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FEAD – Minas Centro de Gestão Empreendedora DISCIPLINA: NUTRIÇÃO DE RUMINANTES “Microbiota Retículo-Ruminal e a Fermentação” Prof. Breno Mourão de Sousa Belo Horizonte – MG 2007 NUTRIÇÃO DE RUMINANTES “Microbiota e Fermentação” Prof. Breno Mourão de Sousa 2 1. INTRODUÇÃO Sugestões para leitura: � HOBSON, P.N. The rumen microbial ecosystem. 1997. � HUNGATE, R.E. The rumen and its microbes. 1966. � CZERKAWSKI, J.W. An introduction to rumen studies. 1986. � RUSSEL, J.B. Factors influencing competition and composition of the rumen bacterial flora. � RUSSEL, J.B. Another explanation for the toxicity of fermentation acids at low pH: anion accumulation versus uncoupling. SIMBIOSE: s.f. BIO associação de dois organismos que vivem juntos, com benefícios de ambos ou apenas um deles ~ simbiótico adj. Este termo define muito bem o que representa o ser ruminante: uma associação entre um animal hospedeiro (bovinos, caprinos, ovinos e bubalinos) e microrganismos anaeróbicos (bactérias, protozoários, fungos e vírus). Nessa simbiose, observa-se: � O animal hospedeiro fornece substrato para os microrganismos em fluxo contínuo através da ingestão de alimentos e remove os produtos finais da fermentação considerados tóxicos para os mesmos; � Os microrganismos fermentam anaerobicamente este substrato abastecendo as células do organismo hospedeiro com aminoácidos microbianos e ácidos orgânicos com alto conteúdo de energia livre (∆Go’) ainda por ser liberada nas reações do catabolismo oxidativo. Um grande número de bactérias e protozoários produz enzimas capazes de degradar os carboidratos e as proteínas e hidrolisar os lípides dos alimentos consumidos pelos ruminantes. O número de microrganismos é dependente da quantidade e da natureza da dieta, da freqüência de alimentação, da ruminação, da distribuição física da digesta retículo- ruminal e da interação de protozoários e de bactérias. 2. MICROBIOTA RETÍCULO-RUMINAL O retículo-rúmen é, por excelência, um SISTEMA ANAERÓBICO, bastante redutor e com um meio ligeiramente ácido, mas de pH fixo, temperatura de 39 oC e uma fase gasosa composta por CO2, CH4, S2, H2 e nitrogênio. É neste meio que se formou uma população microbiana especializada, cuja proliferação desta persiste em função não só por um ambiente satisfatório à vida microscópica, mas também pelo contínuo fluxo de alimentos para estes microrganismos (substrato). Esta população microbiana é composta especialmente por bactérias, protozoários e fungos. A reciclagem de microrganismos dentro do rúmen é feita por morte e/ou autólise, quando passam para o trato digestivo posterior (abomaso e intestinos). Em outras palavras, ou a massa microbiana será fonte de nutrientes para o animal hospedeiro, ou haverá aproveitamento dos restos celulares pelos próprios microrganismos. NUTRIÇÃO DE RUMINANTES “Microbiota e Fermentação” Prof. Breno Mourão de Sousa 3 Os fatores importantes para a introdução dos microrganismos no ambiente retículo- ruminal do animal hospedeiro são: � O contato com animais adultos; � Relação com materiais fecais; � Contato com áreas de pastejo. A população microbiana no retículo-rúmen (RR) é formada por: � 1010 a 1011 bactérias/g conteúdo RR; � 105 a 106 protozoários/g conteúdo RR; � Fungos anaeróbicos; � Vírus (principalmente bacteriófagos). A proporção varia, mas a diversidade não. Em função da dieta (especialmente do pH do fluído ruminal), o número de bactérias pode variar (intra-espécie), mas a diversidade bacteriana e microbiana (até certo limite) mantém constante. Apesar das bactérias serem, numericamente, as mais representativa dentre os microrganismos ruminais, a massa microbiana de bactérias e protozoários se equivale (quase 1:1), com ligeira vantagem para os protozoários. Por outro lado, a maior parte da massa microbiana que passa para o abomaso é proveniente de bactérias. 2.1 ANAEROBIOSE Os microrganismos do retículo-rúmen são: � Anaeróbios Obrigatórios: não têm cadeia respiratória na qual o O2 é o aceptor final de elétrons (e-1). Mas podem apresentar outros tipos de aceptores de e - 1 ao final de uma cadeia rudimentar de transporte de e-1 (Citocromos, Ferredoxina, FAD e NAD+ etc). Portanto, precisam realizar a fermentação; � Estritamente Anaeróbicos: não têm cadeia respiratória e são inibidos ou mortos por O2. Tolerância ao O2 varia entre os microrganismos retículo-ruminais. A entrada de O2 pela saliva e água é < 100 ml/dia. Difusão de O2 pelos capilares para o rúmen é de 10 a 20 Litros/dia. Logo, a entrada de O2 é um desafio constante para os anaeróbios ruminais, havendo necessidade de eliminá-lo. A concentração de O2 no fluído ruminal é < 0,25 a 3,00 µM. Bactérias e protozoários são capazes de consumir certa quantidade de oxigênio. Concentrações > 7 µM de O2 inibiram a capacidade de consumir O2 pela microbiota ruminal. O radical hidroxil (sete elétrons na última camada do grupo hidroxila, OH•) é altamente reativo e pode oxidar enzimas, ácidos graxos insaturados e causar depleção de coenzimas reduzidas (NADH+H+). Representa o mesmo efeito dos radicais livres, altamente reativos para ataques nucleofílicos, ou seja, doadores de elétrons. Se o ambiente ruminal fosse aeróbico, ocorreria excesso de suprimentos protéico microbiano e deficiência energética PARA O ANIMAL. Em outras palavras, ocorreria NUTRIÇÃO DE RUMINANTES “Microbiota e Fermentação” Prof. Breno Mourão de Sousa 4 excessiva formação de proteína microbiana e ausência de formação de AGV e oxidação de ácidos graxos livres ou não esterificados (AGL ou AGNE) no retículo-rúmen. 2.2 CULTIVO DE MICRORGANISMOS RUMINAIS “IN VITRO” O precursor destes estudos foi Hungate (1950). Iniciou pesquisa em microrganismos de anaeróbicos. Cultura tem que ser feita com menos de 1 molécula de O2/Litro. Necessita de agente redutor. Deve haver aeração constante de gás livre de O2. Ambiente estéril, livre de outros microrganismos. Deve haver no cultivo anaeróbico: � Fontes de “C” (energia): várias ou únicas, podendo variar de acordo com o que se quer testar; � Fonte de N; � Minerais para garantir semelhante Osmolaridade do fluído ruminal (Osm); � Tampão (HCO3 - ou CO3 -2); � Agente redutor, que pode ser a cisteína-HCl, que será reduzida à cistina (2 Cisteína + O2 � H2O + Cistina); � Indicador de oxidação-redução, como a Resazurina; � Fluído ruminal viável, como fonte de vitaminas e fatores de crescimento, desde que estéril; � Gás, especialmente CO2, livre de O2. 2.3 HABITANTES DO RETÍCULO-RÚMEN Os principais microrganismos do rúmen são: � Bactérias; � Protozoários; � Fungos (importantes em dietas a base de fibra de baixa qualidade); � Leveduras (fungo unicelular): • Crescimento é ótimo a 25o C e não a 39o C; • Reprodução no rúmen é limitada - introduzidos com o alimento; • Técnica para isolamento é aeróbica. � Vírus (bacteriófagos) (potencial para modificações genéticas das espécies presentes). 2.3.1 Bactérias anaeróbicas Numericamente e metabolicamente, as bactérias são os maiores e os mais importantes grupos de microrganismos presentes no retículo-rúmen. Podem ser classificadas em função de sua parede celular em GRAM negativas (predomínio em número de espécies) e/ou GRAM positivas (Figura 1 e 2). Estudos científicos mostraram que o número (valores totais) médio de bactérias no conteúdo ruminal gira em torno de 109 a 1010 células/ml, e que o número pode ser maior quando o animal estiversendo alimentado com uma dieta à base de concentrado em relação a dietas com base de forragens. As bactérias retículo-ruminais são mais resistentes NUTRIÇÃO DE RUMINANTES “Microbiota e Fermentação” Prof. Breno Mourão de Sousa 5 que protozoários e fungos quanto a variação no pH retículo-ruminal. Parece que a população bacteriana total permanece constante em condições aparentemente constantes. Devido as profundas e complexas interações entre as espécies bacterianas (o produto final da fermentação de uma espécie é substrato para outra), o estudo das mesmas, isoladamente, é bastante difícil. De uma forma geral, as bactérias do retículo-rúmen são classificadas em função do grupo de substrato que elas fermentam e do produto final da fermentação liberadas. Mesmo assim, há grupos bacterianos aptos a desempenhar diferentes ou integradas funções fermentativas. Figura 1: Modelo de parede celular de bactérias GRAM negativas. Figura 2: Modelo de parede celular de bactérias GRAM positivas. Os principais grupos bacterianos são: � Bactérias Celulolíticas: Utilizam a CELULOSE como substrato, além da celobiose, o precursor da celulose. • Ruminococcus albus, NUTRIÇÃO DE RUMINANTES “Microbiota e Fermentação” Prof. Breno Mourão de Sousa 6 • Ruminococcus flavefaciens e • Fibrobacter succionogenes. � Bactérias Hemicelulolíticas: a HEMICELULOSE diferencia da celulose pela presença de pentoses, hexoses e ácido urônico. Bactérias celulolíticas podem ser hemicelulolíticas, mas estas últimas não são capazes de exercer atividades celulolíticas. • Butyrivibrio fibrisolvens, • Ruminococcus sp., • Prevotella ruminicola, • Eubacterium ruminantium. � Bactérias Pectinolíticas: degradam a PECTINA, um heteropolissacarídeo composto de galactose, arabinose e ácido galacturônico. • Butyrivibrio fibrisolvens, • Prevotella ruminicola, • Fibrobacter succinogenes, • Lachnospira multiparus (capacidade pectinolítica específica), • Peptostreptococcus sp. � Bactérias Amilolíticas: são capazes de fermentar o AMIDO. A população deste grupo bacteriano aumenta fortemente quando da alimentação do bovino por dietas ricas em concentrados (grãos). • Streptococcus bovis, • Ruminobacter amylophilus, • Prevotella ruminicola, • Succinomonas amylolytica, • Selenomonas ruminantium, • Clostridium butyricum, • Butyrivibrio fibrisolvens e Fibrobacter succinogenes? � Bactérias fermentadoras de açúcares: fermentam rapidamente AÇÚCARES SIMPLES, como monossacarídeos (glicose e frutose) e dissacarídeos (maltose e sacarose). • Lactobacillus sp., • Borrelia sp., • Succinovibrio dextrinosolvens, • Eubacterium ruminantium. � Bactérias que utilizam ácidos: fermentam o ÁCIDO LÁTICO, SUCCÍNICO, MÁLICO OU FUMÁRICO. • Selenomonas ruminantium, • Veillonella parvula, • Megasphera elsdenii, • Vibrio succinogenes. � Bactérias Proteolíticas: degradam as PROTEÍNAS presentes no alimento até aminoácidos, usando-os como fonte de energia ou para a síntese de proteína microbiana. • Prevotella ruminicola, • Ruminobacter amylophilus, • Selenomonas sp., NUTRIÇÃO DE RUMINANTES “Microbiota e Fermentação” Prof. Breno Mourão de Sousa 7 • Succinovibrio sp., • Borrelia sp., • Megasphera elsdenii. � Bactérias produtoras de amônia (NH3): quebram o AMINOÁCIDO liberando a NH3 (deaminação). Este NH3 é então utilizado para a síntese de proteína. • Succinovibrio dextrinosolvens, • Selenomonas sp., • Prevoltella ruminicola, • Ruminococcus bromii, • Butyrivibrio. � Bactérias Metanogênicas: convertem o H2, o CO2 e o acetato ou formato em METANO (CH4) para obter energia de que necessitam. Esta transformação é responsável pela perda de 7 a 10% da energia ingerida no alimento, e será maior quanto maior for a participação de forrageiras na alimentação bovina. • Methanobrevibacter ruminantium, • Methanomicrobium mobile, • Methanobacterium formicicum, • Methanosarcinae barkeri. � Bactérias Lipolíticas: hidrolisam as moléculas de GORDURA, liberando glicerol (fonte de energia) e ácidos graxos (que são hidrogenados). • Anaerovibrio lipolytica, • Veillonella ulcalesceus, • Butyribrio fibrisolvens. � Bactérias sintetizadoras de Vitaminas: sintetizam alguns grupos de vitaminas, notadamente aquelas do complexo B e vitaminas K. As espécies microbianas mais importantes presentes no rúmen são: � Streptococcus bovis: grande capacidade amilolítica. A população aumenta em dietas ricas em concentrados. São cocos GRAM positivos e atacam também açúcares simples. Produz como produto final de fermentação: acetato, lactato, CO2, etanol. � Lactobacillus: forte atividade amilolítica e de fermentação de açúcares simples. Produz rapidamente lactato, reduzindo drasticamente o pH no retículo-rúmen, predispondo casos clínicos ou sub-clínicos de acidose ruminal. São cocos GRAM positivos. � Bactérias Celulolíticas: existem 3 tipos principais destas bactérias, que representam entre 3 a 5% do total de bactérias retículo-ruminais: • Fibrobacter succinogenes: são bastonete GRAM negativos, degradando a celulose e a celobiose, produzindo os ácidos graxos voláteis (AGV's) acetato e succinato; • Ruminococcus albus: são cocos GRAM positivos e degradam a celulose a acetato e etanol, liberando formato, CO2 e H2; • Ruminococcus flavefaciens: são cocos GRAM positivos e degradam a celulose a acetato e succinato, liberando formato, CO2 e H2; � Butyrivibrio fibrisolvens: são bastonetes GRAM negativos e degradam a celulose a butirato, formato e lactato. Principal espécie responsável pela bio- hidrogenação dos ácidos graxos dietéticos no retículo-rúmen. NUTRIÇÃO DE RUMINANTES “Microbiota e Fermentação” Prof. Breno Mourão de Sousa 8 � Selenomonas ruminatium: são bastonetes GRAM negativos. População aumenta grandemente em dietas ricas em grãos (até 51% do total da população bacteriana). Fermentam os açúcares produzindo AGV (acetato, propionato, lactato). � Megasphera elsdenii: são cocos GRAM negativos que fermentam o lactato e açúcares à propionato, acetato, CO2, butirato e succinato. � Bactérias Deaminadoras: são os bastonetes GRAM negativos Prevotella ruminicola e Ruminobacter amylophilus que deaminam os aminoácidos produzindo NH3, formato, isovalerato, isobutirato, metilbutirato, acetato e succinato. Estão entre os principais microrganismos amilolíticos do retículo-rúmen. � Bactérias Metanogênicas: compreende as arqueobactérias Methanobrevibacter ruminantium e Methanomicrobium mobile, que produzem CH4. � Bactérias Lipolíticas: compreende a Anaerovibrio lipolytica e o Butyrivibrio fibrisolvens que hidrolisam as gorduras em glicerol e ácidos graxos, bio- hidrogenando estes últimos. � Aerobacter aeroginosa: são bactérias ureolíticas, ou seja, que hidrolizam a uréia, liberando CO2 e NH3. Os principais substratos utilizados pelas bactérias do retículo-rúmen estão na Tabela 1. As principais famílias e espécies de bactérias estão na Figura 3. Tabela 1: Principais substratos energéticos bacterianos: Fermentam Bactérias Celulose Maltose Pectina Sacarose Succinato Lactato Ruminococcus albus X Ruminococcus flavefaciens X Fibrobacter succinogenes X X X Butyrivibrio fibrisolvens X X X Prevotella ruminicola X X X Ruminobacter amylophilus X Selenomonas ruminantium X X X XX Streptococcus bovis X X Megasphera elsdenii X X XX Succinomonas amylophilus X Succinovibrio dextrinosolvens X X X Lachnospira multiparus X X � Negrito � principais grupos de bactérias celulolíticas. Representam não mais que 5% da população bacteriana (número).Talvez seja mais um motivo de estrangulamento da degradação da celulose no retículo-rúmen. � Negrito e sublinhado � principais grupos bacterianos amilolíticos. � Na célula PRETA, destino do succinato é ser convertido à propionato, rapidamente. � Nas células com XX, S. ruminantium e M. elsdenii representam (especialmente esta última) os principais grupos bacterianos responsáveis em reduzir o lactato a propionato. Isto se torna importante do ponto de vista nutricional, uma vez que estas bactérias têm crescimento muito lento e estimuladas (M. elsdenii) pelo lactato. Logo, no pós-parto, quando os animais são alimentados com dietas ricas em carboidratos facilmente fermentáveis, a rápida produção de lactato pode levar as condições de Acidose Ruminal, uma vez que as bactérias responsáveis em metabolizar este lactato ainda não se desenvolveram completamente (número). NUTRIÇÃO DE RUMINANTES “Microbiota e Fermentação” Prof. Breno Mourão de Sousa 9 Figura 3: Lista das principais espécies de bactérias encontradas no retículo-rúmen. NUTRIÇÃO DE RUMINANTES “Microbiota e Fermentação” Prof. Breno Mourão de Sousa 10 2.3.2 Protozoários anaeróbicos Apesar de presentes, este grupo de microrganismos parece não desempenhar papel essencial nas atividades retículo-ruminais, haja vista que a sua total eliminação do ambiente (DEFAUNAÇÃO) do retículo-rúmen não causou qualquer tipo de transtorno digestivo aos animais experimentais. Têm, em sua natureza, polissacarídeos de reserva acessíveis para posterior digestão pelo bovino e proteína de bom valor biológico. Existem dois grupos de protozoários no rúmen: � Ciliados: • Holotrichos (Figura 4). • Oligotrichos ou Entodinomorphos � Flagelados: massa pequena (e são pequenos) no rúmen. Apenas 5 espécies consideradas verdadeiros flagelados (Figura 5). Figura 4: Holotrichus sp., gênero de protozoário anaeróbico retículo-rúminal, ciliado. NUTRIÇÃO DE RUMINANTES “Microbiota e Fermentação” Prof. Breno Mourão de Sousa 11 Figura 5: Protozoário flagelado do retículo-rúmen. Os protozoários ciliados no retículo-rúmen são anaeróbios e se classificam em 3 grupos: � Grandes protozoários do gênero Diplodinium e outros parecidos que ingerem matéria fibrosa ou amido; � Pequenos protozoários (Oligotricos), como os Entodinium (Figura 6), que digerem amido. Têm cílios ao redor da boca para conduzir o alimento; � Protozoários que não ingerem matéria vegetal, mas são capazes de fermentar açúcares, como o Isotricha. Compreendem aos chamados Holotricos, dotados de pequenos cílios por todo o corpo celular. Os protozoários estão no rúmen em um número de um milhão por grama de conteúdo ruminal (106 células/g). Seu tamanho varia de 20 a 200 µm. Apesar de menor número em relação às bactérias, chegam a representar até 50% da massa microbiana. São sensíveis em pH menor que 5,5. De fato, grande parte dos protozoários começa a desaparecer do retículo-rúmen (morte) quando o pH começar a cair de 6,0. Logo, dietas ricas em concentrados provocam diminuição da população e dos tipos de protozoários. As verdadeiras funções dos protozoários ainda não são bem conhecidas, apesar de que já se sabe que eles são capazes de fermentar açucares simples e outros polissacarídeos maiores (amido, hemicelulose, xilanas). São também responsáveis pela degradação inicial das proteínas, quebrando-as em polipeptídeos menores, facilitando a atividade proteolítica bacteriana. Algumas pesquisas indicam que eles não utilizariam a celulose, enquanto que outras mostram que são potentes agentes celulolíticos. Uma importante função destes microorganismos é o de controlar a população bacteriana, evitando uma superpopulação no retículo-rúmen, num processo conhecido por “ENGULFAMENTO”, ou seja, fagocitose de partículas bacterianas. São capazes de estabilizar processos digestivos bacterianos, utilizando algum amido, impedindo queda excessiva do pH no retículo-rúmen, especialmente em alimentos ricos em concentrados fornecidos para os bovinos de leite, por exemplo. NUTRIÇÃO DE RUMINANTES “Microbiota e Fermentação” Prof. Breno Mourão de Sousa 12 Figura 6: Entodinium sp. do retículo-rúmen. São importantes no exame clínico da digesta ruminal, pois o número e o tamanho destes protozoários fornecem informações sobre a atividade das bactérias no retículo-rúmen. O número de protozoários no fluído ruminal flutua na dependência da ração, tempo e alimentação e a parte do retículo-rúmen onde a amostra foi coletada. Em resumo, os protozoários: � São capazes de fagocitar partículas de amido e açúcares. Eles reduzem a taxa de fermentação e a queda no pH, após a alimentação. � Chegam a “fermentar” anaerobicamente o amido e açúcares simples!! Podem produzir ácidos orgânicos (AGV’s). � Reduzir o número de bactérias no retículo-rúmen, devido ao mecanismo de Engulfamento. � A concentração de N-NH3 no rúmen é reduzida em animal DEFAUNADO: � Reduzem a reciclagem de proteína microbiana e aumentam o número de bactérias utilizadoras de amônia, o que reduz a quebra da proteína dietética. � Degradam nitratos e micotoxinas. Os protozoários são altamente sensíveis à gordura. Dietas ricas em amido e/ou sacarose (cana-de-açúcar), a suplementação com gordura pode melhorar o desempenho animal, ao reduzirem o engulfamento de carboidratos e bactérias, melhorando o aproveitamento do conteúdo de energia da dieta bactérias retículo-ruminais. A COLINA é um nutriente importante para a absorção de gordura no intestino delgado de qualquer espécie animal. Os protozoários representam a maior fonte de COLINA para o NUTRIÇÃO DE RUMINANTES “Microbiota e Fermentação” Prof. Breno Mourão de Sousa 13 animal ruminante, na forma de fosfatidilcolina. Em dietas ricas em gordura, um problema que existe nos ruminantes é a digestão da mesma pós-ruminalmente. Quando da suplementação de gordura na dieta e a conseqüente redução no número de protozoários, haverá redução no fluxo de colina para o duodeno e reduzindo ainda mais a digestão da gordura no intestino. A digestão ruminal de fibra é reduzida em animal defaunado (pode ser um problema de baixo pH ou de Celulases de protozoários). Também o animal defaunado apresentou maior N fecal metabólico. A proteína de protozoário é considerada mais digestível e com a mesma qualidade que a proteína bacteriana. No entanto, o fluxo de protozoários para fora do retículo-rúmen não é proporcional ao seu número na biomassa ruminal. Eles são retidos seletivamente no retículo-rúmen, o que pode ser explicado pela motilidade apresentada por eles. A defaunação: � Aumenta o fluxo de proteína microbiana e proteína dietética para o duodeno; � Aumenta a eficiência de síntese microbiana no rúmen (g N microbiano/100 g MOFr); � Reduz acetato (concentração ou produção?) no retículo-rúmen e o teor de gordura no leite; � Aumenta as bactérias amilolíticas e reduz as celulolíticas; � Reduz metano (concentração ou produção?). A maior parte dos protozoários fica aderida a partícula sólida do alimento no rúmen. Logo, a taxa de reciclagem é superior a 24 horas. Eles fagocitam tudo (amido e bactérias, não selecionam). Alguns utilizam lactato. Algumas bactérias podem se reproduzir dentro da célula do organismo. 2.3.3 Fungos anaeróbicos Cinco são os gêneros importantes de fungos presentes no rúmen: � Neocallimastix, � Caecomyces, � Pyromyces, � Orpinomyces e � Aeromyces. Aparecem no retículo-rúmen entre 8 a 10 dias após o nascimento. Desaparecem em dietas ricas em concentrados. Alternam estádios vegetativos ou esporângios,com estádios móveis ou zoósporo (Figura 7 e 8). Colonizam preferencialmente o tecido lignocelulósico, sendo importantes para os bovinos alimentados com forrageiras de baixa qualidade. Os rizóides ou raízes do esporângio permitem a exposição das frações mais internas da fibra da forragem, aumentando a superfície de ataque/degradação para as bactérias (Figura 9). Representam 8% da massa microbiana, mas não se sabe quanto se passa para o duodeno para digestão. Possui uma proteína rica em aminoácidos essenciais de alta digestibilidade. NUTRIÇÃO DE RUMINANTES “Microbiota e Fermentação” Prof. Breno Mourão de Sousa 14 A B Figura 7: Exemplos de zoósporos de Neocallimastix sp multiflagelados (A) e de Orpinomyces sp. de um único flagelo ou uniflagelado (B). Figura 8: Ciclo de vida de um fungo anaeróbico sobre o substrato no retículo-rúmen. A B Figura 9: Exemplos de zoósporos emitindo rizóides para adesão à fibra alimentar e posterior crescimento à fase de esporângio. Em A) emissão de rizóides e em B) fim do processo de adesão e início do processo de crescimento/forma vegetativa. 2.3.4 Adesão microbiana A associação íntima dos microrganismos com partículas da planta foi a maneira de aumentar o tempo de residência no rúmen. Bactérias celulolíticas ficam mais aderidas a NUTRIÇÃO DE RUMINANTES “Microbiota e Fermentação” Prof. Breno Mourão de Sousa 15 partículas sólidas que amilolíticas, conciliando a capacidade de sobreviver às custas de polissacarídeos de degradação lenta e a não remoção passiva com a fase líquida ruminal. Ou seja, apesar de degradarem a fibra lentamente, a fibra fica mais tempo retida no retículo- rúmen possibilitando um maior tempo de ataque bacteriano sobre a parede celular vegetal e a maior eficiência possível de obtenção de energia. Adesão é o primeiro passo na degradação de substrato insolúvel, a fim de promover a solubilização microbiana posterior. Ela posiciona um complexo sistema enzimático próximo ao substrato, como o CELULOSSOMA. Pode haver hidrólise das pontes de hidrogênio entre a celulose e polissacarídeos não celulósicos, bem como entre fibrilas de celulose. No entanto, somente de 10 a 50% das bactérias aderem (independente da espécie). Mas a colonização do substrato não é considerada fator determinante da baixa degradabilidade da fibra no retículo-rúmen. A adesão é um processo rápido. Os mecanismos de adesão pelas bactérias ruminais (Figura 10) são: � Mecanismos Específicos: ADESINAS na superfície bacteriana reconhecem receptores no tecido do hospedeiro. É o caso do Celulossoma; � Mecanismos Não-específicos: governada por fatores físico-químicos. Normalmente uma reação de baixa afinidade e de difícil saturação. É o caso de atração iônica e hidrofóbica. 3. FERMENTAÇÃO RETÍCULO-RUMINAL Observe a seguinte equação de reações bioquímicas: REAÇÃO 1) C6H12O6 + 6O2 � 6CO2 + 6H2O + 38ATP/30ATP REAÇÃO 2) 5C6H12O6 + NH3 � 6CH3COOH + 2CH3CH2COOH + 1CH3CH2CH2COOH + 3CH4 + 5CO2 + 6H2O + Calor + Massa Microbiana Se a REAÇÃO 1) ocorresse no retículo-rúmen: � Ausência de energia para o ruminante; � Excesso de energia para as bactérias ruminais; � Excesso de proteína microbiana para o animal. Por outro lado, para que a REAÇÃO 2) possa ocorrer, a disponibilidade de NH3 é de fundamental importância. A importância bioquímica da fermentação para o ruminante pode ser assim resumida: A conversão de carboidratos em massa microbiana é de 10 a 20% em anaerobiose e de 60 a 70% em aerobiose. NUTRIÇÃO DE RUMINANTES “Microbiota e Fermentação” Prof. Breno Mourão de Sousa 16 Figura 10: Exemplos de adesão bacteriana na superfície do substrato. Em outras palavras, os microrganismos do retículo-rúmen oxidam (removem elétrons) anaerobicamente os compostos orgânicos reduzidos ou ricos em elétrons (com potencial REDOX negativo: ∆∆∆∆E0 -) como celulose, hemicelulose, pectina ou substancias pécticas, amido, sacarose e proteínas. Após a oxidação, liberam-se compostos orgânicos mais oxidados ou pobres em elétrons, ou seja, com uma menor relação H/O, ou com potencial REDOX ainda levemente negativo ou totalmente positivo (∆∆∆∆E0 +). Por isto da importância da “fermentação” para o ruminante em sua evolução biológica. Os ácidos graxos voláteis (AGV's) produzidos no rúmen (acetato, propionato e butirato) fornecem compostos orgânicos ainda reduzidos (∆E0 -) e que são passíveis de serem oxidados (doar elétrons) no metabolismo hepático do ruminante hospedeiro, gerando potencial redutor (NADH+H+ e FADH2) que, na cadeia transportadora de elétrons (cristas mitocondriais), doarão pares de elétrons para reduzir o O2 a H2O e produzir ATP. Produtos da fermentação ruminal: � Ácidos graxos voláteis – AGV's (acetato, propionato, butirato, valerato, lactato, formato, isobutirato, isovalerato ou 3-metil-butirato, 2-metil-butirato e outros); � Gases (principalmente CH4 e CO2); � Massa microbiana; NUTRIÇÃO DE RUMINANTES “Microbiota e Fermentação” Prof. Breno Mourão de Sousa 17 � Calor. Características do ambiente do retículo-rúmen em uma vaca de leite, pesando 750 kg peso vivo (PV), ingerindo 13 kg MS, com volume retículo-ruminal de 92 Litros e conteúdo de 17% MS: � pH = 5,3 a 7,1; � MS = 10 a 18%; � Potencial REDOX = -0,35 V (ambiente reduzido, resultado da alta produção de H+ durante a fermentação, via ionização dos ácidos - AGV's); � Temperatura = 38 a 41 oC; � Gases = 65% CO2, 27% CH4; 7% N2, 0,6% O2, 0,2% H2; 0,01% H2S; � Ácidos Graxos Voláteis (AGV's) = 39 a 190 mM, principalmente de Acetato (Ac_), Propionato (Prop-), Butirato (But-), Valerato (Val-), Isovalerato (3-Metil- Butirato ou 2-Metil-Butirato), Isobutirato; � Lactato (Lact-) = < 7 mM (Pode ser alto em acidose aguda); � Succinato = 0,002 a 0,004 mM. Rápida e extensamente degradado no rúmen; � Etanol = quase não detectável; � Amônio (NH3/NH4 +) = 2 a 42 mg/dl. � Minerais e vitaminas: importante fonte de Vitamina B e K; � Ambiente: fisicamente estratificado e muito heterogênio; � Fluxo contínuo de substrato fermentável; � Remoção contínua dos produtos da fermentação. Vantagem do retículo-rúmen como câmara de fermentação: � Tempo de fermentação prolongado – relativa estase de grande volume de digesta propicia adequado crescimento microbiano; � Ambiente tamponado – propicia diversidade microbiana; � Detoxificação de compostos secundários das plantas; � Massa microbiana é nutricionalmente significativa para o animal; � Ruminação (quebra física de fibra de baixa digestão e passagem para o omaso); � Reciclagem de N via saliva (aumenta a retenção de N. Importante em dietas pobres em N); � Síntese de vitamina B (e também K). Desvantagens da fermentação pré-gástrica: � Proteína, amido e outros carboidratos dietéticos são fermentados; � Perda de parte da energia nos carboidratos na forma de calor e metano; � Proteína de alta qualidade pode sofrer redução no valor protéico (apesar da proteína microbiana ser de alta qualidade); � Fibra pode restringir consumo. Conteúdo ruminal em vacas Holandesas de 700 kg PV � Volume da digesta (L): 91,6 L; � Peso da digesta (kg): 74,6 kg (10,7% PV); � Teor de MS (%): 17,2%; � Peso da digesta seca (kg): 12,8 kg (1,8% PV). A importância da fermentação no retículo-rúmen não reside somente para o hospedeiro ruminante. De fato, as reações fermentativas são mais importantes para a microbiota que NUTRIÇÃO DE RUMINANTES “Microbiota e Fermentação” Prof. Breno Mourão de Sousa 18 para o seu residente. Esta microbiota somente consegue sobreviver (colonizar e crescer)graças às reações oxidativas anaeróbicas do substrato consumido pelo ruminante. A partir destas reações, os microrganismos extraem a energia química dos compostos orgânicos (carboidratos e proteínas), conservando-a na forma de ATP (Adenina Trifosfato) e liberando compostos secundários que são, felizmente, aproveitados pelos ruminantes como fonte de energia ou de nitrogênio. Durante a fermentação ruminal de substratos e a conseqüente formação de AGV's, a CONCENTRAÇÃO TOTAL destes ácidos seria mais afetada em função do momento da alimentação que pelo tipo de dieta propriamente dito (tipo de substrato vs número de alimentações). O PERFIL de AGV’s sim, pode variar em função do substrato fermentável. 3.1 REAÇÕES DE OXIRREDUÇÃO NO RETÍCULO-RÚMEN (REDOX) E FLUXO DE TRANSFERÊNCIA DE PARES DE ELÉTRONS Corresponde ao tipo de reação química predominante no retículo-rúmen e a principal reação para formação de LIGAÇÕES COVALENTES. Nas reações REDOX, há transferência de elétrons entre um doador (ELEMENTO OXIDADO) e um receptor (ELEMENTO REDUZIDO). Desta forma, obtém-se os conceitos de: � Agente Redutor = aquele que doa o elétron PARA o elemento que será reduzido; � Agente Oxidante = aquele que recebe o elétron DO elemento que foi oxidado. ∆E0 (-)..............................C6H12O6 – glicose (reduzido) ∆E0 (+)............................2 CH3COOH + 2CO2 – ácido acético e dióxido de carbono (oxidado) As reações REDOX seguem a dinâmica da variação do potencial REDOX ou ∆Eo', onde os elétrons fluem do elemento mais eletronegativo (∆Eo' -) para o mais eletropositivo (∆Eo' +). Portanto, o próprio sentido da reação de oxirredução é espontâneo na direção ∆Eo' - � ∆Eo' +, ou seja, quando o elemento passa de um estado mais reduzido ou eletronegativo (elemento nucleofílico) para um estado mais oxidado ou eletropositivo (elemento eletrofílico). NUTRIÇÃO DE RUMINANTES “Microbiota e Fermentação” Prof. Breno Mourão de Sousa 19 NAD+ NADH + H+ NADH + H+ NAD+ 2 PO4-2 + 2 ADP 2 ATP NAD+ NADH + H+ NADH + H+ NAD+ 2 PO4-2 + 2 ADP 2 ATP Glicólise Ciclo de Krebs Fosforilação Oxidativa Glicólise OBSERVAÇÕES: � Quanto mais eletronegativo for o elemento, maior o potencial de oxirredução (Oxidação-Redução); � Quanto mais eletropositivo for o elemento, menor o potencial de oxirredução (Oxidação-Redução); 3.2 RESPIRAÇÃO X FERMENTAÇÃO Quando O2 é o aceptor terminal de elétrons, a energia liberada a partir da oxidação do NADH + H+ é capturada em 2,5 ATP, durante a transferência de elétrons através da Cadeia Transportadora de Elétrons localizada nas cristas mitocondriais. Isto é a RESPIRAÇÃO AERÓBICA. 1 Glicose 6 CO2 6CO2 + H2O Na ausência de O2, o método óbvio de captura de energia é a Fosforilação ao Nível de Substrato, quando a energia livre (∆Go') liberada é diretamente transferida ao ADP e ao grupo fosfato (HPO4 -) disponíveis, produzindo ATP. Para prosseguir as reações de oxidação do substrato, o potencial redutor (NADH + H+) é recuperado/regenerado através do prosseguimento das reações de oxidação após a Glicólise. Isto é a FERMENTAÇÃO ANAERÓBICA (Figura 11) 1 Glicose 2 Piruvato 2 Lactato NUTRIÇÃO DE RUMINANTES “Microbiota e Fermentação” Prof. Breno Mourão de Sousa 20 Figura 11: Vias subseqüentes à Glicólise onde a bactérias e outros microrganismos anaeróbicos reoxidam ou regeneram o NAD+ para dar prosseguimento às reações de catabolismo da Glicose, ou seja, a Glicólise. No entanto, as bactérias do retículo-rúmen realizam outras vias alternativas e energeticamente mais eficientes para a máxima extração de energia dos compostos orgânicos fermentados, além da via lática e alcoólica. Trata-se das vias fermentativas que darão origem aos ácidos graxos voláteis, os AGV’s. Os principais ácidos orgânicos produzidos pela fermentação das bactérias no retículo-rúmen, com o seu respectivo rendimento energético (mol de ATP’s produzidos por mol de Glicose fermentada) são: � Ácido acético ou acetato � 4 ATP’s; � Ácido propiônico ou propionato � 4 ATP’s; � Ácido butírico ou butirato � 3 ATP’s; � Ácido lático ou lactato � 2 ATP’s; � Álcool etílico ou etanol � 2 ATP’s. Ainda sim, o rendimento energético da fermentação retículo-ruminal realizado pelas bactérias anaeróbicas é muito baixo: Fermentação ���� 3 a 4 mol de ATP/mol de glicose Respiração ���� 30 (38) mol de ATP/mol de glicose 3.3 RESPIRAÇÃO ANAERÓBICA Se a maioria das bactérias do retículo-rúmen não possui aceptores finais de elétrons, algumas a possuem, mas não é o oxigênio. Os aceptores alternativos de elétrons são: NO3 -, SO4 -2, fumarato, CO3 -2. Citocromo contendo o Grupo Heme foram encontrados em bactérias do rúmen, permitindo a realização de reações de transferência de elétrons, semelhante a cadeia transportadora de elétrons dos organismos aeróbicos superiores. NUTRIÇÃO DE RUMINANTES “Microbiota e Fermentação” Prof. Breno Mourão de Sousa 21 CitRed CitOxi NAD+ NADH + H+ ADP + Pi ATP Por outro lado, pode existir o seguinte acoplamento de reações de oxidação no rúmen: Piruvato Fumarato Succinato ∆∆∆∆Eo' = + 30 mV ∆∆∆∆Eo' = - 320 mV A RESPIRAÇÃO ANAERÓBICA aumenta a produção de ATP/mol de glicose relativo à FERMENTAÇÃO. No entanto, ela ainda é limitada comparada com a RESPIRAÇÃO AERÓBICA. 3.4 METANOGÊNESE Devido à presença de bactérias metanogênicas no retículo-rúmen, o NADH+H+ poder ser reduzido a NAD+ através de enzimas conhecidas genericamente por Hidrogenases. Esta é a importância evolutiva das bactérias metanogênicas para o metabolismo no rúmen, onde o NADH+H+ gerado pela biossíntese do acetato pode ser recuperado à NAD+, dando prosseguimento aos processos fermentativos anaeróbicos. Nenhuma das bactérias e protozoários do rúmen que utilizam carboidratos produzem CH4, mas várias produzem formato (HCOO-), H2 e CO2, que são substrato para as metanogênicas (Methanobrevibacter ruminantium e Methanomicrobium mobile). � Methanobrevibacter ruminantium: pH ótimo de 7,2: � Methanomicrobium mobile: pH ótimo de 6,1 a 6,9. O formato (HCOO-) é convertido em H2 e CO2 pelas metanogênicas, que utilizam este formato como substrato primário para formação de CH4. A principal reação catalisada pelas bactérias metanogênicas é: 4H2 + HCO3 - + H+ ���� CH4 + 3H2O Talvez, também a reação: ? HCOO- + 3H2 + H + ���� CH4 + 2H2O ? NUTRIÇÃO DE RUMINANTES “Microbiota e Fermentação” Prof. Breno Mourão de Sousa 22 Metanogênicas: 2CO2 + H2 � Energia E a equação simplificada da síntese de CH4 a partir de CO2 é: CO2 + 4H2 ���� CH4 + 2H2O A biossíntese de CH4 pelas bactérias ruminais representa, para o animal hospedeiro, uma perda de energia metabolizável (EM) na ordem de 6 a 18%, com uma média geral entre 8 a 10%. Esta energia perdida pode ser explicada: � Seqüestro de NADH+H+ que poderia ser utilizado na biossíntese de propionato; � Liberação de calor.
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