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Aula 10 Como a fenomenologia entra no campo da psicologia_

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As Daseinsanálises de 
Binswanger e Medard Boss
Universidade Paulista (UNIP)
Lia Spadini da Silva
Abril/2018
Disciplina: Psicologia Fenomenológica
- A obra fundadora de Binswanger – Dastur e Cabestan
- A Daseinsanalyse de Medard Boss – Paulo Evangelista
Fenomenologia e Psiquiatria 
• A fenomenologia é incorporada dentro da
psiquiatria por médicos e pensadores que
estavam insatisfeitos com a forma da
psicopatologia ser compreendida na época.
• Incômodo dicotomias: Sujeito-0bjeto,
Alma/psique/mente-corpo.
• Buscam elementos em Husserl, Heidegger ou
em ambos.
– Karl Jaspers e Eugène Minkowski – precursores.
Ludwig Binswanger (1881 – 1966)
• Psiquiatra alemão.
• Admirador e crítico da Psicanálise de Freud.
• Influências: Husserl/ Heidegger/ Husserl.
• Incômodo com o fazer da psiquiatria
tradicional.
• Orgânico (corpo) x Psíquico (mente, alma)
• Cria uma análise existencial para se contrapor
à psiquiatria tradicional: Daseinsanálise
Ludwig Binswanger (1881 – 1966)
• Antropologia fenomenológica (1920)
• Disciplina para fundar a psicopatologia e a
psiquiatria, no sentido de que homem é um ser
pessoal que vive sua vida e cuja continuidade se
desdobra em história.
• Há ênfase:
• Na dimensão histórica (dentro da área da psiquiatria).
• Descrição e apreensão do mundo tal como é vivido por
alguém (epoché husserliana).
Ludwig Binswanger (1881 – 1966)
• Formas fundamentais e conhecimento da 
existência humana (1942)
– Aproximação com Martin Heidegger e sua
ontologia do ser.
– Na compreensão das psicopatologias, há a
importância do espaço, tonalidade afetiva e o
corpo.
• Ex: Para o maníaco, o mundo míngua/diminui, todas as
coisas estão próximas e o espaço perde profundidade.
Todas as coisas se tornam fugazes.
Ludwig Binswanger (1881 – 1966)
• Formas fundamentais e conhecimento da 
existência humana (1942)
– Dasein como humanidade/ nostridade:
• Nós plural, um não existe sem o outro; nos fazemos nas 
nossas relações.
• Binswanger quer quebrar com o formato “solipsista” de 
Heidegger, o “ser a cada vez meu”.
– Fenomenologia do amor:
• Amor como fio condutor das relações, transcende o
cuidado em Heidegger, é um “a priori”.
Ludwig Binswanger (1881 – 1966)
• Críticas:
– Binswanger não teria compreendido a ontologia
heideggeriana.
– Dasein é ser-com-os-outros: quando falamos de
existência humana, já estamos falando de uma
existência compartilhada e que vive na convivência
com entes Dasein e não-Dasein.
– Amor é uma possibilidade ôntica do Dasein, não pode
ser considerado à luz da fenomenologia heideggeriana
como um “existenciário”.
• Há como falar da existência sem amor, mas não há como
falar da existência sem cuidado e disposição afetiva.
Ludwig Binswanger (1881 – 1966)
• Sonhos (1928/ 1930)
– Estudo sobre as apreensões e interpretação dos 
sonhos desde os gregos.
• Era compreendido como “vindo do céu”.
• Existe um valor destinal: não é que “produzimos um 
sonho”, mas ele nos chega, se apresenta.
– Análise fenomenológica dos sonhos:
• Ater-se ao conteúdo manifesto.
• Não separar imagem da tonalidade afetiva.
• É o tema que Dasein dá ao sonho que é importante.
• Sonho como uma modalidade particular do ser
humano.
Dastur e Cabestan (p. 72, 2015)
“Depois do memorável postulado de Freud
com respeito à reconstrução dos pensamentos
oníricos latentes, tem-se fortemente a
tendência hoje em dia de relegar ao segundo
plano de interesse o conteúdo onírico
manifesto, pois um estudo aprofundado desse
conteúdo nos ensina a reconhecer o estreito
parentesco original entre o sentimento e a
imagem, o humor suscitado e as imagens das
quais o espírito está repleto.”
Ludwig Binswanger (1881 – 1966)
• Retorno à Husserl (aproximadamente 1960):
– Ênfase na constituição estrutural dos modos de
ser nas psicopatologias/ não abandona
Daseinsanálise.
– Faz uma releitura de psicopatologias a partir das
noções de temporalidade husserlianas.
• Mania: Experencia um constante agora.
• Melancolia: Não consegue viver seu presente por estar
preso a um acontecimento anterior.
– Está em busca do Ego Puro/ Sujeito
Transcendental.
• Explorar a história de vida do paciente.
• Provocar uma verdadeira reviravolta existencial, por intermédio
de um “aprender pela existência” na situação terapêutica.
• O terapeuta deve propiciar que o paciente veja nele um
parceiro, tendo como base desta relação a cooperação e a
confiança mútua.
• A experiência onírica tem uma dimensão central na
psicoterapia, é um modo de ser do Dasein.
• Não nega outros métodos, mas tem sua especificidade, abrindo
ao homem a compreensão da estrutura de seu ser-aí.
Ludwig Binswanger (1881 – 1966)
5 diretrizes básicas para uma terapia 
analítica-existencial
Medard Boss (1903 – 1990) 
• Psiquiatra e psicoterapeuta suíço.
• Entra em contato com a “Análise existencial”
de Binswanger.
• Troca correspondências com Heidegger
– Seminários de Zollikon (1959 – 1969).
• Em 1973 funda a Associação Brasileira de
Análise e Terapia Existencial
– 1985: Associação Brasileira de Daseinsanalyse
(ABD)
Medard Boss (1903 – 1990) 
• Daseinsanálise como
“ (...) a totalidade de uma disciplina possível, que se
coloca como tarefa demonstrar os fenômenos
existenciais comprováveis do Dasein social-histórico
e individual relacionados no sentido de uma
antropologia ôntica, de cunho daseinsanalítico. (...)
Esta Daseinsanálise antropológica pode dividir-se,
por sua vez em a) antropologia normal e b)uma
patologia daseinsanalítica a ela relacionada.”
(p.144)
Medard Boss (1903 – 1990) 
• Medicina: para se compreender o sofrimento de
alguém não basta olhar para os mecanismos
fisiológicos.
– Ex: homem que quebra perna = fratura indica
cerceamento de possibilidades existenciais
• Crítica a medicina que separa corpo (orgânico) de
mente (psique) – medicina estaria ligada somente
a resolução de questões biológicas.
– Outras questões seriam direcionadas para outros
profissionais.
Medard Boss (1903 – 1990) 
• Admirador e crítico da Psicanálise de Freud
– Textos metapsicológicos:
• Inconsciente/ instância psíquica: explicaria a causa de
comportamentos para os quais não se encontram causa mecânica
anterior.
– Necessidade de adequação científica.
• Crítico a “Metapsicologia” (investigação das dinâmicas
intrapsíquicas).
– Textos técnicos:
• Segue a prática investigativa da psicoterapia.
• Reconhece a importância do uso do divã, por exemplo, como
modo de romper com o falatório (Heidegger), o falar por falar.
• Reconhece a importância da associação livre.
Medard Boss (1903 – 1990) 
“Psicoterapia como processo de desocultação dos
nossos imperativos aprisionantes que impedem a
nossa apropriação de possibilidades existenciais. E
sempre que deixamos de lado possibilidades
existenciais ficamos em divida com o nosso ser,
sentindo-nos culpados.” (p.151)
• Análise (grego analysein) = desfazer de uma
trama em seus componentes; libertar alguém da
prisão/ soltar as algemas.
Medard Boss (1903 – 1990) 
• Culpa/ Débito (Shuld) = Aos nos lançarmos
para as possibilidades, deixamos outras para
trás.
• Ficamos olhando para o que se passou/ em
dívida com nosso ser = sentimentos de culpa
atrofiam a existência.
• Superação da culpa = assumir o passado como
algo já acontecido, sobre o qual o futuro se
abre.
Medard Boss (1903 – 1990) 
“Fiel ao modelo psicoterapêutico descrito por Freu, Boss
propõe como regra fundamental da psicoterapia a
associação livre, que possibilita ao processo de
autodescobrimento psicoterapêutico chegar a um estar-
aberto ao próprio ser e às possibilidades que se desvelam
na clareira que somos.” (p.135)
• Cuidado do terapeuta em não deixar que aquilo que se
mostrou/ desvelou não volte ao ocultamento.• Quando algo é compartilhado, vigora como algo que é.
Medard Boss (1903 – 1990) 
• Processo daseinsanalítico:
– Acontece como forma de cuidado que Heidegger
expressa como Solicitude Libertadora ou
Preocupação Libertadora.
• Colocar-se na relação com o outro a fim de torná-lo
transparente e livre para si mesmo/ Devolver o outro a
si mesmo.
• Colocar-se à disposição do paciente.
• Solicitude libertadora: devolver ao outro sua
Preocupação, Cuidado (Sorge) e não tomar o cuidado
da vida do outro para si.
Medard Boss (1903 – 1990) 
• Sonhos:
– Tem espaço privilegiado no processo
daseinsanalítico.
– São reveladoras das possibilidades existenciais
que uma existência singular está incapaz de se
apropriar em sua vida desperta.
• Mostram fenômenos que não estão acessíveis para o
paciente em vida desperta.
• Importância de compreender como o sonhador se
conduz em relação ao que lhe é revelado.
Medard Boss (1903 – 1990) 
• Adoecimento existencial = restrição nas
possibilidades de ser e na capacidade de
superar esta restrição.
• Propõe uma patologia Geral Daseinsanalítica:
– Ser-doente perturbação:
• Corporeidade,
• Espacialidade e temporalidade,
• Afinação própria e
• Na realização do ser-aberto e da liberdade.

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