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DISCIPLINA: LINGUAGEM E PRODUÇÃO DE TEXTO AULA 3 Prof.ª Priscila do Carmo Moreira Engelmann 2 CONVERSA INICIAL Diante da reflexão feita na aula anterior, acerca da importância da leitura, nosso diálogo está direcionado, nesta aula, para a relação existente entre diferentes textos, processo denominado “intertextualidade”, e que ocorre de diferentes maneiras nas práticas da leitura e escrita. Por vezes, a intertextualidade é propositada pelo autor do texto no momento de sua criação, e também em alguns momentos o processo ocorre a partir das inferências feitas pelo leitor, a partir de sua experiência leitora. Explore, na sequência, os conceitos relacionados à prática da intertextualidade, e veja como o processo pode ser uma ferramenta facilitadora em diferentes práticas de leitura. TEMA 1: CONCEITO DE INTERTEXTUALIDADE A intertextualidade é um conceito muito aplicado, na atualidade, para fazer referência aos textos que estabelecem uma espécie de diálogo entre si, de forma intencional ou não. (Freitas, 2011, p. 1). Como o texto é uma forma de interação comunicativa, o cidadão letrado, muitas vezes, se torna coautor do texto lido. Isso ocorre quando é o próprio leitor quem percebe a relação entre o texto com experiências de leitura praticadas anteriormente, mesmo que essa relação não tenha sido provocada pelo interlocutor. Portanto, é tão importante o processo de formação do leitor crítico a partir de diferentes experiências de leitura, sejam elas teóricas ou não. A intertextualidade pode ocorrer no momento em que relacionamos conhecimentos de diferentes áreas, porque, a partir de um mesmo texto, pode haver diferentes interpretações, que serão válidas, desde que fundamentadas em conhecimentos plausíveis, não apenas em opiniões vagas, que comumente chamamos de “achismos”. 3 TEMA 2: INTERTEXTUALIDADE EM LETRAS DE MÚSICA Este tema da nossa aula pode ser explorado como um exemplo de intertextualidade em textos não científicos. O exemplo se torna válido para que possamos entender que formação de leitor crítico não se resume a leituras teóricas e científicas, mas de um conjunto de experiências leitoras. A produção literária, assim como a musical em nosso país, de tempos em tempos, segue novas tendências. É comum vermos artistas que remetem a letras de musicas de outros autores em suas criações, seja para elogiar, satirizar, criticar ou apenas dar densidade ao conteúdo da letra de música. Na área acadêmica, a intertextualidade ocorre como uma forma de promover o avanço na ciência, pois pesquisas dão continuidade ao avanço científico. Dessa forma, ao citar outros autores em uma produção científica, possibilita-se que o acesso a novos conteúdos seja feito a partir do ponto já alcançado por outros pesquisadores, não sendo necessária uma retomada desde o ponto inicial pesquisado. Também se citam outros autores, promovendo a intertextualidade, como uma forma de dar credibilidade ao próprio texto, prática comum e necessária em produções acadêmicas, como artigos, resenhas, monografias, etc. A respeito dos objetivos da intertextualidade durante a prática da escrita, afirma Damasceno: O intertexto serve para ilustrar a importância do conhecimento de mundo e como este interfere no nível de compreensão do texto. Ao relacionar um texto com outro, o leitor entenderá que a intertextualidade é uma das estratégias utilizadas para a construção dos mesmos e que partindo desta se viabiliza uma leitura e desta uma produção, significando que um texto nasce de outro texto por meio da intertextualidade. (Damasceno, 2011, s./p.) TEMA 3: INTERTEXTUALIDADE EXPLÍCITA E IMPLÍCITA Tanto na forma explícita quanto na implícita, a intertextualidade auxilia nas práticas de produção e interpretação textual. A esse respeito, afirma-se que: 4 A intertextualidade é dizer com outras palavras o que já foi dito, ou usar tais palavras para refutar o que foi dito, ou ainda, a intertextualidade é uma espécie de conversa entre textos; esta interação pode aparecer explicitamente diante do leitor ou estar em uma camada subentendida, nas entrelinhas do texto. De forma a contribuir tanto para a interpretação como base para a produção textual. (Damasceno, 2011, s./p.) Entende-se, portanto, que a intertextualidade é uma das ferramentas que auxiliam na formação para o letramento crítico. Promover a leitura significativa e diversificada como caminho para o letramento é tarefa da escola, mas, infelizmente, sabe-se que, no Brasil, é comum alunos que concluírem a Educação Násica apenas com o domínio da leitura decodificada. Por conseguinte, ao ingressar no ensino superior, o aluno precisa avaliar sua bagagem de leitura e direcionar suas escolhas de acordo com a própria necessidade. No processo de letramento, tendo em vista uma aprendizagem significativa, a intertextualidade é ferramenta importante, porque revela as vozes e falas que habitam todo texto. A atividade pedagógica, norteada por essa finalidade dialógica, valoriza o conhecimento prévio do aluno que está sendo alfabetizado/letrado, facultando a abertura não só para a apropriação de novos conhecimentos, mas também para a ativação de outros que, muitas vezes, o aluno ignora já possuir. (Cury, s./a., s./p.) Afirma ainda a autora que “a literatura vale-se amplamente do recurso intertextual, consciente ou inconscientemente” (Cury, s./a., s./p.), ou seja, a prática da intertextualidade, muitas vezes, é implícita até mesmo para o autor do texto. Ao colocar a habilidade de escrita em prática, ele mobiliza suas experiências leitoras anteriores e pode, mesmo sem perceber, remeter a outras fontes de conhecimento. Por fim, vale destacar a definição de Bräkling, a respeito das informações explícitas e implícitas na construção textual: Em um texto articulam-se informações de duas naturezas: explícitas e implícitas, sendo ambas fundamentais no processamento dos sentidos. Estes são determinados não apenas pelas informações explicitadas na sua linearidade, mas por aquelas que constituem o conhecimento de mundo dos interlocutores e que não foram citadas no texto. (Bräkling, s./a., s./p.) 5 TEMA 4: PARÁFRASE E PARÓDIA A paráfrase é uma das formas de citação utilizadas em textos científicos. O ato de parafrasear consiste na reescrita de texto de terceiro por meio de palavras próprias. Ou seja, trata-se da releitura da informação de terceiro; portanto, por ser reprodução de ideia que não é de autoria própria, ao realizar a paráfrase, é necessário indicar o autor da ideia apresentada. A paródia também é uma forma de promover a releitura de um texto, porém esse recurso é normalmente utilizado de maneira menos informal, se comparado à paráfrase. As paródias são comuns em gêneros textuais da esfera artística, principalmente em letras de músicas. Trata-se da reescrita de um texto, na tentativa de provocação de sentidos diferente do texto original. TEMA 5: CITAÇÃO Semelhante à paráfrase, a citação é uma das ferramentas utilizadas para embasamento teórico de textos científicos, assim como na produção de argumentos de sustentação a textos dissertativos. Trata-se da inclusão da voz de outros autores para dar credibilidade à tese ora defendida. Abordamos, na aula, as diferentes formas de inclusão de citações em textos acadêmicos, visando à correta utilização desta importante ferramenta na prevenção da prática de plágio, que consiste no uso indevido e/ou não autorizadode propriedade intelectual de terceiros. A citação é uma importante ferramenta necessária para o embasamento teórico dos textos na esfera acadêmica. Frente a essa ideia, há que se tomar o devido cuidado para sua utilização correta. Portanto, a explanação de dedicar a atenção necessária à formatação das citações, que podem ser curtas ou longas. Outro ponto a destacar também é a forma de pesquisa para inclusão de citações em textos acadêmicos. Deve-se realizar várias leituras, de autores renomados na área, para, então, decidir aqueles que servirão para o embasamento do seu texto. Vale também o cuidado para que as citações sejam parte do texto, e não o seu todo, e que estejam sempre contextualizadas em relação ao conteúdo desenvolvido pelo autor da produção. Por fim, ao valer-se de citações, é de suma necessidade a indicação de referência completa da fonte da citação, mesmo 6 quando a fonte for de publicações da internet. As regras para indicação de diferentes fontes de consulta, como revistas, jornais, meios eletrônicos, etc., podem ser consultadas nas normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), ou ainda conforme a organização de cada instituição. SÍNTESE O tema desta aula aprofundou as reflexões iniciadas nas aulas anteriores, no intuito de direcioná-lo para o caminho do letramento como recurso valioso no caminho a ser percorrido em sua formação acadêmica. A intertextualidade é uma prática que se torna natural no cotidiano de cidadãos críticos, leitores afoitos a novos aprendizados e a novas interpretações em todas as experiências vivenciadas por meio da interação com a sociedade. REFERÊNCIAS BRÄKLING, K. L. Informação implícita no texto. Glossário CEALE. Disponível em: <http://ceale.fae.ufmg.br/app/webroot/glossarioceale/verbetes/informacao- implicita-no-texto>. Acesso em: 30 out. 2016. CURY, M. Z. F. Intertextualidade. Glossário CEALE. Disponível em: <http://ceale.fae.ufmg.br/app/webroot/glossarioceale/autor/maria-zilda-ferreira- cury>. Acesso em: 30 out. 2016. DAMASCENO A. C. S Intertextualidade, leitura e produção textual. WebArtigos. Disponível em: <http://www.webartigos.com/artigos/intertextualidade-leitura-e-producao- textual/71997/>. Acesso em: 30 out. 2016. FREITAS, A. C. R. O desenvolvimento do conceito de intertextualidade. Icarahy, Revista dos Alunos dos Programas de Pós-Graduação do Instituto de Letras UFF, Niterói, n. 06, 2011, p. 27-42. Disponível em: <http://www.revistaicarahy.uff.br/revista/html/numeros/6/dlingua/ANTONIO_CA RLOS.pdf>. Acesso em: 30 out. 2016.