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83 Re vi sã o: G io va nn a / K le be r - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 17 /0 6/ 20 19 TEORIA E PRÁTICA CAMBIAL Unidade IV O comércio de importação e exportação revela um mundo repleto de oportunidades. Ficar restrito ao ambiente nacional faz com que as empresas limitem a expansão de sua escala produtiva. É necessário, portanto, que existam, tanto no mercado nacional quanto no internacional, formas de auxiliar esses comerciantes para a exposição e oferta de suas mercadorias no mercado externo, que também deve servir de fonte de demanda de mercadorias e serviços provenientes do exterior. Como destacado, a exportação goza de privilégios em relação a financiamentos. Infelizmente, o mesmo não ocorre a respeito das importações, uma vez que, usualmente, se dispõem de poucas linhas de crédito para sua efetivação. A seguir, serão expostas as operações financeiras existentes no exterior, as quais amparam os exportadores e, em menor escala, os importadores. 7 OPERAÇÕES DE CÂMBIO REFERENTES A FINANCIAMENTOS INTERNACIONAIS Nesta seção serão tratadas as operações de financiamentos, dividindo‑as em operações para exportação e operações para importação. Elas podem ser realizadas por instituições financeiras privadas e públicas, além de existirem linhas disponibilizadas pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). 7.1 Financiamentos à exportação As exportações brasileiras são passíveis de financiamento, desde que seja efetuado o registro no Siscomex. Desse modo, vale ressaltar que no mercado nacional estão disponíveis outras fontes de financiamentos à exportação, para além daquelas discutidas anteriormente, ACC e ACE. 7.1.1 Pré‑pagamento Esse tipo de financiamento está vinculado à busca de crédito antes do embarque da mercadoria. Nesse caso, o exportador procura recursos com uma instituição financeira no exterior. Normalmente, um banco nacional possui agências no exterior e essa captação de recursos é feita através dele. Para executar essa operação, a exportadora deverá apresentar uma previsão estruturada dos prazos acordados no contrato de venda. Assim, ela exibe o cronograma de execução do projeto. Uma vez feita a devida prospecção, um contrato de pré‑pagamento é firmado entre o exportador e a instituição financeira responsável pelos recursos no exterior, determinando‑se os prazos e os encargos a serem pagos pela contratante. O exportador pode contratar essa operação em até 360 dias antes do embarque da mercadoria. Caso a data seja superior, é necessário registrar tal fato perante o Banco Central do Brasil por meio do ROF. 84 Re vi sã o: G io va nn a / K le be r - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 17 /0 6/ 20 19 Unidade IV Esse procedimento atrai as instituições exportadoras na medida que elas conseguem negociar no mercado externo com taxas de juros mais atraentes do que as encontradas no Brasil, além de não haver a incidência de imposto de renda, nem de Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). 7.1.2 Simplex O Sistema de Câmbio Simplificado de Exportação (Simplex) foi criado com o objetivo de facilitar as operações de exportação. Ele dispensa o contrato de câmbio e utiliza apenas dois documentos: o Registro de Exportação Simplificada (RES) e a Declaração Simplificada de Exportação (DSE). Por se tratar de uma operação que requer pouca documentação, o valor para o seu uso é limitado a US$ 10.000, ou o equivalente em outras moedas. O câmbio poderá ser fechado com a instituição financeira autorizada a operar em 90 dias antes ou 90 dias após o embarque da mercadoria, dessa forma, é gerado um boleto de câmbio. Tal operação apresenta outra facilidade, o pagamento via cartão de crédito internacional. O Simplex pode ser gerado perante qualquer instituição financeira autorizada a operar com câmbio. 7.1.3 Programa de Financiamento às Exportações (Proex) A modalidade de financiamento Proex é administrada pelo Tesouro Nacional e intermediada exclusivamente pelo Banco do Brasil. Ela serve para importadores e exportadores, desde que estes sigam as regras de nacionalização do produto. O financiamento, basicamente de máquinas e equipamentos, é de 85% do valor correspondente ao bem. Se o índice de nacionalização do produto em questão for inferior a 60%, o valor de seu financiamento sofrerá redução. O prazo do financiamento está vinculado ao valor agregado do bem e ao seu grau de complexidade, que poderá variar de 60 dias a até 10 anos. Geralmente, a taxação nesse caso costuma se basear na Libor mais um dado spread definido pelo banco. O pagamento por parte do financiado deve ser realizado em parcelas semestrais, porém se o prazo do financiamento estiver inserido no curto prazo, será cobrada uma parcela única ao seu final. Além da modalidade convencional, existe o Proex equalização, que, por sua vez, é gerenciado pelo Banco do Brasil e tem o objetivo de tornar as taxas de juros nacionais equivalentes às taxas internacionais. Dessa maneira, o governo brasileiro, via Proex, assume parte dos encargos financeiros aplicados à exportação. O prazo para essa operação é de até dez anos, dependendo do grau de complexidade do bem, e o valor da equalização poderá ser de até 85% do total da exportação. A especificidade em relação ao pagamento é o fato de ele ser feito através de Notas do Tesouro Nacional (NTN‑I). 85 Re vi sã o: G io va nn a / K le be r - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 17 /0 6/ 20 19 TEORIA E PRÁTICA CAMBIAL 7.1.4 Financiamentos BNDES Exim O BNDES financia as exportações mediante diversas modalidades de crédito. Os custos propostos pelo órgão de fomento à indústria são considerados atraentes e compatíveis com o mercado internacional. Vale salientar que tais modalidades são destinadas à exportação de bens e serviços. Existem outras modalidades de financiamento oferecidas pelo BNDES, a saber: • Modalidade pré‑embarque: para fazer jus a esse tipo de financiamento, o produto deve ter elevado índice de nacionalização, mais especificamente 60% ou superior. O exportador pode negociar até 100% do valor da exportação no financiamento. Quanto ao prazo, o financiamento é de 30 meses, de acordo com o ciclo de produção do equipamento, sem que o último embarque ultrapasse 24 meses. O custo para a contratação dessa operação é a taxa de juros em longo prazo (TJLP) ou Libor + variação do dólar norte‑americano. A comissão do agente financeiro também deve ser contabilizada. O lucro do BNDES sobre a operação é definido de acordo com o tamanho do empreendimento: — 1,0% ao ano para as micro, pequenas e médias empresas; — 2,5% ao ano para as grandes empresas; e — 3,0% ao ano para as grandes empresas que produzem bens de capital. • Modalidade pré‑embarque especial: oferecida inclusive aos exportadores, nessa opção os bens com 60% ou mais de nacionalização poderão ser financiados, sem necessariamente estarem atrelados a um embarque específico. O valor oferecido pode ser de até 100% daquele referente ao aumento previsto para os próximos 12 meses, tendo como base os 12 meses anteriores. Assim, o exportador se pauta nas exportações realizadas no período anterior, acrescentando a elas a previsão de exportações para os meses subsequentes. Os dados apresentados pelo exportador serão verificados perante a Secretaria de Comércio Exterior (Secex) e o Banco Central. Apesar de o prazo ser de 12 meses, poderá ser estendido em até 30 meses, somente em relação à parcela do incremento. Os encargos incidentes sobre essa operação são: Custo financeiro + spread básico + spread do agente. Custo financeiro: variação do dólar norte‑americano, acrescido da Libor. Spread básico: 2% ao ano, com possibilidade de redução.Spread do agente: negociação entre a instituição financeira garantidora da operação e o cliente. 86 Re vi sã o: G io va nn a / K le be r - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 17 /0 6/ 20 19 Unidade IV Entre os itens que não estão liberados para essa modalidade de financiamento, estão: automóveis de passeio e produtos de baixo valor agregado, como celulose, suco de laranja, açúcar etc. • Modalidade pós‑embarque: nela há o refinanciamento das exportações de bens com elevado índice de nacionalização, garantidas por títulos de créditos ou cessão de direitos. A empresa exportadora recebe à vista até 100% do valor total da garantia negociada. A modalidade pós‑embarque prevê um prazo de até 12 anos, no qual é incluída a carência de seis a 24 meses. O prazo não pode ultrapassar o descrito no Registro de operações de Crédito (RC) do Siscomex. O termo sempre é contado a partir da data de embarque da mercadoria, no caso da exportação de bens. Na hipótese de serviços, o prazo será contado conforme cada operação. As operações do sistema de Convênio de crédito recíproco (CCR) terão o prazo limitado a no máximo 360 dias. Lembrete O Convênio de créditos recíprocos (CCR) é o acordo existente entre os países da Aladi com objetivo de facilitar as relações comerciais da região. Os encargos da operação são determinados da seguinte forma: Custo financeiro + spread básico + spread do agente O custo financeiro é definido pela taxa Libor da data do embarque. O spread básico dependerá da operação: se for no âmbito do CCR e garantida por instituições financeiras nacionais ou estrangeiras, o valor é de 1,0% ao ano; se for por instituição mandatária, o percentual será de 2,0% ao ano. Agregado o spread do agente, que deve ser negociado com a instituição garantidora. De acordo com a operação, outros encargos poderão ser cobrados, entre eles: • comissão de administração; • comissão de cobrança; • comissão de compromisso. Observação O grau de nacionalização dos bens, ou seja, a quantidade de recursos produzidos no mercado nacional, exigido pelo BNDES, é acima de 60%. Para mercadorias com menor grau de nacionalização, é recomendado buscar outras fontes de financiamento. 87 Re vi sã o: G io va nn a / K le be r - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 17 /0 6/ 20 19 TEORIA E PRÁTICA CAMBIAL 7.1.5 Export notes Essa operação corresponde à cessão de crédito de exportação, na qual o exportador cede os direitos de um título futuro a um tomador. Este título é vinculado a um contrato de compra e venda. Logo, o exportador obtém recursos no país para financiar suas vendas no exterior com investidores locais, outras empresas e/ou bancos. Com a export note, o exportador igualmente transfere os direitos de uma venda a um investidor que paga à vista por tal direito. O exportador é obrigado a encaminhar a mercadoria no prazo admitido no contrato. A exportadora emite uma nota promissória no valor total da venda, responsabilizando‑se pelo embarque do produto. Com a emissão do contrato de cessão, são definidos os prazos de resgate e a remuneração do investidor que terá direito. No vencimento da operação, o investidor receberá o valor do principal mais a variação cambial acrescida de juros, conforme estabelecido. Via de regra, o exportador fica satisfeito nas export notes, pois antecipa o valor de sua venda. O investidor também ficará satisfeito, pois aufere ganhos, dado que essa operação o protege de riscos cambiais. Nesse sentido, constata‑se que as operações de export notes são vantajosas porque não necessitam de linha de crédito bancária para o exportador; o prazo de financiamento é superior a um ACC e o investidor protege seu patrimônio de possíveis variações cambiais. Vazquez (2009, p. 312) argumenta sobre a desvantagem desse tipo de operação, no sentido de que “enquanto o ACC não necessita de operações de exportações identificadas para serem fechadas, as export notes exigem um contrato formalizado de venda no exterior”. É possível descrever a sequência, em termos de procedimentos gerais, nas operações com export notes, em três etapas, da seguinte forma: • Inicialmente, um contrato de exportação é formalizado e o crédito é transferido a um investidor. A garantia da operação será uma nota promissória emitida pelo exportador no valor da venda e com prazo de resgate fixado. • Em seguida, a produção do bem é financiada com o pagamento por parte do investidor ao exportador. Essa transferência de valor ocorre à vista e com base no câmbio do dia. • Por último, a mercadoria é encaminhada ao importador, que paga por ela. O exportador resgata a nota promissória, efetuando o pagamento ao investidor do valor principal corrigido pela variação cambial e por uma taxa de juros acordada em contrato. 88 Re vi sã o: G io va nn a / K le be r - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 17 /0 6/ 20 19 Unidade IV 7.1.6 Securitização de exportação A operação de securitização de exportações é a emissão de títulos no mercado internacional vinculados aos recebíveis provenientes de um contrato de exportação. A captação de recursos nesse tipo de financiamento gera um custo reduzido para o exportador que, ao realizar vendas no exterior, firma um contrato de exportação e um título negociável com prazo mínimo de um ano, e em seguida o oferece a investidores estrangeiros ou a instituições financeiras estrangeiras. Essa operação é garantida pelo Banco Central por meio da circular n. 1.979, de 26 de junho de 1991, e tem sua receita vinculada a uma conta denominada conta de passagem. Ela possui saldo zero e serve apenas para que o investidor possa acompanhar todas as receitas advindas das vendas. Para reduzir as suspeitas de inadimplência, os exportadores podem abrir uma conta no exterior chamada de conta de depósito. Nessa conta, serão depositados, próximo ao vencimento dos pagamentos, o valor do principal, adicionados os juros e os devidos encargos. Ela serve como salvaguarda de que o exportador irá honrar com seus compromissos. Essas duas contas foram autorizadas pelo Banco Central com o objetivo de diminuir o risco Brasil e eliminar as suspeitas de inadimplência (VAZQUEZ, 2009). 7.2 Supplier’s e buyer’s credits 7.2.1 Supplier’s credit Nessa modalidade de financiamento, um banco empresta ao exportador valores mediante desconto de cambiais representativas de venda a prazo. O exportador vende a prazo e as divisas ingressarão futuramente, de acordo com o vencimento das cambiais. Este último é o responsável pela operação perante o banqueiro, dessa forma, ele é quem deve pagar pela cambial. Tais operações geralmente variam de trinta dias a cinco anos. 7.2.2 Buyer’s credit Nessa modalidade, um banco no exterior financiará o importador, que se manterá responsável pelo pagamento das cambiais, assim não há vínculo entre o exportador e as cambiais. Toda a obrigação recai sobre o importador. 7.3 Forfaiting A modalidade de financiamento denominada forfaiting é similar à conhecida operação de factoring, pois nela, o exportador vende suas mercadorias a prazo e recebe à vista, via operação que se assemelha ao desconto de duplicatas. O exportador não incorre em risco, pois entrega as cambiais a um banco, transferindo qualquer possibilidade de inadimplência a ele. No entanto, os bancos da mesma maneira transferem o risco a uma organização especializada, denominada forfaiter. 89 Re vi sã o: G io va nn a / K le be r - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 17 /0 6/ 20 19 TEORIA E PRÁTICA CAMBIAL Essa operação, em resumo, é simples e ágil, a qual poderá ser assimilada pela seguinte descrição: • O exportador remeteum saque cambial ao importador, que deverá assiná‑lo, comprometendo‑se a pagá‑lo no vencimento. • É encaminhado o saque, pelo exportador, ao banco que avalia o risco do negócio e o prazo, estabelecendo o desconto ao valor de face e repassando a quantia à exportadora. • Os encargos da operação são passíveis de negociação entre banco e exportador e estarão sujeitos à análise do risco da entidade exportadora e ao cenário econômico. As factorings são empresas que adquirem os direitos creditórios de outras sociedades, pagando a estas à vista e efetuando a cobrança no prazo determinado. Elas fazem, basicamente, o desconto de duplicatas de venda mercantil de uma entidade e todo o processo de cobrança ao sacado. 7.4 Financiamento à importação No Brasil, existem poucos canais de financiamento aos importadores. Dessa maneira, podemos dizer que as importações por aqui não são financiáveis. Alguns casos específicos gozam do direito de se financiar o bem importado, como, por exemplo, os bens utilizados na instalação, ampliação, renovação ou modernização de empresas, com ênfase nos bens de capital. Os bancos nacionais, autorizados a captar recursos no exterior, oferecem algumas modalidades de financiamento aos importadores, tais como: financiamentos em curto prazo – inferiores a 360 dias; financiamentos em longo prazo – superiores a 360 dias. O objetivo é financiar sociedades brasileiras que necessitam de modernização em seus parques industriais. As linhas de crédito em longo prazo são acordos firmados entre os banqueiros nacionais e internacionais, no intuito de melhorar as taxas de juros. Essas linhas de crédito podem ter prazos de dois a dez anos, de acordo com o valor e as características de cada produto. Algumas formas de financiamento às importações serão apresentadas a seguir. 7.4.1 Buyer’s credit Essa modalidade, aplicada também à exportação, possibilita ao importador contrair um crédito em um banco no exterior, o qual efetuará o pagamento diretamente ao exportador estrangeiro. 7.4.2 Supplier’s credit O financiamento é concedido diretamente ao importador nacional pelo exportador estrangeiro. Essa operação é menos onerosa para o importador, pois não incorre em encargos dos bancos. 90 Re vi sã o: G io va nn a / K le be r - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 17 /0 6/ 20 19 Unidade IV 7.4.3 Leasing internacional A operação de arrendamento mercantil, conhecida como leasing, segue o critério de compra de um bem financiado por uma instituição financeira; assim, no fim do contrato, o comprador poderá ou não ficar com o produto, e pagará um valor residual. Caso não haja o desejo de adquiri‑lo, ele será devolvido ao financiador. Ainda em relação ao leasing internacional, trata‑se de uma alternativa de aquisição de equipamentos para uso do arrendatário, possibilitando ou não a incorporação deles ao seu parque fabril. O financiamento de tal operação é de médio prazo – entre dois e cinco anos – e os encargos são atrativos. 7.4.4 BNDES – Finem O Financiamento a Empreendimentos (Finem) do BNDES busca auxiliar empresas que possuam importações no montante de R$ 20.000.000,00 visando à implantação, expansão e modernização, incluindo a aquisição de máquinas e equipamentos novos de fabricação nacional ou importados, e capital de giro. Tanto os valores quanto os prazos e objetivos do Finem passaram por alterações a partir de 2017 e os projetos que beneficiam à sociedade são tratados com prioridade. Os custos financeiros da operação correspondem à: TJLP e/ou custo de mercado e taxa do BNDES, a qual gira em torno de 2,1% a 6,56% ao ano, exceto em investimentos sociais. Saiba mais Para conhecer mais sobre as operações que podem usar tal financiamento, suas respectivas taxas e os prazos de pagamento, consulte o site do BNDES. <http://www.bndes.gov.br/wps/portal/site/home>. 7.5 Operações de garantia A crescente participação e integração dos empreendimentos no mercado internacional vem aumentando o volume de operações comerciais e financeiras no mercado externo, o que exige a presença das operações de garantia. Nesta seção, serão destacadas as principais modalidades de caução disponibilizadas pelo mercado. 7.5.1 Aval bancário O aval tem por objetivo afiançar que um título será pago. No caso do aval bancário, o respectivo banco garante que, caso o comprador (o importador, por exemplo) não pague o valor da compra, o banco pagará. Vale lembrar que somente um título de crédito poderá ser avalizado, e não outro instrumento. 91 Re vi sã o: G io va nn a / K le be r - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 17 /0 6/ 20 19 TEORIA E PRÁTICA CAMBIAL 7.5.2 Fiança bancária Nessa operação, o banco se torna fiador de seu cliente, garantindo o pagamento da operação caso o afiançado se torne inadimplente. Ela é utilizada para garantia em concorrências públicas, obtenção de empréstimos, entre outras aplicações. 7.5.3 Bid bond Quando empregada nos processos de concorrência, concede direito de saque ao beneficiário, desde que declare que a parte que instituiu a bid bond, apesar de ter vencido a concorrência, não queira se manter no negócio. 7.5.4 Performance bond Essa modalidade assegura a execução do serviço ou entrega do produto no prazo, conforme determinado pelo contrato assinado entre as partes. Caso não seja cumprida alguma das cláusulas, a performance bond é executada. 7.5.5 Cartas de crédito Conforme já apresentado, o objetivo de uma carta de crédito é dar garantias tanto aos importadores quanto aos exportadores. Trata‑se de um documento emitido a pedido do importador a favor do exportador, que receberá o pagamento caso cumpra tudo que foi acordado entre as partes no contrato de exportação. Lembrete As cartas de crédito (letter of credit) são usualmente chamadas L/C no mercado. Por exemplo: a L/C foi emitida a favor da empresa X. 8 FUNDOS DE INVESTIMENTOS Até o fim dos anos 1980, praticamente todas as operações de recursos eram viabilizadas por meio de empréstimos e financiamentos bancários internacionais, regulamentados pela Lei n. 4.131, de 3 de setembro de 1962. A fonte de financiamento externo foi fechada devido, principalmente, ao fim da liquidez usufruída em outras épocas. A partir de 1993, no entanto, os fluxos de investimentos surgiram novamente, mas por meio dos lançamentos de títulos da dívida no exterior, e não mais por empréstimos e financiamentos bancários. 92 Re vi sã o: G io va nn a / K le be r - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 17 /0 6/ 20 19 Unidade IV Saiba mais Para compreender o que houve nos anos 1980, faça a leitura da obra a seguir, em especial do primeiro capítulo, que trata sobre o período destacado. LANZANA, A. E. T.; LOPES, L. M. Economia brasileira: da estabilização ao crescimento. São Paulo: Atlas, 2009. 8.1 Commercial paper Consistem em títulos emitidos por empresas (como uma nota promissória) e negociados entre elas para financiamento de curto prazo, por no mínimo 30 e no máximo 180 dias. Esses títulos são de giro rápido e custo inferior de captação com bancos. Desse modo, apenas as entidades com bom crédito no mercado conseguem emiti‑los. Eles poderão ser sem garantia, o que aumenta o valor da captação, já que a única segurança é a própria idoneidade do emissor. Aqueles com caução bancário conseguem uma taxa de juros reduzida. Os custos para emissão de uma commercial paper estão relacionados ao registro na Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Lembrete A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) é o órgão responsável por fiscalizar, normatizar, disciplinar e desenvolver o mercado de valores mobiliários no Brasil. 8.2 Bônus e eurobônus de empresas Trata‑sedos títulos emitidos no mercado exterior por organizações que buscam captar valores elevados, e estes recebem o nome de euro quando emitidos fora do país da moeda que gerou o título. A remuneração de um bônus pode ser relacionada a uma taxa de juros fixa (fixed rate notes), na qual o percentual é o mesmo ao longo de todo o exercício do título, ou a uma taxa de juros flutuante (floating rate notes) que pode ser renegociada a cada novo período. A avaliação que se faz de um bônus é baseada em uma comparação com o retorno dos títulos de menor risco internacionalmente, em geral, os do tesouro norte‑americano (treasury bill, treasury notes, treasury bond) com o mesmo prazo. Alguns títulos dessa categoria podem receber um prêmio pelo risco, caso o emissor apresente problemas de inadimplência. O nome dado a esse valor extra é fault premium. As instituições financeiras ocupam um lugar secundário nessa operação, auxiliando apenas em seu planejamento, e não mais como principal ofertante de valores. Os encargos incorridos nesses títulos são 93 Re vi sã o: G io va nn a / K le be r - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 17 /0 6/ 20 19 TEORIA E PRÁTICA CAMBIAL elevados e definidos de acordo com a comissão pela administração e venda de títulos e o custo fixo mínimo, que gira em torno de US$ 150 mil a US$ 250 mil, os quais incluem: • serviços legais no local da emissão; • confecção e impressão de prospectos de lançamentos; • impressão dos títulos e dos cupons de juros; • remuneração dos agentes; • registro da emissão em bolsa de valores internacional. 8.3 Comunicado Firce 10 – Lei n. 4.131 Essa lei, conhecida como a Lei do capital estrangeiro, de 3 de setembro de 1962, disciplina a aplicação de capital estrangeiro dentro do País e as remessas de valores enviados ao exterior. Ela determina igualmente que os capitais estrangeiros ingressantes no Brasil podem retornar ao exterior com o seu principal acrescido de juros, conforme estipulado em contrato. A Lei autoriza o Banco Central do Brasil (BCB), entre outras medidas, a determinar que operações cambiais referentes a movimentos de capital sejam efetuadas em mercado financeiro de câmbio, separado do mercado de exportação e importação, em caso de grave desequilíbrio cambial (MACHADO, 2011, p. 21). Ela determinou que somente os capitais estrangeiros devidamente registrados e comprovados no País poderiam remeter lucros ao exterior. Ante o Golpe Militar de 1964, o governo realizou algumas reformas no sistema financeiro, baseando‑se na Lei n. 4.131. Entre elas, e uma das mais importantes, está o acesso à captação de recursos no exterior por parte dos bancos nacionais para repassar às empresas brasileiras. Ao mesmo tempo, o Comunicado Firce n. 10 estipulava que as contratações de câmbio na forma de empréstimos poderiam ser fiscalizadas e deveriam ser autorizadas pelo Banco Central. O que se pode concluir em relação à Lei n. 4.131 e ao Comunicado Firce n. 10 é que eles tentavam disciplinar o acesso ao mercado exterior em termos de capital liberando a captação, porém, sob a autorização do Banco Central e sujeito à fiscalização e aos registros de capital estrangeiro. A 4.131 é objeto de críticas ferrenhas por parte de investidores e recebedores de recursos, com a argumentação principal de que parte do spread requerido é proveniente da probabilidade extrema de centralização do câmbio, que estancaria o retorno positivo do capital aqui aplicado (MARIOTTI, 2006, p. 22). 94 Re vi sã o: G io va nn a / K le be r - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 17 /0 6/ 20 19 Unidade IV Cabe destacar, ainda em relação a essa Lei, que muitas sociedades, mesmo atuando no Brasil há algum tempo, não conseguiam comprovar a entrada de tais capitais. Esse problema ficou conhecido como capital contaminado, pois não existia documentação legal confirmando seu ingresso ao País. Somente com o Plano Real em 1994 que tais recursos puderam ser regularizados. Observação O capital conhecido como contaminado não pode ser objeto de remessa de lucros e dividendos. Existe uma estimativa de que cerca de US$ 10 bilhões estiveram nessa situação. 8.4 Empréstimos em moeda estrangeira A possibilidade de buscar empréstimos no exterior por parte dos bancos nacionais recebeu regulamentação específica mediante a Lei n. 4.131, de 1962. Porém, outras normativas emitidas pelo Banco Central buscavam agilizar e organizar tal procedimento, conforme será apontado nesta seção. 8.4.1 Resolução n. 63 A publicação da Resolução n. 63, em 21 de agosto de 1967, regulamentou na época os empréstimos adquiridos no exterior e determinou quem seriam os agentes amparados por essa autorização. Os bancos de investimento, de desenvolvimento e os comerciais privados estariam autorizados a contrair empréstimos no exterior para repassar a empresas nacionais. Nesta resolução, o BNDES não estava incluído, o que foi alterado pela Resolução n. 64, de 23 de agosto de 1967, permitindo a este buscar capitais no exterior. De acordo com a resolução, as instituições financeiras deveriam finalizar a operação em um prazo médio de até noventa dias. Na tentativa de compatibilizar os vencimentos internos com os externos, a operação de repasse de capital à entidade nacional poderia ser feita com prazo mínimo de três meses ou menos. O parágrafo IV da Resolução n. 63 destaca qual deveria ser a política de juros dos bancos autorizados ao repasse de valores em território nacional, buscando compatibilizar os juros internos com os externos. Os bancos deverão preencher formulário próprio, apresentando‑o ao Banco Central, para fins de verificação da compatibilidade da taxa de juros declarada com a vigorante no mercado financeiro de onde procede o empréstimo (BACEN, 1967). Além da cobrança da taxa de juros específica, os bancos cobrariam dos mutuários os seguintes encargos: • Libor + spread. • IOF: isento no período. • Taxa de abertura de crédito (TAC): de acordo com cada instituição. 95 Re vi sã o: G io va nn a / K le be r - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 17 /0 6/ 20 19 TEORIA E PRÁTICA CAMBIAL A Resolução n. 63 regulamentou com qual finalidade os recursos captados no exterior poderiam ser utilizados até 29 de julho de 1999, os quais seriam designados conforme as seguintes resoluções: • Resolução n. 2.170/1995: pessoas físicas e jurídicas destinadas a financiar a construção ou aquisição de imóveis novos com prazo mínimo externo e interno de 360 dias. • Resolução n. 2.483/1998: para atividades rurais e agroindustriais com prazo mínimo interno e externo de noventa dias. • Resolução n. 2.625/1999: livre aplicação dos recursos oriundos do exterior com o compromisso de mantê‑los em um prazo não inferior a cinco anos. • Resolução n. 2.683/1999: os bancos ficam autorizados a repassar no mercado interno os recursos captados no exterior, de acordo com a necessidade do mercado, eliminando a exigência de prazo mínimo para amortização. Essa resolução, mesmo que ainda restritiva em alguns aspectos, representava uma expansão no processo de liberdade para as instituições financeiras, o que se observa, principalmente, com a revogação da Resolução n. 63 e a aplicação da Resolução n. 2.770. 8.4.2 Resolução n. 2.770 Essa resolução tinha como objetivo consolidar as normas das operações de empréstimos entre os residentes e os não residentes no País. Conforme destaca Machado (2011), tal resolução representa grande modificação na economia brasileira. A política de aprofundamento da liberalização financeira externa do período contou com novas medidas para facilitar a captação de recursos externos. Seguindo essa linha, o BCB editou as Resoluções n. 2.625/1999 e 2.683/1999,logo substituídas pela Resolução n. 2.770/2.000. A Resolução n. 2.770 passou a definir os critérios para as operações de repasse de recursos externos e eliminou as exigências de autorização e direcionamento compulsório, além de substituir a Resolução n. 63/67 e também revogar 237 normativos que disciplinavam as operações de emissão de títulos de renda fixa no exterior (MACHADO, 2011, p. 43). A Resolução n. 2.770 estabeleceu que: • Os recursos captados no exterior devem, segundo legislação específica, ser aplicados em atividades econômicas. • Não é necessária autorização prévia do Banco Central para contratação dos empréstimos, porém, ao ingressarem no País, o registro deve ser realizado. 96 Re vi sã o: G io va nn a / K le be r - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 17 /0 6/ 20 19 Unidade IV • Estão autorizadas a captar no exterior as instituições financeiras e de arrendamento mercantil a fim de aplicarem tais recursos no mercado interno e, igualmente, para repassarem a pessoas físicas e jurídicas. • A instituição financeira que captou recursos no exterior poderá somente cobrar do mutuário comissão de repasse, mantendo os demais valores, como valor principal, juros e encargos acessórios, nos termos da contratação externa. É vedada, ainda, a cobrança por serviços de intermediação. A União, os estados e municípios, ou seja, o setor público, passaram por restrição na captação de recursos externos. Desta forma, é possível observar que a citada Resolução apresentou mudanças em termos de eficiência para o sistema financeiro e seu processo de intermediação financeira. Mesmo com essa evolução, o Banco Central estabeleceu uma nova normativa para os capitais estrangeiros no País. 8.4.3 Resolução n. 3.844 Essa Resolução, de 23 de março de 2010, orienta a respeito dos capitais estrangeiros no Brasil e seu registro no Banco Central. Em suma, ela define que os capitais estrangeiros aqui existentes em forma de moeda ou de bens deverão ser devidamente registrados no Banco Central. As modalidades de capital prescritas pela Resolução são: • investimento estrangeiro direto; • crédito externo, inclusive arrendamento mercantil financeiro externo; • royalties, serviços técnicos e assemelhados, arrendamento mercantil operacional externo, aluguel e afretamento; • garantias prestadas por organismos internacionais; e • capital em moeda nacional. Saiba mais Para cada uma das modalidades de capital definidas pela Resolução n. 3.844, o Bacen redigiu normativas específicas. Elas podem ser consultadas no link disponibilizado pelo próprio Banco Central. BRASIL. Resolução n. 3.844, de 23 de março de 2010. Brasília, 2010. Disponível em: <https://www.bcb.gov.br/pre/normativos/busca/ downloadNormativo.asp?arquivo=/Lists/Normativos/Attachments/49646/ Res_3844_v3_P.pdf>. Acesso em: 29 mar. 2017. 97 Re vi sã o: G io va nn a / K le be r - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 17 /0 6/ 20 19 TEORIA E PRÁTICA CAMBIAL 8.4.4 Carta circular n. 5 (CC5) A carta circular n. 5, de 27 de fevereiro de 1969, instituiu no Brasil as contas conhecidas como CC5. Ao serem criadas, elas deram tratamento contábil às instituições financeiras para as contas de não residentes no país. A descrição que o sistema contábil dos bancos deveria adotar era Depósitos de Domiciliados no Exterior. O conceito das contas criadas pela circular n. 5 determinou dois modelos de conta para serem admitidos: • Contas livres (provenientes da venda de câmbio): oriundas, exclusivamente, de depósitos de recursos do exterior, possibilitando o repartimento do saldo da conta. • Contas livres (de outras origens): que podiam receber depósitos em moeda nacional, sem a possibilidade de repartimento. Os correntistas poderiam usar livremente os saldos dessas contas, sem a necessidade de autorização do Banco Central, porém deveriam registar a origem do capital, o nome do depositante e do favorecido. A carta circular n. 5 deixa evidente a importância dada às autorizações do Banco Central para qualquer outro tipo de operação com moeda estrangeira: Esclarecemos que continua vedada a realização de compensações privadas de crédito ou valores de qualquer natureza, bem como a utilização, no País, de recursos pertencentes a pessoas físicas ou jurídicas residentes ou domiciliadas no exterior em pagamentos por conta de terceiros, quer se refiram a aplicações ou a liquidação de despesas, salvo mediante expressa autorização do Banco Central (BACEN, 1969). Atualmente, as contas registradas no País por não residentes não são mais regulamentadas pela referida carta, mas pelo título VI da Circular 3.691, de 16 de dezembro de 2013, e pelo RMCCI. Lembrete O Regulamento do mercado de câmbio e capitais internacionais (RMCCI) dispõe sobre todas as operações do mercado cambial. 8.4.5 Securitização de empréstimos Assaf Neto (2015, p. 102) elucida securitização como: Uma forma de captação de recursos envolvendo a emissão de títulos de crédito pelo tomador, os quais são garantidos mediante caução de recebíveis. Por meio dessa operação financeira, é possível uma empresa levantar fundos no mercado sem comprometer seus níveis atuais de endividamento de balanço. 98 Re vi sã o: G io va nn a / K le be r - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 17 /0 6/ 20 19 Unidade IV Adicionalmente, corresponde ao “processo onde se distribui riscos pelo vínculo de instrumento de dívida junto a um determinado grupo de ativos e a consequente emissão de títulos lastreados a esse grupo” (CATÃO, 2006, p. 24). Nesse sentido, é possível dizer que securitização trata do processo no qual uma organização emite títulos indexados a seus ativos recebíveis ou a suas dívidas. Compreende‑se como o processo no qual um contrato vinculado a certa soma é transformado em um título negociado e vendido a investidores interessados nele. A remuneração originária dessa securitização é baseada no valor do título, no risco da operação e, em menor escala, na situação política do país. Saiba mais A crise norte‑americana ocorrida entre os anos 2007 e 2008, além da bolha imobiliária, impactou os bancos, devido, principalmente, às operações de securitização realizadas com contratos de clientes subprimes (devedores em potencial). Para compreender esse processo, é importante a leitura do capítulo 4 do livro a seguir: PINHEIRO, J. L. Mercado de capitais: fundamentos e técnicas. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2014. 8.4.6 Derivativos de swaps Os derivativos são definidos no site do Portal do Investidor [s.d.] como “contratos que derivam a maior parte de seu valor de um ativo subjacente, taxa de referência ou índice. O ativo subjacente pode ser físico (café, ouro etc.) ou financeiro (ações, taxas de juros etc.)”. Assim, é possível compreender os derivativos como um contrato de um ativo em que seu valor será determinado com base no valor de outro ativo (ASSAF NETO, 2015). Os derivativos de swaps são definidos como a compra ou venda de moeda com câmbio pronto em oposição à compra ou venda de moeda com câmbio futuro, e o ato da operação sucede de forma simultânea (RATTI, 2011). O exemplo adotado por Vazquez (2009, p. 273) nos ajuda a compreender tal processo: O banqueiro “x” tem CAN$ 10.000.000,00 que equivalem a US$ 5.500.000,00, mas não tem interesse ou não tem mercado para desfazer‑se da moeda. Se aparecer uma operação de compra de US$ 5.500.000,00 por 90 dias, ele poderá valer‑se do swap, vendendo à vista seus dólares canadenses e comprando‑os para entrega em 90 dias. Em 90 dias, ele recebe os dólares de seu cliente e liquida a posição swap em dólares canadenses, refazendo sua posição na moeda canadense. 99 Re vi sã o:G io va nn a / K le be r - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 17 /0 6/ 20 19 TEORIA E PRÁTICA CAMBIAL Portanto, swap pode ser admitido igualmente como uma operação de duplo financiamento, ou seja, a do câmbio pronto e a do câmbio futuro (MAIA, 2008). 8.4.7 Hedges cambiais Com taxas de câmbio flutuantes, tanto o importador quanto o exportador tornam‑se reféns de oscilações próprias das taxas dessa natureza. Na tentativa de minimizar e se proteger desses impactos, são contratados os chamados hedges cambiais. Os empresários se servem de instrumentos financeiros que visam a garantia de seus ganhos, feitos através de operações futuras. “Em regra, os instrumentos utilizados podem ser através de contratos futuros, opções de compra ou de venda, swaps, forwards etc.” (VIEIRA, 2011, p. 261). Para melhor compreensão, destaca‑se o seguinte exemplo: Duas empresas, XYZ e ONE, exportam um produto cotado em dólar, por exemplo, o trigo. Assim, o faturamento das duas organizações pode cair caso exista uma valorização do câmbio. Com o objetivo de proteger seus retornos, elas praticam a operação de hedge, vendendo contratos cambiais em dólares para liquidação futura. Dessa forma, se protegem de qualquer flutuação cambial, pois no futuro recompram seus contratos, obtendo ganhos com a operação. Lembrete A taxa de câmbio é o valor de uma moeda expresso em outra; se por acaso ela se desvalorizar, ou seja, a moeda nacional se tornar mais fraca que a estrangeira, haverá incentivo à exportação. Se houver o efeito contrário, ou seja, taxa de câmbio valorizada, isto é, moeda nacional mais forte que a de um país estrangeiro, as importações serão estimuladas. 8.4.8 Debêntures cambiais Similares às debêntures nacionais, elas servem como proteção (hedge) contra as variações cambiais. São emitidas por empresas exportadoras e poderão ser vinculadas ou não à receita de exportações futuras. São consideradas como títulos de longo prazo (mínimo de três anos). O resgate da debênture cambial só pode ocorrer na data especificada no título. Dependendo do acordo, ela pode pagar juros periódicos, porém o principal é pago em seu vencimento. 8.4.9 Warrants Ao produzir um bem destinado à exportação, o empresário pode negociar certificados de garantia dessa mercadoria. Assim, o warrant consiste em um instrumento de crédito no qual o possuidor tem direito real sobre um produto; caso não receba o valor negociado, pode penhorar o bem garantidor. 100 Re vi sã o: G io va nn a / K le be r - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 17 /0 6/ 20 19 Unidade IV Saiba mais Dois textos podem auxiliar a compreensão dos processos ora tratados. FREITAS, M. C. P.; PRATES, D. M. Abertura financeira na América Latina: experiências da Argentina, Brasil e México. Economia e Sociedade, Campinas, v. 11, p. 173‑198, dez. 1998. Disponível em: <https://periodicos. sbu.unicamp.br/ojs/index.php/ecos/article/view/8643158/10707>. Acesso em: 31 maio 2019. PRATES, D. M. A abertura financeira dos países periféricos e os determinantes dos fluxos de capitais. Revista de Economia Política, [s.l.], v. 19, n. 1, p. 55‑71, jan./mar. 1999. Disponível em: <http://www.rep.org.br/ pdf/73‑3.pdf>. Acesso em: 31 mar. 2017. Resumo Ao longo do nosso estudo, pudemos analisar que, invariavelmente, nenhum país é capaz de produzir tudo aquilo que necessita. Ele precisa comercializar com as demais nações. A negociação de mercadorias já ocorre desde longa data, porém com a evolução da sociedade e o aumento no grau de especialização e complexidade dos processos de produção, a simples troca se tornou algo mais elaborado. As exportações, objetivo da política econômica governamental brasileira desde o fim dos anos 1990, necessitam de formas de financiar o seu processo produtivo. Os exportadores, amparados por algumas facilidades em termos tributários, encontram no mercado financeiro inúmeras linhas de crédito para os seus produtos. As instituições financeiras, por sua vez, não se limitam a suportar a produção, mas visam ao crédito que servirá de auxílio após o embarque das mercadorias. O exportador, de posse da documentação necessária ao financiamento, tanto da produção quanto da mercadoria já embarcada, comparece a um banco autorizado e, após se defrontar com uma burocracia limitada, acerta o crédito. Essa negociação pode verificar‑se não apenas com bancos privados, mas com entidades financeiras públicas, além do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). 101 Re vi sã o: G io va nn a / K le be r - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 17 /0 6/ 20 19 TEORIA E PRÁTICA CAMBIAL Estudamos, ademais, as importações, as quais, atualmente, são consideradas inconvenientes no cenário nacional. Em consequência, enfrentam inúmeras dificuldades para serem financiadas. Normalmente, o crédito é obtido através do comprador (exportador) que, não por meio de valores monetários, mas por prazos, auxilia o vendedor a se organizar. No entanto, alguns bancários estão dispostos a oferecer linhas de crédito às empresas importadoras. As instituições financeiras servem‑se das possibilidades abertas pelo governo para captar recursos no exterior e, posteriormente, repassar ao vendedor de mercadoria. Vale destacar que algumas das fontes de financiamento são diretamente gerenciadas pelos bancos nacionais e estrangeiros, e o importador assume a responsabilidade de pagamento da dívida. Salientamos ainda um ponto que diz respeito ao governo. Como o Brasil não é um país com grande produção de bens de capital, a importação deles é necessária. Em vista disso, pudemos observar que o BNDES – com anuência do governo – criou uma linha de crédito às importadoras (o Finem), porém, para ter acesso a ela deve‑se comprovar, principalmente, a necessidade social do respectivo bem. Outra forma de financiamento disponibilizada para as sociedades, em especial às exportadoras, são os fundos de financiamento. Eles são regulamentados pelo Banco Central através de diversas circulares e leis. Elas vigoram desde 1962, amparadas também por uma lei, a Lei n. 4.131, que disciplina a aplicação de capital estrangeiro no País. Hoje, o RMCCI igualmente rege as operações no mercado de capitais estrangeiro. Por outro lado, há a possibilidade de empréstimos em moeda estrangeira, os quais são disciplinados por diversas regras reguladas pelo Banco Central. A Resolução n. 63 é exemplo, dado que ela decretou o repasse das captações feitas no exterior por bancos aos residentes no Brasil. Elucidamos, ainda, que muitas outras medidas foram estipuladas e revogadas até culminar na que rege os dias atuais, o que sempre será presidido pelo Banco Central. Outros recursos que pudemos analisar, foram as empreendidas pelas sociedades na tentativa de se protegerem das possíveis oscilações da taxa de câmbio, tais como os swaps e o hedge, os quais geram alguma estabilidade cambial aos agentes exportadores. 102 Re vi sã o: G io va nn a / K le be r - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 17 /0 6/ 20 19 Unidade IV Exercícios Questão 1. (TRF 2005, adaptada) Assinale a alternativa correta. A) A arbitragem de câmbio refere‑se à transferência de moedas de uma praça para outra, com vistas à obtenção de vantagens relativas à diferença temporária de preços. B) No Brasil, é facultativa a intervenção bancária para a operação de compra e venda de divisas estrangeiras. C) No que atine à estrutura do mercado cambial, os exportadores se incluem no grupo comprador de divisas, ao passo que os importadores fazem parte do grupo vendedor de divisas. D) O swap cambial consiste na diferença entreo valor de compra da moeda estrangeira e seu valor de venda, e representa o ganho do banco. E) A desvalorização cambial de um país contribui para o aumento de suas importações. Resposta correta: alternativa A. Análise das alternativas A) Alternativa correta. Justificativa: é o próprio conceito de arbitragem. B) Alternativa incorreta. Justificativa: dizer que a intervenção bancária é facultativa para a compra e venda de divisas estrangeiras não pode ser considerado correto. C) Alternativa incorreta. Justificativa: os exportadores vendem aos bancos as divisas recebidas por suas vendas ao exterior. D) Alternativa incorreta. Justificativa: o conceito de swap é outro: celebração simultânea de dois contratos, sendo um pronto e um futuro; um de compra e um de venda. E) Alternativa incorreta. 103 Re vi sã o: G io va nn a / K le be r - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 17 /0 6/ 20 19 TEORIA E PRÁTICA CAMBIAL Justificativa: a desvalorização do real gera aumento de exportações (porque nossos produtos ficam baratos em dólar) e redução de importações (porque os importados ficam caros em real). Questão 2. (AFRF 2002‑2, adaptada) As operações de swap são definidas como: A) Remessa de moeda de uma praça a outra objetivando auferir lucros advindos das diferenças entre as taxas cambiais. B) Remessa de divisas através do mercado de câmbio para outro país, com o objetivo de auferir vantagens provindas de diferenças nas taxas de juros entre dois países. C) Compra e venda simultânea de câmbio de uma mesma moeda, com a finalidade de se equilibrar o fluxo cambial, mantendo‑se uma posição nivelada (operações casadas). D) Compra e venda de câmbio pronto contra a simultânea venda ou compra de câmbio futuro, compreendendo quantidades equivalentes de duas moedas diferentes. E) Compra e venda simultânea de câmbio, feitas na mesma moeda e por igual valor, com finalidade de se regularizar operações cambiais decorrentes de importações, exportações, transações financeiras e conversão em investimentos de créditos não remetidos. Resolução desta questão na plataforma. 104 Re vi sã o: G io va nn a / K le be r - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 17 /0 6/ 20 19 FIGURAS E ILUSTRAÇÕES Figura 1 ASSAF NETO, A. Mercado financeiro. 13. ed. Rio de Janeiro: Atlas, 2015. Adaptada. Figura 2 VAZQUEZ, J. L. Comércio exterior brasileiro. 9. ed. São Paulo: Atlas, 2009. Adaptada. Figura 3 ASSAF NETO, A. Mercado financeiro. 13. ed. Rio de Janeiro: Atlas, 2015. Adaptada. Figura 4 RATTI, B. Comércio internacional e câmbio. São Paulo: Lex, 2011. Adaptada. Figura 5 RATTI, B. Comércio Internacional e câmbio. São Paulo: Lex, 2011. Adaptada. Figura 9 BANCO DO BRASIL. Circular n. 3.545. Anexo 1: modelo de contrato de câmbio celebrado com clientes (NR), p. 1. Brasília, 2011. Disponível em: <https://www.bcb.gov.br/htms/Normativ/CIRCULAR3545.pdf>. Acesso em: 5 jun. 2019. Figura 10 BANCO DO BRASIL. Circular n. 3.545. Anexo 1: modelo de contrato de câmbio celebrado com clientes (NR), p. 2. Brasília, 2011. Disponível em: <https://www.bcb.gov.br/htms/Normativ/CIRCULAR3545.pdf>. Acesso em: 5 jun. 2019. Figura 11 IMG1286233616.GIF. Disponível em: <http://www.mdic.gov.br/sistemas_web/aprendex/public/arquivo/ img1286233616.gif>. Acesso em: 4 abr. 2017. Figura 12 IMG1286237827.GIF. Disponível em: <http://www.mdic.gov.br/sistemas_web/aprendex/public/arquivo/ img1286237827.gif>. Acesso em: 4 abr. 2017. 105 Re vi sã o: G io va nn a / K le be r - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 17 /0 6/ 20 19 Figura 13 IMG1347988241.JPG. Disponível em: <http://www.mdic.gov.br/sistemas_web/aprendex/public/arquivo/ img1347988241.jpg>. 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Disponível em: <https://www.bcb.gov. br/pre/normativos/busca/downloadNormativo.asp?arquivo=/Lists/Normativos/Attachments/39995/ Res_0064_v2_L.pdf>. Acesso em: 30 mar. 2017. 106 Re vi sã o: G io va nn a / K le be r - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 17 /0 6/ 20 19 ___. Resolução n. 2.170, de 30 de junho de 1995. Brasília, 1995. Disponível em: <http://www.bcb.gov. br/pre/normativos/busca/downloadNormativo.asp?arquivo=/Lists/Normativos/Attachments/46173/ Res_2170_v3_P.pdf>. Acesso em: 30 mar. 2017. ___. Resolução n. 2.485, de 30 de abril de 1998. Brasília, 1998. Disponível em: <https://www.bcb.gov. br/pre/normativos/busca/downloadNormativo.asp?arquivo=/Lists/Normativos/Attachments/45383/ Res_2485_v2_L.pdf>. Acesso em: 30 mar. 2017. ___. Resolução n. 2.625, de 29 de julho de 1999. Brasília, 1999a. Disponível em: <https://www.bcb. gov.br/pre/normativos/busca/downloadNormativo.asp?arquivo=/Lists/Normativos/Attachments/45084/ Res_2625_v2_L.pdf>. Acesso em: 30 mar. 2017. ___. 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