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66 Re vi sã o: G io va nn a / K le be r - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 17 /0 6/ 20 19 Unidade III Unidade III Anteriormente analisamos quais são as principais taxas de juros no mercado internacional e como elas instituem e auxiliam operações financeiras e comerciais. Nesse sentido, e em virtude da influência dessas taxas nas relações financeiras e comerciais entre os países, sabe‑se que um gestor em comércio exterior conseguirá programar o melhor momento de se aventurar ou aventurar seu cliente em uma empreitada internacional. Para que os projetos sejam bem desempenhados, é necessário conhecer o que os intermediários, isto é, os bancos, têm a oferecer ao agente que busca formas de ultrapassar as fronteiras do seu país. A oferta de condições ideais ou favoráveis auxiliará na tomada de decisão. A fim de produzir qualquer operação, é crucial que os contratos sejam efetivados de maneira correta para que tanto o recebimento dos valores em moeda estrangeira quanto os pagamentos sejam efetuados. No entanto, até este ponto, não foram discutidas duas das operações comerciais mais relevantes que norteiam grande parte das relações internacionais entre os países: exportação e importação. Abordaremos a seguir a importância desses conceitos comerciais, iniciando pela exportação. 5 EXPORTAÇÃO E O CÂMBIO 5.1 Conceito Sandroni (1999) define exportação da seguinte forma: [...] Vendas, no exterior, de bens e serviços de um país. Resulta, como a importação, da divisão internacional do trabalho, pela qual os países tendem a especializar‑se na produção dos bens para os quais têm maior disponibilidade de fatores produtivos, garantindo um excedente exportável (SANDRONI, 1999, p. 230‑231). Desse modo, o ato de exportar pode ser compreendido como o momento em que mercadorias e serviços são encaminhados a um país estrangeiro. Também pode‑se entender como exportação o ato de enviar mercadorias para outro estado dentro de uma mesma federação. Nesse caso, ela é chamada de exportação interna. Ao enviar um produto ao exterior, a exportação poderá ter cobertura cambial, assim sendo haverá pagamento pelo produto. No caso contrário, de não ocorrer pagamento pela exportação realizada, dá‑se a designação de “sem cobertura cambial”. Quando uma mercadoria é enviada ao exterior, mas não gera pagamentos, significa que ela tem um destino específico, como, por exemplo, um evento, uma feira, e servirá de donativos ou amostras. 67 Re vi sã o: G io va nn a / K le be r - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 17 /0 6/ 20 19 TEORIA E PRÁTICA CAMBIAL Dentre os motivos que levam uma empresa a buscar o mercado externo, é possível apontar: • Aumento da produtividade: com a introdução no mercado estrangeiro, a sociedade tende a reduzir sua capacidade ociosa, pois necessitará de maior produção, podendo diminuir seus custos e tornando‑se mais competitiva. • Diminuição da carga tributária: a empresa poderá compensar com a exportação os impostos internos como ICMS, IPI, PIS/Pasep, Cofins e IOF. • Imagem da empresa: organizações que atuam no exterior têm sua imagem vinculada a produtos de qualidade. No Brasil, a atividade exportadora se tornou estratégica, pois impacta diretamente no emprego e na renda, além de gerar divisas para o país, incentivando o equilíbrio das contas externas e promovendo o desenvolvimento econômico. 5.2 Fundamento legal As exportações são regulamentadas pela Circular n. 3.325, de 24 de agosto de 2006, e pelo Regulamento do Mercado de Câmbio e Capitais Internacionais do Banco Central do Brasil (RMCCI/Bacen). Baseando‑nos no RMCCI, identifica‑se que a receita advinda de uma exportação pode ser mantida em sua totalidade no exterior pelo exportador. Conforme destacado anteriormente, o contrato de câmbio é o documento legal para a formalização da entrada de valores no país. Este pode ser celebrado para liquidação imediata (spot) ou futura (forward). O pagamento das exportações poderá ser feito por meio de: crédito em conta mantida pelo exportador no exterior; crédito da moeda estrangeira em conta de banco autorizado a operar em câmbio no País; e entrega em espécie a um banco da moeda estrangeira. Além dessas formas, o recebimento de uma exportação pode ser feito por meio de cartão de uso internacional emitido no exterior, vale postal internacional e outros instrumentos descritos no RMCCI. 5.2.1 Formas de exportação As exportações ocorrem de três formas: • Exportação direta: a exportadora realiza todo o processo de venda da mercadoria. Ela pode contratar um intermediário, entretanto, esse agente não descaracteriza a operação como sendo direta. • Exportação indireta: tipo de operação na qual a empresa tem sua produção comprada por outra sociedade nacional, que fará a venda da mercadoria no exterior. 68 Re vi sã o: G io va nn a / K le be r - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 17 /0 6/ 20 19 Unidade III • Exportação indireta por trading company: as chamadas tradings são organizações nacionais que possuem regime tributário diferenciado para que possam atuar como compradoras de mercadorias dentro das fronteiras do País e efetuar posterior venda ao exterior. Elas recebem o mesmo tratamento fiscal que as exportadoras, ou seja, compram produtos para exportação com alíquota de imposto reduzida. Observação A Licença de Importação, ou simplesmente LI, é um documento que aprova ou não a importação de mercadorias para o Brasil. Ela possui dois tipos: o automático e o não automático. O primeiro refere‑se quase à totalidade de operações executadas no País, ou seja, as mercadorias são liberadas via sistema, quando da entrada no Brasil, através da Declaração de Importação. No caso não automático, a autorização deve ser feita pré‑embarque. 5.2.2 Documentos necessários para a exportação De forma resumida, os principais documentos exigidos no processo de exportação são: • Fatura pró‑forma: quando o registro é preparado pela empresa exportadora após a negociação. É similar a um orçamento, pois inclui todas as informações do que foi solicitado pelo importador. Em seguida podemos observar um modelo de fatura pró‑forma ou proforma invoice. Figura 11 – Modelo de fatura pró‑forma 69 Re vi sã o: G io va nn a / K le be r - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 17 /0 6/ 20 19 TEORIA E PRÁTICA CAMBIAL • Registro de exportação (RE): consiste no documento eletrônico que deve ser preenchido via Siscomex. Nele são descritas todas as características do produto a ser exportado para registro dos órgãos governamentais. • Nota fiscal: deve acompanhar a mercadoria, com todas as suas informações, desde o local de origem do produto a ser exportado até o embarque. Ela não acompanhará a mercadoria para o exterior, mas sua posse é obrigatória no território nacional. • Fatura comercial (commercial invoice): corresponde à formalização da venda do produto. Nela devem estar contidas todas as informações da negociação efetuada entre importador e exportador. • Saque (draft): consiste em um título de crédito emitido contra um devedor informando que este deverá pagar certa quantia, em data e local estipulados. O saque pode ser dispensado, dependendo da operação e das relações comerciais entre importador e exportador. • Romaneio (packing list): para os casos de exportações que contenham mais de um volume, o vendedor prepara um romaneio especificando o conteúdo de cada um deles. Se necessário, observações adicionais poderão ser inseridas. Figura 12 – Modelo de packing list • Conhecimento de embarque (bill of lading): corresponde ao documento que a empresa transportadora emite confirmando o recebimentoda mercadoria. Ele atesta que o produto foi 70 Re vi sã o: G io va nn a / K le be r - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 17 /0 6/ 20 19 Unidade III entregue para embarque e é considerado um recibo de posse do bem. A depender do tipo de transporte, existem diferentes modelos; em seguida observaremos o padrão utilizado para os embarques marítimos. Figura 13 – Modelo de bill of lading Alguns documentos serão emitidos somente se forem solicitados e poderão ser dispensados se assim for acordado entre as partes, sendo estipulado nos acordos comerciais existentes entre os países. Trata‑se do caso dos seguintes impressos: • certificado de origem; • lista de pesos; • certificado fitossanitário; • certificado de análise; • certificado de qualidade; • fatura consular. 71 Re vi sã o: G io va nn a / K le be r - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 17 /0 6/ 20 19 TEORIA E PRÁTICA CAMBIAL Saiba mais A fim de obter informações adicionais sobre os arquivos e os processos utilizados no processo de exportação, acesse o site do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC): <http://www.mdic.gov.br/>. 5.2.3 Formas de contrato de câmbio para a exportação A contratação do câmbio em um banco autorizado corresponde a um momento crítico para o exportador. Ao firmar tal contrato, o exportador assumirá o compromisso de venda das divisas advindas da operação, bem como definirá o caráter dela, o qual poderá ser: • Simplificado: exigido tanto para exportação com Declaração Simplificada de Exportação (DSE) quanto com o RE, no valor máximo de US$ 50.000,00 por processo quando emitido por corretora, ou ilimitado se enviado por bancos autorizados a operar no mercado cambial. Quando acima de US$ 20.000,00, o nome do importador/pagador deverá ser mencionado. No caso de contratos de câmbio simplificados, não existe a possibilidade de rescisão, aditamento ou baixa, e o prazo para a contratação desse tipo de operação é de até 360 dias anteriores ou posteriores à exportação ou prestação do serviço. A grande vantagem do contrato simplificado é a redução no custo de exportação. • Contrato tipo 1 normal (não simplificado): é necessária uma exportação formal, ou seja, o RE é obrigatório, mesmo que o valor seja inferior a US$ 20.000,00. Neste caso, seguem detalhes quanto ao prazo e a forma de pagamento: — Contratação pré‑embarque: quando é possível o recebimento antecipado com um prazo máximo de até 360 dias (curto prazo) anteriores à data do embarque da mercadoria. Pagamento com anterioridade maior que 360 dias da data do embarque também pode ocorrer, porém fica sujeito ao prévio registro no Bacen. — Pagamento à vista: quando a exportação (que pode ser representada por uma letra de câmbio) é paga no ato da apresentação dos documentos de exportação ao importador. — Contratação pós‑embarque: quando o pagamento após a apresentação viabilizar os documentos ao importador em um prazo máximo de até 360 dias da data do embarque (operações não financiadas). Cabe ao exportador, de posse de todas as informações, decidir qual é o melhor tipo de contrato de câmbio a fim de negociar com seus clientes. 72 Re vi sã o: G io va nn a / K le be r - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 17 /0 6/ 20 19 Unidade III 5.3 Responsabilidade das partes As partes que assinam o contrato de câmbio (exportador e banco) devem cumprir todas as suas cláusulas. Caso ocorra alguma irregularidade, ela pode ser reparada por meio de alteração, prorrogação ou rescisão. As modificações do contrato de câmbio podem ser feitas, uma vez que os itens seguintes não sejam modificados: • partes intervenientes (comprador e vendedor da moeda estrangeira); • valor da moeda estrangeira ou nacional; • tipo de moeda estrangeira; • taxa cambial; • data; • número de registro no Sisbacen. A prorrogação do contrato pode ser promovida, desde que respeitado o prazo máximo de 360 dias antes ou depois do embarque. Em caso de rescisão, ambas as partes devem mostrar conformidade tanto no pré‑embarque quanto no pós‑embarque e não há necessidade de autorização do Bacen. A exportação requer uma análise minuciosa do vendedor, pois trata‑se de um passo crucial para a continuidade de seus negócios. Desse modo, a palavra‑chave desse processo é planejamento. 5.4 Principais financiamentos à exportação As exportações, como parte importante da política interna e externa brasileira, recebem inúmeras possibilidades de financiamentos. Além dos bancos autorizados a operar com câmbio, o próprio governo, por meio de seus organismos, incentiva a exportação. Portanto, é necessário analisar cada um dos casos. Não obstante, nesta seção trataremos, em especial, do ACC e do adiantamento de cambiais entregues (ACE). Os demais tratados serão estudados futuramente. 5.4.1 Adiantamento de contrato de câmbio (ACC) Ao celebrar um determinado contrato de câmbio, o exportador pode, a seu critério, solicitar a antecipação dos valores referentes a ele. O ACC é realizado antes do embarque da mercadoria, como se o exportador precisasse de um autofinanciamento para empreender o projeto. O adiantamento do contrato poderá ser total ou parcial, a depender do exportador. No entanto, o prazo máximo de 360 dias deverá ser observado. Os encargos sobre essa operação, tipicamente, são: 73 Re vi sã o: G io va nn a / K le be r - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 17 /0 6/ 20 19 TEORIA E PRÁTICA CAMBIAL Libor + spread sobre a moeda estrangeira; IOF, com alíquota 0%; taxa de abertura de crédito (TAC), de acordo com a instituição financeira; e taxa de serviço de câmbio (TSC), também de acordo com a entidade financeira. Os encargos destacados são cobrados após serem convertidos em reais no dia do débito, o que poderá ocorrer na data de contratação da ACC ou no vencimento do saque. Já o principal é pago após o embarque da mercadoria, na data de vencimento do respectivo contrato de câmbio. As instituições financeiras podem, a seu critério, cobrar a taxa Prime norte‑americana em substituição à Libor. O spread cobrado sobre a moeda estrangeira deve atingir, no máximo, 5% ao ano. Lembrete O conceito de spread refere‑se à diferença entre a cotação da moeda na data da captação e o preço dela no repasse ao cliente. No caso da operação de adiantamento (ACC), o contrato de exportação pode ser a garantia do financiamento, porém, conforme o relacionamento entre cliente e banco, outras salvaguardas poderão ser solicitadas. Se houver a hipótese de a operação de exportação não ocorrer ou ser cancelada, a contratação do ACC será convertida em um tipo de crédito, devendo o exportador arcar com todos os custos desta. 5.4.2 Adiantamento de cambiais entregues (ACE) Após embarcar a mercadoria em direção ao seu importador, o exportador pode, de posse da documentação comprobatória, solicitar a antecipação de recursos. Assim, ele requisita ao banco que antecipe o valor descrito no saque contra o exportador. Ao contratar o crédito de um ACC, o exportador busca financiar sua produção; no caso de um ACE, ele procura financiamento de um produto (mercadoria) já entregue. Esse trâmite se assemelha a um desconto de duplicatas aplicado no Brasil. O exportador poderá antecipar até 100% do valor em um prazo máximo de 180 dias, incidindo sobre essa negociação a taxa Libor ou Prime, acrescentado do spread sobre a operação. Vale ressaltar que, em contratações de ACE a taxa de juros é reduzida. O valor principal da transação é pago na data de vencimento do saque. Já os encargos podem ser pagos na data da contratação ou no vencimento do saque. Na data devencimento, o banco reterá o valor pago pelo importador e, caso não seja efetuado o pagamento, o montante será debitado da conta da exportadora. De acordo com o relacionamento entre exportador e banco, algumas garantias poderão ser solicitadas, tais como: saque de exportação, seguro de crédito ou outra precaução que a instituição financeira julgar necessária. 74 Re vi sã o: G io va nn a / K le be r - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 17 /0 6/ 20 19 Unidade III A contratação de um ACE não vincula o exportador à contratação de um ACC. A única regra existente é: se foi contratado o ACC em um banco, o ACE deve ser contratado com o mesmo operador bancário. Em caso de inadimplência do pagamento por parte do importador, o exportador deve recorrer à cobrança judicial e comunicar aos órgãos competentes tal fato. Observação Ao contratar um ACC, o exportador pagará uma alíquota de 0% de IOF. Isso não significa que existe a isenção desse imposto, mas sim uma redução em sua percentagem. 6 IMPORTAÇÃO E O CÂMBIO 6.1 Conceito O Novíssimo Dicionário de Economia define importação como: Entrada de mercadorias e serviços estrangeiros num país. Os serviços, cujo valor não figura na receita comercial, constituem as importações invisíveis. [...] os importadores podem recorrer ao mercado financeiro internacional para obter o crédito necessário ao pagamento de suas importações (SANDRONI, 1999, p. 291). Dessa maneira, todas as compras realizadas com um fabricante internacional fazem parte do conceito de importação. As importações podem ser contratadas com cobertura cambial, ou seja, haverá repasse de valores ao fornecedor; ou sem cobertura cambial, quando não há a necessidade de repasse. Atualmente, importar no Brasil, mesmo com eventuais desvalorizações na taxa de câmbio, é essencial, principalmente para alguns bens manufaturados e os chamados bens de capital, os quais nosso país produz em quantidade e qualidade insuficientes para abastecer a indústria nacional. Para entender o processo de importação e os caminhos adotados pelo Brasil, é preciso relembrar a história do país e os regimes cambiais adotados. Lembrete Bens de capital correspondem àqueles que auxiliarão na produção de outro bem e que não têm seu fim no processo produtivo. Máquinas, instalações e equipamentos são exemplos típicos de bens de capital. 75 Re vi sã o: G io va nn a / K le be r - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 17 /0 6/ 20 19 TEORIA E PRÁTICA CAMBIAL 6.2 Regime cambial A discussão acerca dos regimes cambiais existentes já foi tratada no presente material. Vale reiterar que eles podem ser classificados como: regime cambial de câmbio fixo; regime cambial de câmbio flutuante (flutuação limpa ou suja); e regime cambial de bandas cambiais. Conforme destacado anteriormente, nesta parte, será analisada a economia brasileira ao longo de alguns períodos da história nacional. Durante muitos anos, mais precisamente até 1930, o Brasil foi um país agrário exportador, dependendo, basicamente, da exportação de café. Em contrapartida, necessitava trazer muitos produtos do exterior. Ante a crise no preço do café nesse período e a produção sendo feita por outros países, os cafeicultores brasileiros não conseguiam efetuar as vendas ao exterior e se viram em uma situação crítica. O presidente à época, Getúlio Vargas, comprou a produção de café de todos os produtores e a estocou, queimando‑a posteriormente. Essa situação se agravou pelo volume de importação realizado pelo Brasil e pela América Latina como um todo. Na tentativa de reduzir a quantidade de produtos importados por esses países, a Comissão Econômica para América Latina e Caribe (Cepal) criou o Processo de Substituição de Importações (PSI). Esse programa tinha como objetivo reduzir a quantidade de mercadorias estrangeiras nos países latinos por meio da produção interna desses bens. O Brasil, como os demais países da América Latina, foi incentivado, dessa forma, a se industrializar. O PSI vigorou por aproximadamente cinquenta anos, até que todos os países envolvidos naquele programa o abandonaram. A justificativa para aquele esvaziamento foi a grande proteção aplicada aos países, algo que os impedia de perceber a evolução dos mercados fora de suas fronteiras. Por fim, o PSI ficou conhecido como gerador de crescimento de dentro para fora. Dessa forma, o país não importaria qualquer tipo de mercadoria que pudesse ser produzido pela própria nação. Após anos de ditadura militar, o brasileiro recuperou o seu direito ao voto e elegeu o candidato Fernando Collor de Mello. Em suas políticas econômicas e com relação ao comércio exterior, o foco foram as importações. Após os anos nos quais as importações eram admitidas como algo contraproducente, o presidente Collor determinou a abertura do país para a concorrência internacional. Na visão do novo governante, o Brasil estava com o parque industrial sucateado e necessitava de competição para se renovar. Com uma taxa de câmbio favorável ao processo de importação, ou seja, câmbio valorizado, e com alíquota de importação beirando a zero para alguns produtos, o Estado promoveu a chamada abertura abrupta, com destaque para produtos como tecidos, calçados, brinquedos etc. Foi um período em que a indústria brasileira sofreu forte ataque dos estrangeiros. O governo de Collor gerou uma das maiores crises industriais. Devido à taxa de câmbio valorizada, aliada à alíquota de importação reduzida, muitas empresas nacionais não conseguiram concorrer com os estrangeiros e fecharam suas portas. 76 Re vi sã o: G io va nn a / K le be r - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 17 /0 6/ 20 19 Unidade III Saiba mais Para mais detalhes referentes ao governo Collor, leia a obra: GREMAUD, A. P.; VASCONCELLOS, M. A. S.; TONETO JÚNIOR, R. Economia brasileira e contemporânea. 8. ed. São Paulo: Atlas, 2017. Após denúncias de corrupção, o presidente Fernando Collor foi afastado de seu mandato. O vice‑presidente Itamar Franco assumiu a presidência e nomeou como seu ministro da Fazenda o sociólogo Fernando Henrique Cardoso. Com sua equipe, André Lara Resende e Pérsio Árida, Fernando Henrique Cardoso criou o plano de estabilização da economia, em vigor até os dias de hoje, denominado Plano Real. É possível dividir o regime da taxa de câmbio em três momentos, desde o início do Plano Real: • O momento inicial em que, devido à âncora cambial, a taxa de câmbio foi definida ao par, isto é, R$ 1,00 = US$ 1,00. • O período de valorização cambial, o qual fez a moeda alcançar a casa dos R$ 0,80 para cada US$ 1,00. • A fase de desvalorização cambial, que se mantém até os dias de hoje. Esse resumo da economia brasileira busca contribuir para a compreensão de como o processo de importação evolui no país. 6.3 Tributos e despesas O tratamento dado às importações atualmente no Brasil está vinculado à política de aumento de divisas. Nesse caso, as exportações são mais interessantes que a importação, o que ilustra claramente a política cambial brasileira. Para definir qual será a tributação imposta a um produto importado, é necessário conhecer sua nomenclatura na Tarifa Externa Comum (TEC). Não é possível especificar, de modo atemporal, a alíquota para cada bem, mas sim quais serão os impostos incidentes. Nesse sentido, a tributação das importações foi estabelecida da seguinte forma: • Imposto de importação: aplicado às mercadorias que ingressaram no território nacional. • Imposto sobre Produto Industrializado (IPI): calculado em base ad valorem e com alíquotas definidas para cada produto. Ele também pode ser cobrado por unidade e a um valor já fixado. Porém, ele somente será incididose houver imposto de importação, caso contrário, o IPI será dispensado. 77 Re vi sã o: G io va nn a / K le be r - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 17 /0 6/ 20 19 TEORIA E PRÁTICA CAMBIAL • Imposto sobre Circulação de Mercadoria e Serviços (ICMS): é um imposto estadual que possui alíquotas diferentes entre os estados. Elas podem variam, costumeiramente, entre 7% e 25% dependendo do estado e do produto. • PIS/Pasep importação: incide em praticamente todas as mercadorias importadas com alíquota por volta de 2%. Contudo, é necessário consultar de modo constante a legislação para confirmar os produtos que possuem ou não a incidência deste tributo. • Cofins importação: com a mesma metodologia do PIS/Pasep, a Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins) incide sobre quase todos os produtos importados. Mais uma vez cabe a regra de consultar a legislação para verificar sua aplicabilidade. De costume, a alíquota é única e fica em torno de 9%. As despesas incidentes sobre os produtos importados são: • Adicional ao Frete para Renovação da Marinha Mercante (AFRMM): valor pago ao agente da companhia marítima de entrada do porto de descarga. A alíquota varia de acordo com a navegação: 25% na navegação de longo curso; 10% na navegação de cabotagem; e 5% na navegação lacustre e fluvial. • Taxa de armazenagem: valor pago ao porto ou aeroporto no qual a mercadoria ficará. Essa taxa varia conforme o tempo de permanência no local. • Taxa de capatazia: valor cobrado pela movimentação da carga pelo pessoal do porto ou aeroporto. Varia de acordo com o peso e o volume da mercadoria. 6.4 Financiamento para cobrança e carta de crédito As operações de pagamento a prazo, normalmente, são consideradas operações financiadas. Elas podem ser divididas em dois grupos: operações de curto prazo, com pagamento em até 360 dias; e operações de médio e longo prazo, para pagamentos acima de 360 dias, que, por sua vez, são condicionados à emissão do registro de operações financeiras. Os financiamentos das importações de qualquer produto podem ser feitos pelo próprio exportador ao fornecer a mercadoria e aguardar uma data específica para pagamento. O vendedor seria o financiador, porém nem sempre os exportadores estão dispostos a operar tal processo. Esses financiamentos também podem ser realizados por outras pessoas jurídicas no exterior, isto é, empresas que possuem fácil acesso a crédito externo e que podem financiar importações. O exportador recebe o pagamento à vista, e o importador paga a prazo a essas organizações, que normalmente são de grande porte. Evidentemente, os bancos locais autorizados a operar em câmbio podem prestar tais financiamentos e os importadores brasileiros se utilizam muito dessa linha. O banco nacional local financia o importador com recursos captados com bancários estrangeiros. A entidade financeira no exterior efetua o pagamento à vista para o exportador e financia o banco nacional. O mesmo banco nacional, por sua vez, abre um 78 Re vi sã o: G io va nn a / K le be r - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 17 /0 6/ 20 19 Unidade III financiamento ao importador. A relação do financiamento ocorre de duas formas, uma entre o banco estrangeiro e o nacional e a outra entre o banco local e o importador. Lembrete Quando o financiamento é feito pelo próprio exportador ou por uma pessoa jurídica no exterior, o financiado é o importador. No caso de financiamento adquirido no exterior, o banco nacional é o financiado. Os valores a serem financiados variam de acordo com a negociação, podendo ser o valor total da importação, uma parte dela ou um percentual. Por ser uma operação delicada, todas as condições desse financiamento devem ser detalhadas em contrato, como o valor do principal, juros, comissões e encargos. Observação O Registro de Operações Financeiras (ROF) é exigido para todas as operações com prazo superior a 360 dias e deve ser aprovado antes do registro da Declaração de Importação (DI). Em caso de refinanciamento de operações contratadas para pagamentos em até 360 dias, com ROF já aprovado, deve ser efetuada retificação na DI. Para operações acima de 360 dias, o banco negociador deve fazer vinculação entre o ROF e o contrato de câmbio. Em relação às cartas de crédito, os bancos no Brasil estão autorizados a emiti‑las, mesmo que o contrato de câmbio ainda não tenha sido celebrado. Para minimizar os riscos da operação, é recomendado que a abertura da carta de crédito seja feita após o registro da licença de importação no Siscomex. Desta forma, todos os dados da respectiva carta devem ser compatíveis com o registro. Ao negociar a carta de crédito no exterior, e se ela for à vista, o prazo para liquidação do contrato de câmbio é de até 15 dias. Já no caso de negociação a prazo, a liquidação acontecerá até a data de vencimento da obrigação no exterior (GONÇALEZ, 2011). 6.5 Pagamento antecipado O pagamento antecipado é definido pela remessa de valores sem a realização do embarque da mercadoria. Assim, o importador paga por ela antes de seu recebimento. A contratação do câmbio nesse tipo de pagamento é feita de forma pronta. Para que seja feita uma operação de pagamento antecipado de importação, é preciso que haja a contratação do serviço. O pagamento antecipado pode ser efetuado com até 180 dias de antecedência do embarque ou da nacionalização da mercadoria. Todas as informações referentes ao tipo de pagamento devem constar na pró‑forma. 79 Re vi sã o: G io va nn a / K le be r - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 17 /0 6/ 20 19 TEORIA E PRÁTICA CAMBIAL Os produtos que possuem ciclo maior de produção, como é caso de máquinas e equipamentos, podem gerar pagamentos de acordo com essa condição, mas devem ser limitados a 1.080 dias do embarque da mercadoria. Os pagamentos antecipados de tais mercancias podem ser totais ou parciais. Eles podem seguir as necessidades de execução do projeto. Para a liquidação do contrato de câmbio de pagamento antecipado, é necessário que o importador apresente fatura pró‑forma ou documento equivalente, e a LI. O contrato de câmbio deve ser vinculado, pelo importador, a uma DI em um prazo máximo de 60 dias contados da data prevista para o embarque da mercadoria. Caso a mercadoria não seja embarcada ou nacionalizada, por qualquer motivo, até a data de liquidação do contrato, o importador deve providenciar a repatriação dos pagamentos efetuados em no máximo 30 dias. Se o importador preferir, pode solicitar garantias ao exportador para que tal pagamento seja efetuado, garantindo a devolução de valores em caso de não remessa da mercadoria. Por outro lado, se quem importar um produto não vincular o respectivo contrato de câmbio a uma DI ou não providenciar a repatriação das divisas nos prazos estipulados, sofrerá sanções, sendo impedido de efetuar pagamentos de importação e multado em 50% a 300% do valor da operação. 6.6 Comissão de agente Em alguns casos, as entidades exportadoras mantêm nos países potenciais representantes comerciais que cuidarão do processo de venda de seus produtos. A remuneração desses representantes é chamada de comissão de agente. A comissão deve estar devidamente descrita na declaração de importação e poderá ser paga no exterior ou retida no país, neste caso, no Brasil. É necessário que a comissão do agente esteja descrita na DI, porém se até a liquidação do contrato de câmbio não houver vinculação à declaração, essa prestação deverá estar devidamente discriminada na fatura pró‑forma ou em outro documento similar. A data de pagamento da comissão é negociada entre agente e exportador, e normalmente o prazo está vinculado à liquidaçãodo contrato. Conforme destaca Vieira: O ingresso no país de valores recebidos a título de comissão de agente é de responsabilidade do representante ou agente, devendo ser formalizado através da celebração de contrato de câmbio tipo 03 – Transferências financeiras do exterior (2011, p. 213). 80 Re vi sã o: G io va nn a / K le be r - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 17 /0 6/ 20 19 Unidade III Resumo A máxima “exportar ou morrer” se transformou em algo muito significativo para o País, o que gerou diversos benefícios à nação, entre eles: emprego, desenvolvimento, mais consumo, entre outros. Quando enviamos produtos ao exterior, não é apenas uma mercadoria que está sendo distribuída, mas a nação como um todo, ou seja, seu povo, sua imagem, sua cultura. Conhecer o país ao qual se encaminha um produto é muito importante, pois o contato deverá ser benéfico, não algo que possa gerar inconvenientes futuros. Ao analisar o destinatário, o exportador poderá saber se existe mercado para o seu produto, se o preço praticado por ele será aceito, se culturalmente essa mercadoria poderá aproximar as nações; entretanto, é evidente que qualquer empresário almeja obter lucros, o que certamente o comércio internacional poderá propiciar. Não obstante, exportar não é tarefa fácil. É fundamental, além de conhecer os futuros clientes, compreender um pouco a respeito da legislação de cada local: será que o país com o qual eu almejo comercializar aceita as embalagens permitidas no Brasil? Minha empresa tem condições de produzir da forma que este cliente espera? A barreira do idioma é satisfeita apenas com o conhecimento do inglês? Inúmeras perguntas surgem e surgirão ao longo do processo. Por ser uma atividade estratégica no Brasil, a exportação recebe um tratamento diferenciado em termos de tributação. Atualmente, todos os impostos incidentes na exportação estão com alíquota 0%. Contudo, como já havia dito David Hume (1988), os países não serão apenas exportadores. Em alguns momentos, ainda que com situações adversas, será necessário buscar produtos para além das fronteiras. O processo de importação se torna essencial, visto que nenhum país é capaz de produzir tudo aquilo que necessita. Desse modo, as trocas entre as nações são essenciais para a satisfação de suas populações. Diferentemente de outros períodos da economia brasileira, nos quais a importação era fundamental para o desenvolvimento da nação, hoje, com o parque industrial mais desenvolvido que há vinte anos, a situação está bastante mudada. Hoje em dia, a importação no Brasil sofre com o câmbio valorizado, o que impede a troca excessiva de produtos. Porém, o governo – por 81 Re vi sã o: G io va nn a / K le be r - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 17 /0 6/ 20 19 TEORIA E PRÁTICA CAMBIAL reinvindicação dos empresários – faz pequenas variações cambiais, valorizando a moeda no intuito de facilitar a importação de máquinas e equipamentos. A justificativa dos empresários é a não produção, ou a produção em condições reduzidas, desses bens em território nacional. Dessa forma, por meio da importação, é possível verificar que existem poucos mecanismos para seu financiamento, o que impede o próprio exportador de auxiliar o importador, além das reduzidas linhas de crédito com encargos elevados. Ainda, ao observarmos os financiamentos, a importação recebe menos incentivo que a exportação. Pode‑se constatar, também, que a exportação obtém incentivos desde o momento do fechamento do pedido com o exterior. As instituições financeiras liberam financiamento para a produção e, quando a mercadoria está pronta e embarcada, oferecem crédito para os empresários exportadores. À vista disso, tanto com relação à exportação quanto à importação, é preciso estudar muito sobre as legislações específicas, dado que o governo impõe fortes controles à compra e venda no mercado internacional. Exercícios Questão 1. (ACE 2002, adaptada) Sobre o Programa BNDES‑Exim, é correto afirmar‑se que: A) É um programa de apoio às exportações que financia exclusivamente a comercialização de bens e de serviços no exterior. B) É um programa de financiamento da produção de manufaturas em geral e de bens de capital a serem exportados, além de serviços associados aos bens exportados, sendo operado diretamente pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social e por agentes financeiros credenciados. C) Objetiva, essencialmente, fornecer linhas de financiamento ao exportador brasileiro visando equalizar os encargos financeiros praticados domesticamente com aqueles praticados no mercado internacional. D) É um programa de financiamento da produção de bens de maior valor agregado e de serviços em geral, sendo operado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social com recursos do Tesouro Nacional. E) É um programa de apoio e promoção das exportações de pequenas e médias empresas que financia a produção e a comercialização de bens, bem como a organização de missões comerciais e de mostras no exterior. 82 Re vi sã o: G io va nn a / K le be r - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 17 /0 6/ 20 19 Unidade III Resposta correta: alternativa B. Análise das alternativas A) Alternativa incorreta. Justificativa: o BNDES‑Exim financia a produção, a aquisição e a comercialização do bem exportável ou exportado. B) Alternativa correta. Justificativa: essa é a definição do papel e do alcance do programa BNDES‑Exim. C) Alternativa incorreta. Justificativa: a alternativa fala de equalização de taxas de juros, mas isto é com o Proex, não com o BNDES‑Exim. D) Alternativa incorreta. Justificativa: a alternativa relata que só bens de maior valor agregado recebem financiamento. Se pegarmos a lista enorme de bens financiáveis, veremos que não incluem apenas os de maior valor agregado. Vimos também que a modalidade “Pré‑Embarque Empresa Âncora” está voltada às micro, pequenas e médias empresas, e claro que tais instituições não produzem bens de valor muito alto. E) Alternativa incorreta. Justificativa: a alternativa diz que o programa restringe a ajuda apenas para pequenas e médias empresas, mas o BNDES‑Exim não o faz. É verdade que ajuda tais empresas, mas não somente elas. Das seis modalidades, uma é voltada especificamente para elas, enquanto as outras são direcionadas a quaisquer companhias. Questão 2. (ACE 1997) A taxa de juros utilizada como referência nas linhas de financiamento do Proex é: A) Prime Rate (EUA). B) Taxa dos títulos públicos norte‑americanos de longo prazo. C) Libor. D) Taxa Selic. E) TJLP – Taxa de Juros de Longo Prazo (Brasil). Resolução desta questão na plataforma.