Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Disciplina de Oclusão – FAODO/UFMS Caderno de estudos da Oclusão 0 Disciplina de Oclusão – FAODO/UFMS Caderno de estudos da Oclusão 1 PREFÁCIO A Odontologia do Século XXI tem como principal preocupação a saúde de forma integral. E de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS): “Saúde é o bem estar físico, mental e psicológico do ser humano”. Há um consenso entre os autores da área da saúde que nenhuma outra parte do corpo é tão versátil como a nossa área de atuação, visto que a cavidade bucal além da função nutricional, que é de grande importância, envolve ainda funções estéticas (aparência) e emocionais (auto estima) e ainda possibilita a comunicação dos sentimentos e idéias através da fala e da expressão facial. Os problemas dentais podem interferir de forma muito negativa na alimentação e na qualidade da nutrição das pessoas, especialmente em pacientes idosos, prejudicando-lhes a resistência orgânica ou dificultando a comunicação e a aparência. Nesta situação o individuo sofre biologicamente, psicologicamente e socialmente, afetando de forma indelével sua condição de cidadão e na sua qualidade de vida. As relações funcionais fazem com que a Oclusão seja o foco principal deste estudo. A Oclusão é um fenômeno composto por elementos estáticos e dinâmicos, no qual todos os componentes do Sistema Estomatognático (SE) são interdependentes relacionado-se hamoniosamente coordenados pelo Sistema Nervoso Central (SNC). Segundo os autores mais importantes da odontologia mundial há uma afirmação que diz: “Não existe odontologia de qualidade sem que se aplique os conhecimentos dos principios da OCLUSÃO.” A saúde pública bucal conseguiu despertar a preocupação e o interesse numa grande parcela da população quanto à manutenção de uma dentição sem cárie e com uma mastigação saudável. Os materiais restauradores são produzidos com qualidade, oferecendo segurança aos profissionais que o utilizam e aos pacientes que recebem. A osseointegração é uma realidade mundial. A estética está ao alcance de todos. Porém a muitos pacientes e profissionais em odontologia uma pergunta surge, e em um primeiro momento não se tem a resposta: Por que meu dente fraturou? Por que a restauração caiu novamente, já fiz três vezes e recentemente? Por que esta prótese desloca tanto na boca? Um tema pouco abordado até algum tempo atrás, pode ser a resposta para muitos problemas: Oclusão. Os dentes têm numerosas relações de contato: por oclusal, com os dentes antagonistas; por proximal, com os dentes vizinhos; internamente, com a língua; por vestibular, com os lábios e a mucosa jugal; e, às vezes, os dentes estão em contato com corpos estranhos, como por exemplo, elementos de uma prótese. Durante o transcurso da vida, estes contatos podem alterar-se individualmente, de um modo fisiológico ou mesmo patológico. A direção, a intensidade e a frequência destes contatos influem de maneira incisiva sobre as estruturas que suportam os dentes na posição do dente em oclusão. As funções normais (mastigação, deglutição e movimentos vazios) estão submetidos a outras leis, diferentes daquelas alteradas, de uma maneira patológica (parafunções, compressões, rangidos, bruxismo). Por isso aqueles que pretendem atuar na superfície oclusal devem ter um conhecimento básico de oclusão para aplicá-lo na clínica diária, preocupando-se com o significado funcional dos contatos oclusais. Prof a. Dr a. Daisilene Baena Castillo Disciplina de Oclusão – FAODO/UFMS Caderno de estudos da Oclusão 2 Sumário I - HISTÓRICO................................................................................................ 3 Seção 1 – Origem........................................................................................ 4 Seção 2 - Diretrizes curriculares................................................................. 6 II - ANATOMIA DO SISTEMA ESTOMATOGNÁTICO (SE).................... 7 Seção 1 - Sistema estomatognático (SE).................................................... 8 Seção 2 – Ossos.......................................................................................... 10 Seção 3 – Músculos.................................................................................... 13 Seção 4 - Articulação temporomandibular (ATM).................................... 16 Seção 5 - Sistema Nervoso........................................................................ 24 Seção 6 - Fisiologia do SE......................................................................... 26 Seção 7 – Periodonto................................................................................. 27 Seção 8 – Dentes........................................................................................ 28 III - CONCEITOS BÁSICOS DE OCLUSÃO................................................. 29 Seção 1 - Relação maxilo-mandibular....................................................... 30 Seção 2 - Guias de desoclusão................................................................... 34 Seção 3 - Plano oclusal............................................................................... 37 Seção 4 - Dinâmica mandibular................................................................. 39 Seção 5 - Determinantes anatômicos do SE............................................... 42 Seção 6 - Movimentos mandibulares......................................................... 43 Seção 7 - Estabilidade mandibular............................................................. 45 Seção 8 - Tipos de oclusão......................................................................... 46 Seção 9 - Classificação de Angle............................................................... 49 Seção 10 - Fatores que podem provocar alteração no plano oclusal......... 50 IV - CONTATOS OCLUSAIS......................................................................... 55 Seção 1 - Variação quanto a localização.................................................... 56 Seção 2 - Variação quanto a relação interoclusal...................................... 57 Seção 3 - Variação quanto a dinâmica do fechamento oclusal.................. 58 Seção 4 - Contatos oclusais cúspide-fossa................................................. 59 Seção 5 - Ajuste oclusal............................................................................. 61 V - MONTAGEM EM ARTICULADOR SEMI-AJUSTÁVEL (ASA).......... 69 Seção 1 – Articulador................................................................................. 70 Seção 2 - Moldagem em alginato............................................................... 72 Seção 3 - Montagem do modelo superior................................................... 75 Seção 4 - Montagem do modelo inferior.................................................... 78 Seção 5 - Individualização do ASA............................................................ 83 Referências................................................................................................................ 85 Disciplina de Oclusão – FAODO/UFMS Caderno de estudos da Oclusão 3 UNIDADE I HISTÓRICO DA OCLUSÃO Objetivos de estudos Conhecer parte da história da oclusão Roteiro de estudos SEÇÃO 1: Origem SEÇÃO 2: Diretrizes curriculares de oclusão Disciplina de Oclusão –FAODO/UFMS Caderno de estudos da Oclusão 4 SEÇÃO 1 - Origem A palavra oclusão origina do latim “occlusione”, ato de fechar, fechamento. Interessante observar que, no início de 1800, todo estudo da oclusão tinha como movimento da mandíbula somente a abertura e fechamento. Somente após 1850 que Bonwill, um matemático e dentista, apresentou seu primeiro artigo no qual descrevia suas “leis geométricas e mecânicas da articulação” – Triângulo de Bonwill, no qual a mandíbula foi descrita em termos de um triângulo eqüilátero com lados de 10 cm, que conectava ambos os côndilos e os ângulos meso-incisais dos incisivos centrais inferiores – que houve um ‘despertar’ quanto ao deslocamento dos côndilos e aos movimentos mandibulares de forma variável. Bonwill teve como propósito por em contato a maior quantidade de superfícies triturantes dos pré-molares e molares e, ao mesmo tempo, ter todos os incisivos em ação durante os movimentos laterais. Antes das “leis” de Bonwill, os conceitos de oclusão eram baseados na idéia de uma dobradiça única e estática. De acordo com Washbum em 1893, Walker reconheceu que percurso do côndilo é inclinado inferiormente devido a inclinação condilar – ele desenhou um articulador com mecanismo ajustável ao percurso do côndilo para cada paciente. O conceito de oclusão balanceada é creditado a Ferdinand Graf Spee que em 1890 apresentou suas observações sobre a função dos dentes naturais de humanos. Spee propôs que (1) as superfícies oclusais contactantes de todos os dentes inferiores, “deslizam” contra os dentes superiores; (2) essas áreas ficam numa superfície cilíndrica e (3) o eixo desse cilindro passa no meio da órbita, atrás do ducto lacrimal. Em 1900, Edward Hartley Angle desenvolveu a classificação de má- oclusão, conhecida e utilizada como Classe I, II e III de Angle. Em 1910, Alfred Gysi criticou o uso contínuo do articulador simples de dobradiça ou charneira. Gysi compreendeu os problemas biomecânicos dos dentes artificiais e propôs uma abordagem de tratamento para acomodá-los em uma oclusão balanceada bilateralmente. Numa extensão dos realizados por Bonwill e Spee, George S. Monson, em 1920, propôs o “princípio esférico na solução do problema da oclusão humana”. Ele adaptou o triângulo eqüilátero de Bonwill e adicionou ao conceito do eixo de rotação central da Curva de Spee. Suas conclusões produziram a esfera de 10 cm de raio, representando um ideal Disciplina de Oclusão – FAODO/UFMS Caderno de estudos da Oclusão 5 geométrico – uma incorporação geométrica da função, forma e beleza do sistema mastigatório. A escola Gnatológica nasceu de um encontro de B.B. McCollum e um grupo de cirurgiões dentistas na Califórnia, em 1926, que fundaram a Sociedade Gnatológica da Califórnia. Eles lançaram o termo gnatologia que foi definido como o “estudo dos movimentos da articulação temporomandibular, sua medição seletiva, reposição e uso como determinantes no diagnóstico e tratamento da oclusão” (Kaplan, 1963 - apud Mohl e Davidson, 1989 - Fundamentos de Oclusão). A relação côndilo e a fossa eram consideradas imutáveis, sendo responsável por guiar a mandíbula em sua relação correta com o maxilar. A partir de então, McCollum e os outros dedicaram-se a restaurar a função e a anatomia ‘ideais’. O articulador totalmente ajustável foi desenvolvido em 1955 e era capaz de seguir todos os movimentos mandibulares. Com a era da industrialização, os conceitos gnatológicos ficaram muito influentes no campo da oclusão. Em 1929, Clyde H. Schuyler afirma que nem todos os princípios de oclusão aplicável às próteses totais são aplicáveis à dentição natural, a perfeição exigida na oclusão de prótese total não é essencial para a saúde e manutenção das estruturas de apoio dos dentes naturais. Em 1935, Schuyler desenvolveu a primeira técnica de ajuste oclusal baseado no desgaste cuidadoso de vertentes específicas. Após o esclarecimento sobre a movimentação da mandíbula na fossa mandibular, os conceitos de oclusão passaram por várias fases: importante registrar a participação de Beyron (1954), Bagg (1954), D’Anmico (1958), Peter Thomaz, dentre outros. Disciplina de Oclusão – FAODO/UFMS Caderno de estudos da Oclusão 6 Seção 2 – Diretrizes curriculares de oclusão Em 1976, o Conselho da Associação Dental Americana sobre Educação Dental recomendou que o ensino de Oclusão fizesse parte do programa de ensino das escolas de Odontologia. Em 1983, a Associação Americana de Escolas de Odontologia desenvolveu “Diretrizes Curriculares de Oclusão”. A seguir, a transcrição de parte desta diretriz: “O estudo da oclusão envolve todo o sistema estomatognático. A compreensão das inter-relações dos dentes, tecidos periodontais, ossos, articulações, músculos e sistema nervoso durante a variação total de movimentos mandibulares, bem como os movimentos funcionais normais é essencial. As relações de contatos aceitáveis dos dentes durante esses movimentos e a instrumentação de técnicas necessárias para reproduzir essas relações durante os procedimentos restauradores devem ser apresentadas. Uma vez que o funcionamento saudável do sistema estomatognático e as relações de contato aceitáveis dos dentes são compreendidos, o conhecimento, técnicas e procedimentos para o diagnóstico e tratamento das condições potencialmente patológicas e as patologias em si podem ser apresentadas. Isso inclui: (1) fatores etiológicos que levam ao patológico, (2) a fisiologia neuromuscular que leva ao estado patológico, (3) efeitos da parafunção ou patofunção dos dentes, tecidos periodontais, músculos e articulações, (4) auxílios diagnósticos, (5) diagnóstico de condições potencialmente patológicas, (6) métodos de tratamento, (7) integração desses métodos em um plano de tratamento abrangente, (8) experiência clínica em diagnóstico e tratamento dos problemas relacionados com a oclusão. Algum material de conteúdo pode ser coberto em cursos que não sejam de oclusão, mas devem ser considerados como parte do currículo total sobre oclusão. O currículo de oclusão deve ser apresentado durante os quatro anos do curso de graduação. A oclusão relaciona diretamente as disciplinas de ciências básicas e as disciplinas pré-clínicas e clínicas. A fase inicial do currículo de oclusão deve ser iniciada o mais rápido possível depois da apresentação da anatomia e histologia do sistema estomatognático. A neuro-anatomia e a fisiologia devem ser apresentadas antes ou juntamente com os aspectos apropriados dessa parte do currículo de oclusão. A instrumentação e as técnicas de substituição ou reprodução da relação oclusal devem ser apresentadas antes dos cursos de restauração pré-clínica. A parte clínica do currículo deve ser integrada à experiência clínica das disciplinas, para um tratamento abrangente do paciente”. Disciplina de Oclusão – FAODO/UFMS Caderno de estudos da Oclusão 7 UNIDADE II ANATOMIA DO SISTEMA ESTOMATOGNÁTICO Objetivos de estudos Conhecer a detalhadamente as estruturas que compõe o SE, bem como o entendimento da fisiologia das mesmas. Roteiro de estudos SEÇÃO 1: Sistema estomatognático (SE) SEÇÃO 2: Ossos SEÇÃO 3: Músculos SEÇÃO 4: Articulação temporomandibular (ATM) SEÇÃO 5: Sistema nervoso SEÇÃO 6: Fisiologia do SE SEÇÃO 7: Periodonto SEÇÃO8: Dentes Disciplina de Oclusão – FAODO/UFMS Caderno de estudos da Oclusão 8 Seção 1- SISTEMA ESTOMATOGNÁTICO O sistema estomatognático é considerado uma unidade complexa e refinada do corpo, e, funcionalmente, é responsável pela mastigação, fala e deglutição, sendo que seus componentes atuam também no paladar e respiração. É um sistema composto por ossos, músculos, articulações e dentes, e regulado e coordenado por um sistema neurológico. Cada um destes componentes apresenta uma biologia e estrutura funcional própria adaptada a funções específicas, que, em condições normais, podem promover um equilíbrio funcional entre as partes envolvidas. Caso ocorra uma alteração patológica, principalmente sobre os dentes, isso poderá induzir a um desequilíbrio de parte ou de todos os órgãos que o compõe. Este sistema está em constante e permanente adaptação, portanto, é dinâmico e se auto-regula com o próprio uso. O aparelho mastigatório forma parte de um corpo humano como um todo, e alterações patológicas que ocorrem no resto do corpo humano podem refletir negativamente sobre a sua função. Da mesma forma, a perda da integridade e da saúde em alguns componentes do sistema, principalmente em dentes e articulação temporomandibular, pode afetar órgãos e sistemas distantes. Exemplos disso, são as alterações no sistema gastrointestinal ocasionados por mastigação deficiente, alterações no ouvido, devido a uma ATM patológica e ainda, dor na região superior da coluna vertebral causada por disfunção do aparelho estomatognático. Assim, não se deve separar a função e a importância deste aparelho em relação ao resto do organismo. Mas, infelizmente, muitos clínicos ainda continuam tratando os dentes como unidades completamente separadas das ATMs, demonstrando desconhecimento sobre a inter-relação entre os diversos componentes do sistema estomatognático. Paiva (1997), define como componentes do Sistema Estomatognático: Ossos – crânio, mandíbula, hióide, clavícula e esterno Músculos – mastigatórios, deglutição e mímica Articulações – dento-alveolar e ATM Ligamentos – periodontais e da ATM Dentes Língua, lábios e bochechas Sistema vascular e nervoso Classificados como componentes fisiológicos: Disciplina de Oclusão – FAODO/UFMS Caderno de estudos da Oclusão 9 - Oclusão Dentária - Periodonto - Articulações Temporomandibulares (ATMs) - Mecanismo neuromuscular Tendo como funções: - Gustação - Mastigação - Deglutição - Postura da mandíbula, da língua e do osso hióide - Sucção - Respiração - Fonação - Mímica ou expressão facial Disciplina de Oclusão – FAODO/UFMS Caderno de estudos da Oclusão 10 Seção 2 - OSSOS O aparelho locomotor, é o responsável direto pela locomoção. Está constituído pelos ossos, articulações e pelos músculos. Os músculos representam a parte ativa no movimento, enquanto os ossos a passiva. Porém ambos são indispensáveis para que ocorra o movimento. Os ossos são constituídos por substância compacta (densa) e substância esponjosa (trabecular). A substância compacta apresenta como unidade de construção, as denominadas osteonas, lamelas concêntricas ao redor do canal vascular (de Havers), cuja direção depende das forças mecânica que atuam sobre o osso, oferecendo maior resistência. A matriz óssea da substância esponjosa forma lamelas que são paralelas e constituem trabéculas delgadas, que se entrecruzam como uma rede, se apresentando em orientações adequadas para também oferecer a melhor resistência, de acordo com a solicitação mecânica em cada parte do osso. Importante lembrar que independente do arranjo microscópico as substâncias compacta e esponjosa apresentam matriz orgânica (fibras colágenas e células) e inorgânica (cristais iônicos). Outro aspecto a ser destacado é a plasticidade do tecido ósseo. Pois os mesmos apresentam uma construção especial que assegura melhor resistência com máxima economia de material, e um mínimo de peso, o que é importante para a vida no meio terrestre sob a ação da gravidade. Apesar da sua resistência e dureza, o osso tem uma estrutura dinâmica viva constantemente renovada e reconstruída, com marcante capacidade de resposta a estímulos mecânicos externos e internos, ou seja, uma grande capacidade de adaptação funcional às solicitações mecânicas. Esse processo é denominado de remodelação óssea, fenômeno contínuo até a senilidade e que depende tanto da formação óssea pelos osteoblastos quanto da reabsorção óssea pelos osteoclastos. Remodelação óssea = formação óssea (por deposição) + reabsorção óssea (por decomposição). A remodelação óssea garante o equilíbrio arquitetônico entre todas as partes isoladas do esqueleto em desenvolvimento, modificando os ossos na forma, no tamanho e no ajuste funcional bem afinado, adaptando-se às diversas solicitações mecânicas como afirmado anteriormente. O ritmo dessa remodelação óssea é ditado naturalmente pelo conjunto de tecidos “moles” que se relaciona com cada um dos ossos do esqueleto. É importante destacar que os fatores intrínsecos (genéticos) determinam a forma geral do osso, porém os fatores extrínsecos (solicitações mecânicas) influenciam diretamente seu arranjo estrutural. O crânio, apresenta diversos esteios (ou pilares) de reforço (ou sustentação), que irradiam dissipam as forças de tração exercidas pelos músculos da mastigação, como também as forças de compressão exercidas pelos arcos dentais maxilar e mandibular. Para Okeson (1992), existem três componentes esqueléticos mais importantes que compõem o sistema estomatognático. Dois suportam os dentes: Disciplina de Oclusão – FAODO/UFMS Caderno de estudos da Oclusão 11 maxila e mandíbula. O terceiro, o osso temporal, suporta a mandíbula em sua articulação com o crânio. Na maxila, como seus ossos são fundidos nos outros ossos próximos que compõem o crânio, os dentes maxilares são considerados como uma parte fixa do crânio e desta forma constituem a parte estacionária do sistema mastigatório. A mandíbula é um osso em forma de “U” que sustenta os dentes inferiores e forma a parte inferior do esqueleto facial; não tem ligação óssea com o crânio. Ela é sustentada abaixo da maxila por músculos, ligamentos e outros tecidos moles que por sua vez possibilitam a mobilidade necessária ao seu funcionamento. Os ossos servem de fixação para os músculos manterem a cabeça em equilíbrio na coluna cervical e para realizar as funções estomatognáticas. Maxila Osso par Formam a maior parte do esqueleto facial superior Osso pneumatizado Bordo posterior: Tuberosidade maxilar Bordo inferior: Rebordo alveolar e palato Bordo superior: Assoalho da cavidade nasal e órbita Trajeto das Forças Mastigatórias Pilares = apófise alveolar base do crânio Arcos = ligam os pilares Pilares: canino, zigomático e pterigoideo Arcos: orbitário, infra-orbitário e alveolar Mandíbula Osso único Forma de “U” Não apresenta inserção óssea com o crânio Se divide em : Processo alveolar; Corpo; Ângulo; Ramo ascendente; Disciplina de Oclusão – FAODO/UFMS Caderno de estudos da Oclusão 12 Processo coronóide; Processo condilar Côndilo Mandibular “Cabeça da mandíbula” Porçãoda mandíbula que se articula com o crânio 2 Pólos – Medial e Lateral Superfície articular (disco articular) Trajeto das forças mastigatórias (transmissão) - trajetória marginal; - trajetória temporal; - trajetória alveolar. Temporal Osso par Eminência articular Fossa articular ou cavidade glenóide Disciplina de Oclusão – FAODO/UFMS Caderno de estudos da Oclusão 13 Seção 3 – MÚSCULOS O tecido muscular apresenta diferenças celulares evidentes, sendo tradicionalmente ensinados como músculo estriado (esquelético e cardíaco) e músculo liso. O músculo estriado esquelético é assim denominado devido ao fato da maioria deles estar inserida em ossos do esqueleto. Os músculos apresentam inervação sensitiva (dor, propriocepção) e inervação motora. Esta é caracterizada pela existência das unidades motoras, típicas do músculo estriado esquelético. Cada unidade motora é constituída por um neurônio motor somático (“motoneurônio”), a ramificação terminal de seu axônio (neurofibra) em n ramos e a quantidade x de células (fibras) musculares estriadas esqueléticas por ele inervadas. É, portanto, a menor fração de contração do músculo. Esse conceito é importante pelo fato das unidades motoras de um determinado músculo apresentarem a relação quantitativa “fibras musculares/axônio” de acordo com sua ação. A relação é maior em músculos cuja ação é predominante de força (potência) dos movimentos, e menor em músculos cuja ação é de precisão. Os músculos considerados da mastigação são: três elevadores (masseter, temporal e pterigóideo medial), um protrusor da mandíbula (pterigóide lateral), os supra-hióideos (digástrico, milo-hióideo, gênio-hióideo e estilo-hióideo) que em conjunto são descritos como músculos abaixadores e retrusores da mandíbula, portanto, colaboram na mastigação; e, ainda os infra-hióides (esterno-hióideo, omo- hióideo, esternotireóideo). Os músculos: Responsáveis pelo movimento Ação em grupo Função: Origem e inserção Direção das fibras Regulação do sistema nervoso Contração Isotônica O músculo mantém o tônus alterando o comprimento Realização de trabalho Processo aeróbico Acúmulo mínimo de metabólitos Contração Isométrica Disciplina de Oclusão – FAODO/UFMS Caderno de estudos da Oclusão 14 O músculo aumenta o tônus mantendo constante o comprimento Não realização de trabalho Processo anaeróbico Acúmulo de metabólitos Atividade parafuncional (fadiga e dor) Relaxamento controlado Relaxamento de um grupo muscular enquanto outro grupo se contrai Manutenção da suavidade do movimento Tonus muscular Contração alternada de grupos de fibras Mantém o comprimento e equilíbrio postural da estrutura sustentada Manutenção das atividades fisiológicas Músculos principais da mastigação Temporal Masseter Pterigoideo Medial Pterigoideo Lateral Músculos acessórios Supra-hióideos Músculo Temporal 3 grupos de fibras Origem: Fossa temporal Inserção: Processo coronóide e borda anterior do ramo Função: Eleva e retrai a mandíbula, ativo no apertamento. Músculo Masseter 2 feixes Origem: Arco zigomático Inserção: Ângulo da mandíbula Função: Eleva e protrui a mandíbula, ajuda no movimento lateral, ativo no apertamento. Músculo Pterigoideo Medial Origem: Fossa pterigóidea e superfície média da lâmina lateral pterigoidea Inserção: Superfície média do ângulo da mandíbula Função: Eleva a mandíbula, causa movimento lateral e protrusão Músculo Pterigoideo Lateral Possui 2 feixes Disciplina de Oclusão – FAODO/UFMS Caderno de estudos da Oclusão 15 Superior Inferior Músculo Pterigoideo Lateral Superior Origem: Superfície infratemporal da asa maior do esfenóide Inserção: Cápsula articular, disco articular, côndilo Função: Posiciona o disco no fechamento, inativo na abertura Músculo Pterigoideo Lateral Inferior Origem: Superfície lateral da lâmina pterigoide lateral. Inserção: Colo do côndilo. Função: Protrui e abaixa a mandíbula, causa movimento lateral, inativo no fechamento Musculatura acessória Músculos acessórios Supra-hióideos Digástrico Milohióideo Genohióideo Estilohióideo Músculo Digástrico Origem: Incisura mastóidea Inserção: Fossa digástrica (borda inferior da mandíbula) Função: Eleva o hióide e deprime a mandíbula Músculo Milohióideo Origem: Linha milohióidea da mandíbula. Inserção: Osso hióide. Função: Eleva e estabiliza o hióide, deprime a mandíbula, forma o assoalho bucal Músculo Geniohióideo Origem: Apófises genianas inferiores Inserção: Osso hióide Função: Eleva e traciona o hióide e a língua para a frente, deprime a mandíbula. Músculo Estilohióideo Origem: Processo estilóide Inserção: Osso hióide Função: Eleva e retrai o hióide, eleva o assoalho da boca e a língua Importância da Anatomia Muscular Movimentos mandibulares Avaliação de desordens Tratamento protético Disciplina de Oclusão – FAODO/UFMS Caderno de estudos da Oclusão 16 Seção 4 - ARTICULAÇÃO TEMPOROMANDIBULAR Articulação entre a mandíbula e o osso temporal Bilateral Anatomicamente: 2 articulações Funcionalmente: 1 articulação Articulação Ginglimo artroidal Ginglimóide = Rotação Artroidal = Translação Articulação composta (3 ossos) Principais componentes Osso temporal Côndilo Disco articular Ligamentos Superfícies ósseas Côndilo, fossa articular, eminência articular. Recobertas por tecido conjuntivo denso fibroso, ao invés de cartilagem hialina Resistência a esforços Remodelação Disco articular Regulariza a discrepância anatômica existente entre as estruturas ósseas Absorção de choques Movimentação suave Morfologia estável Tecido conjuntivo denso e fibroso Sem vascularização e inervação Divide-se em 3 regiões: Borda anterior; Zona intermediária; Borda posterior; Inserções: Borda anterior do disco Cápsula articular Pterigóideo lateral superior Tecidos retrodiscais Borda posterior do disco Vascularizados e inervados Lâmina retrodiscal superior Fibras elásticas Lâmina retrodiscal inferior Fibras colágenas Disciplina de Oclusão – FAODO/UFMS Caderno de estudos da Oclusão 17 Ligamentos Cápsula articular (Capsular) Envolve toda a ATM Retém o fluido sinovial Ligamentos colaterais Medial e Lateral Prendem o disco ao côndilo Divisão da articulação em 2 compartimentos Cavidade superior Cavidade inferior Ligamento Temporomandibular Lateral Abertura bucal Horizontal Evita retrusão condilar LIGAMENTOS ACESSÓRIOS Ligamento esfenomandibular Sustentação Não limita o movimento Ligamento estilomandibular Limita a protrusão excessiva Relaxado na abertura ARTICULAÇÃO TEMPOROMANDIBULAR (ATM) A articulação temporomandibular é constituída pelos dois côndilos mandibulares e a fossa mandibular,que inclui a articulação do processo condilar da mandíbula e disco articular com a fossa mandibular do osso temporal. É uma articulação sinovial, do tipo bicondílica que permite amplos movimentos da mandíbula em torno de um osso fixo que é o temporal. É a única presente no esqueleto cefálico capaz de realizar todos os movimentos, sendo classificada funcionalmente como uma articulação triaxial, portanto, ela é capaz de realizar movimentos em torno de três eixos de simetria do corpo humano. É considerada a juntura mais complexa do corpo humano, pois existe uma relação de interdependência da ATM com a oclusão dos dentes em ambos os arcos, tornando-a peculiar; é composta pelo côndilo mandibular, parte móvel que se desloca, e pelo Disciplina de Oclusão – FAODO/UFMS Caderno de estudos da Oclusão 18 osso temporal, parte fixa e um disco articular fibrocartilaginoso interposto entre os dois componentes ósseos. Partes constituintes da ATM: Disco articular É uma estrutura firme, flexível e localizada entre as superfícies articulares. Tem uma forma bicôncava com a qual se adapta perfeitamente entre as superfícies recíprocas contrárias, atuando na regularização da discrepância anatômica entre as mesmas, absorvendo choques e promovendo uma movimentação suave da ATM. O disco articular é interposto entre duas superfícies articulares, dando origem a dois compartimentos: SUPERIOR: separa da superfície articular do crânio, onde há o movimento de translação. INFERIOR: circunda a cabeça do côndilo. Ao observar criteriosamente o disco articular, visualizamos duas porções transversais: -anterior ao pólo superior do côndilo : inserção do m. pterigóideo lateral superior; -posterior ao pólo superior do côndilo As inserções posteriores ao disco articular (tecidos retrodiscais) - “zona bilaminar” é composta por duas camadas de fibras encaixadas em tecido conjuntivo aureolar frouxo. a) a camada superior insere na lâmina timpânica, é composta de elastina. A sua inserção posterior ao osso deve ser suficientemente elástica para permitir o movimento translatório na conjunção com o côndilo. b) a camada inferior e demais estruturas é composta de colágeno. Essa camada não é estendida da mesma maneira que o côndilo quando este sofre movimento translatório anterior, já que o disco gira e alivia qualquer estiramento nesta camada. Essa camada também é chamada de coxim retrodiscal. Disciplina de Oclusão – FAODO/UFMS Caderno de estudos da Oclusão 19 Côndilo Fossa Articular Disco articular: verde Coxim retrodiscal: - elastina: branco - porção inferior: vermelho Disciplina de Oclusão – FAODO/UFMS Caderno de estudos da Oclusão 20 Cápsula articular É uma membrana que liga ou prende o côndilo mandibular ao osso temporal, envolvendo-os completamente. A cápsula atua para resistir a qualquer força mediana, lateral ou inferior que tende a separar ou deslocar as superfícies articulares, definindo os limites anatômicos e funcionais da articulação, entre a fossa mandibular, eminência articular e nos pólos medial e lateral do côndilo, abaixo da inserção dos ligamentos. Membrana sinovial É uma membrana conjuntiva, delgada de natureza epitelioidea, que reveste a face interna da cápsula articular. Tem por função secretar um líquido lubrificante, a sinóvia ou líquido sinovial que impede o atrito entre as superfícies articulares. LIGAMENTOS Têm importante papel na proteção das estruturas da ATM. São composto por tecido conjuntivo colagenoso, não se esticam. Agem como agentes limitadores ou de restrição. São classificados em ligamentos funcionais e acessórios. A) Ligamentos funcionais: • Ligamentos Colaterais • Ligamento Capsular • Ligamento Temporomandibular LIGAMENTOS COLATERAIS (DISCAIS) Prendem a borda mediana e lateral do disco aos pólos do côndilo, são responsáveis pelos movimentos da ATM, que ocorre entre o côndilo e o disco articular no momento da abertura de boca. Eles fazem o disco mover passivamente com o côndilo quando ele desliza anterior e posteriormente. As aderências dos ligamentos discais permitem o disco rotacionar anterior e posteriormente na superfície articular do côndilo. Tem suprimento vascular e são Disciplina de Oclusão – FAODO/UFMS Caderno de estudos da Oclusão 21 inervados, sua inervação proporciona informação sobre a posição da articulação e sua movimentação. O esforço nesses ligamentos causa dor. Ligamento Capsular Envolve a eminência articular e toda a superfície da articulação. As fibras do ligamento capsular são presas na parte superior do osso temporal ao longo das superfícies articulares, a parte inferior prende-se ao côndilo. Retem o líquido sinovial. Age para resistir qualquer força mediana, lateral ou inferior, ou seja, qualquer força que atua para separar ou deslocar as superfícies articulares. É bem inervado e proporciona estímulo proprioceptivo sobre a posição e movimento da articulação. Ligamento Temporomandibular Protege os tecidos retrodiscais de trauma causado pelo deslocamento posterior do côndilo. É composto por duas porções: • Parte interna (horizontal) • Parte externa (oblíqua) PARTE INTERNA Estende-se da superfície externa do tubérculo articular e do processo zigomático horizontal posterior até ao pólo lateral do côndilo e da parte posterior do disco articular. Limita o movimento posterior do côndilo e do disco e protege também o músculo pterigoideo lateral de estiramento ou distensão. Ligamentos colaterais: rosa Ligamento temporomandibular: azul Ligamento capsular: preto Disciplina de Oclusão – FAODO/UFMS Caderno de estudos da Oclusão 22 PARTE EXTERNA Estende-se da superfície exterior do tubérculo articular e do processo zigomático posterior e inferior, até a superfície externa do colo do côndilo. Impede a queda excessiva do côndilo e dessa maneira atua para limitar a abertura da boca, influencia na abertura normal da mandíbula. Importante saber: Durante a fase inicial de abertura, o côndilo pode girar em torno de uma parte fixa, até o ligamento se tornar rígido. Quando o ligamento se retesa o côndilo não gira mais. Se a boca tiver de ser aberta mais amplamente, o côndilo necessitará mover-se para baixo e para frente através da eminência articular, ocorrendo o movimento de translação. Ligamento temporomandibular: É o único verdadeiro ligamento da ATM. Ele age como ligamento suspensório da mandíbula e serve ainda para limitar movimentos retrusivos da mandíbula e assim evitar a compressão das estruturas situadas atrás da cabeça da mandíbula. B) Ligamentos acessórios: • Ligamento esfenomandibular Parte da espinha do osso esfenóide e estende-se para baixa e lateralmente até a espinha de Spix. Não tem efeito limitador, é um ligamento de estabilização. • Ligamento estilomandibular Parte do processo estilóide, vai para baixo e para frente até a borda posterior do ramo da mandíbula, fica rígido quando se abre a boca, é um ligamento de estabilização. Nota : As peculiaridades que distinguem a ATM das demais articulações do corpo, são: o revestimento de fibrocartilagem e não de cartilagem hialina; a cabeça da mandíbula cresce na superfície,sem cartilagem epifisária; as faces articulares são bastante discordantes; o disco articular se coloca entre as faces articulares; tem movimentos de rotação e de translação associados; impulsos proprioceptivos são gerados também ao nível dos dentes e estruturas bucais. Disciplina de Oclusão – FAODO/UFMS Caderno de estudos da Oclusão 23 BIOMECÂNICA DA ATM Articulação temporomandibular Articulação composta Dois sistemas distintos Complexo côndilo-disco = Ligamentos discais Rotação Côndilo-disco X osso temporal = Translação (ocorre entre o complexo côndilo-disco e a fossa articular) Estabilidade da Articulação Tônus muscular dos músculos elevadores Pressão intrarticular Morfologia do disco Ligamentos discais Remodelação das ATMs Tratamento Ortodôntico Cirurgia Ortognática Traumatismos: Dieta Nota: A perfuração do disco articular é um estímulo para mudanças remodelativas na cartilagem condilar, do tipo degenerativas (aplainamento da superfície do côndilo). Disciplina de Oclusão – FAODO/UFMS Caderno de estudos da Oclusão 24 Seção 5 - SISTEMA NERVOSO “Sistema responsável pela coordenação e integração de todas as atividades orgânicas e pela adaptação do organismo às mudanças que ocorrem dentro dele e do meio ambiente” Sistema Nervoso Central Sistema Nervoso Periférico S. Nervoso Motor S. Nervoso Sensitivo Comportamento oral “Movimento ativo da boca e suas estruturas adjacentes” Fala Deglutição Mastigação Ranger/apertamento Expressões de emoção Umedecimento dos lábios Outros Papel na Oclusão Controle no crescimento e desenvolvimento da oclusão Manutenção e operação da oclusão normal Patogenia de certas desordens oclusais SISTEMA NERVOSO SENSITIVO Tipos de receptores Nociceptivos – desconforto e dor Proprioceptivos – posição e movimentos da mandíbula e estruturas associadas Disciplina de Oclusão – FAODO/UFMS Caderno de estudos da Oclusão 25 Interoceptores – estado dos órgãos internos Receptores no Sistema Estomatognático 1. Fusos musculares 2. Órgão tendinoso de Golgi 3. Corpúsculo de Pacini 4. Nociceptivos Fuso Neuromuscular Conjunto de fibras musculares intrafusais unidas por um invólucro de tecido conjuntivo Controlam o estiramento dentro dos músculos esqueléticos Estão dispersos através dos músculos, paralelamente às fibras extrafusais SISTEMA NERVOSO MOTOR Unidade motora São as Unidades Motoras numerosas fibras musculares inervadas por um neurônio motor, que apresentam um movimento único: contração ou encurtamento. (lei do “tudo ou nada”) Reflexo É o resultado de um impulso sensorial transmitido diretamente para um neurônio motor, sem o envolvimento dos centros motores maiores, atuando no controle dos movimentos normais e como proteção dos tecidos contra lesões. Reflexos Reflexo Miotático - Reflexo monossináptico de estiramento - Contrai músculo estirado repentinamente (protetor) - Importante na posição de descanso mandibular (tônus muscular) Reflexo Nociceptivo - Reflexo polissináptico flexor - Protege os dentes e as estruturas de suporte dos danos criados por uma força súbita muito pesada (inibição antagônica) Disciplina de Oclusão – FAODO/UFMS Caderno de estudos da Oclusão 26 Seção 6 - FISIOLOGIA DO SISTEMA ESTOMATOGNATICO De acordo com Madeira, 1998, a rotação e translação são os dois movimentos básicos da ATM. Na rotação a mandíbula se movimenta sobre um eixo transversal que passa pelos côndilos, este movimento ocorre a cada abertura e fechamento da boca; a mandíbula não se desloca horizontalmente e o disco articular não se move de onde está encaixado. Na translação, o côndilo excursiona até a frente e retorna à sua posição de origem, levando consigo o disco articular que a seus pólos se prende. Assim, côndilo e disco deslizam sobre a face articular temporal da articulação na abertura e fechamento da boca. A cabeça do côndilo possui três possibilidades de movimentação: rotação. Translação e o movimento de rototranslação. O movimento de rotação acontece na porção inferior do disco. A translação depende da movimentação côndilo + disco, ou seja, acontece no compartimento superior do disco (supra-meniscal), que está relacionado com os movimentos excêntricos da mandíbula, inclusive na propulsão da mandíbula. Os movimentos de rotação podem ser observados principalmente: - No movimento de Bennett no côndilo do lado funcional; - No início do movimento de abertura bucal; - No movimento da posição de oclusão cêntrica para a posição de repouso. Os movimentos de translação podem ser observados: - Combinados com o movimento de rotação no movimento de Bennett (lado ativo); - No movimento de abertura após terminar o movimento no eixo terminal de Charneira; - No movimento protrusivo; - No movimento que forma o ângulo de Bennett (lado inativo). A ATM recebe inervação dos nervos aurículo-temporal e masseterino, ambos pertencem ao ramo mandibular do nervo trigêmeo (V par craniano). E sua irrigação é realizada pelos ramos das artérias temporal superficial, timpânica, meníngea média, auricular posterior, palatina ascendente e faríngea superior. Disciplina de Oclusão – FAODO/UFMS Caderno de estudos da Oclusão 27 Seção 7 - Periodonto Para Paiva (1997), o periodonto é composto pelos tecidos que envolvem o órgão dental. É dividido em periodonto de proteção, representado pela mucosa ceratinizada (gengiva), e periodonto de inserção ou sustentação, composto pelo cemento, ligamento periodontal e osso alveolar. Mecanismo neuromuscular O sistema neuromuscular forma a parte ativa do aparelho estomatognático. Os movimentos mandibulares voluntários e involuntários dependem deste sistema que deve estar bem integrado e cuja finalidade é proteger os componentes do aparelho estomatognático, principalmente as ATMs, do trauma interno ou externo. É formado pelos proprioceptores do periodonto, ATM, músculos, ligamentos, mucosa, região perioral, cerebelo, córtex, mesencéfalo, nervos V, VII, IX, XI, e os músculos da mastigação, deglutição, respiração, fonação e postura. Para promover um movimento mandibular preciso, o estímulo de vários receptores deve ser recebido pelo sistema nervoso central por meio das fibras aferentes. O cérebro deve receber e organizar este estímulo e iniciar atividades motoras adequadas através do sistema eferente. Estas atividades motoras envolvem a contração de alguns músculos e a inibição de outros. Assim, em um movimento de abertura mandibular ocorre a ação de músculos agonistas, ou seja, agentes principais executores do movimento e ação dos antagonistas, ou seja, músculos inativos que devem estar relaxados para que o movimento se processe. Dentes X Ligamento Periodontal Os dentes ficam fixados nos alvéolos por meio do periodonto ou também denominado de ligamentos dento-alveolares. A disposição oblíqua do ligamento permite transformar as forças de pressão, em forças de tração.Disciplina de Oclusão – FAODO/UFMS Caderno de estudos da Oclusão 28 Seção 8 - Dentes Os dentes constituem os grupos dos incisivos, caninos, pré-molares e molares, cada um adaptado às funções mastigatórias de apreender, cortar, dilacerar e triturar os alimentos sólidos. Em conjunto desempenham as funções de mastigação, proteção e sustentação de tecidos moles relacionados e auxiliam na fonação e são imprescindíveis na estética facial. Os dentes fixam-se nos ossos por meio de fibras colágenas, que compreendem o ligamento alvéolo-dental ou ligamento periodontal. Esta união da raiz do dente ao seu alvéolo é denominada gonfose, um tipo específico de articulação fibrosa do corpo. O ligamento alvéolo-dental resiste a forças da mastigação, atenuando os impactos mastigatórios que sofrem os dentes ao serem introduzidos nos alvéolos. As fibras do ligamento, ao se estirarem, transformam as forças de pressão sobre o dente em tração no osso, já que o dente está suspenso no alvéolo. Disciplina de Oclusão – FAODO/UFMS Caderno de estudos da Oclusão 29 UNIDADE III Conceitos básicos de oclusão Objetivos de estudos Compreender a dinâmica da oclusão, e sua funcionalidade. Roteiro de estudos SEÇÃO 1: Relação maxilo-mandibular SEÇÃO 2: Guias de desoclusão SEÇÃO 3: Plano Oclusal SEÇÃO 4: Dinâmica mandibular SEÇÃO 5: Determinantes anatômicos do SE SEÇÃO 6: Movimentos mandibulares SEÇÃO 7: Estabilidade Mandibular SEÇÃO 8: Tipos de Oclusão SEÇÃO 9: Classificação de Angle SEÇÃO 10: Fatores que podem provocar alterações no plano oclusal Disciplina de Oclusão – FAODO/UFMS Caderno de estudos da Oclusão 30 Seção 1 – Relação maxilo-mandibular Oclusão se refere ao estudo das relações estáticas (intercuspidação dentária) e dinâmicas (movimentos mandibulares) entre as superfícies oclusais e entre estas e todos os demais componentes do aparelho estomatognático. A oclusão fisiológica é a harmonia entre os determinantes anatômicos e as unidades fisiológicas. O termo maloclusão é utilizado quando os dentes se encontram mal posicionados no arco. a) DIMENSÃO VERTICAL – DV É a medida vertical da face, entre dois pontos quaisquer, localizados um acima e outro abaixo da boca. É fundamental na preservação da unidade fisiológica do Aparelho Estomatognático. Medida vertical da face entre dois pontos quaisquer, selecionados arbitrariamente e convenientemente localizados um acima e outro abaixo da boca, normalmente na linha média ou próximos a ela. b) DIMENSÃO VERTICAL DE REPOUSO – DVR É a dimensão vertical da face, quando a mandíbula se encontra sustentada pela posição postural de repouso fisiológico dos músculos e com os lábios levemente em contato. É uma posição fisiológica onde os tecidos faciais e temporomandibulares estão com tônus muscular normal, em equilíbrio, não há contato interoclusal. c) DIMENSÃO VERTICAL DE OCLUSÃO –DVO É a dimensão vertical da face, quando os dentes estão ocluídos. d) ESPAÇO FUNCIONAL LIVRE – EFL É a distância existente entre as superfícies oclusais e incisais dos dentes antagonistas, quando a mandíbula se encontra em repouso fisiológico. Representa a diferença entre a DVO e a DVR. Aproximadamente 3 mm. e) RELAÇÃO CÊNTRICA – RC É a relação do côndilo com a fossa mandibular em completa harmonia com o disco articular. É uma posição estável e reproduzível pelo equilíbrio fisiológico dos músculos de sustentação mandibular, e independe do relacionamento dentário. Posição inicial, estável, fácil de ser reproduzida, é a posição de eleição para o tratamento reabilitador do paciente. f) OCLUSÃO EM RELAÇÃO CÊNTRICA - OC/ORC Oclusão dos dentes quando a mandíbula está em relação cêntrica com a maxila intercuspidada. Ou seja, é a posição maxilomandibular em que a relação cêntrica é coincidente com a intercuspidação entre os dentes. Disciplina de Oclusão – FAODO/UFMS Caderno de estudos da Oclusão 31 g) ESPAÇO FUNCIONAL LIVRE – EFL Também denominado de espaço da fala, é variável, dependendo de pessoa para pessoa, possui em média de 3 a 4 mm. É a diferença entre a DVR e a DVO. DVR – DVO = EFL. h) MÁXIMA INTERCUSPIDAÇÃO HABITUAL – MIH É a posição maxilomandibular com o maior número de contatos entre os dentes antagonistas. Interessante saber: Arcos reflexos = Os reflexos podem ser classificados em Incondicionados (Inatos ou Congênitos – respiração, deglutição e sucção) e Condicionados (Adquiridos ou Aprendidos). Habituação = “Quando a mandíbula é induzida várias vezes a uma posição que não seja fisiológica (devido à um contato oclusal traumático), cria-se em um curto espaço de tempo, um arco reflexo adquirido, inconsciente, modificando o padrão atual de mastigação. Isto passa a ser uma resposta motora automática e involuntária a um estímulo sensorial (trauma). Nela, já não intervêm mais nem a vontade, nem a consciência, posto que a estimulação já não chega mais ao cérebro. Este processo é conhecido em fisiologia como Habituação”. i) OVERBITE (SOBREMORDIDA) O mesmo que trespasse vertical, distância em que se projetam verticalmente os dentes de uma arcada sobre os da arcada antagonista quando intercuspidados ao máximo. O termo é usualmente empregado para as distâncias em que as bordas incisais dos dentes maxilares ultrapassam os mandibulares, todavia, pode ser usado também para indicar as relações verticais de cúspides antagonistas. j) OVERJET (SOBRESSALIÊNCIA) O mesmo que trespasse horizontal, distância em que se projetam horizontalmente os dentes maxilares sobre os dentes mandibulares, quando em intercuspidação máxima. Disciplina de Oclusão – FAODO/UFMS Caderno de estudos da Oclusão 32 k) TRAUMA DE OCLUSÃO É lesão causada aos dentes, ao periodonto ou ao sistema neuromuscular, por forças oclusais que excedem a capacidade de adaptação deste sistema. Está associado ao contato prematuro ou à interferência oclusal. Pode ser primário ou secundário. l) CONTATO PREMATURO São contatos não fisiológicos entre dentes antagonistas que impedem ou dificultam o fechamento mandibular em ORC sem causar desvio. Ocorre entre a ponta de cúspide e a fossa antagonista. m) CONTATO DEFLECTIVO É o contato oclusal dentário não fisiológico que dificulta ou impede o completo fechamento da mandíbula, desviando-a de sua trajetória normal de fechamento em RC. Gerando deslize em direção: - anterior; - à linha média da face; - contrária à linha média da face n) INTERFERÊNCIA OCLUSAL É o contato oclusal dentário não fisiológico que ocorre entre as superfícies oclusais antagonistas, dificultando ou impedindo os movimentos excursivos da mandíbula em protrusão, trabalho ou balanceio. o) OCLUSÃO MUTUAMENTE PROTEGIDA É uma oclusão que proporciona contato oclusal máximo em certos dentes ou grupos de dentes enquanto outros dentes têm leve contato. Disciplina de Oclusão – FAODO/UFMS Caderno de estudos da Oclusão 33 p) RELAÇÃO OCLUSAL DENTE A DOIS DENTES (1X2) É a oclusão mais encontrada na dentição natural, cada dente oclui com dois antagonistas, exceto os incisivoscentrais inferiores e os terceiros molares superiores. As cúspides funcionais cêntricas contactam com as cristas marginais e fossas oclusais dos dentes antagônicos. q) OCLUSÃO DENTE A DENTE (1X1) Outra forma de oclusão, bem menos encontrada nas dentições naturais, é o esquema cúspide com fossa, onde cada cúspide cêntrica oclui apenas em um dente antagônico. r) CÚSPIDES DE CONTENÇÃO CÊNTRICA - CCC Também denominadas de cúspide de suporte, cúspide de apoio ou cúspide de trabalho. São as cúspides que ocluem contra a fossa ou crista marginal do dente antagonista, são as cúspides vestibulares dos dentes inferiores e as cúspides palatinas dos dentes superiores - VIPS. Essas cúspides ao ocluírem estabelecem e mantêm a dimensão vertical de oclusão (DVO). s) CÚSPIDES EXCÊNTRICAS Também denominadas de cúspides de balanceio ou de não trabalho. Não ocluem com os dentes antagonistas, sendo as cúspides linguais dos dentes inferiores e as faces vestibulares dos dentes superiores – LIVS. Fisiologicamente tem a propriedade de proteger a língua e a bochecha, durante a mastigação. Disciplina de Oclusão – FAODO/UFMS Caderno de estudos da Oclusão 34 Seção 2 – Guias de desoclusão Têm a função de diminuir e equilibrar as forças musculares nos movimentos excursivos da mandíbula. a) GUIA ANTERIOR É o relacionamento das bordas incisais dos dentes anteriores inferiores com a face lingual dos dentes anteriores superiores, durante os movimentos protrusivo e retrusivo da mandíbula, sem contato dentário posterior, formando-se com as ATMs direita e esquerda um tripé de estabilidade. A guia incisal influência dos movimentos mandibulares pelo relativo trespasse dos dentes anteriores, conforme determinado pelas superfícies palatinas dos dentes anteriores superiores e pelas bordas incisais ou superficiais labiais dos dentes anteriores superiores. O efeito da guia anterior Os incisivos e caninos são os dentes mais anteriores da arcada dentária. Eles compreendem a determinante anterior do movimento mandibular e ajudam a guiar a mandíbula na sua excursão para frente (movimento protrusivo) e para esquerda e direita (movimentos laterais). Nós temos controle direto sobre esta determinante através das restaurações, equilíbrio e movimentos ortodônticos. As outras determinantes da oclusão: a articulação temporomandibular e o sistema neuromuscular, não podem ser desconsiderados em seus efeitos sobre os movimentos mandibulares, eles não são subordinados diretamente a nossa ação. Os contatos dos dentes anteriores em excursão afetam os movimentos da mandíbula. Isto por fim afeta a localização e a altura das cúspides, e a direção e profundidade dos sulcos. Restaurações de dentes anteriores devem ser realizadas cuidadosamente, pois mudanças do aspecto anatômico, destes dentes, podem mudar a guia anterior, com possível efeito deletério sobre a oclusão posterior. Quanto maior for o trespasse vertical dos dentes anteriores, mais altas podem ser as cúspides posteriores. Ao contrário quanto menor o trespasse vertical, menores devem ser as cúspides dos dentes posteriores. Quanto maior for o trespasse horizontal dos dentes anteriores menores podem ser as cúspides dos dentes posteriores. As cúspides devem ser altas quando o trespasse horizontal for pequeno. Disciplina de Oclusão – FAODO/UFMS Caderno de estudos da Oclusão 35 Portanto: a) Todos os movimentos excursivos da mandíbula são conduzidos pelos dentes anteriores, de tal maneira que os dentes posteriores só recebem cargas axiais, não participando dos contatos horizontais deslizantes. Os movimentos excursivos laterais são limitados e dirigidos pelos caninos superiores do lado de trabalho, na latero-protrusão os incisivos do lado correspondente conduzem a mandíbula, e na protrusão os movimentos são conduzidos pelos incisivos e caninos inferiores. b) A altura das cúspides dos dentes posteriores é ditada pela média das guias incisal e condilar. Isto é compreendido se observarmos a erupção dos primeiros molares (primeiro dente permanente) aos seis anos na criança, que dita assim o crescimento facial, a inclinação da cavidade glenóide e da guia incisal. Nos casos de uma reabilitação oclusal, devemos nos lembrar que quanto maior a guia condilar, mais alta as cúspides podem ser; quanto menor a guia condilar mais baixas as cúspides devem ser. b) GUIA CONDILAR Protrusão Plano sagital c) GUIA CANINO Durante o movimento excursivo da mandíbula, há o deslizamento natural do vértice do canino inferior na face lingual do canino superior do mesmo arco, e os demais dentes não se tocam. A guia lateral tem a função de guiar a mandíbula para um fechamento correto, sem toque dos dentes posteriores, durante os movimentos excursivos (horizontais). Também chamada de desoclusão protegida pelo canino. Disciplina de Oclusão – FAODO/UFMS Caderno de estudos da Oclusão 36 d) FUNÇÃO DE GRUPO Quando no movimento de desoclusão os caninos e um ou mais pares adjacentes de dentes posteriores no lado de trabalho ficam em contato oclusal simultâneo durante a excursão lateral da mandíbula. e) LADO DE TRABALHO Segmento lateral da dentição da qual a mandíbula se move durante a excursão lateral. f) LADO DE BALANCEIO Lado oposto ao lado de trabalho durante a excursão lateral. Lado de trabalho Lado de balanceio Disciplina de Oclusão – FAODO/UFMS Caderno de estudos da Oclusão 37 Seção 3 – Planos oclusais Refere-se a uma superfície imaginária que está relacionada anatomicamente com o crânio e que, teoricamente toca as bordas incisais dos incisivos e as pontas das cúspides das superfícies oclusais dos dentes posteriores. a) PLANO DE FRANKFURT É o plano de orientação que passa pela borda superior do trágus até a borda inferior da órbita. b) PLANO DE CAMPER É o plano de orientação que passa pela borda superior da asa do nariz e pela borda superior do trágus. c) LINHAS DO PLANO OCLUSAL Curva de Spee: curvatura anatômica do alinhamento oclusal dos dentes, partindo do ângulo incisal do canino inferior (ponta de cúspide), passando pelas cúspides vestibulares dos pré-molares e molares naturais, continuando em direção à borda anterior do ramo ascendente da mandíbula. Curva de Wilson: curvatura no plano frontal, de sentido vestíbulo-lingual, passando pelas cúspides vestibulares e linguais dos dentes posteriores de ambos os lados. A curva é côncava no arco inferior e convexa no arco superior, resultando principalmente das diferentes inclinações axiais dos dentes posteriores de ambos os arcos . Disciplina de Oclusão – FAODO/UFMS Caderno de estudos da Oclusão 38 d) ALTERAÇÕES NO PLANO OCLUSAL Linguo-versão Dente inclinado para a região lingual ou palatina. Mésio-versão Dente inclinado para o lado mesial (linha média). Disto-versão Dente apresenta no arco uma inclinação para distal Giro-versão Quando o dente no arco apresenta um giro em torno do seu próprio eixo. Infra-Oclusão O dente apresenta uma posição mais baixa em relação a linha de oclusão. Supra-Oclusão Quando o dente está acima da linha de oclusão. Transposição Ocorre quando o dente no arco erupciona em lugar de outro. ApinhamentoDentário É uma má-oclusão dentária onde os dentes ficam desalinhados por falta de espaço em determinado local do arco. Disciplina de Oclusão – FAODO/UFMS Caderno de estudos da Oclusão 39 Seção 4 - DINÂMICA MANDIBULAR a) Abertura simples da boca: o movimento de abertura pode ser dividido em três fases distintas: a primeira, que vai da posição de oclusão até a posição de repouso muscular, sob a ação da gravidade, atingindo a dimensão vertical de repouso (DVR); a segunda fase, vai da DVR até a abertura da boca, para a apreensão de pequenos objetos, que na região dos incisivos gira em torno de 18 mm. Nessas duas fases só a articulação infra-meniscal é solicitada, ou seja o côndilo gira na fossa mandibular, acontece a rotação pura, chamado eixo terminal, é importante para a determinação da oclusão e relação cêntrica. Na terceira fase da abertura da boca, os côndilos sofrem rotação e translação através da guia condilar até a abertura máxima da boca. b) Movimentos bordejantes: também denominados de limítrofes dos movimentos mandibulares. Demonstrado por Posselt, a movimentação mandibular no plano sagital, recebendo a denominação de Gráfico de Posselt. Quando a mandíbula move-se no plano horizontal, o ponto incisivo descreverá a figura do arco gótico descrito por Gysi. São os movimentos mandibulares extremos, limitados pelas estruturas anatômicas. Ocorrem nos planos frontal, horizontal e sagital. O envelope do movimento de Posselt: É o espaço tridimensional delimitado pelo ponto incisivo (incisal), durante os movimentos bordejantes mandibulares. c) MOVIMENTO DE BENNETT Movimento de deslocamento lateral total da mandíbula, resultante do deslizamento dos côndilos ao longo das vertentes da fossa mandibular durante as trajetórias excursivas laterais da mandíbula. Disciplina de Oclusão – FAODO/UFMS Caderno de estudos da Oclusão 40 d) SULCOS DE TRABALHO Durante o movimento de lateralidade, no lado de trabalho, as cúspides de contenção ao deslizarem nos dentes opostos, determinam tais sulcos. Nos pré-molares superiores, saem próximo das cristas marginais mesiais e nos inferiores das fossas distais, nos molares superiores estes sulcos se localizam entre as cúspides vestibulares, nos molares inferiores entre as cúspides linguais. e) SULCOS DE BALANCEIO A passagem das cúspides de trabalho, na face oclusal do dente antagônico, durante o movimento de lateralidade no lado oposto, de balanceio, determina esse sulco. Interessante saber: Nos molares superiores se situa na vertente interna da cúspide mésio palatina, denominado de Fenômeno de Stuart e nos molares inferiores, entre as cúspides mediana e disto-vestibular, denominado de Fenômeno de Thomas. Nos pré-molares inferiores estaria na vertente distal da cúspide vestibular e nos pré-molares superiores na vertente mesial da cúspide palatina. Estes sulcos, por serem funcionais, muitas vezes não correspondem aos sulcos anatômicos encontrados nos dentes naturais. Disciplina de Oclusão – FAODO/UFMS Caderno de estudos da Oclusão 41 f) Movimento de trabalho - guia canina de proteção lateral: Nas excursões laterais de trabalho da mandíbula; Somente os caninos tocam; Prevenindo (evitando) contato dos demais dentes anteriores e posteriores. Este movimento é de aproximadamente 10 mm. Na excursão lateral de trabalho da mandíbula, ocorrem contatos contínuos de deslocamento entre: superfície incisal do canino inferior e a fossa lingual do canino superior; as pontas de cúspides vestibulares dos dentes inferiores (CF) e as vertentes triturantes das cúspides vestibulares superiores (CNF). g) Movimento de não-trabalho ou balanceio Acontece no lado oposto do trabalho, no mesmo momento do trabalho, é de aproximadamente 10 mm. h) MOVIMENTO PROTRUSIVO (protrusão) Movimentos da mandíbula em direção póstero-anterior. GUIA ANTERIOR: É o relacionamento das bordas incisais dos dentes anteriores inferiores com a face lingual dos dentes anteriores superiores, durante os movimentos protrusivo e retrusivo da mandíbula, sem contato dentário posterior, formando-se com as ATMs direita e esquerda um tripé de estabilidade. i) MOVIMENTOS LATERAIS Movimentos de um corpo para um e outro lado em relação a sua posição de estabilidade. Na mandíbula, diz-se do movimento excursivo realizado para a direita ou para a esquerda do plano sagital mediano, observado principalmente no plano horizontal. Disciplina de Oclusão – FAODO/UFMS Caderno de estudos da Oclusão 42 Seção 5 – Determinantes anatômicos do Sistema Estomatognático (SE) São quatro os determinantes anatômicos, e o quinto determinante é o fator emocional, ligado diretamente ao SNC. a) Determinantes I e II – Determinantes posteriores = Articulações temporomandibulares . - Estabelecem a relação temporomandibular; - Estão fora do controle do Cirurgião Dentista, exceto por via cirúrgica. b) Determinante III - Determinante anterior = Oclusão dentária - Estabelece a relação maxilo-mandibular; - Pode ser modificada pelo Cirurgião Dentista. Esses três determinam mecanicamente o limite superior dos movimentos mandibulares e programam o IV determinante. c) Determinante IV = Sistema neuromuscular proprioceptivo. Sistema neuromuscular proprioceptivo presente nas ATMs, polpa e tecido periodontal, manda impulsos nervosos para o SNC, criando reflexos condicionados, pode ser modificado diretamente até certo ponto pelo Cirurgião Dentista, modificando-se o terceiro determinante, a oclusão. d) V Determinante = Fator emocional O Estado emocional, estresse ou tensão do paciente, situado no Sistema Nervoso Central - SNC, e contribui para o apertamento dentário, bruxismo, espasmo muscular e queixas sobre a ATM. ... PORTANTO, OS MOVIMENTOS MANDIBULARES...Resultam da interação de fatores biológicos, incluindo contatos dentários, anatomia e fisiologia das ATMs, eixo de rotação da mandíbula e atividade dos músculos mastigatórios. IMPORTÂNCIA CLÍNICA: Forma das restaurações (Dentística, Próteses); Entendimento da Oclusão; Arranjo dos dentes artificiais (Próteses); Diagnóstico das DTMs; Ajuste dos articuladores. Disciplina de Oclusão – FAODO/UFMS Caderno de estudos da Oclusão 43 Seçaõ 6 - MOVIMENTOS MANDIBULARES Didaticamente, os movimentos mandibulares, são classificados em: movimentos elementares, movimentos compostos, movimentos fundamentais, movimentos funcionais. a) MOVIMENTOS ELEMENTARES - ROTAÇÃO: Movimento descrito pelos côndilos mandibulares, em torno de um centro de rotação, localizado neles próprios, em torno de um eixo fixo. Diz-se dos movimentos que os côndilos executam dentro da fossa mandibular (predominantes no compartimento articular inferior), quando no início da abertura da boca (primeira etapa de abertura - 15 a 25mm de abertura). - TRANSLAÇÃO: Movimento executado pelos côndilos mandibulares, quando estes se deslocam em torno de um centro de rotação, que estaria localizado fora das fossas articulares. Considera-se o movimento descrito pelos côndilos durante a segunda etapa de abertura da boca. Complexo Disco-Côndilo, dentes e ramos movem-se todos na mesma direção, angulação e velocidade. b) MOVIMENTOS COMPOSTOS Assim denominados por se constituírem dos movimentos de ROTAÇÃOe TRANSLAÇÃO juntos, num único movimento. c) MOVIMENTOS FUNDAMENTAIS Abaixamento: Ação sinérgica dos músculos depressores e propulsores; Movimento de roto-translação; Efetuado a partir da posição inicial (MIH ou RC) Elevação: Ação sinérgica dos músculos elevadores; Relaxamento dos músculos depressores. Retrusão: Movimento entre a MIH e a RC; Geralmente Inferior a 1mm*. Protrusão: Contração Simultânea e bilateral dos Pterigóideos laterais; Movimento Póstero-Anterior. Aproximadamente 10mm. Guia Anterior + Guia Posterior. PROTRUSÃO = GUIA ANTERIOR Lateralidade: Movimento assimétrico, excêntrico. Possui uma fase de excursão (ir), e incursão (voltar). MOVIMENTOS MANDIBULARES FUNCIONAIS Ocorre dentro das posições bordejantes: Fala; Mastigação; Deglutição. Mastigação: 1ª Fase – Abertura; 2ª Fase – Fechamento; Disciplina de Oclusão – FAODO/UFMS Caderno de estudos da Oclusão 44 3ª Fase – Parada em Posição de Máxima Intercuspidação O SIGNIFICADO CLÍNICO DOS MOVIMENTOS: Expressa as diferenças entre os pacientes. Apresenta suas próprias relações maxilo-mandibulares (cúspide-fossa) e temporomandibulares. Determinantes verticais da morfologia oclusal (altura de cúspide e profundidade da fossa) podem ser alterados pelas: Guia condilar; Guia anterior; Plano de oclusão; Curva de Spee; Movimento de Bennet. Determinantes horizontais da morfologia oclusal (direção das cristas e sulcos) podem ser alterados pela: Distância intercondilar; Movimento de Bennet. Disciplina de Oclusão – FAODO/UFMS Caderno de estudos da Oclusão 45 Seção 7 - ESTABILIDADE MANDIBULAR Alguns quesitos necessários para se obter estabilidade mandibular: o Deve haver contatos dentais bilaterais simultâneos em posição cêntrica. Com contato harmônico bilateral simultâneo dos dentes ocorre uma parada estável do côndilo em cêntrica e um posicionamento estável e correto de músculos e ligamentos da ATM. o As cúspides cêntricas devem contactar com o dente antagônico, de modo simultâneo e regular. Relação Cúspide & fossa: cúspide vestibular inferior contacta a fossa central do superior; cúspide palatina superior contacta a fossa central do inferior. o A força da intercuspidação máxima é de aproximadamente 120 kg. Esta força quando distribuída de forma balanceada e equilibrada possibilita a absorção por dente de aproximadamente 4kg. o Uma plataforma oclusal estreita proporciona a estabilização dos contatos dentais e da mandíbula, impedindo assim, que ocorra o deslizamento e a desarmonia dos músculos e ligamentos da ATM. Cargas Axiais Um dos quesitos para se obter a estabilidade mandibular, pois: a) As relações interoclusais (cúspide-fossa) devem dirigir as forças mastigatórias o mais próximo possível do longo eixo do dente antagônico; b) As superfícies oclusais devem ser estreitas no sentido vestíbulo-lingual, para facilitar o direcionamento das forças mastigatórias no sentido dos longos eixos dos dentes (sentido axial); c) O periodonto é organizado para suportar as cargas axiais, através de mecanismos de propriocepção. Este mecanismo atua nos dentes, quando as forças se dirigem axialmente, protegendo-o contra forças excessivas tanto de intrusão (contato pré-maturo), quando de cisalhamento (interferências em lateralidade); d) As vertentes das cúspides devem ser basicamente convexas, sendo as cúspides funcionais ou cêntricas de forma esferoidal, para proporcionar toques estáveis na relação cúspide & fossa. As cúspides não cêntricas devem apresentar a forma incisiva e são, de certo modo, transição das bordas incisais e por isso podem ser chamadas de cúspides de corte por cisalhamento; e) Nos dentes naturais, encontramos relações oclusais em cúspide – fossa (dente a dente) e cúspide - crista marginal (dente a dois dentes); f) Os dentes posteriores são preparados para receberem cargas axiais, protegendo assim os dentes anteriores de traumatismo; eles devem estar ligeiramente fora de contato, formando um pequeno espaço entre os dentes anteriores superiores e inferiores, e somente em caso de contactar fortemente os dentes posteriores é que esses dentes devem estabelecer contato. Disciplina de Oclusão – FAODO/UFMS Caderno de estudos da Oclusão 46 Seção 8 - TIPOS DE OCLUSÃO a) Oclusão Ideal É uma situação funcional harmônica de todo o sistema estomatognático, sem nenhuma evidência de alterações patológicas. Características da Oclusão Ideal: Contatos bilaterais simultâneos Movimentos mandibulares sem interferência Forças oclusais bem distribuídas Forças oclusais axiais Espaço funcional livre fisiológico b) Oclusão Normal É uma oclusão que atua harmonicamente e não apresenta nenhuma manifestação patológica sobre os dentes ou estruturas de suporte, mas não é a oclusão ideal. Características da oclusão normal: Contatos oclusais bilaterais e simultâneos Alinhamento correto dos dentes Trespasse vertical e horizontal harmônicos Relação normal dos dentes no arco e entre os arcos Relação dento-periodonto normal Harmonia neuromuscular Espaço funcional livre fisiológico Curvas de compensação em harmonia c) Oclusão Ótima Este tipo de oclusão é obtida em função das condições preexistentes em que é restaurada a oclusão, aproximando-se ao máximo das características da oclusão ideal. Características da oclusão ótima: Contatos bilaterais simultâneos e estáveis. Axialidade de forças. Correta distribuição das forças nas diferentes posições mandibulares. Movimentos de excursão mandibular sem bloqueios. Disciplina de Oclusão – FAODO/UFMS Caderno de estudos da Oclusão 47 Espaço livre interoclusal adequado. Anatomia oclusal, voltada mais para a função do que para a perfeição morfológica. d) Oclusão Balanceada Bilateral Essa oclusão é planejada para evitar o deslocamento das próteses totais, com relação às estruturas de suporte; ocorre quando temos contatos simultâneos e bilaterais dos dentes superiores e inferiores. Características da oclusão balanceada bilateral: Contatos bilaterais simultâneos dos dentes maxilares e mandibulares. Contato no maior número possível de dentes durante os movimentos mandibulares. Contato tanto no lado de trabalho como no lado de balanceio. e) Oclusão balanceada unilateral É a oclusão encontrada na dentição natural e que deve ser planejada nos trabalhos de reabilitação bucal. Características da oclusão balanceada unilateral: Movimento de lateralidade: Toque dos dentes no lado de trabalho. Desoclusão dos dentes no lado de balanceio. Disciplina de Oclusão – FAODO/UFMS Caderno de estudos da Oclusão 48 f) Oclusão Fisiológica Esse conceito refere-se a uma oclusão, em geral de adulto, que se desvia de um ou mais modos da teoricamente ideal, sendo bem adaptada ao meio em particular, esteticamente satisfatória para o paciente e não tem manifestações patológicas ou problemas disfuncionais. g) Oclusão Não Fisiológica Esse conceito envolve a presença de sinais e sintomas de patologias, disfunção ou adaptação inadequada de um ou mais componentes do sistema mastigatório que podem ser atribuídas às relações estruturais ou atividades funcionais mandibular falhas; assim, a terapia
Compartilhar