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RECURSOS PROCESSO CIVIL III

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■14.9.12. Recursos ■14.9.12.1. Recurso contra sentença (recurso inominado) Contra a 
sentença caberá um recurso, para o qual a lei não deu nome, mas que guarda semelhança com 
a apelação. Ele será sempre escrito, e deverá, seja qual for o valor da causa, ser subscrito por 
advogado. Nos Juizados Cíveis e da Fazenda Pública, o recurso é admissível tanto contra a 
sentença definitiva (de mérito) como contra a extintiva. Já no Juizado Federal, só contra a 
sentença definitiva, nos termos do art. 5º, da Lei n. 10.259/2001: “Exceto nos casos do art. 4º, 
somente será admitido recurso de sentença definitiva”. Contra a sentença homologatória de 
acordo ou de laudo arbitral não cabe recurso. A competência para examiná-lo será do Colégio 
Recursal, órgão composto por três juízes togados, em exercício no primeiro grau de jurisdição, 
reunidos na sede do Juizado (dadas as particularidades do Juizado, não há como aplicar, por 
analogia, ao julgamento do recurso interposto contra a sentença, a técnica estabelecida no art. 
942 do CPC). Não há ofensa ao princípio do duplo grau de jurisdição, porque o recurso é 
examinado por órgão distinto daquele que proferiu o julgamento. O prazo para interposição 
não coincide com o da apelação no processo comum: são dez dias, contados da data em que 
as partes tomam ciência da sentença. Se esta for proferida na própria audiência, as partes 
saem intimadas; do contrário, haverá necessidade de intimação. Há preparo, que deverá 
incluir o valor das custas iniciais, não recolhidas quando da propositura da ação, mais o 
preparo propriamente dito. O valor deverá ser indicado pelas leis de custas estaduais. Não há 
necessidade de que o recolhimento seja comprovado no momento da interposição do recurso, 
pois o art. 42, § 1º, do CPC, determina o recolhimento nas 48 horas seguintes à interposição, 
independentemente de nova intimação. A falta de preparo implicará deserção. Apresentado o 
recurso, a parte contrária será intimada para oferecer contrarrazões, o que só poderá ser feito 
por advogado. O recurso não tem efeito suspensivo. No entanto, em situações excepcionais, 
quando o juiz verificar que do cumprimento imediato da sentença pode resultar perigo de 
prejuízo irreparável ou de difícil reparação, pode concedê-lo excepcionalmente. Afora isso, o 
autor poderá promover a execução provisória da condenação. Se necessário, pode a parte 
requerer a transcrição da gravação da fita magnética dos atos realizados, correndo por sua 
conta as custas correspondentes. O julgamento, para o qual as partes serão intimadas, será 
feito na forma do art. 46 da Lei n. 9.099/95: “O julgamento em segunda instância constará 
apenas da ata, com a indicação suficiente do processo, fundamentação sucinta e parte 
dispositiva. Se a sentença for confirmada pelos próprios fundamentos, a súmula do julgamento 
servirá de acórdão”. De acordo com os enunciados 102 e 103 do Fórum Permanente, o relator 
do recurso, nas turmas recursais, poderá valer-se do art. 932, III, IV e V, do CPC, isto é, em 
decisão unilateral, não conhecer de recurso inadmissível, prejudicado ou que não tenha 
impugnado especificamente os fundamentos da decisão recorrida; negar provimento a recurso 
contrário a súmula do Supremo Tribunal Federal, do Superior Tribunal de Justiça ou do próprio 
tribunal; a acórdão proferido pelo Supremo Tribunal Federal ou Superior Tribunal de Justiça 
em julgamento de recursos repetitivos ou a entendimento firmado em incidente de resolução 
de demandas repetitivas ou de assunção de competência; e, finalmente, dar provimento a 
recurso se a decisão recorrida for contrária a súmula do Supremo Tribunal Federal, do Superior 
Tribunal de Justiça ou do próprio tribunal, a acórdão proferido pelo Supremo Tribunal Federal 
ou Superior Tribunal de Justiça em julgamento de recursos repetitivos ou a entendimento 
firmado em incidente de resolução de demandas repetitivas ou de assunção de competência. 
Nesses casos, o prejudicado poderá apresentar agravo interno, no prazo de quinze dias, para a 
turma julgadora. Diante da falta de previsão expressa, não se admite recurso adesivo nos 
juizados especiais, conforme enunciado 88 do Fórum Permanente. ■14.9.12.2. Agravo de 
instrumento Não há previsão legal de agravo de instrumento contra as decisões interlocutórias 
no Juizado Especial Cível. As decisões proferidas no curso do processo são irrecorríveis. Em 
contrapartida, elas não precluem, o que significa que poderão ser rediscutidas, após a 
sentença, por meio do recurso contra ela interposto. Por isso, no recurso inominado contra a 
sentença, a parte prejudicada pode rediscutir não só aquilo que foi nela apreciado, como tudo 
que ficou decidido no processo, já que as decisões anteriores à sentença, sendo irrecorríveis, 
não terão ficado preclusas. No entanto, apesar da falta de previsão, tem-se admitido o agravo 
de instrumento contra as decisões que apreciam as tutelas provisórias no Juizado Especial, 
pois a situação de urgência exige que, de imediato, o Colégio Recursal possa reexaminar o que 
foi decidido. Não seria razoável que só se pudesse recorrer contra decisões relativas à tutela 
provisória depois de proferida sentença. Além disso, cabe agravo interno contra as decisões 
unilaterais do relator, e agravo em recurso extraordinário. Nos casos de urgência, o Colégio 
Recursal poderá atribuir efeito suspensivo ou ativo ao recurso inominado. ■14.9.12.3. 
Embargos de declaração Foram expressamente previstos, no art. 48 da Lei n. 9.099/95. 
Diferentemente daqueles interpostos nos processos tradicionais, só cabem contra sentenças e 
acórdãos, não contra decisões interlocutórias. As hipóteses de cabimento são as mesmas 
previstas no CPC: quando a sentença ou acórdão padecer dos vícios da obscuridade, 
contradição ou omissão, ou, ainda, quando contiver erro material. O prazo também é o 
mesmo: cinco dias. Tal como ocorre no CPC, a interposição dos embargos de declaração 
interrompe o prazo para a interposição de outros recursos. Na redação originária da Lei n. 
9.099/95, ela apenas suspendia esse prazo, mas o art. 1.065 do CPC alterou a redação do art. 
50 da referida Lei. Os embargos de declaração poderão ser opostos oralmente, o que, em 
regra, ocorre quando a sentença for proferida na própria audiência. Quando a sentença ou 
acórdão contiverem apenas erros materiais, a correção poderá ser feita de ofício, 
independentemente de embargos de declaração, aplicando-se supletivamente o art. 494, I, do 
CPC. ■14.9.12.4. Recurso especial e extraordinário Não se admite recurso especial no juizado 
especial cível. O seu cabimento está restrito às hipóteses do art. 105, III, da CF, que exige, 
como condição sine qua non, que a decisão recorrida tenha sido proferida em única ou última 
instância por Tribunal Regional Federal ou pelos Tribunais dos Estados ou do Distrito Federal e 
Territórios. Ora, o acórdão, no juizado especial cível não é proferido por tribunal, mas pelos 
colégios recursais. O mesmo não ocorre com os recursos extraordinários, já que o art. 102, III, 
da CF os admite contra as causas decididas em única ou última instância, não havendo 
necessidade de que seja por tribunal. Ora, as decisões do colégio recursal são de última 
instância, o que os torna admissíveis. A Súmula 640 do STF afasta qualquer dúvida: “É cabível 
recurso extraordinário contra decisão proferida por juiz de primeiro grau nas causas de alçada, 
ou por turma recursal de juizado especial cível ou criminal”. O art. 15 da Lei n. 9.099/95 o 
autoriza expressamente. ■14.9.13. A execução nos juizados especiais cíveis A Lei n. 9.099/95 
regula o procedimento das execuções e cumprimentos das sentenças proferidas no âmbito do 
juizado especial. O art. 52 trata do cumprimento das sentenças proferidasno próprio juizado, 
isto é, das execuções fundadas em título judicial; e o art. 53, das execuções por título 
extrajudicial. Em ambos os casos, pode-se dizer que a Lei n. 9.099/95 estabelece um regime 
próprio de execução, com numerosas peculiaridades. O regime do CPC, tanto para o 
cumprimento de sentença quanto para a execução por título extrajudicial, aplica-se 
supletivamente. ■14.9.13.1. Cumprimento de sentença Cumpre ao próprio Juizado Especial 
promover o cumprimento das sentenças por ele proferidas, observado o disposto no art. 52 da 
Lei e, supletivamente, o regime do CPC. Conquanto a Lei n. 9.099/95 seja muito anterior à Lei 
n. 11.232/2005 que, alterando a execução fundada em título judicial, passou a considerá-la 
apenas fase de cumprimento de sentença, sendo desnecessária nova citação, já no Juizado 
Especial a execução de sentença não constituía um novo processo, mas tão somente uma fase 
subsequente à cognitiva. É o que se conclui da leitura do art. 52, § 4º, da lei: “não cumprida 
voluntariamente a sentença transitada em julgado, e tendo havido solicitação do interessado, 
que poderá ser verbal, proceder-se-á desde logo à execução, dispensada nova citação”. O 
sistema de cumprimento de sentença no Juizado, conquanto tenha algumas peculiaridades, 
está em harmonia com o do CPC, pois em ambos não haverá um processo de execução, mas 
apenas uma fase de cumprimento de sentença. O art. 523, § 1º, do CPC prevê uma multa de 
10% do débito, caso a obrigação de pagar não seja satisfeita no prazo de quinze dias. Embora 
não haja previsão de multa no regime do Juizado, o CPC aplica-se supletivamente. De acordo 
com o enunciado 105 do Fórum Permanente, no prazo de quinze dias subsequente ao trânsito 
em julgado, o devedor deverá fazer o pagamento do débito, independentemente de nova 
intimação, sob pena de multa de 10%. E o enunciado 97 acrescenta que essa regra vale, 
mesmo que, com o acréscimo da multa, o valor da execução ultrapasse os quarenta salários 
mínimos. A intimação é desnecessária, pois, de acordo com o art. 52, III, da Lei n. 9.099/95, o 
devedor, na própria audiência, quando possível, será intimado da sentença, e será instado a 
cumpri-la logo que ocorra o trânsito em julgado, com a advertência dos efeitos que poderão 
decorrer do seu descumprimento. Caso tenha dificuldades de efetuar o pagamento 
diretamente ao credor, ou este se recuse a recebê-lo, o devedor que queira eximir-se da multa 
deve depositá-lo no juízo de origem, mesmo que o processo ainda esteja em instância recursal. 
Ultrapassado o prazo de quinze dias, o credor poderá, ainda que oralmente, requerer o início 
da execução, caso em que será expedido mandado de penhora, avaliação e intimação do 
executado. Ele se considerará intimado desde que o mandado seja entregue em seu endereço, 
o que será certificado circunstanciadamente, nos termos do enunciado 38 do Fórum 
Permanente. As principais peculiaridades do cumprimento de sentença, nos Juizados Especiais, 
são as seguintes: ■ O juiz poderá designar audiência de tentativa de conciliação, quando 
verificar que há possibilidade de acordo entre as partes (enunciado 71 do Fórum Permanente). 
Ela não é obrigatória, e dependerá das circunstâncias do caso concreto, e da disposição 
manifestada pelas partes para uma eventual conciliação. ■ O mecanismo de defesa do 
devedor continua sendo os embargos, apresentados no prazo de quinze dias, a contar da 
intimação da penhora. É o que estabelece o enunciado 104 do Fórum Permanente. Não se 
aplica ao Juizado o art. 525 que autoriza o devedor a defender-se por meio de impugnação. A 
defesa será feita por embargos, que têm natureza de ação autônoma, e que serão julgados por 
sentença contra a qual o recurso cabível é o inominado, e não agravo de instrumento. ■ A 
cognição nos embargos é, no plano da extensão, limitada, isto é, o devedor só poderá 
defender-se alegando as matérias previstas no art. 52, IX, da Lei n. 9.099/95: falta ou nulidade 
de citação no processo, se ele correu à revelia; manifesto excesso de execução; erro de cálculo 
ou causa impeditiva, modificativa ou extintiva da obrigação, superveniente à sentença. Esse 
dispositivo prevalece sobre o art. 525, § 1º, do CPC, nos termos do enunciado 121 do Fórum 
Permanente. ■ A penhora é condição dos embargos, embora o CPC não mais a exija. Isso 
porque a Lei n. 9.099/95 contém dispositivo próprio, que continua a exigir a prévia penhora. 
Por isso, admitemse, verificadas as hipóteses de cabimento, as objeções e exceções de pré-
executividade. ■ Os embargos à execução poderão ser decididos por juiz leigo, observado o 
disposto no art. 40 da Lei n. 9.099/95 (enunciado 52 do Fórum Permanente). Com relação à 
fase expropriatória, aplica-se supletivamente o CPC. Se a execução for de obrigação de fazer 
ou não fazer, aplicar-se-á o disposto no art. 52, V, da Lei n. 9.099/95, e o juiz fixará multa diária 
para o caso de descumprimento da obrigação. Nos Juizados Federais e da Fazenda Pública, a 
execução é especial e segue o procedimento do art. 17 da Lei n. 10.259/2001 e do art. 13 da 
Lei n. 12.153/2009. ■14.9.13.2. Execução por título extrajudicial Tem cabimento quando o 
valor do título for de até quarenta salários mínimos. O regime é o do art. 53 da Lei n. 9.099/95, 
aplicando-se supletivamente o CPC. O devedor é citado para pagar no prazo de três dias, sob 
pena de expedição de mandado de penhora e avaliação. As peculiaridades em relação à 
execução por título extrajudicial previstas no CPC são as seguintes: ■ O prazo para embargos 
não correrá a partir da citação, mas a partir da intimação da penhora, que continua sendo 
indispensável para que eles possam ser apresentados. O enunciado 117 do Fórum Permanente 
e o art. 53, § 1º, da Lei não deixam dúvidas de que, tanto na execução por título judicial 
quanto na por título extrajudicial, os embargos exigem a prévia segurança do juízo pela 
penhora. ■ Feita a penhora, é indispensável a designação de audiência de tentativa de 
conciliação. Mas somente depois da penhora, e é nela que o devedor terá a oportunidade de, 
querendo, oferecer embargos. Eles são oferecidos na audiência de conciliação, caso o acordo 
não saia, por escrito ou verbalmente, nos termos do art. 52, § 1º, da Lei n. 9.099/95; não há 
limitação de matérias alegáveis. ■ Nessa audiência, o juiz buscará o meio mais rápido e eficaz 
para a solução do litígio, dispensando, se possível, a alienação judicial. Deve o conciliador 
propor, entre outras medidas cabíveis, o pagamento do débito a prazo ou a prestação, a dação 
em pagamento ou imediata adjudicação do bem penhorado (art. 53, § 2º). ■ Caso não haja 
acordo, nem sejam apresentados embargos, ou eles sejam julgados improcedentes, qualquer 
das partes poderá requerer ao juiz uma das alternativas mencionadas no item anterior. ■ Caso 
o executado não seja localizado ou não existam bens penhoráveis, o processo será 
imediatamente extinto, devolvendo-se os documentos ao autor. Não se admite a citação por 
edital, nem a suspensão do processo por tempo indeterminado, até que o executado venha a 
adquirir bens. Nada impede que a execução volte a ser proposta, no Juizado Especial, caso o 
devedor apareça, ou sejam localizados bens.

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