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Instrumentação Cirúrgica Catriona M. MacPhail TIPOS DE INSTRUMENTOS Cada tipo de instrumento cirúrgico é feito para um uso em particular e deve ser empregado apenas para esse propósito. A utilização de instrumentos em procedimentos para os quais eles não foram feitos (p. ex., utilizar tesoura de Metzenbaum para cortar fios de sutura, ou pinça tecidual para segurar um osso) pode quebrá-los ou cegá-los. Bisturis Os bisturis são os principais instrumentos de corte usados para cortar o tecido (Fig. 7-1). Os cabos de bisturi reutilizáveis (nº 3 e 4) com lâminas destacáveis são os mais utilizados em medicina veterinária; no entanto, existem cabos de bisturi e lâminas descartáveis. Bisturis descartáveis com trava de retração são feitos para minimizar o risco de ferimentos cirúrgicos causados pela lâmina enquanto esta é trocada entre as etapas do procedimento e durante o descarte (BD Bard-Parker, Franklin Lakes, N.J). As lâminas são disponibilizadas em vários tamanhos e formatos, dependendo do que requer a tarefa. A lâmina de nº 10 é mais comumente usada em cirurgias de pequenos animais para incisão e excisão dos tecidos. Uma lâmina nº 15 é uma versão menor de uma nº 10 e é usada para incisões precisas em tecidos menores. Uma lâmina nº 11 é ideal para incisões em estruturas repletas de fluido ou órgãos. O ângulo da curva da lâmina nº 12 limita a sua aplicabilidade, porém é mais frequentemente usada em gatos para Onicectomia de dissecação eletiva (arranhando). FIG. 7-1 Cabos de bisturis (esquerda, nº 3; direita, nº 4) e lâminas (de cima para baixo): nº 10, 11, 12, 15, e 20. Os bisturis normalmente são empregados em “cortes deslizantes”, no qual a direção da pressão aplicada à lâmina do bisturi fica em ângulo reto com a direção da pressão do bisturi. Quando se faz uma incisão na pele, a lâmina do bisturi deve ser mantida perpendicular à superfície da pele. Os bisturis podem ser segurados como um lápis, com as pontas dos dedos, ou com a palma das mãos. Este modo de segurar o bisturi permite incisões menores, melhores e mais precisas que com outras formas de segurá-lo, pois o bisturi fica, no máximo, em um ângulo de 30 a 40 graus com relação ao tecido (Fig. 7- 2). No entanto, esse ângulo reduz a área de contato da borda de corte do bisturi, tornando essa forma de manter o bisturi menos útil para incisões longas. Segurar o bisturi com a ponta dos dedos oferece melhor precisão e estabilidade para incisões mais longas. Segurar com a palma das mãos é o método mais forte e permite grande esforço de pressão sobre o tecido, mas isso é muitas vezes desnecessário em situações cirúrgicas. FIG. 7-2 Os bisturis geralmente são segurados como lápis, pois permitem incisões curtas, melhores, precisas. Tesouras As tesouras são de diferentes formatos, tamanhos e pesos e geralmente são classificadas de acordo com o tipo da ponta (p. ex., romba-romba, afiada- afiada ou afiada-romba), com a forma da lâmina (p. ex., reta ou curva), ou de acordo com a borda de corte (p. ex., simples ou serrilhada) (Fig. 7-3). As tesouras curvas oferecem maior facilidade no manuseio e maior visibilidade, enquanto as tesouras retas dão maior vantagem mecânica quando cortam tecidos resistentes ou espessos. Metzenbaum (também chamado de Metz, Nelson, sensível ou de tecido) ou tesoura de Mayo são mais comumente usadas em cirurgias de pequenos animais. Tesouras Metzenbaum são mais delicadas que tesoura de Mayo e são projetadas para dissecção aguda e sem corte ou incisão de tecidos mais finos; as tesouras de Mayo são usadas para o corte de tecido mais resistente, denso, como fascia. Tesouras menos delicadas são usadas para cortar fio de sutura, mas estes são instrumentos separados dos que são usados para cortar os tecidos. Tesouras para sutura usadas na sala de operação são diferentes das tesouras utilizadas para a remoção de sutura. Este último tem uma concavidade em uma lâmina de gancho, que distancia suavemente o fio de sutura para longe da pele e facilita a remoção. Tesouras delicadas (p. ex., tesoura de tenotomia, tesouras para a íris) são frequentemente utilizadas em procedimentos oftalmológicos e outras cirurgias meticulosas, tais como uretrostomia perineal, que exige cortes precisos e finos. As tesouras de ataduras têm uma ponta romba que reduz o risco de cortar a pele quando as tesouras são introduzidas embaixo da atadura. Tesouras devem ser utilizadas apenas para o seu propósito específico e é necessário que sejam mantidas regularmente afiadas. FIG. 7-3 Tesouras. Da esquerda para a direita: stitch (para remoção de fios de suturas), afiada-romba, Metzenbaum, Mayo, fio, tenotomia. As tesouras podem ser usadas para cortes precisos ou para dissecção grosseira. Elas são seguradas com as pontas dos dedos polegar e anelar pelos aros digitais da tesoura e com o dedo indicador repousando sobre o corpo da tesoura, perto do fulcro. O dedo anelar ou o polegar não deve “cair” pelo cabo da tesoura; os aros digitais devem ser mantidos perto da junção distal do dedo. Isso é referido como um aperto tripé com base em largura. A maioria das tesouras é feita para ser usada com a mão direita, de modo que a pressão natural do polegar e dos dedos possibilite a obtenção de um corte melhor e forneça maior torque às lâminas. Quando usada na mão esquerda, a perda de cisalhamento e forças de torque resulta em menor precisão e maior trauma do tecido. Portanto, os cirurgiões canhotos devem aprender a cortar com uma tesoura com a mão direita ou deve investir em tesouras projetadas especificamente para canhotos. Orientação, controle e precisão no corte dependem da estabilidade do tecido entre as lâminas da tesoura e a estabilidade da tesoura nas mãos do cirurgião. Quanto maior o ângulo entre as lâminas na hora do corte, menos a tesoura estabiliza o tecido e menos preciso é o corte. Utilizando a extremidade da lâmina, o tecido é estabilizado com mais segurança e permite um corte mais preciso. A tesoura não deve ser completamente fechada se a incisão for continuada, pois resultará em uma incisão desigual; a tesoura deve ser quase fechada, avançada, e quase fechada de novo. Dissecção (i.e., a separação do tecido, inserindo os pontos e a abertura da pega) pode ser usada para separar os tecidos frouxamente ligados, tais como o músculo ou gordura, ou para enfraquecer as bordas da pele para o fechamento da ferida. A dissecção grosseira não deve ser usada em tecidos mais resistentes ou quando cortes precisos são possíveis. Porta-agulhas Os porta-agulhas são usados para agarrar e manipular agulhas curvas (Fig. 7- 4). O tamanho e o tipo de porta-agulhas são determinados pelas características da agulha a ser segurada e da localização do tecido a ser suturado. As agulhas maiores requerem garras maiores e mais fortes. Se os porta-agulhas forem usados para segurar fios de sutura, suas garras devem ser suavemente serrilhadas ou lisas para não danificar o fio de sutura por desgaste ou corte. Os porta-agulhas longos facilitam o trabalho em ferimentos profundos. Os porta-agulhas de alta qualidade são fabricados de uma liga de metais não corrosivos e de alta resistência e têm um acabamento fosco. As pontas são endurecidas por uma cobertura superficial de diamante ou pela fusão de carboneto de tungstênio. As inserções de carboneto de tungstênio devem ser substituídas quando se danificarem ou não segurarem adequadamente os fios de sutura. FIG. 7-4 Porta-agulhas. Da esquerda para direita: Mayo-Hegar Olsen-Hegar, Mathieu, Castroviejo. A maior parte dos porta-agulhas tem uma trava com catraca distalmente ao polegar (p. ex., os tipos de Mayo-Hegar e Olsen-Hegar), mas alguns (p. ex., tipo Castroviejo) têm um mecanismo de mola e ferrolho na trava. Os porta- agulhas de Mayo-Hegar são usados comumente em medicina veterinária para a manipulação de agulhas médias a grossas. Os porta-agulhas de Olsen- Hegar são usados de modo semelhante, mastêm lâminas de tesoura que permitem que o fio de sutura seja amarrado e cortado com o mesmo instrumento. A desvantagem dos porta-agulhas de Olsen-Hegar é que para amarrar as suturas sem cortá-las acidentalmente é necessária certa experiência no seu manuseio. Os porta-agulhas de Mathieu têm uma trava com catraca no final proximal dos cabos, que permite o travamento e o destravamento apenas apertando progressivamente os cabos. As agulhas em geral devem ser posicionadas perpendicularmente ao porta- agulhas, porque isso permite maior facilidade de manuseio. Quando as agulhas são colocadas em ângulo nos cabos, isto exige um largo movimento em arco durante a sutura. A agulha é, geralmente, fixada perto do seu centro para permitir que ela seja inserida no tecido com uma força maior e um risco menor de quebra. Quando a agulha é fixada perto do orifício ou perto de sua estampa de forja, proporciona sutura com o máximo do comprimento da agulha, e menos risco de a agulha deslizar; no entanto, a agulha está mais sujeita a se entortar ou quebrar, a menos que esteja sendo suturado um tecido delicado. Inversamente, segurar a agulha perto da ponta pontiaguda permite uma força motriz maior no momento de suturar tecidos resistentes, mas a extração da agulha é difícil. Os porta-agulhas podem ser segurados na palma da mão (nenhum dedo é colocado nos aros, e o aro de cima repousa contra a base do polegar [Fig. 7- 5]), na posição tenar (o aro superior repousa contra a base do polegar, e o dedo anelar é introduzido no aro inferior [Fig. 7-6]), na posição polegar- anelar (o polegar é colocado no aro superior e o dedo anelar no aro inferior [Fig. 7-7]), ou como um lápis (o dedo indicador e o polegar ficam no cabo do porta-agulhas [Fig. 7-8]), como ocorre com os porta-agulhas de Castroviejo. A contenção com a palma das mãos é mais vantajosa para suturar tecidos resistentes que requerem uma forte força motriz da agulha; no entanto, a agulha não pode ser facilmente liberada e segurada novamente após um ponto, sem que haja o reajuste do porta-agulhas, tornando a sutura menos precisa. FIG. 7-5 Segurar com a palma da mão proporciona maior força no movimento, porém menor precisão. FIG. 7-6 O modo tênar de segurar o porta-agulhas oferece boa mobilidade, mas soltar a pinça através da aplicação de pressão com a ponta do polegar ao aro superior faz com que os cabos se separem com um “estalo”. Isso causa um movimento da agulha no tecido que está sendo suturado. FIG. 7-7 O modo de segurar o porta-agulhas com o dedo polegar e o anelar possibilita melhor precisão, firmeza e é preferível quando se sutura tecido delicado. FIG. 7-8 O modo de segurar como um lápis é usado com porta-agulhas de Castroviejo. NOTA • Cirurgiões canhotos não podem manusear com a palma das mãos um instrumento para destros porque a trava fecha em vez de se abrir com a pressão. A posição tenar-anelar permite que se solte e segure novamente a agulha para extraí-la, sem haver necessidade de reposicionar o porta-agulhas. Embora permita mobilidade, soltar a agulha pela pressão exercida no aro com a base do polegar faz com que os cabos do porta-agulhas se separem com um “estalo”. Durante esse procedimento, ocorre um certo movimento da agulha. A maior vantagem da posição polegar-anelar é que ela confere maior precisão na hora de soltar a agulha. É utilizada quando o tecido é delicado ou quando se necessita de uma sutura precisa, embora seja mais demorada do que a posição palmar e a posição tênar. Pinças Teciduais As pinças teciduais (de polegar) são instrumentos sem trava e utilizados para pinçar o tecido (Fig. 7-9). As extremidades proximais são unidas para permitir que as extremidades de agarramento se mantenham abertas ou sejam apertadas para fechar. Elas são disponíveis em vários formatos e tamanhos; as pontas (extremidades de agarramento) podem ser pontiagudas, planas, arredondadas, lisas ou serrilhadas com dentes pequenos ou grandes. As pinças teciduais com dentes grandes não devem ser usadas para manusear tecidos que são facilmente traumatizados. Uma pinça com pontas lisas, como fórceps DeBakey, é recomendada para a manipulação de tecido delicado, tal como vísceras ou vasos sanguíneos. As pinças teciduais mais usadas (ou seja, pinças teciduais de Brown-Adson) têm pequenos serrilhados nas pontas que provocam um traumatismo mínimo, mas facilitam a apreensão do tecido de modo seguro. FIG. 7-9 Pinças teciduais. Da esquerda para direita: Bishop-Harmon (ponta lisa), Bishop-Harmon (denteada), Brown-Adson, tecido 132, serrilhada, DeBakey. As pinças teciduais são usadas na mão não dominante. Elas devem ser seguradas de modo que uma lâmina funcione como uma extensão do polegar e a outra funcione como uma extensão dos dedos opostos (p. ex., posição de lápis [Fig. 7-10]). Segurar o corpo da pinça na palma da mão limita enormemente o manuseio. Quando as pinças teciduais não estão em uso, elas podem ser apoiadas na palma da mão e seguradas com o dedo anelar e mínimo, deixando os dedos indicador e médio livres. FIG. 7-10 Segurar a pinça tecidual como lápis proporciona maior facilidade no manuseio em comparação com outras formas. As pinças teciduais são usadas para estabilizar o tecido e/ou expor as camadas de tecido durante a sutura. Durante a sutura, as pinças teciduais são usadas no lado mais distante da ferida para agarrar a camada acima da que está sendo suturada. Essa camada é retraída para cima e para fora com a pinça, expondo a camada a ser suturada. A ponta da agulha pode, então, ser colocada no nível desejado. Antes de a agulha ser inserida completamente no tecido, a pinça deve ser movida da camada superficial para agarrar a camada que está sendo suturada. Essa camada pode, então, ser elevada para expor a saída da agulha depois que ela passa pelo tecido. A camada de tecido sobre as proximidades do local que está sendo suturado é agarrada e elevada para expor o local desejado para a entrada da agulha. Depois de posicionar a ponta da agulha no local desejado, a pinça tecidual é movida e usada para retrair a camada mais superficial, expondo, desse modo, o local de saída. Quando a agulha é agarrada com fórceps durante a sutura, ela deve ser presa perpendicularmente ao eixo da pinça. Pinças Hemostáticas As pinças hemostáticas são instrumentos esmagadores para pinçar vasos sanguíneos (Fig. 7-11). Elas estão disponíveis com as pontas retas ou curvas e variam em tamanho desde as menores pinças hemostáticas mosquito (7,62 cm) com serrilhados transversais até pinças vasculares maiores (22,86 cm). As serrilhas das lâminas das pinças hemostáticas maiores podem ser transversais, longitudinais, diagonais ou uma combinação destes. Os serrilhados longitudinais são geralmente menos agressivos ao tecido do que serrilhados cruzados. Os serrilhados normalmente se estendem das pontas da pinça até as travas, mas nas pinças de Kelly, serrilhados transversais (i.e., horizontais) se estendem somente sobre a porção distal das lâminas. As pinças de Crile de tamanho similar têm serrilhado transversal que se estende ao longo de toda a lâmina. As pinças de Kelly e Crile são usadas em vasos maiores. As pinças de Rochester-Carmalt são pinças compressoras maiores frequentemente usadas para controlar grandes feixes de tecido, como em uma ovário-histerectomia. Elas têm ranhuras longitudinais com ranhuras cruzadas nas pontas para evitar que o tecido escape. As pinças cardiovasculares especializadas (p. ex., pinça de Satinsky) possibilitam a oclusão de apenas uma parte do vaso. Os serrilhados das pinças cardiovasculares proporcionam a compressão do tecido sem cortar as delicadas paredes dos vasos. Os grandes dentes na ponta de algumas pinças (p. ex., Oschner) ajudam a evitar o deslizamento do tecido nas próprias pinças. FIG. 7-11 A, Pinças hemostáticas (da esquerda para direita): Mosquito, Kelly, Crile, Rochester-Carmalt.B, Detalhe das lâminas das pinças hemostáticas (da esquerda para direita): Mosquito, Kelly, Rochester-Carmalt. As pinças hemostáticas curvas devem ser colocadas no tecido com a face curva voltada para cima. Para minimizar o trauma, deve-se pegar a menor quantidade de tecido possível e usar a menor pinça hemostática possível para executar a tarefa. De modo a evitar que os dedos fiquem presos momentaneamente nos aros das pinças hemostáticas, devem ser inseridas apenas suas pontas ou até a primeira articulação. Pinças Teciduais Pinças teciduais são usadas para apreensão do tecido, variando o grau de trauma de tecido que é criado. Uma pinça Allis tem dentes afiados; esse instrumento é usado para pinçar firmemente o tecido que será removido do corpo. Uma pinça Babcock tem a extremidade prensora um pouco mais larga e também fenestradas e rombas para apreensão que são mais delicadas do que uma pinça Allis, e pode ser usada com cuidado em tecido remanescente no corpo. Pinças intestinais Doyen são não esmagadoras, contêm estrias longitudinais superficiais que são usadas para ocluir temporariamente no lúmen do intestino. Afastadores Os afastadores manuais (Fig. 7-12) e os afastadores autoestáticos (Fig. 7-13) são usados para afastar o tecido e melhorar a visualização. As pontas dos afastadores manuais podem ser em formato de gancho, curvas, em formato de espátula (ou seja, Hohmann) ou dentadas. Alguns afastadores manuais (p. ex., afastadores maleáveis ou fita) podem ser arqueados pelo cirurgião para se conformar à estrutura ou área do corpo a ser afastada. Afastadores de Senn (com pente) são pequenos afastadores, de dupla terminação com três projeções pequenas digitiformes em uma extremidade e uma lâmina curva plana sobre a outra. Afastadores Army-Navy são maiores, com grandes lâminas sem corte, em cada extremidade para retração de grandes quantidades de tecido. Os afastadores autoestáticos (p. ex., Gelpi e Weitlaner) mantêm a tensão sobre o tecido e são mantidos abertos por uma trava ou por outro dispositivo (p. ex., um parafuso de retenção, como nos afastadores de Balfour e Finochietto [Fig. 7-14]). Os afastadores de Balfour geralmente são usados para afastar a parede abdominal, e os afastadores de Finochietto são comumente usados durante toracotomias. FIG. 7-12 Afastadores de mão. De cima para baixo: Senn, Army-Navy, maleável, Hohmann. FIG. 7-13 Retratores autoestáticos: esquerda, Gelpi; direita, Weitlaner. FIG. 7-14 Afastadores autoestáticos: Esquerda, Finochietto; Direita, Balfour. Instrumentos Variados Encontram-se disponíveis instrumentos para sucção de fluidos (Fig. 7-15), para pinçar campos ou tecidos ou outros objetos inanimados (Fig. 7-16), cortar e remover fragmentos de ossos (ruginas [Figs. 7-17 e 7-18]), apreensão óssea durante o reparo de fraturas (Fig. 7-19), curetar a superfície de tecidos densos (curetas), como afastador de periósteo (raspadores periosteais [Fig. 7- 20]), para cortar ou dar forma a ossos e cartilagens (osteótomos e cinzéis [Fig. 7-21]) e perfurar orifícios em ossos (trépanos). As lupas são úteis quando se necessita de um corte ou sutura precisos no tecido (p. ex., cirurgias cardiovasculares ou neurológicas) e quando são manuseados tecidos relativamente pequenos (p. ex., anastomose uretral). Vários outros instrumentos especializados têm sido desenvolvidos para facilitar procedimentos cirúrgicos específicos. Alguns instrumentos usados em procedimentos ortopédicos e neurológicos são mostrados nas Figuras 7-22 a 7-24. Outros instrumentos ortopédicos são descritos no Capítulo 32. FIG. 7-15 Pontas de sucção. De cima para baixo: Poole, Yankauer e Frazier. FIG. 7-16 Pinças e fórceps. Da esquerda para direita: Pegador de toalha Backhaus, pinça tecidual de Allis, pinça de Babcock. FIG. 7-17 Ruginas. Da esquerda para direita: Lempert, Ruskin e Kerrison. FIG. 7-18 Ruginas de bico-de-pato de ação dupla. FIG. 7-19 Pinças de preensão de ossos. Da esquerda para direita: pinça de redução AO, pinça de redução de trava rápida grande, pinça de preensão de ossos de Lane, pinça de redução em concha pequena. FIG. 7-20 Elevador periosteal. Esquerda, AO de borda redonda; Direita, AO de lâmina curva e borda reta. FIG. 7-21 Equipamento ortopédico. De cima para baixo: Cinzel, martelo, fio ortopédico e torcedor de fio. FIG. 7-22 Equipamento ortopédico. Da esquerda para direita: Mandril e chave de Jacobs, pinos de Steinman e fios de Kirschner (jogo de pinos), cortador de osso. FIG. 7-23 Furadeira de ar Hall e brocas variadas. FIG. 7-24 Equipamento de neurocirurgia. Da esquerda para direita: Alça de cristalino, pequeno afastador de raiz nervosa, extrator de tártaro, dissecador de Freer, grande afastador de raiz nervosa de ângulo reto. CUIDADOS E MANUTENÇÃO DOS INSTRUMENTOS Bons instrumentos cirúrgicos são investimentos valiosos. Eles devem ser usados de maneira correta e devem receber cuidados e manutenção rotineiros para evitar corrosão, formação de sulcos e descoloração, e prolongar sua vida útil (Tabela 7-1). Os instrumentos devem ser limpos em água quente imediatamente após o procedimento cirúrgico para impedir que sangue, tecido, soluções salinas ou outros materiais sequem no instrumento. Se os instrumentos não puderem ser limpos imediatamente, eles devem ser mantidos úmidos sob uma toalha molhada. TABELA 7-1 Causas de Corrosão, Formação de Sulcos ou Descoloração de Instrumentos Muitos fabricantes recomendam que os instrumentos sejam enxaguados, limpos e esterilizados em água destilada ou deionizada, porque a água de torneira contém graus variáveis de minerais que podem descolorir e manchar os instrumentos. Se a água de torneira for usada para lavar os instrumentos, estes devem ser muito bem secos para evitar que manchem. Os instrumentos com muitos componentes devem ser desmontados antes de serem limpos. Instrumentos delicados devem ser limpos e esterilizados separadamente. Limpeza Métodos de limpeza ultrassônica e enzimática (p. ex., Haemo Sol, HaemoSol International LLC, Baltimore, Md.; Ultra CleanZyme, Ultra Clean Systems, Inc., Oldsmar, Fla.) limpam instrumentos de forma eficaz e eficiente. Soluções enzimáticas são geralmente usadas para a remoção de materiais proteicos, de instrumentos cirúrgicos e equipamentos endoscópicos. Instrumentos sujos devem ser lavados em soluções de limpeza para remover toda a sujeira visível antes de serem postos no limpador ultrassônico. Sempre utilizar sabão com pH neutro (com pH entre 7 e 8). Detergente de baixo pH corrói a superfície que protege o aço inoxidável se não for enxaguado completamente, enquanto os detergentes de pH alto corroem ou causam escurecimento dos instrumentos e podem prejudicar sua função. Manchas devem ser distinguidas de ferrugem (Tabela 7-2). As manchas podem ser removidas, enquanto a ferrugem causa um dano permanente. TABELA 7-2 Solução de Problemas de Manchas em Instrumentos Cirúrgicos COR DA MANCHA CAUSA Marrom/laranja Detergentes de pH alto, c lorexidina ou instrumentos colocados de molho de forma imprópria. Também pode ser causada pelo molho em água de torneira. Marrom- escuro Soluções para instrumento de pH baixo. A película amarronzada também pode ser causada por um esterilizador em mau funcionamento. Do mesmo modo, pontos escuros localizados podem ser resultado de sangue autoclavado sobre o instrumento. Preto-azulado Revestimento reverso, quando instrumentos de diferentes metais (p. ex., cromo e aço inoxidável) passam juntos pelo procedimento de ultrassom. Adicionalmente, a exposição à solução salina, sangue, ou cloreto de potássio causa esse tipo de mancha. Multicor Calor excessivo provocado por um ponto mais quente no esterilizador. A mancha com cor de arco-íris pode ser removida. Pontos coloridos claros e escuros Gotas d’água secando nos instrumentos. A evaporação lenta deixadepósitos de sódio, cálcio e magnésio. Cinza-azulada Esterilização líquida (fria) sendo usada além das recomendações do fabricante. Preta Contato foi feito com amônia ou uma solução contendo amônia. Cinza Um removedor líquido de ferrugem sendo usado além das recomendações do fabricante. Ferrugem Sangue seco que se tornou queimado nas áreas serrilhadas ou nas dobradiças dos instrumentos cirúrgicos. Esse material orgânico, uma vez queimado no instrumento, pode aparecer com a coloração escura. Ferrugem também pode ser causada pelo molho em água de torneira. * Modificado de Spectrum, instrumentos cirúrgicos, reparos, acessórios de instrumentos; Spectrum Surgical Instruments Corp., Stow, Ohio; www.spectrumsurgical.com. NOTA • Solução de Betadina, sabão para lavar louça, sabão para lavar roupa ou soluções para lavar as mãos não devem ser usadas para limpar os instrumentos, pois ocorrerão manchas e corrosão. Metais diferentes (p. ex., cromo e aço inoxidável) não devem ser misturados no mesmo ciclo de limpeza ultrassônica. Todos os instrumentos devem ser colocados no limpador ultrassônico com as catracas e as travas abertas. Os instrumentos não devem ser colocados uns sobre os outros porque instrumentos delicados podem ser danificados. Eles devem ser removidos do limpador, enxaguados e secos no final do ciclo. Se um limpador ultrassônico não estiver disponível, os instrumentos devem ser limpos o mais rigorosamente possível. Utilizar uma escova especial para instrumentos para remover os resíduos dos serrilhados, dos dentes e das áreas curvas. Várias escovas específicas para limpar instrumentos estão disponíveis (p. ex., escovas para tubos de sucção Frazier, escovas para laparoscópios, escovas para perfuradores de osso e escovas para endoscópios), juntamente com escovas de limpeza gerais para instrumentos. Escovas de náilon suaves ou escovas de dentes também podem ser usadas. Áreas ásperas e serrilhadas podem requerer uma escova de arame. Secar os instrumentos cirúrgicos em um papel-toalha limpo. Colocar as pontas finas dos hemostáticos cirúrgicos voltadas para cima, sobre toalhas, para prevenir danos. Lubrificação e Esterilização em Autoclave A esterilização em autoclave não substitui uma limpeza adequada dos instrumentos. Os instrumentos com travas, dobradiças e elétricos devem ser lubrificados antes da esterilização em autoclave. Apenas lubrificantes cirúrgicos devem ser usados porque possibilitam a penetração pelo vapor. Óleos industriais interferem na esterilização por vapor e não devem ser usados. Não é mais recomendado o uso de banhos de lubrificante, pois a solução pode conter bactérias de instrumentos anteriormente imersos. É aconselhado lubrificante em spray. Os instrumentos geralmente são agrupados em pacotes ou kits de acordo com seu uso (Tabelas 7-3 e 7-4). Antes da esterilização em autoclave, os instrumentos devem ser envolvidos em um pano ou colocados sobre um pano dentro de uma panela com orifícios para absorver a umidade. Os instrumentos devem ser esterilizados com as travas ou dobradiças abertas. TABELA 7-3 Sugestões de um Pacote Básico para Tecido Delicado* INSTRUMENTO QUANTIDADE Pinças hemostáticas Halsted-mosquito Curvas, 12,7 cm 2 Pinças hemostáticas Halsted-mosquito, retas, 12,7 cm 2 Pinças hemostáticas Kelly, curvas, 14 cm 2 Pinças de Crile, retas, 14 cm 2 Pinças hemostáticas Rochester-Carmalt, curvas, 19 cm 4 Porta-agulhas de Mayo-Hegar ou Olsen-Hegar, 17,8 cm 1 Pinça de tecido Brown-Adson 1 Pinça de tecido Allis, 5 × 6 dentes, 15,2 cm 4 Pegadores de toalha Backhaus, 13,3 cm 4 Tesoura de Metzenbaum, curva, 20,3 cm 1 Tesoura de Mayo, curva, 20,3 cm 1 Tesoura de sutura, afiada-romba, reta, 12,7 cm 1 Bandeja de instrumentos 1 Afastadores de Senn 2 Cabo de lâmina, nº 3 1 Gancho “castração” de ovário-histerectomia 1 Recipiente para solução salina 1 Tampões radiopacos (10 × 10 cm) 20 *Para castração, laparotomia ou cuidados com ferimentos. TABELA 7-4 Sugestões para um Pacote Ortopédico Básico INSTRUMENTO QUANTIDADE Mandril e chave Jacobs 1 Afastadores Hohmann 2 Afastador Exército-Marinha 2 Elevador periosteal 1 Torcedor de fio 1 Cortador de pino médio 1 Pinças seguradoras de osso Kern ou Lane 2 Pinça de redução 1 Fio ortopédico (calibres 18, 20, e 22) 1 cada tamanho Fios Kirschner 2 cada tamanho Pinos intramedulares 2 cada tamanho Acrescido de um pacote genérico (Tabela 7-3). NOTA • Para determinar se uma descoloração marrom ou alaranjada é mancha ou ferrugem, usar o teste de borracha de apagar. Esfregar uma borracha de apagar lápis sobre a alteração de cor. Se a borracha remover a descoloração e o metal embaixo for liso e limpo, isso quer dizer que é uma mancha. Se uma mancha aparecer em baixo da descoloração, quer dizer que é corrosão ou ferrugem (Spectrum Surgical Instruments Corp. Stow, Ohio). NOTA • NUNCA se deve travar um instrumento durante a esterilização em autoclave, pois isso não permite que o vapor alcance e esterilize as superfícies de metal que cobrem os instrumentos. As áreas de dobradiça das pinças e dos hemostáticos podem expandir e quebrar quando expostas ao calor durante a esterilização em autoclave se estiverem travadas. A câmara não deve ser sobrecarregada, e o empilhamento de instrumentos deve ser evitado para prevenir danos aos instrumentos delicados. Kits devem ser duplamente embalados (p. 5) e selados com fita (p. ex., fita de autoclave). Um monitor de esterilização (p. ex., indicadores de esterilização OK, fita indicadora química Sterrad) deve ser adicionado antes da autoclavagem (p. 16). O resfriamento rápido dos instrumentos deve ser evitado para prevenir condensação. Informações adicionais sobre esterilização em autoclave e outros métodos de esterilização podem ser encontrados no Capítulo 2. Esterilização a Frio A esterilização a frio é usada para alguns instrumentos, mas não garante a esterilidade. Os instrumentos que não podem ser autoclavados são mais bem esterilizados usando meios alternativos (p. ex., óxido de etileno, ou esterilização de plasma; p. 13.). As soluções que contêm cloreto de benzil amônio (BAC) não devem ser usadas com instrumentos que têm carboneto de tungtênio, porque o Bac dissolve o tungstênio. COLOCAÇÃO DE CAMPOS ESTÉREIS E ORGANIZAÇÃO DA MESA DE INSTRUMENTOS As mesas de instrumento devem ter ajuste de altura para permitir que sejam posicionadas de acordo com cada um dos cirurgiões. A mesa de instrumento não deve ser aberta até o animal ter sido posicionado na mesa cirúrgica e preparado com os panos de campo estéreis. Panos impermeáveis, grandes, devem cobrir toda a mesa de instrumento. Para abri-los, os panos de campo e o invólucro externo devem ser posicionados na mesa de instrumento e a superfície exposta da cortina é presa suavemente embaixo. A superfície inferior do campo exposta deve ser gentilmente segurada e as pontas, e depois os lados, devem ser desdobrados. Uma vez aberto o pano, pessoas não esterilizadas não devem tocá-lo. Suportes de Mayo frequentemente são usados em procedimentos que requerem instrumentos adicionais, como colocação de placas em ossos. Coberturas especialmente feitas para esses suportes estão disponíveis. Após aberto o pacote de instrumentos (p. 8), estes devem ser posicionados de modo que possam ser facilmente alcançados. A disposição dos instrumentos é geralmente determinada pela preferência do cirurgião, mas agrupar os instrumentos similares (p. ex., tesouras e afastadores) facilita seu uso. Sempre que uma cavidade do corpo é aberta, os tampões devem ser contados no começo do procedimento (antes de a incisão ser feita) e, novamente, antes de se fechar a incisão, para garantir que nenhum tampão tenha sido inadvertidamente deixado na cavidade. Instrumentos contaminados e tampões sujos não devem ser colocados de volta na mesa de instrumentos.
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