordinários (REs) 646721 e 878694 - STF
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A sucessão do companheiro(a) na Lei 8.971/94
Considera união estável aquela formada por homem e mulher, impedidos para casar, com duração mínima de 05 anos ou com prole.
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Art. 2º As pessoas referidas no artigo anterior participarão da sucessão do(a) companheiro(a) nas seguintes condições:
I - o(a) companheiro(a) sobrevivente terá direito enquanto não constituir nova união, ao usufruto de quarta parte dos bens do de cujus, se houver filhos ou comuns;
II - o(a) companheiro(a) sobrevivente terá direito, enquanto não constituir nova união, ao usufruto da metade dos bens do de cujus, se não houver filhos, embora sobrevivam ascendentes;
III - na falta de descendentes e de ascendentes, o(a) companheiro(a) sobrevivente terá direito à totalidade da herança.
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Art. 3º Quando os bens deixados pelo(a) autor(a) da herança resultarem de atividade em que haja colaboração do(a) companheiro, terá o sobrevivente direito à metade dos bens.
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Observa-se, pois, que a primeira lei a regulamentar a união estável – a Lei n.8.971/1994 - praticamente reproduziu o regime sucessório estabelecido para os cônjuges no CC/1916, vigente a época. 
Desse modo, estabeleceu que (i) o companheiro seria o terceiro na ordem sucessória (atrás dos descendentes e dos ascendentes); (ii) concedeu-lhe direito de usufruto idêntico ao do cônjuge sobrevivente, e (iii) previu o direito do companheiro a meação quanto aos bens da herança adquiridos com sua colaboração. Embora esta Lei não tenha tornado o companheiro um herdeiro necessário (era apenas herdeiro legitimo), tal regramento em nada diferia daquele previsto para o cônjuge, que também não era herdeiro necessário no CC/1916.
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A diferença entre os dois regimes sucessórios era basicamente a ausência de direito real de habitação para o companheiro. 
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A sucessão do companheiro(a) na Lei 9.278/96
Define união estável, reconhecendo como entidade familiar, a convivência duradoura, pública e contínua, de um homem e uma mulher, estabelecida com objetivo de constituição de família. (Art. 1º). 
Prevê direito real de habitação para o convivente sobrevivente, relativamente ao imóvel destinando à residência da família. (art. 7º, § único)
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As leis relativas ao regime sucessório nas uniões estáveis foram, portanto, progressivamente concretizando aquilo que a CF/1988 já sinalizava: cônjuges e companheiros devem receber a mesma proteção quanto aos direitos sucessórios, pois, independentemente do tipo de entidade familiar, o objetivo estatal da sucessão e garantir ao parceiro remanescente meios para que viva uma vida digna. Conforme já dito, o Direito sucessório brasileiro funda-se na noção de que a continuidade patrimonial é fator fundamental para a proteção, para a coesão e para a perpetuação da família.
Com a entrada em vigor do CC/2002 houve uma drástica mudança no regime sucessório dos conviventes.
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Regime da sucessão dos conviventes trazido pelo Código Civil de 2002 – art. 1.790 
Inicialmente, numa estranha opção geográfica, o legislador tratou do tema no art. 1.790, no Título I denominado “Da Sucessão em geral”, no capítulo das “Disposições Gerais”, quando o tema deveria ser abordado no Título II que trata “Da Sucessão Legítima”.
Para além disso, o novo Código altera o regime sucessório até então vigente para os conviventes, que, como já se viu, era pautado por uma proximidade com o regime sucessório dos cônjuges.
Determina que o companheiro (a) sobrevivente participará da sucessão do outro apenas quanto aos bens adquiridos onerosamente na vigência da união estável, observada a concorrência com descendentes, ascendentes e colaterais.
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Art. 1.790. A companheira ou o companheiro participará da sucessão do outro, quanto aos bens adquiridos onerosamente na vigência da união estável, nas condições seguintes:
I - se concorrercom filhos comuns, terá direito a uma quota equivalente à que por lei for atribuída ao filho;
II - se concorrer com descendentes só do autor da herança, tocar-lhe-á a metade do que couber a cada um daqueles;
III - se concorrer com outros parentes sucessíveis, terá direito a um terço da herança;
IV - não havendo parentes sucessíveis, terá direito à totalidade da herança.
 
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o Código, neste ponto, parecia desprestigiar os laços afetivos, contrariando nova tônica dada às relações familiares pela Constituição Federal. Justamente por isso, é que pergunta Zeno Veloso:
Haverá alguma pessoa neste país, jurista ou leigo, que assegure que tal solução é boa e justa? Por que privilegiar a esse extremo vínculos biológicos, ainda que remotos, em prejuízo dos laços do amor, da afetividade? Por que os membros da família parental, em grau tão longínquo, devem ter preferência sobre a família afetiva (que em tudo é comparável à família conjugal) do hereditando?
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As mudanças jurisprudenciais no regime sucessório dos companheiros
Em decisão do início do ano de 2014, o STJ reconheceu a aplicação do direito real de habitação também para os companheiros (REsp 1329993/RS, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 17/12/2013, DJe 18/03/2014). E em outros julgados, o STJ admitiu a tramitação de incidente de inconstitucionalidade do art. 1.790 do CC (AI no REsp 1291636/DF, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 11/06/2013, DJe 21/11/2013).
Finalmente em maio de 2017 o STF, em julgamento dos Recursos Extraordinários (REs) 646721 e 878694, reconheceu a inconstitucionalidade do art. 1.790 CC, aprovando a seguinte tese: “No sistema constitucional vigente é inconstitucional a diferenciação de regime sucessório entre cônjuges e companheiros devendo ser aplicado em ambos os casos o regime estabelecido no artigo 1829 do Código Civil.” (Relatoria do Ministro Luis Roberto Barroso)
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DÚVIDAS
Por obvio que uma mudança tão profunda suscita uma série de debates na comunidade jurídica.
 Os companheiros permanecem como herdeiros legítimos facultativos, tendo em vista o teor do art. 1.845 do CC (São herdeiros necessários os descendentes, os ascendentes e o cônjuge)?
Os efeitos seriam extensíveis às sucessões já abertas antes da decisão de inconstitucionalidade?
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Vale dizer que a decisão já havia definido que “Com a finalidade de preservar a segurança jurídica, o entendimento ora firmado é aplicável apenas aos inventários judiciais em que não tenha havido trânsito em julgado da sentença de partilha, e às partilhas extrajudiciais em que ainda não haja escritura pública.”
A nova regra vale, então, para as sucessões já abertas.... E como fica então a regra do droit de saisine?
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Direito real de habitação
Art. 1.831. Ao cônjuge sobrevivente, qualquer que seja o regime de bens, será assegurado, sem prejuízo da participação que lhe caiba na herança, o direito real de habitação relativamente ao imóvel destinado à residência da família, desde que seja o único daquela natureza a inventariar.
Este direito já é reconhecido também ao companheiro (a) sobrevivente.
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Da sucessão dos colaterais
São chamados a suceder na falta de descendentes, ascendentes ou cônjuge.
Somente colaterais até o 4° grau.
Art. 1.840. Na classe dos colaterais, os mais próximos excluem os mais remotos, salvo o direito de representação concedido aos filhos de irmãos.
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Concorrência de irmãos bilaterais com irmãos unilaterais
Art. 1.841. Concorrendo à herança do falecido irmãos bilaterais com irmãos unilaterais, cada um destes herdará metade do que cada um daqueles herdar.
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Art. 1.842. Não concorrendo à herança irmão bilateral, herdarão, em partes iguais, os unilaterais. 
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Art. 1.843. Na falta de irmãos, herdarão os filhos destes e, não os havendo, os tios.
§ 1o Se concorrerem à herança somente filhos de irmãos falecidos, herdarão por cabeça.
§ 2o Se concorrem filhos de irmãos bilaterais com filhos de irmãos unilaterais, cada um destes herdará a metade do que herdar cada um daqueles.
§ 3o Se todos forem filhos de irmãos bilaterais, ou todos de irmãos unilaterais, herdarão por igual.
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Devolução da herança à Fazenda Pública
Art. 1.844. Não sobrevivendo cônjuge, ou companheiro, nem parente algum sucessível, ou tendo eles renunciado a herança, esta se devolve ao Município ou ao Distrito Federal, se localizada nas respectivas circunscrições, ou à União, quando situada em território federal.
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Destinação da herança vacante
Segundo o Dec. Lei 8.207/45, o Poder Público, ao adquirir o domínio dos bens arrecadados, deve aplicá-los em fundações destinadas ao desenvolvimento do ensino universitário, e o Ministério Público velará por essa aplicação.

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