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( Psicologia) - Ernst Kretschmer - Psicologia Medica (1)

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Prévia do material em texto

PSICOLOGIA MÉDICA
por
ERNST KRETSCHMER
		Este livro foi digitalizado sem fins comerciais para uso exclusivo de pessoas com deficiência que necessitem de leitores de tela para aceder ao seu conteúdo, não devendo ser distribuído com outra finalidade, mesmo de forma gratuita.
Supervisão da tradução: J. B. BREDA,
Membro da Associação Brasileira de Psiquiatria (A. B . P.)
Tradução: HUMBERTO A. PH. SCHOENFELDT
l3. edição ampliada e revisada.
Editada por
WOLFGANG KRETSCHMER
l\\\1i\1\\ll
t41 12836
ATHENEU EDITORA SÃO PAULO S.A.
Reservados os direitos de tradução para a língua portuguesa
Copyright (c) ATHENEU EDITORA SÃO PAULO S.A.
Prof. Dr. med. Dr. Phil h.c. Dr. med. h.c.
ERNST KRETSCHMER (falecido)
Editor:
Prof. DR. MED. WOLFGANG KRETSCHMER
Clínica neurológica da Universidade de Tuebingen.
Todos os direitos de reprodução, difusão e tradução reservados. Nenhuma parte ou deste livro pode ser reproduzida sem autorização por escrito da editôra (fotocá microfilmagem e Outros processos), ou por algum sistema eletrônico.
ATHENEU EDITORA SÃO PAULO S. A.
São Paulo - Rua Marconi, 131 - 2.0 andar Fones: 34-3549 - 34-4521 - End. Teleg. Zigadag"
Tradução da l3. edição do original MEDIZINISCHE PSYCHOLOGIE
Autor:
Editôra Georg Thieme, Stuttgart, 1950, 1971
Rio - Av. Rio Branco, 185 - Conj. 1112 - Fone: 232-7979
INDICE
Pref do Editor	V
Introdução 1
PRIMEIRA PARTE
PRINCIPAIS FUNÇÕES PSIQUICAS E SEU SUBSTRATO
ANATOMOFISIOLÓGICO
1.0	Capítulo: Da essência da alma 5
O "Eu" e o mundo exterior, espírito e matéria 5
Os conceitos modernos da relação corpo-alma 8
Dificuldades da localização no cérebro 10
Personalidade e personalidade profunda 11
2.° Capítulo: Percepçõo sensorial e estrutura do mundo perceptivo ... 13
Sensações de parentesco afetivo e tálamo 14
Sensações figurativas 17
Grau configurátivo e grau de realidade 19
Distorções da percepção e alucinações 21
3 Capítulo: O córtex cerebral e as manifestações mnemo associativas . 22
Localização cortical: capacidades senso-motoras 22
Funções configurativas 24
Outras funções cerebrais 28
Funções superiores da memória e do pensamento 29
Síndromes do lóbulo frontal 31
Síndromes especiais do cérebro orbitário 32
Distribuição das funções entre o cérebro e o tronco cerebral 35
4•0 Capítulo: Estrutura da psicomotricidade e os centros subcorticais .. 37
Formas de automatismo 37
Leis ontológicas de graduação 38
Funções estático-tônicas e impulsos 39
X Índice
50 Capítulo: Funções psíquicas centrais e sistema neuro-endocrínico
A consciência
Impulso
Afetividade
Impulsos básicos
SEGUNDA PARTE
OS APARELHOS PSÍQUICOS E SUA FORMAÇÃO EVOLUTIVA
6.° Capítulo: Graduação e lei do desenvolvimento da alma
Formas figurativas
Aglutinação da imagem
Estilização
Projeção da imagem
Sensação, imagem e objeto
Afetividade da catatimia
Projeção afetiva
Ambivalência e ambitendência
Processos de movimento
Formas cinéticas vegetativas e ritmo
Movimento de tato-abreviação de fórmulas-reflexos motores
Expressão volitiva e afetiva
Impulso-instintos-inteligência
Comportamento
Esquemas motores
A alma como fator interno e externo
7•0 Capítulo: Mecanismo hipnóicos
Sonho
A esfera da consciência
Hipnose e estado crepuscular histérico
Os princípios da esquizofrenia
Estilização ou esquematização
Associação livre-fuga de idéias-pensamento aperceptivo e categorias lógicas
8.° Capítulo: Mecanismos hipobúlicos
Movimentos rítmicos
Tempestade de movimentos - pânico e ataque histérico
Negativismo e sugestão
Os circuitos
Índice	XI
TERCEIRA PA1
INSTINTOS E TEMPERAMENTOS
9.° Capítulo: Instintos e suas variações 125
Classificação por conceitos e relações recíprocas 125
Instinto gregário 117
Instintos de nutrição 128
Instinto de sobrevivência 129
Instinto de aquisição 130
Instintos sexuais: intensidade e inibições 130
O instinto sexual e suas variedades 133
Instintos sociais 140
Irradiação e ligação dos instintos 143
A teoria das "transformações" dos instintos sexuais 145
Variação puberal dos instintos 150
Domínio dos impulsos 153
Espécie e função dos instintos 154
10.0	Capítulo: Os temperamentos 155
Tipos de estrutura corporal e temperamentos 157
Variantes típicos de evolução e sexo da constituição no decorrer da vida .	165
QUARTA PARTE
PERSONALIDADES E TIPOS DE REAÇÃO
11.0	Capítulo: Inteligência e caráter 171
Inteligência e talento 171
O caráter 174
Ética e conflito ambiental 176
Esboço de um ensino caractereológico psiquiátrico 177
12.° Capítulo: Vivências anormais 181
Complexos e exageros das idéias 181
Casualidade psíquica 184
Formas de vivências anormais 186
O ressentimento e a luta pelo poder 189
13.° Capítulo: As reações primitivas 191
Reações explosivas 192
Atos em curto-circuito 193
Reações hipobúlicas e hipnóticas 195
Índice
14.° Capítulo: Reações da personalidade
Cunho ambiental
Reações, direção e resistência do caráter
O desenvolvimento expansivo
O desenvolvimento sensitivo
Realizações autistas de desejos
Psico-biograma
APËNDICE
Sobre a Psicoterapia
1. Orientação psicológica geral
2. Trabalho e lazer
3. Princípios básicos da psicoterapia
4. Terapia analítica psicológica
5. Psicoterapia da personalidade
6. Medicina psicosomática
Bibliografia
Índice alfabético
INTRODUÇÃO
De anos para cá exige-se uma formação psicológica dos estudantes de medicina. De que forma porém? Não se pode tratar da psicologia filosófica que proporciona pouca utilidade ao médico. A Psicologia aplicada a ela ligada se concentra especialmente sobre questões pedagógicas e profissionais com as quais o médico tem pouco contacto. Tampouco se poderia argumentar que a psicologia fisiológica servisse de matéria de ensino para o médico. Esta região limítrofe que abrange especialmente a fisiologia dos órgãos sensoriais e o ensino sobre os centros cerebrais estava sendo explorada com grande sucesso pela medicina, sem que as questões psicológicas tivessem sido plenamente exploradas. Se oferecêssemos ao médico somente a psicologia fisiológica para a satisfação da sua curiosidade deixá-lo-íamos no limiar da porta pela qual desejava entrar para obter a visão dos processos psíquicos mais elevados, suas evoluções e reações para a qual a psicologia fisiológica é apenas a ante-câmara.
O médico de espírito aberto sente assim no seu aprendizado uma dupla lacuna. Ele necessita de uma psicologia surgida da prática médica e que se destina aos problemas práticos da sua profissão. Isto é o principal. Além disto a busca da psicologia corresponde freqüentemente ao desejo do médico de penetrar além das quatro paredes da sua competência, na região espiritual da psicologia do reconhecimento nos problemas éticos e estéticos da vida dos povos, ligando organicamente seu círculo de pensamentos médicos e de ciências naturais ao horizonte da ciência espiritual.
A presente "Psicologia Médica" surgiu na consideração destes dois pontos de vista. Tanto a editora como o autor se esforçaram em dar uma forma concisa e resumida aos assuntos a serem tratados, O ponto de vista principal, a psicologia na prática médica, ocupa uma posição central e os problemas espirituais da psicologia foram apenas tratados de leve em certas circunstâncias. Indica-se o caminho sem palmilhá-lo, pois não se espera de um compêndio médico-psicológico, que entre nos detalhes da psicologia de reconhecimento, na estética e na psicologia etnológica.
Uma psicologia médica deve ser viva, oferecendo para cada ponto de vista exemplos práticos. Não se deve porém restringir a uma apresentação superficial e desordenada de regras e experiências úteis. A psicologia médica prática deve nascer de uma base sistemática mostrando o mecanismo básico biológico que se repete sempre para a qual pode ser reduzida a amplitude desconcertante da rica vida real. A diferenciação do mecanismo básico e do tipo da vida psíquica já foi tentada em base da história evolutiva aplicando amplamente pontos de vista anatômico-fisiológicos na medida em que estes se aplicam hoje em dia à psicologia elevada.Uma psicologia médica serve-se tanto da vida normal como da psicopatologia, o que é evidente. São os mesmos mecanismos
Introdução
básicos que se manifestam no sonho, na fantasia de um artista, na psio etnográfica, na esquizofrenia e neurose de um lado e nas reações anim e infantis do outro lado, na histeria e na catatonia. Escolheram assim, sq a necessidade as experiências psicológicas normais e psicopatológicas exemplos observando-se o mecanismo ativo num corte transversal pela psic do desenvolvimento, psicologia normal e psicopatologia.
Aparecem em primeiro plano os assuntos de interesse vital para o m psicologia das neuroses, reações psicopáticas, histeria, estados lim esquizofrênicos e paranóicos leves. A Psicologia das Neuroses psicologia da alma humana em si, sob forma acentuada e paradigmática. conhece as neuroses conhece os homens, estando por isto mesmo prepara o ponto de vista médico, para as exigências psicológicas da sua profiss pois evidente que os pontos de vista afeto-dinâmicos ocupem um lu destaque, que a apresentação de afetos, impulsos e manifestações de v ocupem o primeiro plano deixando para um plano secundário a dissecaç manifestações mais elevadas da inteligência.
Esperamos assim que o esboço sistemático aqui tentado de uma médico-psicológica ofereça aos psiquiatras e psicólogos um estímulo litando-lhes o ensino clínico psiquiátrico pela simplificação e reduç mecanismos biológicos básicos. Se o estudante há de tirar o maior p:
de um livro ele deve reconhecer por si mesmo os processos psíquicos ess e os recursos médicos aplicados nas neuroses, nas psicoses leves e diagnóstico. Uma dissertação teórica e prática sobre psicologia mé psicoterapia levaria à expansão almejada do ensino médico. Devido aos conhecimentos prévios necessários este ensino clínico se fará som lado ou depois dos ensinamentos psiquiátricos.
2
PREFÁCIO DO EDITOR
Reeditar um livro que durante 48 anos foi editado 13 vezes não é tarefa fácil. Apesar das ampliações e melhoramentos introduzidos, ele conserva os característicos do seu tempo. O que de início pode parecer um impedimento resulta em vantagens essenciais. A obra abrange o desenvolvimento científico e social de mais de duas gerações e o representa de uma forma tão direta que escaparia a uma reformulação. Existem porém outros motivos para esta reformulação. Trata-se nesta obra de uma contribuição básica e original para a Psicologia e Psicopatologia, que não exige uma modernização. No que concerne à sua estrutura da matéria e o progresso de conceitos estabelecidos, seu valor continua inalterado.
Baseado na última edição a linha de pensamentos foi continuada e enriquecida por fatos adicionais. Nas correções estilísticas, aumento da matéria e anotações adicionais tratou-se sempre de preservar as idéias e intenções do autor de um modo inequívoco, conseqüente e absoluto. Temas como:
"Problemas do corpo e da alma", "Alucinações", "Evolução guestáltica", "Teoria do desenvolvimento", "Sonho", "Tabu", "Instinto", "Impulsos", "Temperamento" e "Sugestão" mereceram um cuidado especial na sua formulação. Acrescentei ainda algumas observações sobre o "Sistema límbico" e a hipótese da "Sublimação", além de uma formulação sobre o Temperamento baricinético".
Causa-me especial satisfação ter incluído aqui, dentro do arcabouço da obra, alguns elementos importantes deixados na herança científica do autor. Apresentamos como esquema rígido a "Doutrina psiquiátrica do caráter" esboçada no "Delírio egocentrico sensorial". No capítulo sobre o tempe ramento, o leitor terá, pela primeira vez, a oportunidade de no conceito do caráter do autor, tanto sob o ponto de vista da lógica constitucional como da dinâmica psicológica. O "Psicobiograma" encontrou novamente o lugar que lhe compete de acordo com as exigências hodiernas. Incluímos ainda nos parágrafos, "Eu e o mundo externo" e "Psicoterapia", algumas anotações e observações para discussões do autor, bem como passagens de atualidade de edições anteriores. Com estas alterações, a obra se situa dentro do nosso tempo, eliminando-se os mal-entendidos em relação à teoria da constituição. Elaborou-se uma nova bibliografia e o registro de matérias e autores foi ampliado. A edição atual oferece assim a visão mais ampla sobre o pensamento psicológico
-psiquiátrico básico de Kretschmer. Convém ainda notar que a opinião do editor não é essencialmente idêntica à do autor, em vista de certas divergências básicas.
Alguns leitores estranharão talvez a falta da última parte do livro
"Psicologia médica prática" com exceção das observações feitas sobre a medicina
psicoterápica e psicossomática. Depois da 1Q.a edição o autor pensou seriamente
VI Prefácio do Editor
em dedicar um volume em separado à psicologia médica, mas desistiu de projeto em vista da sua inviabilidade prática. De pouco adianta de fato quei inserir num espaço reduzido, o campo ilimitado da diagnóstica e teraj psicológica, liquidando-o por assim dizer em poucas palavras. Somente o estu de manuais e monografias nos poderá ajudar neste sentido. Tirei então ui conseqüência radical na certeza de ter melhorado a obra no seu caráter unitár Apesar da redução de um terço, o livro contém mais fatos essenciais e pon de vista do que antes.
Vale a pena fazer a retrospetiva da origem e tendência teórica "Psicologia Médica". O livro foi iniciado no tempo áureo da psiquiatria alei situando-se no campo central dos primeiros vinte anos deste século, sob influxo das correntes extraordinariamente vivas da pesquisa médica de fa da psicologia e filosofia. Um realismo e otimismo espiritual ingênuos complementavam num brilho de formulações e ritmo incansável de trabal] Para evitar as armadilhas de argumentos de choque e para dizer algo concludente necessitava-se de muita aplicação e de uma ampla cultura individu Entre as personalidades que satisfaziam essas condições destacamos PA SCHILDER em Viena, jovem psiquiatra de grande saber filosófico e de um espír agudo. KRETSCHMER era mais intuitivo e criador e menos rigoroso no seu mo de pensar. Ambos cultivavam uma viva troca de opiniões e eram tidos coi os candidatos mais promissores da nova geração de psiquiatras.
A carreira tão promissora de SCHILDER porém, acabou na emigração. S livros ainda são dignos de serem lidos em nosso tempo. No ano de 1924, d anos após a psicologia médica de KRETSCHMER, "sua" psicologia foi publica A estreita comunhão espiritual dos dois pesquisadores que se completav maravilhosamente ficou assim patente. SCHILDER se apoiava mais na psicoanál sem se fixar nela. O autor manteve contatos muito férteis com out:
representantes da elite judaica da psiquiatria alemã, KRONFELD e STORCFS en outros. Mas a influência de E. BLEULER era absoluta. Segundo a opinião KRETSCHMER, JuNG era ao lado de HEYER o único psicólogo de profundida de renome com o qual se podia discutir a psicoterapia e sua influência sobr psiquiatria de "um modo razoável". KRETSCHMER teve um alto conceito J UNG como caratereólogo e pesquisador da esquizofrenia.
O conceito antropológico da "Psicologia Médica" tem suas raízes - o q muitos lamentam - no Positivismo e na Psicologia de Associação. Não se pc negar a tendência do autor de ancorar as manifestações psíquicas no matei dando-se-lhe assim "segurança" e esta tendência aumentou no correr dos an Este é apenas o aspecto mais saliente da questão. Numa leitura atei descobriremos rapidamente que nem tudo que se explica em seguida é i positivo como seria lícito pensar pelas premissas feitas. Elas deixam percel um senso agudo pelos aspectos não objetáveis e medíveis da vida psíquica orgânica. Mesmo assim oferece-se ao leitor uma psicologia e fisiologia genui e compreensível. A pesquisa do autor apresenta uma luta constante entre casualismo da ciência natural, do dinamismo imaginativo e do voluntarisi espiritual. Como o leitor já se mostra indiferente diante dessas tensê recomendo-lhe estudá-las de perto, pois somente assim ele saberá apreciar riqueza da presente obra.
A cultura geral apresenta a "outra metade"do tão criticado positivisi
no que coricerne aos seus melhores representantes. As páginas seguintes d
testemunho disto. Fatos e exemplos das mais distanciadas regiões da vida i
Prefdcio do Editor	VII
mostram os conceitos básicos e os esboços do sistema. Eles constituem o centro feliz entre construções complicadas somente manejáveis pelos peritos e da simplificação inadequada da qual sofremos hoje em dia. A sistemática presente serve de mediador entre a psicologia de motivos e a psicologia fisiológica, que se hostilizam devido ao fanatismo de muitos psicoanalistas e teóricos de comportamento. A ponte lançada entre os dois pólos é constituída pelo fato de KRETSCHMER reduzir os fenômenos psíquicos do seu conteúdo para sua forma, quer dizer sua estrutura. Estas não são tão abstraídas como os modelos fisiológicos, mas suficientemente complexos para se adaptar ao conceito vivo.
Com esta multiplicidade e equilíbrio do ponto de vista que cria um amplo horizonte chegamos à finalidade do presente livro. Seu intento não consiste em colecionar e amontoar um número excessivo de fatos modernos. Algumas áreas psicológicas importantes são mencionadas de leve apenas (a psicologia guestáltica, a teoria do campo e da aprendizagem, etc.). O autor e o editor visam apenas transmitir dentro das perspetivas fundamentais o conhecimento generalizado da psicologia biológica, o que ajuda a explicar e compreender numerosas observações e de julgar criticamente teorias psicológicas diferentes. Esta harmonia existente entre a teoria do reconhecimento, a ciência, fisiologia, morfologia, caraterologia psiquiatria e teoria cultural constituem o encanto e a originalidade deste livro. Sem tomar em consideração suas limitações materiais e de pensamento que possibilitam explicações mais detalhadas em casos isolados, ele proporciona uma rica fonte de informações para o estudioso.
Tuebingen, agosto de 1970.
WOLFGANG KRETSCHMER.
PRIMEIRA PARTE
PRINCIPAIS FUNÇÕES PSÍQUICAS E SEU
SUBSTRATO ANATOMOFISIOLÓGICO
1º. CAPÍTULO
DA ESSÊNCIA DA ALMA - O EU E O MUNDO EXTERIOR, ESPIRITO E MATÉRIA
Chamamos de alma a vivência imediata, tudo que é sentido, percebido,
imaginado e desejado. Alma, por exemplo, é uma árvore, um som, o sol,
enquanto a percepção e a imaginação a aceitam como árvore, som ou sol. Alma
é o mundo como acontecimento, a soma de todas as coisas vistas subjetivamente,
o conjunto de todos os movimento internos não ligados aos objetos.
Dentro da soma de vivência direta observamos uma tendência coercitiva de polarização em dois pontos: os polos opostos o "Eu" e "O mundo exterior". O "Eu" é o ponto focal mais intenso da vivência junto com o sentimento da unidade indivisível, único no seu gênero, e na sua relação íntima com todos seus componentes. O sentimentto imediato do Eu ou consciência da personali dade não é esclarecido e está cheio de contradições internas. Este sentimento do Eu se refere ao acontecimento em si, que chamamos de "minha alma" e a uma parte do vivericiado que chamamos "meu corpo". Esta consciência do Eu mostra a tendência de separar-se das suas partes isoladas pelas quais a queremos pegar, retirando-se por assim dizer, cada vez mais em si mesmo. "Não sou eu, é apenas meu dedo" ou "Não sou eu, mas apenas um pensamento ruim que me ocorre". Em última conseqüência o que sobra do EU é apenas um ponto imaginário daquilo que vivenciamos. O EU é ao mesmo tempo a coisa mais imaginada possível ou a coisa imediatamente mais certa. Isto porém não basta. Para completar a confusão a alma é projetada para dentro do EU. A alma, que não seria outra coisa senão a soma de tudo que experimentamos é sentida como uma segunda coisa, como uma segunda personalidade interna que vive encaixada na personalidade exterior, ou seja no corpo. A alma é a soma de tudo que vivemos e o EU parte deste acontecimento e que fica sobrando daquilo que nós chamamos de mundo exterior. Do outro lado a alma é parte do EU, aquela parte que sobra quando subtraímos o corpo.
Tudo aquilo que vivemos e que não sentimos como EU é o mundo exterior. Não podemos saber e nunca saberemos provavelmente se um mundo exterior existe fora da nossa vivência. Ë importante saber e compreender que tudo que pesquisamos nas ciências naturais constitui um atributo da nossa alma e não os objetos em si. Cores, tonalidades, calor, movimentos assim como plantas, animais e pedras refletem apenas as impressões dos nossos sentidos. A experiên cia nos transmite apenas impressões visuais, auditivas e táteis. "O olho produz
6	Da Essência da Alma
a luz e o ouvido os sons, fora jamais poderemos saber de nós, eles não existen nós lhes emprestamos tudo" (LICHTENBERG). Se existisse fora da nossa exp riência, fora das nossas sensações, "a coisa em si" (KANT), um mundo md pendente, que ainda existiria se nossa psique desistisse de criá-lo.
Isto não nos deve causar dor de cabeça. Basta verificar que "dentro" d nossa vivência, o mundo se separa para nós em duas zonas: o "EU" e o "Mund Exterior". Querendo formular esta separação sob o ponto de vista do El em palavras (Solipsismo) diríamos: O EU cria pela sua própria força o Não-El (FIcHTE). Tudo que experimentamos se passa no EU. Parte dessa experiênci é projetada para fora do EU como se existisse como mundo exterior fora c si mesmo. Podemos também tentar a formulação no sentido inverso, partind do mundo exterior: Um homem que nascesse surdo, mudo e cego, sem possu o tato, jamais desenvolveria uma vida psíquica ou um EU. A alma é mui mais do que uma função dos órgãos do sentido e do cérebro, ela é, pa:
formulá-lo ingenuamente, uma secreção das células cerebrais: O EU é u produto das impressões sensoriais (Materialismo).
O contraste entre matéria e espírito que encontramos no nosso pensamen é intimamente ligado na sua origem psicológica pelo contraste entre o 1 e o mundo exterior, mas não é equivalente, visto que o corpo faz parte EU mas não do espírito. Os polos da diferenciação EU-mundo exterior, espírito-matéria são sem dúvida condicionados pelo contraste entre o Ato vivência (= EU ou alma) e o conteúdo ( mundo exterior e matéria). complexo da vivência oscila entre estes dois pólos que nós chamamos "próprio corpo" podendo ser considerado tanto como objeto material dos nos sentidos ou como sujeito ativo e base indispensável como pertencente ao E
Um conceito arcaico e ingênuo materializou a alma como sendo ui substância vaporosa que habita o corpo. Desse conceito surgiu então aqu que costumamos chamar de "Dualismo" numa formulação filosófica, ou s a imaginação que corpo e alma sejam duas instâncias independentes liga intimamente mas não inseparavelmente entre si no sentido de um efeito recíproco ou do paralelismo psicofísico. Este dualismo contrasta com o monis:
que deseja dissolver a matéria no EU ou materialisticamente o psíquico matéria de uma forma espiritualista (chamada em sentido extremo solipsismo) Todos os três sistemas filosóficos se contradizem entre si. Soment solipsismo parece ser conseqüente pela lógica, mas não o é. As evidên imperiosas contradizem-no energicamente, facultando-nos passageiramenu ficção de que todo mundo exterior, inclusive os nossos semelhantes pon ser considerados, não como uma realidade independente mas, como u fadamorgana da nossa personalidade. O materialismo esquece do outro 1 que a matéria não nos é dada diretamente, mas somente sob forma de impres psíquicas e que a experiência primária imediata é sempre psíquica. As ele satisfaz apenas um pensamento não treinado. O dualismo por seu I como o mais antigo conceito do mundo que era tido como natural, se man vivo e forte por corresponder ao conceito do mundo ingenuamente refle (dualismo empírico). Na medida em que os nossos conceitos teóricos, exj mentais e psicológicos se aperfeiçoam tanto mais diferenciado ele se torna. tendências vitalísticas reavivadas com certa razão hoje em dia, não nos le' a um novo dualismo mas a uma sublimação do mundo inorgânico, desde
O EU e o Mundo Exterior, Espírito e Matéria
estudamos seus resultados com a necessáriaconseqüência. Devemos ter presente até que ponto a assim chamada matéria tem sido desmaterializada e materiali zada pelas ciências naturais.
Enfim: nossos conceitos contrastantes da alma e do seu lugar no conceito moderno do mundo se encontra numa fase transitória, na qual os conceitos antigos não satisfazem mais e os novos carecem ainda de uma definição melhor. Esta incerteza se reflete de modo prejudicial sobre a pesquisa psicológica Cientes da contradição interna misturamos às vezes os conceitos monísticos modernos que partem da unidade da experiência empírica e que enxergam na separação entre alma e matéria a experiência dos dois lados de um só problema, como os componentes de uma expressão dualista antiquada. Torna-se impossível por exemplo, explicar a relação entre o cérebro e a alma senão como forma de um "efeito recíproco" dualista entre duas instâncias independentes, sem incorrer em abusados requintes lingüísticos.
O ponto de vista mais aceitável ainda é o de um monismo crítico espiritual que reconhece, sob a ênfase de uma última unidade de todas as coisas, o primado indiscutível do psíquico sobre o material, pressupondo que imediatamente, somente o psíquico se abre ao nosso conhecimento. Aquilo que chamamos de matéria nos aparece sob este ponto de vista como um conceito estranho dentro do psíquico, ou seja a contemplação da realidade sob outro ângulo mas não como algo que seja separado em princípio do psíquico. A tese de que somente o EU existe como sujeito reconhecível, e que é muito radical, é insustentável.
O monismo espiritual nos leva inevitavelmente a uma forma do Pan teismo, à crença de uma alma onipresente, um espírito mundial como unidade que abrange tudo e que se exprime em cada dos seus componentes como parte de si mesmo. Este monismo panteístico acompanha como "lei motiv" o desenvol vimento do pensamento do mundo ocidental de SPXNOZA a LESSINO, GOETHE e SCHELLING. Na forma dada por GOETHE e SPINOZA ele age pela sua densidade, unindo o pensamento científico puro com um aprofundamento ético e uma intensidade religiosa.
Voltemos então à vivência direta, ou seja à alma. Veremos então que as duas unidades básicas "EU" e "Mundo Exterior" não são claramente separadas mas que flutuam e se unem nas zonas limítrofes, O centro da consciência do EU é constituído pelo ponto imaginário atrás de tudo que experimentamos. O próprio corpo se agrupa em redor desse centro como representante exclusivo do EU. Mas seus componentes nem sempre possuem o caráter do EU. São o EU enquanto são sentidos como um complexo em conjunto. Eles podem, entretanto, ser isolados pela consciência que os contemplam, ser materializados e podem ser considerados não como EU, mas sim como um espécie de propriedade do mesmo. Nos dizemos "minha mão", "meu dedo" do mesmo modo como dizemos "meu chapéu" ou "meu relógio". Para as partes do corpo que não são ligadas a ele de modo sensível ou motor como as pontas do cabelo, as unhas, as secreções, a qualidade do EU diminui e se torna negativa na medida em que perde sua relação no espaço. Essas partes do corpo formam na consciência, a passagem para os objetos vizinhos como a roupa que já é sentida como mundo exterior, mas que ainda emanam uma certa consciência do EU quando dizemos p. ex. "ele me tocou" quando somente a roupa foi tocada.
7
8	D Essência da Alma
Vemos assim que existe uma série de coisas referentes ao próprio corpo e seu ambiente que pertencem à zona marginal entre o EU e o mundo exterior e que segundo a nossa consciência são registradas como EU ou NÃO-EU. Este fato é de grande importância para a compreensão de muitos estados da alma às vezes anormais:
Resumimos os fatores mais importantes:
1. Chamamos a vivência imediata de alma.
2. Esta vivência se divide nos 2 pólos EU e mundo exterior. Estes complexos de conciência "EU" e "Mundo Exterior" se cobrem em largas zonas
limítrofes.
3. Tudo que é psicológico ou vida interior se desenvolve do efeito recíproco entr e o EU e o mundo exterior ou seja aquele que recebe efeitos do
mundo exterior ou os transmite. (processo de reprodução ou de expressão).
4. Ao lado desses processos podemos ainda mencionar como 3" grupo de fenômenos psíquicos, a afetividade. Ela abrange tudo que acompanha os processos psíquicos no seu caminho da mais simples impressão sensorial e imagem através das impresões e raciocínios abstratos, até a decisão e os impulsos de escala de sentimentos, quer dizer de valorizações para o EU e os impulsos que deles emanam tais como: Os sentimentos mais simples de prazer e desprazer, de entusiasmo ou indiferença assim como os senti mentos complexos de amor, ira, medo, ódio, desejo. As funções descritas na III parte como "Impulsos e Temperamentos" pertencem à afetividade.
OS CONCEITOS MODERNOS DA RELAÇÃO CORPO-ALMA.
Antigamente, quando se falava das relações das funções psíquicas com o seu substrato corporal a fórmula "Cérebro e Alma" parecia impor-se já que os processos corporais oriundos da psique eram exclusivamente atribuidos ao cérebro. Mais tarde esse conceito foi reduzido para "Substância cinzenta e Alma", descobrindo-se em primeiro lugar as relações de certas regiões do grande cérebro com os processos mais elevados de percepção e fala e da decadência geral até a debilidade mental.
Hoje em dia o centro de gravidade do problema psico-físico mudou em
duplo sentido.
O interesse se concentra, além do córtex cerebral, que é mais recente, no sistema límbico e ao tronco cerebral o que se reflete na teoria dos equivalentes psíquicos de um modo decisivo. As pesquisas (Psiquiatria atual vol. 1/lA) levaram aos seguintes reconhecimentos: os fatores essenciais para uma vitalidade mais elevada e para a personalidade (funções da consciência, vida instintiva, e afetividade) têm sua representação cérebro-fisiológica não somente no cérebro e na região do tronco cerebral. Ao núcleo central da personalidade correspon. dem então, cérebro-fisiologic falando, o sistema límbico, os núcleos talâmicos, e o hipotálamo enquanto que o cérebro alto seria rebaixado a uma espécie de instrumento complicado do mesmo, um aparelho para registros diferenciados de produção singular. Não resta dúvida que uma inversão das perspetivas é fascinante, tanto mais que essa contemplação não é teoricamente forçada, mas corresponde a pesquisas recentes. Devemos ter em mente que a
Os Conceitos Modernos da Relaçâo Corpo-Alma	9
diferenciação muito fina da hereditariedade materializada no tronco cerebral, reações afetivas e modos de movimentos de reflexão são condicionados pela evolução do córtex cerebral e essa diferenciação justifica o essencial e o mais importante daquilo que chamamos de personalidade humana.
Provou ser insuficiente a redução da correlação psíquica sobre o cérebro. A pesquisa nos mostra de um modo convincente a influência determinante que as glándulas endócrinas (tireóide, glândula sexual, epífise, hipófise e cápsula suprarrenal) exercem sobre a vida psíquica, através do sistema nervoso, especial mente o "Temperamento" (afetos e impulsos). Como as hormônicas e o dien céfalo se encontram entre si, num efeito recíproco, no sentido de um círculo de sistemas superiores e que se regulam mutuamente, a antiga "Teoria Celular" de uma correspondência corporal-psíquica havia de ser mudada em favor de uma correspondência funcional (humoral e condutiva), "Teoria Humoral" e con dução de impulsos.
As relações mais importantes entre a estrutura corporal e a disposição psíquica (capítulo 7) encaixam-se estreitamente no círculo funcional: glândulas sangüíneas, sistema nervoso vegetativo, cérebro). Eles nos mostram uma psique que não está ligada exclusivamente a alguns órgãos corporais. O corpo todo, tomado anatômica e fisiologicamente, se tornou até certo grau o representante das correlações. Negligenciando a totalidade das interrelações humorais e vegetativo-nervosas no seu duplo efeito sobre o órgão nervoso central de um lado e da estrutura corporal e funções do outro lado, chegaríamos à conclusão que uma determinada psique somentepode ser imaginada com um corpo determinado visto simultaneamente de fora e de dentro funcional e anatomi camente.
Ao contemplarmos sob um ponto de vista mais elevado o organismo total não existe um contraste absoluto entre "forma" e "função". No meu livro, "Constituição e Caráter" demonstrei que a morfologia do corpo nos facilita o acesso às constantes funcionais mais exatas do organismo numa forma mensurável, prestando-se por isto ao estudo das correlações dentro da personalidade total psicofísica.
Ligado aos pensamentos neovitais (DRIESCH, 1914 entre outros) E. BEULER (1925) se opos a uma separação esquemática entre o psíquico e o não-psíquico respetivamente entre o psíquico e o físico. Ele nos mostra que ignoramos tudo, tanto no sentido positivo como no negativo sobre as funções conscientes nos processos puramente físicos (como por exemplo da consciência inerente a alguma célula isolada ou grupos inferiores de células). Todos os processos da vida são ligados à psique num sentido mais íntimo em graus maiores ou menores: 1. as funções mnésicas (SÉMON 1920) ou seja a capacidade de armazenar e reproduzir as impressões de estímulos antigos; 2. a capacidade da integra çíío ou seja a junção de tais impressões para unidades ativas maiores e 3. a utilidade de tais junções: o princípio teleológico. BL denomina e une os princípios vitais comparáveis a,o psíquico sob a denominação de "psicóides". A psique no seu conceito mais íntimo é para ele um caso especial e diferenciado da psicóide, quer dizer, de uma substância viva do universo. Tais formulações se ligam numa execução biologicamente precisa aos pensa mentos metafísicos de LEIRNIZ e SPINOZA. A acentuação da unidade entre processos "psíquicos" e "puramente neurológicos físicos" se adapta melhor aos mecanismos cerebrais complicadamente interrelacionado e de estrutura gra
duada do que a alternativa rudimentar de: o psíquico de um, o não-psíquico do outro lado.
DIFICULDADES DA LOCALIZAÇÃO NO CÉREBRO
Trata-se de desenvolver a ciência das funções cerebrais, pelos sintomas de supressão nas lesões de determinadas e circunscritas partes do cérebro. Já possuímos conhecimentos valiosos sobre a localização de sintomas de disfunção do cérebro. O lado negativo está bem consolidado enquanto que o positivo é algo hipotético e discutível. Perguntamos: qual é a função positiva da parte não atacada do cérebro cujos distúrbios são denunciados por vários sintomas? A dificuldade da resposta se prende à peculiaridade da estrutura do cérebro, a graduação de instâncias superiores e inferiores e a coordenação correlativa e vicariante das diversas partes do cérebro (BETHE 1931). A convulsão epilética por exemplo era considerada como sintoma de irritação que era considerado como "centro convulsionante". Perguntou-se em seguida: será que a convulsão é um sintoma de irritação e não da paralisa çao, da eliminação do córtex cerebral? A lesão do córtex não suprime a inibição de um centro sub cortical mais profundo que por sua vez provoca a convulsão? E se assim for, qual dos centros? Este exemplo nos mostra a complicação básica de todas as questões de localização do cérebro e que se repetem nos fenômenos de pertur bações psíquicas, em relação a certas regiões cerebrais. Nas explicações seguintes ater-nos-emos de preferência aos negativos comprovados da fisiologia cerebral. Quando falamos em localização, centros, etc., referimo-nos aos centros de dis túrbios. Pelos impulsos experimentais que provocam atividades, como movi mentos por exemplo, as funções clínicas negativas são complementadas de um modo muito valioso, esclarecido e comprovado. Devemos considerar entretanto que o impulso da corrente dos eletrodos numa parte do cérebro, constitui uma intervenção perturbadora e um caso limítrofe doentio. O "sujeito" não con seguirá deste modo e a partir de um pequeno ponto, sua produção psíquica e motora.
De mais a mais, todas as localizações cerebrais se fazem empiricamente segundo a simples formulação casual: quando A acontece, acontece também E, ou quando A se junta a B, acontece C, ou se A falha, B não entra em ação. Quer dizer: no estímulo de uma região cerebral A, dá-se a função B ou vice- versa. Na lesão de uma determinada parte cerebral uma ação vital é omitida
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Da Essência da Alma
Explicações do Editor:
Com o auxílio da cibernética, teoria das informaçbes. respectivamente conseguiu-se construir modelos de pensamento para a já mencionada função 'mnésica" do lado físico-ma terial, mas não para a formação da "integração", quer dizer de combinaçbes que alcancem seu fim. (A finalidade, o "programa" de uma máquina deriva da conciência humana e não dos elementos de reação). É mero engano pensar que com o refinamento e a materialização sob o ponto de vista químico e físico, a alma se aproxime do corpo. Não existe nem ponte, nem zona de transição para ambos. A pesquisa esclarece apenas a comunidade formal exis tente (o que é muito importante sob o ponto de Vista médico-terapeuta) enquanto que as diferenças empíricas entre a consciência própria e consciência objetiva continuam inalteradas e irremoviveis. Valem apenas as fórmulas: "Corpo e alma" (percepção) ou "nem corpo, nem alma" (misticismo, morte). Mas nunca se poderá dizer "O corpo é a alma".
Personalidade e Personalidade profunda	11
ou é substituida por uma ação nova. Trata-se de comprovantes estatísticos da freqüência de ligações positivas ou negativas de certas partes do cérebro com determinadas funções ou realizações. A partir deste fato muito simples desven da-se a multiplicidade e complexidade do sistema funcional interrelacionado do cérebro todo, por pesquisas penosas feitas passo a passo. É. impossível recusar peremptoriamente e teoricamente todas as localizações do cérebro, pelo simples fato de não poder dizer-se que os mesmos efeitos se produzem em cada célula cerebral. Quando os clínicos e encefalogistas falam da localização de determi nadas funções psíquicas, não se trata de uma mitologia cerebral mas apenas uma fórmula passageira e abreviada descritiva de uma observação.
A classificação rígida de determinados rendimentos em relação aos arcos reflexos observados isoladamente foi relatada por GELE e GOLDSTEIN (1920) e CONRAD (1947) que consideram justificadamente toda reação biológica como uma reação do organismo todo, ao impulso da qual se destacam certos efeitos que agem de perto e certas reações do aparelho que reage ao impulso. Na patologia, não perguntamos somente qual a queda de produção que acompanha certas deficiências celulares e funcionais, mas também qual a capacidade de produção do cérebro reduzido. Justifica-se na apresentação teórica de certos dados psíquicos e psicofísicos a imagem do arco reflexo enquanto não se descuida da relação com o todo. Devemos ainda considerar que muitas conexões psicofísicas não passam de conseqüências circulares que dentro do seu círculo voltam a si mesmo, assim que as ocorrências entre a afetividade, glândulas endocrinas e centros vegetativos, cada etapa em si pode ser considerada como causa ou como efeito. Isto foi explicado do modo mais amplo possível por von WEIZSACKER. (1968) com os teoremas das atas biológicas e do círculo "gestáltico".
PERSONALIDADE E PERSONALIDADE PROFUNDA
Na parte principal precedente a relação corpo-alma começou a se tornar
problemática para nós, a independência absoluta e a peculiariedade do corpo
e da alma sob o postulado do dualismo.
Nos característicos estruturais comuns das esferas psíquicas e físicas que
em geral se diferenciam nitidamente devemos fixar conceitualmente dois graus
de integração a saber; a personalidade e a personalidade profunda.
Tomemos um exemplo da própria vida. Uma pessoa sofre de um pavor
repentino muitto intenso. Sua reação poderá ser dupla:
a) Um homem inteligente e bem equilibrado saberá julgar a situação geral de relance e - se lhe sobrar o tempo necessário - tomará uma atitude de defesa ou de fuga, pensando e agindo num só ato, por meio de uma série de reações psicomotoras motivadas e em consonânciacom a situação.
b) Se o susto for porém repentino e forte demais e em se tratando de um indivíduo lábil, este não reagirá por motivação mas por reflexo, que não é guiado por um EU superior decorrendo segundo um esquema premoldado complexo e ontológico. Costuma-se falar em síndrome de susto e pânico ou reações histéricas.
No caso a) o indivíduo reage com decisões cientes e motivadas, no caso b)
impõe-se a personalidade profunda com um mecanismo de comportamento
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Da Essência da Alma
altamente integrado. O termo "personalidade profunda" não significa um tumulto de reflexos mas reações psíquicas e físicas ordenadas que decorrem paralelamente, visando ambos a mesma finalidade biológica.
Nas histerias motoras demonstra-se freqüentemente por meio de experiên cias terapêuticas que a engrenagem da personalidade profunda e a engrenagem racional e voluntária não se processam lentamente e logicamente mas sob a influência de certos estímulos chave, como se a gente acionasse um comutador elétrico. A segunda embreagem poderá sob certas condições substituir por completo a primeira dependendo de observações cerebrais-fisiológicas mobili zando os agregados já formados da pessoa profunda (p. ex. ações de impulso) de determinados lugares do diencéfalo respetivamente nas partes localizada3 perto do tronco cerebral do cérebro básico.
O funcionamento da personalidade profunda não é somente ligado a situações dramáticas agudas. Quando pesquisamos o comportamento de pessoas sãs ou doentes encontramos padrões que se manifestam abrutamente interfe rindo com os impulsos racionalmente dirigidos, introduzindo-se subrepticia mente ou transparecendo em atos normais de funções volativas. Essa escala vai até os automatismos primitivos, como reflexos de sucção, de prensão, de bloqueio, automatismo de trepar, etc., nos processos de consumação muito graves de ordem cerebral-orgânica.
O conceito de Personalidade profunda que formulei segundo F. Ki (1919) não é apenas uma orientação heurística mas, substanciado pelas pesqui sas de base de vários lados. Ele abrange sistemas funcionais psico-físicos (psico.
-somáticos) com reações formuladas, automatismo e agregados e integrados, completos. Um processo tomado neste sentido - e basta pensar na "diabetes insipidas" - poderá ser considerado do lado sociológico como uma anomalia de impulso e do lado fisiológico como perturbação do metabolismo. A causa não é nem "a", nem "b", nem "b" a causa de "a". Ambos são aspectos de um
só processo que, no nosso exemplo, é dirigido pelo diencéfalo.
Ao lado das ligações afetivo-hormonal-vasomotoras, dos sentimentos vitais (matizes do ânimo) e tensões de comportamento individuais, fazem parte da personalidade profunda os estilos elementares de movimento, os modos de vivência que têm sua base filogenética nos graus anteriores ao instinto animal. Voltaremos mais detalhadamente ao assunto (capítulos 7 e 8). Podemos con siderar como substratos corporais desses agregados de ação e imaginação (com todas as limitações críticas) as regiões diencefálicas e mesencefálicas, os núcleos opto-estriados motores e todo o aparelho neuro-vegetativo em si.
Em nosso estudo experimental da biologia constitucional explicamos fenômenos que denominamos com a palavra chave de "relaçao transversal".
Guiamo-nos pelo fato que obtivemos em experiências de reação no mesmo tipo constitucional, freqüentemente curvas idênticas, tanto na psicomotricidade como no aparelho vegetativo e nas reações afetivas, ou com outras palavras, que a psicomotricidade, o vegetativo e o processo do afeto são guiados de modo semelhante.
Em vista disto podemos definir claramente o conceito da "Personalidade profunda". Ele é biológico e nada tem que ver com profundezas psíquicas no sentido filosófico. Não é tampouco idêntico ao conceito psicoanalítico de "Inconsciente" com o qual se cruza às vezes. Os critérios para o modo de funcionar da Personalidade profunda não são os graus de consciência mas, mecanismos e tipos de reação exatamente descritas. Enquanto que o conceito
os
personalidade e personalidade Profunda
de inconsciente se refere primordialmente à região psicológica, o conceito da Personalidade profunda delínea os integrantes psico-físicos que harmonizam entre si.
As manifestações da personalidade profunda n são absolutamente "in conscientes", mas:
e
e
1. involuntários,
2. coordenados psico-fisicamente e
3. padronizados dentro das suas normas.
("Involuntário" significa aqui que estas manifestações não são diretam racionalmente manipuláveis segundo a vontade.)
Elas têm sua origem em estímulos corporais ou motivos que as provocam não em reflexões.
2.° CAPÍTULO
PERCEPÇÃO SENSORIAL e ESTRUTURA DO MUNDO
PERCEPTIVO
As percepções sensoriais pelas quais o homem constrói os processos psíquicos de reprodução se dividem comumente em sensíveis e sensoriais. As qualidades sensíveis dos "sentidos comuns" podem ser sentidas até certo grau em qualquer parte do corpo. Elas se dividem em sensibilidade de tato (superfícies) e de profundidade (pressão, juntas, músculos e órgãos internos) além se sensações de temperatura e dores . As qualidades sensoriais somente serão absorvidas no local do órgão sensorial que a elas se destina. Pertencem a este grupo as sensações de olfato e paladar e os assim chamados sentidos mais elevados, visão e audição.
Todas estas formas sensoriais servem basicamente para a orienta çâ do organismo individual no mundo ambiente, para a conservação e aprimoramento da sua vitalidade, possibilitando os movimentos certos, em face a estímulos vantajosos ou nocivos, O "sentido" biológico do rendimento sensorial-perceptivo somente pode ser descrito em conexão com a "Motricidade". Uma sensação olfativa por exemplo não obedece a nenhuma necessidade biológica, mas no animal por exemplo ela servirá para uma aproximação motora a um objeto de alimentação ou de cópula, ou seja, uma ação automatizada guiada pelos instintos. Uma sensação de dor ou de calor tem seu "sentido" na reação provocada, seja a fuga ou a defesa diante de um objeto nocivo. A visão e o olfato exercem a mesma função de um modo mais complicado e egocêntrico. A impressão sensorial poderá somente ser desligada da sua obrigação vital num plano humano, tornando-se auto-suficiente, como valor estético por exemplo. Aqui aparece novamente a diferença entre personalidade e personalidade protunda.
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2º. CAPÍTULO
PERCEPÇÃO SENSORIAL e ESTRUTURA DO MUNDO PERCEPTIVO
As percepções sensoriais pelas quais o homem constrói os processos psíquicos de reprodução se dividem comumente em sensíveis e sensoriais. As qualidades sensíveis dos "sentidos comuns" podem ser sentidas até certo grau em qualquer parte do corpo. Elas se dividem em sensibilidade de tato (superfícies) e de profundidade (pressão, juntas, músculos e órgãos internos) além se sensações de temperatura e dores . As qualidades sensoriais somente serão absorvidas no local do órgão sensorial que a elas se destina. Pertencem a este grupo as sensações de olfato e paladar e os assim chamados sentidos mais elevados, visão e audição.
Todas estas formas sensoriais servem basicamente para a orienta çao do organismo individual no mundo ambiente, para a conservação e aprimoramento da sua vitalidade, possibilitando os movimentos certos, em face a estímulos vantajosos ou nocivos. O "sentido" biológico do rendimento sensorial-perceptivo somente pode ser descrito em conexão com a "Motricidade". Uma sensação olfativa por exemplo não obedece a nenhuma necessidade biológica, mas no animal por exemplo ela servirá para uma aproximação motora a um objeto de alimentação ou de cópula, ou seja, uma ação automatizada guiada pelos instintos. Uma sensação de dor ou de calor tem seu "sentido" na reação provocada, seja a fuga ou a defesa diante de um objeto nocivo. A visão e o olfato exercem a mesma função de um modo mais complicado e egocêntrico. A impressão sensorial poderá somente ser desligada da sua obrigação vital num plano humano, tornando-se auto-suficiente, como valor estético por exemplo.Aqui aparece novamente a diferença entre personalidade e personalidade profunda.
14	Percepçao Sensorial e Estrutura do Mundo Perceptivo
Para uma observação meramente biológica conseqüentemente não interessa se uma impressão sensorial se torna consciente, mas sim, se faz um apelo às disposições motrizes, com ou sem conscientização. A maioria das reações vitais provocadas por estímulos sensoriais se dá inconcientemente ou com a consciência diminuída. O grau de consciência de impressões sensoriais não depende do grau da complicação da tarefa motora em primeira linha, mas sim do grau de novidade e raridade da situação ou da responsabilidade inclusa. Podemos por exemplo manter o equilíbrio corporal ao andar sem o notar, um processo de movimento bastante complicado, enquanto que uma execução nova como por exemplo, a posição da perna num exercício de ginástica, se consegue somente com uma atenção concentrada, O mesmo acontece com as impressões senso- riais: o registro ótico complicado de um emaranhado de ruas que percorremos diariamente não exige quase nenhuma conscientização, enquanto que a procura de uma determinada porta de casa já exige maior conscientização e observação detalhada. A consciência que acompanha uma impressão sensorial ou um ato de movimento não é sob o ponto de vista biológico um "epifenômeno", mas está em relação proporcional ao trabalho de neo-orientação do organismo. As regulamentações senso-motoras do corpo não são capazes de conscientização e somente a imaginação do objeto e a finalidade se encontram na consciência.
O papel que as formas sensoriais desempenham na organização da vida psíquica varia muito entre elas. Devemos considerar as relações íntimas entre a "sensualidade", afetividade e instintos assim como as funções dos sentidos como base para os processos mais elevados: a imaginação e o pensamento. Em ambos os lados as regiões sensoriais são representadas em diversos graus de intensidade, o que nos permite dizer que as qualidades sensoriais menos dife renciadas possuem relações imediatas com a afetividade, enquanto que os sen tidos participam em maior grau e escalas mais complicadas de sentimentos na estruturação do mundo imaginativo, como no conceito de espaço e tempo. Não existe porém nenhuma fronteira delineada. Os "sentimentos comuns" que se abastecem dos sentimentos difusos internos e externos do corpo inteiro pertencem ao grupo de sentimentos "de parentesco afetivo", assim como sen sações de temperatura e dor, olfato e paladar. Ao segundo grupo dos sentidos sensoriais com pronunciada "formação imaginativa" pertencem as duas mais elevadas sensações de visão e audição com as quais colaboram essencialmente as sensações diferenciadas do tato, músculos e membros, na imaginação do espaço, por exemplo. Além disto elas possuem no seu caráter sensual direto, luzes, cores e sons - uma relação viva com a afetividade.
SENSAÇÕES DE PARENTESCO AFETIVO E TÁLAMO
É característico que sentimentos de parentesco afetivo, sob o ponto de vista psicológico, num só processo de vivência se apresentam como "sensações" e "sentimentos". No vocabulário psicológico convencionou-se chamar de "sen timento" os processos afetivos, e de sensação o que se refere ao processo sensorial elementar. Esta convenção prática não modifica em nada o verdadeiro parentesco dos dois grupos psíquicos. C. STUMPF (1928) pensa identicamente ao falar de "sensações de sentimento".
A sensação de dor pode servir como exemplo: podemos definir que a dor
é uma "sensação dos sentidos" (a) acompanhada de um determinado afeto,
Sensações de Parentesco Afetivo e Tdlamo	15
uma sensação de dor (b). A verdade vivida porém é outra: não é "b" que acompanha "a" mas "b" e "a" são idênticos naquilo que nos transmitem. A dor como fenômeno é tanto sensação como sentimento. Este conceito é de impor tância básica para nosso pensamento fisiológico, por exemplo em relação à função do tálamo. A separação rígida entre sentimento e sensação é usada como abstração, e não cabe no grau da vivência. Somente na diferenciação maior da percepção e imaginação o conteúdo e o afeto entram numa relação independente e variável, podendo ser contemplados em separado. O aspecto "casa" por exemplo ou sua imaginação não precisa ser acompanhado de um afeto acentuado. Num caso positivo e de acordo com o relacionamento pro duzem-se os afetos os mais variados.
Assim como na sensação da dor, a sensação do olfato, temperatura ou paladar nota-se um acento sentimental, uma identificação com a vivência. Uma sensação de calor e frio é agradável ou desagradável, a não ser na zona marginal onde ela desaparece como sensação.
O "sentimento comum" é conforme WUNDT "o sentimento total no qual se manifesta o nosso bem ou mal-estar sensorial". Este sentimento comum absorve os componentes de todos os sentimentos afetivos congênitos; impressões de superfície, de pressão e posição, de coração e intestinos, olfato e paladar até as impressões difusas de luz, cores e sons. Deste conglomerado de qualidades sensoriais parcialmente apenas percebidas se dá o corte transversal do nosso bem ou mal-estar atual que do seu lado é a soma dos sentimentos e o grau de afeto.
Isto é especialmente válido para os sentimentos complexos vitais como
fome, sede, excitação sexual cuja unidade fenomenal pode ser classificada como
complexo sentimental, ou afeto, por causa do impulso motor.
A teoria JAMES-LANGE acentuou de um modo muito refinado (1910) o parentesco entre sensações e sentimentos levando-os ao paroxismo da identi dade. Este ponto de vista pode ser defendido em relação ao grupo "sentimen tos vitais" e fenômenos da fisiologia cerebral. Além das sensações de tempe ratura e dor, olfato, paladar e outras sensações difusas como fome, sede e impulsos sexuais podemos incluir os afetos de medo e susto que são igualmente estados de alma e sensações corporais intensas com suas atitudes motoras. É porém difícil constatar quanto sobraria, vivencial e fenomenalmente, do afeto específico se deduzíssemos os complexos da sensação corporal muito caraterís ticos. A teoria deixa de ser completamente aplicável quando se trata de conteúdos psíquicos diferenciais onde a relação se torna mais frouxa. Conhe cemos por exemplo disposições de ânimo como "bem disposto" ou "triste" que possuem um substrato emocional diminuto.
Qual é pois a base fisiológica-cerebral de todos estes fenômenos e as ati tudes impulsivas que daí derivam? De acordo com tantos outros pesquisadores podemos supor que todas as vias sensíveis e sensoriais que vão da periferia ao cérebro se focalizam no "Tálamo ótico". Oticamente visto o Tálamo forma um grande centro de comutação para todas as vias sensoriais que se irradiam para seus campos de projeção no córtex cerebral: o córtex visual no lobo occipital, o centro auditivo, no lobo temporal, na esfera sensorial do corpo, na circunvolução central posterior. Concentra-se provavelmente no tálamo a "imagem sensorial do corpo" ou o esquema corporal, quer dizer a imaginação de tamanho, forma, posição e movimento do corpo. Aqui encontram-se igualmente centros afetivos e da motricidade da fala (risada, impulso para
16	Percepçao Sensorial e Estrutura do Mundo Perceptivo
falar). O tálamo fica vizinho dos núcleos opto-estriados e ocupa no sistema sensível-sensorial como parte mais antiga do cérebro e outros centros mais diretamente ligados entre a periferia e o córtex cerebral, uma posição seme lhante como aqueles no sistema motriz.
A pesquisa das funções fisiológicas do tálamo está em estreita ligação com os problemas a serem discutidos sobre as pesquisas do tronco cerebral, a pesquisa do sistema nervoso vegetativo e a importância básica da relação entre o tronco cerebral e o cérebro, O tálamo forma junto com o hipotálamo (sistema nervoso vegetativo) e o sistema límbico (veja página 49) aquela parte do cérebro onde os diversos sentimentos recebem sua tonalidade e emotividade. Aqui se encontra o substrato da dor e talvez também do prazer enquanto que o córtex cerebral é essencial para a localizaçãoe reconhecimento da percepção. De mais a mais, o tálamo é o ponto de baldeação do qual os impulsos dos neurônios sensíveis passam aos do sistema vegetativo. Segundo este conceito o tálamo e suas regiões adjacentes seriam a central principal das funções sensíveis-sensoriais e por conseguinte dos afetos afetivos elementares a ela inseparavelmente ligados (percepção comum e vital). Todo o sistema forma ao mesmo tempo uma espécie de arco reflexo para reações visceral-afetivas e impulsivas e num sentido mais amplo uma central intermediária para a composição do processo esquematizado e sensomotor da vida dos instintos.
Os profundos estudos sobre a sensibilidade realizados por HEAD (1911) já levaram a conceitos semelhantes. Nos distúrbios focais no tálamo ele encon trou além dos distúrbios de sensibilidade, uma tendência de reação exagerada contra impulsos desagradáveis sem que fosse diminuído o valor limiar do estímulo doloroso. O mesmo estímulo se fazia sentir com maior intensidade do lado doente. Chegou-se a estranhas mudanças hemilaterais da emotividade ou seja da disposição afetiva de estímulos sensíveis e sensoriais. "Um dos nossos pacientes foi incapaz de ocupar seu lugar na igreja porque não podia agüentar o canto do lado adoentado" - enquanto durava o canto ele esfregava a mão doente. Um outro foi assistir uma sessão comemorativa da data do falecimento do rei Eduardo VII. Quando o coro começava a cantar "apoderou- se dele uma sensação horrível do lado afetado e sua perna ficou sendo agarrada e sacudida". Um paciente muito culto nos confessou que desde o ataque que tornara a metade direita do seu corpo mais sensível a impulsos agradáveis ou desagradáveis, sua ternura aumentara. "Tenho o desejo pronunciado de colocar minha mão direita sobre a epiderme suave de uma mulher. A mão direita exige consolo, parece que do lado direito busco sempre simpatia... Minha mão direita parece ter um dote mais artístico". A metade talâmica do corpo afetado reage, segundo HEAD, com maior intensidade ao elemento afetivo em relação a impulsos externos ou estados inter-psíquicos. Existe uma sensibilidade aumentada contra estados de prazer ou desprazer. KÜPPERS (1922) o exprime de modo pertinente da seguinte forma: "O paciente atacado de uma doença do tálamo unilateral tem uma alma diferente do lado esquerdo do que do lado direito; de um lado ele é mais carente de consolo, mais sensível, artístico, saudoso, do que do outro lado. Sem querer entrar em maiores detalhes citamos aqui de modo resumido o conceito de HEAn sobre a função do tálamo: "Acre ditamos que o órgão principal do tálamo seja o centro de consciência para certos elementos do sentimento. Ele responde a todos os impulsos capazes de provocar prazer ou des prazer ou a sensação de uma mudança no estado geral do paciente. O tônico dos sentimentos de sensações somáticas ou viscerais é
Sensaçôes Figurativas
o produto de uma atividade talâmica". Como somente a 8. parte do tálamo serve para transmissão espinha-cortical de sensações, podemos supor que os sentimentos elementares citados por HEAD se ligam a lesões simultâneas de regiões vizinhas.
Em relação à leucotomia de doentes mentais, nevroses coacta e estados de doenças graves, a pesquisa ganhou indiretamente novos impulsos e pontos de vista. Trata-se especialmente do estudo de supressões provocadas pela separação das vias fronto-talâmicas e que foram tratadas exaustivamente sob o ponto de vista anatômico por von HASSLER (1967). O fato é que na separação dessas vias se faz uma sensível diminuição dos afetos de irritação e impulsos de dor. Estudei situações semelhantes em casos de lesões graves provocadas por acidentes, da abóboda da órbita, denominando-as de "Perda da ressonância pessoal". Aqui devemos considerar desde já a cooperação do sistema límbico (ver página 49).
SENSAÇÕES FIGURATIVAS
As qualidades sensoriais até então tratadas tiveram um denominador comum: os momentos afetivos nelas integradas obrigam o organismo a reações biológicas positivas ou negativas de um modo imediato. Fazem-no de um modo elementar por fórmulas psicomotoras acopladas por reflexão ou instinto, sem produzir uma imagem da fonte sensorial. Uma opressão cardíaca ou uma dor intestinal possuem qualidades afetivas fortes e provocam assim de imediato, respostas reflexo-psicomotoras e vegetativo-nervosas. Não apresentam porém ao leigo em medicina nenhuma imagem do estado do órgão atacado e fre qüentemente nem uma indicação do órgão afetado. Isto se assemelha às sensa ções provocadas externamente e de parentesco afetivo, enquanto não as suplementamos ótica e tatilmente. Mesmo esgotando a escala inteira de sensações dolorosas que agem de fora sobre o nosso organismo, ela não nos fornece nenhuma imagem dos fatores externos que as provocam, de objetos situados fora de nós e muito menos ainda da sua localização no espaço. O mesmo acontece com o olfato e o paladar. Por meio da visão ou do tato ou um deles, podemos fazer uma imagem precisa do objeto "pera" por exemplo, embora nunca lhe tivéssemos conhecido aroma ou paladar. Mas um cego, ou desprovido do tato não poderia nunca construir uma imagem completa e objetiva por meio do olfato e paladar, que correspondesse ao objeto ótico-tátil de uma "pera". Seu olfato e paladar lhe forneceriam apenas sensações afetivas sem que tivesse a possibilidade de criá-las.
Com estes exemplos podemos explicar basicamente os diversos processos de trabalho do nosso aparelho sensorial. De um lado o afetivo, o reflexo e o instintivo, do outro lado o desenvolvimento de uma imagem do mundo exterior, de imaginações objetivas. A orientação biológica final e intentada dar-se-ia no segundo caso indiretamente pelo caminho tortuoso, pela imagem do exterior e possivelmente sem participação do afetivo. Não acontece porém que certos sentidos tivessem somente uma orientação de trabalho e outros sentidos uma outra também. Determinados grupos sensoriais levam preferencialmente para ambos os lados, enquanto que elementos de qutros grupos se misturam neles. A imagem "pera" evoca aroma e paladar, a palavra "fogão" calor, acrescenta remos talvez à palavra "faca" a sensação dolorosa, sem sentido constitucional. Num outro sentido o sentimento comum, o bem ou mal-estar (fatores cardinais
17
Percepçdo Sensorial e Estrutura do Mundo Perceptivo
e decisivos da soma das sensações corporais difusas) ficam enriquecidos por qualidades elementares de luz, cor e som do ambiente, sem que estes fatores ulteriores fossem necessários. Uma sensação vital como fome, ou excitação sexual pode provocar a imagem ótica de determinado prato ou de um compa nheiro sexual, sem que essas sensações se alterassem significativamente com a ausência do respetivo correlato ótico. Mesmo para efeito motriz a sensação de fome p. ex. não precisa de uma sensação imaginativa e material dos objetos exteriores, mas apenas a orientação através de certas qualidades difusas de olfato, paladar e consistência.
Já vimos quais as sensações dos sentidos que se aplicam ao processo da imagem: Ao catalogar as sensações em imagens e relações espaciais, ou seja na evolução para as imaginações do espaço, a dominante é a sensaçao da visao em íntima colaboração com as sensações de tato e posiçao sendo que estas últimas permitem um conceito mais desenvolvido do objeto, mesmo sem o controle da visão (no caso de cegos ou no escuro).
A imaginação do espaço se origina do fato de que, o indivíduo é capacitado a unir com a visão e o tato das superfícies da epiderme, uma grande quantidade de estímulos isolados num ato só. Parece que as impressões isoladas se dife. renciam de acordo com o local no qual são provocadas, pois sabemos diferenciar entre dois contactos de epiderme limítrofes. Esta diferença de sinais sensórios originados de pontos distanciados do corpo foram tomadas como qualitativos (o que não é comprovado!) denominando-a de sinal local. A distância que separa dois estímulos isolados que agem juntos, chama-se limiar do espaço. O limiar é em certas partes do corpo que permitem umadiferenciação sensorial mais exata (as pontas dos dedos ou a retina do olho) menos desenvolvida. A distância do estímulo sensível é mais reduzida do que em outras regiões do corpo. Daqueles dois fatos, a recepção simultânea e a diferenciação entre muitos estímulos resulta a base para uma coordenação recíproca destes estímulos no sentido de um campo visual, respetivamente campo tátil e por conseguinte de imaginação bi-dimensional do espaço. Para o desenvolvimento da tri-dimen sionalidade do espaço podemos citar diversos fatores experimentais como por exemplo o estereoscopo que provoca o efeito do assim chamado eixo parral binocular (a cobertura pouco exata da imagem da vista esquerda e da direita) e as sensações musçulares provenientes do movimento convergente dos olhos. Para se obter a tri-dimensionalidade do espaço e a imaginação de "objetos" torna-se indispensável a sensação de movimento (músculos oculares, extremi dades, articulações), para se poder tatear de todos os lados. Todos estes fatores aqui alinhados das sensações de visão, tato e movimentos ainda não perfazem a imaginação de objetos e espaço em si. Somente o trabalho coordenador e unificador do subjeto leva à "percepção".
A velha disputa, se a imaginação do espaço e do tempo é adquirida (teoria empírica) ou inata como última categoria (teoria nativista) pode ser respondida pela evolução biológica como segue: Fenômenos tão complicados como, ima ginação de tempo e espaço devem ter evoluído de origens mais simples, sendo que muitas hipóteses podem ser isoladas experimentalmente. Isto não quer dizer que, cada ser humano deve reconstr por si mesmo a imaginação do tempo e do espaço. As tendências visando o pensamento tempo-espaço serão preformadas aos poucos como qualquer outro patrimônio genético ou filogené tico sendo, até um certo ponto inato.
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Grau Configuratk e Grau de Realidade	19
Os impulsos do mundo exterior se alinham no ouvido de uma outra forma. Ele participa da imaginação temporal que é favorecida pelos impulsos rítmicos do corpo, como no andar por exemplo, o que WUNDT já ressalta. Mais impor. tante porém para a imaginação temporal é função mnemônica do cérebro que permite uma ligação em paralelo de engramas de intensidade variada ao lado das impressões novas gradualmente mais fortes. Neste fator quantitativo de graduação da memória mais recente das imagens interiores (simultaneamente como marcos de distância) baseiam-se talvez as imaginações da duração da memória. A fraqueza da memória de fixação de KORSAKOFF nos mostra que a imaginação temporal é intimamente ligada à integridade das funções de referência e de memória, e que desaparecem em lesões graves das mesmas. Quando por graves comoções afetivas (luto, choque) a escala natural da inten sidade da memória é interrompida no sentido de um enfraquecimento retró grado, a exatidão de medir o tempo sofre consideravelmente.
O sentido da audição ganha entretanto sua importância máxima para a vida psíquica mais elevada, como fator central do desenvolvimento da língua. É somente pela linguagem que o princípio se desenvolve e representa o instru mento mais delicado do nosso pensamento: o principio da abstração ou seja a formação de conceitos sensorialmente imperceptíveis. Trata-se pois da redução das imagens do mundo exterior em traços essenciais e sua redução em conceitos mais condensados, por conceitos mais elevados; trata-se da classificação horizon tal e vertical (subsumação, coordenação) dos conceitos e categorias lógicas (identidade, não-identidade). Disto fazem parte as relações de pensamento:
causa, conseqüência e sentido . A palavra representa o único veículo para a imaginação abstrata, que sem ela é incapaz de se fixar ou transmitir. Já conhecemos a relação entre gramática, construção de frases e lógica.
GRAU CONFIGURATIVO E GRAU DE REALIDADE
Chamamos de grau con figurativo o vo'ume em que os impulsos isolados, absorvidos pelos nossos órgãos sensoriais e processados pelo sistema nervoso, se agrupam e diferenciam no consciente. A formação preparatória não se processa nos órgãos sensoriais, sendo antes uma função do córtex cerebral. O olho em si não capta, casas, árvores, nuvens, mas fornece apenas a matéria-prima, as qualidades sensoriais básicas, claro, escuro verde, amarelo etc. Consideramos o grau configurativo que as nossas impressões sensoriais alcançam numa ordem de espaço e tempo numa abstração de diversos graus de intensidade e conotação lógica.
Ao lado disto captamos os produtos do processo de repr numa segunda escala u seja pelo grau da "realidade". Uma imagem que surge em nós como atenas pensada como imaginação, ou como vista ou ouvida de fato é tratada como "percepção". Ligam.se aqui duas séries diferentes de qualidade, de um lado a "localização" da imagem no interior da nossa cabeça ou no mundo exterior. Diferente deste "subjetivo" ou "objetivo" é o "juízo da realidade" ao nos perguntarmos até que ponto a imagem seja verdadeira. Nem sempre os dois juízos podem ser diferenciados assim por exemplo na relação mística com o mundo, especialmente nos esquizofrênicos que tomam uma voz interna como verdadeira e vindo de fora ou que consideram algo de interno como dependente do EU conforme STORCH (1922) e REIss (1921) o verificaram no
20	Percepçao Sensorial e Estrutura do Mundo Perceptivo
estádio inicial. O grau de realidade das imagens que surgem em nós depende ainda de fatores quantitativos, do número e da precisão dos detalhes. A ímaginaçao "casa" é muito menos sensorial e carece muito mais de detalhes do que a percepção "casa". Isto se nota especialmente quando se reproduz objetos complicados pela memória ou pela própria natureza. Todas estas questões de relação entre o EU e o mundo exterior, da realidade da projeção e introjeção desempenham um papel importante na psicologia étnica e na psicopatologia. É importante saber que a suposta separação básica (JASPERS 1946) entre ima ginação e percepção não se pode confirmar pela experiência psicológica e que, segundo a opinião da maioria dos pesquisadores, deve haver uma escala con tinua de transição entre ambos. (JAENSCH 1923). Pacientes esquizofrênicos por exemplo, por mais inteligentes que sejam muitas vezes não sabem dizer se têm pensamentos vivos ou se vivenciam coisas vistas e ouvidas.
Uma importância básica deve ser atribuida às séries experimentais extensas de JAzNscH (1921) e seus colabordaores que pesquisam o "tipo visual Eidético". Este é especialmente acentuado em adolescentes e talvez também em populações aborígenes. No material de alunos de KROH (1927) as imagens de percepção eidéticas se evidencic em mais de 40% dos casos até 15 anos de idade, dimi nuindo rapidamente daqui em diante, O tipo visual eidético é ontogenetica mente o mais velho e representa a unidade não diferenciada original da vivência dos sentidos pela qual se diferenciam a percepção de um lado e a percepção visual do outro lado. Os eidéticos sabem preservar a percepção como uma imaginação nítida. (Existem fenômenos análogos no sentido do ouvido e da epiderme). O eidético continua a ver um objeto qualquer depois de ter sido tirado da sua vista, com o caráter da sua sensação. Ele poderá localizar esta imagem numa superfície mensurável e descrevê-la em todas as suas minúcias, Esta imagem é viva e bem formada. Numa série apropriada de experiências ela poderá ser diferenciada das imagens a posteriori conhecida pela fisiologia dos sentidos como das imaginações em si. Mostra ao mesmo tempo uma relação de parentesco com imaginações e percepções. A esta última, a imagem está ligada segundo o tamanho aparente e o assim chamado desvio horoptérico (KIENt.r 1968). Trata-se de uma expressão de atividade psíquica que guarda a percepção e a transforma ou que produz objetos sem percepção.
As pesquisas de JAEN5cH nos fornecem pontos de vista importantes para certos problemas artísticos (uma disposição pós-puberal eidética em certos poetas e pintores como fundamento das suas intuições), o que leva à pesquisa de talento segundo os tipos em si.
Devemosseparar rigidamente o efeito posterior eidético da força de ima ginação pictórica. Ela depende indiretamente apenas da percepção ótica (me. mórias) produz independentemente e desempenha um grande papel na fan tasia criativa, artística organizadora bem como nos sonhos lúcidos e ao dormir, Pode-se notar oscilações consideráveis no grau de formação e realidade.
Para a base psicológica do grau de realidade só existem pontos de apoio aproximativos. Em geral a força ele formação diminui consideravelmente em casos de cansaço, exaustão, efeitos difusos de venenos, infecções ou destruições provocadas no cérebro. Isto se aplica igualmente ao grau de probabilidade, visto que ambas as escalas são muitas vezes afetadas simultaneamente.
DISTORÇÕES DA PERCEPÇÃO E ALUCINAÇÕES
As distorções de formação, acentuadas dinamicamente se notam sob os efeitos de certas drogas como por exemplo o ácido lisérgico (as paredes se movem e distorcem, metamorfose animalesca de móveis e outros). As mu danças cromáticas fazem parte dos sintomas da mescalina (cacto Peyotl) Psilo zybin (cogumelo) e envenenamento por LSD por meio de reforço ou mudança de cores. Nas lesões da região parieto-occitipal dão-se graves distúrbios no reconhecimento de cores: linhas parecem curvas, as casas mudam de posição e forma, objetos se modificam ou mu4am de tamanho. Nestas distorções h a ingerência de percepções exatas e processos psíquicos subjetivos estimulados organicamente.
No grau das alucinações (alucinação dos sentidos) as imaginações são independentes da impressão sensorial e têm origem espontânea. Motivos altera dos de reminiscências, que fornecem apenas a "matéria" estabelecem uma relação indireta para apercepções anteriores. As assim chamadas alucinações hexógenas (maxixe e cocaína por exemplo) se manifestam sob uma forma muito real, desdobrando-se um elevado grau de excitação. As alucinações esquizofrênicas podem ser menos diferenciadas e materiais o que não influencia sua intensidade significativa e sua explosividade afetiva.
Em estados de toxicomania (e eventualmente em doenças mentais incipien tes) existem as mais variadas fases entre perturbações e alucinações que variam constantemente. Afetos, noções de espaço e tempo são igualmente atacados. Isto fica comprovado pelo envenenamento por mescalina (MAYER-GROSS 1928) que causa - de forma parecida com o LSD e Psilozybina - as seguintes altera ções: 1. variação de grau na intensidade da vivência sensorial com noção mais aguda de diferenças, as impressões comuns parecem mais fortes e as mais fortes extremamente ruidosas e dissonantes; o mundo em redor se ilumina, cheio de sol, brilhante, cheio de harmonia, mais colorido e plástico, muito impressionante; também em seus menores detalhes, os rostos humanos que ficam ao redor ganham em dramaticidade. Por outro lado o paciente pode sentir-se torturado por uma falta de capacidade de impressão, de frieza, vácuo e monotonia. Trata-se de efeitos sobre a tonalidade dos afetos, o colorido afetivo das impressões que já encontramos de forma parecida nas perturbações do tálamo. Outros fenômenos são: 2) forte redução da percepção de movi mentos como acontece em pessoas de cegueira psíquica com lesão occipital. Os movimentos dos seus semelhantes parecem aos do dopado, como solenes e vagarosos ou de uma vivacidade exagerada. Nota-se uma mudança de local mas não o processo que a provoca, o que indica distúrbios na noção do espaço e do tempo. 3. surgem então sinestesias abundantes (LEHMANN 1881, MARTIN 1909, E. BLEULER 1913) quer dizer à excitação de um sentido na exci tação de um outro. Ao se ouvir determinados sons, surgem determinadas cores, o que manifesta também no toque e na dor. O latir de um cão provoca a oscilação na iluminação de um quarto, um bater provoca a mudança das tona lidades coloridas de uma paisagem. A percepção muda de imediato para a alucinação. 4. A noção do tempo e do espaço se modifica. Em casos especiais o mundo inteiro se estende como um tapete diante da visão. Tudo se pode alcançar. Em certos sentidos o dopado vive somente o presente. Não existe nem passado nem futuro, em favor do presente. A expansão do espaço e a concentração do tempo explicam que o doente sente no esvaziamento ou na
Distorções da Percepçao e Alucinações
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22	O Córtex Cerebral e as Manifestações Mnemo Associativas
ameaça do seu torpor, um aniquilamento terrível, e em caso de fantasias amenas um enriquecimento nunca antes experimentado. Estes efeitos tóxicos criam mudanças profundas das relações da pessoa atingida com seu ambiente e seu conceito universal. Parece evidente o parentesco deste tipo de experiência com a esquizofrenia aguda. Mesmo assim não se conseguiu ainda explicar bioquimicamente ou celular-estruturalmente esta relação de parentesco.
1º. CAPÍTULO
DA ESSÊNCIA DA ALMA - O EU E O MUNDO EXTERIOR, ESPIRITO E MATÉRIA
Chamamos de alma a vivência imediata, tudo que é sentido, percebido,
imaginado e desejado. Alma, por exemplo, é uma árvore, um som, o sol,
enquanto a percepção e a imaginação a aceitam como árvore, som ou sol. Alma
é o mundo como acontecimento, a soma de todas as coisas vistas subjetivamente,
o conjunto de todos os movimento internos não ligados aos objetos.
Dentro da soma de vivência direta observamos uma tendência coercitiva de polarização em dois pontos: os polos opostos o "Eu" e "O mundo exterior". O "Eu" é o ponto focal mais intenso da vivência junto com o sentimento da unidade indivisível, único no seu gênero, e na sua relação íntima com todos seus componentes. O sentimentto imediato do Eu ou consciência da personali dade não é esclarecido e está cheio de contradições internas. Este sentimento do Eu se refere ao acontecimento em si, que chamamos de "minha alma" e a uma parte do vivericiado que chamamos "meu corpo". Esta consciência do Eu mostra a tendência de separar-se das suas partes isoladas pelas quais a queremos pegar, retirando-se por assim dizer, cada vez mais em si mesmo. "Não sou eu, é apenas meu dedo" ou "Não sou eu, mas apenas um pensamento ruim que me ocorre". Em última conseqüência o que sobra do EU é apenas um ponto imaginário daquilo que vivenciamos. O EU é ao mesmo tempo a coisa mais imaginada possível ou a coisa imediatamente mais certa. Isto porém não basta. Para completar a confusão a alma é projetada para dentro do EU. A alma, que não seria outra coisa senão a soma de tudo que experimentamos é sentida como uma segunda coisa, como uma segunda personalidade interna que vive encaixada na personalidade exterior, ou seja no corpo. A alma é a soma de tudo que vivemos e o EU parte deste acontecimento e que fica sobrando daquilo que nós chamamos de mundo exterior. Do outro lado a alma é parte do EU, aquela parte que sobra quando subtraímos o corpo.
Tudo aquilo que vivemos e que não sentimos como EU é o mundo exterior. Não podemos saber e nunca saberemos provavelmente se um mundo exterior existe fora da nossa vivência. Ë importante saber e compreender que tudo que pesquisamos nas ciências naturais constitui um atributo da nossa alma e não os objetos em si. Cores, tonalidades, calor, movimentos assim como plantas, animais e pedras refletem apenas as impressões dos nossos sentidos. A experiên cia nos transmite apenas impressões visuais, auditivas e táteis. "O olho produz
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a luz e o ouvido os sons, fora jamais poderemos saber de nós, eles não existen nós lhes emprestamos tudo" (LICHTENBERG). Se existisse fora da nossa exp riência, fora das nossas sensações, "a coisa em si" (KANT), um mundo md pendente, que ainda existiria se nossa psique desistisse de criá-lo.
Isto não nos deve causar dor de cabeça. Basta verificar que "dentro" d nossa vivência, o mundo se separa para nós em duas zonas: o "EU" e o "Mund Exterior". Querendo formular esta separação sob o ponto de vista do El em palavras (Solipsismo) diríamos: O EU cria pela sua própria força o Não-El (FIcHTE). Tudo que experimentamos se passa no EU. Parte dessa experiênci é projetada para fora do EU como se existisse como mundo exterior

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