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Revisão DTUIF

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Contribuição ao estudo da doença do trato urinário 
inferior felino (DTUIF) – Revisão de literatura
Feline lower urinary tract disease study contribution – Literature Review
Fernanda Vieira Amorim da Costa – Médica Veterinária, Mestre em Cirurgia e Clínica Veterinária; Doutoranda do Programa de Pós-graduação em Ciências 
Veterinárias – UFRGS; Bolsista CNPq; email: amorimfv@gmail.com
 
Costa FVA. Medvep - Revista Científica de Medicina Veterinária - Pequenos Animais e Animais de Estimação 2009; 7(23); 448-463.
Resumo
A doença do trato urinário inferior felino abrange diversas condições que afetam a vesícula uriná-
ria e a uretra dos gatos, produzindo sinais clínicos como hematúria, disúria, estrangúria, polaciúria, 
periúria, alterações comportamentais, lambedura do pênis e presença ou não de obstrução uretral. 
As causas obstrutivas incluem urolitíase associada ou não à infecção bacteriana, tampões uretrais, 
cistite idiopática obstrutiva, espasmo uretral e neoplasia. As etiologias não-obstrutivas compreendem 
a urolitíase, cistite idiopática não-obstrutiva, infecção bacteriana, distúrbio comportamental, defeito 
anatômico e neoplasia. Para um tratamento definitivo eficiente, deve-se identificar a causa e tratá-la 
corretamente. A prevenção da doença é realizada evitando-se situações de estresse e oferecendo uma 
alimentação balanceada com controle de minerais e de pH urinário aos gatos. Além disso, deve-se 
estimular a ingestão de água, a realização de exercícios periódicos e a correção da obesidade e do ma-
nejo das bandejas sanitárias. O objetivo desta revisão bibliográfica é esclarecer os principais aspectos 
clínicos e etiopatogênicos dessa enfermidade, além de orientar médicos veterinários no tratamento e 
prevenção dessa importante e comum doença felina.
Palavras-chave: Hematúria, disúria, cistite, obstrução uretral, gatos
Abstract
Feline lower urinary tract disease includes several clinical syndromes that affect the bladder and 
urethra of cats, originating clinical signs like hematuria, dysuria, stranguria, polakiuria, periuria, 
behavior disorders, penis licking and possible urethral obstruction. The obstructive causes include 
urolithiasis with or without bacterial infection, urethral plugs, obstructive idiopathic cystitis, urethral 
spasm and neoplasia. Non-obstructive causes are urolithiasis, non-obstructive idiopathic cystitis, bac-
terial infection, behavior disorder, anatomic defect and neoplasia. The clinician should always look 
for a cause and treat it correctly. The prevention of disease is made avoiding stress and feeding the 
cat a balanced cat food that controls urinary pH and minerals. Besides, the owner should stimulate 
water ingestion, exercise the cat and correct obesity and litter box handling. This literature review has 
as an objective to discuss the clinical aspects and etiology of this disease and to clarify treatment and 
prevention of this important and common feline entity.
Keywords: Hematuria, dysuria, cystitis, urethral obstruction, cats
Revisão de literatura
448
Medvep - Revista Científica de Medicina Veterinária - Pequenos Animais e Animais de Estimação 2009;7(23);448-463.
Contribuição ao estudo da doença do trato urinário inferior felino (DTUIF) – Revisão de literatura
Introdução
O termo DTUIF - doença do trato urinário inferior felino 
- abrange diversas condições que afetam a vesícula urinária 
e a uretra dos felinos domésticos, produzindo sinais clínicos 
como hematúria, disúria, estrangúria, polaciúria, periúria, al-
terações comportamentais, lambedura do pênis e presença ou 
não de obstrução uretral (1). Em muitos casos, é difícil identi-
ficar uma causa específica para se estabelecer um tratamento 
eficaz e, por isso, essa condição representa um desafio aos 
médicos veterinários (2).
Embora a doença possa ocorrer em gatos de qualquer ida-
de ou sexo, o perfil dos gatos mais frequentemente acome-
tidos inclui os machos, castrados, sedentários, obesos, com 
2 a 7 anos de idade, que vivem dentro de casa, consomem 
basicamente alimento balanceado seco e bebem pouca água 
(1,3,4,5). Outros fatores como confinamento sem acesso à rua, 
uso de vasilha sanitária, maior número de dias chuvosos no 
mês anterior ao aparecimento dos sinais clínicos e fatores de 
estresse também foram relacionados positivamente com o de-
senvolvimento da doença (4). Essa enfermidade é incomum 
em gatos que possuem menos do que um ano ou mais do que 
10 anos de idade (3). Os gatos da raça Persa parecem apresen-
tar predisposição genética (1). 
O objetivo desta revisão bibliográfica e relato de um caso 
de DTUIF é esclarecer os principais aspectos clínicos e etio-
patogênicos dessa enfermidade, além de orientar médicos 
veterinários no tratamento e prevenção desta importante 
doença felina. 
Etiopatogenia
Existem dois grupos de causas conhecidas para a DTIUF: 
desordens obstrutivas ou não-obstrutivas (quadro 1).
Causas não-obstrutivas Causas obstrutivas
Urolitíase Urolitíase
Cistite idiopática não-obstrutiva Tampões uretrais
Infecção bacteriana Urolitíase associada à infecção bacteriana
Distúrbio comportamental Cistite idiopática obstrutiva
Defeito anatômico Espasmo uretral
Neoplasia Neoplasia
Quadro 1: Causas mais frequentes de DTUIF em gatos. Adaptado de Gunn-Moore (2003).
As DTUIF obstrutivas são raras em fêmeas e são primaria-
mente vistas em machos devido ao diâmetro uretral (2,3,6). O 
diâmetro da uretra não difere entre gatos machos castrados 
e gatos inteiros, porém, a obstrução uretral é mais vista em 
animais machos esterilizados (5). Urólitos largos, com mais 
do que 5,0 mm de diâmetro podem obstruir a uretra de gatas 
(3). As causas mais frequentes de DTUIF obstrutiva são os 
tampões uretrais (21%) e os urólitos (21%) (7). 
A maioria das DTUIF não-obstrutivas são autolimitantes 
e apresentam resolução espontânea em cinco a 10 dias (1). 
Elas ocorrem com igual frequência em machos e fêmeas, po-
rém, o risco de ocorrência é maior em gatos castrados ou este-
rilizados (5). Nos Estados Unidos da América (EUA), as duas 
causas mais comuns de DTUIF não obstrutiva são a cistite 
idiopática felina (55% a 69%) e a urolitíase (13% a 28%) (7,8).
As taxas de recorrência são de 45% em seis meses em ga-
tos machos com doença obstrutiva (9) e de 39% em um ano 
em felinos com uropatia não-obstrutiva (10).
Urolitíase
A urolitíase é a formação ou a presença de cálculos no tra-
to urinário (1). A sua composição mineral é variável, mas em 
gatos, os urólitos mais encontrados são formados principal-
mente por cristais de estruvita (hexaidrato de fosfato triplo 
magnesiano) ou oxalato de cálcio (1,11). A obstrução uretral 
decorrente da urolitíase ocorre quando um cálculo se aloja 
na uretra e ela ocorre mais comumente em gatos machos (3). 
Os gatos, assim como os outros felinos, apresentam na-
turalmente uma urina concentrada, em razão de uma baixa 
ingestão de água por adaptação à sua origem desértica. A uri-
na fortemente concentrada é mais favorável à precipitação de 
cristais. Embora a cristalúria microscópica preceda a forma-
ção do cálculo, nem todos os animais que possuem cristalúria 
desenvolvem urolitíase e urólitos podem estar presentes sem 
haver cristais na urina (12).
A formação de urólitos depende da supersaturação da 
urina com minerais calculogênicos (3,12). Se a supersatura-
ção é suficiente mantida, um ninho é formado onde um cál-
culo subsequente pode se desenvolver (3). Quando ocor-
rem alterações no balanço entre as concentrações urinárias 
de substâncias calculogênicas e inibidores de cálculos, há 
a iniciação do crescimento dos urólitos (13). Os fatores de 
risco para o desenvolvimento de urolitíase incluem raça, 
sexo, idade, dieta, status metabólico e composição quími-
ca da urina, que envolve a excreção renal de minerais, pH 
da urina, presença de promotores, ausência de inibidores, 
infecções bacterianas concorrentes e, possivelmente, in-
flamação subclínica (3,12). A dieta pode contribuir para a 
etiologia, manejo ou prevenção de recidivade alguns uróli-
tos, pois os ingredientes dietéticos e os hábitos alimentares 
influenciam o volume, pH e a concentração de solutos da 
urina (14). 
Estruvita
Os cálculos de estruvita eram bastante frequentes nos 
EUA antes do final dos anos 80 (3). Entretanto, após a utiliza-
ção em grande escala de alimentos acidificantes com baixos 
níveis de magnésio, houve um declínio nos casos de urolitía-
449Medvep - Revista Científica de Medicina Veterinária - Pequenos Animais e Animais de Estimação 2009;7(23); 449-463.
Contribuição ao estudo da doença do trato urinário inferior felino (DTUIF) – Revisão de literatura
se causada por fosfato triplo magnesiano e um aumento dos 
casos de urólitos formados por oxalato de cálcio (1,11). 
Eles são mais encontrados em animais jovens das raças 
Siamês e Manx (11). A urina está estéril em aproximadamen-
te 95% dos casos de urolitíase por estruvita em gatos, ao con-
trário dos casos em cães, que na sua maioria são associados 
a infecções causadas por bactérias produtoras de urease, por 
ex. Staphylococcus spp. e Proteus spp. (3). A produção de urea-
se resulta em um aumento do pH que favorece a cristalização 
de estruvita em uma urina supersaturada. 
Já a urolitíase estéril por estruvita está associada com 
uma urina concentrada e alcalina, além de um excesso no 
consumo e excreção de minerais calculogênicos, especial-
mente magnésio (3,12). A influência do magnésio na forma-
ção do urólito de estruvita está associada ao pH urinário, 
íons, minerais e outros componentes da urina (15). A quan-
tidade do consumo de magnésio presente nos alimentos co-
merciais também depende da densidade, palatabilidade e 
digestibilidade desses alimentos (12). O consumo frequente 
de pequenas quantidades de dieta ao invés de uma ou duas 
grandes refeições por dia é associado com a produção de 
uma urina mais ácida e a um menor grau de cristalúria por 
estruvita em gatos (16,17). 
Outros fatores importantes são a ingestão de água e o vo-
lume urinário (12,14). O consumo de uma maior quantidade 
de água resulta em menores concentrações de substâncias 
calculogênicas na urina e, portanto, em um menor risco na 
formação de urólitos (14).
Oxalato de cálcio
Urólitos formados por oxalato de cálcio são hoje os mais 
frequentes tipos de cálculos urinários em gatos nos EUA (18). 
Em aproximadamente 11 anos, sua frequência subiu de 2% 
para mais de 50% (19). A mudança alimentar realizada em 
gatos para reduzir a formação de urólitos de estruvita reve-
lou uma porcentagem de animais predispostos à formação 
de cálculos de oxalato de cálcio que antes não eram iden-
tificados porque não tinham sido expostos a um ambiente 
provocativo (3). 
Geralmente, a urolitíase por oxalato de cálcio ocorre em 
animais de sete a 10 anos, recidiva frequentemente e não está 
associada a infecções bacterianas (20). As raças que apresen-
tam um aumento do risco de apresentar a doença incluem 
Ragdoll, British Shorthair, Foreign Shorthair, Himalayan, 
Havana Brown, Scottish Fold, Persa e Exotic Shorthair (20). 
Os animais que são mantidos sem acesso ao ambiente ex-
terno também apresentam maior risco, provavelmente por 
beberem menos água e urinarem menos (21). A redução do 
volume urinário resulta em um aumento da saturação do cál-
cio e do ácido oxálico, aumentando o risco da formação do 
urólito (12,13). A presença de proteínas de alto peso molecu-
lar como nefrocalcina, uropontina, e a glicoproteína Tamm-
Horsfall também estão envolvidas no seu desenvolvimento, 
regulando a habilidade do cálcio e do ácido oxálico em se 
combinar, minimizando a formação, agregação e crescimen-
to dos cristais (22). Uma acidúria significativa (pH urinário 
< 6.2) pode representar um fator de risco para a formação 
de cálculos de oxalato de cálcio por causar acidemia e calci-
úria, além de alterar a concentração e a função de inibidores 
de cristais (12). Esses inibidores de cristais, como o citrato, 
magnésio e pirofosfato, formam sais solúveis com o cálcio ou 
com o ácido oxálico, reduzindo sua disponibilidade para a 
precipitação (12). O ácido oxálico é oriundo do metabolismo 
do ácido cítrito e de diversos aminoácidos ingeridos na dieta, 
como glicina e serina (18).
Desarranjos metabólicos sistêmicos, como acidose e hi-
percalcemia, parecem também aumentar o seu risco (3). A 
acidose sistêmica resulta na liberação de carbonato de cál-
cio dos ossos, em uma reduzida reabsorção renal de cálcio e 
numa calciurese secundária, além de reduzir a excreção de 
citrato (3,12,18). A hipercalcemia sistêmica resulta em uma 
calciurese aumentada e pode elevar o risco da formação de 
urólitos (12,18). Ela pode ser resultante de absorção intesti-
nal excessiva, reabsorção renal prejudicada, e/ou excessiva 
mobilização esquelética de cálcio (18). Até 35% dos gatos 
que apresentam esse tipo de urolitíase apresentam níveis 
de cálcio aumentados no sangue (12,19). Muitos desses ani-
mais apresentam hipercalcemia idiopática e se ela não for 
resolvida, a urolitíase pode recidivar (3,12). A hipercalciúria 
também pode ocorrer devido à utilização de diuréticos de 
alça, glicocorticoides, acidificantes urinários e vitamina D 
ou C (18). O hiperparatireoidismo e o hiperadrenocorticis-
mo também podem levar à formação de cálculos de oxalato 
de cálcio e esses distúrbios devem ser investigados nesses 
pacientes (18). 
Urato
A urolitíase causada por cálculo de urato ocorre em cerca 
de 10% dos casos (11) e, apesar de ocorrer em gatos portado-
res de hepatopatias, especialmente desvio portossistêmico 
em animais jovens, sua exata patogênese ainda é desconhe-
cida (12). Vários fatores de risco já foram identificados, como 
infecção bacteriana levando a um aumento da quantidade 
de amônia na urina, excesso de proteína na dieta e acido-
se metabólica (3). Os Siameses parecem ter predisposição 
genética (11). Sua localização é mais frequente na vesícula 
urinária, mas esses urólitos já foram encontrados na uretra 
e nos rins (3).
Outros tipos de cálculos
Os cálculos de xantina são raros em gatos e estão asso-
ciados à administração de alopurinol em animais que se ali-
mentam com dietas que contenham precursores de purinas, 
embora existam casos não associados a esse tipo de terapia 
(23). Eles são radioluscentes, identificados em exame ultras-
sonográfico e podem recidivar. 
Recentemente, um aumento do envio de urólitos forma-
dos por sangue seco solidificado foi notado laboratórios dos 
EUA (11,24). Geralmente os pacientes afetados apresentam 
hematúria intensa e os cálculos estão presentes tanto no trato 
urinário superior quanto no inferior, não sendo identificados 
por estudo radiológico simples e ultrassonografia (24).
Cistite idiopática
A cistite idiopática dos felinos (CIF) é uma doença infla-
matória da vesícula urinária que possivelmente possui ori-
gem neurogênica (1,3). Atualmente, ela é responsável pelo 
maior número de casos de DTUIF nos EUA e é mais vista 
450 Medvep - Revista Científica de Medicina Veterinária - Pequenos Animais e Animais de Estimação 2009;7(23); 450-463.
Contribuição ao estudo da doença do trato urinário inferior felino (DTUIF) – Revisão de literatura
em gatos com idade mediana, sendo raramente diagnostica-
da em animais com mais de 10 anos de idade (3,4). Não há 
predisposição por sexo ou raça (4). 
Acredita-se que existam alterações na interação entre o 
suprimento nervoso, a camada protetora da parede da ve-
sícula urinária formada por glicosaminoglicanos (GAGs) e 
compostos presentes na urina, levando à inflamação, dor e 
hematúria (1). É provável que exista um forte componente 
neuroendócrino nessa doença, no qual o sistema nervoso 
simpático excitatório não está restringido adequadamente 
pelo cortisol, aumentando a atividade sensitiva aferente atra-
vés do aumento da permeabilidade tecidual local (25).
A avaliação histopatológica de biópsias da vesícula uri-
nária oriundas de gatos afetados é típica, mas não patog-
nomônica (3). Ela pode revelar epitélio e camada muscular 
normais, porémhá edema e vasodilatação na submucosa 
sem a presença de infiltrados inflamatórios, embora haja fre-
quentemente a presença de grande quantidade de mastócitos 
(1,3,26). Geralmente, o número de fibras relacionadas à dor 
(fibras C) e de receptores para dor (receptores de substância 
P) estão aumentados (1). Hoje já se sabe que as fibras C po-
dem ser estimuladas por estresse ambiental e por distúrbios 
na composição da urina, como alterações de pH e de mine-
rais, como potássio, magnésio e cálcio (1,3). Essa estimulação 
leva à liberação de neuropeptídios, substância P ou outros, 
que causam dor, vasodilatação dos vasos sanguíneos intra-
murais, aumento da permeabilidade vascular e da parede da 
vesícula urinária, edema da submucosa, contração da muscu-
latura lisa e degranulação de mastócitos (1,3). A degranula-
ção de mastócitos resulta na liberação de vários mediadores 
inflamatórios, incluindo histamina, heparina, serotonina, ci-
toquinas e prostaglandinas, que podem exacerbar os efeitos 
das fibras C (1). 
Uma fina camada composta por glicosaminoglicanos co-
bre o epitélio da vesícula urinária (1). Ela ajuda a prevenir a 
aderência de microorganismos e cristais à parede da vesícula 
(1,3). Algumas pessoas e gatos portadores de cistite idiopá-
tica apresentam uma redução da concentração urinária de 
GAGs e um aumento da permeabilidade da parede da ve-
sícula urinária (27,28,29). Isso permite que substâncias dele-
térias presentes na urina atravessem o urotélio, entrem em 
contato com neurônios sensitivos (fibras C) e causem infla-
mação (1,3). Um estudo com microscopia eletrônica revelou 
que o urotélio pode estar ausente em algumas áreas e há uma 
redução da resistência transepitelial, com aumento da per-
meabilidade à ureia e á água nas vesículas urinárias de gatos 
portadores de CIF (30).
Embora a inflamação neurogênica aparentemente possua 
um papel importante no desenvolvimento dos sinais clínicos 
da DTUIF, ainda não está claro se ela é um fator primário ou 
um evento secundário a um agente infeccioso ainda desco-
nhecido (1). A cistite idiopática dos felinos possui grandes 
similaridades com a cistite intersticial humana, caracterizada 
por dor, dificuldade e aumento da frequência de urinar (1). 
Por esses motivos, o termo cistite intersticial felina também é 
utilizado com frequência, principalmente quando o diagnós-
tico é feito através de cistoscopia (25).
A presença concomitante de cristais na urina em um ani-
mal portador de cistite idiopática pode ocasionar a formação 
de tampões uretrais, que levam à obstrução da uretra (1). 
Tampões uretrais e cristalúria
Os tampões uretrais se originam de matriz coloide/pro-
teica (mucoproteínas, albumina, globulinas, células, etc.) 
oriunda de um processo inflamatório, associados em menor 
quantidade a um material cristalino, principalmente estruvi-
ta (1,3). A causa da inflamação pode ser neurogênica, idiopá-
tica ou secundária à infecção, neoplasia ou à presença de uró-
litos (1). Os tampões uretrais ocorrem com aproximadamente 
a mesma frequência dos urólitos (1). 
Os tampões coloides podem causar obstrução uretral sem 
haver evidências clínicas de cristalúria (1). Entretanto, se a 
cristalúria está também presente, os cristais podem ficar re-
tidos na matriz proteica e contribuir para a obstrução ure-
tral. Embora uma cristalúria muito grave possa resultar em 
obstrução uretral na ausência de matriz coloide, na maioria 
dos gatos a cristalúria é clinicamente insignificante (1,12). 
A maior parte dos felinos saudáveis desenvolve cristalúria 
quando são alimentados com dietas secas (1).
Infecções bacterianas
As infecções bacterianas primárias do trato urinário in-
ferior de felinos são raras, representando menos do que 2% 
dos casos de DTUIF em gatos jovens (1,8). Nos gatos que 
apresentam sinais de DTUIF e possuem mais do que 10 anos 
de idade, a probabilidade de infecção sobe para mais do que 
50% (8,31). Normalmente, elas ocorrem após procedimentos 
de desobstrução uretral (iatrogênicas) e uretrostomia perine-
al e na presença de defeitos anatômicos, neoplasias, diabetes 
e insuficiência renal (1,3).
A infecção bacteriana deve ser particularmente investiga-
da através de cultura e antibiograma da urina coletada por 
cistocentese de um gato que possui histórico de desobstru-
ção uretral, retenção urinária prolongada e tratamento prévio 
com antibioticoterapia (3,32). 
Distúrbio comportamental
As DTUIF estão se tornando mais clinicamente aparentes 
conforme os gatos estão mais confinados e a presença de su-
perpopulações felinas é maior (3). O distúrbio de eliminação 
inapropriada resulta em abandono de aproximadamente 4 
milhões de felinos em abrigos nos EUA, pois esse comporta-
mento é inaceitável para os proprietários (33).
A periúria é uma queixa comum dos proprietários de gatos 
que apresentam DTUIF, porém, frequentemente os médicos 
veterinários pensam primeiro em distúrbio comportamental 
de eliminação (3). Cerca de 50% desses animais apresentam 
cistite idiopática, diagnosticada por uroendoscopia (8).
Neoplasias
Os tipos de neoplasias mais frequentes na vesícula uriná-
ria dos felinos são carcinoma de células transicionais (CCT), 
adenocarcinoma e leiomioma (1). Dentre esses, o CCT é o 
mais frequente e ocorre como um tumor isolado ou secun-
dário à inflamação crônica (1). Gatos que possuem mais do 
que 10 anos de idade apresentam maior risco de desenvolver 
neoplasia do trato urinário inferior (31).
Defeitos anatômicos
451Medvep - Revista Científica de Medicina Veterinária - Pequenos Animais e Animais de Estimação 2009;7(23); 451-463.
Contribuição ao estudo da doença do trato urinário inferior felino (DTUIF) – Revisão de literatura
Os defeitos anatômicos mais encontrados no trato uriná-
rio inferior dos felinos domésticos são divertículo da vesícula 
urinária, persistência do uraco, estenose uretral e uretra mal-
posicionada (8,34). As anomalias congênitas são mais encon-
tradas nas raças Persa e Manx (31).
Hipótese de unificação
As diferentes causas de DTUIF em gatos podem ocorrer 
independentemente ou em combinação (1). Por exemplo, a 
formação de tampões uretrais é resultante de alterações si-
multâneas, mas não necessariamente relacionadas, como a 
inflamação do trato urinário e a presença de cristais na uri-
na. A obstrução uretral pode ocorrer devido à formação de 
tampões uretrais, passagem de pequenos urólitos pela uretra 
e pela dor, espasmo uretral e presença de coágulos. Embo-
ra a inflamação sem cristalúria possa resultar em obstrução 
com matriz coloide, ela tipicamente causa apenas hematúria 
e disúria. A presença isolada de cristalúria pode ser silenciosa 
ou, se for grave e persistente, pode predispor ao desenvolvi-
mento de urólitos levando à obstrução uretral e inflamação 
da vesícula urinária (1).
Sinais clínicos
Os sinais clínicos mais comuns encontrados na DTUIF in-
cluem (1,3,35): 
1. Hematúria (presença macroscópica e microscópica de 
sangue na urina – figura 1); 
2. Disúria (dor ou dificuldade de urinar), que é repre-
sentada pela permanência do gato na posição normal 
de micção por tempo prolongado;
3. Estrangúria (realizar esforço para urinar);
4. Polaciúria (urinar muitas vezes ao dia e em pequenas 
quantidades);
5. Periúria (micção em locais inapropriados);
6. Alterações comportamentais (frequentemente agres-
são);
7. Lambedura do pênis (o pênis fica avermelhado e ede-
maciado - figura 2);
8. Presença ou não de obstrução uretral.
Os gatos obstruídos podem ainda apresentar letargia, 
depressão, anorexia, vômito e diarreia (35). Durante a pal-
pação abdominal, a vesícula urinária se apresenta extre-
mamente firme e os animais podem estar bradi ou taqui-
cárdicos, com aumento da frequência respiratória e pulso 
periférico fraco (35).
Diagnóstico
A realização do diagnóstico definitivo da DTUIF deve 
combinar dados da resenha do paciente, seus sinais clínicos, 
histórico, exame físico e laboratorial, que inclui urinálise com 
avaliação de sedimento, cultura quantitativa eantibiograma 
da urina, e análise de urólito, além de imagem do trato uriná-
rio (3). Os exames de diagnóstico por imagem compreendem 
radiografias simples e contrastadas, ultrassonografia abdo-
minal e uroendoscopia (3). 
A resenha do paciente ajuda na construção da lista de 
diagnósticos diferenciais (3). Seria bastante incomum que um 
gato que tenha mais de 10 anos de idade desenvolva cistite 
idiopática, já a cistite bacteriana é frequente nessa idade. O 
oposto vale para gatos jovens. 
O tempo de permanência dos sinais clínicos orienta tam-
bém na diferenciação entre cistite idiopática e as outras cau-
sas de DTUIF, pois a primeira é autolimitante em cinco a sete 
dias com ou sem tratamento (3). Outras doenças, como uroli-
tíase e infecção bacteriana, apresentam tempo de apresenta-
ção prolongado e progressivo, caso nenhum tratamento seja 
instituído. 
Exames como hemograma e perfil bioquímico renal geral-
mente são normais nos gatos não obstruídos, a não ser que 
eles apresentem insuficiência renal concomitante (3). Nos 
casos de obstrução uretral prolongada, a avaliação inicial 
dos pacientes deve incluir a dosagem de ureia e creatinina 
séricas, glicose, cálcio, fósforo, sódio, potássio e proteínas 
totais (18). Deve-se também determinar o hematócrito e, se 
possível, realizar gasometria venosa. Até 35% dos gatos que 
apresentam urolitíase por oxalato de cálcio apresentam hi-
percalcemia (12,19) e por isso, o cálcio total e ionizado devem 
Figura 1: Felino com DTIUF não obstrutiva, apresentando hematúria.
Figura 2: Felino com DTIUF, demonstrando pênis avermelhado e 
edemaciado decorrentes de lambedura freqüente.
452 Medvep - Revista Científica de Medicina Veterinária - Pequenos Animais e Animais de Estimação 2009;7(23); 452-463.
Contribuição ao estudo da doença do trato urinário inferior felino (DTUIF) – Revisão de literatura
ser mensurados, além do PTH, que geralmente se encontra 
com valor abaixo do normal (3,18). 
Deve-se tomar cuidado ao avaliar a urinálise dos pacien-
tes quanto ao pH, pois ele se torna fisiologicamente alcalino 
após as refeições (14). Já o pH urinário de animais portadores 
de urolitíase por oxalato de cálcio frequentemente se encon-
tra ácido (18). Além disso, não se pode assumir que o paciente 
possui urolitíase baseando-se apenas na presença de cristais no 
sedimento urinário (3). A urina que foi refrigerada ou armaze-
nada por algumas horas frequentemente contém cristais, prin-
cipalmente se sua densidade estiver alta (36,37). A presença de 
cristais na urina geralmente não é a causa dos sinais de DTUIF 
e também não se deve afirmar que o tipo de cristal encontrado 
é equivalente ao tipo de urólito que possa estar presente (3). A 
identificação de cristais no sedimento urinário pode não ter im-
portância clínica se o gato não apresentar urólitos ou tampões, 
pois eles não danificam o urotélio saudável. Cristais podem ser 
encontrados sem haver doença, cálculos podem aparecer sem 
haver cristais na urina e um diferente tipo de cristal pode ser 
identificado em um gato que apresenta urólito. 
Aproximadamente 13% dos cálculos apresentam mais de 
um mineral em sua composição (11). A realização da análise 
quantitativa do urólito é a única maneira de se identificar o 
tipo de urólito presente (3,18). Entretanto, se houver um uróli-
to no trato urinário, o índice de suspeita para um determinado 
tipo é aumentado levando-se em consideração o pH da urina, 
a presença ou não de infecção bacteriana e o tipo de cristal (3). 
A análise qualitativa não deve ser realizada, pois falso-positi-
vos e falso-negativos são frequentes e a contribuição relativa 
dos diferentes cristaloides presentes não é determinada (3).
O sedimento urinário de gatos com DTUIF frequentemen-
te apresenta hemácias, proteinúria e cristais (3). A presença 
de piúria em uma urina diluída ou uma piúria significativa 
(> 5 leucócitos/campo) revela a necessidade da realização de 
cultura e antibiograma da amostra coletada por cistocentese. 
Bactérias podem ser confundidas com pequenas partículas 
(cristais pequenos, debris celulares, gotículas de gordura) 
que exibem movimentação Browniana. Geralmente, um alto 
número de bactérias em uma urina coletada de forma corre-
ta indica infecção, já um número reduzido indica contami-
nação (38). A bacteriúria significativa e assintomática pode 
ocorrer em animais que apresentam imunodepressão, como 
por exemplo, devido a tratamento com glicocorticoides e em 
felinos portadores de Diabetes mellitus e do vírus da imuno-
deficiência felina. Da mesma forma, muitas infecções não re-
sultam em um aumento do número de leucócitos na urina, 
principalmente se essa estiver bastante diluída (3).
Para os bacilos serem identificados no sedimento urinário 
não corado, eles devem estar em número superior a 10.000 
bactérias por mililitro (38). Da mesma forma, os cocos são difí-
ceis de serem detectados no sedimento urinário se seu núme-
ro for inferior a 100.000 bactérias por mililitro. Dessa maneira, 
a realização de cultura quantitativa e antibiograma é impera-
tiva no diagnóstico de infecção do trato urinário e a coleta da 
urina deve ser realizada por meio de cistocentese (3,38). Se o 
paciente apresenta polaciúria, a coleta por cistocentese pode 
se tornar dificultosa e, por isso, pode ser realizada por cate-
terização ou compressão manual após a assepsia da genitália 
externa e tricotomia perivulvar, no caso de fêmeas (38). Se o 
gato estiver sob antibioticoterapia, ela deve ser interrompida 
3 a 5 dias antes da coleta da urina para minimizar a inibi-
ção do crescimento bacteriano. A urina deve ser refrigerada 
a 4° C caso o processamento laboratorial for demorar mais 
do que trinta minutos. A cultura quantitativa da urina permi-
te a interpretação do significado da presença de bactérias na 
amostra em questão. A bactéria mais encontrada em infecções 
bacterianas do trato urinário é Escherichia coli (18).
O estudo radiológico do abdômen deve incluir a uretra 
pélvica e peniana para a correta identificação de cálculos ra-
diopacos maiores do que 3 mm de diâmetro (3). A avaliação 
contrastada é indicada nos casos de recorrência ou prolonga-
mento dos sinais clínicos e inclui a cistografia, uretrografia e 
uretrocistografia. Nos casos de cistite idiopática, frequente-
mente a investigação radiológica com contraste possui resul-
tados normais, mas essa técnica ajuda na detecção de cálculos 
pequenos e radioluscentes, divertículos e neoplasias, além de 
determinar a espessura da parede da vesícula. Ocasional-
mente, nos casos de CIF grave, o material do contraste pode 
ser visto permeando a parede da vesícula urinária (3,39). A 
avaliação contrastada da uretra pode auxiliar o diagnóstico 
de estenoses uretrais e urólitos bem alojados em gatos ma-
chos (39,40). Uma antiga, porém excelente descrição das téc-
nicas de contraste positivo, negativo e duplo do trato urinário 
inferior se encontra descrita na literatura (41).
Geralmente, os cálculos de estruvita são identificados 
durante a realização de radiografias simples porque são ra-
diopacos e facilmente vistos (figura 3) (3). Entretanto, se eles 
forem muito pequenos, a radiografia com duplo contraste ou 
a ultrassonografia pode ser necessária para sua identificação. 
Os urólitos de oxalato de cálcio também são radiopacos e fa-
cilmente identificados em radiografias simples, embora o uso 
de contraste duplo facilite sua visualização na vesícula urinária 
(18). Os cálculos de urato geralmente são radioluscentes e inde-
tectáveis em radiografias simples, a não ser que outro mineral 
esteja presente (3). Uma radiografia com duplo contraste ou a 
ultrassonografia pode ser necessária para facilitar sua detecção.
Figura 3: Radiografia abdominal lateral evidenciando urólito radiopaco 
no interior da vesícula urinária.
453Medvep - Revista Científica de Medicina Veterinária - Pequenos Animais e Animais de Estimação 2009;7(23); 453-463.
Contribuição ao estudo da doença do trato urinário inferior felino (DTUIF) –Revisão de literatura
A ultrassonografia abdominal é útil na avaliação da ve-
sícula urinária, mas não na da uretra (3). Ela pode detectar 
cálculos pequenos e radioluscentes, massas como pólipos e 
neoplasias, além de identificar a espessura da parede da vesí-
cula, caso ela esteja distendida (3). Entretanto seu uso é limi-
tado pra identificar o número e o tipo de urólito presente na 
vesícula urinária (18).
A uroendoscopia é uma ferramenta válida na avaliação 
de gatos que apresentam sinais clínicos recorrentes ou per-
sistentes, pois permite a visualização da mucosa uretral e ve-
sical e a detecção de pequenos urólitos, persistência de ura-
co e de massas não vistos na radiografia (3,42). Ela também 
permite a realização de biópsias, porém apenas pequenos 
fragmentos de tecido podem ser coletados (42). Em fêmeas, o 
cistoscópio utilizado é rígido, o que permite uma maior ma-
nipulação e visualização de detalhes do que aquele utilizado 
em machos, o qual deve ser um ureteroscópio de fibra ótica e 
flexível (42). O cistoscópio rígido pode ser utilizado em gatos 
machos que sofreram procedimento cirúrgico de uretrosto-
mia perineal (3).
O diagnóstico presuntivo de cistite idiopática é realiza-
do quando os resultados dos exames complementares não 
identificam outra causa para a DTUIF ou quando se observar 
hemorragias petequiais – glomerulações – na submucosa du-
rante a uroendoscopia e, nesse caso, a doença é chamada de 
cistite intersticial (3). Outras alterações encontradas na cistos-
copia de gatos com CIF incluem edema, presença de debris 
no lúmen da vesícula urinária e aumento da vascularização. 
Tratamento
Para um tratamento eficiente, deve-se identificar a cau-
sa e tratá-la corretamente (1). Quando a causa não pode ser 
identificada, o animal deve ser tratado para cistite idiopática 
felina (1). 
Desobstrução uretral
A desobstrução uretral deve ser realizada quando o ani-
mal não apresenta fluxo urinário. Entretanto, ela não deve ser 
considerada como tratamento definitivo e sim apenas como 
uma restauração da patência fisiológica da uretra. 
Os felinos que apresentam obstrução uretral devem ser 
submetidos a tratamento emergencial (3,6). Aqueles que 
estão obstruídos há mais de 48 horas normalmente se apre-
sentam bastante debilitados e requerem tratamento para 
crise urêmica (3). Independentemente da causa, a obstrução 
uretral prolongada resulta em déficits hídricos que levam a 
hipovolemia e redução da perfusão tecidual (6). Os efeitos 
adversos da eficiência cardiovascular e perfusão dos tecidos 
são exacerbados pelos distúrbios eletrolíticos e ácido-base de-
correntes da obstrução (6). Além da azotemia, estão presentes 
a acidose metabólica, hipercalemia, hiperfosfatemia e hipo-
calcemia ionizada (35). Geralmente, os gatos se apresentam 
normotensos, porém a hipertensão pode estar presente (43).
A avaliação laboratorial deve ser realizada em todos os 
gatos obstruídos e inclui, se possível, o hemograma comple-
to, bioquímica sérica, glicemia, gasometria venosa e eletróli-
tos (potássio, sódio, cloreto e cálcio ionizado) (3,6). A realiza-
ção de eletrocardiograma e mensuração da pressão arterial 
permite identificar as condições cardiovasculares do paciente 
(6). O estudo radiográfico e ultrassonográfico ajudam a ca-
racterizar o local da obstrução, mas devem ser feitos somente 
após a estabilização do animal (6). Após a desobstrução, uma 
amostra de urina deve ser coletada para a realização de uri-
nálise, cultura e antibiograma (6). A urina deve ser analisada 
dentro de 60 minutos para minimizar os efeitos do tempo e 
da temperatura na formação de cristais (36).
A hipercalemia e a acidose geralmente são tratadas com 
a utilização de fluidoterapia de reposição intravenosa, utili-
zando-se uma solução de eletrólitos balanceada (3). O fluido 
de escolha é a solução fisiológica NaCl 0,9%1 por não conter 
potássio, embora possa contribuir para a acidose metabólica 
(6). Pode ser necessário utilizar de sais de cálcio, glicose ou 
glicose seguida de insulina para corrigir a hipercalemia em 
alguns casos em que há comprometimento hemodinâmico 
(quadro 2) (3,6). Em um estudo, 12% dos gatos obstruídos 
avaliados apresentaram uma hipercalemia leve (≥ 6,0 mEq/L 
e < 8,0 mEq/L), 11,6% tinham concentrações séricas de po-
tássio maiores ou iguais a 8,0 mEq/L e menores do que 10,0 
mEq/L e 0,5% maiores do que 10,0 mEq/L (35). É importan-
te notar que a gravidade dos sinais clínicos não é compatível 
com a concentração sérica de potássio e, por isso, os pacientes 
devem ser tratados de acordo com seu estado geral e indepen-
dente dos valores laboratoriais (6). Alterações de eletrocar-
diograma decorrentes de hipercalemia incluem bradicardia, 
redução da amplitude ou ausência das ondas P, complexo 
QRS mais largo, ondas T mais altas, intervalo QT mais curto 
e depressão do segmento ST (6). Aproximadamente 75% dos 
animais que apresentam obstrução uretral possuem hipocal-
cemia ionizada (44). Se houver acidose metabólica grave (pH 
sanguíneo < 7,1) a administração de bicarbonato de sódio é 
indicada (3).
A administração de analgésicos deve ser feita imediata-
mente à apresentação do paciente (3). Analgésicos opiódes 
são os mais indicados e incluem o uso de butorfanol2 na dose 
de 0,2 a 0,4 mg/kg a cada 6 a 8 horas ou buprenorfina3, na 
dose de 5 a 20 g/kg a cada 8 a 12 horas (3). Como alterna-
tiva, pode-se empregar a meperidina4, na dose de 3,0 a 5,0 
mg/kg, por via intravenosa ou intramuscular, a cada 2 a 4 
horas ou o tramadol5, na dose de 2,0 a 4,0 mg/kg, por via 
intramuscular, a cada 12 horas. O uso de anti-inflamatórios 
não-esteroides deve ser evitado devido ao insulto presente 
ao sistema renal (6).
A cistocentese descompressiva pode ser indicada antes do 
restabelecimento da patência uretral (3). Porém, é importante 
lembrar que a integridade da parede da vesícula urinária pode 
1 Fisiológico Cloreto de sódio 0,9%®, J.P. Indústria farmacêutica, Ribeirão Preto, SP
2 Torbugesic®, Fort Dodge Saúde Animal Ltda, Campinas, SP
3 Temgesic®, Schering Plough, Rio de Janeiro, RJ
4 Dolantina®, Sanofi-Aventis, São Paulo, SP
5 Tramal®, Pfizer, Guarulhos, SP
454 Medvep - Revista Científica de Medicina Veterinária - Pequenos Animais e Animais de Estimação 2009;7(23); 454-463.
Contribuição ao estudo da doença do trato urinário inferior felino (DTUIF) – Revisão de literatura
não estar normal, podendo ocorrer uma ruptura (figura 4) (6). 
Ela é realizada com uma única punção na vesícula urinária 
utilizando um cateter tipo borboleta “scalp” número 23G ou 
agulha calibre 22G conectada a uma torneira de três vias, um 
extensor e seringa (3). A agulha deve ser inserida no meio do 
caminho entre o ápice e a base da vesícula, e toda urina dis-
ponível deve ser puncionada. A compressão digital mantida 
sobre a parede da vesícula favorece a remoção total da urina. 
Pode haver algum vazamento de urina para dentro do abdô-
men, mas o processo é minimizado se a urina contida na vesí-
cula for esgotada. A cistocentese restabelece a função renal, fa-
cilita a desobstrução e diminui a chance de ruptura da vesícula 
durante a sondagem, além de propiciar uma amostra de urina 
não contaminada para cultura e antibiograma.
gentilmente para evitar que a inflamação local seja agravada 
(3). Em alguns poucos casos, a massagem peniana após a anes-
tesia, com o pênis fletido caudalmente, é suficiente para a ex-
pulsão de cálculos bem pequenos e de tampões uretrais, mas 
na maioria das vezes, a sondagem uretral é necessária (3,6). 
A desobstrução uretral deve ser realizada com cateter rígi-
do de polipropileno (3,5) French6 apropriada para o diâmetro 
uretral dos felinos (figura 5) (6,18). Nesse procedimento, in-
troduz-se apenas a porção inicial da sonda no início da uretra 
peniana e, em seguida, faz-se a injeção de solução fisiológica 
salina, que pode ser misturada a uma solução lubrificante es-
téril7 (figura 6) (18). O que desobstrui a uretra não é a sonda, 
e sim o fluxo contínuo e vigoroso da soluçãosalina. A intro-
dução forçada do cateter pode causar trauma, com posterior 
estenose ou ruptura da parede uretral (6). O procedimento 
pode não obter sucesso nos casos de urólitos muito alojados, 
principalmente de oxalato de cálcio que possuem superfície 
irregular, e em estenoses uretrais (18). Após a desobstrução, a 
sonda rígida deve ser substituída por uma menos traumática 
e flexível8 (figura 7). Introduz-se essa a sonda até a vesícula 
urinária e a fim de realizar a lavagem com solução fisiológi-
ca até que a urina que esteja sendo retirada apresente-se de 
aspecto claro (com pouco ou nenhum sangue) (6). Deve-se 
ter o cuidado para que uma quantidade excessiva do cateter 
não seja inserida na vesícula, para minimizar o trauma na sua 
parede ou até mesmo evitar a formação de um nó, que neces-
sitaria de retirada cirúrgica (6).
Figura 4: Momento transoperatório de cistorrafia devido à ruptura 
vesical causada por cistocentese.
Após a estabilização metabólica e hidroeletrolítica do pa-
ciente, a sedação ou anestesia deve ser realizada baseando-se 
nas suas condições clínicas (3). O pênis deve ser manuseado 
6 Soreveing 3 ½ Tom Cat Catheter® open end, Sherwood Medical, USA
7 K-Y gel lubrificante®, Johnson&Johnson, São Paulo, SP
8 Soreveing Sterile Disposable Feeding Tube and Urethral Catheter®, Sherwood Medical Industries, St. Louis, MO
Figura 5: Cateter urinário de polipropileno com extremidade proximal 
aberta medindo 3,5 French de diâmetro (Soreveing 3 ½ Tom Cat 
Catheter® open end, Sherwood Medical, USA).
455Medvep - Revista Científica de Medicina Veterinária - Pequenos Animais e Animais de Estimação 2009;7(23); 455-463.
Contribuição ao estudo da doença do trato urinário inferior felino (DTUIF) – Revisão de literatura
Figura 6: Desobstrução uretral. Depois de realizada tricotomia, 
assepsia cirúrgica no local e exposição do pênis, a sonda é introduzida 
na porção inicial da uretra ao mesmo tempo em que a solução 
fisiológica é injetada por uma seringa conectada à sonda. Esta solução 
sob pressão lubrifica e distende a uretra, facilitando o deslocamento do 
tampão ou urólito que esteja obstruindo-a.
Figura 7: Cateter flexível de borracha, estéril, com 3,5 French de 
diâmetro utilizado como sonda de lavagem e de espera por ser flexível 
(Soreveing Sterile Disposable Feeding Tube and Urethral Catheter®, 
Sherwood Medical Industries, St. Louis, MO).
O uso de cateter de espera é controverso (3,6). Ele previ-
ne novas obstruções imediatas e possibilita a monitorização 
do fluxo urinário, mas induz à infecção bacteriana do trato 
urinário e à inflamação e posterior estenose da uretra. A sua 
utilização é indicada em casos graves de hematúria, uremia 
e nos procedimentos de difícil cateterização e desobstrução. 
O cateter de espera também deve ser empregado na presença 
de fluxo urinário fino e/ou curto, grande quantidade de de-
bris após várias irrigações e quando há disfunção no músculo 
detrusor da vesícula urinária após a sua distenção prolonga-
da. Recomenda-se a permanência do cateter urinário do tipo 
flexível por um período de no máximo 24 a 48 horas para 
evitar estenoses futuras. Deve-se conectá-lo a um sistema de 
circuito fechado (figura 8) para minimizar possíveis infecções 
bacterianas ascendentes. O cateter deve ser retirado quando 
a urina estiver clara. Caso a urina permaneça com sangue, 
deve se reavaliar o paciente em 24 horas para se determinar 
se o cateter deve ser retirado ou não. Sondas mantidas por 
muito tempo causam uretrite e os gatos passam a apresentar 
poliúria e polaciúria, porém com a vesícula vazia.
Se a desobstrução uretral for muito dificultosa deve-se re-
alizar um estudo radiográfico do trato urinário anterior com 
o uso de contraste positivo (uretrocistografia retrógrada) 
para pesquisar possíveis rupturas e estenoses uretrais, cálcu-
los muito aderidos, divertículo uracal e neoplasias (1,3,39).
A diurese pós-obstrutiva é abundante em gatos que esta-
vam obstruídos por alguns dias ou que apresentavam azote-
mia grave (3,6). O grau de diurese pós-obstrutiva é proporcio-
nal ao grau de azotemia (3). Por esse motivo, a fluidoterapia 
com uma solução balanceada como o Ringer´s com lactato de 
sódio9 deve ser instituída após a desobstrução, além da adição 
de potássio caso o paciente esteja hipocalêmico (6). A quantida-
de de urina produzida deve ser monitorada para que haja uma 
reposição adequada de fluido e o paciente não desidrate (3,6).
Figura 8: Felino com cateter de espera após uma desobstrução 
uretral com hematúria persistente. O cateter está posicionado 
entre duas fitas adesivas suturadas na pele e conectado a um 
circuito fechado com equipo e frasco de soro vazio estéril. O uso de 
colar elisabetano é necessário para impedir que o gato remova ou 
desconecte o cateter uretral.
9 Ringer com Lactato de Sódio®, J.P. Indústria farmacêutica, Ribeirão Preto, SP
456 Medvep - Revista Científica de Medicina Veterinária - Pequenos Animais e Animais de Estimação 2009;7(23); 456-463.
Contribuição ao estudo da doença do trato urinário inferior felino (DTUIF) – Revisão de literatura
O tratamento do espasmo uretral reduz a dor, a gravidade 
dos sinais clínicos em alguns gatos e pode diminuir o risco 
de recorrência da obstrução uretral (1,3,6,45). A uretra do 
gato é formada por quatro regiões: pré-prostática, prostática, 
pós-prostática e peniana (45). A vesicula urinária e a uretra 
pré-prostática contêm primariamente musculatura lisa, os 
segmentos prostáticos e pós-prostáticos contêm tanto muscu-
latura lisa quanto estriada e a musculatura da região peniana 
é predominantemente circular e estriada (45). Já que o tônus 
uretral é gerado tanto por musculatura lisa quanto estriada, 
relaxantes devem ser usados para ambos os efeitos (1). Os an-
tiespasmódicos de musculatura lisa indicados para gatos de-
sobstruídos incluem a acepromazina10, na dose de 0,02 a 0,05 
mg/kg, por via intravenosa, intramuscular ou subcutânea ou 
de 1,0 a 3,0 mg/kg por via oral a cada 4 a 6 horas; prazosi-
na11, na dose de 0,25 a 1,0 mg/gato por via oral a cada 8 a 12 
horas; e fenoxibenzamina12, na dose de 0,5 a 1,0 mg/kg, por 
via oral a cada 12 ou 24 horas, com eficácia total em cinco dias 
(1,3,32). Já os relaxantes de musculatura esquelética resultam 
em uma redução da resistência do esfíncter externo, onde na 
maioria das vezes os urólitos e tampões estão alojados (45). 
Devido à grande proporção de musculatura esquelética na 
uretra dos felinos, geralmente esse tipo de relaxante muscu-
lar é mais efetivo nessa espécie (32). O diazepam13 é o fárma-
co mais utilizado para esse propósito (32), apesar de haver 
dúvidas quanto à sua eficácia (45). A dose inicial é de 1,0 a 2,5 
mg/gato, por via oral, a cada 8 horas (32). Frequentemente, o 
seu uso facilita a eliminação de urina e a compressão manual 
da vesícula urinária durante 20 a 30 minutos após sua ad-
ministração (32). Porém, segundo alguns autores, o relaxante 
esquelético mais eficaz é o dantroleno14, na dose de 0,5 a 2,0 
mg/kg, por via oral a cada 12 horas ou de 0,5 a 1,0 mg/kg 
por via intravenosa (1,45). O dantroleno não possui efeito na 
junção neuromuscular como a maioria dos relaxantes mus-
culares esqueléticos (45). Logo após a desobstrução uretral, 
alguns pacientes se beneficiam do tratamento com aceproma-
zina (1). Para uso continuado, é indicado prescrever prazosin 
e dantrolene durante 7 a 14 dias para promover o relaxamen-
to de toda a uretra (3,45). Os dois fármacos podem ser uti-
lizados em conjunto e tratamentos longos ou intermitentes 
podem ser necessários em alguns indivíduos (1). É preferível 
retirar ambos os medicamentos aos poucos, do que realizar 
uma parada abrupta do tratamento (1). Todos os relaxantes 
de musculatura lisa podem causar hipotensão e o dantroleno 
pode levar è hepatotoxicidade em humanos (1). 
Os gatos podem apresentar atonia de origem miogênica 
no músculo detrusor da vesícula urinária se sua distensão for 
grave e prolongada (3,32). Se isso ocorrer, os animais podemser tratados com medicamentos parassimpaticomiméticos, se 
necessário (3,32). O betanecol15 é utilizado com essa finalidade 
na dose de 1,25 a 5,0 mg/gato a cada 12 horas após o restabele-
cimento da patência urinária (3). Entretanto, para esse fármaco 
ter efeito, o músculo detrusor e os nervos pélvicos devem estar 
parcialmente intactos (32). As vias intramuscular e intraveno-
sa são contraindicadas, a administração oral é pouco absorvi-
da e a via subcutânea, em doses terapêuticas, pode causar vô-
mito, salivação e diarreia (32). Doses acima das recomendadas 
podem causar crise colinérgica, resultando em colapso cardio-
vascular, broncoconstricção e óbito. Por isso, a via subcutânea 
deve ser utilizada com cuidado e na menor dose efetiva do 
fármaco. Dessa maneira, o uso do cateter uretral de espera em 
circuito fechado por alguns dias é o tratamento mais seguro e 
indicado para a atonia da vesícula urinária. A compressão ma-
nual da vesícula raramente leva ao seu completo esvaziamen-
to, pode causar trauma à sua parede e ocasionar um refluxo de 
urina, com dano mecânico ao trato urinário superior e possível 
pielonefrite ascendente (32). Por esses motivos, a não ser que a 
compressão manual seja de fácil realização, a utilização da ca-
teterização urinária é mais indicada. É importante lembrar que 
a infecção do trato urinário pode ser um fator predisponente 
ou uma sequela da retenção urinária.
Muitos felinos não urinam normalmente após a desobs-
trução uretral. Deve-se sempre considerar uma obstrução 
funcional nesses animais, que pode ser causada por irritação 
uretral direta, aumento do tônus simpático devido ao estres-
se da hospitalização e procedimentos médicos, redução do 
tônus do músculo detrusor por distensão exagerada e pro-
longada da vesícula urinária, ou a combinação de todos esses 
fatores, o que varia entre os pacientes (32). Alguns cuidados 
tomados durante a desobstrução uretral minimizam o risco 
de obstrução mecânica causada por irritação ou inflamação 
uretral e aumento do tônus simpático após a colocação do 
cateter urinário (32):
1. Só utilize cateteres não irritantes na uretra, como os 
de silicone, Teflon ou tubos macios de alimentação in-
fantil. Os cateteres de polipropileno são extremamen-
te irritantes, se deixados em contato com a mucosa 
da uretra, e causam mais trauma à vesícula urinária;
2. Quando a utilização do cateter de espera for necessá-
ria, deve-se mantê-lo em circuito fechado para redu-
zir as chances de infecção bacteriana ascendente;
3. Considere a utilização de relaxantes musculares du-
rante e após a cateterização;
4. Confira a patência do cateter de espera sempre que 
possível e monitore a produção de urina. A vesícula 
urinária não deve ficar distendida enquanto o animal 
estiver cateterizado;
5. Considere o uso de ansiolíticos a tranquilizantes leves 
durante e imediatamente após a cateterização uretral. 
Essas medicações podem reduzir a disúria e o tônus 
simpático resultante do estresse.
As complicações da terapia de desobstrução uretral in-
cluem óbito anestésico, trauma excessivo do pênis e da uretra 
e recidiva (45,46).
10 Acepram®, Univet S/A Indústria Veterinária, São Paulo, SP
11 Minipress Sr ®, Pfizer, São Paulo, SP
12 Dibenzilina®, não disponível no Brasil
13 Valium®, Roche, Rio de Janeiro, RJ
14 Dantrolen®, Cristália, Itapira, SP
15 Liberan®, Apsen, São Paulo, SP
457Medvep - Revista Científica de Medicina Veterinária - Pequenos Animais e Animais de Estimação 2009;7(23); 457-463.
Contribuição ao estudo da doença do trato urinário inferior felino (DTUIF) – Revisão de literatura
Os gatos que possuem lesões irreversíveis na mucosa da 
uretra peniana, como estenoses (figura 9), rupturas, traumas 
e neoplasias ou que apresentam obstrução uretral recorrente 
ou não responsiva ao tratamento clínico são candidatos a ure-
trostomia perineal (3,46,47). As rupturas e estenoses uretrais 
ocorrem devido a uretrites crônicas ou traumas repetidos após 
cateterização e representam a causa mais comum de indica-
ção cirúrgica (46,47). Se a localização da obstrução ou estenose 
é desconhecida, se faz necessária a realização de um estudo 
radiológico contrastado retrógrado para se estabelecer o tipo 
de uretrostomia a ser realizada (pré-púbica, subpúbica ou pe-
rineal) (47). A uretrostomia perineal é a mais frequentemente 
realizada, pois normalmente a obstrução ou estenose estão lo-
calizadas na uretra peniana (46). A cirurgia deve ser executa-
da apenas após a educação do cliente quanto às complicações 
potenciais, como incontinência urinária, dermatite amoniacal, 
fístula reto-uretral, hérnia perineal, formação de estenose no 
novo orifício uretral e aumento do risco de infecção ascendente 
do trato urinário (46,47). Dentre essas, a mais frequente a lon-
go prazo é a infecção bacteriana recorrente (46). Além disso, a 
cirurgia não elimina a causa primária da DTUIF. A frequência 
de realização de uretrostomias nos EUA declinou nos últimos 
20 anos, assim como a de obstruções uretrais, urólitos e tam-
pões uretrais (48). Acredita-se que isso tenha ocorrido devido 
ao desenvolvimento e utilização de alimentos que reduzem o 
índice de cristalúria por estruvita em gatos.
Figura 9:
encaminhado a tratamento cirúrgico com uretrostomia perineal pois apresentava disúria e estrangúria.
Fármaco Dose Frequência Via Indicação
Gluconato de cálcio16 50 a 100 mg/kg Dose-efeito
Intravenosa lenta 2 a 
3 min
Hipercalemia
Hipocalcemia
Insulina regular17 0,1 a 0,25 U/kg A cada 2 - 4horas Intravenosa Hipercalemia
Glicose18 0,5 g/kg Dose-efeito Intravenosa Hipercalemia
Bicarbonato de 
sódio19
(0,3) x peso kg x 
(24 – TCO2)
1/3 a 1/2 da dose ao 
efeito
Intravenosa lenta 15 a 
30 min
Acidose metabólica
Hipercalemia
Quadro 2: Fármacos úteis no tratamento de distúrbios eletrolíticos e ácido-base na obstrução uretral. Adaptado de Rieser (2005) .
16 Gluconato de cálcio®, Ariston, São Paulo, SP
17 Humulin R®, Eli Lilly, São Paulo, SP
18 Glicose®, Ariston, São Paulo, SP
19 Bicarbonato de Sódio 8,4%®, Baxter Bioscience, Rio de Janeiro, RJ
Tratamento etiológico
Urolitíase
Embora os urólitos de estruvita e de urato possam ser dis-
solvidos com o uso de dietas apropriadas (tabela 1), aqueles 
formados por oxalato de cálcio devem ser removidos cirurgi-
camente, a não ser que sejam pequenos o suficiente para serem 
expelidos através da urohidropropulsão de esvaziamento (1,3). 
A urohidropropulsão de esvaziamento pode ser efetua-
da para o tratamento de cálculos menores do que 5 mm em 
fêmeas e de 1 mm em machos (3,18). Gatos machos podem 
obstruir a uretra caso o tamanho do cálculo seja subestima-
do, por isso, o procedimento deve ser realizado por clínicos 
familiarizados com a técnica (3). O procedimento é realizado 
com o animal anestesiado ou fortemente sedado e com a ve-
sícula urinária repleta de urina ou solução cristaloide estéril 
infundida através de um cateter urinário (18). O felino então 
é levantado pelas axilas e mantido com a coluna vertebral 
perpendicular ao chão. A vesícula urinária é palpada e gen-
458 Medvep - Revista Científica de Medicina Veterinária - Pequenos Animais e Animais de Estimação 2009;7(23); 458-463.
Contribuição ao estudo da doença do trato urinário inferior felino (DTUIF) – Revisão de literatura
tilmente agitada para deslocar qualquer urólito que esteja 
aderido à sua mucosa, além de posicioná-los na região do 
trígono vesical. O cateter urinário é removido e um frasco 
coletor deve ser posicionado próximo à saída da vulva ou 
da ponta do pênis. Os urólitos são expelidos através da gen-
til aplicação de uma pressão na vesícula urinária, de forma 
a aumentar a pressão intraluminal para iniciar o reflexo de 
urinar. Eles não são forçados para fora e sim expelidos du-
rante o ato da micção. Deve-se repetir o procedimento caso 
o número de urólitos expelidos seja inferior àquele detec-
tado no estudo radiográfico. Se existirem incontáveis uró-
litos, deve-se utilizar a técnica até que nenhum cálculo seja 
detectadono final do procedimento. O estudo radiológico 
sequencial pode ser realizado para sanar dúvidas quanto 
à eliminação de todos os cálculos. Os animais devem ser 
tratados com antibioticoterapia devido à cateterização, e a 
urinálise, cultura e antibiograma devem ser realizados 5 a 
10 dias depois do término do tratamento para confirmar a 
erradicação da infecção.
A remoção cirúrgica de urólitos é a principal indicação 
para a cistotomia e ela deve ser acompanhada de biópsia da 
mucosa da vesícula urinária e cultura da urina, com antibio-
grama (49). Após realização da cistotomia, uma radiografia 
lateral deve ser realizada para confirmar a total retirada do(s) 
cálculo(s).
Estruvita
O tratamento específico da urolitíase por estruvita pode 
incluir a realização de cistotomia para sua remoção cirúrgica, 
a urohidropropulsão de esvaziamento ou a lise medicamen-
tosa através de dietas terapêuticas específicas, dependendo 
da situação individual do paciente (3). O aumento da inges-
tão de água é imperativo no manejo médico da urolitíase para 
promover a formação de uma urina que não saturada com 
minerais calculogênicos (3). 
Os urólitos de estruvita estéreis podem ser dissolvidos 
utilizando-se uma dieta restrita em magnésio, fósforo e pro-
teína e que produz uma urina ácida, quando comparada a 
alimentos de manutenção destinados a gatos adultos (50). 
O objetivo do tratamento de lise medicamentosa através do 
uso de alimento balanceado especial é atingir um pH uriná-
rio menor do que 6.3 e uma densidade urinária menor do 
que 1.030. Durante a ingestão de dietas calculolíticas (tabela 
1), é importante que os proprietários dos animais não ofe-
reçam qualquer outro tipo de alimento, incluindo petiscos 
(3). O acompanhamento dos pacientes é realizado a cada três 
semanas, através de estudo radiográfico, para ter certeza de 
que o tratamento está sendo efetivo (3). Se o gato apresentar 
infecção bacteriana concomitante, antibióticos apropriados 
devem ser administrados durante a dissolução medicamen-
tosa e por até duas semanas depois que ela for verificada 
nas radiografias (3). A média de dissolução para cálculos de 
estruvita estéreis é de 36 dias (14 a 141 dias) e para aqueles 
que são formados devido a uma infecção bacteriana primá-
ria é de 44 dias (14 a 92 dias) (50). Se os urólitos persistirem 
ou aumentarem de tamanho, apesar do uso correto da te-
rapia de dissolução, o diagnóstico inicial deve ser questio-
nado ou deve se considerar a possibilidade da presença de 
um urólito misto (3). Ocasionalmente, a dissolução médica 
pode ser usada para reduzir o tamanho do cálculo para que 
a urohidropropulsão possa ser mais efetiva (3). Após a reso-
lução dos sinais clínicos e da dissolução médica, uma moni-
torização de rotina deve ser empregada com a realização de 
urinálise e radiografia abdominal. Culturas e antibiogramas 
também devem ser feitos periodicamente, principalmente 
da urina de gatos predispostos a infecções bacterianas (que 
possuem insuficiência renal crônica, diabetes mellitus ou 
uretrostomia perineal) (3). 
Todos os gatos que apresentam recidiva da formação de 
urólitos, independentemente do tipo, devem ser alimentados 
com alimento úmido para uma efetiva redução da densidade 
urinária (3).
Oxalato de cálcio
Não existe protocolo de dissolução médica disponível 
para o tratamento de urolitíase por oxalato de cálcio (3,12,18). 
Se os cálculos não forem eliminados na urina e o gato apre-
sentar sinais clínicos, a urohidropropulsão por esvaziamento 
ou a intervenção cirúrgica são indicadas. 
Como esse tipo de urólito tem alta taxa de recidiva, a 
cirurgia não deve ser considerada como um tratamento de-
finitivo (18). Medidas preventivas devem ser tomadas e o 
acompanhamento clínico do paciente com a realização de 
urinálises e radiografias seriadas deve ser instituído. Após o 
tratamento cirúrgico, deve-se utilizar um alimento de pres-
crição não acidificante e que tenha baixos níveis de cálcio e 
oxalato (3). Ele deve também induzir a diurese, ser restrito 
em proteínas e promover alcalúria (12). A restrição de fósforo 
não deve ser realizada devido ao potencial de aumentar a ab-
sorção intestinal de cálcio e calciurese secundária resultantes 
da baixa concentração sérica de fósforo (3).
Da mesma maneira, o magnésio também não deve ser 
restringido devido ao seu efeito inibitório na formação de 
cálculos de oxalato de cálcio (3). Não é indicado utilizar uma 
suplementação excessiva de sódio para estimular o consumo 
de água, pois existe um aumento da calciurese em humanos, 
embora estudos preliminares em animais saudáveis não con-
firmem esses dados (3,12). Nos casos de hipercalcemia, um 
alimento rico em fibras deve ser usado em conjunto com o ci-
trato de potássio20, na dose de 75 mg/kg a cada 12 horas ajus-
tando a dose até atingir um pH de 7,0 a 7,5, pois o citrato tem 
um efeito alcalinizante e inibitório na formação desse tipo de 
cálculo urinário (3,12,18). Outros medicamentos indicados 
para pacientes normocalcêmicos incluem vitamina B621, na 
dose de 2,0 mg/kg por via oral a cada 24 horas, e hidrocloro-
tiazida22, na dose de 2 a 4 mg/kg por via oral a cada 12 horas 
(18). O aumento do consumo de água também é indispen-
sável para o manejo desta urolitíase (3,12). Diversas dietas 
estão disponíveis no mercado para prevenir a recorrência de 
cálculos de oxalato de cálcio (3). 
20 Litocit®, Apsen, São Paulo, SP
21 Seis-B-100 MG®, Apsen, São Paulo, SP
22 Drenol®, Pharmacia Brasil, São Paulo, SP
459Medvep - Revista Científica de Medicina Veterinária - Pequenos Animais e Animais de Estimação 2009;7(23); 459-463.
Contribuição ao estudo da doença do trato urinário inferior felino (DTUIF) – Revisão de literatura
Urato
A dissolução de cálculos de urato pode ser realizada utili-
zando-se dietas alcalinizantes que possuam baixos níveis de 
proteínas, pois elas reduzem as concentrações dos precurso-
res das purinas, as quais são convertidas a ácido úrico (3,12). 
Também pode-se utilizar o alopurinol, que age inibindo a 
enzima xantino oxidase, que é essencial para a produção de 
ácido úrico. Entretanto, o uso do alopurinol pode favorecer 
a formação de urólitos de xantina em gatos (3). A dose reco-
mendada de alopurinol23 é de 9,0 mg/kg/dia. Se a dissolução 
médica não ocorrer, o que geralmente ocorre nos casos de 
desvio portossistêmico, a remoção cirúrgica ou a urohidro-
propulsão podem ser necessárias (3).
Nesses casos, sua recorrência é prevenida quando se cor-
rige o desvio.
Cistite idiopática
A maioria dos casos de cistite idiopática não-obstrutiva é 
autolimitante, porém o tratamento é indicado, pois se trata de 
um processo doloroso e estressante para o animal, podendo 
inclusive causar obstrução uretral, traumatismos por lambe-
dura na região perianal e distúrbios de eliminação (1). O seu 
tratamento inclui enriquecimento ambiental, alterações die-
téticas, terapia com ferormônios e intervenção farmacológica 
nos casos refratários (3). Os proprietários devem ser infor-
mados que essa doença possui uma causa desconhecida, não 
tem cura e que o objetivo da terapia é reduzir a gravidade e a 
taxa de recidiva dos sinais clínicos (3).
O estresse deve ser reduzido através da correção do ma-
nejo das bandejas sanitárias, de alimento e de água (1,3,25). 
Deve-se ter uma bandeja sanitária a mais para cada gato, e 
essas devem estar sempre limpas e em localizadas em am-
bientes diferentes da casa, desde que sejam adequados e sem 
barulho (25,51). A maioria dos gatos prefere areias que não 
formam torrões e inodoras, mas todos os tipos de areia e de 
vasilha devem ter sua preferência testada (25,51). 
Para assegurar uma ingestão adequada de água, deve se 
determinar as preferências do gato (3,25). A profundidade e 
constituição da vasilha, o gosto da água e o uso de fontes ou 
água corrente devem também ser testados (3).
O tipo de alimento que é oferecido também deve ser in-
vestigado (3,25). A mudança dietética influencia facilmente a 
composição urinária, afetandosua concentração, volume, pH 
e fração mineral (1). Embora as indústrias tenham se concen-
trado em mudanças de pH e conteúdo de magnésio e cálcio 
urinários, hoje se acredita que o fator isolado mais importan-
te seja o balanço hídrico (1). O objetivo da alteração dietética 
deve ser aumentar a ingestão de água para diluir qualquer 
componente nocivo presente na urina (1,3). Por essas razões, 
é preferível alimentar os pacientes com um alimento úmido 
do que alterar os componentes do alimento seco (1,3). Os ga-
tos que se alimentam de dieta úmida possuem apenas 11% 
de taxa de recidiva de CIF em um ano, enquanto que aqueles 
que comem dieta seca apresentam taxas de até 39% (52). Dessa 
maneira, se uma mudança de alimentação for recomendada, 
o novo alimento úmido deve ser oferecido em uma vasilha ao 
lado da antiga dieta (3,25). O gato deve escolher se quer mudar 
seu tipo de alimento e essa troca nunca deve ser forçada (3). 
Caso ele aceite, deve-se gradualmente substituir a alimentação 
seca pela úmida, encorajando também a ingestão de líquidos 
através do uso de fontes correntes de água próprias para gatos 
e com o oferecimento de caldos de carne ou frango cozidos por 
parte dos proprietários (1). Assim como as vasilhas sanitárias, 
as de alimento e água também devem estar sempre limpas e 
em número maior do que o de gatos no ambiente (3,25). O en-
corajamento do comportamento natural de alimentação dos 
felinos também deve ser realizado, através de atos que mime-
tizem a caça, como esconder o alimento pela casa (25).
É importante identificar fatores estressantes e mudanças 
da rotina como introdução de novos gatos ou pessoas no am-
biente, mudança de dieta ou de moradia, superlotação am-
biental, estresse do proprietário, conflito entre animais etc. 
(1,25). O gato deve dispor de enriquecimento ambiental que 
seja natural e desejável por ele, dando oportunidades de esca-
lada, arranhadura e descanso, além de locais nos quais se sin-
ta seguro e possa se esconder (1,3,25). A utilização de simula-
ções de caça através do uso de “laser pointers”, esconderijos 
de comida pela casa e brinquedos variados contribuem para 
essa proposta (3). A relação de contato e interação entre o 
animal e seu proprietário também deve ser investigada para 
corrigir eventuais situações de agressividade ou desprezo (3). 
A utilização de ferormônios faciais felinos sintéticos24 
deve ser considerada para reduzir comportamentos de ansie-
dade dos animais, incluindo marcação territorial com urina 
(1,3). A redução da marcação territorial provavelmente está 
relacionada com uma diminuição da vigilância realizada pe-
los animais, já que a sua percepção do ambiente é favoravel-
mente modificada (53). Já que a CIF pode estar relacionada 
com um aumento da ativação do sistema nervoso simpático 
e a redução da vigilância parece ter um efeito na diminuição 
da ativação desse sistema, é provável que o uso desse produ-
to beneficie os gatos portadores dessa doença (3). Ele deve 
ser utilizado em associação com o enriquecimento ambiental 
para reduzir o estresse (3,25). 
O tratamento analgésico reduz a gravidade dos sinais clí-
nicos, mas não deve ser o único tratamento empregado (1). 
Os anti-inflamatórios não-esteroides, como carprofeno25 e ce-
toprofeno26 e analgésicos opioides potentes como butorfanol, 
buprenorfina e de fentanil27 são benéfi cos a curto prazo no 
tratamento da dor 1,3. 
Os antidepressivos tricíclicos são benéficos no trata-
mento da cistite intersticial humana e em alguns gatos com 
cistite idiopática, entretanto, existem poucos estudos que 
comprovam sua eficácia (1). Esses fármacos possuem efeitos 
orgânicos e comportamentais, incluindo ação anticolinérgica 
(aumentando a capacidade da vesícula urinária), anti-infla-
matória (prevenindo a liberação de histamina pelos mastó-
23 Uricemil®, Cristalia, Itapira, SP
24 Feliway®, Ceva Santé Animale, Paulínia, SP
25 Rimadyl®, Pfizer Saúde Animal, Guarulhos, SP
26 Ketofen®,, Merial Brasil, Campinas, SP
27 Durogesic®, Janssen-Cilag, São Paulo, SP
460 Medvep - Revista Científica de Medicina Veterinária - Pequenos Animais e Animais de Estimação 2009;7(23); 460-463.
Contribuição ao estudo da doença do trato urinário inferior felino (DTUIF) – Revisão de literatura
citos), antiadrenérgica, analgésica e antidepressiva (1,54). O 
antidepressivo indicado é a amitriptilina28, na dose de 2,5 a 
10 mg/gato, por via oral a cada 24 horas, durante à noite (1). 
Uma dose inicial de 5 mg/dia é bastante efetiva em muitos 
gatos, devendo ser aumentada aos poucos até que um efeito 
calmante seja observado, além da resolução dos sinais clíni-
cos (3). Esse medicamento deve ser reservado para os pacien-
tes que possuem doença grave ou crônica, o tratamento não 
deve ser suspenso abruptamente e os melhores resultados 
são vistos a longo prazo (1,55,56). Se nenhum efeito favorável 
é visto em quatro meses, o fármaco deve ser gradualmente 
reduzido até que o tratamento seja suspenso (3). Os efeitos 
colaterais incluem sonolência, ganho de peso, retenção uriná-
ria e aumento das enzimas hepáticas (1,55,56). Essas devem 
ser checadas antes do tratamento, após 1 mês de seu início e 
a cada 6 a 12 meses (1,3). Outros medicamentos que já foram 
utilizados em gatos com CIF incluem clomipramina29, fluoxe-
tina30 e buspirona31 (3). 
Alguns pesquisadores recomendam a utilização de su-
plementos de glicosaminoglicanos para ajudar reconstituir 
a camada protetora da vesícula urinária e diminuir a infla-
mação, reduzindo a permeabilidade da parede da vesícula 
urinária (1,3). Os GAGs também possuem efeitos analgési-
cos e anti-inflamatórios (1). Sua utilização deve ser restrita a 
gatos que apresentam cistite grave, em conjunto com outros 
tratamentos (1,3). Os GAGs atualmente indicados para fe-
linos são: glicosamina32 (precursor de GAG), na dose 125 
mg/gato, por via oral, a cada 24 horas (1) ou polisulfato de 
pentosano33, na dose de 50 mg/gato, a cada 12 horas (3). Os 
efeitos colaterais incluem aumento do tempo de coagula-
ção, inapetência e possivelmente, resistência à ação da in-
sulina (1). 
O tratamento do espasmo uretral é indicado para todos os 
gatos que apresentem sinais de cistite idiopática (1).
O uso de glicocorticoides e antibióticos não resulta em 
efeitos satisfatórios e a administração de azul de metileno 
(antisséptico urinário) e fenazopiridina (analgésico urinário) 
são contra-ndicadas devido à anemia grave resultante, com 
formação de corpúsculos de Heinz (1,3).
É importante ressaltar que a terapêutica hoje disponível 
para o tratamento da cistite idiopática é meramente paliativa 
(1). Os melhores resultados são obtidos quando se realiza várias 
mudanças, como reduzir o estresse, utilizar alimentação úmida 
e repor GAGs e, se necessário, aliviar o espasmo uretral (1). 
Para o sucesso do tratamento da cistite idiopática nos 
casos de recidiva, os proprietários devem reconhecer pre-
cocemente sinais prodrômicos, como excesso de lambedura 
perianal e agressividade entre gatos (geralmente o agressor 
desenvolve a doença), antes que a enfermidade se torne cli-
nicamente óbvia (1). A duração desses sinais pode variar de 
alguns dias a algumas horas, e se mudanças forem realizadas 
nesse momento, a chance de se conseguir uma redução da 
gravidade e tempo de duração dos sinais clínicos é maior. 
Essas mudanças incluem o uso de ferormônios felinos, au-
mento da ingestão de líquidos e/ou a utilização de GAGs e 
de prazosina (quando indicado). Essa abordagem pode ser 
inclusive utilizada quando um episódio de estresse é anteci-
pado, como uma visita ao veterinário, hospedagem em outro 
ambiente, realização de obras em casa, etc.
Tampões uretrais e cristalúria
Inicialmente, se houver obstrução, a patência da uretra 
deve ser restabelecida e o espasmo uretral deve ser minimi-
zado (1). O tratamento a longo prazo deve ser focado na re-
dução da matriz coloidal (inflamação) e da cristalúria (1). Por 
essas razões, o paciente deve ser alimentado com um alimen-
to úmido ese houver cristalúria grave e persistente, a natu-
reza dos cristais deve ser investigada e deve-se a utilizar um 
alimento de prescrição, de preferência úmido (1) (quadro 3).
Alimento balanceado-Indústria Indicação pH urinário
Moderate pH/O - Eukanuba Oxalato 6,3 – 6,9 
Low pH/S - Eukanuba Estruvita 5,9 – 6,3
s/d - Hill’s Estruvita início 5,9 – 6,1
c/d-s - Hill’s Estruvita manutenção 6,2 – 6,4
Urinary S/O LP 34 - Royal Canin Estruvita e oxalato 6,2
Urinary Care Protection - Purina Estruvita 6,0 – 6,4
Quadro 3: Tip
urolitíase.
28 Tryptanol®, Prodome, Campinas, SP
29 Anafranil®, Novartis, São Paulo, SP
30 Prozac®, Eli Lilly, São Paulo, SP
31 Buspanil®, Novartis, São Paulo, SP
32 Artroglycan, Schering-Plough, Cotia, SP
33 Elmiron®, não disponível no Brasil
A alimentação dos gatos que já possuem urina ácida e não 
apresentam cristais de estruvita não deve ser realizada com 
alimentos acidificantes (1). O uso a longo prazo de dietas aci-
dificantes leva à acidose metabólica, hipocalemia, dano renal 
e perda de densidade óssea, especialmente em gatos jovens 
(1). Também existe o risco da formação de cristais de oxalato 
de cálcio nesses casos (1).
Infecções bacterianas
Os felinos que desenvolverem infecções bacterianas 
devem ser submetidos à antibioticoterapia de acordo com 
461Medvep - Revista Científica de Medicina Veterinária - Pequenos Animais e Animais de Estimação 2009;7(23); 461-463.
Contribuição ao estudo da doença do trato urinário inferior felino (DTUIF) – Revisão de literatura
o resultado da cultura e antibiograma, por um período 
de duas a três semanas ou quatro a seis semanas, caso 
exista suspeita de pielonefrite (1,3). Urinálises e culturas 
de rotina devem ser realizadas periodicamente, principal-
mente em animais que sofreram cirurgia de uretrostomia 
perineal (46).
O tratamento das infecções simples confinadas à vesícula 
urinária ou uretra só deve ser instituído se o animal não esti-
ver com cateter urinário e, de preferência, após ele estar com 
a patência urinária restabelecida (32). Isso evita que infecções 
com bactérias resistentes a antibióticos se estabeleçam. Po-
rém, se houver sinais de infecção do trato urinário superior 
(febre, leucocitose, prostração), a antibioticoterapia deve ser 
instituída imediatamente.
Neoplasias
O tratamento das neoplasias originadas na vesícula uriná-
ria é cirúrgico, através de cistectomia parcial (49). Uma gran-
de porcentagem da parede da vesícula pode ser excisada com 
um retorno gradual à sua função normal, desde que a região 
do trígono seja preservada. Quando sua excisão total não pu-
der ser realizada, o tratamento medicamentoso com piroxi-
cam34, na dose de 0,3 mg/kg, por via oral a cada 48 horas é 
indicado, principalmente nos casos de carcinoma de células 
transicionais (1). Assim como outros anti-inflamatórios não-
esteroides, o piroxicam pode causar toxicidade gastrintesti-
nal e renal. Deve-se monitorar o perfil renal sanguíneo antes 
e durante o tratamento (1).
34 Feldene®, Pfizer, São Paulo, SP
Defeitos anatômicos 
A remoção cirúrgica do divertículo urinário deve ser reali-
zada se não houver resolução espontânea após o tratamento da 
causa primária da DTUIF (1,49). O tecido retirado deve ser en-
viado para cultura, antibiograma e análise histopatológica (1).
A persistência do uraco deve ser também tratada através de 
correção cirúrgica, através da dissecção do canal uracal, secção do 
uraco e sutura da vesícula urinária e da parede abdominal (34,49).
Profilaxia
Para a prevenção da DTUIF é essencial garantir que os fe-
linos sejam poupados de situações de estresse desnecessárias, 
habitem lugares com enriquecimento ambiental e disponham 
de uma alimentação balanceada com controle de minerais e 
de pH urinário (14). Além disso, deve-se estimular os feli-
nos a ingerir maior quantidade de líquidos e rações pastosas, 
fazer exercícios periodicamente e corrigir a obesidade e o ma-
nejo, principalmente com relação às bandejas sanitárias.
Conclusão
A DTUIF abrange um conjunto de manifestações clínicas 
extremamente comuns em gatos e representa um desafio aos 
médicos veterinários, pois possui etiologia complexa e mui-
tas vezes indeterminada. Porém, o sucesso do tratamento e a 
redução dos casos de recidiva são inversamente proporcio-
nais à disponibilidade de investigação da sua causa, correção 
do manejo e enriquecimento ambiental.
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