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FEAD – Minas Centro de Gestão Empreendedora DISCIPLINA: NUTRIÇÃO DE RUMINANTES “Cálculo de Rações para Ruminantes” Prof. Breno Mourão de Sousa Belo Horizonte – MG 2007 NUTRIÇÃO DE RUMINANTES “Cálculo de Rações” Prof. Breno Mourão de Sousa 2 1. INTRODUÇÃO AO CÁLCULO DE RAÇÃO PELO QUADRADO DE “PEARSON” Um balanceamento de ração (dieta total) baseia-se no fornecimento de nutrientes em proporções e quantidades que nutrirão devidamente um certo animal por 24 horas. Portanto, o balanceamento de ração é caracterizado por 3 passos importantes: � 1o Passo: calcular o provável consumo animal, ou seja, o consumo de matéria seca (CMS); � 2o Passo: calcular os requisitos nutricionais do animal, em função do seu estado fisiológico; � 3o Passo: determinar a quantidade e a qualidade dos alimentos disponíveis que devem ser utilizados na alimentação para satisfazer os requisitos nutricionais de bovinos, dentro de seu esperado consumo de MS, ou seja, o CMS. Dentro deste passo, encontra-se a necessidade de conhecer a concentração de cada um dos nutrientes importantes (energia, proteína, frações fibrosas, cálcio e fósforo) dentro de cada um destes ingredientes/alimentos. 1.1 PRIMEIRO PASSO Os requisitos para o CMS, como percentagem do peso vivo de vacas em lactação pesando de 400 a 800 kg, com produção de leite de 10 a 60 kg, corrigido para 4% de gordura por dia estão na Tabela 1. Tabela 1: Requisitos de consumo de matéria seca (CMS) para preenchimento dos aportes nutricionais de mantença, produção de leite e ganho de peso vivo (PV) durante a lactação média e final. PV (kg) 400 500 600 700 800 LCGc (4%) (kg) ............................% sobre o PVa, b............................ 10 2,7 2,4 2,2 2,0 1,9 15 3,2 2,8 2,6 2,3 2,2 20 3,6 3,2 2,9 2,6 2,4 25 4,0 3,5 3,2 2,9 2,7 30 4,4 3,9 3,5 3,2 2,9 35 5,0 4,2 3,7 3,4 3,1 40 5,5 4,6 4,0 3,6 3,3 45 - 5,0 4,3 3,8 3,5 50 - 5,4 4,7 4,1 3,7 55 - - 5,0 4,4 4,0 60 - - 5,4 4,8 4,3 Fonte: NRC (1989). a = o CMS poderia ser até 18% menor no início da lactação; b = o CMS, como percentagem do peso vivo (%PV), poderá ser até 0,02 ponto percentual menor para cada 1% de aumento do conteúdo de umidade da dieta acima de 50%, caso alimentos fermentados constituam a maior porção da dieta. c = leite corrigido para 4% de gordura [LCG = (0,40 x kg leite/dia) + (15 x kg de gordura/dia)]. NUTRIÇÃO DE RUMINANTES “Cálculo de Rações” Prof. Breno Mourão de Sousa 3 Vacas gestantes, nos últimos 2 meses de gestação, conseguem ingerir de 1,6 a 1,8% de MS sobre o seu peso vivo. Esta redução no consumo pode ser conseqüência do efeito físico do feto em crescimento, que comprime o rúmen, reduzindo seu volume e sua capacidade de consumo. Os cálculos para o CMS devem ser sempre feitos após a conversão do leite para 4% de gordura, segundo a equação: Leite corrigido para 4% de gordura ou LCG (kg/dia) = (0,40 x kg leite/dia) + (15 x kg de gordura/dia)]. Para um mesmo peso vivo, a medida que produção de leite aumenta, o CMS também aumenta. Por outro lado, para uma mesma produção de leite, a medida que o peso vivo aumenta, o CMS diminui. Isto ocorre em função da relação peso do rúmen/peso corporal. A medida que o animal cresce em tamanho e peso vivo, o rúmen também cresce, mas em um ritmo menor. Logo, animais maiores e mais pesados têm, proporcionalmente, uma menor capacidade de consumo de alimentos. Tabela 2: Requisitos nutricionais diários de vacas em lactação e em gestação. Energia Minerais Vitaminas (1000 UI) PVa (kg) ELl (Mcal) EM (Mcal) ED (Mcal) NDT (kg) PB total (g) Ca(g) P (g) A D Mantença de vacas lactante adultasb 400 7,16 12,01 13,80 3,13 318 16 11 30 12 450 7,82 13,12 15,08 3,42 341 18 13 34 14 500 8,46 14,20 16,32 3,70 364 20 14 38 15 550 9,09 15,25 17,53 3,97 386 22 15 42 17 600 9,70 16,28 18,71 4,24 406 24 17 46 18 Mantença mais os últimos 2 meses de gestação de vacas secas adultas 400 9,30 15,26 18,23 4,15 890 26 16 30 12 450 10,16 16,66 19,91 4,53 973 30 18 34 14 500 11,00 18,04 21,55 4,90 1053 33 20 38 15 550 11,81 19,37 23,14 5,27 1131 36 22 42 17 600 12,61 20,68 24,71 5,62 1207 39 24 46 18 Produção de leite - Nutrientes/kg de leite de diferentes % gordura 3,0 0,64 1,07 1,23 0,280 78 2,73 1,68 - - 3,5 0,69 1,15 1,33 0,301 84 2,97 1,83 - - 4,0 0,74 1,24 1,42 0,322 90 3,21 1,98 - - 4,5 0,78 1,32 1,51 0,343 96 3,45 2,13 - - 5,0 0,83 1,40 1,61 0,364 101 3,69 2,28 - - 5,5 0,88 1,48 1,70 0,385 107 3,93 2,43 - - Mudanças no PV durante a lactação - Nutrientes/kg de mudança de peso Peso perdido - 4,92 - 8,25 - 9,55 - 2,17 - 320 - - - - Peso ganho 5,12 8,55 9,96 2,26 320 - - - - Fonte: NRC (1989). a = peso vivo; b = para permitir o crescimento de vacas jovens em lactação, aumentar o aporte de mantença, exceto os de vitaminas A e D, em 20% na primeira lactação e em 10% na segunda lactação. NUTRIÇÃO DE RUMINANTES “Cálculo de Rações” Prof. Breno Mourão de Sousa 4 1.2 SEGUNDO PASSO Os requisitos diários em nutrientes variam em função do estado fisiológico do animal, ou seja, se ele está em crescimento, gestante, engorda ou em lactação. Para vacas em lactação e nos últimos 2 meses de gestação, os requisitos nutricionais são exibidos na Tabela 2 e 3. As concentrações mínimas de FDA na MS da dieta devem ser de 19 a 21%, enquanto de FDN entre 25 a 28% (mínimo). O consumo de FDN suprido pela forragem será ótimo para valores em torno de 1,1 a 1,3% em relação ao peso vivo do animal. Pelo menos 75% de toda a FDN consumida pelo animal devem ser supridas pela forragem. 1.3 TERCEIRO PASSO A concentração dos nutrientes nos alimentos comumente utilizados na alimentação de bovinos de leite pode ser vista na Tabela 4, em base de MS. LEMBRETE: Para facilitar os cálculos de balanceamento de rações, alguns métodos práticos são de grande valia para agilizar a compreensão e o trabalho matemático. São: a) Quando se multiplica a quantidade de matéria natural (kg ou g MN) de um alimento pelo seu respectivo teor de matéria seca (% MS), obtém-se a quantidade de MS do alimento (kg ou g MS). Exemplo: 40 kg MN de silagem de milho x 33% MS da mesma silagem = 13,20 kg MS de silagem de milho. b) Quando se multiplica a quantidade de MS (kg ou g MS) de um alimento pela concentração de um dado nutriente do mesmo alimento (% nutriente na MS), obtém-se a quantidade do nutriente (kg ou g do nutriente). Exemplo: 13,20 kg de MS de silagem de milho x 0,33% de Cálcio na MS = 0,044 kg ou 44 g de Cálcio. c) Quando se divide a quantidade de MS de um alimento (kg ou g MS) pelo seu respectivo teor de MS (% MS), obtém-se a quantidade de MN deste mesmo alimento (kg ou g MN do alimento). Exemplo: 13,20 kg MS de silagem de milho / 33% MS da mesma silagem = 40 kg MN de silagem de milho. d) Quando se multiplica a quantidade de MS de um alimento (kg ou g MS) pelo seu respectivo teor de FDN (% FDN na MS), obtém-se a quantidade de FDN fornecido pelo alimento (kg ou g FDN). Exemplo: 7,50 kg MS de cana-de-açúcar picada x 70% FDN na MS = 5,25 kg FDN de cana-de-açúcar. e) Quando se divide a quantidade de FDN de um alimento (kg ou g FDN) pelo seu respectivo teor de FDN (% FDN na MS), obtém-se a quantidade do mesmo alimento em MS (kg ou g MS do alimento). Exemplo: 3,75 kg FDN feno de braquiarão / 61,50% FDN na MS = 6,15 kg MS de feno braquiarão. NUTRIÇÃO DE RUMINANTES “Cálculo de Rações” Prof. Breno Mourão de Sousa 5 Tabela 3: Recomendações do conteúdo de nutrientes nas dietas para vacas de leite.PVa da Vaca (kg) % Gordura GPDb (kg/dia) Produção de Leite (kg/dia) 400 5,0 0,220 7 13 20 26 33 500 4,5 0,275 8 17 25 33 41 600 4,0 0,330 10 20 30 40 50 700 3,5 0,385 12 24 36 48 60 Início da Lactação (0-3 semanas) Energia ELl, Mcal/kg CMS ELm, Mcal/kg CMS ELg, Mcal/kg CMS EM, Mcal/kg CMS ED, Mcal/kg CMS NDT, % MS 1,42 - - 2,35 2,77 63 1,52 - - 2,53 2,95 67 1,62 - - 2,71 3,13 71 1,72 - - 2,89 3,31 75 1,72 - - 2,89 3,31 75 1,67 - - 2,80 3,22 73 Equivalente Protéico (min.) Proteína Bruta, % MS PDR, % MS PNDR, % MS 12 4,4 7,8 15 5,2 8,7 16 5,7 9,6 17 5,9 10,3 18 6,2 10,4 19 7,0 9,7 Conteúdo de Fibra (min.) Fibra Bruta, % MS FDA, % MS FDN, % MS 17 21 28 17 21 28 17 21 28 15 19 25 15 19 25 17 21 28 Extrato Etéreo (min.), % MS 3 3 3 3 3 3 Minerais Cálcio, % Fósforo, % Magnésio, % Potássio, % Sódio, % Cloro, % Enxofre, % Ferro, ppm Cobalto, ppm Cobre, ppm Manganês, ppm Zinco, ppm Iodo, ppm Selênio, ppm 0,43 0,28 0,20 0,90 0,18 0,25 0,20 50 0,10 10 40 40 0,60 0,30 0,51 0,33 0,20 0,90 0,18 0,25 0,20 50 0,10 10 40 40 0,60 0,30 0,58 0,37 0,20 0,90 0,18 0,25 0,20 50 0,10 10 40 40 0,60 0,30 0,64 0,41 0,25 1,00 0,18 0,25 0,20 50 0,10 10 40 40 0,60 0,30 0,66 0,41 0,25 1,00 0,18 0,25 0,20 50 0,10 10 40 40 0,60 0,30 0,77 0,48 0,25 1,00 0,18 0,25 0,25 50 0,10 10 40 40 0,60 0,30 Vitaminas A, UI/kg D, UI/kg E, UI/kg 3200 1000 15 3200 1000 15 3200 1000 15 3200 1000 15 3200 1000 15 4000 1000 15 Fonte: Adaptado do NRC (1989). a = peso vivo; b = ganho de peso diário. NUTRIÇÃO DE RUMINANTES “Cálculo de Rações” Prof. Breno Mourão de Sousa 6 Tabela 4: Composição de alimentos para vacas em lactação Nutrintes (% na MS) Alimentos MS NDT PB FDN EE Ca P Silagem de milho 27,40 58,00 6,50 55,00 3,20 0,31 0,22 Milho, fubá 89,00 85,00 9,00 9,00 4,30 0,02 0,26 Soja, farelo 90,00 84,00 45,00 14,00 1,70 0,29 0,64 Soja, grão crua 90,00 92,00 38,00 30,00 20,00 0,25 0,60 Trigo, farelo 89,00 70,00 15,50 47,01 4,13 0,15 0,99 Calcário 99,00 - - - - 35,00 - Fosfato bicálcico 99,00 - - - - 23,00 18,00 PREMIX 99,00 - - - - - - f) Para cálculos de consumo de matéria seca (CMS) quando se multiplica o peso vivo do animal (kg PV) pelo consumo de MS em relação ao peso vivo (% CMS sobre PV), obtém- se a quantidade de MS ingerida pelo mesmo animal (kg MS ingerida). Exemplo: vaca de leite com 600 kg PV produzindo 35 kg leite com 4% de gordura, consome 3,7% de MS sobre o PV = 600 kg x 3,7% CMS = 22,20 kg MS ingerida pela vaca. É necessário lembrar que o quadrado de Pearson necessita sempre de dois valores: um maior que o valor desejado e outro menor que ele. Isto permitir o cruzamento de dados, obtendo a composição percentual dos ingredientes dentro do quadrado. O balanceamento de rações será do tipo simplificado, ou seja, ele será feito para fechar os requisitos de alguns nutrientes ditos essenciais. Serão eles: consumo de matéria seca (CMS), nutrientes digestíveis totais (NDT), proteína bruta (PB), cálcio (Ca) e fósforo (P). Os outros nutrientes terão seus requisitos atendidos ou fechados com o aumento da experiência do nutricionista. Os cálculos para a fibra em detergente neutro (FDN) serão feitos somente para se estimar a capacidade de consumo de volumoso pelo animal. 2. MODELO PARA CÁLCULO DE RAÇÃO EXEMPLO #1 Novilha da raça Jersey, com 250 kg peso vivo. Ganho de peso conhecido: 400 g/dia. Ela irá comer uma mistura de alimentos contendo: cana-de-açúcar e uréia (misturados juntos), caroço de algodão, fubá de milho, farelo de arroz, fontes de minerais e vitaminas, além de fontes específicas de cálcio (calcário calcítico) ou de fósforo (fosfato bicálcico), se houver necessidade. Os requisitos nutricionais para novilhas da raça Jersey são: CMS (kg) NDT (kg) PB (g) Ca (g) P (g) Requisitos diários 5,24 3,30 629 21 15 Concentração dos nutrientes na MS (% na MS) 100 62,98 12,00 0,40 0,29 NUTRIÇÃO DE RUMINANTES “Cálculo de Rações” Prof. Breno Mourão de Sousa 7 Nestes requisitos diários já estão inclusos as necessidades de mantença e ganho de peso. O cálculo para a concentração dos nutrientes na MS foi feito dividindo-se as quantidade de nutrientes (kg ou g) pelo CMS. O resultado foi multiplicado por 100 para passar os valores para percentagem da MS (% na MS): (3,30 kg NDT / 5,25 kg CMS) x 100 = 62,98% NDT na MS. Cuidados devem ser tomados para as diferenças de unidades. Alguns nutrientes têm seu valor absoluto (quantidade) em quilograma (kg), enquanto outros em gramas (g). Para o cálculo de concentração, faz-se necessário a conversão dos valores para quilogramas (1 kg = 1000 g ou 1 g = 0,001 kg). A concentração dos nutrientes na MS (em % da MS) dos alimentos disponíveis é: Alimento MS NDT PB FDN Ca P Cana e uréia 23,20% 58,41% 10,15% 54,77% 0,23% 0,06% Caroço de algodão 90% 96% 23% 44% 0,29% 0,64% Fubá de milho 90% 85% 9% 9% 0,02 0,30% Farelo de arroz desengordurado 90% 57,50% 18% 40% 0,11% 1,46% Calcário calcítico 99% * * * 35% * Fosfato bicálcio 99% * * * 23% 18% Com base no conhecimento dos requisitos e da composição dos alimentos disponíveis, pode ser iniciado o cálculo. Foi considerado um consumo de cana-de-açúcar no cocho de 18 kg MN por dia. Logo, isto representa 4,18 kg de CMS proveniente da forragem (18 kg MN consumida x 23,20% MS = 4,18 kg MS ingerida). Com este dado pode-se determinar o que a forragem está fornecendo dos requisitos diários, bastando multiplicar os 4,18 kg CMS pela concentração de cada um dos nutrientes no alimento (4,18 kg CMS x 58,41% NDT = 2,44 kg NDT). O que irá sobrar vai ser suplementado via concentrado. CMS (kg) NDT (kg) PB (g) Ca (g) P (g) Requisitos diários 5,24 3,30 629 21 15 Fornecido pela forragem 4,18 2,44 424 9,6 2,5 DÉFICIT 1,06 0,86 205 11,4 12,5 CONCENTRADO (% na MS) * 81,13 19,34 1,08 1,18 A linha referente ao CONCENTRADO significa exatamente a concentração dos nutrientes necessárias para satisfazer as necessidades nutricionais deste animal. Logo, a novilha será suplementada com 1,06 kg MS vindas do concentrado, que deverá ter 81,13% de NDT, 19,34% de PB, 1,08% de Ca e 1,18% de P. A relação volumoso:concentrado é de 79,7:20,3 (4,18 kg de CMS pelo volumoso / 5,24 kg de CMS total x 100 = 79,7%. Por diferença, o concentrado representa 20,3%). NUTRIÇÃO DE RUMINANTES “Cálculo de Rações” Prof. Breno Mourão de Sousa 8 Os cálculos para o concentrado serão feitos pelo quadrado de Pearson. Por ele, todos os valores a serem trabalhados deverão estar em termos relativos, ou seja, percentagem. Para formulação do concentrado, deve ser feita uma tabela para melhor visualizar o que está se utilizando. Alimentos Quantidade no CMS (%) NDT (%) PB (%) Ca (%) P (%) Caroço de algodão Fubá de milho Farelo de arroz Calcário Fosfato bicálcico JANELA de 4% Outros TOTAL 100,0 81,13 19,34 1,08 1,18 AJANELA de 4% representa um espaço na formulação do concentrado para a adição de outros alimentos, especialmente, fontes de cálcio e fósforo (calcário calcítico e fosfato bicálcio), produtos tamponantes (para regular o pH do rúmen), fontes de minerais traços e vitaminas, palatabilizantes, antioxidantes entre outros. Como os nutrientes mais importantes são o NDT e a PB, o quadrado de Pearson será feito somente com eles. Para fechar os requisitos de Ca e P, o processo será feito diretamente. A JANELA de 4% deixa um espaço residual de 96%, que deverá conter o caroço de algodão, fubá de milho e o farelo de arroz. No entanto, todo cálculo pelo quadrado de Pearson deve ser feito em cima de um espaço de 100%. Há necessidade da conversão dos valores de NDT e de PB do concentrado para 100%, bastando dividir os valores por 96%. � NDT = 81,13 / 96% = 84,51% NDT em 100% do concentrado � PB = 19,34 / 96% = 20,15% PB em 100% do concentrado Se desejar, pode ser aplicada regra de três, como no exemplo: NDT: 81,13%--------------------96% do concentrado X------------------------100% do concentrado Portando, o novo concentrado aplicado ao quadrado de Pearson (para 100%) deverá conter um NDT de 84,51% e uma PB de 20,15%. Apenas para padronização, o quadrado de Pearson inicia-se pela PB. Sendo assim, temos: 1o quadrado: Para PB com caroço de algodão e fubá de milho NUTRIÇÃO DE RUMINANTES “Cálculo de Rações” Prof. Breno Mourão de Sousa 9 Caroço de algodão 23% 11,15 partes 79,64% x 96% NDT = 76,45% NDT 20,15% NDT 1 = 93,76% Fubá de milho 9% 2,85 partes 20,36% x 85% NDT = 17,31% NDT 14 partes INTERPRETAÇÃO: Durante a realização do 1o quadrado, foi verificado que para se obter um concentrado com 20,15% de PB, haveria necessidade de misturar 79,64% de caroço de algodão e 20,36% de fubá de milho. Estas quantidades relativas ou percentuais dos alimentos foram multiplicadas pelos seus respectivos valores de NDT, para se obter a concentração de NDT do 1o quadrado, que foi de 93,76%. A necessidade de um outro quadrado já pode ser visualizado aqui, pelo valor de NDT obtido no 1o quadrado, de 93,76%. Para o concentrado em questão, com base em 100%, há necessidade de um NDT de somente 84,51%. O 1o quadrado ultrapassa a necessidade em 9,25% (93,76% - 84,51%). Logo, um 2o quadrado de Pearson deverá ser feito, a fim de garantir um valor de PB fixo (de 20,15%), mas um valor de NDT menor que o desejado (84,51%), para cruzar com o valor de NDT do 1o quadrado, em um 3o quadrado, fechando os requisitos de energia (NDT) e proteína (PB). 2o quadrado: Para PB com caroço de algodão e farelo de arroz Caroço de algodão 23% 2,15 partes 43% x 96% NDT = 41,28% NDT 20,15% NDT 1 = 74,06% Farelo de Arroz 18% 2,85 partes 57% x 57,50% NDT = 32,78% NDT 5 partes INTERPRETAÇÃO: Durante a realização do 2o quadrado, foi verificado que para se obter um concentrado com 20,15% de PB, haveria necessidade de misturar 43% de caroço de algodão e 57% de farelo de arroz. Estas quantidades relativas ou percentuais dos alimentos foram multiplicadas pelos respectivos valores de NDT dos mesmos, para se obter a concentração de NDT do 2o quadrado, que foi de 74,06%. Existem agora dois quadrados com igual valor de PB (20,15%), mas com dois valores de NDT: 74,06 e 93,76%. Isto possibilita a realização do 3o quadrado, cruzando os valores de NDT o 1o e do 2o quadrado, para obter o valor de NDT desejado de 84,51% sem afetar o valor de PB já obtido. 3o quadrado: Para NDT com o 1o e o 2o quadrado 1º Quadrado 93,76% 10,45 partes 53,05% 84,51% 2º Quadrado 74,06% 9,25 partes 46,95% 19,7 partes NUTRIÇÃO DE RUMINANTES “Cálculo de Rações” Prof. Breno Mourão de Sousa 10 INTERPRETAÇÃO: Durante a realização do 3o quadrado, foi verificado que para se obter um concentrado com 84,51% de NDT, foram necessários 53,05% do 1o quadrado e 46,95% do 2o. Portanto, no 3o quadrado existe um concentrado com 20,15% de PB e 84,51% de NDT. Mas ainda há necessidade de se conhecer cada uma das quantidades de alimentos necessárias para se obter este concentrado, em base 100%. Logo, os valores obtidos no 3o quadrado de Pearson para o 1o (53,05%) e para o 2o (46,95%) devem ser multiplicados pelos alimentos que compõem estes dois últimos quadrados: 1o quadrado (53,05%) � Caroço de algodão: 79,64% x 53,05% = 42,25% � Fubá de milho: 20,36% x 53,05% = 10,80% 2o quadrado (46,95%) � Caroço de algodão: 43% x 46,95% = 20,19% � Farelo de arroz: 57% x 46,95% = 26,76% Somando os resultados parciais: � Caroço de algodão: 62,44% � Fubá de milho: 10,80% � Farelo de arroz: 26,76% Os resultados são parciais porque o concentrado formulado até aqui está ajustado para 100%. Como no CONCENTRADO padrão foi deixado uma JANELA de 4%, existe agora a necessidade de multiplicar os valores percentuais dos alimentos por 96% e passar os resultados para a tabela. Os resultados finais são; � Caroço de algodão: 62,44% x 96% = 59,94% � Fubá de milho: 10,80% x 96% = 10,37% � Farelo de arroz: 26,76% x 96% = 25,69% Aplicando estas quantidades de alimentos à antiga tabela do CONCENTRADO, e multiplicando-os pelos seus respectivos conteúdos em nutrientes, obtém-se uma tabela mais elaborada e completa. Alimentos Quantidade no CMS (%) NDT (%) PB (%) Ca (%) P (%) Caroço de algodão 59,94 57,54 13,79 0,17 0,38 Fubá de milho 10,37 8,81 0,93 0,00 0,03 Farelo de arroz 25,69 14,77 4,62 0,03 0,38 Calcário * * * * * Fosfato bicálcio * * * * * JANELA de 4% Outros * * * * * TOTAL exigido 100 81,13 19,34 1,08 1,18 Fornecido pelo Concentrado 96 81,12 19,34 0,20 0,79 DIFERENÇA 4 - 0,01 0,00 - 0,88 - 0,39 NUTRIÇÃO DE RUMINANTES “Cálculo de Rações” Prof. Breno Mourão de Sousa 11 Os requisitos para PB foram prontamente atendidos pelo concentrado formulado, fechando exatamente no valor necessário (19,34% de PB). Mesmo que mínimo, ainda houve um déficit de 0,01% NDT. Mesmo assim, as normas de balanceamento de ração ditas pelo NRC permitem uma variação em torno da média de até 5%. Para o NDT, esta variação foi de 0,01% [(0,01 / 81,13) x 100]. São valores dentro do aceitável pelo sistema. No entanto, ficaram faltando 0,88 e 0,39% de cálcio e fósforo, respectivamente. Como dito anteriormente, os cálculos para estes dois nutrientes serão feito diretamente, usando as suas principais fontes, o calcário calcítico (Ca) e o fosfato bicálcio (Ca e P). ���� Fósforo (P) 100% de fosfato bicálcico-------------------------------18% P X----------------------------------------------0,39% P X = 2,17% de fosfato bicálcico será adicionado ao CONCENTRADO para fechar as necessidades de P. ���� Cálcio (Ca) Existe Ca no fosfato bicálcico. Logo, é necessário saber a quantidade de Ca fornecida por ele, para determinar o déficit final. Havendo, corrigir com o calcário calcítico. 100% de fosfato bicálcico-----------------------------23% Ca 2,17% de fosfato bicálcico---------------------------- X X = 0,49% de Ca foi fornecido pelo alimento Como o déficit de Ca era de 0,88%, fica faltando 0,39% de Ca no CONCENTRADO (0,88% - 0,49%). Estes 0,39% serão suplementados pelo calcário calcítico. 100% de calcário calcítico--------------------------------35% Ca X--------------------------------------------------0,39% Ca X = 1,1% de calcário calcítico deve ser adicionado ao CONCENTRADO para fechar as necessidades de Ca. A tabela final da composição do CONCENTRADO fica assim: Alimentos Quantidade no CMS (%) NDT (%) PB (%) Ca (%) P (%)Caroço de algodão 59,94 57,54 13,79 0,17 0,38 Fubá de milho 10,37 8,81 0,93 0,00 0,03 Farelo de arroz 25,69 14,77 4,62 0,03 0,38 Calcário 1,10 * * 0,38 * Fosfato bicálcico 2,17 * * 0,50 0,39 JANELA de 4% Outros 0,73 * * * * TOTAL exigido 100 81,13 19,34 1,08 1,18 Fornecido pelo Concentrado 100 81,12 19,34 1,08 1,18 DIFERENÇA 0 - 0,01 0,00 0 0 A adição de 0,73% na linha de outros foi para preenchimento de espaço do alimento concentrado, que pode ser sal branco (NaCl), mistura mineral-vitamínica, alimentos NUTRIÇÃO DE RUMINANTES “Cálculo de Rações” Prof. Breno Mourão de Sousa 12 tamponantes ou alcalinizantes (bicarbonato de sódio ou óxido de magnésio), manipuladores da fermentação ruminal (ionóforos) entre outros. INTERPRETAÇÃO: A novilha da raça Jersey será alimentada com uma mistura contendo 4,18 kg MS de cana-de-açúcar e uréia e 1,06 kg MS de um concentrado. Em termos de matéria natural, isto significa cerca de 18 kg de cana e uréia e 1,2 kg de concentrado, considerando um teor de MS de 90% para este último. Fragmentando os alimentos em termos MS consumida, temos o seguinte consumo: � Cana-de-açúcar e uréia = 4,18 kg de CMS/dia; � Caroço de algodão = 0,64 kg de CMS/dia (1,06 kg de CMS concentrado x 59,94% no concentrado); � Fubá de milho = 0,11 kg de CMS/dia (1,06 kg de CMS concentrado x 10,37% no concentrado); � Farelo de arroz = 0,27 kg de CMS/dia (1,06 kg de CMS concentrado x 25,69% no concentrado); � Calcário calcítico = 0,01 kg de CMS/dia ou 10 g de CMS/dia (1,06 kg de CMS concentrado x 1,1% no concentrado); � Fosfato bicálcico = 0,02 kg de CMS/dia ou 20 g de CMS/dia (1,06 kg de CMS concentrado x 2,17% no concentrado); � Outros = 0,007 kg de CMS/dia ou 7 g de CMS/dia (1,06 kg de CMS concentrado x 0,73% no concentrado). NUTRIÇÃO DE RUMINANTES “Cálculo de Rações” Prof. Breno Mourão de Sousa 13 EXEMPLO #2 Vaca mestiça Holandês x Zebu (7/8 HPB), pesando 575 kg peso vivo, com 90 dias de lactação (estádio), produzindo 27 kg leite/dia, com 3,5% de gordura. A vaca está ganhando peso, cerca de 250 g/dia (0,25 kg/dia). Os alimentos disponíveis para este animal são: silagem de milho, milho moído, farelo tostado de soja, soja grão crua, farelo de trigo, calcário calcítico, fosfato bicálcico, fontes de minerais traços e vitaminas (PREMIX). 2.1 PRIMEIRO PASSO: CÁLCULO DO CMS Os requisitos para o CMS de bovinos leiteiros encontram-se na Tabela 1. Nela, estão o consumo de MS em relação ao peso vivo do animal, levando-se em conta este mesmo peso vivo e a produção de leite. Primeiramente, deve-se corrigir a produção de leite para 4% de gordura através da fórmula: Leite corrigido para 4% gordura ou LCG = (0,40 x kg leite/dia) + (15 x kg de gordura/dia). É válido lembrar que 1) com o aumento da produção, há aumento do CMS e 2) com o aumento do peso vivo, há redução do CMS. A vaca em questão produz 27,0 kg diários de leite com 3,5% de gordura. Temos: LCG = (0,40 x kg leite/dia) + (15 x kg gordura/dia) LCG = (0,40 x 27,00) + [15 x (3,5% x 27,00)] LCG = (10,80) + (14,18) LCG = 24,98 kg leite/dia com 4% de gordura. Os cálculos referentes à linha (produção de leite com 4% gordura) devem ser feitos entre 20 a 25 kg leite/dia. Os cálculos referentes à coluna (peso vivo) devem ser feitos entre 500 a 600 kg. Em outras palavras, os cálculos devem ser realizados com base no modelo de interpolação. Ampliando o setor da Tabela 1 referente a estes dados, temos passo a passo, os resultados da interpolação: 500 575 600 20,00 3,2 2,9 24,98 X 25,00 3,5 3,2 O cálculo do CMS tem início a partir da interpolação dos dados da produção de leite, para os pesos vivos de 500 e 600 kg. Entre 20 e 25 kg leite/dia, tem 5 kg leite de variação. Para um peso vivo de 500 kg, entre 3,2% e 3,5% de CMS, tem 0,3% de variação. Logo, para cada kg de leite produzido acima de 20 kg/dia, o CMS deverá ser acrescido de 0,06% (0,3% / 5 kg = 0,06%/kg). O mesmo deve ser feito para o peso vivo de 600 kg. A produção de 24,98 kg leite/dia é 4,98 kg maior que a produção de 20 kg leite/dia (24,98 kg - 20,00 kg = 4,98 kg/dia). Logo, basta multiplicar o resultado para cada uma das variações referentes ao peso vivo de 500 kg (0,06% x 4,98 kg = 0,29%) e de 600 kg (0,06% x 4,98 kg = 0,29%) e o resultado somar ao valor de CMS de 20 kg leite/dia. Temos uma nova tabela: NUTRIÇÃO DE RUMINANTES “Cálculo de Rações” Prof. Breno Mourão de Sousa 14 500 575 600 20,00 3,2 2,9 24,98 3,49 X 3,19 25,00 3,5 3,2 Finda a interpolação para a produção de leite, segue para o peso vivo. Para produções de 24,98 kg leite/dia com 4% gordura, vacas com 500 kg de peso vivo terão 3,49% de CMS sobre o peso vivo. Aquelas com 600 kg de peso, terão 3,19% de CMS. Entre 500 e 600 kg de peso vivo, tem 100 kg de variação. Entre 3,49 e 3,19% de CMS, tem 0,30% de variação. Logo, para cada kg de peso acima de 500 kg, o CMS deverá ser reduzido de 0,003% (0,30% / 100 kg = 0,003%/kg). Vacas de 575 kg de peso vivo têm 75 kg peso a mais que as de 500 kg. Logo, a redução do consumo de matéria seca (CMS) deverá ser de 0,22%, em relação à vaca de 500 kg (0,003% x 75 kg). CMS da vaca de 575 kg peso vivo = 3,49% (vaca 500 kg) - 0,22% (correção) = 3,27% de CMS sobre o peso vivo. A tabela final fica assim: 500 575 600 20,00 3,2 2,9 24,98 3,49 3,27 3,19 25,00 3,5 3,2 O consumo de MS deste animal será: 575 kg x 3,27% = 18,80 kg MS ingerida diariamente. 2.2 SEGUNDO PASSO: REQUISITOS NUTRICIONAIS DIÁRIOS Para calcular os requisitos de mantença, produção de leite e ganho de peso, consulte a Tabela 2. � Mantença de vacas lactantes adultas: lista os requisitos em energia (NDT e outros), PB, Ca, P e vitaminas A e D, para vacas variando entre 400 a 600 kg de peso vivo. Vacas primíparas devem ter acrescidos 20% sobre suas necessidades de mantença para qualquer nutriente, exceto vitaminas. Para vacas de 2a cria, acrescer 10%. � Mantença mais os últimos 2 meses de gestação de vacas secas adultas: lista os mesmos nutrientes que a seção anterior. � Produção de leite: lista os mesmos nutrientes, mas por kg de leite produzido, em função do teor real de gordura no leite. Neste exemplo, deve ser multiplicado cada valor referente ao NDT, PB, Ca e P pela produção real da vaca, 27,0 kg leite/dia. � Mudanças no peso vivo durante a lactação: lista os nutrientes até PB. Corresponde ao ganho ou perda de peso do animal durante a lactação. A perda de peso ocorrerá nos primeiros dias da lactação (entre os primeiros 45 a 60 dias da lactação). O ganho ocorrerá dai por diante. Para isto, basta multiplicar a mudança de peso NUTRIÇÃO DE RUMINANTES “Cálculo de Rações” Prof. Breno Mourão de Sousa 15 real ou prevista (kg/dia) pelos valores referentes ao NDT e PB. Neste exemplo, basta multiplicar os valores por 0,25 kg/dia. Requisitos diários para: CMS (kg) NDT (kg) PB (g) Ca (g) P (g) Mantença - 4,11 396 23 16 Produção de 27 kg leite com 3,5% gordura - 8,13 2268 80,19 49,41 Ganho de peso (0,250 kg) - 0,57 80 - - TOTAL 18,80 12,81 2744 103,19 65,41 Valor Percentual 100% 68,14% 14,59% 0,55% 0,35% 2.3 TERCEIRO PASSO: CONHECER OS ALIMENTOS As concentrações dos nutrientes nos alimentos utilizados nesse exemplo, com base na MS, estão na Tabela 4. 2.4 CÁLCULO DE RAÇÃO Um bovino adulto tem capacidade física de ingerir alimento entre 1,2 a 1,6% de MS na forma de FDN em relação ao seu peso vivo. Considerando um consumo de FDN de 1,0%, uma vaca pesando 575 kg de peso vivo irá ingerir 5,75 kg de matéria seca na forma FDN. A forragem em questão (silagem de milho) tem 55,0%FDN. Dividindo-se o consumo de FDN pela concentração da mesma na MS da forrageira, obtém-se a quantidade de MS que será ingerida pelo animal proveniente da forragem. Logo: 5,75 kg FDN / 55% FDN na MS = 10,45 kg CMS. O consumo de silagem de milho pela vaca é de 10,45 kg MS/dia. Dividindo-se este valor pelo teor de MS da silagem (27,40% MS), obtém-se o consumo de silagem de milho na matéria natural (MN): 10,45 kg MS / 27,40% MS = 38,14 kg forragem/dia consumida. Relação Volumoso:Concentrado = 55,59:44,41 (com base na MS). ���� Requisitos diários fornecidos pelo volumoso: basta multiplicar 10,45 kg de CMS de volumoso pela concentração de cada um dos nutrientes do alimento. O que irá sobrar vai ser suplementado via concentrado. No entanto, foi assumido fornecimento a parte de 1,50 kg soja grão crua/vaca/dia, na matéria natural (MN), cerca de 1,35 kg ns MS (1,50 kg MN x 90% MS). Portanto, é necessário somar a quantidade de nutriente fornecido pelo alimento volumoso e pela soja grão crua, a fim de determinar o déficit final de nutrientes que irá ser suplementado pelo concentrado. Partindo dessa premissa, a organização tabular dos dados de consumo de nutrientes fornecido pelo alimento volumoso e pela soja grão crua fica assim demonstrada: NUTRIÇÃO DE RUMINANTES “Cálculo de Rações” Prof. Breno Mourão de Sousa 16 CMS (kg) NDT (kg) PB (g) Ca (g) P (g) Requisitos diários 18,80 12,81 2744 103,19 65,41 Fornecido pela silagem 10,45 6,06 679 32,39 22,99 Soja grão crua 1,35 1,24 513 3,38 8,10 TOTAL FORNECIDO 11,80 7,30 1192 35,77 31,09 DÉFICIT FINAL 7,00 5,51 1552 67,42 34,32 CONCENTRADO (%) 100,0 78,71 22,17 0,96 0,49 CONCENTRADO: a vaca de leite será suplementada por 7,00 kg MS vindas do concentrado, que deverá ter 78,71% de NDT, 22,17% de PB, 0,96% de Ca e 0,49% de P. Os cálculos para o concentrado serão feitos pelo quadrado de Pearson. Pelo quadrado de Pearson, todos os valores a serem trabalhados deverão estar em termos relativos, ou seja, percentagem. Para formulação do concentrado, deve ser feita uma tabela para melhor visualizar o que está se utilizando. Alimentos Quantidade no CMS (%) NDT (%) PB (%) Ca (%) P (%) Milho moído Farelo de soja Farelo de trigo 94 Calcário Fosfato bicálcico Premix 6 2 - - - - TOTAL 100 78,71 22,17 0,96 0,49 Uma JANELA de 6% foi criada e representa um espaço na formulação do concentrado para a adição de outros alimentos, especialmente, fontes de cálcio e fósforo (calcário calcítico e fosfato bicálcio), produtos tamponantes (para regular o pH do rúmen), fontes de minerais traços e vitaminas, palatabilizantes, antioxidantes entre outros. Nesse exemplo, o espaço de 6% foi destinado para adição de calcário calcítico, fosfato bicálcico e Premix mineral-vitamínico. Esse último por sua vez, foi forçadamente inserido no concentrado, ocupando 2% dos 6% destinados para aquele fim. Como os nutrientes mais importantes são o NDT e a PB, o quadrado de Pearson será feito somente com eles. Para fechar os requisitos de Ca e P, o processo será feito diretamente. Existe um espaço residual de 94%, que deverá conter o farelo de soja, milho moído e o farelo de trigo. Mas, todo cálculo pelo quadrado de Pearson deve ser feito em 100%. Há necessidade da conversão dos valores de NDT e de PB do concentrado para 100%, bastando dividir os valores por 94%. � NDT = 78,71% / 94% = 83,73% NDT em 100% do concentrado � PB = 22,17% / 94% = 23,59% PB em 100% do concentrado Se desejar, pode ser aplicada regra de três, como no exemplo: NUTRIÇÃO DE RUMINANTES “Cálculo de Rações” Prof. Breno Mourão de Sousa 17 NDT: 78,71%--------------------94% do concentrado X------------------------100% do concentrado Portando, o novo concentrado aplicado ao quadrado de Pearson (para 100%) deverá conter um NDT de 83,73% e uma PB de 23,59%. Apenas para padronização, o quadrado de Pearson inicia-se baseado na PB. Sendo assim, temos: 1o quadrado: Para PB com farelo de soja e milho moído. Farelo de Soja 45% 14,59 partes 40,53% x 84% NDT = 34,04% NDT 23,59% NDT 1 = 84,59% Fubá de milho 9% 21,41 partes 59,47% x 85% NDT = 50,55% NDT 36 partes INTERPRETAÇÃO: A necessidade de um outro quadrado já pode ser visualizada aqui, pelo valor de NDT obtido no 1o quadrado, de 84,59%. Para o concentrado em questão, com base em 100%, há necessidade de um NDT de somente 83,73%. O 1o quadrado ultrapassa esta necessidade. Logo, um 2o quadrado de Pearson deverá ser feito, a fim de garantir um valor de PB fixo (de 23,59%), mas um valor de NDT menor que o desejado (83,73%), para cruzar com o valor de NDT do 1o quadrado, em um 3o quadrado, fechando os requisitos de energia (NDT) e proteína (PB). 2o quadrado: Para PB com farelo de soja e farelo de trigo. Farelo de Soja 45% 8,09 partes 27,42% x 84% NDT = 23,03% NDT 23,59% NDT 1 = 73,83% Farelo de Trigo 15,5% 21,41 partes 72,58% x 70% NDT = 50,80% NDT 29,5 partes INTERPRETAÇÃO: Agora, existem dois quadrados com igual valor de PB (23,59%), mas com dois valores de NDT: 73,83 e 84,59%. Isto possibilita a realização do 3o quadrado ao cruzar os valores de NDT o 1o e do 2o quadrado, para obter o valor de NDT desejado, 83,73%, sem afetar o valor de PB já obtido. 3o quadrado: Para NDT com o 1o e o 2o quadrado 1º Quadrado 84,59% 9,90 partes 92,0% 83,73% 2º Quadrado 73,83% 0,86 partes 8,0% 10,76 partes NUTRIÇÃO DE RUMINANTES “Cálculo de Rações” Prof. Breno Mourão de Sousa 18 INTERPRETAÇÃO: Durante a realização do 3o quadrado, foi verificado que para se obter um concentrado com 83,73% de NDT, foram necessários 92% do 1o quadrado e 8% do 2o. Mas ainda há necessidade de conhecer cada uma das quantidades de alimentos necessárias para obter este concentrado, com base em 100%. Logo, os valores obtidos no 3o quadrado de Pearson para o 1o (92%) e para o 2o quadrado (8%) devem ser multiplicados pelos alimentos que compõem estes dois últimos quadrados. Existe também necessidade de multiplicar os valores por 94%, para passar para a tabela do cálculo, já que no CONCENTRADO padrão foi deixado uma JANELA de 6%: 1o quadrado (92%) � Farelo de soja: 40,53% x 92% = 37,29% x 94% = 35,05% � Milho moído: 59,47% x 92% = 54,71% x 94% = 51,43% 2o quadrado (8%) � Farelo de soja: 27,42% x 8% = 2,19% x 94% = 2,06% � Farelo de trigo: 72,58% x 8% = 5,81% x 94% = 5,46% Os resultados finais são: � Farelo de soja = 37,11% � Milho moído = 51,43% � Farelo de trigo = 5,46% Aplicando estas quantidades de alimentos à antiga tabela do CONCENTRADO, e multiplicando-os pelos seus respectivos conteúdos em nutrientes, obtém-se uma tabela mais elaborada e completa. Alimentos Quantidade no CMS (%) NDT (%) PB (%) Ca (%) P (%) Milho moído 51,43 43,72 4,63 0,01 0,13 Farelo de soja 37,11 31,17 16,69 0,11 0,24 Farelo de trigo 94 5,46 3,82 0,85 0,00 0,05 Calcário Fosfato bicálcico Premix 6 2 - - - - TOTAL 100 78,71 22,17 0,96 0,49 OBTIDO 96 78,71 22,17 0,12 0,42 DIFERENÇA -4 0 0 - 0,84 - 0,07 Faltou 0,84 e 0,07% de cálcio e fósforo, respectivamente.. ���� Fósforo (P) 100% de fosfato bicálcico-------------------------------18% P X----------------------------------------------0,07% P X = 0,39% de fosfato bicálcico será adicionado ao CONCENTRADO para fechar as necessidades de P. NUTRIÇÃO DE RUMINANTES “Cálculo de Rações” Prof. Breno Mourão de Sousa 19 ���� Cálcio (Ca) Existe Ca no fosfato bicálcico. Logo, énecessário saber a quantidade de Ca fornecida por ele, para determinar o déficit final. Havendo, corrigir com o calcário calcítico. 100% de fosfato bicálcico-----------------------------23% Ca 0,39% de fosfato bicálcico---------------------------- X X = 0,09% de Ca foi fornecido pelo alimento Déficit final de Ca: 0,84 - 0,09 = 0,75%. 100% de calcário calcítico--------------------------------35% Ca X--------------------------------------------------0,75% Ca X = 2,14% de calcário calcítico deve ser adicionado ao CONCENTRADO para fechar as necessidades de Ca. A tabela final da composição do CONCENTRADO fica assim: Alimentos Quantidade no CMS (%) NDT (%) PB (%) Ca (%) P (%) Milho moído 51,43 43,72 4,63 0,01 0,13 Farelo de soja 37,11 31,17 16,69 0,11 0,24 Farelo de trigo 94 5,46 3,82 0,85 0,00 0,05 Calcário 2,14 - - 0,75 - Fosfato bicálcico 0,39 - - 0,09 0,07 Premix 6 2,00 - - - - TOTAL 100 78,71 22,17 0,96 0,49 OBTIDO 98,53 78,71 22,17 0,96 0,49 DIFERENÇA -1,47 0 0 0 0 Os 1,47% dos 7 kg MS vindos do concentrado podem ser preenchidos por: � Tamponantes/alcalinizantes; � NaCl; � Volumosos; � Entre outros aditivos. INTERPRETAÇÃO: A vaca mestiça Holandês x Zebu, será alimentada com uma mistura contendo 10,45 kg MS de silagem de milho, 1,35 kg MS de soja grão crua e 7,00 kg MS de alimento concentrado contendo: � 51,43% de fubá de milho; � 37,11% de farelo de soja; � 5,46% de farelo de trigo; � 2,14% de calcário calcítico; � 0,39% de fosfato bicálcico; � 2,00% de Premix mineral-vitamínico; � 1,00% de bicarbonato de sódio; � 0,47% de sal branco – NaCl. Fragmentando os alimentos em termos MS consumida, temos o seguinte consumo: NUTRIÇÃO DE RUMINANTES “Cálculo de Rações” Prof. Breno Mourão de Sousa 20 � Silagem de milho = 10,45 kg de CMS/dia; � Soja grão crua = 1,35 kg de CMS/dia; � Fubá de milho = 3,60 kg de CMS/dia (7,00 kg de CMS concentrado x 51,43% no concentrado); � Farelo de soja = 2,60 kg de CMS/dia (7,00 kg de CMS concentrado x 37,11% no concentrado); � Farelo de trigo = 0,38 kg de CMS/dia (7,00 kg de CMS concentrado x 5,46% no concentrado); � Calcário calcítico = 0,150 kg ou 150 g de CMS/dia (7,00 kg de CMS concentrado x 2,14% no concentrado); � Fosfato bicálcico = 0,03 kg ou 30 g de CMS/dia (7,00 kg de CMS concentrado x 0,39% no concentrado); � Premix = 0,14 kg ou 140 g de CMS/dia (7,00 kg de CMS concentrado x 2,00% no concentrado); � Bicarbonato de sódio = 0,07 kg ou 70 g de CMS/dia (7,00 kg de CMS concentrado x 1,00% no concentrado); � Sal branco = 0,03 kg ou 30 g de CMS/dia (7,00 kg de CMS concentrado x 0,47% no concentrado).
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