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I N T E R P R E TA Ç Ã O D E E X A M E S L A B O R A T O R I A I S 1 F E R R Ã O - G O N Z A L E S & M A R T I N S A S T R I A D I A S F E R R Ã O G O N Z A L E S & A N D R E Z A P A T R I C I A M . D E S O U Z A M A R T I N S I N T E R P R E T A Ç Ã O D E E X A M E S L A B O R A T O R I A I S 2 0 1 8 I- Análise de fluidos biológicos 6 ........................................................... I- Exames laboratoriais: material para exames, sensibilidade x especificidade. Fatores de interferência em exames laboratoriais 7 ...................................................... a) Exames laboratoriais: 7 .......................................................................................... b) Sensibilidade x especificidade: 8 ............................................................................ c) Conceitos básicos em análises clínicas: 10 ............................................................... d) Fases que envolvem a realização de exames 12 ....................................................... e) Fatores que podem influenciar nos resultados: fase pré-analítica 13 ..................... f) Questões para estudo: 16 ......................................................................................... II- Urinálise/ EAS (Elementos anormais de sedimentoscopia): 17 ............................... a) Coleta da urina: Preparação de Paciente 18 ............................................................. b) Avaliação da cor: 18 ................................................................................................. c) Avaliação do aspecto: 19 ........................................................................................... d) Avaliação da densidade: 19 ...................................................................................... e) Avaliação do odor: 20 ............................................................................................... f) Avaliação do pH: 20 .................................................................................................. g) Proteinúria: 22 ......................................................................................................... h) Glicosúria: 23 ........................................................................................................... i) Cetonúria: 24 ............................................................................................................ j) Avaliação da presença de hemoglobina: 24 ............................................................... l) Avaliação da presença de bilirrubina: 24 ................................................................... m) Avaliação da presença de urobilinogênio: 25 .......................................................... n) Avaliação da presença de nitrito: 25 ........................................................................ o) Avaliação da presença de leucócitos: 25 ................................................................... p) Avaliação da presença de hemácias: 26 .................................................................... q) Cilindros: 28 ............................................................................................................ u) Questões abordadas: 28 ........................................................................................... III-Hemograma: 29 ......................................................................................................... a) Composição do Plasma: 29 ...................................................................................... I N T E R P R E TA Ç Ã O D E E X A M E S L A B O R A T O R I A I S 2 F E R R Ã O - G O N Z A L E S & M A R T I N S b) Elementos Figurados: 29 ......................................................................................... c) Hematopoese: 33 ...................................................................................................... d) Análise de hemograma: 34 ...................................................................................... e) Eritrograma: 34 ........................................................................................................ f) Leucograma: 37 ......................................................................................................... g) Plaquetas: 43 ........................................................................................................... h) Velocidade de hemossedimentação (VHS): 44 ........................................................ i) Questões abordadas: 44 ............................................................................................ IV- Material de exames: Líquido céfalorraquidiano (LCR) 45 ....................................... a) Análise do LCR: 45 ................................................................................................... b) Composição do LCR e ação da BHE 49 .................................................................. c) Síntese da análise laboratorial do LCR: 50 ............................................................... d) Indicações para o exame de LCR: 53 ........................................................................ e) Contra-indicações para o exame de LCR: 53 ............................................................ f) Questões abordadas: 54 ............................................................................................ V- Líquido ascítico, pleural e sinovial: 54 ...................................................................... a) Líquido ascítico: 55 .................................................................................................. b) Líquido pleural: 55 ................................................................................................... c) Líquido sinovial: 57 .................................................................................................. d) Questões abordadas: 60 ........................................................................................... VII- Análise de Esperma e Escarro. 61 .......................................................................... a) Análise de Esperma (Espermograma): 61 ................................................................ b) Avaliação da infertilidade: 61 ................................................................................... c) Líquido Seminal (Sêmen) 62 .................................................................................... d) Avaliação do espermograma: 65 ............................................................................... e) Análise de escarro: 70 .............................................................................................. f) Questões abordadas: 70 ............................................................................................ II- Biomarcadores de valor diagnóstico: 72 ............................................ VIII- Função cardíaca: 73 ............................................................................................... I N T E R P R E TA Ç Ã O D E E X A M E S L A B O R A T O R I A I S 3 F E R R Ã O - G O N Z A L E S & M A R T I N S a) Homocisteína 73 ...................................................................................................... b) Fator natriurético- BNP (Brain Natriuretic Peptide) 73 .......................................... c) Marcadores no Infarto Agudo no Miocárdio (IAM): 74 ........................................... IX-Função hepática: 78 .................................................................................................. a) Exames baseados nas funções de excreção e detoxificação hepáticas 79 ................. b) Dosagem de enzimas hepáticas no soro 80 ............................................................. X- Função renal: 86 ........................................................................................................a) Funções normais dos rins: 86 ................................................................................... b) Avaliação da função glomerular: 87 ......................................................................... c) Avaliação da função tubular: 90 ............................................................................... d) Questões abordadas: 91 ........................................................................................... XI- Função pancreática: 92 ............................................................................................. a) Amilase Pancreática: 93 ............................................................................................ b) Lipase pancreática: 94 .............................................................................................. c) Amilase vs. Lipase 95 ............................................................................................... XII- Função tiroidiana: 96 .............................................................................................. a) Tireóide 96 ............................................................................................................... b) Hipotireoidismo 97 .................................................................................................. c) Tireoidites 98 ........................................................................................................... d) Neoplasias Tireoidianas 99 ...................................................................................... e) Hormônio Estimulante da Tireóide (TSH) 99 ......................................................... f) Tiroxina (T4) 99 ....................................................................................................... g) Tiroxina Livre (T4L) 100 ............................................................................................ h) Triiodotironina (T3) 100 ............................................................................................ i) Triiodotironina Livre (T3L) 100 .................................................................................. i) Globulina Ligadora da Tiroxina (TBG) 100 ................................................................ j) Tireoglobulina (TG) 100 ............................................................................................. l) Calcitonina 101 ........................................................................................................... m) Anticorpos antitireoidianos 101 ............................................................................... I N T E R P R E TA Ç Ã O D E E X A M E S L A B O R A T O R I A I S 4 F E R R Ã O - G O N Z A L E S & M A R T I N S n) Testes de função da tireóide 101 ................................................................................ o) Dosagem sérica de T4 e T3 total 101 ......................................................................... p) Índice de ligação do hormônio tireóideo (captação de T3 em resina) 102 ................ q) Índice de tiroxina livre 102 ........................................................................................ r) Dosagem do TSH (Hormônio Tireoestimulante) 103 ................................................ s) Mapeamento tiroidiano 103 ....................................................................................... t) Mapeamento do corpo inteiro 103 ............................................................................. u) Questões abordadas: 104 ........................................................................................... III-Glossário 106 ................................................................................... a) Termos do Glossário da Normas PALC- SBPC-Sociedade Brasileira de Patologia clínica. 107 .................................................................................................................... b) Definições importantes segundo ANVISA. 118........................................................ I N T E R P R E TA Ç Ã O D E E X A M E S L A B O R A T O R I A I S 5 F E R R Ã O - G O N Z A L E S & M A R T I N S I - A N Á L I S E D E F L U I D O S B I O L Ó G I C O S I N T E R P R E TA Ç Ã O D E E X A M E S L A B O R A T O R I A I S 6 F E R R Ã O - G O N Z A L E S & M A R T I N S I - E x a m e s L a b o r a t o r i a i s : M a t e r i a l P a r a E x a m e s , S e n s i b i l i d a d e X E s p e c i f i c i d a d e . F a t o r e s D e I n t e r f e r ê n c i a E m E x a m e s L a b o r a t o r i a i s a) Exames laboratoriais: Realizados em laboratórios de análise clínica, visando um diagnóstico, confirmação para uma patologia, ou para um check-up (exame de rotina). Os profissionais envolvidos com esses serviços na unidade de saúde devem ter como principais funções: • Atendimento e orientação aos usuários para a coleta necessária aos diversos tipos de procedimentos. • Coleta, recebimento e identificação das amostras biológicas. • Dessoração de sangue (quando se aplica) e o acondicionamento adequado das amostras biológicas para posterior transporte. • Recebimento, conferência, arquivamento e entrega dos laudos dos exames aos usuários. Materiais biológicos • Sangue • Urina • Fezes • Líquor • Esperma • Escarro Os exames laboratoriais são utilizados no diagnóstico clínico, na triagem e na pesquisa: Concebido como um teste laboratorial, também se aplica à informação obtida na história, exame físico ou raio x, etc. Um teste de diagnóstico determinar presença ou ausência da doença quando um individuo apresenta sinais ou sintomas da doença I N T E R P R E TA Ç Ã O D E E X A M E S L A B O R A T O R I A I S 7 F E R R Ã O - G O N Z A L E S & M A R T I N S Um teste de triagem identifica indivíduos assintomáticos que podem ter a doença. O teste diagnóstico é realizado após um teste de triagem positivo para estabelecer um diagnóstico definitivo. Os principais objetivos do exame laboratorial são confirmar, estabelecer ou complementar o diagnóstico clínico. • Fornecem elementos para o prognóstico de determinadas doenças. • Estabelecem critérios de normalidade. • Delineiam fatores de risco evolutivos. Fases do exame laboratorial: As fases podem ser divididas em três: pré-analítica, analítica e pós-analítica. Abaixo vemos os erros que são associados a cada uma dessas fases. b) Sensibilidade x especificidade: Definição: Sensibilidade (S): é a probabilidade de um teste dar positivo na presença da doença, isto é, avalia a capacidade do teste detectar a doença quando ela está presente. Indica a I N T E R P R E TA Ç Ã O D E E X A M E S L A B O R A T O R I A I S 8 F E R R Ã O - G O N Z A L E S & M A R T I N S proporção de pacientes que têm uma determinada doença quando teste complementar é positivo. Especificidade (E): é probabilidade de um teste dar negativo na ausência da doença, isto é, avalia a capacidade do teste afastar a doença quando ela está ausente. Indica a proporção de pacientes que não têm uma determinada doença quando o teste complementar é negativo. Sensíveis: • Para doença perigosa ou grave, mas tratável • Para excluir doenças (rastreamento) • Probabilidade da doença é baixa mas o objetivo é excluir a doença – banco de sangue, ex. periódicos • Dá poucos Falsos Negativos Específicos: • Quando um resultado FP pode ocasionar danos físicos, morais ou financeiros ao paciente • Quando o tratamento é requer medidas mais agressivas ou invasivas, como uma quimioterapia ou cirurgia • Dá poucos Falsos Positivos I N T E R P R E TA Ç Ã O D E E X A M E S L A B O R A T O R I A I S 9 F E R R Ã O - G O N Z A L E S & M A R T I N S Quanto mais sensível um teste, maior seu valor preditivonegativo (maior a segurança do médico de que a pessoa com teste negativo não tem a doença). Quanto mais específico um teste, maior seu valor preditivo positivo (maior a segurança do médico de que a pessoa com teste positivo tem a doença). c) Conceitos básicos em análises clínicas: 1 AMOSTRAS BIOLÓGICAS: São consideradas amostras biológicas de material humano para exames laboratoriais: sangue urina, fezes, suor, lágrima, linfa (lóbulo do pavilhão auricular, muco nasal e lesão cutânea), escarro, esperma, secreção vaginal, raspado de lesão epidérmico (esfregaço) mucoso oral, raspado de orofaringe, secreção de mucosa nasal (esfregaço), conjuntiva tarsal superior (esfregaço), secreção mamilar (esfregaço), secreção uretral (esfregaço), swab anal, raspados de bubão inguinal e anal/perianal, coleta por escarificação de lesão seca/swab em lesão úmida e de pêlos e de qualquer outro material humano necessário para exame diagnóstico 2 LABORATÓRIOS DE ANÁLISES: São estabelecimentos destinados à coleta e ao processamento de material humano visando a realização de exames e testes laboratoriais, que podem funcionar em sedes próprias independentes ou, ainda, no interior ou anexadas a estabelecimentos assistenciais de saúde, cujos ambientes e áreas específicas obrigatoriamente devem constituir conjuntos individualizados do ponto de vista físico e funcional. 3 PROCEDIMENTOS TÉCNICOS ESPECIAIS: • A execução de procedimentos de coleta de material humano que exijam a prévia administração, por via oral, de quaisquer substâncias ou medicamentos, deverá ser supervisionada, "in loco", por profissionais de nível superior pertencentes aos quadros de recursos humanos dos estabelecimentos. • Os procedimentos de que trata o item anterior, que sejam de longa duração e que exijam monitoramento durante os processos de execução, deverão ser supervisionados, "in loco", por profissionais médicos pertencentes aos quadros de recursos humanos dos estabelecimentos. • O Setor de Coleta deverá ter acesso aos equipamentos de emergência visando propiciar o atendimento de eventuais intercorrências clínicas. I N T E R P R E TA Ç Ã O D E E X A M E S L A B O R A T O R I A I S 1 0 F E R R Ã O - G O N Z A L E S & M A R T I N S • O emprego de técnicas de sondagem é permitido, mediante indicação médica, e somente para casos em que seja realmente necessária, a adoção de tal conduta para viabilizar a coleta de amostras de material dos usuários. 4 COLETA NAS UNIDADES DE SAÚDE: Os procedimentos de coleta dos exames laboratoriais nos ambulatórios são executados por profissionais médicos, assim como por profissionais de saúde componentes de equipes multiprofissionais, com finalidades de investigação clínica e epidemiológica, de diagnose ou apoio diagnóstico, de avaliação pré-operatória, terapêutica e de acompanhamento clínico. 5 RECURSOS HUMANOS: O Setor de Coleta obrigatoriamente contará com pelo menos 01 (um) dos seguintes profissionais de nível universitário: médico, enfermeiro, farmacêutico, biomédico ou biólogo que tenha capacitação para execução das atividades de coleta. Os profissionais de nível universitário do Posto de Coleta deverão estar presentes, diariamente, no interior de suas dependências durante o período de funcionamento da coleta destes estabelecimentos. Os procedimentos de coleta de material humano poderão ser executados pelos seguintes profissionais legalmente habilitados: 1. De nível universitário: médicos, enfermeiros, farmacêuticos, biomédicos, biólogos e químicos que no curso de graduação, e/ou em caráter extracurricular, freqüentaram disciplinas que lhes conferiram capacitação para execução das atividades de coleta. 2. De nível técnico: técnicos de enfermagem, assim como técnicos de laboratório, técnicos em patologia clínica e demais profissional legalmente habilitados que concluíram curso em nível de ensino médio que no curso de graduação, e /ou em caráter extracurricular freqüentaram disciplinas que lhes conferiram capacitação para execução das atividades de coleta. 3. De nível intermediário: auxiliares de enfermagem, assim como profissionais legalmente habilitados que concluíram curso em nível de ensino de fundamental que no curso de graduação, e /ou em caráter extracurricular, freqüentaram disciplinas que lhes conferiram capacitação para a execução das atividades de coleta. 6 ESPAÇO FÍSICO: I N T E R P R E TA Ç Ã O D E E X A M E S L A B O R A T O R I A I S 1 1 F E R R Ã O - G O N Z A L E S & M A R T I N S • SALA PARA COLETA DE MATERIAL BIOLÓGICO: De uma forma geral, os estabelecimentos que são dotados de um único ambiente de coleta deverão contar com sala específica e exclusiva no horário de coleta para esta finalidade, com dimensão mínima de 3,6 metros quadrados, ter pia para lavagem das mãos, mesa, bancada, etc. para apoiar o material para coleta e o material coletado. O ambiente deve ter janelas, ser arejado, com local para deitar ou sentar o usuário, as superfícies devem ser laváveis • BIOSSEGURANÇA: Entende-se como incorporação do princípio da biossegurança, a adoção de um conjunto de medidas voltadas para a prevenção, minimização ou eliminação de riscos inerentes às atividades de prestação de serviços, produção, ensino, pesquisa e desenvolvimento tecnológico, que possam comprometer a saúde do homem, o meio ambiente e, ainda, a qualidade dos trabalhos desenvolvidos. Os Equipamentos de Proteção Individual - EPI e Equipamento de Proteção Coletiva – EPC, destinam-se a proteger os profissionais durante o exercício das suas atividades, minimizando o risco de contato com sangue e fluidos corpóreos. São EPI: óculos, gorros, máscaras, luvas, aventais impermeáveis e sapatos fechados e, são EPC: caixas para material pérfurocortante, placas ilustrativas, fitas antiderrapante, etc... . d) Fases que envolvem a realização de exames 1. UNIDADES DE SAÚDE: I N T E R P R E TA Ç Ã O D E E X A M E S L A B O R A T O R I A I S 1 2 F E R R Ã O - G O N Z A L E S & M A R T I N S 2. LABORATÓRIO: 3. UNIDADES DE SAÚDE: 4. ORIENTAÇÕES AO USUÁRIO QUANTO AO PREPARO E REALIZAÇÃO DO EXAME, É importante esclarecer com instruções simples e definidas, as recomendações gerais para o preparo dos usuários para a coleta de exames laboratoriais, a fim de evitar o mascaramento de resultados laboratoriais. Importante informar e fornecer: Dias e horário de coleta da unidade Preparos necessários quanto à necessidade ou não de: jejum, dieta, abstinência sexual, atividade física, medicamentos. Em casos de material colhido no domicilio a unidade deverá fornecer os frascos com identificação do material a ser colhido Certificar-se de que o usuário entendeu a orientação e anexá-la ao pedido de exame. e) Fatores que podem influenciar nos resultados: fase pré-analítica Fase Pré-Analítica: A importância da fase pré-analítica no laboratório clínico As condutas que dizem respeito . fase pré-analítica no laboratório de análises clínicas estão dentre as mais importantes para garantir a confiabilidade dos resultados. As ações I N T E R P R E TA Ç Ã O D E E X A M E S L A B O R A T O R I A I S 1 3 F E R R Ã O - G O N Z A L E S & M A R T I N S executadas nesta fase, ainda que imperceptíveis, repercutem em todas as demais fases do processo. A fase pré-analítica não deve ser negligenciada ou equivocadamente assumida como de menor importância. Um erro que pode comprometer gravemente a qualidade nos resultados laboratoriais. A qualidade dos resultados dos exames laboratoriais está intimamente relacionada à fase pré-analítica, que se inicia desde o preenchimento correto da requisição, preparação do paciente, coleta e identificação da amostra, armazenamento temporário da amostra no localde coleta, transporte ao laboratório, até o recebimento e cadastramento das amostras no laboratório. Coleta do material: O resultado correto de um exame de análises clinicas não depende somente de quem os analisa, mas também da qualidade da amostra coletada. A equipe de enfermagem atua no processo de coleta do material biológico, e, conforme a qualidade da amostra, os erros pré - analíticos são minimizados eos resultados garantidos. Coleta caseira x profissional: A qualidade do resultado de um exame laboratorial começa a ser construída no momento da coleta. A maioria dos erros ocorre porque o paciente não fez o preparo devido ou omitiu informações relevantes para a interpretação do exame. a) JEJUM Para a maioria dos exames um determinado tempo de jejum é necessário e pode variar de acordo com o exame solicitado. A necessidade de jejum mínimo . definida baseada na literatura e normas vigentes e estabelecida para a maioria dos exames laboratoriais, variando de acordo com as recomendações de cada exame. Por outro, as coletas de sangue devem ser evitadas após período muito prolongado de restrição alimentar – superior a 16 horas. Já em outros casos, como os exames de glicose e insulina, por exemplo, o jejum máximo permitido é de 14 horas. Em situações especiais, bem como para a população pediátrica, o jejum mínimo e o máximo devem ser avaliados de maneira pontual. O paciente deve seguir a dieta alimentar e hídrica habitual para coleta de exames de sangue, fezes e urina, exceto quando para realização de algum exame . exigida dieta específica, como no caso da serotonina, catecolaminas, gordura fecal e pesquisa de mioglobina urinária, por exemplo. Vale lembrar também, que o jejum prolongado (mais que 12 horas para o adulto), pode levar à alterações nos exames, além de ser prejudicial à saúde. Água pode ser tomada com moderação. O excesso interfere nos exames de urina. b) DIETA I N T E R P R E TA Ç Ã O D E E X A M E S L A B O R A T O R I A I S 1 4 F E R R Ã O - G O N Z A L E S & M A R T I N S Alguns exames requerem a uma dieta especial antes da coleta de amostra (ex: pesquisa de sangue oculto), caso contrário os hábitos alimentares devem ser mantidos para que os resultados possam refletir o estado do paciente no dia- a - dia. c) ATIVIDADES FÍSICAS Não se deve praticar exercícios antes dos exames, exceto quando prescrito. Eles alteram os resultados de muitas provas laboratoriais, principalmente provas enzimáticas e bioquímicas. Por isso, recomenda-se repouso e o paciente deve ficar 15 minutos descansando antes da coleta. d) MEDICAMENTOS A Associação Americana de Química Clínica, além de alguns outros pesquisadores brasileiros, mantém publicações completas em relação às interferências de medicamentos sobre os exames. Por outro lado, alguns pacientes, não podem suspender as medicações devido a patologias específicas. e) FUMO Orientar o usuário a não fumar no dia da coleta. O tabagismo crônico altera vários exames como: leucócitos no sangue, lipoproteínas, atividades de várias enzimas, hormônios, vitaminas, marcadores tumorais e metais pesados. f) BEBIDA ALCOÓLICA Recomenda-se não ingerir bebidas alcoólicas durante pelo menos 3 (TRÊS) dias antes dos exames. O álcool, entre outras alterações, afeta os teores de enzimas hepáticas, testes de coagulação, lipídios e outros. G) DATA DA MENSTRUAÇÃO OU TEMPO DE GESTAÇÃO Devem ser informados na solicitação de exames ao laboratório, pois, dependendo da fase do ciclo menstrual ou da gestação ocorrem variações fisiológicas que alteram a concentração de várias substâncias no organismo, como os hormônios e algumas proteínas séricas. I N T E R P R E TA Ç Ã O D E E X A M E S L A B O R A T O R I A I S 1 5 F E R R Ã O - G O N Z A L E S & M A R T I N S Para a coleta de urina o ideal é realizá-la fora do período menstrual, mas se for urgente, a urina poderá ser colhida, adotando-se dois cuidados: assepsia na hora do exame e o uso de tampão vaginal para o sangue menstrual não se misturar à urina. H) RELAÇÕES SEXUAIS Para alguns exames como, por exemplo, espermograma e PSA, há necessidade de determinados dias de abstinência sexual. Para outros exames, até mesmo urina, recomenda- se 24 horas de abstinência sexual. I) ANSIEDADE E STRESS O paciente deverá relaxar antes da realização do exame. O stress afeta não só a secreção de hormônio adrenal como de outros componentes do nosso organismo. A ansiedade conduz à distúrbios no equilíbrio ácido-básico, aumenta o lactato sérico e os ácidos gordurosos plasmáticos livres, entre outras substâncias. OBSERVAÇÕES IMPORTANTES: • Quando possível as amostras devem ser coletadas entre 7 e 9 horas da manhã, pois a concentração plasmática de várias substâncias tendem a flutuar no decorrer do dia. Por esta razão, os valores de intervalos de referência, são normalmente obtidos entre estes horários. O ritmo biológico também pode ser influenciado pelo ritmo individual, no que diz respeito à alimentação, exercícios e horas de sono. • No monitoramento dos medicamentos considerar o pico antes a administração do medicamento e o estágio da fase constante depois da próxima dose. • Sempre anotar da coleta no pedido o exato momento. f) Questões para estudo: a) Confiabilidade da amostra: quais os requisitos básicos de segurança para garantia da segurança da procedência da amostra? b) Coletas caseiras: como proceder? I N T E R P R E TA Ç Ã O D E E X A M E S L A B O R A T O R I A I S 1 6 F E R R Ã O - G O N Z A L E S & M A R T I N S c) Coletas realizadas pelo médico: orientação pelo profissional que irá realizar o exame: coleta, fixação e transporte do material. Citar exemplos e discutir. d) Esfregaço: conceito e problemas de confecção e fixação. e) Fluidos corporais: regras de assepsia e antissepsia e sua influência nos resultados. f) Aspectos de conservação e transporte específicos de acordo com as características físicas do material: diferenciar líquidos e sólidos. g) Exsudatos: conceitos e particularidades- diferenciação de abcessos íntegros e expostos, profundos e superficiais, utilização de material de coleta específico (seringa, agulha) h) Preparo do paciente: pontos relevantes de possível interferência - uso de medicamentos: atuação in vivo e in vitro. Exemplos (glicocorticóides, vitamina C). Buscar outros de interferência conhecida. - Alimentação, jejum, estado emocional, postura do paciente: quais as possíveis alterações obtidas nessas condições e quais exames serão mais afetados. Dica: Procure também nos Tratados de Enfermagem nos capítulos referentes à coleta de material para exames! I I - U r i n á l i s e / E A S ( E l e m e n t o s A n o r m a i s D e S e d i m e n t o s c o p i a ) : O exame de urina é de fundamental importância para determinação de uma série de patologias metabólicas e infecciosas, além de permitir a avaliação da função renal. Quaisquer alterações sanguíneas poderão ser detectadas na urina desde que estejam em maior quantidade do que o normal, sejam esses elementos eletrólitos, carboidratos, aminácidos, uréia, amônia, corpos cetônicos, etc. Este teste de rastreamento avalia as características físicas da urina; determina a gravidade específica e pH da urina; detecta e mede proteína, glicose, corpos cetônicos, bilirrubina, urobilinogênio, hemoglobina (Hb), nitritos sangüíneos e hemácias; examina o sedimento para células sangüíneas, cilindros, cristais e células epiteliais. Alguns exames podem ser realizados de forma simples e barata no laboratório do consultório. São exames que detectam e mensuram a concentração de várias substâncias na I N T E R P R E TA Ç Ã O D E E X A M E S L A B O R A T O R I A I S 1 7 F E R R Ã O - GO N Z A L E S & M A R T I N S urina. Esses testes usam uma tira de plástico fina (fita reagente) impregnada com substâncias químicas que reagem com substâncias presentes na urina e mudam de cor. Os exames com fitas reagentes são utilizados rotineiramente na urinálise. a) Coleta da urina: Preparação de Paciente Como a coleta de urina em geral é feita pelo próprio paciente (quando não internado em ambiente hospitalat, pois sua utina é recolhida pela sonda). Assim de forma a evitar erros na coleta é fundamental que várias recomendações sejam feitas ao paciente, tais como: • Uso de medicamentos: As recomendações feitas sobre exames realizados no sangue aplicam-se também aos de urina (ver adiante). • Higiene da genitália externa: Visa a diminuir a passagem de bactérias para a urina. • Coleta de uma Amostra Isolada de Urina: utilizada para a pesquisa de elementos anormais e sedimentoscopia (EAS). O EAS é mais comumente realizado com a coleta da primeira urina da manhã (esta seria mais concentrada) • Coleta de Toda a Urina de 24 horas (Nictêmero): utilizada para determinar a quantidade de uma substância que é excretada (ex.: hormônios, proteínas). O paciente deve ser instruído a desprezar a primeira urina do dia, anotar a hora e começar a recoletar todo o volume de urina de todas as micções até a mesma hora do dia seguinte. Aspectos a serem considerados para preservação da amostra: - Tempo decorrido entre a coleta e a realização do exame: todos os exames devem ser realizados imediatamente após a coleta. Quando o exame não é efetuado imediatamente após a emissão da urina, a amostra deve ser guardada em geladeira - Transporte, contaminação e decomposição do material a ser analisado: convém sempre manter os recipientes tampados e, muitas vezes, em geladeira. A decomposição da substância pode ocorrer por: exposição ao ar, à luz e a temperaturas inadequadas. b) Avaliação da cor: I N T E R P R E TA Ç Ã O D E E X A M E S L A B O R A T O R I A I S 1 8 F E R R Ã O - G O N Z A L E S & M A R T I N S Normalmente amarela ou amarela clara) e do aspecto (límpido ou turvo) são determinados por observação direta; neste mesmo momento, pode-se atentar e registrar eventuais odores anormais. A hematúria confere à urina uma cor de laranja a vermelha, podendo estar presentes rajas de sangue. Medicamentos podem conferir à urina tons diversos, como verde ou laranja escuro; outros estados patológicos podem resultar em alteração da cor da urina pela presença de pigmentos, sangue ou resíduos do metabolismo. A presença de bactérias ou elementos celulares (produzidos por descamação a partir de várias partes do sistema urinário) em quantidade anormal pode resultar em um aspecto turvo. Tabela: Alterações de cor e suas respectivas interpretações. c) Avaliação do aspecto: O aspecto da urina deve ser límpido, transparente. A alteração desse aspecto ocorre em diversas patologias, deixando a urina turva. Essa turbidez está associada a presença aumentada de cristais, proteinúria, bactérias, leucocitúria, hematúria, ou seja, presença de substâncias ou células que normalmente não são encontrados ou são encontrados em pouca quantidade na urina. d) Avaliação da densidade: Alterações da densidade da mesma forma refletem a presença anormal de substâncias ou células na urina, o que leva ao seu aumento. Cor Interpretação sugestiva Amarelo-claro/ amarelo citrino Normal Incolor Recente ingestão de líquidos Amarelo-palha Poliúria Verde Infecção por Pseudomonas, uso de antisséptico urinário Avermelhada Presença de sangue, contaminação menstrual Marrom/escurecida Eritrócito oxidado, uso de metildopa e metronidazol âmbar/ alaranjada Consumo de cenoura, vitamina A, medicamentos (fenazopiridina) I N T E R P R E TA Ç Ã O D E E X A M E S L A B O R A T O R I A I S 1 9 F E R R Ã O - G O N Z A L E S & M A R T I N S Uma baixa gravidade específica (<1.005) pode indicar diabetes insipidus, necrose tubular aguda ou pielonefrite. A densidade fixa ocorre em glomerulonefrite crônica com lesão renal grave; valores altos (>1.035) ocorrem em síndrome nefrótica, desidratação, choque, glomerulonefrite aguda, insuficiência cardíaca congestiva e insuficiência hepática. O valor de referência para normalidade é de 1,024. Valores acima de 1, 025 indicam estado alterado. e) Avaliação do odor: Alguns medicamentos, como a Penicilina, produzem odor característico. Na infecção do trato urinário, a urina pode apresentar um odor fétido. A urina em repouso também irá produzir um odor mais acentuado, porém não fétido. f) Avaliação do pH: O pH é uma medida de acidez ou alcalinidade. O pH é definido como o logaritmo negativo da concentração do íon de hidrogênio (H+). Essa manipulação matemática permite medir a acidez em uma escala conveniente de 0 a 14. O pH neutro (ou seja, existe na solução o mesmo número de íons de hidrogênio e de hidroxil, OH-) é 7.0. O pH do plasma e da maioria dos fluidos corporais é mantido dentro de uma margem limitada entre 7,35 e 7,45. Apenas em casos de doenças graves o pH fica ligeiramente abaixo de 7,0 ou próximo a 8,0. Variações mais alarmantes são incompatíveis com a vida. O corpo mantém o pH dentro dessa margem limitada utilizando tampões, isto é, um produto químico, como um ácido ou base fracos, que pode existir de 2 formas; essas formas alternativas podem ser convertidas entre si por meio da absorção ou liberação de íons de hidrogênio. O tampão mais importante do organismo é o sistema tampão com bicarbonato: H+ + HCO3- <--> CO2 + H2O. O HCO3- é controlado pelos rins e o CO2 é controlado pelos pulmões. Se houver algum problema com os rins, os pulmões tentarão compensar e vice-versa. Entretanto, esse equilíbrio pode ser prejudicado, por exemplo, na presença de excesso de ácidos orgânicos que neutralizam o HCO3-. O pH, útil na avaliação de cristalúria e de distúrbios renais que cursam com incapacidade renal de secretar ou reabsorver ácidos ou bases. Alguns medicamentos são mais eficazes em ambientes ácidos ou alcalinos, como, por exemplo, a estreptomicina, a neomicina e a canamicina. Estas são mais eficazes no tratamento de infecções do trato urinário quando a urina é alcalina. I N T E R P R E TA Ç Ã O D E E X A M E S L A B O R A T O R I A I S 2 0 F E R R Ã O - G O N Z A L E S & M A R T I N S Certos tipos de cristais urinários estão presentes na urina ácida. Cristais urinários sugerem uma tendência à formação de cálculos renais. Essa predisposição pode ser eliminada, modificando-se o pH da urina. A urina ácida está associada à xantina, cistina, ácido úrico e cálculos de oxalato de cálcio. O pH ácido da urina pode ser observado nas seguintes condições clínicas: • tuberculose renal • pirexia • fenilcetonúria • alcaptonúria • acidose A urina alcalina está associada ao carbonato de cálcio, fosfato de cálcio e aos cálculos de fosfato de magnésio. O pH alcalino da urina pode ser observado nas seguintes condições clínicas: • síndrome de Fanconi • infecção do trato urinário • alcalose Obs: A síndrome de Fanconi adquirida é uma coleção de achados, que podem incluir a aminoacidúria (aminoácidos na urina), o raquitismo, a insuficiência de crescimento e excessiva produção de urina. A síndrome de Fanconi pode ser hereditária (síndrome de Fanconi familiar) ou pode ser adquirida (desenvolvida em razão de uma causa externa). A forma adquirida é causada por dano dos rins a partir de agentes externos, como o cádmio, o chumbo, o mercúrio e os medicamentos com tetraciclinas vencidos, entre outros. O pH da urina não é controlado com tanta rigidez quanto o pH do sangue, podendo ser afetado por vários fatores depois da coleta. Se o recipiente que contém a urina ficar aberto, o CO2 escapa. Asbactérias geralmente aumentam o pH, já que contêm enzimas que podem decompor a uréia em amônia, a qual então se combina com os íons de hidrogênio. Na maior parte dos casos, o pH sérico é uma medida para o desequilíbrio ácido-base melhor do que o pH da urina, mas, em alguns casos, o pH da urina também é útil. Por exemplo, em uma acidose respiratória resultante de doença pulmonar obstrutiva crônica, os rins (se estiverem I N T E R P R E TA Ç Ã O D E E X A M E S L A B O R A T O R I A I S 2 1 F E R R Ã O - G O N Z A L E S & M A R T I N S normais) tentarão equilibrar o pH elevado, reabsorvendo e sintetizando mais bicarbonato, o qual, então, resultará em uma urina mais ácida. Os valores de referência para o pH da urina estão na faixa de 5,0 a 6,5. Sendo assim pH< 7,0 (ácido) é considerado normal e pH > 7,0 é considerado alterado, podendo ser devido a medicamentos ou a alimentação. g) Proteinúria: Uma quantidade de proteínas plasmáticas de baixo peso molecular são filtradas normalmente na forma livre através do glomérulo renal e logo após são rapidamente reabsorvidas, em parte, pelos túbulos renais. Existem condições fisiológicas ou benignas onde pode-se observar um aumento na excreção urinária de proteínas, como: no exercício violento, febre, hipotermia, gravidez. A determinação das proteínas urinárias é importante na detecção das patologias renais. A proteinúria na doença renal pode resultar de uma disfunção glomerular ou tubular. No primeiro caso, é causada por um aumento na passagem através dos capilares do glomérulo e caracterizada pela perda das proteínas plasmáticas de mesmo tamanho ou maior. No segundo caso, é causada por uma diminuição na capacidade de reabsorção de proteínas pelos túbulos. Entre as patologias onde é produzido um aumento de excreção de proteínas urinárias, podem ser citadas: síndrome nefrótico, síndrome nefrítico, hipergamaglobulinemia monoclonal, nefropatia diabética, infecções do trato urinário. A interpretação sugestiva geralmente é feita com os seguintes valores: Obs: -As glomerulopatias são alterações encontradas: perda da capacidade de filtração de proteínas (perda de ptns); passagem de hemácias; processo inflamatório com leucócitos no glomérulo à biopsia renal ou na urina; alteração na taxa de filtração glomerular Proteinúria Interpretação sugestiva Até 150 mg em 24 h Normal De 150 mg a 3,5g em 24 h Síndrome nefrítica Maior do que 3,5 g em 24h Síndrome nefrótica I N T E R P R E TA Ç Ã O D E E X A M E S L A B O R A T O R I A I S 2 2 F E R R Ã O - G O N Z A L E S & M A R T I N S (diminuição) que acarreta edema. São classificadas em síndrome nefrítica e nefrótica de acordo com suas características particulares, que são: ● Síndrome Nefrítica : ✓ inflamação com diminuição da filtração glomerular, consequentemente há retenção de H2O e sal acarretando hipervolemia com edema e hipertensão. ✓ hipertensão ✓ edema ✓ hematúria (com dismorfismo eritrocitário é sinal de hematúria glomerular, pois a hemácia se deforma ao passar pelo glomérulo) ✓ leucocitúria ✓ cilindro leucocitário/hemático (a presença de leucócitos na urina pode ser sinal de infecção ou de inflamação sem infecção, isto é, inflamação autoimune, já a presença de cilindros hemáticos é sinal de glomerulonefrite aguda). ● Síndrome Nefrótica: ✓ Proteinúria maciça (> 3,0 ou 3,5g em 24hs = 50mg/kg de proteinúria, em uma criança de 10kg proteinúria de 500mg já é considerada maciça). ✓ Hipoalbuminemia (queda da pressão oncótica acarreta queda da volemia que ativa o sistema renina-angiotensina-aldosterona, havendo retenção de Na+ e H2O e piora do edema, além da instalação do quadro de hiperaldoteronismo secundário). ✓ Edema ✓ Hiperlipidemia (na tentativa de compensar a hipoalbuminemia o organismo tenta aumentar a síntese de ptns, como é a mesma via da síntese de lipídios acaba ocorrendo síntese lipídica). h) Glicosúria: Normalmente não deve haver glicosúria, a não ser que o paciente não tenha feito o jejum noturno. I N T E R P R E TA Ç Ã O D E E X A M E S L A B O R A T O R I A I S 2 3 F E R R Ã O - G O N Z A L E S & M A R T I N S Quando ocorrer, é indicativo de hiperglicemia, geralmente promovida por diabetes mellitus ou ainda por problemas de filtração devido a doença renal avançada. A glicose presente na urina reflete os níveis séricos da glicose associados à capacidade de filtração glomerular e de reabsorção tubular. Normalmente, a glicosúria só se manifesta quando os níveis séricos se encontram acima de 160/180 mg/dL. A glicosúria pode ser causada tanto pelo diabetes mellitus como por outras patologias, como doenças renais que afetem a reabsorção tubular e nos quadros de hiperglicemia de outras origens que não a diabética. i) Cetonúria: Poderá ocorrer em baixa taxa em caso de jejum muito prolongado (mais de 12 h), porém em jejum mais curtos não deverá ser observada. Quando em taxas elevadas pode ser indicativo de desnutrição profunda promovida em casos de anorexia ou ainda de diabetes mellitus, quando acompanhada de hiperglicemia e glicosúria. O uso de algumas drogas pode levar a falso-negativos, entre elas o captopril, a levodopa e o paraldeído. j) Avaliação da presença de hemoglobina: Deve estar ausente em pacientes saudáveis. Quando da ocorrência de hematúria pode ser indicativo de: ■ reação transfusional ■ anemia hemolítica ■ queimaduras graves ■ infecção ■ exercício físico intenso ■ glomerulonefrite l) Avaliação da presença de bilirrubina: I N T E R P R E TA Ç Ã O D E E X A M E S L A B O R A T O R I A I S 2 4 F E R R Ã O - G O N Z A L E S & M A R T I N S O metabolismo da bilirrubina se inicia com a decomposição dos glóbulos vermelhos pelas células fagocitárias. A hemoglobina é decomposta em heme e globina. O heme é convertido em bilirrubina que é, em seguida, transportada pela albumina no sangue para o fígado. No fígado, a maior parte da bilirrubina é conjugada com o ácido glicurônico, antes de ser excretada na bile. A bilirrubina conjugada é chamada de bilirrubina direta e a bilirrubina não-conjugada é chamada bilirrubina indireta. A bilirrubina total = BD + BI. A bilirrubina conjugada é excretada na bile pelo fígado e armazenada na vesícula biliar ou transferida diretamente para o intestino delgado. Esse exame pode ser realizado quando houver suspeita de problemas no fígado ou na vesícula biliar. Pacientes saudáveis devem ter ausência de bilirrubina na urina. A sua presença significa o aumento da bilirrubina direta, cujo ciclo de degradação foi interrompido por causa hepática ou pós-hepática e é indicativo de hepatopatias de um modo geral. m) Avaliação da presença de urobilinogênio: A bilirrubina excretada na bile é metabolizada pelas bactérias nos intestinos e convertida em urobilinas, que contribuem para a cor das fezes. Uma pequena porcentagem desses compostos são reabsorvidos no intestino e eventualmente aparecem na urina, onde são referidos como urobilinogênio. O urobilinogênio é responsável pela coloração amarelada da urina, portanto a urina normal deve contê-lo, porém seu aumento ou diminuição pode significar problemas. n) Avaliação da presença de nitrito: Deve estar ausente em pacientes saudáveis. A presença de nitrito na urina indica infecção das vias urinárias, causadas por microrganismos que reduzem o nitrato a nitrito. O achado de reação positiva indica a presença de infecção nas vias urinárias, principalmente por bactérias entéricas Gram- negativas, especialmente Escherichia coli, com exceção de Pseudomonas sp. o) Avaliação da presença de leucócitos: Urobilinogênio Interpretação sugestiva Até 1:20 Normal Acima de 1:20 Hepatopatias, distúrbios hemolíticos. Abaixo de 1:20 Obstrução biliar. I N T E R P RE TA Ç Ã O D E E X A M E S L A B O R A T O R I A I S 2 5 F E R R Ã O - G O N Z A L E S & M A R T I N S Podem estar presentes em pequena quantidade na urina normal (5 a 10 por campo). Normalmente neutrófilos. Quantidades aumentadas indicam a presença de lesões inflamatórias, infecciosas ou traumáticas em qualquer nível do trato urinário. Deve-se sempre excluir contaminação por via genital. Observação: A presença de piúria significativa com urocultura negativa pode sugerir tuberculose renal. A Tuberculose Renal é causada pela invasão do sistema urinário pelo bacilo da tuberculose. Essa invasão ocorre sempre através do sangue, e em grande número de casos, os microorganismos originam-se de um foco tuberculoso pulmonar. Outras vezes, o foco inicial está localizado no intestino, nas amígdalas ou até mesmo na pele. No aparelho urinário, a localização mais freqüente da tuberculose é no rim. A maior parte dos casos de tuberculose dos ureteres (conduto que ligam os rins à bexiga) e da bexiga resulta da propagação de lesões iniciais localizadas no rim. Freqüentemente, a tuberculose renal evolui insidiosamente, sem apresentar qualquer sintoma característico. Isso ocorre quando a lesão tuberculosa localiza-se no interior do tecido renal. No entanto, quando a lesão atinge os cálices renais (pequenas estruturas com forma de taça que recolhem a urina no interior dos rins) ou as vias urinárias, verifica-se a eliminação de sangue na urina (hematúria); esse aliás, pode ser o único sintoma. A quantidade de sangue perdido é variável, a urina pode tornar-se intensamente avermelhada ou apresentar somente pequena quantidade de glóbulos vermelhos. Neste último caso, a eliminação de sangue na urina é evidenciada através do exame microscópico do sedimento urinário, realizado rotineiramente no exame comum de urina. Quando a eliminação de sangue não é possível a olho nu, denomina-se hematúria microscópica. Por outro lado, um foco tuberculoso renal pode permanecer estacionário durante anos, passando totalmente despercebido. p) Avaliação da presença de hemácias: Podem estar presentes em pequena quantidade na urina normal (3 a 10 por campo). A presença de hematúria indica lesões inflamatórias, infecciosas ou traumáticas dos rins ou vias urinárias. Deve-se sempre excluir contaminação por via genital. O exercício extenuante Leucócitos Interpretação sugestiva Até 10000/mm3 Normal Mais de 10000/ mm3 Infecção do trato urinário ou contaminação por secreção vaginal ou uretral I N T E R P R E TA Ç Ã O D E E X A M E S L A B O R A T O R I A I S 2 6 F E R R Ã O - G O N Z A L E S & M A R T I N S pode levar a hematúria discreta. A forma da apresentação das hemácias, segundo alguns autores, pode indicar sua origem, servindo como um diagnóstico diferencial de hematúrias de origens glomerular e não-glomerular. Quando se apresentam em sua forma esférica habitual, seriam de origem mais distal no trato urinário; quando crenadas (irregulares), teriam origem glomerular. 15- Sedimentoscopia: É um exame de realização simples, feito por microscopia ótica. Hematúria Interpretação sugestiva Até 8000/ mm3 Normal Mais de 8000/ mm3 Síndrome nefrítica, contaminação por sangue menstrual. C é l u l a s epiteliais Sua presença é comum por descamação do sistema genitourinário. Bactérias A urina normal não deve conter bactérias. Sua presença indica infecção ou contaminação por secreção vaginal ou uretral. A presença de bactérias em qualquer quantidade é sempre considerada infecção. Leveduras A urina normal não deve conter leveduras. Pode s e r c o m u m e m p a c i e n t e s d i a b é t i c o s e imunodeprimidos e ocorrer por contaminação da genitália. Geralmente são espécies do gênero Candida. Parasitas A urina normal não deve conter parasitas. Pode ocorrer contaminação por Trichomonas vaginalis a partir de secreção vaginal e por Enterobius vermicularis por contaminação fecal. Espermato zóides Aparecem em decorrência de ejaculação ou relação sexual. I N T E R P R E TA Ç Ã O D E E X A M E S L A B O R A T O R I A I S 2 7 F E R R Ã O - G O N Z A L E S & M A R T I N S q) Cilindros: A avaliação dos cilindros é de grande importância na diferenciação dos diversos tipos de patologias renais e algumas cardíacas, sendo de grande valor diagnóstico. São elementos exclusivamente renais compostos por proteínas e moldados principalmente na luz dos túbulos contornados distais e túbulos coletores. Indivíduos normais, principalmente após exercícios extenuantes, febre e uso de diuréticos, podem apresentar pequena quantidade de cilindros, geralmente hialinos. Sua formação é influenciada pelos elementos presentes no filtrado e pelo tempo de permanência dentro do túbulo. Nas doenças renais, se apresentam em grandes quantidades e em diferentes formas, de acordo com o local da sua formação. u) Questões abordadas: a) Discuta quais os motivos que levam a alteração de cor da urina. b) Discuta com relação ao pH quais os motivos que podem ser a causa da acidificação ou alcalização da urina, citando um exemplo para cada uma delas. c) Defina e diferencie síndrome nefrótica de síndrome nefrítica, correlacionando cada uma delas a proteinúria específica em cada condição. Muco Não são considerados clinicamente significativos. Aumentados em quadros irritativos do sistema genitourinário. Cristais Estudos demonstram a relação entre cristalúria e a formação de cálculos renais. Podem surgir em decorrência do uso de alguns fármacos. Tipos Interpretação sugestiva Hialinos Normal quando em pequena quantidade. Aparecem em maior quantidade na glomerulonefrite, na pielonefrite, na doença renal crônica, na insuficiência cardíaca congestiva, nos exercícios físicos intensos. Hemáticos Aparecem em maior quantidade na glomerulonefrite e nos exercícios físicos intensos. Leucocitários Aparecem em maior quantidade na pielonefrite. Epiteliais Aparecem na lesão tubular renal. Granulares Aparecem na estase do fluxo urinário, na infecção do trato urinário, nos exercícios físicos. Céreos Aparecem na estase do fluxo urinário. Adiposos Aparecem na síndrome nefrótica. Largos Aparecem na estase extrema do fluxo urinário. I N T E R P R E TA Ç Ã O D E E X A M E S L A B O R A T O R I A I S 2 8 F E R R Ã O - G O N Z A L E S & M A R T I N S d) Observe a tabela de Cilindros e pesquise as doenças associadas a cada tipo, correlacionando o tipo de cilindro observado com as patologias descritas em cada situação. e) Leia o artigo dado (Costaval e cols., Jornal Brasileiro de Patologia, v. 37, n.4, p.261-265) e discuta as afirmações quanto ao valor da sedimentoscopia. I I I - H e m o g r a m a : (Adaptado de http://www.afh.bio.br/cardio/Cardio5.asp) O sangue humano é constituído por um líquido amarelado, o plasma, e por células e pedaços de células, genericamente denominados elementos figurados. O soro é o plasma isento de uma de suas proteínas, o fibrinogênio. a) Composição do Plasma: ● Proteínas: transporte e controle osmótico (albumina), lipoproteínas, proteínas da cascata de coagulação, imunoglobulinas ● Hormônios ● Vitaminas ● Aminoácidos ● Glicose ● Uréia ● Ácido úrico ● Creatinina b) Elementos Figurados: b-1- Eritrócitos (glóbulos vermelhos ou hemácias): transporte de oxigênio dos pulmões para os tecidos, através da hemoglobina. São produzidas no interior dos ossos, a partir de células da medula óssea vermelha, como apresentado a seguir: Gênese ou produção de hemácias pela medula óssea: I N T E R P R E TA Ç Ã O D E E X A M E S L A B O R A T O R I A I S 2 9 F E R R Ã O - G O N Z A L E S & M A R T I N S 1. hemocitoblasto 2. eritroblasto 3. basófilo 4. eritroblasto policromatófilo 5. normoblasto6. reticulócito 7. eritrócito. Eritropoiese normal (Extraído de http://www.ciencianews.com.br/atlas-hemat/eritrocitos/ eri01.htm) 1- Proeritroblasto 2- Eritroblasto basófilo 3- Eritroblasto policromático 4- Eritroblasto ortocromático Durante os estágios iniciais, as células dividem-se muitas vezes e mudam de cor, devido à progressiva formação de maiores e maiores quantidades de hemoglobina. No estágio de normoblasto, o núcleo se degenera e a célula transforma-se num reticulócito. É nesse estágio que geralmente a célula deixa a medula óssea. O reticulócito contém ainda pequenos filamentos de retículo endoplasmático e continua a produzir pequenas quantidades de hemoglobina. Contudo, o retículo degenera dentro de um ou dois dias e se transforma numa célula madura: o eritrócito, que circula pelo sangue durante aproximadamente 120 dias, antes de ser destruído. I N T E R P R E TA Ç Ã O D E E X A M E S L A B O R A T O R I A I S 3 0 F E R R Ã O - G O N Z A L E S & M A R T I N S Destruição das hemácias pelo baço: Porção globina (grupo protéico – formado por aminoácidos): digerido e reaproveitado. Porção heme (grupo prostético – formado por átomos de ferro): a hemoglobina liberada das células que se fragmentam é fagocitada e digerida quase imediatamente, liberando ferro na corrente sangüínea, para ser conduzido para a medula óssea (para a produção de novas células vermelhas) e para o fígado (produção do pigmento biliar bilirrubina). A redução de glóbulos vermelhos no sangue (eritropenia) ou a queda na concentração de hemoglobina chama-se anemia, caracterizada por cansaço e deficiência respiratória. A anemia pode ter diversas causas: ● Anemias carenciais: surgem por deficiência de determinados nutrientes na dieta, como ferro, vitamina B12 e ácido fólico. A anemia provocada pela falta de ferro é chamada ferropriva; pela falta de vitamina B12 é a anemia perniciosa. ● Anemia ferropriva grave (Hb 5,8 g/dL; aniso-poiquilositose acentuada, intenso grau de hipocromia) (Extraído de http://www.ciencianews.com.br/atlas-hemat/eritrocitos/ eri09.htm) ● Anemia perniciosa-Eritroblastos ortocromáticos na deficiência de B12 e folatos (Extraído de http://www.ciencianews.com.br/atlas-hemat/eritrocitos/eri05.htm) ● Anemias espoliativas: são resultado da perda de sangue causada por algumas doenças, como amebíase, amarelão, úlcera e gastrite. ● Anemias hereditárias: são de base genética. Na talassemia ou “anemia do Mediterrâneo”, há desequilíbrio na produção de cadeias beta da hemoglobina, causando a produção deficiente de moléculas normais. I N T E R P R E TA Ç Ã O D E E X A M E S L A B O R A T O R I A I S 3 1 F E R R Ã O - G O N Z A L E S & M A R T I N S Talassemia beta menor (Extraído de http://www.ciencianews.com.br/atlas-hemat/eritrocitos/eri10.htm) A anemia falciforme resulta da substituição de um único aminoácido na cadeia beta (ácido glutâmico por valina) da hemoglobina. Submetidas a baixas concentrações de oxigênio, as hemácias adquirem o aspecto de uma foice e são destruídas. ● Anemias aplásticas: são originadas de doenças que comprometem a medula óssea vermelha, acarretando diminuição na produção de glóbulos vermelhos e demais células do sangue. Ex: leucemia. O aumento de glóbulos vermelhos no sangue (eritrocitose) geralmente se dá por uma adaptação fisiológica do organismo a locais de altitude elevada, onde o ar é rarefeito. Como a saturação de oxigênio é menor que ao nível do mar e a saturação de hemoglobina permanece normal, determinando diminuição da oferta de oxigênio nos tecidos. Como adaptação fisiológica, ocorre secreção de eritropoetina pelos rins, estimulando a medula óssea a produzir mais hemoglobina e mais glóbulos vermelhos. O aumento da quantidade dessas células eleva a capacidade de captação de oxigênio pelo ar. b-2- Leucócitos (glóbulos brancos): são células especializadas na defesa do organismo, combatendo vírus, bactérias e outros agentes invasores que penetram no corpo. Denomina- se leucocitose o fenômeno em que o número de leucócitos sobe acima de 10.000/mm³ de sangue e leucopenia quando desce abaixo de 2.000/mm³ de sangue. Na leucemia (câncer de leucócitos) encontramos mais de encontramos mais de 100 mil leucócitos/mm³ de sangue. A leucocitose geralmente ocorre devido a uma infecção, enquanto a leucopenia predispõe o organismo a infecções. Os leucócitos também são produzidos na medula óssea e são apresentados a seguir no item Leucograma: b-3- Plaquetas ou trombócitos: são minúsculos discos redondos ou ovais, de cerca de 2 mm de diâmetro que participam do processo de coagulação sangüínea. Representam fragmentos de megacariócitos, que são células brancas extremamente grandes formadas na medula I N T E R P R E TA Ç Ã O D E E X A M E S L A B O R A T O R I A I S 3 2 F E R R Ã O - G O N Z A L E S & M A R T I N S óssea. Os megacariócitos desintegram-se, formando plaquetas, enquanto ainda estão na medula óssea, liberando depois as plaquetas no sangue. A concentração normal de plaquetas no sangue situa-se em torno de 200.000 a 400.000 por mililitro de sangue. Na trombocitopenia ocorre redução do número de plaquetas circulantes, o que predispõe o paciente a um grande número de minúsculos pontos hemorrágicos na pele e nos tecidos profundos, uma vez que o método de tamponamento plaquetário para interromper pequenas hemorragias vasculares se torna deficiente. Pessoas com trombocitopenia têm também tendência a sangrar do mesmo modo que os hemofílicos. A trombocitopenia pode ser determinada geneticamente, porém a maioria dos casos é resultante de intoxicação (toxinas, agrotóxicos) ou medicamentos. Na trombocitose ocorre aumento do número de plaquetas circulantes, podendo levar à formação de trombos (coágulos), predispondo o indivíduo à trombose, que é a solidificação do sangue dentro do coração ou dos vasos. Geralmente é determinada geneticamente. c) Hematopoese: A Hemocitopoese (Hematopoese) é o processo de formação, maturação e liberação na corrente sanguínea das células do sangue. O tecido conjuntivo hemocitopoético, ou tecido Formação de células na medula óssea reticular, é produtor das duas linhagens de glóbulos: leucócitos e hemácias. Esse tecido aparece no baço, no timo e nos nódulos linfáticos, recebendo o nome de tecido linfóide. No interior da medula óssea vermelha, esse tecido é chamado mielóide, ocupando os espaços entre lâminas ósseas que formam o osso esponjoso. As células sanguíneas formam-se I N T E R P R E TA Ç Ã O D E E X A M E S L A B O R A T O R I A I S 3 3 F E R R Ã O - G O N Z A L E S & M A R T I N S originalmente, das chamadas células-tronco pluripotentes da medula óssea vermelha que, em ativa proliferação, podem produzir as duas diferentes linhagens celulares, a linfóide e a mielóide. As células linfóides vão originar a linhagem dos linfócitos, enquanto as mielóides produzirão hemácias, os outros leucócitos e as plaquetas. d) Análise de hemograma: (Adaptado de Dr. Paulo Cesar Naum, em http://www.ciencianews.com.br/cien-news/inter- lab-hemo.htm e Oliveira, 2003) Introdução O hemograma é o nome dado ao conjunto de avaliações das células do sangue que, reunido aos dados clínicos, permite conclusões diagnósticas e prognósticas de grande número de patologias. A introdução do hemograma na prática médica ocorreu em 1925 por meio de critérios estabelecidos pelo médico e farmacêutico alemão V.Schilling. Entre todos os exames laboratoriais atualmente solicitados por médicos de todas as especialidades, o hemograma é o mais requerido. Por essa razão reveste-se de grande importância no conjunto de dados que devem ser considerados para o diagnóstico médico, não se admitindo erros ou conclusões duvidosas. As análises que compõe o hemograma são basicamente três:a) Eritrograma (série vermelha) b) Leucograma (série branca) c) Plaquetas (série plaquetária) e) Eritrograma: Avalia a série vermelha, ou seja, os eritrócitos., de acordo com: ● Número: expresso em milhões de células/mm3 ou μL. Varia com a faixa etária, sexo e altitude local. ● Hematócrito (Ht): volume dos eritrócitos, expresso em % por volume total de sangue. Ex. Ht de 40 % indica 40 mL de eritrócitos em 100 mL de sangue. Varia com a faixa etária, sexo e altitude local. I N T E R P R E TA Ç Ã O D E E X A M E S L A B O R A T O R I A I S 3 4 F E R R Ã O - G O N Z A L E S & M A R T I N S ● Hemoglobina: indica a concentração total da proteína nos sangue, expresso em g/ dL. Varia com a faixa etária, sexo, estado gestacional, menstruação e altitude local. Importante indicador de anemia. ● Volume corpuscular médio (VCM): representa o volume das hemácias, expresso em mm3 ou fL. Valores abaixo da referência indicam microcitose e acima, macrocitose. ● Hemoglobina corpuscular média (HCM): indica a quantidade de hemoglobina no eritrócito, expressa em pg. Valores abaixo da referência indicam hipocromia e acima, hipercromia. ● Concentração hemoglobínica corpuscular média (CHCM): representa a relação entre a saturação de hemoglobina e o volume da célula, expressa em g/dL. ● RDW: indica a amplitude da distribuição dos eritrócitos Seu aumento é a expressão da anisocitose. Ajuda a diferenciar os tipos de anemia e é uma medida eletrônica do volume dos mesmos. Seus valores de referência ficam entre 11 e 14%. Valores normais (18-65 anos): Acima de 65 anos os valores de número de eritrócitos diminuem até 10 %; nas mulheres após menopausa: 5-10 % acima. Reticulócitos: são hemácias jovens, recém lançadas na circulação. Possuem ainda RNA em seu citoplasma, razão pela qual aparecem em tom azulado no esfregaço sanguíneo corado (são denominados policromatócitos). Se for solicitado contagem de reticulócitos o laboratório utiliza uma coloração especial, com um corante vital, e os policromatócitos são vistos como reticulócitos (o RNA citoplasmático cora-se adquirindo um aspecto de retículo). Portanto, a informação de policromatofilia pelo laboratório indica que deve haver reticulocitose. Em condições normais o número de reticulócitos é de 25 000 à 75 000/ mm3 . O laboratório informa o número percentual de reticulócitos em relação às hemácias, devendo-se fazer o cálculo para achar o número absoluto ou então fazer a correção do número percentual de reticulócitos (multiplicar a % informada pelo laboratório pelo hematócrito do paciente e dividir o resultado por 45). Deveria ser feito ainda uma correção pela maior duração do reticulócito na circulação quando a anemia for severa. Nº eritrócitos (milhões/mm3) Hemoglobina (g/ dL) Ht (%) VCM (fL) HCM (µg) CHCM (%) RDW (%) Homem: 5,3 + - 0,8 15,3+ - 2,5 42- 52 89 + - 9 (80-98) fentolitros 27- 31 32- 36 11- 14 Mulher 4,6 + - 0,7 13,6+- 2,5 37- 47 27-31 11- 14 I N T E R P R E TA Ç Ã O D E E X A M E S L A B O R A T O R I A I S 3 5 F E R R Ã O - G O N Z A L E S & M A R T I N S As anemias que decorrem de rápida destruição sanguínea (anemias hemolíticas, perdas agudas de sangue) apresentam, como regra, reticulocitose acentuada (>150 000/mm3) nos dias que se seguem à destruição. Nas anemias carenciais (ferropriva, ácido fólico, B12...), anemias de doenças inflamatórias crônicas, anemias por deficiência de algum fator ou hormônio (insuficiência renal, hipotireoidismo...) e nas anemias por insuficiência medular (hipoplasia ou aplasia medular, infiltrações medulares por neoplasias...) o número de reticulócitos estará normal ou diminuído. O valor normal para o indivíduo adulto saudável para o tempo de vida do reticulócito deve ser de 1 dia. Classificação das causas mais comuns de anemias pelo VCM Ht (%) Tempo de vida dos reticulócitos (dias) Maior que 40 1,0 30- 40 1,5 20- 30 2,0 Menor que 20 2,5 Microcítica (VCM < 80 fentolitros) Ferropriva Ferro sérico baixo, índice de saturação da transferrina < 16 %, ferritina baixa (< 20), reticulócitos diminuídos Talassemia Ferro sérico normal ou aumentado (pelas transfusões), hemácias em alvo; An. de d. crônica Ferro sérico diminuído, Indice de Saturação da transferrina >20 %, Ferritina normal ou aumentada Normocítica (VCM entre 80 e 98 fl) Hemolítica Reticulócitos aumentados. DHL sérica elevada, bilirrubina indireta aumentada. Teste de Coombs quase sempre positivo nas iso/autoimunes; anormalidades das hemácias em algumas (falciforme, esferocitose, células em alvo, hemácias fragmentadas...) Perda aguda de sangue Reticulócitos aumentados. DHL normal, bilirrubina indireta normal. Insuficiência medular Freqüente PANCITOPENIA. Reticulócitos diminuiídos Doenças crônicas (1), Insufic. renal, insufic hepática, endocrinopatias Ferro sérico diminuido, Indice de saturação da transferrina >20 %, ferritina normal ou aumentada. Reticulocitos diminuídos. Macrocítica (VCM > 98 fl) Deficit B12 Sintomas / Sinais neurológicos: parestesias, diminuição da sens. profunda, demência Deficit de folato Alcoolistas, desnutridos, drogas... Hipotireoidismo Pré-leucemias Pode ser normocítica I N T E R P R E TA Ç Ã O D E E X A M E S L A B O R A T O R I A I S 3 6 F E R R Ã O - G O N Z A L E S & M A R T I N S (1) Anemia de doença crônica: infecções prolongadas (endocardite, tuberculose, osteomielite...), doenças inflamatórias (AR, LES...), neoplasias. Nas neoplasias de tubo digestivo a anemia por perda de sangue, ferropriva, é mais comum que a anemia de doença crônica. f) Leucograma: Inicialmente é realizada uma contagem total dos leucócitos; cada pessoa tem o seu valor mais ou menos constante. Os valores considerados normais variam de 5000 a 10000 células brancas/mm3. Na prática considera-se que há leucocitose quando o valor for superior a 10 000 mm3, a menos que já se conheça contagens anteriores daquela pessoa e leucopenia quando os valores forem inferiores a 5000 células/mm3. A avaliação qualitativa é feita posteriormente em valores percentuais (relativos ao total de leucócitos) e absolutos. A avaliação qualitativa do leucograma é de fundamental importância na determinação de processos infecciosos, inflamatórios e cancerosos. Em processo infecciosos agudos há uma resposta aguda do sistema imunológico, que leva ao aumento de leucócitos seguindo uma ordem hieráquica. Se esta resposta não for suficiente, ocorrerá o envio de sangue periférico de elementos mais jovens e esse aparecimento de células imaturas é chamado de desvio à esquerda. No desvio à esquerda ocorre primeiro um aumento de bastonetes, e se isso não for suficiente, de metamielócitos, mielócitos e promielócitos. Desvio à Esquerda Consiste no aparecimento de elementos situados à esquerda dos bastonetes; formas imaturas, bastões e metamielócitos. O desvio será mais intenso quanto maior o número desses elementos imaturos no sangue periférico. Aparece principalmente nos processos infecciosos agudos, geralmente indica início do processo. Nas infecções subagudas, crônicas ou reativadas não há desvio, e observa-se aumento dos neutrófilos multisegmentados apenas. Desvio à esquerda I N T E R P R E TA Ç Ã O D E E X A M E S L A B O R A T O R I A I S 3 7 F E R R Ã O - G O N Z A L E S & M A R T I N S (Extraído de http://www.ciencianews.com.br/atlas-hemat/leucocitos/leu09.htm) Gênese de neutrófilos na medula óssea (Extraído de http://www.ciencianews.com.br/atlas-hemat/leucocitos/leu01.htm) MB- mieloblastos PM- pró-mielócitos M- mielócitos MM- metamielócitos BT-bastonetes SG- segmentados Processo infeccioso bacteriano agudo (Extraído de http://www.ciencianews.com.br/atlas-hemat/leucocitos/leu03.htm)I N T E R P R E TA Ç Ã O D E E X A M E S L A B O R A T O R I A I S 3 8 F E R R Ã O - G O N Z A L E S & M A R T I N S Além de indicar cronicidade, pode definir prognóstico, uma vez que a redução do desvio indica evolução favorável do processo. - Agravamento de leucocitose e de desvio já presentes: agravamento de infecção aguda ou complicação. - Agravamento de leucocitose e aparecimento de desvio: complicação de caráter agudo sobre uma infecção de caráter relativamente benigno - Agravamento de leucocitose sem ocorrência de desvio: processo em progressão, porém sem nova entidade nosológica. - Leucopenia seguida de leucocitose: complicação de uma infecção leucopenizante. - Número normal de neutrófilos com desvio: a medula está sendo ativamente solicitada. A ausência de neutrofilia pode indicar processo extremamente grave, com destruição neutrofílica em massa ou infecção aguda que normalmente cursa com neutropenia (ex: febre tifóide). Regra: Segmentados: 50-66 % (metade a 2/3 do total de leucócitos Linfócitos: 25-33 % (um quarto a um terço do total de leucócitos) Neutrófilos: 1500 - 7000 com até 5 % bastonetes (até 500 bastonetes /mm3 Linfócitos: 1000 - 4500 Monócitos: 100 - 1000 Eosinófilos: < 700 Basófilos: < 200 Fumantes e obesos: aumenta o número de neutrófilos (maior se for obeso e fumante). I N T E R P R E TA Ç Ã O D E E X A M E S L A B O R A T O R I A I S 3 9 F E R R Ã O - G O N Z A L E S & M A R T I N S Quando ocorre redução dos granulócitos (neutrófilos, eosinófilos e basófilos), fala-se em agranulocitose ou granulocitopenia, embora a redução que tem importância clínica é a dos neutrófilos, falando-se então em neutropenia, que é o encontro de menos de 1500 neutrófilos/mm3; quando abaixo de 1000 e especialmente 500, o risco de infecções bacterianas estará aumentado. Basofilia: pode aparecer na leucemia mielóide crônica, varíola, varicela, doença de Hodgkin, injeção de proteína heteróloga, anemias hemolíticas crônicas, após esplenectomia. Basófilo Neutrofilia ou neutrocitose: aumento no número absoluto de neutrófilos, quase sempre acompanhado de desvio a esquerda, que é o aumento do número de formas jovens dos neutrófilos (bastonetes, as vezes metamielócitos e, mais raramente, presença de mielócitos e promielócitos). Quando existem estes precursores não habituais no sangue periférico, diz-se estar ocorrendo uma reação leucemóide. A saida de bastonetes se dá em resposta a interleucina. Os bastonetes já estão prontos na medula óssea (constituem cerca de 50 % dos neutrófilos dentro da medula) mas não saem facilmente. Neutrófilo A presença das denominadas granulações tóxicas (leucócitos em que os grânulos citoplásmicos são mais grosseiros, bem visiveis – são leucócitos mais jovens) indica processo infeccioso bacteriano já com alguns dias de duração. Presença de neutrófilos com núcleos multilobulados ocorre principalmente na anemia perniciosa. I N T E R P R E TA Ç Ã O D E E X A M E S L A B O R A T O R I A I S 4 0 F E R R Ã O - G O N Z A L E S & M A R T I N S Monocitose: elevação dos monócitos acima de 8% (650/mm³). Monócito Causas: - Certas infecções bacterianas: TB, endocardite bacteriana subaguda, brucelose, tifo exantemático, febre tifóide (raramente) - Fase defensiva das infecções agudas: fase de melhora da agranulocitose - Diversas infecções por protozoários: malária, calazar, tripanossomíase - Doença de Hodgkin, doença de Gaucher - Leucemia monocítica - Comprometimento de órgãos ricos em elementos do SRE Monocitopenia: monócitos abaixo de 4% ou 150/mm³. Causas: - Fase aguda de processos infecciosos - Caquexia, desnutrição (ausência de reação do SRE). Linfocitopenia: contagem de linfócitos abaixo de 1500 (1 000 para alguns autores). Só tem valor a absoluta, menos de 1.200/mm³ e 2.000 na criança até 3 anos. Denota, em geral, prognóstico ruim. - Estados de imunodeficiência (aplasia tímica congênita) - Cirrose hepática, caquexia, processos infecciosos graves, TB ganglionar, fase inicial das neoplasias, doença de Hodgkin, linfomas administração de drogas citostáticas, fase aguda da febre tifóide e da gripe (sem significar mau prognóstico nesses 2 últimos casos). I N T E R P R E TA Ç Ã O D E E X A M E S L A B O R A T O R I A I S 4 1 F E R R Ã O - G O N Z A L E S & M A R T I N S Linfocitose: Linfocitose relativa: quando o percentual de linfócitos está aumentado sem aumento do número absoluto. Deve-se `a redução do número de neutrófilos. Ocorre mais comumente em infecções virais. Linfocitose absoluta é quando o número de linfócito é superior a 4 500. Quando os linfócitos em número aumentado apresentam morfologia normal (“típicos”) deve-se pensar, se for criança, em coqueluche, e em adultos, na leucemia linfocítica crônica. Linfócito normal Presença de linfócitos atípicos (Virócitos) Ocorrem geralmente em processos infecciosos por vírus, como na mononucleose infecciosa, hepatites virais agudas, infecção recente por HIV, Citomegalovirose. O vírus Epstein-Barr que causa a mononucleose infecciosa induz a formação de linfócitos atípicos com morfologias variáveis. Nessa foto há apenas um linfócito normal (L) e outros três atípicos. Um desses atípicos tem sido denominado por imunologistas por imunoblasto (IB). Na verdade trata-se de um macrófago circulante ou célula apresentadora de antígeno. Linfócitos atípicos (Extraído de http://www.ciencianews.com.br/atlas-hemat/leucocitos/leu12.htm) Eosinofilia: eosinófilos acima de 4% ou 400/mm³. Eosinófilo I N T E R P R E TA Ç Ã O D E E X A M E S L A B O R A T O R I A I S 4 2 F E R R Ã O - G O N Z A L E S & M A R T I N S Causas: - Infecções parasitárias: principalmente por helmintos que invadem os tecidos, como os da triquinose, equinococose, ancilostomose, esquistossomose, ascaridíase, estrongiloidíase, cisticercose, filariose. - Doenças alérgicas - Dermatoses: pênfigos, dermatite herpetiforme, eritema multiforme. - Hemopatias: leucemia mielóide aguda ou crônica, doença de Hodgkin, anemia perniciosa. - Síndrome da infiltração pulmonar ou eosinofilia (PIE syndrome): Síndrome de Loeffler, eosinofilia tropical, helmintíases, etc... - Tumores: carcinoma brônquico, tumores do ovário, ósseos, sarcomas do sistema linfático e o SRE - Outros: escarlatina, periarterite nodosa, tóxicos, irradiações, granuloma eosinofílico, sarcoidose, pósesplenectomia. - Fase de cura de processos infecciosos agudos - Eosinofilia familiar g) Plaquetas: É de fundamental importância na determinação de condições que afetam o sistema de coagulação sanguínea. Valores de referência: 150 000 à 350 000/ mm3. Só plaquetopenia (ou trombocitopenia) abaixo de 50.000/ mm3 determinam sangramento anormal, com risco grande de hemorragias graves quando a contagem está abaixo de 10 000/mm3. Ocorre normalmente na gravidez (diminuição de 10 a 30%), esplenectomia, leucemias, em pacientes realizando quimioterapia ou radioterapia, AIDS. I N T E R P R E TA Ç Ã O D E E X A M E S L A B O R A T O R I A I S 4 3 F E R R Ã O - G O N Z A L E S & M A R T I N S A trombocitose é um fenômeno reacional;até os dois anos de idade é uma manifestação comum, secundária a qualquer quadro inflamatório. h) Velocidade de hemossedimentação (VHS): Exame inespecífico, mostra-se útil, entretanto, quando bem analisado. O aumento do valor da VSG (VHS) depende dos seguintes fatores: a) redução do número de eritrócitos; b) aumento da concentração de fibrinogênio; c) aumento da concentração de alfa 2 globulina d) aumento da concentração de gama globulina. Os valores normais são: 0 - 15
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