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TEORIAS DO CONTROLE MOTOR Francisco Lúcio A. Silva Coordenador do Curso de Fisioterapia na UNESA Cabo Frio Docente do curso de graduação em Fisioterapia e Educação Física na UNESA francisco.lucio@estacio.br Tarefa Indivíduo Ambiente Tarefa Indivíduo Ambiente CONTROLE MOTOR: ▪ É A CAPACIDADE DE REGULAR OU ORIENTAR OS MECANISMOS ESSENCIAIS PARA O MOVIMENTO; ▪ PROBLEMA NO CONTROLE MOTOR CAUSA DISFUNÇÕES DO MOVIMENTO FUNCIONAL; ▪ ESTUDA A NATURAZA DO MOVIMENTO E DE COMO ELE É CONTROLADO; ▪ NATUREZA: INTERAÇÃO ENTRE INDIVÍDUO, TAREFA E AMBIENTE. Como as pessoas estabilizam seus corpos no espaço? Como caminham? Correm? Como aprendem estas atividades? CONTROLE MOTOR: O termo movimento indica as características do comportamento de um membro específico ou de um conjunto de segmentos corporais. Movimentos com características diversas podem ocorrer para que um mesmo comportamento seja gerado. A ação pode ser considerada um conjunto de movimentos realizados para determinado fim. São respostas dirigidas para um objetivo e que consistem de movimentos do corpo e/ou movimentos dos membros. Embora o termo ação seja utilizado como sinônimo de habilidade, esta usualmente denota uma tarefa com um propósito específico. Assim, uma atividade motora reflexa não é considerada habilidade e a habilidade cognitiva (ex., atenção e memória) pode ser diferenciada da habilidade motora. O aprendizado é um requisito básico para que habilidades motoras sejam realizadas com sucesso. TEORIA REFLEXA DO CONTROLE MOTOR: Para Sherrington, autor de “The integrative action of the nervous system", de 1906, os reflexos são as unidades mínimas do comportamento. Um reflexo espinhal, como um reflexo extensor ou flexor, é uma resposta provocada por um estímulo. Para isto, uma estrutura composta de receptor, condutor e efetor é necessária. O condutor é composto de pelo menos duas células neurais, uma que conduz o estímulo do receptor e outra que o conduz até o efetor. TEORIA REFLEXA DO CONTROLE MOTOR: Segundo Sherrington, as unidades motoras (motoneurônios e fibras musculares por eles inervadas) podem ser ativadas por diferentes reflexos gerando diferentes efeitos. Os comportamentos complexos são derivados de uma combinação sucessiva de reflexos mais simples. Em uma série de experimentos realizados com animais, Sherrington demonstrou que os reflexos conduzem à ativação ou à inibição de diferentes grupos musculares, coordenados por interneurônios espinhais. TEORIA REFLEXA: IMPLICAÇÕES CLÍNICAS Abordagens clínicas baseadas na teoria reflexa utilizam o reflexo como base para as preliminares e a própria terapêutica. Em relação às preliminares, o conhecimento dos circuitos reflexos, ou da resposta esperada a um estímulo, possibilita a localização topográfica de uma determinada lesão; a estrutura que compõe o reflexo pode ser um marcador topográfico para a localização da lesão. TEORIA REFLEXA: IMPLICAÇÕES CLÍNICAS Ao saber que certos circuitos reflexos geram respostas específicas, o terapeuta é motivado a usar a facilitação ou inibição de respostas reflexas, dependendo de seus objetivos terapêuticos. O maior exemplo da utilização dos circuitos reflexos na facilitação de movimentos complexos é a facilitação neuromuscular proprioceptiva (FNP). Dentre algumas limitações desta abordagem, pode-se destacar a maior delas, que se refere aos movimentos voluntários e à aquisição de novas habilidades na ausência de estímulos sensoriais. A teoria de Sherrington também não explica como um estímulo similar pode resultar em respostas distintas, dependendo do contexto e do controle superior. Apesar destas limitações, ainda é influente a noção que comportamentos complexos derivam de uma sequência de componentes, ou unidades, mais simples. TEORIA DO REFLEXO LIMITAÇÕES: OUTROS TIPOS DE MOVIMENTOS (ESPONTÂNEOS E VOLUNTÁRIOS) SÃO RECONHECIDOS COMO COMPORTAMENTO. NÃO EXPLICA, NEM PREVÊ, ADEQUADAMENTE O MOVIMENTO QUE OCORRE NA AUSÊNCIA DE UM ESTÍMULO SENSORIAL. NÃO EXPLICA O CONTROLE DOS MOVIMENTOS RÁPIDOS QUE NÃO PERMITEM O FEEDBACK SENSORIAL DO MOVIMENTO PRECEDENTE PARA DESENCADEAR O PRÓXIMO (DIGITAR). NÃO LEVA EM CONSIDERAÇÃO O CONTEXTO. O MESMO ESTÍMULO APRESENTA DIFERENTES RESPOSTAS (FOGO). NÃO EXPLICA A CAPACIDADE DE DESENVOLVER MOVIMENTOS NOVOS (APLICAR UMA ATIVIDADE A OUTRAS SITUAÇÕES). IMPLICAÇÕES CLÍNICAS: PREVISÃO DA FUNÇÃO (TAIS ESTÍMULOS TAIS RESPOSTAS). EXPLICAR O COMPORTAMENTO DO PACIENTE DE ACORDO COM A PRESENÇA OU AUSÊNCIA DOS REFLEXOS (EX.: PADRÃO E LIBERAÇÃO DO REFLEXO DE ESTIRAMENTO). RETREINAMENTO COM BASE NA ÊNFASE OU NA REDUÇÃO DO EFEITO DE VÁRIOS REFLEXOS DURANTE AS TAREFAS MOTORAS. EX.: MÉTODOS QUE REDUZEM A ESPASTICIDADE DO FLEXOR NO PACIENTE COM SEQUELA DE AVE. EXPLICA MOVIMENTOS ESTERIOTIPADOS. TEORIA REFLEXA DO CONTROLE MOTOR: ▪ BASE NAS PESQUISAS DE SHERRINGTON: A AÇÃO INTEGRATIVA DO SN; ▪ O COMPORTAMENTO COMPLEXO SERIA DESENCADEADO POR AÇÃO CONJUNTA DE REFLEXOS, OU EM SEQUÊNCIA, COM UM OBJETIVO COMUM; ▪ SENDO NECESSÁRIAS TRÊS ESTRUTURAS: UMA RECEPTORA, UM TRAJETO NERVOSO CONDUTOR E UM EFETOR (ARCO REFLEXO); ▪ REFLEXOS COMPOSTOS OU COMBINAÇÕES SUCESSIVAS OU CADEIAS = COMPORTAMENTO COMPLEXO; ▪ ESTÍMULO - RESPOSTA/ESTÍMULO - RESPOSTA/ESTÍMULO. TEORIA REFLEXA DO CONTROLE MOTOR: Importantes modificações na visão segmentar do sistema nervoso foram feitas por Hughlings Jackson. O autor descreveu um fenômeno aparentemente contraditório. Uma lesão, em uma área específica do cérebro, não produzia uma perda total da função associada àquela área. Jackson propôs, baseado em suas análises, uma nova teoria de organização do sistema motor. Esta organização tem como característica ser vertical e estruturada hierarquicamente em três níveis. O primeiro nível, inferior, é representado pelos segmentos espinhais e do tronco encefálico de controle da função motora. Este nível sofre influência direta de uma porção intermediária, correspondentes às divisões motoras e sensoriais do córtex cerebral. Em um terceiro nível, superior, as áreas associativas são consideradas e, principalmente, as divisões frontais do cérebro. De acordo com Jackson, a localização de um sintoma (a partir da deficiência de uma função particular), que acompanha a lesão de uma área circunscrita do sistema nervoso central, não pode ser identificada pela localização de uma função particular. TEORIA HIERÁRQUICA DO CONTROLE MOTOR: TEORIA HIERÁRQUICA DO CONTROLE MOTOR: Organização do sistema motor segundo a Teoria Hierárquica: O nível superior S (áreas associativas) exerce influência sobre os níveis médio M (divisões motoras e sensoriais do córtex cerebral) e inferior I (segmentos espinhais e do tronco encefálico). A teoria de Jackson foi complementada por estudos realizados por Rudolf Magnus. Este autor, ao explorar a função de diferentes reflexos em diferentes partes do sistema nervoso, mostra como reflexos controlados por níveis inferiores do sistema nervoso só se tornam notáveis quando os centros corticais superiores são lesados. Estes estudos indicam que os reflexos são parte integrante do controle motor e os centros superiores normalmente agem como inibidores dos centros geradores de reflexos inferiores. Os elementos de tal concepção hierárquica do controle motor têm sido aceitos até o momento, como partes constitutivas de diversas teorias. TEORIA HIERÁRQUICA DO CONTROLE MOTOR: A concepção hierárquica do controle motor tem servido como subsídio para o desenvolvimento de diversas abordagens fisioterapêuticas, como por exemplo, o conceito Bobath, que evidenciava a liberaçãodos reflexos inferiores como consequência de lesões no sistema nervoso. De acordo com esta abordagem, são necessários os níveis superiores do sistema nervoso central para que haja modulação dos movimentos e da postura corporal. Esta modulação da atividade inferior permite um aumento da complexidade do comportamento, dos reflexos primitivos às atividades mais complexas. O conceito visa, estrategicamente, a modificação da ação reflexa ao enfocar a inibição do tônus anormal, a integração dos reflexos primitivos e a segmentação dos movimentos. Entretanto, a abordagem teórica na qual este método baseia-se não deixa claro como o comportamento reflexo pode ser hierarquicamente superior ao comportamento voluntário em certas situações, por exemplo, na esquiva de um membro em resposta a um estímulo doloroso durante um movimento de preensão. Os níveis superiores, no controle da hierarquia, não deveriam, supostamente, permitir tal expressão reflexa. TEORIA HIERÁRQUICA: IMPLICAÇÕES CLÍNICAS TEORIA HIERÁRQUICA LIMITAÇÕES: NÃO EXPLICA A DOMINÂNCIA DO COMPORTAMENTO REFLEXO EM CERTAS SITUAÇÕES. IMPLICAÇÕES CLÍNICAS: SIGNE BRUNNSTON EXPLICA AÇÃO DOS MOVIMENTOS DESORDENADOS EM CONSEQUÊNCIA DA LESÃO NO CÓRTEX MOTOR. LESÃO CORTICAL = REFLEXOS NORMAIS EXAGERADOS E APARECIMENTO DE REFLEXOS ANORMAIS. BERTA BOBATH: RESTRIÇÃO DA AÇÃO DOS CENTROS SUPERIORES (LIBERAÇÃO DAS RESPOSTAS INTEGRADAS NOS NÍVEIS INFERIORES - ATIVIDADE REFLEXA POSTURAL ANORMAL). ▪ INÍCIO COM JACKSON; ▪ SN ORGANIZADO COMO UMA HIERARQUIA: CONTROLE ORGANIZACIONAL DE CIMA PARA BAIXO - NÍVEIS SUPERIOR, MÉDIO E INFERIOR; ▪ OS CENTROS SUPERIORES INIBEM O CENTRO REFLEXO INFERIOR; ▪ RELAÇÃO ENTRE LESÃO CORTICAL E LIBERAÇÃO DOS REFLEXOS; ▪ DESENVOLVIMENTO MOTOR DE ACORDO COM SURGIMENTO E DESAPARECIMENTO DOS REFLEXOS; ▪ RELAÇÃO ENTRE REAÇÕES REFLEXAS DE EQUILIBRIO E DESENVOLVIMENTO MOTOR (TEORIA REFLEXA/HIERÁRQUICA); ▪ DESENV. MOTOR ATRIBUIDO À CORTICALIZAÇÃO DO SN (TEORIA NEUROMATURACIONAL DO DESENVOLVIMENTO); ▪ CONCEITOS CORRENTES DESTA TEORIA: A) OS CENTROS SUPERIORES NÃO ESTÃO SEMPRE NO COMANDO; B) CADA NÍVEL DO SISTEMA PODE AGIR SOBRE OS OUTROS. TEORIA HIERÁRQUICA DO CONTROLE MOTOR: Mudanças na visão sobre a organização do controle motor tornaram- se notáveis a partir da noção de modelos internos. O comportamento é também preditivo, além de reativo. As implicações são radicais. Os organismos não apenas reagem às perturbações externas, mas são capazes de, espontaneamente, desencadear um movimento. É necessário, que o organismo processe modelos internos do mundo exterior, extraia consequências da ação do mundo sobre o organismo e suponha modificações sobre o mundo a partir de sua ação. Para Lashley, um conjunto de estratégias (predição e planejamento) requer a existência de uma organização central da ação. Sua análise baseia-se na seguinte argumentação: nos movimentos sequenciais rápidos, tais como os envolvidos nas atividades da vida diária (vestir-se, alimentar-se, banhar-se, etc.) o intervalo de tempo entre a transmissão neural da informação sensorial até o sistema nervoso central e o retorno da informação para os músculos efetores, é muito longo para depender de uma resposta em cadeia. Estas respostas devem ser planejadas. Segundo Keele, Cohen & Ivry "as sequências de atividade motora humana devem ser guiadas por planos e não por associações periféricas ou centrais entre um evento e o próximo”. TEORIA DA PROGRAMAÇÃO MOTORA: Técnicas de cronometria mental, introduzidas pela psicologia cognitiva, fornecem as principais evidências destes processos. A ideia básica é que "o tempo tomado para executar uma tarefa reflete a complexidade dos processos envolvidos na preparação da tarefa". Henry & Rogers foram os primeiros a mostrar que, sob condições controladas, o tempo de reação simples (intervalo de tempo entre o estímulo que deflagra a resposta e o início da resposta) se torna maior quando o movimento que se segue à reação é relativamente mais complexo. Este estudo tornou-se a base para a formulação da teoria do programa motor. Keele define programa motor como uma série de comandos abstratos, estruturados antes da sequência ser iniciada, e que permite que ela aconteça sem sofrer modificações decorrentes de eventos que permeiam sua execução. Desta perspectiva, o controle motor resulta da necessidade do produto do movimento corresponder ao movimento planejado. TEORIA DA PROGRAMAÇÃO MOTORA: TEORIA DA PROGRAMAÇÃO MOTORA: Um exemplo frequentemente utilizado para ilustrar o plano geral de ação é o ato motor que produz a escrita. Ao escrever uma palavra com o membro superior direito, com o membro superior esquerdo ou com a boca, um indivíduo mostra diferentes níveis de habilidade. No entanto, as características gerais da escrita são mantidas, independentemente do efetor. A escrita corresponde a uma sequência de contrações e movimentos que ocorrem automaticamente, embora seja possível intervir em qualquer momento. Uma ideia do movimento forma um plano utilizado na ação. Este plano controla o desempenho, de modo que características gerais da escrita são mantidas apesar dos diversos efetores utilizados. TEORIA DA PROGRAMAÇÃO MOTORA: Na prática clínica, teorias baseadas em programas motores permitem compreender como a origem das desordens motoras pode ser explicada como decorrentes de alterações nos programas. Desta perspectiva, a fisioterapia deve concentrar-se na reaprendizagem das "regras corretas para a ação", e não o treinamento de movimentos isolados. Se o plano geral da ação estiver íntegro, então alternativas em relação aos efetores devem ser necessárias. Se o indivíduo, durante o treinamento de habilidades que foram alteradas pelo distúrbio neurológico, faz uso de uma série de compensações para obter sucesso na ação, possivelmente formará programas motores que envolvem tais compensações, passando a utilizá-las automaticamente. Assim, a formação destes programas tornar-se-á crítica para o desempenho do indivíduo. Embora a teoria do programa motor tenha expandido nossa compreensão em relação à flexibilidade do sistema nervoso para criar, executar e modificar movimentos, esta teoria não explica como, na ausência de informação sensorial, variáveis ambientais ou músculo-esqueléticas são capazes de interferir no comportamento. TEORIA DA PROGRAMAÇÃO MOTORA: IMPLICAÇÕES CLÍNICAS TEORIA DA PROGRAMAÇÃO MOTORA LIMITAÇÕES: O PROGRAMA CENTRAL NÃO É O ÚNICO DETERMINANTE DA AÇÃO. EX.: FATORES EXTERNOS TAMBÉM INTERFEREM (AÇÃO DA GRAVIDADE). NÃO LEVA EM CONSIDERAÇÃO VARIÁVEIS MUSCULOESQUELÉTICAS E AMBIENTAIS NA OBTENÇÃO DO CONTROLE MOTOR. IMPLICAÇÕES CLÍNICAS: EXPLICA PROBLEMAS NO MOVIMENTO POR ANORMALIDADES NOS GERADORES DE PADRÃO CENTRAL E NOS PROGRAMAS MOTORES DE NÍVEL SUPERIOR. QUANDO AFETADA A PROGRAMAÇÃO MOTORA: REAPRENDER AS REGRAS CORRETAS PARA A AÇÃO (RETREINAMENTO DOS MOVIMENTOS IMPORTANTES PARA UMA TAREFA FUNCIONAL E NÃO APENAS REEDUCAÇÃO DE MÚSCULOS ESPECÍFICOS ISOLADAMENTE). QUANDO NÃO AFETA A PROGRAMAÇÃO MOTORA: PRECISA ENCONTRAR EFETORES ALTERNATIVOS. A SINERGIA DE NÍVEL INFERIOR E OS SISTEMAS MUSCULARES MENOS UTILIZADOS DEVERÃO SER TREINADOS ▪ SNC NÃO É APENAS REATIVO; ▪ MESMO SEM ESTÍMULO: RESPOSTA MOTORA PADRONIZADA = PADRÃO MOTOR CENTRAL OU DE PROGRAMAÇÃO MOTORA (REDES NEURAIS ESPINHAIS - GERADORES DE PADRÃO CENTRAL - E CEREBRAL - PROGRAMAS MOTORES EM NÍVEL ALTO). ▪ RECONHECE IMPORTÂNCIA DA AÇÃO REGULADORA DOS ESTÍMULOS SENSORIAIS (FEEDBACK). TEORIA DA PROGRAMAÇÃO MOTORA: IMPLICAÇÕES CLÍNICAS Segundo as teorias discutidas até este ponto, a ação pode resultarda atividade reflexa, decorrente da inibição e/ou excitação de áreas do sistema nervoso e da análise e integração destes estímulos. Discussões sobre o conceito de função introduziram visões alternativas sobre o controle motor. Anokhin, define função como "um sistema orientado para o desempenho de uma tarefa biológica particular, e que consiste em um grupo de atos interconectados que produzem um efeito biológico correspondente". Nesta linha, o cientista russo Nicolai Bernstein observa a ação como um sistema complexo, cujo trabalho é controlado por diversos fatores. A ação é mais do que o resultado de um grupo cortical de células nervosas. Bernstein mostra que o movimento é primariamente determinado pela ação, seja de natureza locomotora, de um movimento dirigido a um alvo, ou de um ato simbólico (ex.: um movimento que produz a escrita). Ao reconhecer a necessidade de compreender as características do sistema que se move, e das forças externas que agem sobre o corpo, este autor assume que o controle do movimento depende da integração de vários parâmetros e sistemas, interagindo em cooperação. TEORIA DOS SISTEMAS: Uma das primeiras questões postuladas por Bernstein refere-se aos graus de liberdade a serem controlados para a geração de movimentos coordenados. Segundo o autor, a "coordenação é uma atividade que garante ao movimento homogeneidade, integração e unidade estrutural". Em outra passagem ele afirma que "a coordenação do movimento é um processo de controle dos graus de liberdade do órgão em movimento; em outras palavras, é a sua conversão em um sistema controlável". Como centenas de músculos podem ser sistematicamente controlados, de forma precisa, em vários contextos? A solução de Bernstein para o problema dos graus de liberdade envolve a noção de "estruturas coordenadoras", em que é enfatizada a ideia de que os músculos não são controlados individualmente mas, estão funcionalmente ligados a outros músculos formando sistemas autônomos. TEORIA DOS SISTEMAS: TEORIA DOS SISTEMAS: BERNSTEIN (1900) É NECESSÁRIO COMPREENDER: - CONTROLE NEURAL DO MOVIMENTO; - AS CARACTERÍSTICAS DO SISTEMA QUE ESTÁ SE MOVIMENTANDO E DAS FORÇAS EXTERNAS E INTERNAS QUE AGEM SOBRE O CORPO. FORÇAS EXTERNAS FORÇAS INTERNAS (GRAVIDADE) INERCIA (VETORES DE FORÇA) CORPO (SISTEMA MECÂNICO COM MASSA) TEORIA DOS SISTEMAS: TEORIA DOS SISTEMAS: CONTROLE DO MOVIMENTO: DIFERENTES SISTEMAS INTERLIGADOS (MODELO DISTRIBUIDO DO CONTROLE MOTOR); QUESTIONOU O ORGANISMO NUMA SITUAÇÃO CONTINUAMENTE MUTÁVEL; DESTACOU A NECESSIDADE EM CONTROLAR OS GRAUS DE LIBERDADE DO ORGANISMO MÓVEL; NIVEIS SINERGIAS MOV. SUPERIORES INFERIORES GRUPOS M. CONTROLADO QUE AGEM JUNTOS TEORIA DOS SISTEMAS: LIMITAÇÕES: NÃO APROFUNDA INTERAÇÃO DO ORGANISMO COM O MEIO. IMPLICAÇÕES CLÍNICAS: ENTENDER O CORPO COMO UM SISTEMA MECÂNICO (BIOMECÂNICA). LESÃO SNC + COMPROMETIMENTO DO SISTEMA MUSCULOESQUELÉTICO = PERDA GERAL DO CONTROLE MOTOR. Supostamente, o controle hierárquico simplifica os múltiplos graus de liberdade do corpo - "uma série de níveis hierárquicos, cada um deles, inevitavelmente, com um grau de independência qualitativa". Os níveis superiores ativam níveis inferiores que, por sua vez, ativam sinergismos musculares, ou grupos de músculos impelidos a agir juntos, como uma unidade. Por exemplo, um indivíduo ao realizar uma nova atividade aumenta o grau de tensão muscular e oscila menos que um indivíduo experiente ao realizar a mesma atividade. Isto pode ser considerado uma diminuição dos graus de liberdade envolvidos na ação para torná-la mais estável. O mesmo ocorre com o paciente hemiparético ao deambular com auxílio de uma bengala. O paciente frequentemente transfere o centro de gravidade para o lado não acometido, onde encontra o apoio da bengala, e fixa a escápula ipsilateral contra o gradil costal para “obter maior estabilidade” e diminuir os graus de liberdade envolvidos na tarefa. É importante observar que a redução dos graus de liberdade do sistema não pode se aproximar de zero. Sem qualquer grau de liberdade a ação é insensível às mudanças do contexto, e consequentemente, o comportamento é estereotipado. A organização desejada precisa permitir alguma flexibilidade, que é garantida pelo uso das informações sensoriais disponíveis por parte das estruturas coordenadoras. TEORIA ECOLÓGICA DO CONTROLE MOTOR: A abordagem de Bernstein considera as contribuições coordenadas do sistema nervoso, do músculo e sistemas esqueléticos, a força gravitacional e a inércia no controle do movimento. As implicações são muitas! Pela sua análise, a importância atribuída às características mecânicas do corpo, e a influência destas características sobre o movimento, passam a ser enfatizadas. Por meio deste enfoque, a avaliação e o tratamento fisioterapêutico concentra-se, não apenas nas limitações decorrentes de lesões específicas do sistema nervoso, mas na interação de múltiplos sistemas associados. Se o indivíduo apresenta uma característica postural que interfere diretamente em uma habilidade, esta característica, e não apenas a alteração estrutural e/ou funcional do sistema nervoso, deve ser considerada na abordagem terapêutica. Assim, a necessidade de variabilidade da prática, de uma mesma tarefa torna-se prioritária na recuperação do paciente. O indivíduo habilidoso deve ser capaz de desempenhar uma tarefa em diversos contextos. Quando treinado apenas em um ambiente fechado, estável e previsível, o indivíduo não sabe como lidar com situações nas quais os graus de liberdade aumentam (ex.: o treino de marcha de um paciente neurológico, deve ser iniciado no ambiente ambulatorial e novos graus de liberdade devem ser progressivamente impostos à tarefa, até que o indivíduo seja capaz de deambular em um ambiente movimentado e irregular. TEORIA ECOLÓGICA: IMPLICAÇÕES CLÍNICAS TEORIA ECOLÓGICA: IMPLICAÇÕES CLÍNICAS Gibson (1966) começou a estudar como o sistema motor permite a interação com o meio ambiente, quando preconizou a grande importância da capacidade de utilizar as percepções para a orientação das ações. Lee (1978) e Reed (1982) retomaram as ideias de Gibson fazendo acréscimos dando origem a teoria ecológica. Eles enfatizaram a interação do meio com o sistema motor e vice-versa para o controle motor. TEORIA DINÂMICA DO CONTROLE MOTOR: Uma radicalização da abordagem de Bernstein tem desdobramentos em uma perspectiva conhecida como dinamicista, e em alguns círculos, anti- representacionalista. Esta perspectiva baseia-se no estudo geral da formação de padrões dinâmicos em sistemas complexos, nas noções e nos princípios de emergência, acoplamento, processos de interação não-lineares, auto-organização e caos. Para diversos cientistas, especialmente psicólogos do desenvolvimento e neurocientistas, o resultado da aplicação destes conceitos, seus métodos, protocolos experimentais e modelos formais, é um design radicalmente novo das atividades do sistema motor. O foco preferido de suas críticas é o papel necessário das representações mentais na mediação dos processos motores, a principal premissa das teorias representacionalistas. Segundo este novo design, o movimento é um padrão auto-organizado espaço-temporalmente que emerge da interação de diversos parâmetros acoplados - parâmetros físicos, biológicos e culturais. TEORIA DINÂMICA DO CONTROLE MOTOR: Este padrão, que define um movimento, é um arranjo consistente de eventos que, sem o tutoriamento de um gerenciador central emerge da cooperação de múltiplos parâmetros associados em um fluxo temporal. Andy Clark resume assim a vantagem dos chamados modelos dinamicistas:“O melhor aspecto das análises dinâmicas é seu foco temporal intrínseco e sua fácil capacidade para transpassar os limites do cérebro-corpo-ambiente. Tratar o cérebro como sistema dinâmico, é tratá-lo nos mesmos termos que nós tratamos os mecanismos do corpo e os processos do ambiente. Como resultado é especialmente fácil e natural caracterizar o comportamento adaptativo em termos de acoplamento entre cérebro, corpo e ambiente”. Pode-se perguntar como a abordagem dinamicista difere da abordagem de Bernstein. Como afirmamos, ela pode ser considerada uma radicalização das abordagens de Bernstein. Mas trata-se de um consenso que dispomos, hoje, de uma nova bateria de protocolos, de novos modelos teórico-matemáticos e de sistemas de simulação computacional para investigar os mecanismos subjacentes à emergência de padrões em sistemas complexos. TEORIA DINÂMICA DO CONTROLE MOTOR: TEORIA DINÂMICA: IMPLICAÇÃO CLÍNICA Os aspectos teóricos do modelo dinamicista são pouco difundidos no ambiente da fisioterapia. Entretanto, diversas estratégias utilizadas na prática fisioterapêutica parecem subsidiadas nestes aspectos. É conhecido o benefício da utilização de pistas sensoriais no processo de reabilitação de pacientes com doença de Parkinson. A comparação de dois grupos de pacientes, com características similares, submetidos a dois protocolos de terapia: o primeiro com a inclusão de pistas visuais e auditivas, o segundo privado de pistas sensoriais. Mostra que ambos os grupos apresentam melhora do desempenho, embora apenas o grupo que utiliza pistas sensoriais mantenha os "ganhos" após algumas semanas. Outro exemplo pode ser dado pelo treinamento de equilíbrio em pacientes com afecções neurológicas diversas. Nestes casos, perturbações externas e exposição a terrenos irregulares e instáveis são diretamente impostas aos pacientes para que estes ajustem sua própria postura. Estes estímulos são mantidos até que a resposta ideal seja encontrada e o equilíbrio seja restabelecido. TEORIA DINÂMICA DO CONTROLE MOTOR: Kelso e Tuller, 1984 Esta teoria se propôs a observar uma pessoa em movimento numa nova perspectiva. É fundamentada no princípio da auto-organização. A teoria dinâmica sugere que o novo movimento surge por causa de uma alteração crítica em um dos sistemas. A teoria dinâmica foi recentemente reformulada a fim de incorporar muitos dos conceitos de Bernstien. Tal modelo sugere que o movimento resulta da interação entre componentes físicos e neurais. Obrigado!