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Direito+PenalIII

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1 
 
Parte 01 
 
DA INTRODUÇÃO À PARTE ESPECIAL DO CÓDIGO PENAL 
 
1) DA PARTE GERAL E DA PARTE ESPECIAL: 
O Código Penal Brasileiro é dividido em 02 partes: Parte Geral (art. 1° a 120) e 
Parte Especial (art. 121 a 361). 
A Parte Geral compreende o estudo da aplicação da lei penal, teoria geral do 
crime, culpabilidade, concurso de pessoas, penas, ação penal e causas de 
extinção da punibilidade. 
Contém apenas normas penais permissivas e explicativas (ou finais ou 
complementares). 
Normas penais permissivas: estabelecem a licitude, a inculpabilidade ou a 
impunidade de determinados comportamentos. Ex: legítima defesa (art. 25), 
inimputabilidade por doença mental (art. 26), extinção da punibilidade pela 
prescrição (art. 109) etc. 
Normas penais explicativas: esclarecem o conteúdo de outras normas ou 
então delimitam o âmbito de sua aplicação. Ex: territorialidade (art. 5°) 
contagem do prazo (art. 10). 
Por outro lado, as normas penais incriminadoras, que definem infrações 
penais e cominam as respectivas penas, estão previstas com exclusividade 
na Parte Especial e na Legislação Penal Extravagante. 
Na Parte Especial, todavia, excepcionalmente, são encontradas normas penais 
permissivas (art. 121, §5°, 128, II, 129, §8º, 142 etc) e normas penais 
explicativas (art. 150, §4°- conceito de “casa”, 327 - conceito de “funcionário 
público” etc). 
2) DA PRECEDÊNCIA HISTÓRICA DA PARTE ESPECIAL 
Historicamente, a Parte Especial precedeu a Geral por uma exigência de 
ordem prática. 
As legislações positivadas tiveram origem na medida em que surgiram os fatos 
de natureza nociva à ordem pública e que exigiam, por isso, repressão por 
parte do Estado. 
2 
 
Não estavam, pois, sistematizadas porque o interesse do Estado era prever as 
condutas consideradas como crimes, bem como a respectiva sanção para o 
caso. 
O estudo de determinadas figuras penais, p. ex, o homicídio, levou à formação 
de institutos aplicáveis a outros delitos (legítima defesa, dolo, tentativa etc). 
3) DA TEORIA GERAL DA PARTE ESPECIAL: 
A Parte Especial, para muitos, constitui o verdadeiro Direito Penal porque sem 
ela as normas da Parte Geral permaneceriam sem vida. 
Atualmente, discute-se a ideia de se formular uma teoria geral da Parte 
Especial a fim de se estudar os elementos comuns aos diversos tipos de delito 
e ligar as normas da Parte Geral com as leis incriminadoras, o que não ocorre 
no vigente ordenamento. 
Ao crime de homicídio, p. ex, aplicam-se quase todas as normas contidas na 
Parte Geral. Entretanto, o estudo de cada qual é realizado de modo estanque. 
Uma Teoria Geral da Parte Especial seria muito salutar, pois propiciaria uma 
maior harmonia entre a Parte Geral e a Especial, pois há uma evidente falta de 
entrosamento entre as duas Partes. 
4) DA CLASSIFICAÇÃO DA PARTE ESPECIAL: 
A Parte Especial do CP Brasileiro está sistematizada de acordo com a natureza 
e a importância do bem jurídico protegido. 
Inicia com as condutas que afetam os bens jurídicos individuais e termina com 
os crimes que atentam contra os interesses do Estado. 
Segundo Hungria, “a ordem de classificação adotada pelo Código não só 
corresponde à ordem de apresentação histórica dos crimes (os atentados 
contra a pessoa foram, presumidamente, as formas primitivas de 
criminalidade), mas também atende ao critério metodológico de partir do mais 
simples ao mais complexo”. 
Eis a classificação dos Títulos dos crimes no CP: 
I- Crimes contra a pessoa; 
II- Crimes contra o patrimônio; 
III- Crimes contra a propriedade imaterial; 
IV – Crimes contra a organização do trabalho; 
V- Crimes contra o sentimento religioso e respeito aos mortos; 
3 
 
VI- Crimes contra a dignidade sexual; 
VII- Crimes contra a família; 
VIII- Crimes contra a incolumidade pública; 
IX- Crimes contra a paz pública; 
X- Crimes contra a fé pública; 
XI- Crimes contra a Administração Pública. 
5) DOS CRIMES CONTRA A PESSOA 
O Título I da Parte Especial elenca os crimes contra a pessoa, tanto no aspecto 
físico, como no moral. Está dividido em 06 capítulos, que são: 
I- Dos Crimes contra a vida (art. 121 a128); 
II- Das lesões corporais (art. 129); 
III- Da periclitação da vida e da saúde (art. 130 a 136); 
IV- Da rixa (art. 137); 
V- Dos crimes contra a honra (art. 138 a 145); 
VI – Dos crimes contra a liberdade individual (art. 146 a 154). 
6) DOS CRIMES CONTRA A VIDA 
O CP, no Capítulo I do Título I da Parte Especial, protege a vida humana extra 
e intrauterina, com a previsão de 04 delitos: 
1) Homicídio (art. 121); 
2) Induzimento, instigação ou auxílio ao suicídio (art. 122); 
3) Infanticídio (art. 123); 
4) Aborto (arts. 124 a 128). 
Todos os crimes contra a vida, salvo o homicídio culposo (art. 121, §3º), são 
julgados pelo Tribunal do Júri (art. 5°, inciso XXXVIII, alínea “d”, da 
Constituição Federal. 
Como consequência disso, a ação penal será sempre pública 
incondicionada. 
 
 
4 
 
Parte 02 
 
DOS CRIMES CONTRA A VIDA EM ESPÉCIE 
 
HOMICÍDIO (art.121 do CP) 
 
1) Conceito: 
É a eliminação da vida humana extrauterina praticada por outra pessoa. 
Segundo Nélson Hungria: 
“O homicídio é o tipo central dos crimes contra a vida. É o ponto 
culminante na orografia dos crimes. É o crime por excelência. É o padrão 
da delinquência violenta ou sanguinária, que representa como que uma 
reversão atávica às eras primevas, em que a luta pela vida, 
presumivelmente, se operava com o uso normal dos meios brutais e 
animalescos. É a mais chocante violação do senso moral médio da 
humanidade civilizada”. 
2) Modalidades: 
O CP admite as seguintes modalidades do crime de homicídio: 
a) homicídio doloso simples (caput); 
b) homicídio doloso privilegiado (§1°); 
c) homicídio doloso qualificado (§2°); 
d) homicídio doloso majorado (§4°, segunda parte, §6º e §7º). 
e) homicídio culposo (§3°); 
f) homicídio culposo majorado (§4°, primeira parte). 
Obs: Em razão do disposto no art. 1°, inciso I, da Lei n° 8.072/90 (Lei dos 
Crimes Hediondos) são hediondos apenas o homicídio praticado em atividade 
típica de grupo de extermínio, ainda que cometido por um só agente, e o 
homicídio qualificado. 
Obs 2: Parcela da doutrina costuma denominar de “Homicídio Condicionado” 
ao homicídio simples praticado em atividade típica de grupo de extermínio 
porque apenas se presente tal condição é que esta modalidade de homicídio 
passará a ser considerada hedionda. 
5 
 
Obs 3: “Homicídio preterdoloso” é sinônimo de Lesões Corporais Seguidas de 
Morte (artigo 129, §3º, do CP). Não é crime doloso contra a vida e, por isso, 
não é julgado pelo Tribunal do Júri. 
3) Sujeito ativo: 
Qualquer pessoa porque se trata de crime comum. A Lei não exige requisito 
especial algum. 
Admite, contudo, coatoria e participação. 
Autoria colateral: duas pessoas querem praticar um homicídio e agem 
simultaneamente, sem que uma saiba da intenção da outra, e o resultado 
morte decorre da ação de somente uma delas, que é identificada no caso 
concreto. Esta responderá por homicídio consumado, a outra por tentativa. 
Autoria incerta: ocorre quando, na autoria colateral, não se consegue apurar 
qual dos agentes envolvidos provocou o resultado letal. Prevalece na doutrina 
que, nesse caso, ambos respondem por tentativa. 
Obs: No curioso exemplo dos irmãos xifópagos (siameses), no qual a 
separação é impossível, se um deles quis praticar o delito e o outro não, a 
doutrina não aponta outra solução senão a absolvição de ambos. 
4) Sujeito passivo: 
Qualquer pessoa com vida extrauterina. 
Obs: Magalhães Noronha aponta o Estado também como vítima imediata docrime, pois ele tem interesse na conservação da vida humana, sendo condição 
para a sua própria existência. 
Se a conduta recair sobre pessoa já sem vida, o crime será impossível por 
absoluta impropriedade do objeto (art. 17). É o caso do agente que desejando 
matar a vítima desfecha-lhe vários tiros, vindo a verificar, pouco depois, que a 
vítima já havia falecido muito antes. 
No caso dos irmãos xifópagos, se o agente desejar a morte de apenas um 
deles e o outro vier a óbito por decorrência da ação praticada, responderá por 
duplo homicídio em concurso formal (art. 70). 
Em virtude de características especiais da vítima, a tipificação do homicídio 
pode ser transferida para Leis Especiais. Assim, quem atenta contra a vida do 
Presidente da República, do Senado Federal, da Câmara dos Deputados ou do 
STF pratica o delito previsto no art. 29 da Lei n° 7.170/83 (Lei de Segurança 
Nacional). 
6 
 
Da mesma forma, aquele que, com intenção de destruir, no todo ou em parte, 
grupo nacional, étnico, racial ou religioso, matar membros do grupo, praticará 
genocídio (art. 1°, alínea “a”, da Lei n° 2.889/56). 
Não se deve confundir o crime de homicídio com o crime de genocídio (Lei nº 
2.889/56). 
O crime de genocídio tutela a diversidade humana e, em razão disso, tem 
caráter coletivo ou transindividual, não atraindo a competência do Tribunal do 
Júri. 
Ocorre que uma das formas de praticar genocídio é por meio da morte de 
membros do grupo. Nessa hipótese sim, a competência para julgar o crime de 
genocídio será do Tribunal do Júri, em razão da conexão. 
Obs: O STF, no julgamento do RE nº 351.487/PR, decidiu que, havendo 
concurso formal entre genocídio e homicídio doloso, compete o julgamento ao 
Tribunal do Júri da Justiça Federal, sem que se fale de bis in idem. 
5) Objeto jurídico: 
Objeto jurídico é o interesse protegido pela norma. É o bem juridicamente 
protegido. 
No caso do homicídio, é a vida humana extrauterina, já que a ofensa à vida 
intrauterina caracteriza aborto (art. 124 a 126). 
A prova da vida se faz pela respiração (tradicional) e também por outros meios: 
batimentos cardíacos, movimento circulatório etc. 
Obs: Quando se deixa de ter vida intrauterina e se passa a ter vida 
extrauterina? 
Com o início do parto. Considera-se início do parto o começo do nascimento, 
ou seja, o início das contrações expulsivas. Antes disso, haverá o crime de 
aborto. 
Nas hipóteses em que o nascimento não se produz espontaneamente pelas 
contrações uterinas, como ocorre com a cesariana, o começo do nascimento é 
determinado pelo início da operação, ou seja, pela incisão abdominal. 
6) Objeto material: 
Objeto material é a pessoa ou a coisa sobre a qual recai a conduta delitiva. Na 
hipótese do homicídio é a pessoa que sofreu o ataque contra a sua vida. 
7) Ação nuclear: 
O crime de homicídio tem por ação nuclear o verbo “matar”. 
7 
 
Trata-se de delito de ação livre, pois o tipo descreve nenhuma forma especial 
para praticá-lo. Desse modo, o agente pode fazer uso de todos os meios para 
praticar a ação típica. Exemplos: 
a) meios materiais: fazer uso de instrumentos vulnerantes em geral, veneno e 
transmissão de moléstias letais (aids); 
b) meio morais ou psíquicos: dizer a um pai cardíaco que o filho acabara de 
morrer. 
c) por palavras: dizer a um cego para avançar em direção a um abismo. 
d) por omissão: não alimentar o próprio filho recém- nascido. 
8) Elemento subjetivo: 
É o dolo, denominado animus necandi ou animus occidenti, e a culpa, que será 
objeto de estudo posteriormente. 
Espécies de Dolo: 
a) Dolo direto ou determinado: o agente quer praticar a conduta e produzir o 
resultado morte. A doutrina costuma dividir o dolo direto em dolo direto de 1º 
grau e dolo direto de 2° grau: 
-Dolo direto de 1° grau: o agente prevê determinado resultado e seleciona 
meios para executá-lo. Não existem efeitos colaterais para se atingir o 
resultado almejado, já que a intenção é atingir bem jurídico certo e determinado 
no caso concreto. Ex: Desejando matar a vítima, o agente dispara-lhe um tiro 
certeiro na cabeça. 
Dolo direto de 2° grau: o agente pretende produzir determinado resultado 
(morte da vítima). Para tanto, prevê que poderá provocar consequências 
inerentes (efeitos colaterais) ao resultado pretendido, não diretamente 
desejado, mas inevitáveis em razão do meio escolhido para a execução. Ex: 
Terrorista deseja matar o Presidente da República e coloca uma bomba no 
carro-oficial que está sendo dirigido por seu motorista. A morte de ambos será 
imputada ao terrorista a título de dolo direto: de 1° grau no tocante à morte do 
Presidente e de 2° grau no tocante ao motorista. 
Diferenças entre o dolo direto de 2° grau e o dolo eventual com relação ao(s) 
resultado(s) paralelo(s): 
 
 
 
8 
 
Dolo direto de 2º grau Dolo eventual 
O resultado paralelo é certo e 
determinado (as consequências são 
inerentes aos meios escolhidos). 
O resultado paralelo é incerto, 
eventual, possível e desnecessário 
(não é inerente ao meio escolhido) 
Ex: O agente quer matar um piloto de 
avião. Para tanto, coloca uma bomba 
na aeronave. Sabe que a explosão 
causará a morte dos demais 
tripulantes, como consequência certa 
e imprescindível. 
Ex: O agente deseja matar 
determinada pessoa, que se encontra 
no meio de uma multidão, utilizando 
uma arma de fogo. Sabe que, além da 
vítima visada, os disparos poderão 
atingir outras pessoas que passam 
naquele local. A morte ou lesão dos 
demais transeuntes, contudo, não é 
imprescindível para que se realize a 
finalidade almejada e ser-lhe-á 
atribuída a título de dolo eventual. 
 
b) Dolo indireto ou indeterminado: divide-se em dolo eventual e dolo 
alternativo. 
No dolo eventual, o agente não quer diretamente o resultado, mas assume o 
risco de produzi-lo. Ex: Agente efetua disparos de arma de fogo em direção à 
rua movimentada, prevendo que possa atingir pessoas que passam no local. 
Não se confunde com o dolo direto de 2° grau. 
Já no dolo alternativo, o agente não se importa em produzir este ou aquele 
resultado. Ex: agente efetua disparos em direção à vítima, não importando se 
vai matá-la ou somente feri-la. 
c) Dolo geral ou aberratio causae: o agente, após praticar uma conduta, 
acreditando ter produzido o resultado, realiza outra que, efetivamente, produz o 
resultado naturalístico. Ex: Agente esfaqueia a vítima. Em seguida, acreditando 
tê-la matado, para desfazer-se das evidências, joga o corpo no mar. Descobre-
se ao final, pelas provas periciais realizadas, que a vítima morreu por 
afogamento e não em consequência dos golpes de faca. O agente responderá 
por homicídio doloso na modalidade dolo geral. 
Obs: Discute-se se o homicídio praticado na direção de veículo automotor, 
quando o agente está embriagado ou participando de “racha” deve ser 
capitulado como homicídio culposo ou doloso (na modalidade eventual). 
Com o advento da Lei nº 12.971/14, que alterou o artigo 302, do Código de 
Trânsito Brasileiro (Lei nº 9.503/97), parcela da doutrina entende que o 
legislador colocou uma pá de cal no assunto ao afastar o dolo em tais 
situações. Vejamos: 
Art. 302. Praticar homicídio culposo na direção de veículo automotor: 
9 
 
 Penas - detenção, de dois a quatro anos, e suspensão ou proibição de se 
obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor. 
(...) 
§ 2o Se o agente conduz veículo automotor com capacidade psicomotora 
alterada em razão da influência de álcool ou de outra substância 
psicoativa que determine dependência ou participa, em via, de corrida, 
disputa ou competição automobilística ou ainda de exibição ou 
demonstração de períciaem manobra de veículo automotor, não 
autorizada pela autoridade competente: (Incluído pela Lei nº 12.971, de 
2014) (Vigência) 
Penas - reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e suspensão ou proibição 
de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo 
automotor. (Incluído pela Lei nº 12.971, de 2014) (Vigência) 
A questão, no entanto, está longe de ser pacificada. Há decisões, inclusive do 
STF, em ambos os sentidos. 
Obs: A Lei nº 13.546/17 acrescentou o §3º ao artigo 302, do CTB, e alterou a 
pena do homicídio culposo na direção de veículo automotor. Doravante, a pena 
será de 05 (cinco) a 08 (oito) anos. 
9) Consumação: 
A consumação ocorre com a produção do resultado morte. 
O momento da morte, segundo o critério legal, é a cessação da atividade 
encefálica (art. 3º, da Lei n° 9.434/97, que trata da remoção de órgãos, tecidos 
e partes do corpo humano para fim de transplante e tratamento). 
A prova da materialidade é feita pelo exame de corpo de delito (art. 158, do 
CPP), também conhecido por exame necroscópico ou cadavérico. 
Se não for possível o exame direto (o corpo da vítima desapareceu), a prova da 
materialidade é obtida por meio do exame de corpo de delito indireto (art. 167, 
do CPP), valendo-se da prova testemunhal. 
10) Tentativa: 
O homicídio, por ser crime material, admite a tentativa (conatus). 
Haverá, quando praticada a ação, o resultado apenas não sobrevier por 
circunstâncias alheias à vontade do agente. 
Espécies: 
I- Quanto ao iter criminis percorrido: 
10 
 
a) Tentativa imperfeita (ou propriamente dita): o processo executivo é 
interrompido por circunstâncias alheias à vontade do agente. Ex: Após efetuar 
um disparo no braço da vítima, o agente é desarmado por populares. 
b) Tentativa perfeita ou acabada (“crime falho”): a fase de execução é 
integralmente cumprida, mas a vítima não morre por circunstâncias alheias à 
vontade do agente. Ex: o agente descarrega o revólver na vítima, mas ela é 
levada prontamente ao hospital e sobrevive. 
II- Quanto ao resultado produzido na vítima: 
a) Tentativa branca ou incruenta: a vítima não sofre dano algum. Ex: O 
agente por falta de pontaria erra todos os tiros. 
b) Tentativa cruenta (“vermelha”): a vítima sofre ferimentos. 
11) Classificação doutrinária do crime de homicídio: 
a) simples: atinge um único bem jurídico; 
b) comum: pode ser praticado por qualquer pessoa; 
c) material: exige a produção do resultado para a consumação; 
d) de dano: exige a efetiva lesão ao bem jurídico; 
e) de ação livre: admite qualquer forma de execução; 
f) instantâneo: a consumação se dá em momento determinado, sem 
continuidade no tempo. Há quem diga que se trata de crime instantâneo de 
efeitos permanentes dada a irreversibilidade do resultado produzido. 
g) plurissubsistente: a conduta pode ser fracionada em vários atos que, 
somados, chegam à consumação. 
DO HOMICÍDIO PRIVILEGIADO (art. 121, §1°, CP) 
Caso de diminuição de pena 
§ 1º Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor 
social ou moral, ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a 
injusta provocação da vítima, ou juiz pode reduzir a pena de um sexto a 
um terço”. 
Trata-se de uma causa de redução de pena obrigatória variável entre 1/6 a 1/3. 
Aplica-se na 3ª fase da dosimetria da pena. 
11 
 
Não deixa de ser considerado homicídio do tipo básico (caput), mas diante da 
presença de circunstâncias de caráter subjetivo, a conduta homicida torna-se 
menos reprovável. 
Prevalece na doutrina e na jurisprudência que a redução da pena é obrigatória, 
diante de tais circunstâncias, o juiz é obrigado a diminuir a pena. 
Hipóteses: 
1) Motivo de relevante valor social: é o que corresponde ao interesse 
coletivo. Ex: Matar o traidor da pátria, matar perigoso bandido que aterroriza a 
vizinhança (desde que não seja justiceiro). 
2) Motivo de relevante valor moral: é o que corresponde a um interesse 
individual, ou seja, do próprio agente. É o que merece o apoio da moralidade 
média por estar ligado a sentimentos de compaixão, misericórdia ou piedade. 
Ex: Eutanásia, matar o estuprador da filha. 
Obs: A eutanásia está prevista na Exposição de Motivos do Código Penal. 
Diferenças entre eutanásia, ortotanásia e distanásia: 
Quadro sinótico: 
EUTANÁSIA ORTOTANÁSIA DISTANÁSIA 
Antecipação da morte 
natural, diante de uma 
doença incurável, sem 
que o paciente esteja 
em estado terminal. 
Pode ser ativa ou 
passiva: 
 
a) Ativa: quando 
presentes atos positivos 
com o fim de matar 
alguém, eliminando ou 
aliviando o sofrimento. 
 
b) Passiva: ocorre com a 
omissão de tratamento 
ou de qualquer meio 
capaz de prolongar a 
vida humana, 
irreversivelmente 
comprometida, 
acelerando o processo 
morte 
Termo médico para 
definir a morte natural 
sem interferência da 
ciência, suspendendo 
os meios 
medicamentosos ou 
artificiais de vida, 
permitindo ao paciente 
em coma irreversível, 
em estado terminal ou 
vegetativo, morte digna. 
Persistência terapêutica 
em paciente 
irrecuperável associada 
à morte com sofrimento. 
Na verdade refere-se 
ao prolongamento do 
curso natural da morte 
e não o prolongamento 
da vida por todos os 
meios existentes. Aqui 
a morte é inevitável. 
É crime (artigo 121, §1º, 
do Código Penal) 
02 correntes: 
 
Não é crime. 
12 
 
a) É crime, não é 
autorizada por lei. 
 
b) Não é crime, desde 
que obedeça aos 
procedimentos legais 
 
3) Domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da 
vítima (“Homicídio emocional”): 
a) Domínio de violenta emoção: é aquela que é intensa, violenta, causando 
um verdadeiro choque emocional no indivíduo, de modo que ele não agiria 
desta forma se ela não existisse. 
b) Injusta provocação da vítima: é aquela sem motivo razoável, é o 
comportamento capaz de provocar a violenta emoção e a consequente prática 
do crime. Não há necessidade de ser uma agressão, mas qualquer conduta 
desafiadora, ainda que atípica. Ex: Ofensas verbais dirigidas à mãe, cônjuge 
que surpreende o outro em flagrante adultério. 
 c) Reação imediata: ou seja, sem intervalo. Deve haver imediatidade entre a 
provocação e a ação do sujeito. A demora na reação exclui a minorante. Por 
outro lado, a jurisprudência diz que enquanto perdurar o domínio da violenta 
emoção qualquer reação será considerada imediata. Dependerá, portanto, do 
caso concreto. 
Obs: O privilégio não se comunica aos eventuais coatores e partícipes por ser 
circunstância de caráter pessoal (artigo 30, do Código Penal). No exemplo do 
pai que mata o estuprador da filha com a ajuda do vizinho, somente o genitor 
poderá ser beneficiado, salvo se o vizinho também estiver sob o domínio de 
violenta emoção. 
Obs 2: Difere o privilégio da circunstância atenuante da “influência da violenta 
emoção (art. 65, inciso III, alínea “c”, in fine). Nesta última, o agente não está 
dominado pela emoção, mas apenas sob a influência, o que é um minus em 
comparação com o privilégio. Além disso, não exige que a reação seja 
“imediata” à provocação. Assim, afastada a minorante, nada impede que os 
jurados reconheçam a atenuante do “domínio de violenta emoção”, que possui 
requisitos mais brandos (caráter residual). Como diz a doutrina: o domínio da 
violenta emoção “cega” o agente, a “influência da violenta emoção” deixa 
apenas a sua visão “turva”. 
“A atenuante incide residualmente naqueles casos em que, comprovado o 
motivo de relevante valor moral, não se pode afirmar que a conduta do 
agente seja fruto do instante dos acontecimentos” (STF, HC 89.814/MS, 
Rel. Carlos Britto). 
13 
 
DO HOMICÍDIO QUALIFICADO (art.121, §2°) 
Homicídio qualificado§ 2° Se o homicídio é cometido: 
I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo 
torpe; 
II - por motivo fútil; 
III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro 
meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum; 
IV - à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso 
que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido; 
V - para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de 
outro crime: 
Pena - reclusão, de doze a trinta anos. 
Feminicídio (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015) 
VI - contra a mulher por razões da condição de sexo feminino: (Incluído 
pela Lei nº 13.104, de 2015) 
VII – contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da 
Constituição Federal, integrantes do sistema prisional e da Força 
Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou em decorrência 
dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até 
terceiro grau, em razão dessa condição: (Incluído pela Lei nº 13.142, de 
2015) 
Pena - reclusão, de doze a trinta anos. 
§ 2o-A Considera-se que há razões de condição de sexo feminino quando 
o crime envolve: (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015) 
I - violência doméstica e familiar; (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015) 
II - menosprezo ou discriminação à condição de mulher. (Incluído pela 
Lei nº 13.104, de 2015) 
Qualificadoras são causas que, agregadas ao tipo fundamental, tornam o fato 
mais grave e elevam as penas mínimas e máximas cominadas. 
O homicídio qualificado é considerado hediondo (Lei n° 8.072/90). 
14 
 
As qualificadoras previstas nos incisos I, II, V, VI e VII são de natureza 
subjetiva, por isso, no concurso de agentes, não se comunicam aos coautores 
e partícipes, por força do artigo 30, do CP. 
Por outro lado, as qualificadoras previstas nos incisos III e IV, por terem 
natureza objetiva, ou seja, são ligadas ao fato e não à motivação do agente, 
comunicam-se aos coautores e partícipes, desde que tenham conhecimento. 
Ex: O fato de o autor ter praticado o homicídio valendo-se de meio cruel, 
qualifica também o delito para o partícipe. 
Obs: Não condiz com a melhor técnica jurídica referir-se ao delito como sendo 
duplamente ou triplamente qualificado. É mais conveniente chamá-lo de 
homicídio com pluralidade de qualificadoras. Uma qualificadora será utilizada 
na subsunção ao tipo do §2° e a(s) outra(s) como circunstância agravante 
(posição majoritária). 
Hipóteses legais: 
Inciso I: Mediante paga ou promessa de pagamento ou outro motivo 
torpe: 
Trata-se de rol exemplificativo que admite interpretação analógica. “Paga e 
promessa de pagamento” são apenas exemplos de motivação que revela 
torpeza por parte do agente. 
- Paga e promessa de pagamento”. A “paga” é anterior, ao passo que “a 
promessa de pagamento” é posterior ao fato. É conhecido por “homicídio 
mercenário”, no qual o agente ceifa a vida de outrem em troca de uma 
prestação pecuniária. 
Trata-se, pois, de crime de concurso necessário no qual é imprescindível a 
presença das figuras do mandante e do executor (“sicário”). 
É qualificadora de ordem subjetiva que não se comunica ao coautor ou 
partícipe (posição majoritária). 
Assim, somente abrangerá o executor e não o mandante (art. 30). Ex: Pai que 
contrata pistoleiro para matar estuprador da filha. O genitor responderá por 
homicídio privilegiado e o pistoleiro por homicídio qualificado. 
Obs: Discute-se na doutrina se a contraprestação pode ser de qualquer 
natureza ou deve ser obrigatoriamente pecuniária. Havendo posicionamentos 
em ambos os sentidos. Entretanto, a questão não se reveste de maior 
importância, uma vez que qualquer outra promessa (casamento, relação 
sexual, emprego etc) pode configurar motivo torpe. 
Motivo torpe: é a motivação reprovável, vil, repugnante, ignóbil, 
profundamente imoral, que demonstra depravação ética e espiritual por parte 
do agente. 
15 
 
Exemplos retirados da jurisprudência: 
- matar em razão de preconceito de raça, cor ou etnia ou opção sexual; 
- matar a vítima em rituais de “magia negra” como parte da “oferenda”; 
- matar os pais para ficar com a herança (caso “Suzane Richthofen”); 
- matar a vítima para ocupar o seu cargo; 
- matar a vítima para ficar com o seu cônjuge; 
- matar traficante rival pelo domínio das “bocas-de-fumo”; 
- matar o cônjuge para ficar com o seguro. 
Obs: O ciúme e a vingança, por si sós, não são considerados motivos torpes. A 
torpeza, nesses casos, dependerá do caso concreto, ou seja, da causa que 
originou o ciúme ou a vingança. Exemplos: 
- Traficante mata outro traficante porque, no passado, este lhe tomou a “boca-
de-fumo”: nesse caso, á vingança é manifestamente torpe. 
- Filho ceifa a vida do ex-padrasto por ele ter matado, anos antes, a sua mãe: a 
vingança aqui, em princípio, não pode ser considerada torpe. 
Inciso II: por motivo fútil: 
Motivo fútil: trata-se também de qualificadora de ordem subjetiva. É o motivo 
de somenos importância, insignificante, mesquinho, totalmente desproporcional 
com relação ao crime praticado. Em síntese, é a real desproporção entre o 
delito e a sua causa moral (“pequeneza de motivos”). 
Obs: Guilherme de Souza Nucci, citando as lições de Euclides Custódio da 
Silveira, entende que a “futilidade do motivo deve prender-se imediatamente à 
conduta homicida em si mesma, quem mata no auge de uma altercação 
oriunda de motivo fútil, já não o faz somente por este motivo mediato que se 
originou aquela”. Ensina o autor: 
“(...) costuma-se defender que uma mera briga ocorrida no trânsito, de onde 
pode sair um homicídio, constitui futilidade, qualificando o crime. Nem sempre. 
Se um motorista sofreu uma ‘fechada’, provocada por outro, sai em 
perseguição e tão logo o alcance, dispara seu revólver, matando-o, 
naturalmente, estamos diante um homicídio qualificado pela futilidade, pois 
esta é direta e imediata. Entretanto, se, após alcançar o outro motorista, ambos 
param na via pública e uma acirrada discussão tem início, com troca de 
ofensas e até agressões físicas. A morte do perseguido nessas circunstâncias, 
não faz nascer a qualificadora, pois o motivo fútil foi indireto ou mediato e não 
fruto direto do disparo do revólver. Em suma: há futilidade direta ou imediata, 
16 
 
que serve para qualificar o homicídio, bem como futilidade indireta ou mediata 
que não faz nascer o aumento de pena”. 
Exemplos retirados da jurisprudência: 
- matar porque recebeu uma “fechada” no trânsito (vide comentário acima); 
- matar dono do bar porque este não lhe vendeu fiado; 
- matar por causa de comentário jocoso sobre o time de futebol; 
-matar o filho porque chorava muito; 
-matar o fiscal de trânsito porque lhe aplicou uma multa; 
Obs: A ausência de motivos e o motivo injusto não configuram essa 
qualificadora por falta de previsão legal (analogia in mallam partem). 
Obs 2: O STJ, recentemente, decidiu que não incide a referida qualificadora na 
a hipótese de competição automobilística não-autorizada (“racha”). Vejamos: 
“HABEAS CORPUS. HOMICÍDIO. DOLO EVENTUAL. MOTIVO FÚTIL. 
COMPATIBILIDADE. RACHA. EXCLUSÃO DA QUALIFICADORA. 
POSSIBILIDADE. 1. Motivo fútil corresponde a uma reação 
desproporcional do agente a uma ação ou omissão da vítima. No caso de 
"racha", tendo em conta que a vítima (acidente automobilístico) era um 
terceiro, estranho à disputa, não é possível considerar a presença da 
qualificadora de motivo fútil, tendo em vista que não houve uma reação 
do agente a uma ação ou omissão da vítima. 2. A qualificadora de motivo 
fútil é incompatível com o dolo, tendo em vista a ausência do elemento 
volitivo. 3. Ordem nãoconhecida, mas concedida de ofício, de modo a 
excluir a qualificadora de motivo fútil”. (HC 307.617/SP, Rel. Ministro NEFI 
CORDEIRO, Rel. p/ Acórdão Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, SEXTA 
TURMA, julgado em 19/04/2016, DJe 16/05/2016) 
Aqui, conforme foi visto, o STJ reconheceu a incompatibilidade entre dolo 
eventual e motivo fútil. 
Inciso III: com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou 
outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum; 
Trata-se de qualificadora objetiva, pois diz respeito ao modo de execução do 
homicídio, demonstrando certa perversidade por parte do agente. 
Há também um rol exemplificativo seguido de uma fórmula genérica (“outro 
meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum”). Aplica-se, 
outrossim, uma interpretação analógica. 
17 
 
-Veneno (venefício): qualquer substância de origem biológica, química, 
animal, mineral ou vegetal, capaz de colocar em perigo a vida ou a integridade 
física de alguém. Ex: Misturar raticida na comida da vítima. 
Obs: A doutrina entende que pode ser considerado “veneno” a ministração de 
açúcar para pessoa com diabetes. 
Obs 2: O veneno deve ser ministrado de forma insidiosa ou dissimulada, em 
outras palavras, a vítima não deve saber que está ingerindo substância letal. 
Se houver coação, haverá a incidência da qualificadora do meio cruel. 
-Fogo ou explosivo: cuida-se de meio cruel para a prática do homicídio ou , 
em algumas hipóteses pode caracterizar perigo comum (ex: incêndio/explosão 
em habitação coletiva). Ex: Homicídio do índio pataxó em Brasília. 
-Asfixia: é o impedimento da função respiratória por qualquer meio, seja 
mecânico (enforcamento, estrangulamento, esganadura, sufocação etc) ou 
tóxico (inalação de gases ou confinamento). 
-Tortura: emprego de suplício ou tormento que provoca na vítima um 
sofrimento atroz antes de morrer. É um meio cruel por excelência. 
Obs: Se o agente atuar com dolo apenas com relação à tortura e o resultado 
morte advier de culpa (delito preterdoso), responderá pelo crime de tortura 
qualificado (art. 1°, §3°, da Lei n° 9.455/97). 
Obs 2: A Lei n° 12.847/13 instituiu o Sistema Nacional de Prevenção e 
Combate à Tortura. 
-Meio insidioso: é o meio ardiloso, pérfido, dissimulado em sua eficiência 
maléfica, de modo que a vítima não percebe que será atingida. Ex: Sabotagem 
em freio de veículo, armadilhas etc. 
-Meio cruel: é o que causa sofrimento desnecessário na vítima. Revela um 
sadismo e uma brutalidade fora do comum por parte do agente em contraste 
com o mais elementar sentimento de piedade. Ex: choques elétricos, 
espancamento, corte dos pulsos, dilaceração do corpo com motosserra. 
Obs: Parcela da jurisprudência entende que a reiteração de golpes, por si só, 
não caracteriza o meio cruel. 
“A reiteração de facadas não constitui, por si só, circunstância que 
qualifica o delito de homicídio, se não demonstrado que o fato gerou 
sofrimento excessivo e desnecessário à vítima, cabendo o decote da 
respectiva qualificadora. (Rec em Sentido Estrito 1.0071.10.003460-3/001, 
Relator(a): Des.(a) Nelson Missias de Morais , 2ª CÂMARA CRIMINAL, 
julgamento em 15/09/2011, publicação da súmula em 30/09/2011) 
 
18 
 
“MEIO CRUEL - REITERAÇÃO DE GOLPES - CONDIÇÃO IRRELEVANTE 
DIANTE DA COMPLETA AUSÊNCIA DE PROVAS. Se a denúncia sustenta 
a qualificadora pela só reiteração de golpes contra a vítima, não 
sustentando outra condição narrativa a conduzir ao meio cruel, a única 
conclusão possível é que a só repetição de golpes não é circunstância 
capaz de autorizar a imposição da qualificadora do meio cruel, que só 
ocorre quando haja prova do meio bárbaro, martirizante, brutal, que 
aumenta, inutilmente, o sofrimento da vítima, revelando que a crueldade 
parte de um ânimo calmo, que permita a escolha dos meios capazes de 
infligir o maior padecimento desejado”. (Rec em Sentido Estrito 
1.0024.04.439435-1/001, Relator(a): Des.(a) Judimar Biber , 1ª CÂMARA 
CRIMINAL, julgamento em 23/02/2010, publicação da súmula em 
16/04/2010)”. 
 
-Meio de que possa resultar perigo comum: é o que expõe a perigo, não 
somente a vítima, mas um n° indeterminado de pessoas. Ex: Execução da 
vítima com vários tiros em meio a uma multidão, incêndio, desabamento etc). 
 
Inciso IV: à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro 
recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido: 
Trata-se também de qualificadora de natureza objetiva (modo de execução do 
crime) que admite interpretação analógica. 
-Traição: é a quebra de confiança depositada pela vítima no agente, que dela 
se aproveita para matá-la. Ex: Matar a esposa durante relação sexual, matar 
amigo pelas costas etc. 
Obs: Não configura a referida qualificadora quando a vítima percebe que vai 
ser atacada. Ex: Consegue ver a arma escondida. 
Obs 2: O ataque inesperado (ex: pelas costas, durante o sono), sem se valer 
da relação anterior com a vítima, pode configurar surpresa. 
-Emboscada: pressupõe o ocultamento do agente, que aguarda a passagem 
ou chegada da vítima para atacá-la com surpresa (tocaia). 
-Dissimulação: é a ocultação da intenção hostil para acometer a vítima de 
surpresa (Hungria). Nesse caso, o agente dá falsas mostras de amizade para 
apanhar a vítima desprevenida (ex: caso do “maníaco do parque”) ou utiliza de 
aparato ou disfarce (ex: veste farda ou uniforme de policial para entrar na casa 
e executar a vítima). 
-Qualquer outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do 
ofendido: Trata-se da fórmula genérica indicativa de meio análogo à traição, 
emboscada ou dissimulação. O recurso empregado pelo agente deve 
igualmente ser insidioso de modo a dificultar ou inviabilizar a defesa da vítima. 
Ex: a surpresa (vítima golpeada pelas costas, dormindo ou em estado de 
embriaguez, linchamentos, etc). 
19 
 
Obs: Discussões ou desentendimentos anteriores impossibilitam o 
reconhecimento da qualificadora em estudo, segundo a jurisprudência 
majoritária. Vejamos: 
“A qualificadora consistente no uso de recurso que dificultou ou 
impossibilitou a defesa da vítima, somente se caracteriza se houve ataque 
inesperado, insidioso, repentino. Por essa razão a jurisprudência vem 
afastando a qualificadora em tela quando o homicídio é precedido de 
desentendimento anterior, como no caso em discussão, em que houve 
luta corporal entre a vítima e agentes”. (TJMG - Rec em Sentido 
Estrito 1.0567.13.001961-3/001, Relator(a): Des.(a) Beatriz Pinheiro Caires , 2ª 
CÂMARA CRIMINAL, julgamento em 03/07/2014, publicação da súmula em 
14/07/2014) 
 
“Se a prova dos autos é no sentido de que a prática do homicídio foi 
precedida de discussão entre as partes, afasta-se a qualificadora pela 
utilização de recurso que impossibilitou a defesa da vítima, uma vez que, 
nesse caso, não se pode afirmar que a vítima tenha sido atacada de 
inopino, sendo que, diante das circunstâncias do fato, o resultado era 
perfeitamente previsível. - Recurso provido em parte”. (TJMG - Rec em 
Sentido Estrito 1.0035.12.015638-1/001, Relator(a): Des.(a) Doorgal Andrada , 
4ª CÂMARA CRIMINAL, julgamento em 12/02/2014, publicação da súmula em 
18/02/2014) 
Obs 2: A idade da vítima, por si só, não qualifica o crime, pois constitui 
característica da vítima e não recurso utilizado pelo agente. 
Obs 3: A premeditação também, por si só, não qualifica o homicídio. 
Inciso V: para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou a 
vantagem de outro crime: 
São todas qualificadoras de natureza subjetiva, pois versam sobre os motivos 
determinantes do crime. 
 
Trata-se das hipóteses de conexão entre o homicídio e outros delitos. O agente 
responderá pelo homicídio em concurso material com o crime conexo. A 
doutrina divide a conexão do seguinte modo: 
 
1) Conexão teleológica: o homicídioé cometido para assegurar a execução 
de outro crime. É anterior ao outro delito que se pretendia cometer. Ex: Matar 
o marido para estuprar a esposa. 
 
Obs: O crime será qualificado ainda que o crime futuro não ocorra. Se ocorrer, 
haverá concurso entre o homicídio e o crime conexo. 
 
2) Conexão consequencial: o homicídio é cometido para assegurar a 
ocultação (ex: mata testemunha), a impunidade (ex: mata a vítima do estupro) 
20 
 
ou a vantagem de outro crime (ex: mata o comparsa do roubo para ficar com 
todos os lucros). É praticado posteriormente ao outro delito. 
 
Obs: “outro crime” pode se referir a delito praticado pelo próprio homicida ou 
por pessoa diversa (ex: irmão). Portanto, o crime passado não precisa ter sido 
praticado pelo homicida. Ex: O agente mata o segurança para o irmão estuprar 
a atriz. O agente mata a testemunha de crime praticado pelo irmão. 
 
Obs 2: Não configurará a referida qualificadora se se referir à contravenção 
penal. Nesse caso, haverá motivo torpe ou fútil. 
 
Inciso VI: contra a mulher em razão da condição de sexo feminino 
(feminicídio) 
 
A Lei nº 13.104/2015 acrescentou mais uma qualificadora ao rol do §2º, do 
artigo 121, do Código Penal, quando o homicídio for praticado contra a mulher 
por razões da condição de sexo feminino. 
 
Quando se fala em razões da condição de sexo feminino é lógico que se está 
diante de violência de gênero. Por isso, homicídio praticado contra mulher 
praticado com violência de gênero configura o feminicídio que nada mais é do 
uma qualificadora do crime de homicídio. 
 
Segundo a doutrina majoritária, cuida-se de mais uma qualificadora de 
natureza subjetiva, pois está ligada à motivação do delito e não ao meio ou ao 
modo de execução. 
 
Por outro lado, o STJ, em decisão recente, entendeu que a qualificadora do 
feminicídio é de natureza objetiva. Portanto, pode coexistir com a qualificadora 
do motivo torpe, conforme noticiado no Informativo de Jurisprudência nº 625, 
publicado em 01/06/2018, vejamos: 
 
“Observe-se, inicialmente, que, conforme determina o art. 121, § 2º-A, I, do 
CP, a qualificadora do feminicídio deve ser reconhecida nos casos em 
que o delito é cometido em face de mulher em violência doméstica e 
familiar. Assim, "considerando as circunstâncias subjetivas e objetivas, 
temos a possibilidade de coexistência entre as qualificadoras do motivo 
torpe e do feminicídio. Isso porque a natureza do motivo torpe é subjetiva, 
porquanto de caráter pessoal, enquanto o feminicídio possui natureza 
objetiva, pois incide nos crimes praticados contra a mulher por razão do 
seu gênero feminino e/ou sempre que o crime estiver atrelado à violência 
doméstica e familiar propriamente dita, assim o animus do agente não é 
objeto de análise" (Ministro Felix Fischer, REsp 1.707.113-MG, publicado 
em 07/12/2017). 
 
O legislador, por meio do também acrescentado §2º-A, pretendeu explicar 
quando se considera que há condição de sexo feminino. Tal norma explicativa, 
contudo, afigura-se inútil. 
 
21 
 
Além de uma redação confusa e tautológica (redundante), pode levar à 
interpretação de que todo homicídio praticado contra a mulher configura 
feminícidio. 
 
Vale a pena, então, fazer a distinção entre femicídio e feminicídio: 
 
Femicídio: é matar mulher. 
 
Feminicídio: é matar mulher em razão de “condição de sexo feminino”. 
 
Portanto, não é somente o fato de matar mulher que faz nascer a qualificadora, 
deve envolver ainda razão de condição de sexo feminino, ou seja, menosprezo 
ou discriminação quanto à condição de mulher (violência de gênero contra a 
mulher). 
 
É possível falar em feminicídio, se a vítima for transexual? 
 
Diante dos princípios norteadores do Direito Penal e, sobretudo, da vedação à 
analogia in malam partem, a doutrina majoritária entende não ser possível. 
Nesse caso, o homicídio pode continuar a ser considerado qualificado, mas a 
motivação será torpe ou fútil, conforme o caso. 
 
Obs: Há decisões judiciais aplicando a Lei Maria da Penha (Lei nº 11.340/06) 
para transexuais. 
 
Obs 2: Há doutrina que entende que se aplica a qualificadora do feminicídio, 
mesmo em se tratando de vítima transexual, se ela for reconhecida 
juridicamente como pessoa do sexo feminino. Contudo, trata-se de posição 
minoritária. 
 
VII – contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da 
Constituição Federal, integrantes do sistema prisional e da Força 
Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou em decorrência 
dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até 
terceiro grau, em razão dessa condição. 
 
A Lei nº 13.142/15 acrescentou o inciso VII no §2º, do artigo 121, do CP, 
passando a qualificar o delito se cometido contra as pessoas integrantes dos 
órgãos de segurança pública previstos nos artigos 142 e 144, da CF/88. 
 
A doutrina vem denominando essa nova modalidade de homicídio qualificado 
de “Homicídio Funcional”. 
 
Urge esclarecer que qualificadora do inciso VII é de natureza subjetiva, pois 
diz respeito à motivação do delito. 
 
Vejamos as hipóteses: 
 
a) Militares das Forças Armadas (artigo 142, da CF); 
 
22 
 
b) Integrantes da(s) Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal, Polícia 
Ferroviária Federal, Polícias Civis, Polícias Militares e dos Corpos de 
Bombeiros Militares (artigo 144, da CF); 
 
Obs: Homicídio praticado contra guardas civis municipais ou metropolitanos 
está abrangido pela referida qualificadora, segundo a melhor doutrina. Até 
porque o §8º, do artigo 144, da CF, prevê os guardas municipais como agentes 
da segurança pública. 
 
Mesmo raciocínio aplica-se aos agentes de trânsito, que também compõem os 
órgãos de segurança pública, conforme o §10, do artigo 144, da CF. 
 
c) Integrantes do Sistema Prisional; 
 
Obs: Abrangem não apenas os envolvidos diretamente com o sistema prisional 
(Diretor, agentes penitenciários etc), mas também os componentes de órgãos 
do Sistema Prisional, tais como os membros da Comissão Técnica de 
Classificação, da Comissão de Exame Criminológico, do Conselho 
Penitenciário etc. 
 
d) Integrantes da Força Nacional de Segurança Pública; 
 
e) Cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até 3º grau das 
pessoas mencionadas acima. 
 
Obs: É importante ressaltar que, em todas as hipóteses previstas, deve estar 
presente o nexo causal entre o homicídio e a função desempenhada pela 
vítima ou seu familiar. Portanto, não é o fato de a vítima ser policial que, por si 
só, fará presente a qualificadora. É indispensável que o motivo determinante do 
crime esteja relacionado diretamente com o exercício da função pela vítima. 
 
Ex: Um policial, à paisana e de folga, envolve-se numa briga de bar originada 
por uma discussão de futebol. Durante a contenda, o policial é morto a tiros por 
um torcedor do time rival que sequer o conhecia. Nesse caso, obviamente, não 
há de se falar da qualificadora em estudo, nada impedindo que haja o 
enquadramento em outra qualificadora subjetiva (motivo torpe ou fútil). 
 
Ex 2: Aproveitando o exemplo acima, vamos supor que a Polícia Militar seja 
acionada para atender a ocorrência. Ao avistar a viatura se aproximando, o 
mesmo torcedor acima efetua vários disparos em direção ao veículo militar a 
fim de não ser preso. Um dos tiros atinge um dos policiais, que vem a óbito. 
 
Nesse caso, o torcedor responderá pelos seguintes delitos, em concurso 
material (artigo 69, do CP): 
 
a) Homicídio qualificado pelo motivo torpe ou fútil com relação ao policial à 
paisana que sequer conhecia e, portanto, ignorava por completo sua condição 
funcional (artigo 121, §2º, inciso I ou II, do CP) 
 
23 
 
b) Homicídio qualificado por ter sido praticado contra policial militar em serviço 
(artigo 121, §2º, inciso VII, do CP) 
 
Obs 2: Como a Lei fala em “parentesco consanguíneo” como ficará a situaçãodo filho adotivo do agente de segurança?. Ex: Em represália a uma prisão 
ocorrida no passado, perigoso marginal mata filho adotivo do policial que o 
prendeu. Nesse caso, o criminoso responderá por homicídio qualificado pelo 
motivo torpe. 
 
Obs 3: Homicídio contra policial aposentado em decorrência da função 
exercida configura a qualificadora? 02 correntes: 
 
1ª corrente: A qualificadora do inciso VII aplica-se somente se a vítima for 
policial da ativa. É o posicionamento de Cleber Masson. Nesse caso, nada 
impediria a incidência da qualificadora do motivo torpe. 
 
2ª corrente: É perfeitamente possível. É o posicionamento de Cezar Roberto 
Bitencourt, Rogério Greco e Rogério Sanches Cunha. 
 
DO HOMICÍDIO PRIVILEGIADO-QUALIFICADO 
 
 
Privilegiadoras (§1°) Qualificadoras (§2º) 
Motivo de relevante valor social Meios de execução (inciso III) 
Motivo de relevante valor moral Modos de execução (inciso IV) 
Domínio de violenta emoção, logo em 
seguida à injusta provocação da 
vítima 
 
 
Discute-se na doutrina e na jurisprudência se o homicídio pode ser ao mesmo 
tempo privilegiado e qualificado. 
 
A posição amplamente majoritária é favorável, desde que as qualificadoras 
sejam de natureza objetiva (meio e modo de execução – incisos III e IV, §2°), 
uma vez que as privilegiadoras (minorantes) tem caráter subjetivo. Ex: Matar o 
perigoso traficante que aterroriza a comunidade local por emboscada. 
 
A doutrina lembra, contudo, ser incompatível uma qualificadora objetiva com o 
privilégio, na hipótese de “emboscada” e “violenta emoção”. 
 
Prevalece também que o homicídio privilegiado-qualificado não tem caráter 
hediondo (analogia ao artigo 67, do CP). 
 
Obs: No Tribunal do Júri, reconhecido o privilégio, o juiz-presidente pode 
quesitar o feminicídio? 
 
A resposta é negativa, pois a qualificadora do feminicídio possui natureza 
subjetiva, isto é, está ligada aos motivos determinantes do delito, incompatível 
com o privilégio. 
 
24 
 
DO HOMÍCIDIO DOLOSO MAJORADO (art. 121, §4°, parte final, §6° e §7º do 
CP): 
 
Art. 121: 
 
§4°: (...) “Sendo doloso o homicídio, a pena é aumentada de 1/3 (um terço) 
se o crime é praticado contra pessoa menor de 14 (quatorze) ou maior de 
60 (sessenta) anos”. 
 
§ 6º: “A pena é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o crime for 
praticado por milícia privada, sob o pretexto de prestação de serviço de 
segurança, ou por grupo de extermínio” (Incluído pela Lei nº 12.720, de 
2012). 
§ 7o A pena do feminicídio é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se 
o crime for praticado: (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015) 
I - durante a gestação ou nos 3 (três) meses posteriores ao 
parto; (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015) 
II - contra pessoa menor de 14 (catorze) anos, maior de 60 (sessenta) anos 
ou com deficiência; (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015) 
III - na presença de descendente ou de ascendente da vítima. (Incluído 
pela Lei nº 13.104, de 2015) 
IV - em descumprimento das medidas protetivas de urgência previstas 
nos incisos I, II e III do caput do art. 22 da Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 
2006. (Incluído pela Lei nº 13.771, de 2018) 
A 2ª parte do §4° do art. 121, aplicada somente aos delitos dolosos, aumenta a 
pena do homicídio (simples, privilegiado e qualificado) quando praticado 
“contra pessoa menor de 14 anos ou maior de 60 anos”, em razão da 
demonstração de maior insensibilidade moral e de maior covardia por parte do 
homicida. 
 
O §6° prevê uma causa de aumento de pena incorporada pela Lei n° 12.720/12 
de 27/09/2012. Trata-se do homicídio praticado por milícia privada, sob o 
pretexto de prestação de serviço de segurança, ou por grupo de extermínio 
(‘justiceiros”). 
 
A Lei nº 13.104/15 acrescentou o §7º ao artigo 121, do CP, aumentando a pena 
de 1/3 até a metade nas hipóteses de feminicídio. Ressalte-se que aqui não 
incide a causa de aumento do §4º a fim de se evitar o bis in idem. 
 
No mesmo sentido, a Lei nº 13.771/18 inseriu o inciso IV ao mesmo parágrafo 
acima, aumentando a pena na hipótese de feminicídio praticado em 
descumprimento de medidas protetivas previstas na Lei nº 11.340/06 (Lei Maria 
da Penha). 
 
25 
 
Obs: O artigo 59, do Estatuto do Índio (Lei nº 6.001/73) prevê causa de 
aumento de pena de 1/3 (um terço) para vítima índio não integrado. Vejamos: 
 
 “No caso de crime contra a pessoa, o patrimônio ou os costumes, em 
que o ofendido seja índio não integrado ou comunidade indígena, a pena 
será agravada de um terço”. 
 
DO HOMICÍDIO CULPOSO (artigo 121, §3°, CP) 
 
Ocorre o homicídio culposo quando o sujeito realiza uma conduta voluntária, 
com violação do dever objetivo de cuidado a todos imposto, por imprudência, 
negligência ou imperícia, e assim produz um resultado naturalístico (morte) 
involuntário, não previsto e tampouco querido, mas objetivamente previsível, 
que podia com a devida atenção ser evitado. 
 
Em síntese, o agente, sem desejar e tampouco assumir o risco, produz a morte 
da vítima, por imprudência, negligência ou imperícia. 
 
Obs: Se o homicídio for praticado na direção de veículo automotor, em razão 
do princípio da especialidade, haverá o delito previsto no art. 302, da Lei n° 
9.503/97 (CTB). 
 
Modalidades de culpa: 
 
a) Imprudência: é a culpa in faciendo ou positiva, consistente na prática de um 
ato perigoso sem as cautelas exigidas. É a precipitação, a afoiteza. Ex: 
Manejar arma de fogo em local de grande concentração de pessoas, trafegar 
na contramão, realizar manobra proibida na direção de veículo, fazer 
ultrapassagem em local proibido etc. 
 
b) Negligência: é a culpa negativa, consistente em deixar de fazer o que a 
cautela exige. É a ausência de precaução (omissão). Ex: Deixar arma 
carregada ou veneno ao alcance de criança. 
 
c) Imperícia: é a culpa profissional, consistente na falta de aptidão para o 
exercício de arte, ofício ou profissão. O agente, embora autorizado, não possui 
conhecimento ou habilidade necessária para a prática da conduta. Ex: 
Engenheiro que constrói prédio que, por erro de cálculo, vem a desabar e 
matar os moradores, policial que atira e acerta a vítima em vez do criminoso, 
médico clínico-geral que mata o paciente ao realizar uma cirurgia cardíaca. 
 
Obs: A culpa concorrente não isenta o agente de responsabilidade. O Direito 
Penal não admite compensação de culpa. 
 
Obs 2: A culpa exclusiva da vítima não gera responsabilidade penal do agente. 
 
 
DO HOMICÍDIO CULPOSO MAJORADO (artigo 121, §4°, 1ª parte, do CP): 
 
São 04 as hipóteses: 
26 
 
 
§ 4o No homicídio culposo, a pena é aumentada de 1/3 (um terço), se o 
crime resulta de inobservância de regra técnica de profissão, arte ou 
ofício, ou se o agente deixa de prestar imediato socorro à vítima, não 
procura diminuir as conseqüências do seu ato, ou foge para evitar prisão 
em flagrante. 
 
a) Inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício. 
 
Parte da doutrina entende ser inaplicável a referida majorante por configurar bis 
in idem já que se confunde com o próprio conceito de imperícia. 
 
A doutrina e a jurisprudência majoritárias entendem que, de fato, não se deve 
aplicar a referida causa de aumento ao profissional que não detém 
conhecimento suficiente para exercer determinada arte, ofício ou profissão, 
mas sim àquele que o possui e que, mesmo assim, produz o evento morte por 
desídia ou desleixo. Ex: Cardiologista que não segue as regras elementares de 
uma cirurgia do coração. 
 
Desta forma, a referida majorante só deve incidir em desfavor do profissional, 
ao qual se impõe um dever de cuidado mais acentuado. 
 
Nesse sentido, o julgado do STJ: 
 
 
Informativo nº 0520 
Período: 12 de junho de 2013. 
Quinta Turma 
DIREITO PENAL. NÃO CARACTERIZAÇÃO DE BIS IN IDEM NO CASO DE 
APLICAÇÃODE CAUSA DE AUMENTO DE PENA REFERENTE AO 
DESCUMPRIMENTO DE REGRA TÉCNICA NO EXERCÍCIO DA 
PROFISSÃO. 
É possível a aplicação da causa de aumento de pena prevista no art. 121, 
§ 4º, do CP no caso de homicídio culposo cometido por médico e 
decorrente do descumprimento de regra técnica no exercício da 
profissão. Nessa situação, não há que se falar em bis in idem. Isso porque o 
legislador, ao estabelecer a circunstância especial de aumento de pena 
prevista no referido dispositivo legal, pretendeu reconhecer maior 
reprovabilidade à conduta do profissional que, embora tenha o necessário 
conhecimento para o exercício de sua ocupação, não o utilize adequadamente, 
produzindo o evento criminoso de forma culposa, sem a devida observância 
das regras técnicas de sua profissão. De fato, caso se entendesse 
caracterizado o bis in idem na situação, ter-se-ia que concluir que essa 
majorante somente poderia ser aplicada se o agente, ao cometer a infração, 
incidisse em pelo menos duas ações ou omissões imprudentes ou negligentes, 
uma para configurar a culpa e a outra para a majorante, o que não seria 
condizente com a pretensão legal. Precedente citado do STJ: HC 63.929-RJ, 
Quinta Turma, DJe 9/4/2007. Precedente citado do STF: HC 86.969-6-RS, 
Segunda Turma, DJ 24/2/2006. HC 181.847-MS, Rel. Min. Marco Aurélio 
27 
 
Bellizze, Rel. para acórdão Min. Campos Marques (Desembargador 
convocado do TJ/PR), julgado em 4/4/2013. 
O STF entendeu de outra forma: 
Homicídio culposo: inobservância do dever de cuidado e “bis in idem” 
Por inadequação da via processual eleita, a 1ª Turma julgou extinto habeas 
corpus e, ante o empate na votação, concedeu, de ofício, a ordem para afastar 
a exasperação da pena-base decorrente da inobservância do dever de cuidado 
na direção de veículo automotor (CTB, art. 302), uma vez configurado bis in 
idem. Na espécie, o paciente fora condenado por homicídio culposo em razão 
de imprudência por dirigir com excesso de velocidade. A Ministra Rosa Weber, 
relatora, destacou que o magistrado, na primeira fase da dosimetria, 
fundamentara o aumento da pena-base tão somente na elevada velocidade do 
veículo no instante do atropelamento, que culminara com a morte da vítima. 
Reputou equivocada a consideração do excesso de velocidade e do resultado 
morte, porquanto consubstanciariam elementares do tipo. Assim, à míngua de 
outras circunstâncias desfavoráveis, a pena-base deveria permanecer no 
mínimo legal. Os Ministros Marco Aurélio e Luiz Fux votaram pela não 
concessão da ordem, de ofício, por não vislumbrarem ilegalidade. HC 
117599/SP, rel. Min. Rosa Weber, 3.12.2013. (HC-117599) 
b) Deixar de prestar imediato socorro à vítima: 
A referida causa de aumento de pena visa a punir com maior severidade a falta 
de solidariedade daquele que, culposamente, deu causa ao dano sofrido pela 
vítima e que, apesar de poder, nada faz para impedir que ela venha a morrer 
em consequência das lesões produzidas. 
Obs: Não incide a majorante se a vítima for socorrida por terceiros, se tiver 
morte instantânea ou se o agente corria perigo, seja porque estava ferido 
também, seja porque corria risco pessoal (ex: linchamento). Vejamos, o julgado 
do STJ: 
“DIREITO PENAL. MORTE INSTANTÂNEA DA VÍTIMA E OMISSÃO DE 
SOCORRO COMO CAUSA DE AUMENTO DE PENA. 
No homicídio culposo, a morte instantânea da vítima não afasta a causa 
de aumento de pena prevista no art. 121, § 4°, do CP – deixar de prestar 
imediato socorro à vítima –, a não ser que o óbito seja evidente, isto é, 
perceptível por qualquer pessoa. Com efeito, o aumento imposto à pena 
decorre do total desinteresse pela sorte da vítima. Isso é evidenciado por estar 
a majorante inserida no § 4° do art. 121 do CP, cujo móvel é a observância do 
dever de solidariedade que deve reger as relações na sociedade brasileira (art. 
3º, I, da CF). Em suma, o que pretende a regra em destaque é realçar a 
importância da alteridade. Assim, o interesse pela integridade da vítima deve 
28 
 
ser demonstrado, a despeito da possibilidade de êxito, ou não, do socorro que 
possa vir a ser prestado. Tanto é que não só a omissão de socorro majora a 
pena no caso de homicídio culposo, como também se o agente “não procura 
diminuir as consequências do seu ato, ou foge para evitar a prisão em 
flagrante”. Cumpre destacar, ainda, que o dever imposto ao autor do homicídio 
remanesce, a não ser que seja evidente a morte instantânea, perceptível por 
qualquer pessoa. Em outras palavras, havendo dúvida sobre a ocorrência do 
óbito imediato, compete ao autor da conduta imprimir os esforços necessários 
para minimizar as consequências do fato. Isso porque “ao agressor, não cabe, 
no momento do fato, presumir as condições físicas da vítima, medindo a 
gravidade das lesões que causou e as consequências de sua conduta. Tal 
responsabilidade é do especialista médico, autoridade científica e legalmente 
habilitada para, em tais circunstâncias, estabelecer o momento e a causa da 
morte” (REsp 277.403-MG, Quinta Turma, DJ 2/9/2002). Precedente citado do 
STF: HC 84.380-MG, Segunda Turma, DJ 3/6/2005. HC 269.038-RS, Rel. Min. 
Felix Fischer, julgado em 2/12/2014, DJe 19/12/2014”. 
Obs 2: A majorante não se confunde com o crime de omissão de socorro (art. 
135). Neste o agente não foi o causador dos danos sofridos pela vítima. 
c) Não procurar diminuir as consequências do seu ato: 
É uma decorrência da hipótese anterior. 
O agente, além de não ter prestado socorro imediato, nada faz para minorar o 
mal causado. Ex: Agente que se afastou do local do sinistro em virtude de risco 
de linchamento e não procurou ajuda dos órgãos competentes. 
d) Fugir para evitar prisão em flagrante: 
Pretende a Lei Penal impedir que o agente fuja para garantir a impunidade do 
fato. 
A doutrina aponta que a referida majorante é de discutível constitucionalidade, 
já que não se pode obrigar o agente a se apresentar perante a autoridade para 
ser preso. Se não se exige referido comportamento por parte de autor de 
homicídio doloso, não se pode exigir de quem pratica crime culposo. 
DO PERDÃO JUDICIAL (art. 121, §5°) 
§ 5º - Na hipótese de homicídio culposo, o juiz poderá deixar de aplicar a 
pena, se as conseqüências da infração atingirem o próprio agente de 
forma tão grave que a sanção penal se torne desnecessária. 
Trata-se de causa de extinção da punibilidade prevista na hipótese de 
29 
 
homicídio culposo. 
 
Ocorre nas situações em que as consequências da infração atingem o agente 
de modo tão grave, que acaba por se tornar desnecessária a aplicação da 
pena. O próprio resultado naturalístico já é em si uma severa penalidade. 
 
A gravidade e a extensão demandam a análise do caso concreto. Podem 
atingir o próprio autor (ex: fica paraplégico) ou pessoa que ele nutre grande 
afeto (ex: filho morre etc). 
 
O perdão judicial é concedido na sentença, já que depende da análise do 
mérito. Se não houver provas da autoria ou materialidade, o agente será 
absolvido e não perdoado. Além disso, deve-se fazer prova da desnecessidade 
de aplicação da pena. 
 
Acrescente-se que o perdão judicial alcança todos os crimes ocorridos no 
contexto. Ex: Num acidente morrem o filho e um estranho, o perdão alcançará 
ambos os delitos. 
 
Prevalece que natureza jurídica da sentença é declaratória de extinção da 
punibilidade, consoante Súmula n° 18, do STJ. Assim, não subsiste qualquer 
efeito condenatório (ex: reincidência). 
 
Cuida-se de direito subjetivo do réu e não depende de sua aceitação. 
 
AÇÃO PENAL NOS CRIMES DE HOMÍCIDIO DOLOSO E CULPOSO 
 
Ação Penal Pública Incondicionada. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
30 
 
Parte 03 
 
INDUZIMENTO, INSTIGAÇÃO OU AUXÍLIO AO SUICÍDIO (art.122 do CP) 
Induzimento, instigação ou auxílioa suicídio 
Art. 122 - Induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou prestar-lhe auxílio 
para que o faça: 
Pena - reclusão, de dois a seis anos, se o suicídio se consuma; ou 
reclusão, de um a três anos, se da tentativa de suicídio resulta lesão 
corporal de natureza grave. 
Parágrafo único - A pena é duplicada: 
Aumento de pena 
I - se o crime é praticado por motivo egoístico; 
II - se a vítima é menor ou tem diminuída, por qualquer causa, a 
capacidade de resistência. 
1) Conceito de Suicídio: 
É a eliminação voluntária e consciente da própria vida. 
Por razões de Política Criminal e com fundamento no Princípio da Alteridade 
(só se pune a ofensa a bens jurídicos alheios e não próprios), não se pune 
aquele que atenta contra a própria vida e, sim, aquele que induz, instiga ou 
auxilia outrem a fazê-lo. 
Houve época em que ao suicida era vedada a realização de cerimônias 
fúnebres e religiosas, podendo, inclusive, sofrer confisco de seus bens. 
2) Objeto jurídico: 
A vida humana. 
3) Sujeito ativo: 
Qualquer pessoa, admitindo-se coautoria e participação. 
4) Sujeito passivo: 
Qualquer pessoa com capacidade de discernimento e resistência. Desta forma, 
quem induz, instiga ou auxilia uma criança de tenra idade ou um enfermo 
mental a suicidar-se responderá por homicídio. 
31 
 
Além disso, a vítima tem de ser pessoa certa e determinada. Assim, não é 
punível a participação genérica nesse delito, como ocorreu na obra Os 
sofrimentos do jovem Werther, do escritor alemão Goethe em 1774 ou o caso 
do cantor Ozzy Osbourne que compôs a música Suicide Solution. Em ambos 
os casos, houve pessoas que se suicidaram por suposta influências das 
mesmas. 
5) Ações nucleares: 
O tipo penal é constituído pelos verbos induzir, instigar e auxiliar a prática do 
suicídio. Trata-se de crime de ação múltipla ou de conteúdo variado. Ainda que 
o agente pratique 02 ou mais condutas, será responsabilizado apenas uma 
vez. Contudo, sofrerá maior juízo de reprovabilidade na fase do art. 59, do CP. 
a) Induzir: significa criar a ideia, incutir na mente alheia a ideia do suicídio. Ex: 
Diante do desespero do amigo, o agente sugestiona-o a praticar o suicídio 
como única solução para seus problemas. 
b) Instigar: significa reforçar a idéia preexistente, encorajar a prática do 
suicídio. Ex: Perguntado se o suicídio seria a única solução a ser tomada, 
agente diz que é a única decisão a ser tomada por pessoa de honra e brio. 
c) Auxílio: é a ajuda material ao ato suicida. Ex: Sabendo das intenções 
suicidas de outrem, o agente empresta-lhe a corda para se enforcar. O auxílio 
pode ser antes ou durante o suicídio. Ex: Segurar a espada contra qual se 
lança o suicida. 
Obs 1: O auxílio deve sempre ser uma atividade acessória. Se o agente pratica 
atos executórios, responderá por homicídio. Ex: Atendendo aos apelos da 
vítima, o agente aperta o gatilho da arma. 
Obs 2: O auxílio deve ser o meio empregado para a prática do ato extremo. Se, 
embora tenha emprestado a corda, a vítima empregou o veneno para se matar, 
o agente não responderá por participação em suicídio. 
Obs 3: Prevalece ser possível a participação por omissão, quando o agente 
tinha o dever de impedir o resultado (art. 13, §2°, CP). Ex: Pai que assiste ao 
filho se suicidar sem nada fazer. 
6) Elemento subjetivo: 
É o dolo direto ou eventual. Nesta última modalidade, quando o agente assume 
o risco de provocar a ideia suicida por parte da vítima. A doutrina cita o 
exemplo do marido que prática sevícias contra a esposa, não obstante saber 
da intenção dela em suicidar-se, caso as agressões não cessem. Também o 
exemplo do pai que expulsa a filha desonrada de casa, tendo fortes razões 
para supor que ela vai cometer suicídio. 
32 
 
Não se admite a modalidade culposa. 
7) Consumação: 
Exige a produção do resultado morte ou lesões corporais de natureza grave na 
vítima (artigo 129, §1º e 2º, do CP). 
Se, a despeito da participação, a vítima sofrer lesões corporais leves, o fato 
não é punível (em verdade, trata-se de atipicidade). 
8) Tentativa: 
Não é possível, pois só é punível o fato se houver a produção do resultado 
naturalístico (morte ou lesões corporais graves). Trata-se, pois, de crime 
condicionado. 
9) Causas de aumento de pena (art.122, incisos I e II): 
A pena será duplicada nas seguintes hipóteses: 
a) Motivo egoístico (inciso I): é o que diz respeito a obtenção de vantagem 
pessoal. Ex: Incentivar o amigo a se suicidar para ficar com sua esposa. 
Auxiliar o pai a se matar para ficar com a herança. 
b) Vítima menor (inciso II): é a pessoa com idade entre 14 e 18 anos. Se a 
vítima for menor de 14 anos, haverá homicídio. 
c) Vítima com capacidade de resistência diminuída (inciso II): a vítima, por 
qualquer causa, não tem condições plenas para refletir sobre as consequências 
do ato extremo, seja pela idade avançada, pelo uso de drogas ou álcool etc. 
Obs: Se a vítima for completamente incapaz de compreender as 
consequências de seu ato extremo (ex: doença mental grave), quem a induziu, 
a instigou ou a auxiliou a suicidar-se responderá por homicídio. 
10) Pacto de morte: 
O Pacto de morte ocorre quando 02 pessoas resolvem se suicidar juntas, em 
geral, em razão de não superação de dificuldades. O mais comum é o da sala 
fechada com gás aberto. 
Aquele que abriu a torneira de gás sempre estará incurso no art. 121, podendo 
ser consumado (se o outro suicida morrer) ou tentado (se ou outro suicida 
sofrer lesões graves). 
Por outro lado, a outra pessoa (que não abriu a torneira) vai responder por 
participação em suicídio (art. 122), se a que abriu morrer ou sofrer lesões 
corporais graves. 
Em síntese: 
33 
 
a) se houver um sobrevivente: 
- quem abriu a torneira responde pelo crime de homicídio (art. 121); 
- quem não abriu, responde por participação em suicídio (art. 122): neste caso, 
a pessoa que abriu a torneira foi quem faleceu; 
b) se os dois sobrevivem e não há lesão corporal grave: 
- quem abriu o gás responde por tentativa de homicídio; 
-quem não abriu responde por nada (fato atípico); 
c) se os dois sobrevivem e ambos abriram a torneira: 
-ambos respondem por tentativa de homicídio. 
11) Roleta-Russa e Duelo Americano 
Na Roleta-Russa há um revólver cujo tambor é girado sucessivamente pelos 
participantes, ao passo que no Duelo Americano há 02 armas e apenas uma 
delas está carregada, sendo que os participantes escolhem uma delas para 
apertar o gatilho contra si. 
Em ambos os casos, os sobreviventes respondem por participação em suicídio 
(art. 122). 
12) Ação Penal: 
Pública Incondicionada. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
34 
 
Parte 04 
 
INFANTICÍDIO (art.123 do CP) 
Infanticídio 
Art. 123 - Matar, sob a influência do estado puerperal, o próprio filho, 
durante o parto ou logo após: 
Pena - detenção, de dois a seis anos. 
 
1) Conceito: 
Segundo o art. 123, trata-se da morte do filho praticada pela própria mãe, sob a 
influência do estado puerperal, durante o parto ou logo após. 
O crime de infanticídio em muitas legislações é tratado como uma forma 
privilegiada do homicídio. 
De fato, o tipo do art. 123 possui as mesmas elementares do art. 121 com mais 
algumas especializantes referentes aos sujeitos, ao tempo e à motivação do 
delito. 
2) Objeto jurídico: 
É a vida humana extrauterina. 
3) Objeto material: 
É o ser nascente ou recém-nascido. 
4) Sujeito ativo: 
Trata-se de crime próprio, pois só pode ser praticado pela mãe puérpera. 
Admite coautoria e participação. 
Nesse caso, o terceiro que concorre para a prática do delito responde por qual 
crime? Homicídio ou infanticídio?Embora tenha havido certa divergência no passado, sobretudo com relação ao 
entendimento de Hungria a respeito do tema, atualmente a posição é 
praticamente pacífica: o terceiro que concorre para a prática do infanticídio 
responde também por este delito, com fundamento no art. 30, do CP (“Não se 
comunicam as circunstâncias e as condições de caráter pessoal, salvo 
quando elementares do crime”). 
35 
 
Em síntese: 
a) Mãe que mata o filho, contando com o auxílio de terceiro: 
-mãe: responderá por infanticídio; 
- terceiro: responderá também por infanticídio, por força do artigo 30, do CP. 
b) Mãe e terceiro matam o recém-nascido: 
-mãe: responderá por infanticídio; 
- terceiro: responderá também por infanticídio, por força do artigo 30, do CP. 
c) Terceiro mata o recém-nascido, contando com a participação da mãe: 
-terceiro: responderá por homicídio (posição de Hungria nas primeiras edições 
de sua obra), infanticídio (posição de Hungria na última edição de sua obra. É o 
entendimento amplamente majoritário); 
-mãe: a rigor responderia por homicídio também, em razão do artigo 29, do CP. 
Entretanto, com fundamento no princípio da proporcionalidade, continuará a 
responder por infanticídio, já que se praticasse a conduta principal responderia 
por este delito. Desta forma, não pode uma conduta acessória ser punida mais 
severamente do que a conduta principal. 
5) Sujeito passivo: 
É o ser nascente ou neonato. 
Obs: Para se evitar o bis in idem, não incidem as agravantes genéricas 
previstas no art. 61, inciso II, alínea “e” (crime contra descendente) e “h” (crime 
contra criança). 
Obs 2: Se a mãe, nas condições do art. 123, matar outra criança, acreditando 
ser o próprio filho, responde também por infanticídio em razão do erro de tipo 
(art. 20). 
Obs 3: Se a mãe praticar a conduta contra filho natimorto, caracterizará 
hipótese de crime impossível (art. 17). Mesmo caso, se o filho for acometido de 
anencefalia, em consonância com os fundamentos lançados no julgamento da 
ADPF n°54/DF. 
6) Ação nuclear: 
É o verbo “matar”. Trata-se de crime de forma livre, pode ser praticado tanto 
por ação, como por omissão. 
 
36 
 
7) Elemento temporal: 
Trata-se da elementar “durante o parto ou logo após”. 
Considera-se parto, o período entre a contração do útero materno e o 
deslocamento do feto até expulsão da placenta. 
A expressão “logo após”, segundo a melhor doutrina, deve ser analisada caso 
a caso, não havendo critério temporal definido. 
8) Elemento psicofisiológico: 
O legislador brasileiro adotou o critério psicofisiológico para conceituar “estado 
puerperal”. 
Cuida-se o estado puerperal do conjunto de alterações físicas e psíquicas que 
acometem a mulher e que são decorrentes do parto. Por vezes, acarreta 
transtornos de ordem mental na mulher, tais como, angústia, ódio, desespero, 
terminando por matar o próprio filho. 
Não se deve confundi-lo, pois, com a inimputabilidade, ainda que relativa (art. 
26). Desta forma, se o estado puerperal provocar transtorno psíquico ao ponto 
de suprimir total ou parcialmente a capacidade de entendimento e 
determinação da genitora, esta ficará isenta de pena ou terá a pena reduzida. 
No caso do infanticídio, a genitora está sob a “influência do estado puerperal” 
sem que se possa falar de doença mental ou desenvolvimento mental 
incompleto ou retardado, já que constitui um período de tempo delimitado 
(temporário). 
9) Elemento subjetivo: 
O crime pode ser praticado a título de dolo direto ou eventual. 
Não há modalidade culposa do delito. 
Na hipótese de a genitora provocar culposamente a morte do filho, sob a 
influência do estado puerperal, durante ou logo após o parto, responderá por 
homicídio culposo (posição majoritária). Damásio entende que ela não 
responderá por delito algum. 
10) Consumação: 
Ocorre com a morte do neonato ou nascente (crime material). 
11) Tentativa: 
É perfeitamente possível. 
 
37 
 
12) Ação Penal: 
Pública Incondicionada. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
38 
 
Parte 05 
 
ABORTO (art. 124 a 128 do CP) 
 
1) Conceito: 
É a interrupção da gravidez com a destruição do produto da concepção. É a 
morte do ovo (até 03 semanas de gestação), do embrião (de 03 semanas a 03 
meses) ou do feto (após 03 meses), não implicando, necessariamente sua 
expulsão. 
Com relação ao início da gravidez para fins penais, há 02 correntes: 
A 1ª entende que a gravidez se inicia com a fecundação, ou seja, a partir do 
momento da concepção. 
A 2ª corrente entende que, em verdade, o legislador brasileiro considerou a 
nidação, isto é, a implantação do óvulo no útero materno. A razão está no fato 
de que se permite o uso de contraceptivos que agem após a fecundação (DIU 
e “pílula do dia seguinte”), com a finalidade de impedir o alojamento do ovo no 
útero, sem que haja a caracterização do delito em estudo. 
Desta forma, para aqueles que entendem que a gravidez tem início com a 
fecundação, o uso de tais contraceptivos constitui exercício regular de direito 
(art. 23, inciso III, parte final, do CP), ao passo que para aqueles que entendem 
que é a nidação, trata-se de atipicidade. 
A doutrina prefere a expressão abortamento, já que aborto se refere ao 
produto da interrupção da gravidez. 
Obs: Quem anuncia produtos ou métodos abortivos, sem concorrer para o 
crime, pratica a conduta prevista no artigo 20, da LCP (Decreto-Lei n° 
3.688/41). 
Obs 2: A 1ª Turma do STF, num verdadeiro ativismo judicial, entendeu que não 
é crime o aborto consentido até o terceiro mês de gestação. Os ministros 
fundamentaram a decisão na autonomia da mulher, princípios constitucionais 
da razoabilidade (proporcionalidade), da dignidade da pessoa humana etc 
2) Espécies de aborto: 
a) natural: é a interrupção espontânea da gravidez, ocasionada por problemas 
de saúde da gestante. 
b) acidental: provocado por traumatismos, como choques e quedas. 
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c) criminoso: é a interrupção dolosa da gravidez. Encontra previsão legal nos 
artigos 124 a 127, do CP. 
d) legal ou permitido: são as 02 hipóteses previstas no art. 128, quando não 
houver outro meio para salvar a vida da gestante (aborto necessário) ou no 
caso de gravidez resultante de estupro (aborto humanitário ou sentimental). 
e) eugênico ou eugenésico: é o aborto que visa a evitar o nascimento de 
criança com deformidade ou enfermidade incurável. O aborto de feto 
anencefálico é uma espécie de aborto eugênico ou eugenésico permitida pelo 
STF, que considera o fato atípico. 
f) econômico, miserável ou social: proveniente da falta de recursos 
financeiros para sustentar o filho. No Anteprojeto do Código Penal, é permitido 
até a 12ª semana de gestação. 
3) Modalidades de aborto criminoso: 
a) Autoaborto (art. 124, 1ª parte); 
b) Aborto consentido (art. 124, 2ª parte); 
c) Aborto provocado por terceiro sem o consentimento da gestante (art. 
125); 
d) Aborto provocado por terceiro com o consentimento da gestante (art. 
126). 
4) Objeto jurídico: 
a) Autoaborto: é o direito à vida do feto (vida humana intrauterina). 
b) Aborto praticado por terceiro: além do direito à vida do feto, o direito à 
vida e à integridade física da gestante. 
5) Objeto material: 
a) Autoaborto: o feto. 
b) Aborto praticado por terceiro: o feto e a gestante. 
6) Sujeito ativo: 
a) Autoaborto ou aborto consentido: somente pode ser a genitora (crime de 
mão própria). 
b) Aborto provocado por terceiro: qualquer pessoa (crime comum). 
7) Sujeito passivo: 
a) Autoaborto ou aborto consentido: o feto. 
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b)

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