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Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp O sistema imune das mucosas envolve o Trato Gastrointestinal (TGI), o Trato Respiratório e o Trato Urogenital. A epiderme não é uma mucosa, se encaixa no sistema imune cutâneo. 1. TRATO GASTROINTESTINAL, MICROBIOTA E SISTEMA IMUNE O TGI tem uma área enorme (200m²) e é o sistema com maior número de linfócitos por m². O lúmen está repleto de microorganismos adquiridos pela alimentação e que formam nossa microbiota (comensal). Temos mais bactérias que células do nosso corpo, elas que nos controlam e não o contrário. Podemos ter no nosso TGI as bactérias comensais (microbiota), patógenos oportunistas (ex.: Helicobacter pylori, Clostridium difficile, Klebsiella spp.) e patógenos primários. A proporção dessas bactérias é alterada diante de uma Desbiose, que é um conjunto de alterações na composição da nossa microbiota intestinal que desequilibram esse sistema. As causas mais comuns de desbiose são infecções/inflamações, dieta, xenobióticos e antibióticos, má higiene e base genética. As doenças relacionadas com a desbiose são doenças intestinais (Doença de Crohn, Retocolite ulcerativa, síndrome do intestino irritável, doença celíaca, câncer colorretal) e outras (alergia, asma, síndromes metabólicas, obesidade, doenças cardiovasculares). A microbiota intestinal tem várias funções, inclusive de proteção: induz o desenvolvimento anatômico do epitélio intestinal (padrão de microvilosidades); acelera a taxa de renovação epitelial; dá início à maturação do tecido linfoide associado ao Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp intestino (placas de Payer); barreira à colonização do intestino por bactérias patogénicas; diminuição do pH associada à produção de ácidos; estímulo à produção anticorpos (IgA) e mucinas que inibem a adesão de patógenos. A microbiota também é importante para a diferenciação e proliferação das células epiteliais intestinais e para a proliferação dos linfócitos intraepiteliais. - Bactérias patogênicas: podem causar principalmente diarréia secretora ou inflamatória. Na secretora, há secreção de toxinas que levam a absorção alterada dos nutrientes e secreção de íons desordenada, causando perda rápida de fluidos (ex.: ETEC, cólera). Na diarréia inflamatória há infiltração de neutrófilos na mucosa intestinal, causando a transmigração de neutrófilos para o lúmen e gerando lesão tecidual (lesão na mucosa). Há perda de fluidos proteicos e diminuição da reabsorção por lesão da mucosa (ex.: campylobacter, salmonella e shigella). ➢ RESPOSTA IMUNE DO TGI A resposta imunológica no trato gastrointestinal envolve vários tipos celulares. As células do TGI que estão envolvidas com a resposta imune são as Células Caliciformes, Células de Paneth, Células M, Macrófagos, Células Dendríticas, Linfócitos intraepiteliais e Mastócitos. - Células Caliciformes: são células produtoras de muco, uma barreira física voscosa constituída de mucina e que impede o contato dos microorganismos do lúmen com as células epiteliais. O muco permite a passagem de antígenos solúveis de baixo peso molecular e de anticorpos (IgA fica no muco). Além da mucina também há peptídeos Branda Destacar Branda Destacar Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp antimicrobianos no muco, dificultando ainda mais a sobrevivência de bactérias nessa região. Na fibrose cística, Doença de Crohn e câncer há alteração da glicosilação das mucinas, diminuindo a efetividade da camada de muco e aumentando as chances de infecção intestinal. - Células de Paneth: Estão nas criptas intestinais, geralmente no intestino delgado (íleo) e possuem vida longa (2 meses). São células especializadas em produzir peptídeos antimicrobianos, como defensinas, lectinas tipo C, ribonucleases. Os peptídeos antimicrobianos tem como alvo a parede celular ou membranas bacterianas, diminuindo a capacidade de ocorrer resistência. Elas causam tipo um poro nas membranas plasmáticas, deixando fluidos intracelulares vazarem e ocorre lise. - Células M (micropregas): são células que ficam na mucosa intestinal e deixam passar antígenos por ela (transporte transcelular) que vão para a Placa de Peyer logo abaixo (nódulo linfoide - GALT). É a principal via de distribuição de antígenos do lúmen para o GALT. Alguns microorganismos utilizam essas células M para invadir o TGI, como a Salmonella typhimurium. - Linfócitos Intraepiteliais (IELs): são linfócitos T CD8 que estão entre as células epiteliais do intestino. Eles tem dois tipos de respostas, a Resposta tipo A e a tipo B. A resposta IELs tipo A é quando uma célula epitelial é infectada por um vírus intestinal e expressa o MHC viral, o linfócito intraepitelial identifica o MHC e por meio da FAS injeta granzimas e perforinas que causam a lise daquela célula epitelial infectada. Branda Destacar Branda Destacar Branda Destacar Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp A resposta tipo B a célula epitelial sofre algum dano (físico ou bactérias) e expressam MIC-A/MIC-B, então os linfócitos intraepiteliais se ligam e promovem a lise dessa célula por meio de granzimas e perforinas também. ➢ IMPORTÂNCIA DA IMUNOGLOBULINA A – IgA A produção de IgA começa com o antígeno luminal sendo translocado para dentro das Placas de Peyer pelas Células M. Esse antígeno é captado pelas células dendríticas que mostram para os linfócitos T naive e os maturam. Esses linfócitos T mostram o antígeno para os linfócitos B que se diferenciam em plasmócitos e secretam IgA. A IgA sai da lâmina própria e vai para o lúmen, na camada de muco. A IgA é importante para promover uma resposta rápida a antígenos bacterianos vindo da dieta. Os PAMPs bacterianos também causam a ativação da secreção de IgA na lâmina própria, mas de baixa afinidade. A IgA liga-se e neutraliza patógenos e toxinas; liga-se e neutraliza antígenos internalizados nos endossomos; e exporta toxinas e patógenos da lamina própria para o lúmen. Branda Destacar Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp ➢ PAPEL DA MICROBIOTA E EPITÉLIO NA MODULAÇÃO DA RESPOSTA IMUNE Entrada de componentes estruturais (MAMPs) do lúmen ativam os linfócitos T e as células dendríticas tolerogênicas, que secretam várias citocinas como IL-10, TGF-beta e ác. Retinóico para a transformação dos linfócitos T em Treg. Os Treg promovem a tolerância a antígenos alimentares e aos microorganismos da nossa microbiota. Eles fazem a chamada “Tolerância Oral”. Quando há uma desbiose, a mucosa intestinal fica danificada e os patógenos conseguem entrar na lâmina própria (PAMPs e DAMPs), ativando os linfócitos T a secretarem IFN-gama e células dendríticas a induzirem a transformação dos linfócitos T em Th1 e Th17. Esses linfócitos Th1, Th17 e INF-gama são pró- inflamatórios, ou seja, recrutam neutrófilos e ativam macrófagos na lâmina própria. As células dendríticas também migram para os linfonodos mesentéricos pelos vasos linfáticos, levando os antígenos para lá. Linfócitos Th1 → citocina produzida é INF-gama - ativa macrófagos que fagocitam os antígenos; Linfócitos Th17 → citocina produzida é IL17 e IL22 - recrutamento de neutrófilos. Ativação de macrófagos M1 (inflamatórios), aumento da produção de peptídeos antimicrobianos. Respondem contra os patógenos extracelulares e intracelulares (fungos). Branda Destacar Branda Destacar Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp Linfócitos Th2 → citocinas IL-4, IL-5 e IL-13 que causam produçãode IgE, ativação dos mastócitos, ativação dos macrófagos M2 (anti-inflamatórios), degranulação de eosinófilos, aumento do peristaltismo e do muco. Os linfócitos Th2 são ativados em resposta aos patógenos extracelulares, como bactérias e helmintos pois ativam os eosinófilos. Por aumentar a produção de IgE, estão envolvidos com as respostas alérgicas. Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp Indivíduo infectado por helmintos → resposta reduzida à vacina por conta da resposta Th2 anti-inflamatória; suprime patologias de doenças inflamatorias intestinais, reduz à resposta anti-tumor; prevalência de asma. 2. SISTEMA IMUNE ASSOCIADO À PELE Possui as mesmas células imune que estão no TGI, mas tem a presença de queratinócitos, células queratinizadas que fazem uma barreira mais forte. Na lâmina própria temos as mesmas células imune. Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp 3. CASO CLÍNICO – DOENÇA DE CROHN Doença de Crohn: causada por polimorfismos no gene NOD2 responsável pela síntese e secreção de antimicrobianos no muco intestinal. Com isso, há uma expressão deficiente de Defensinas no muco, diminuindo a proteção intestinal. Assim, há uma resposta exacerbada do linfócito Th17 com formação de granulomas na lâmina própria. Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp
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