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Código Logístico 58866 Fundação Biblioteca Nacional ISBN 978-85-387-6527-1 9 7 8 8 5 3 8 7 6 5 2 7 1 A Educação Física se mostra como um importante componente curricular que contribui efetivamente para que o aluno possa atuar no mundo de maneira crítica, responsável e ética. Dividido em cinco capítulos, este livro apresenta aspectos pedagógicos e metodológicos da Educação Física escolar, bem como seus conteúdos e objetivos na educação infantil e nos anos iniciais do ensino fundamental, além do planejamento e avaliação do processo de ensino-aprendizagem. A obra traz um breve histórico sobre a Educação Física escolar, as concepções e as principais teorias pedagógicas que influenciaram e ainda influenciam as práticas docentes atuais. Apresenta também as bases legais da Educação e como é abordada a área da Educação Física nos seguintes documentos: Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Parâmetros Curriculares Nacionais, Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil e Base Nacional Comum Curricular. Metodologia da Educação Física escolar: educação infantil e anos iniciais do ensino fundamental IESDE BRASIL S/A 2019 Claudinara Botton Dal Paz Vera Lucia Rodrigues de Moraes Todos os direitos reservados. IESDE BRASIL S/A. Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 Batel – Curitiba – PR 0800 708 88 88 – www.iesde.com.br © 2019 – IESDE BRASIL S/A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito das autoras e do detentor dos direitos autorais. Capa: IESDE BRASIL S/A. Imagem da capa: Mile Atanasov/ Rawpixel.com/ Robert Kneschke/ Maria Sbytova/ wavebreakmedia/ KAZLOVA IRYNA/Shutterstock CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ P368m Paz, Claudinara Botton Dal Metodologia da educação física escolar : educação infantil e anos iniciais do ensino fundamental / Claudinara Botton Dal Paz, Vera Lucia Rodrigues de Moraes. - 1. ed. - Curitiba [PR] : IESDE Brasil, 2019. 126 p. : il. Inclui bibliografia ISBN 978-85-387-6527-1 1. Educação física para crianças. 2. Esportes escolares. 3. Profes- sores de educação física - Formação. I. Paz, Claudinara Botton Dal. II. Moraes, Vera Lucia Rodrigues de. III. Título. 19-58498 CDD: 372.86 CDU: 373.2/.3.016:613.71 Claudinara Botton Dal Paz Mestre em Educação Física pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Especialista em Deficiência Intelectual pela Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões (URI). Graduada em Educação Física pela Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (Unijuí). Possui experiência como professora na rede pública, coordenadora de curso de graduação em Educação Física e como docente no ensino superior em cursos de Educação Física e Pedagogia. Vera Lucia Rodrigues de Moraes Mestre em Educação pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos). Especialista em Pedagogia Social pela Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões (URI). Especialista em Ginástica Escolar e graduada em Educação Física pela instituição Faculdades Reunidas de Administração Ciências Contábeis e Econômicas de Palmas/PR (Facepal). Tem experiência como docente no ensino superior em cursos de Educação Física (licenciatura e bacharelado). Sumário Apresentação 7 1. A Educação Física escolar 9 1.1 Breve histórico da Educação Física 9 1.2 Teorias pedagógicas da Educação Física 15 1.3 Manifestações da cultura corporal do movimento 23 2. Bases legais da Educação Física escolar 31 2.1 Leis de Diretrizes e Bases da Educação 32 2.2 Parâmetros Curriculares Nacionais 35 2.3 Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil 38 2.4 Base Nacional Comum Curricular 46 3. Aspectos didático-metodológicos do ensino da Educação Física 57 3.1 Características dos alunos 57 3.2 Conteúdos e objetivos a serem desenvolvidos 61 3.3 Procedimentos metodológicos 69 3.4 Tipos de planejamento e estruturação de aulas de Educação Física 74 4. Atividades práticas para as aulas de Educação Física 81 4.1 Atividades sem uso de materiais 81 4.2 Atividades com uso de materiais 95 5. Avaliação do processo de ensino-aprendizagem da Educação Física 105 5.1 A avaliação na disciplina de Educação Física 105 5.2 Dimensões, critérios e instrumentos de avaliação na Educação Física 110 Gabarito 121 Apresentação A escola é um espaço de saber e convivência no qual o aluno adquire os conhecimentos e habilidades necessários para a vida. Com base nesse pressuposto e possuindo objetivos e competências específicas para cada etapa do ensino, a Educação Física se mostra como um importante componente curricular que contribui efetivamente para que o aluno possa atuar no mundo de maneira crítica, responsável e ética. Essas características aprendidas por meio do movi- mento promovem o desenvolvimento do aluno sob a ótica da integralidade, ou seja, consideram as dimensões motora, cognitiva, social e afetiva do ser humano. Entretanto, para que ocorra a aprendizagem significativa, deve-se considerar o contexto social e cultural no qual o aluno está inserido. Dividido em cinco capítulos, este livro apresenta aspectos pedagógicos e metodológicos da Educação Física escolar, bem como seus conteúdos e objetivos na educação infantil e nos anos iniciais do ensino fundamental, além do planejamento e avaliação do processo de ensino-aprendizagem. A obra inicia com um breve histórico sobre a Educação Física escolar, as concepções e as principais teorias pedagógicas que influenciaram e ainda influenciam as práticas docentes atuais, apresentando as manifestações da cultura corporal do movimento. 8 Metodologia da Educação Física escolar: educação infantil e anos iniciais do ensino fundamental Apresenta também as bases legais da Educação e como é abordada a área da Educação Física nos seguintes documentos: Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Parâmetros Curriculares Nacionais, Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil e Base Nacional Comum Curricular. Na sequência, destacam-se as características dos alunos, os conteúdos e objetivos da Educação Física para cada etapa de ensino, os procedimentos metodológicos para o trabalho com a disciplina e como ela se organiza no ambiente escolar. Por fim, são apresentadas atividades com e sem o uso de materiais, e de que forma é possível avaliar o aprendizado dos alunos nessa disciplina. Bons estudos! 1 A Educação Física escolar Começamos este capítulo com um breve histórico sobre a Educação Física escolar, indicando como era a sua prática nas escolas e como se modificou ao longo dos anos. Para isso, apontamos as principais teorias pedagógicas que influenciaram e ainda influenciam as práticas realizadas pelos professores de Educação Física. Por fim, destacamos as manifestações da cultura corporal do movimento que são hoje objeto de estudo da Educação Física Escolar. Quer saber qual é a sua origem e por que existem tantas formas e conteúdos diferentes ensinados na escola? Venha conosco! 1.1 Breve histórico da Educação Física Entender o que é a Educação Física envolve conhecer suas origens e sua capacidade enquanto prática pedagógica. Essa reflexão faz sentido para compreender como a sua prática na escola evoluiu ao longo do tempo, buscando transformá-la e adequá-la aos propósitos da educação brasileira. Segundo Darido e Rangel (2011, p. 1): Os objetivos e as propostas educacionais foram se modificando ao longo dos últimos anos, e todas as tendências, de algum modo, ainda hoje influenciam a formação profissional e suas práticas pedagógicas. Na Educação Física escolar, assim como em outros componentes curriculares, não existe uma única forma de se pensar e implementar a disciplina da escola. Nesse sentido, a Educação Física, assim como outras áreas, assumiu os objetivos que a sociedade gestou em cada momento histórico. Na primeira metade do séculoXX, por exemplo, a 10 Metodologia da Educação Física escolar: educação infantil e anos iniciais do ensino fundamental sociedade privilegiava apenas a aptidão física e a higiene, por causa do desenvolvimento econômico do país. Nessa época, o cenário tinha como característica a formação de pessoas como força de trabalho para a produção. Em termos cronológicos, a Educação Física escolar sistematizada teve início no final do século XIX. Nesta época, o país iniciava sua transição de sociedade escravista para uma formação social capitalista. Acompanhando as tendências que dominavam na Europa em diferentes campos do saber, existia a preocupação de construir um homem novo, que pudesse dar suporte à nova ordem política econômica e social emergente. (GALLARDO, 2009, p. 11) Diante do exposto, especificam-se diferentes concepções – ou tendências – com relação à Educação Física escolar, as quais acompanharam os diferentes contextos históricos e econômico- -sociais pelos quais passou o país. Assim, historicamente, a Educação Física apresentou as seguintes tendências pedagógicas. 1.1.1 Higienista e militarista Na concepção higienista, a preocupação estava centrada nos hábitos de higiene, valorizando o desenvolvimento físico e moral a partir da atividade física. Para Darido e Rangel (2011), o higienismo é uma das concepções dominantes na Educação Física. Gallardo (2009) afirma que, no Brasil, existia uma classe de médicos que buscava a reformulação de hábitos de higiene na família para libertar a população do vício do período colonial, como a preguiça, a imoralidade e a indolência, o que prejudicava a saúde, a moral e a vida coletiva. Assim, para alcançar os objetivos dessa sociedade, os higienistas recorreram às práticas de Educação Física, que, “com base em critérios estabelecidos pelas ciências biológicas, encarregaram-se de implementar programas disciplinares e de exercitação corporal nas escolas, a fim de desenvolver e fortalecer A Educação Física escolar 11 física e moralmente os indivíduos, tornando-os aptos para a construção da nova sociedade” (GALLARDO, 2009, p. 11). Nessa concepção, as aulas de Educação Física eram separadas entre meninos e meninas, pois, para os meninos, era importante a formação de corpos saudáveis, produtivos, fortes, para se tornarem futuros militares, e, para as meninas, o essencial era a formação de mães saudáveis, para se tornarem futuras donas de casa com muitos filhos (GALLARDO, 2009). Dessa forma, as práticas motoras da época fundamentavam-se em movimentos ginásticos oriundos dos métodos alemão, sueco e francês. A Educação Física tinha como premissa básica, portanto, a necessidade de atividades somente práticas, a fim de formar corpos fortes e saudáveis, tal como exigido pelo momento histórico, econômico e social (DARIDO; RANGEL, 2011). Assim como a higienista, a concepção ou tendência militarista também reduzia a Educação Física apenas a atividades práticas, sem necessidade de uma reflexão e fundamentação teórica para dar suporte a ela (DARIDO; RANGEL, 2011). A concepção militarista surgiu sob forte influência de um acontecimento histórico: a Primeira Guerra Mundial. Mesmo a guerra tendo início em 1914, o movimento com as alianças entre os países buscava a formação de contingentes militares a fim de defender os territórios. Assim, os militares começaram a ditar um novo modelo de homem a ser formado: o homem forte e capaz de defender a sua pátria. Essa influência militar pôde ser observada em 1907, com a criação da Escola de Educação Física da Força Policial do Estado de São Paulo, a primeira escola de formação de instrutores de Educação Física no Brasil, e, em 1922, com a criação do Centro Militar de Educação Física do Rio de Janeiro. Além de dar continuidade à concepção higienista, a concepção militarista introduziu nas escolas a necessidade de formar futuros militares (GALLARDO, 2009). 12 Metodologia da Educação Física escolar: educação infantil e anos iniciais do ensino fundamental Somente em 1939, no Brasil, foi criada a primeira escola civil de formação de professores de Educação Física (CASTELLANI FILHO et al., 2009). Nesse período, a Educação Física escolar possuía como princípio “o adestramento físico como maneira de preparar o aluno para o cumprimento do seu dever de defender a nação dos perigos internos e externos” (GALLARDO, 2009, p. 12), sendo que, na época, diversas abordagens ginásticas para a prática surgiram no país, como o método francês, a calistenia e o método natural austríaco. Dentre esses métodos, o que inicialmente teve maior influência nas práticas de Educação Física no Brasil foi o método alemão, que caracteriza-se por considerar o corpo humano uma máquina composta de eixos de movimentos (articulações) e alavancas a serem movimentadas (segmentos corporais). Dessa forma, são propostos movimentos padronizados que tenham a mesma amplitude, intensidade e velocidade para todos, sejam esportistas, trabalhadores ou estudantes. A disciplina, a obediência às ordens superiores e a exatidão dos movimentos são a chave do êxito. Quanto maior o número de indivíduos atuando sincronizadamente, maior é o poder atribuído a esse tipo de organização. (GALLARDO, 2009, p. 12) Posteriormente, o êxito desse método em função de sua relação com o trabalho coletivo necessário na produção industrial começou a ser imitado e interpretado por outros países e grupos sociais, de diferentes formas, como a utilização de grandes aparelhos (ginástica artística) e pequenos aparelhos (ginástica rítmica). Originaram-se, assim, outros movimentos ginásticos, como o método francês, que interpretava as idiossincrasias do método alemão, o austríaco, que promovia a liberdade individual e a livre expressão, e a calistenia, que deu origem à ginástica localizada (GALLARDO, 2009). Observa-se, também, nessa época, que as aulas eram uma extensão da prática realizada pelos soldados. Os exercícios eram pautados em métodos ginásticos estrangeiros, contudo, não havia idiossincrasias: característica de comportamento peculiar de um indivíduo ou de determinado grupo. A Educação Física escolar 13 consenso entre os profissionais sobre os tipos de atividades que deveriam ser ministradas nas aulas de Educação Física (FINCK, 2011). Segundo Darido e Rangel (2011, p. 3), no modelo militarista, os objetivos da Educação Física na escola eram vinculados à formação de uma geração capaz de suportar o combate, a luta, para atuar na guerra; por isso, era importante selecionar indivíduos perfeitos fisicamente e excluir os incapacitados. Além da preocupação com as questões higiênicas, morais, disciplinares e militares associadas à Educação Física, ainda existia uma grande importância no condicionamento dos alunos em relação ao progresso econômico do país, e essa tendência predominou nas redes de ensino (GALLARDO, 2009). Além dessas concepções, temos uma tendência muito forte e que até hoje tem influência na Educação Física escolar: a esportivista. Conte-nos: você chegou a praticar esportes como futebol, basquete ou corrida nas aulas de Educação Física? Apostamos que sim e vamos explicar como surgiu essa valorização do esporte nas aulas de Educação Física. 1.1.2 Esportivista Seguindo a ordem da produtividade que privilegia a eficiência e a eficácia, os esportes atendem ao modelo vivido pela ordem econômica do mundo. Essa tendência da Educação Física desportiva, divulgada no Brasil por Auguste Listello, coincidiu com o final da Segunda Guerra Mundial, quando novas correntes disputavam supremacia no interior da instituição escolar (CASTELLANI FILHO et al., 2009). Uma das concepções que mais observamos quando se fala em Educação Física escolar é a esportivista, pois os esportes são um dos conteúdos a serem desenvolvidos nas aulas dessa disciplina e estão claramente presentes nos documentos legais, como os Parâmetros 14 Metodologia da Educação Física escolar: educação infantile anos iniciais do ensino fundamental Curriculares Nacionais (PCNs) e a Base Nacional Comum Curri- cular (BNCC). Na BNCC, o esporte é uma das unidades temáticas dos conteúdos a serem desenvolvidos nas aulas de Educação Física. Essa influência do esporte no sistema escolar é de tal magnitude que temos, então, não o esporte da escola mas sim o esporte na escola. Isso indica a subordinação da educação física aos códigos/sentido da instituição esportiva. Caracterizando-se o esporte na escola como um prolongamento da instituição esportiva: esporte olímpico, sistema desportivo nacional e internacional. Esses códigos podem ser resumidos em: princípios de rendimento atlético/ desportivo, competição, comparação de rendimento e recordes, regulamentação rígida, sucesso no esporte como sinônimo de vitória, racionalização de meios e técnicas etc. (CASTELLANI FILHO et al., 2009, p. 53-54) As vitórias da Seleção Brasileira de Futebol nas Copas do Mundo de 1958 e 1962 contribuíram muito para a associação da Educação Física aos esportes, principalmente ao futebol. A satisfação da população em assistir às disputas da Seleção e acompanhá-las teve seu auge com a terceira vitória do Brasil, em 1970, influenciando fortemente o predomínio dos esportes nas aulas. Essa concepção esportivista, que também pode ser chamada de mecanicista, tradicional ou tecnicista, sofreu e sofre muitas críticas, pois a sua relação com a eficiência e a eficácia faz com que muitos alunos sejam excluídos das aulas. Apesar disso, os esportes continuam a ser muito praticados nas aulas atualmente. Com a chegada da década de 1980 e o período de redemocra- tização política do país, profissionais de Educação Física começaram a se encontrar e a debater sobre novas formas (concepções e tendências) de ensino. Tais discussões contribuíram para um rompimento com a excessiva valorização esportiva, que tinha o desempenho dos alunos nas aulas como único objetivo (DARIDO; RANGEL, 2011). A Educação Física escolar 15 Essa crítica aos conteúdos esportivos foi influenciada por pes- quisas na área da educação, as quais ocasionaram o que chamamos de crise da Educação Física, em que vários novos movimentos começaram a surgir no final de 1970. Esses movimentos, que chamaremos aqui de teorias pedagógicas da Educação Física, procuraram romper com o modelo esportivista e tradicional da época. Vamos conhecer algumas dessas teorias? A seguir, apontaremos as principais. 1.2 Teorias pedagógicas da Educação Física Como vimos na seção anterior, foi a partir dos anos 1980 que a Educação Física começou a ser debatida no que diz respeito aos seus objetivos, conteúdos e métodos, passando a ser repensada no âmbito das propostas pedagógicas da educação. Assim, observamos o surgimento de algumas teorias pedagógicas da Educação Física, como veremos a seguir. 1.2.1 Psicomotricidade Segundo Darido e Rangel (2011), foi na década de 1970 que a educação psicocinética tornou-se relevante em alguns programas de Educação Física escolar. É conhecida também por educação psicomotora ou psicomotricidade, divulgada em alguns programas de escolas com alunos portadores de deficiência física e mental. Tendo como autor de maior influência o francês Jean Le Boulch, a psicocinética ou psicomotricidade surgiu como uma contestação à visão dualista do corpo e mente a que a Educação Física estava ligada. Le Boulch afirma que a psicocinética não é um método para a Educação Física, mas uma teoria geral do movimento que deve ser utilizada como um meio para o aprendizado dos alunos (CASTELLANI FILHO et al., 2009). Mesmo utilizando o movimento apenas como um meio para o aprendizado dos alunos, essa teoria vincula-se fortemente à 16 Metodologia da Educação Física escolar: educação infantil e anos iniciais do ensino fundamental Educação Física para justificar sua importância no ambiente escolar, sendo uma das responsáveis pelo desenvolvimento cognitivo das crianças a partir do movimento realizado por elas. Gallardo (2009) explica o trabalho do profissional de Educação Física e aponta para a importância do movimento na educação da criança, ou seja, a educação pelo movimento, e não para o movimento. O trabalho do profissional passa a organizar-se em torno do desenvolvimento das estruturas psicomotoras de base: coordenação motora, equilíbrio, lateralidade, organização espaço temporal e esquema corporal, buscando integrar homem e espaço, corpo e alma. O desenvolvimento psicomotor torna-se pré-requisito para a aquisição dos conteúdos cognitivos, e a educação do movimento dá lugar à educação pelo movimento. (GALLARDO, 2009, p. 16) Conforme Darido e Rangel (2011, p. 8), “a psicomotricidade defende uma ação educativa que deva ocorrer com base nos movimentos espontâneos da criança e das atitudes corporais, favorecendo a gênese da imagem do corpo, núcleo central da personalidade”. Segundo os autores: O discurso e a prática da Educação Física sob essa influência da psicomotricidade conduz à necessidade do professor se sentir com responsabilidades escolares e pedagógicas. Busca desatrelar sua atuação na escola dos pressupostos da instituição esportiva, valorizando o processo de aprendizagem e não mais a execução de um gesto técnico isolado. (DARIDO; RANGEL, 2011, p. 8) Nessa teoria, a prática do movimento e o estímulo por meio dos exercícios de esquema corporal e aptidões motoras possibilitam a mudança dos hábitos, ideias e sentimentos da criança (CASTELLANI FILHO et al., 2009). Portanto, é muito difundida mundialmente e utilizada pelos educadores para o trabalho na educação infantil e A Educação Física escolar 17 nos anos iniciais do ensino fundamental. O professor de Educação Física, inserido nesse contexto, utiliza a psicomotricidade como auxílio no aprendizado cognitivo dos alunos. 1.2.2 Desenvolvimentista A teoria desenvolvimentista tem como principal autor Go Tani e, ao contrário da psicomotricidade, baseia-se no desenvolvimento motor como principal meio para a aprendizagem, sendo defendida a ideia de que o movimento é o principal meio e fim da Educação Física. Assim, não é função da Educação Física o desenvolvimento de capacidades que auxiliem na alfabetização e no pensamento lógico- -matemático, embora isso possa ocorrer como uma consequência da prática motora (DARIDO; RANGEL, 2011). Dirigida inicialmente para crianças de 4 a 14 anos, a teoria utiliza as fases do desenvolvimento motor como elemento central para a construção das aulas de Educação Física, considerando o estágio motor em que a criança se encontra. Gallahue e Ozmun (2005), em sua obra Compreendendo o desenvolvimento motor: crianças, bebês, adolescentes e adultos, trazem detalhadamente as fases do desenvolvimento motor, mostrando os movimentos que as crianças são capazes de realizar. Nessa teoria, Os conteúdos devem ser desenvolvidos segundo uma ordem de habilidades básicas e específicas. As básicas podem ser classificadas em habilidades locomotoras (p. ex.: andar, correr, saltar), manipulativas (p. ex.: arremessar, chutar e rebater) e de estabilização (p. ex.: girar, rolar, e realizar posições invertidas), e as específicas são mais influenciadas pela cultura e estão relacionadas à prática do esporte, do jogo, da dança e das atividades industriais. (DARIDO; RANGEL, 2011, p. 9) 18 Metodologia da Educação Física escolar: educação infantil e anos iniciais do ensino fundamental Contudo, há uma crítica com relação à teoria desenvolvimentista, no sentido de que as pessoas podem não apresentar um mesmo padrão de desenvolvimento motor, ou seja, podem não estar no período correspondente à idade em que se encontram. Para Gallardo (2009), isso compromete a participação dos alunos nas atividades esportivas e culturais, pois não apresentam o mesmo desenvolvimento motor que seus pares, isto é, não possuem maturação na execução das habilidades motoras. Segundo Darido e Rangel (2011, p. 10), “há uma tentativa de fazer correspondero nível de desenvolvimento motor à idade em que o comportamento deve aparecer. Por exemplo, aos 7 anos, a criança deve apresentar padrões maduros nas habilidades, ou seja, movimentos executados com qualidade próxima à execução de um adulto”. Outra limitação da teoria seria que, dependendo do contexto cultural e ambiental em que estão inseridos os alunos, uma habilidade motora pode ser mais complexa que a outra, por exemplo: chutar uma bola para uma criança brasileira pode ser menos complexo do que para uma criança de outro país; ou nadar em uma cidade litorânea e nadar em uma cidade longe do litoral (DARIDO; RANGEL, 2011). Apesar disso, nessa teoria, a Educação Física tem um papel importante no processo de aperfeiçoamento do movimento motor, oferecendo experiências de novos movimentos. Nessa abordagem, devemos proporcionar condições para que o comportamento motor seja desenvolvido, oferecendo, assim, experiências de movimento adequadas à faixa etária dos alunos, observando os erros e oferecendo estratégias de atividades para que sejam superados. Considerando o nível de desenvolvimento motor, é função do professor de Educação Física possibilitar à criança um repertório grande de movimentos, para que ela desenvolva, de forma ampla, as habilidades motoras e capacidades físicas. A Educação Física escolar 19 1.2.3 Teoria do ensino aberto A teoria do ensino aberto ou de aulas abertas foi proposta por Reiner Hildebrandt e Ralf Laging, em 1986, e caracteriza-se pela participação dos alunos em decisões sobre os objetivos, conteúdos, metodologia e avaliação da disciplina. Nesse caso, o aluno é o centro do processo de ensino, sendo considerada a possibilidade de ele ajudar e decidir no planejamento da disciplina. Segundo Hildebrandt (apud FINCK, 2011, p. 39), nessa teoria, o “objeto de estudo é o mundo do movimento e suas implicações sociais, que têm como principal objetivo trabalhar o movimento em sua amplitude e complexidade, com a intenção de proporcionar aos participantes autonomia para as capacidades de ação”. Ao contrário do que se pensa inicialmente, o professor de Educação Física não estaria deixando os alunos livres para fazerem o que querem nas aulas; eles apenas auxiliam e ajudam na decisão do planejamento e execução da disciplina. O que acontece é uma interação entre professor e aluno que agrega pontos positivos ao aprendizado dos alunos, construído por meio da escolha de temas, de estímulos e de tarefas a serem realizadas. Para Fonseca e Machado (2015), na escola, o perfil da Educação Física era de mera atividade de prática corporal destituída de compromisso e, devido a isso, a disciplina passou a ser pouco valorizada em relação aos outros componentes curriculares, embora os alunos gostassem de praticar as atividades. 1.2.4 Teoria construtivista Essa teoria, que se contrapõe à tendência mecanicista da Educação Física, tem suas bases nos estudos teóricos de Jean Piaget, o qual afirma que a construção do conhecimento no sujeito ocorre por meio da interação dele com o mundo (DARIDO; RANGEL, 2011). 20 Metodologia da Educação Física escolar: educação infantil e anos iniciais do ensino fundamental Na área da Educação Física, João Batista Freire é considerado um representante dessa teoria ao propor uma pedagogia do movimento. Fundada na ideia de complexidade, a teoria do movimento deveria definir como conteúdos básicos as atividades que, ao contrário de estabelecer padrões de movimento e fechar as possibilidades de ação, criassem um leque de possibilidades (FREIRE; SCAGLIA, 2009). Dessa forma, diante de um problema ou situação nova, o organismo abre uma série de possibilidades antes de tentar resolver o obstáculo (FREIRE; SCAGLIA, 2009). Essas possibilidades criam hipóteses de escolhas para a resolução do problema, sendo a escolha pela melhor hipótese dependente da história de vida da pessoa e das experiências que ela teve anteriormente. Assim: Tudo leva a crer, portanto, que, quanto mais diversificadas forem as situações novas, maior o leque de possibilidades que se formará, o que equivale dizer que mais ampla poderá ser a atuação da inteligência, independente de se tratar de motricidade, de racionalidade, de afetividade ou de outra dimensão qualquer. (FREIRE; SCAGLIA, 2009, p. 154) A teoria construtivista, na área da Educação Física, considera o conhecimento prévio do aluno, resgatando a cultura de jogos e brincadeiras que eles carregam. Portanto, envolve a cultura no processo de ensino-aprendizagem, em que o “aluno constrói o seu conhecimento a partir da interação com o meio, resolvendo problemas” (DARIDO; RANGEL, 2011, p. 11). Assim, ao colocar o jogo como principal conteúdo, considerando as experiências do aluno, sua bagagem cultural de jogos e brincadeiras, a teoria construtivista permite que o aluno aprenda enquanto brinca. Da mesma forma, o movimento pode ser um instrumento para aprendizagem de outros conteúdos, como leitura e escrita, por exemplo. 1.2.5 Teoria crítico-superadora Apresentando grande número de representantes e estudiosos, a teoria crítico-superadora utiliza o discurso da justiça social como A Educação Física escolar 21 ponto de apoio. Na Educação Física, há uma grande obra a respeito dessa teoria, construída pelo coletivo de autores Bracht, Castellani Filho, Escobar, Soares, Pinto Varjal e Taffarel, em 1992, intitulada Metodologia do Ensino da Educação Física. Para Finck (2011), a teoria contribui para que ocorram mudanças sociais, diminuindo, assim, as desigualdades sociais, afirmando que a escola se faz como um todo na organização e na efetivação do trabalho comprometido de todos os educadores. Com relação ao conteúdo a ser desenvolvido nas aulas de Educação Física, os adeptos desta abordagem propõem que se considere a relevância social dos conteúdos, sua contemporaneidade e sua adequação às características sociais e cognitivas dos alunos. Para a organização do currículo, ressaltam que é preciso fazer com que o aluno confronte os conhecimentos do senso comum com o conhecimento científico, para ampliar o seu acervo de conhecimento. (DARIDO; RANGEL, 2011, p. 13) Essa teoria tem como objeto de estudo a cultura corporal, que se concretiza em diferentes temas, como jogos, esportes, lutas, danças, ginásticas, entre outros. As habilidades motoras são consideradas, porém não como objeto central de conhecimento da Educação Física (FINCK, 2011). A organização dos conteúdos deve ter coerência com a leitura da realidade. Deve-se, portanto, analisar o que determinou a escolha e a necessidade do ensino do conteúdo (CASTELLANI FILHO et al., 2009). Sendo assim, nessa abordagem, temos uma Educação Física contextualizada com a cultura corporal dos sujeitos e com a busca de autonomia em seus aprendizados. 1.2.6 Teoria crítico-emancipatória A teoria crítico-emancipatória é uma abordagem didática- -pedagógica da Educação Física que tem como autor o professor 22 Metodologia da Educação Física escolar: educação infantil e anos iniciais do ensino fundamental Elenor Kunz, que sugere uma reflexão sobre o ensino dos esportes (apud FINCK, 2011). Essa proposta possibilita uma educação por intermédio do desenvolvimento e do esporte na escola, podendo contribuir para que crianças e jovens tenham uma apreciação crítica a respeito do conhecimento da cultura corporal. Finck (2011, p. 67) destaca a relevância dessa teoria para o trabalho com os esportes nas escolas, ao falar dos “encaminhamentos metodológicos, evidenciando seus valores e mostrando a relevância desse fenômeno social de uma forma crítica e significativa, vindo, assim, a contribuir para a emancipação do aluno como cidadão”. Seguindo a lógica do aluno emancipado, Kunz afirma que existem dois aspectos que precisam ser considerados nessa teoria: a busca pela emancipação do aluno, que poderá, por meio das aulas de Educação Física, “aprender a analisar e questionar a realidade, construindo seus própriosconceitos na busca de uma sociedade mais justa”, e “a preocupação com a construção de propostas práticas, possíveis de serem desenvolvidas e que possam contribuir para o atendimento dos objetivos” (apud Finck, 2011, p. 67). Assim como a teoria crítico-superadora, o objeto de estudo da teoria crítico-emancipatória é a cultura corporal, sendo os jogos, ginásticas, esportes, capoeira e dança os elementos a serem compreendidos e contextualizados (DARIDO; RANGEL, 2011). A partir do exposto, Darido e Rangel (2011) afirmam que o objetivo do ensino crítico é compreender a estrutura autoritária dos processos institucionalizados que formam falsas convicções, interesses e desejos, e, portanto, “promover condições para que essas estruturas autoritárias sejam suspensas e o ensino encaminhado para uma emancipação, possibilitada pelo uso da linguagem, que tem papel importante no agir comunicativo” (DARIDO; RANGEL, 2011, p. 15). A Educação Física escolar 23 Sendo assim, conforme visto nas teorias pedagógicas que se originaram a partir de estudos que buscam compreender a Educação Física como área de relevância no ambiente escolar, é por meio da cultura corporal do movimento que o trabalho dos professores precisa ser fundamentado. Mas, afinal, o que é cultura corporal do movimento e como ela se manifesta? 1.3 Manifestações da cultura corporal do movimento Para compreendermos o aluno como um todo, é preciso considerar diversos aspectos que influenciam suas ações nas atividades propostas na Educação Física escolar. Nesse sentido, entende-se que o aluno traz características do meio em que vive e estas se expressam por meio de diferentes atitudes. Para que ocorra a aprendizagem, é necessário que o aluno tenha interesse e que estabeleça conexões com a sua realidade, ou seja, com o meio social e cultural em que vive. O ser humano, desde suas origens, produziu cultura. Sua história é uma história de cultura, na medida em que tudo o que faz está inserido num contexto cultural, produzindo e reproduzindo cultura. O conceito de cultura é aqui entendido como produto da sociedade, da coletividade à qual os indivíduos pertencem, antecedendo-os e transcendendo-os. (BRASIL, 1997, p. 23) Nessa perspectiva, considera-se que o aluno está inserido em uma cultura e que se expressa por diferentes linguagens, entre as quais a do movimento. A criança tem características próprias que precisam ser respeitadas, assim como as atividades propostas devem estar de acordo com a fase de seu desenvolvimento. Para isso, existem diferentes recursos utilizados para proporcionar elementos de desenvolvimento da criança por meio do movimento, os quais atendem a aspectos cognitivos, motores e socioafetivos. Apesar disso, para Brandl (2010), ainda existe um desconhecimento das 24 Metodologia da Educação Física escolar: educação infantil e anos iniciais do ensino fundamental características e necessidades da criança e de como acontece o seu desenvolvimento e a sua aprendizagem, ou seja, há um desrespeito com a sua corporeidade infantil. “Corporeidade pode ser entendida como corpo em movimento que busca a vida num determinado tempo histórico e cultural” (NISTA-PICCOLO; MOREIRA, 2012, p. 50). Os autores complementam que a leitura do corpo é um processo de conscientização, afirmação da personalidade, da individualidade, do sentido de presença à etnia humana, e que esse entendimento resulta na compreensão de que a realidade do corpo vai além da dicotomia corpo e mente, natureza e cultura. Kolyniak (2005 apud BRANDL, 2010, p. 32) explicita que, desde o nascimento, por meio da consciência, o corpo vai se conformando como corporeidade, a qual é observada nos movimentos, na expressividade, na postura e no significado atribuído ao padrão estético, assim, “humano vivo é corporeidade, é cultura encarnada”. As primeiras interações do ser humano consigo mesmo e com o ambiente ocorrem por meio do movimento, ou seja, a criança se expressa e se desenvolve a partir de atos motores, que se concretizam no âmbito de resolver problemas relacionados ao ambiente. De acordo com Darido e Rangel (2011), as formas básicas de movimentação se combinam de diferentes maneiras para atender às demandas ambientais, que estão inseridas na cultura. E o conjunto de manifestações expressivas corporais se denomina cultura corporal de movimento. Logo, o movimento humano, objeto de estudo da Educação Física, pode ser concebido por meio de diferentes manifestações corporais. O aluno tem preferência por determinadas modalidades de acordo com o que lhe é transmitido de geração em geração, ou com o que ele observa na mídia e no local em que vive. A Educação Física escolar 25 Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1997), “dentre as produções da cultura corporal, algumas foram incorporadas pela Educação Física em seus conteúdos: o jogo, o esporte, a dança, a ginástica e a luta. Estes têm em comum a representação corporal com características lúdicas e de diversas culturas humanas”. Essas produções “ressignificam a cultura corporal humana e o fazem utilizando uma atitude lúdica” (BRASIL, 1997). Já a BNCC (2017) afirma que a Educação Física se constitui como um componente curricular cujo objeto de estudo é a cultura corporal do movimento humano, envolvendo as diferentes manifestações do movimento, entre elas os esportes, jogos, lutas e ginásticas. De acordo com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), A Educação Física é o componente curricular que tematiza as práticas corporais em suas diversas formas de codificação e significação social, entendidas como manifestações das possibilidades expressivas dos sujeitos, produzidas por diversos grupos sociais no decorrer da história. Nessa concepção, o movimento humano está sempre inserido no âmbito da cultura e não se limita a um deslocamento espaço-temporal de um segmento corporal ou de um corpo todo. (BRASIL, 2017, p. 213) Ainda segundo a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), a Educação Física deve oferecer uma série de possibilidades para enriquecer a experiência das crianças, jovens e adultos na Educação Básica, permitindo o acesso a um vasto universo cultural, Esse universo compreende saberes corporais, experiências estéticas, emotivas, lúdicas e agonistas [...] Para além da vivência, a experiência efetiva das práticas corporais oportuniza aos alunos participar, de forma autônoma, em contextos de lazer e saúde. (BRASIL, 2017, p. 213) 26 Metodologia da Educação Física escolar: educação infantil e anos iniciais do ensino fundamental Ao abordar a cultura corporal dos alunos, a Educação Física utiliza suas experiências e práticas culturais, e o currículo escolar é construído com base nessas práticas e saberes – e não na prática hegemônica e esportiva da escola tradicional (GALLARDO, 2009). Assim, todos os alunos devem participar das atividades numa perspectiva inclusiva que pondere suas características e a fase da aprendizagem, adequando espaços, materiais, regras e outros procedimentos metodológicos. As atividades precisam ser motivadoras, não muito fáceis que tornem a aula tediosa, nem além da capacidade de entendimento e execução dos alunos, para que estes tenham êxito no que é proposto pelo professor. Além disso, deve-se organizar os conteúdos em ordem crescente de dificuldade, conforme as capacidades de ordem motora, cognitiva e afetivo-social dos alunos e em concordância com os objetivos da Educação Física escolar. Para Gallardo (2009), as sugestões de atuação da Educação Física para os cinco primeiros anos servem como indicadores iniciais, e não como pontos de chegada. Nesse sentido, a riqueza propiciada pelas manifestações da cultura corporal não se esgota em sua realização pura e simples, mas leva a uma reflexão que contribui para a formação de valores e convivência social. “O conhecimento do mundo na criança depende das relações que esta estabelece com os outros e com as coisas” (FREIRE, 2009,p. 17). E, considerando essa fase, as atividades devem ter caráter lúdico, proporcionando o desenvolvimento de habilidades por meio de jogos e brincadeiras. O professor de Educação Física, então, deve ter conhecimento da cultura corporal do movimento, entendendo o conhecimento prévio do aluno, suas expectativas e as competências e habilidades que devem ser desenvolvidas na Educação Física escolar. A Educação Física escolar 27 Considerações finais A Educação Física escolar é marcada por uma evolução histórica e influenciada por propósitos econômicos, sociais e ideológicos do Brasil e do mundo. De acordo com o que foi exposto neste capítulo, observamos que muitos estudiosos e pensadores concentraram seus esforços em mostrar a importância dessa disciplina para a vida humana e, por isso, da sua inclusão no ambiente escolar. Optamos por apresentar, em forma de concepções, de que maneira a Educação Física escolar foi trabalhada, desde o seu surgimento no ambiente escolar e a partir da chamada crise da Educação Física dos anos 1980. Assim, descrevemos algumas das principais teorias pedagógicas que sustentam a área da Educação Física e que influenciam de maneira significativa a prática do professor nas escolas. A escola é um espaço de saber e de convivência, onde o aluno, por meio de diferentes áreas, adquire conhecimentos, competências, habilidades e experiências. Estas, em particular, se desenvolvem nos aspectos cognitivo, motor, afetivo e social, com o intuito de que o aluno possa atuar no mundo de maneira comprometida, responsável e ética. Sendo assim, ao refletir sobre a cultura corporal de movimento na prática docente, objeto de estudo da Educação Física escolar, todos os aspectos citados anteriormente devem ser considerados de forma equivalente. Pelo fato de vivermos em um país com grande espaço territorial e diferentes manifestações culturais, entender a cultura corporal dos alunos e considerá-la, no trabalho escolar, é de extrema importância para o professor, pois esse entendimento e apropriação influenciam diretamente no processo de ensino e aprendizagem da Educação Física. 28 Metodologia da Educação Física escolar: educação infantil e anos iniciais do ensino fundamental Ampliando seus conhecimentos • ABORDAGENS pedagógicas em Educação Física escolar parte 01. 2010. 1 vídeo (9 min.). Publicado pelo canal Omar Schneider. Disponível em: https://www.youtube.com/ watch?v=wlSdK7lduD4. Acesso em: 18 jul. 2019. Trata-se de um vídeo sobre a história da Educação Física, que traz um complemento sobre as teorias pedagógicas da área. Além disso, apresenta contribuições importantes sobre ensino-aprendizagem da Educação Física escolar. • NEIRA, M. G.; NUNES, M. L. F. Educação Física, currículo e cultura. São Paulo: Phorte, 2009. Essa obra trata da função social da escola, das tendências do ensino da Educação Física e da importância da cultura no momento histórico. Aborda, ainda, o atual contexto, fazendo um convite à sua investigação e às concepções pedagógicas que o influenciam. Atividades 1. Quais foram as concepções que embasaram a Educação Física escolar no início do século XIX até o final da década de 1970? Explique o motivo da existência dessas concepções. 2. Quais foram as teorias pedagógicas da Educação Física que surgiram na década de 1970 e que são relatadas neste capítulo? Explique o porquê do surgimento dessas teorias. 3. O conjunto de manifestações expressivas corporais se denomina cultura corporal de movimento. Por que devemos considerá-lo nas aulas de Educação Física? A Educação Física escolar 29 Referências BRANDL, C. E. R. (org.). Educação Física escolar: questões do cotidiano. Curitiba: CRV, 2010. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: introdução aos parâmetros curriculares nacionais. Brasília: MEC/SEF, 1997. Disponível em: http://portal.mec.gov. br/seb/arquivos/pdf/livro01.pdf. Acesso em: 18 jul. 2019. BRASIL. Ministério da Educação. Base nacional comum curricular. 2017. Disponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/ BNCC_20dez_site.pdf. Acesso em: 18 jul. 2019. CASTELLANI FILHO, L. et al. Metodologia do ensino da Educação Física. São Paulo: Cortez, 2009. DARIDO, S. C.; RANGEL, I. C. A. Educação Física no ensino superior: Educação Física na escola: implicações para a prática pedagógica. São Paulo: Guanabara Koogan, 2011. FINCK, S. C. M. A Educação Física e o esporte na escola: cotidiano, saberes e formação. Curitiba: Ibpex, 2011. FONSECA, D. G. da.; MACHADO, R. B. (org.). Educação Física: (re)visitando a didática. Porto Alegre: Sulina, 2015. FREIRE, J. B.; SCAGLIA, A. J. Educação como prática corporal. São Paulo: Scipione, 2009. GALLAHUE, D. L.; OZMUN, J. Compreendendo o desenvolvimento motor: bebês, crianças, adolescentes e adultos. 3. ed. São Paulo: Phorte, 2005. GALLARDO, J. S. P. Prática de ensino em Educação Física: a criança em movimento: livro do professor. São Paulo: FTD, 2009. NISTA-PICCOLO, V. L.; MOREIRA, W. W. Corpo em movimento na educação infantil. São Paulo: Cortez, 2012. 2 Bases legais da Educação Física escolar As concepções e abordagens pedagógicas da Educação Física, tratadas no capítulo anterior, surgiram e se firmaram com objetivos, conteúdos e métodos influenciados pelos contextos econômicos e momentos históricos vividos pela sociedade. De acordo com os diferentes momentos históricos, podemos observar a formulação de políticas públicas educacionais que legitimam e norteiam a área da Educação Física na escola, e esses documentos são revistos e reformulados pelos governos com o passar dos anos. Este capítulo trata das bases legais da educação e de como é colocada a área da Educação Física nessas bases, iniciando com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDBEN (BRASIL, 1996), um marco para a educação nacional. A partir da LDBEN, documentos importantes norteadores foram criados e são referência para autores e pesquisadores da educação, por isso, serão abordados neste livro: os Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL,1997), o Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil (BRASIL, 1998) e, por fim, o mais novo documento que temos em vigência, a Base Nacional Comum Curricular (BRASIL, 2017). Vale lembrar que as políticas públicas educacionais assumem um papel fundamental na resolução de problemas enfrentados pela sociedade em geral e legitimam a atuação das diversas áreas do conhecimento em um determinado território de abrangência. Nesse contexto, insere-se a área da Educação Física, que, ao longo dos anos, vem se destacando no cenário educacional, uma vez que sua atuação é debatida e defendida por pessoas que buscam sua valorização mediante pesquisas que afirmam a sua importância. 32 Metodologia da Educação Física escolar: educação infantil e anos iniciais do ensino fundamental Sendo assim, é essencial conhecer as bases legais que fundamentam a prática educacional e como a Educação Física se faz presente nesses documentos para a afirmação e valorização da área como componente curricular escolar. Vamos conhecer esses documentos e o que eles nos dizem sobre a Educação Física na escola? 2.1 Leis de Diretrizes e Bases da Educação Em meio ao surgimento de concepções, abordagens e discussões acerca dos caminhos que a educação e a Educação Física deveriam seguir no país, novas leis são formuladas para atender ao desenvolvimento socioeconômico da nação. Dentre as bases legais que orientam o papel das diferentes áreas de conhecimento dentro do ambiente escolar, temos a Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece Diretrizes e Bases da Educação Nacional, a LDBEN. Assim como outras leis, a LDBEN, que teve sua primeira versão em 1961, vem se modificando até os dias atuais por meio de outras leis que aprimoram o seu texto em busca da qualidade da educação nacional. Segundo Darido e Rangel (2011), a LDBEN foi resultado de diversasdiscussões entre sociedade, deputados, senadores e Poder Executivo durante um período de oito anos. Ela trouxe uma série de mudanças, em que se destacam a mudança da estrutura didática, a autonomia dos estabelecimentos escolares e o enfoque na formação do cidadão. A principal mudança de estrutura e nomenclatura foi a divisão em dois níveis de ensino: a educação básica, formada por educação infantil, ensino fundamental e ensino médio; e a educação superior. Dentro da educação básica, como afirma a LDBEN, segundo Darido e Rangel (2011, p. 53), existem outros três níveis de Ensino, sendo que cada um deles deve contribuir para o alcance dos seus objetivos, Bases legais da Educação Física escolar 33 sempre adequado à faixa etária dos alunos. A Educação Infantil tem como objetivo principal a preocupação com o desenvolvimento integral da criança até 6 anos de idade, complementando a ação da família e da comunidade. O Ensino Fundamental, com duração mínima de 9 anos, voltado para crianças a partir de 6 anos, tem como objetivo principal a formação básica do cidadão. Em conformidade com a Constituição Federal, a LDBEN “reforça os princípios constitucionais da liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cultura, o pensamento, a arte e o saber, do pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas” (GALLARDO, 2009, p. 80). A referida lei traz como objetivo da educação infantil a autonomia e independência da criança para o seu autocuidado, e como objetivo principal do ensino fundamental a apropriação de valores e conhecimentos do aluno para que ele viva em sociedade (GALLARDO, 2009). A motivação de trabalhar com a referida lei neste livro é que ela serviu para a formulação e implementação de outros documentos, como as Diretrizes Curriculares Nacionais, os Parâmetros Curriculares Nacionais e o Referencial Curricular para a Educação Infantil – estes dois últimos vamos conhecer mais adiante. Com relação à presença da Educação Física na LDBEN, no parágrafo 3° do artigo 26, tem-se que: “A Educação Física, integrada à proposta pedagógica da escola, é componente curricular da Educação Básica, ajustando-se às faixas etárias e às condições da população escolar, sendo facultativa nos cursos noturnos” (BRASIL, 1996). Anos depois, esse parágrafo foi reformulado pela Lei n. 10.328 de 2001, acrescentando-se a palavra obrigatório logo após “componente curricular”. No artigo 27 da LDBEN, constam as diretrizes para os conteúdos curriculares da educação básica, reforçando, no inciso IV, o lugar da Educação Física: 34 Metodologia da Educação Física escolar: educação infantil e anos iniciais do ensino fundamental I - a difusão de valores fundamentais ao interesse social, aos direitos e deveres dos cidadãos, de respeito ao bem comum e à ordem democrática; II - consideração das condições de escolaridade dos alunos em cada estabelecimento; III - orientação para o trabalho; IV - promoção do desporto educacional e apoio às práticas desportivas não formais. (BRASIL, 1996) Em seu artigo 26, a LDBEN prevê que os currículos do ensino fundamental e médio devem ter uma base comum e uma base diversificada, exigidas pelas características regionais e locais da sociedade, da cultura, da economia e da clientela. No ano de 2013, na redação desse artigo, foi acrescentado, além dos currículos do ensino fundamental e médio, o da educação infantil, e o termo clientela foi substituído pela palavra educandos. Como podemos observar, a LDBEN trouxe referenciais essenciais para a elaboração de novas orientações em busca da qualidade da educação nacional. Para a área da Educação Física, Darido e Rangel (2011, p. 56) afirmam que a LDBEN trouxe grandes avanços: Um desses aspectos é o fato de a Educação Física ser encarada como um componente curricular, e, talvez, mais importante ainda, seja o fato de a disciplina dever se ligar ao projeto político pedagógico da escola, oferecendo a possibilidade de que se integre ao cotidiano escolar e demonstre sua importância. Os documentos criados com base na orientação da LDBEN são hoje muito utilizados pelos profissionais da área, uma vez que orientam o trabalho pedagógico nas escolas. A partir desses documentos, formações de professores são realizadas a fim de atingir os objetivos da educação. Na LDBEN, assim como nos demais documentos que serão apresentados neste livro, podemos perceber a nítida presença da Educação Física como conteúdo curricular obrigatório da educação Bases legais da Educação Física escolar 35 básica, sendo debatida e reformulada ao longo dos anos. Portanto, faz-se necessário ter conhecimento sobre a legislação que norteia a educação, bem como as responsabilidades de cada área do conhecimento no ambiente escolar. Vamos conhecer mais bases legais importantes para a Educação Física? 2.2 Parâmetros Curriculares Nacionais Apresentamos, agora, os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), de 1997, documento criado para todas as áreas do conhecimento presentes no ambiente escolar. Eles sugerem e orientam o encaminhamento das áreas nas escolas e estão divididos em livros separados. Surgidos a partir de um enfoque dado pela LDBEN, a qual reforça a necessidade de se propiciar a todos uma educação básica comum, o que pressupõe a formulação de um conjunto de diretrizes capazes de nortear os currículos e seus conteúdos mínimos, os PCNs foram organizados tendo como base temas transversais e documentos que abordam a especificidade de cada componente curricular. Para a disciplina de Educação Física, segundo Finck (2011), os PCNs orientaram a elaboração dos currículos de estados e municípios e serviram de reflexão para a prática de professores. Já no entendimento de Brandl (2010), os PCNs abordam os conteúdos em procedimentos, conceitos e atitudes, nos quais, conceitos e procedimentos mantêm grande proximidade, pois o movimento gira em torno do compreender e sentir, embora a ênfase, na prática, esteja no fazer. Os PCNs utilizaram como fundamentação elementos de diferentes teorias pedagógicas que convergiram para a sua formação, buscando entender a Educação Física desde sua concepção. Desse modo, encontra-se nos parâmetros a seguinte colocação: “Para que 36 Metodologia da Educação Física escolar: educação infantil e anos iniciais do ensino fundamental se compreenda o momento atual da Educação Física é necessário considerar suas origens no contexto brasileiro, abordando as principais influências que marcam e caracterizam essa disciplina e os novos rumos que estão se delineando” (BRASIL, 1997, p. 19). Essa afirmação demonstra a preocupação em entender o processo percorrido, a situação atual e de que modo se constituirá futuramente, de acordo com o cenário social, preconizando a autonomia do aluno para a utilização de seu potencial de movimento e para exercê-lo de maneira social e culturalmente significativa e adequada. Já ao abordar a cultura corporal de movimento como objeto de estudo da Educação Física, os PCNs “apontam alguns caminhos por meio da Cultura corporal de Movimento, como colaboradores da formação do cidadão, que se pretende participativo, solidário, crítico e autônomo” (DARIDO; RANGEL, 2011, p. 59). Preocupando-se com a formação do ser humano e considerando a cultura corporal de movimento colaboradora desse processo, temos um documento organizado que orienta o trabalho da Educação Física no ambiente escolar. Os PCNs da Educação Física estão divididos em duas partes. A primeira trata dos princípios e das características da área da Educação Física no ensino fundamental, evidenciando as influências, tendências e o quadro atual da disciplina na escola. Apresenta o objeto de estudo da Educação Física relacionando-o com os temas transversais, bem como aspectos conceituais, atitudinais e procedimentais concernentes à metodologia, conteúdos, objetivos e avaliação na disciplina. A segunda parte traz os critérios para a seleção dos conteúdos com base nosconhecimentos da cultura corporal de movimento, objetivos, metodologia e avaliação e também quanto a orientações didáticas para o ensino da Educação Física nas séries finais, hoje, anos finais do ensino fundamental (FINCK, 2011). Bases legais da Educação Física escolar 37 Conforme os PCNs, a cultura corporal é fundamental para o desenvolvimento da Educação Física na escola, pois O ser humano, desde suas origens, produziu cultura. Sua história é uma história de cultura, na medida em que tudo o que faz está inserido num contexto cultural, produzindo e reproduzindo cultura. O conceito de cultura é aqui entendido como produto da sociedade, da coletividade a qual os indivíduos pertencem, antecedendo-os e transcendendo-os. (BRASIL, 1997, p. 26) Nesse sentido, respeitar a cultura é fundamental para que as atividades façam sentido ao aluno e promovam aprendizagens significativas. Segundo os PCNs, “a área de Educação Física hoje contempla múltiplos conhecimentos produzidos pela sociedade a respeito do corpo e do movimento” (BRASIL, 1997, p. 27). Encontramos também neste documento que, entre esses conhecimentos, são de grande importância as atividades com fins de lazer e expressão de sentimentos, as quais promovem a saúde. Assim como a LDBEN estabelece as diretrizes para a educação nacional, os PCNs são instrumentos que definem a orientação que cada disciplina deve seguir para formar o cidadão que vai atuar e viver em sociedade. Para a Educação Física, os PCNs definem que: Cabe à escola trabalhar com o repertório cultural local, partindo de experiências vividas, mas também garantir o acesso a experiências que não teriam fora da escola. Esta diversidade de experiências precisa ser considerada pelo professor quando organiza atividades, toma decisões sobre encaminhamentos individuais e coletivos e avalia procurando ajustar a sua prática às reais necessidades de aprendizagem dos alunos. (BRASIL, 1997 p. 59) Aulas diversificadas, assim como a inclusão, progressão das atividades e adequação ao nível de ensino são princípios metodológicos a serem considerados quando se planeja atividades com os alunos. São conhecimentos que a graduação em Educação Física proporciona para o ensino formal. 38 Metodologia da Educação Física escolar: educação infantil e anos iniciais do ensino fundamental Nesse sentido, cabe ao professor elaborar o seu planejamento de aulas, a fim de que os alunos possam fazer escolhas, decidir, resolver problemas, tornando-se cada vez mais independentes e responsáveis. Os PCNs trazem os conteúdos divididos em três grandes blocos que se articulam entre si, mas possuem suas especificidades. São eles: Conhecimentos sobre o corpo; Esportes, jogos, lutas e ginástica; e Atividades rítmicas e expressivas. Para cada bloco, o documento traz uma gama de possibilidades a serem trabalhadas nas aulas em diferentes níveis de ensino. Os alunos do primeiro ciclo, compreendendo estudantes que se encontram nos anos iniciais do ensino fundamental, devem atingir os seguintes objetivos com as aulas de Educação Física: participar de diferentes atividades corporais, procurando adotar uma atitude cooperativa e solidária, sem discriminar os colegas pelo desempenho ou por razões sociais, físicas, sexuais ou culturais; conhecer algumas de suas possibilidades e limitações corporais de forma a poder estabelecer algumas metas pessoais (qualitativas e quantitativas), conhecer, valorizar, apreciar e desfrutar de algumas das diferentes manifestações de cultura corporal presente no cotidiano; e organizar autonomamente alguns jogos, brincadeiras ou outras atividades corporais simples. (BRASIL, 1997, p. 63) Vamos ver agora o que diz o Referencial Curricular para a Educação Infantil, que integra a série de documentos dos PCNs. Afinal, como deve ser o ensino na educação infantil? E onde entra a Educação Física nessa fase de ensino? 2.3 Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil O Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil (RCNEI) é um documento, pós-promulgação da LDBEN, a considerar a educação infantil a primeira etapa da educação básica. Bases legais da Educação Física escolar 39 Portanto, o primeiro espaço formal e institucional que a criança frequenta regularmente, um espaço de educação dos direitos humanos e de movimentos que garantem a vida individual e em sociedade. A finalidade da educação infantil é desenvolver a criança de maneira integral nos aspectos físico, intelectual, linguístico, afetivo e social, complementando a educação recebida na família e na comunidade em que vive, conforme determina a LDBEN (NISTA-PICCOLO; MOREIRA, 2012). Assim, partindo de orientação da LDBEN para que a educação brasileira estabeleça e siga diretrizes curriculares nacionais, Paulo Renato Souza, então ministro da educação no governo Fernando Henrique Cardoso, afirma que O Referencial foi concebido de maneira a servir como um guia de reflexão de cunho educacional sobre objetivos, conteúdos e orientações didáticas para os profissionais que atuam diretamente com crianças de zero a seis anos, respeitando seus estilos pedagógicos e a diversidade cultural brasileira. (BRASIL, 1998, p. 7) O RCNEI é um conjunto com três volumes, organizado da seguinte forma: o volume 1 contém uma reflexão sobre creches e pré- -escolas do Brasil, trazendo as concepções da criança, da educação e dos profissionais que serviram para a construção dos objetivos da educação infantil, e organiza os eixos de trabalho sobre Formação Pessoal e Social e Conhecimento de Mundo; o volume 2 refere-se à experiência de Formação Pessoal e Social que favorece os processos de construção da Identidade e Autonomia das crianças (BRASIL, 1998); por fim, o volume 3 é relativo ao âmbito de experiência Conhecimento de Mundo que contém seis documentos referentes aos eixos de trabalho orientados para a construção das diferentes linguagens pelas crianças e para as relações que estabelecem com os objetos de conhecimento: Movimento, Música, Artes Visuais, Linguagem Oral e Escrita, Natureza e Sociedade e Matemática. (BRASIL, 1998, p. 9) 40 Metodologia da Educação Física escolar: educação infantil e anos iniciais do ensino fundamental Para este livro, vamos manter o foco no volume 3, pois nele encontramos a importância do movimento na primeira infância, elemento essencial de trabalho do professor de Educação Física. O movimento é tão importante na educação infantil que, no volume 3 do RCNEI, é apresentado como o primeiro elemento a ser considerado pelo professor. Do total de 40 páginas destinadas a orientar o trabalho com as crianças, já no primeiro parágrafo da introdução, podemos encontrar a ênfase que é dada ao movimento na educação infantil: As crianças se movimentam desde que nascem, adquirindo cada vez maior controle sobre seu próprio corpo e se apropriando cada vez mais das possibilidades de interação com o mundo. Engatinham, caminham, manuseiam objetos, correm, saltam, brincam sozinhas ou em grupo, com objetos ou brinquedos, experimentando sempre novas maneiras de utilizar seu corpo e seu movimento. Ao movimentar-se, as crianças expressam sentimentos, emoções e pensamentos, ampliando as possibilidades do uso significativo de gestos e posturas corporais. O movimento humano, portanto, é mais do que simples deslocamento do corpo no espaço: constitui-se em uma linguagem que permite às crianças agirem sobre o meio físico e atuarem sobre o ambiente humano, mobilizando as pessoas por meio de seu teor expressivo. (RCNEI, 1998, p. 15) Nessa perspectiva, Nista-Piccolo e Moreira (2012) afirmam que é função da Educação Física possibilitar o pensamento das crianças, que as leva à imaginação, sendo esta área uma das linguagens da expressão humana. É importante, também, estimular diferentes formas de movimento, pois é por meio dele que a criança se expressa, se comunica com os demais e interage com o ambiente. No primeiro ano de vida da criança,o RCNEI afirma que os movimentos de preensão e locomoção são as maiores conquistas e que a relação do seu corpo com o ambiente é desenvolvida por meio da experimentação ou exploração. Bases legais da Educação Física escolar 41 Ao observar um bebê, pode-se constatar que é grande o tempo que ele dedica a explorações do próprio corpo – fica olhando as mãos paradas ou mexendo-as diante dos olhos, pega os pés e diverte-se em mantê-los sob o controle das mãos – como que descobrindo aquilo que faz parte do seu corpo e o que vem do mundo exterior. Pode-se também notar o interesse com que investiga os efeitos dos próprios gestos sobre os objetos do mundo exterior, por exemplo, puxando várias vezes a corda de um brinquedo que emite um som, ou tentando alcançar com as mãos o móbile pendurado sobre o berço, ou seja, repetindo seus atos buscando testar o resultado que produzem. (BRASIL, 1998, p. 21) Para Gallahue e Ozmun (2005), o aprendizado efetivo do movimento de locomoção se dá a partir da possibilidade de vivenciá- -lo de diversas formas, em diferentes ambientes e com diversos obstáculos, sendo que o domínio dos movimentos se amplia com a exploração da criança. A partir do primeiro ano até os três, a criança apresenta um aumento da autonomia em sua locomoção, sendo a fase em que mais se movimenta e faz descobertas. Segundo o RCNEI, “a grande independência que andar propicia na exploração do espaço é acompanhada também por uma maior disponibilidade das mãos: a criança dessa idade é aquela que não para, mexe em tudo, explora, pesquisa” (BRASIL, 1998, p. 22). Os gestos manuais usados para a alimentação, ainda que praticados com um pouco de insegurança, e gestos simbólicos utilizados no faz de conta, como embalar uma boneca, surgem a partir da imitação existente no meio em que vivem. Além disso, nessa fase, a criança começa a reconhecer a imagem do seu corpo e suas características físicas, essenciais para a construção de sua identidade (BRASIL, 1998). 42 Metodologia da Educação Física escolar: educação infantil e anos iniciais do ensino fundamental Sendo assim, é importante que o professor utilize a imitação como uma das estratégias para o aprendizado no plano do movimento. Para Nista-Piccolo e Moreira (2012), as crianças, nessa fase, se expressam por meio dos movimentos, e as atividades de Educação Física devem contemplar os grandes grupos musculares e promover valores como honestidade, cooperação, participação e responsabilidade. Já após os quatro anos de idade e até os seis, de acordo com o RCNEI, constata-se uma ampliação do repertório de gestos instrumentais, os quais contam com progressiva precisão. Atos que exigem coordenação de vários segmentos motores e o ajuste a objetos específicos, como recortar, colar, encaixar pequenas peças etc., sofisticam-se. Ao lado disso, permanece a tendência lúdica da motricidade, sendo muito comum que as crianças, durante a realização de uma atividade, desviem a direção de seu gesto; é o caso, por exemplo, da criança que está recortando e que de repente põe-se a brincar com a tesoura, transformando-a num avião, numa espada etc. (BRASIL, 1998, p. 24) É nessa fase que as brincadeiras e os jogos culturais possuem um repertório maior, o que contribui sobremaneira para o desenvolvimento e aprimoramento da coordenação motora das crianças, bem como para a precisão nos movimentos essenciais ao cotidiano. Nessa fase, ainda é importante destacar a cultura na qual a criança está inserida, pois dependendo do ambiente em que vive, ela pode possuir um maior desenvolvimento motor em relação às demais crianças. O RCNEI destaca isso quando afirma que Uma criança que vive à beira de um rio utilizado, por exemplo, como forma de lazer pela comunidade provavelmente aprenderá a nadar sem que seja preciso entrar numa escola de natação, como pode ser o caso de uma criança de ambiente urbano. Habilidades de subir Bases legais da Educação Física escolar 43 em árvores, escalar alturas, pular distâncias, certamente serão mais fáceis para crianças criadas em locais próximos à natureza, ou que tenham acesso a parques ou praças. (BRASIL, 1998, p. 24-25) Além das características do movimento de zero a seis anos que o RCNEI traz, ele apresenta os objetivos para cada fase: de zero a três anos e de três a seis anos de idade. De zero a três anos, a prática educativa deve ser organizada no sentido de a criança: familiarizar-se com a imagem do próprio corpo; explorar as possibilidades de gestos e ritmos corporais para expressar- -se nas brincadeiras e nas demais situações de interação; deslocar-se com destreza progressiva no espaço ao andar, correr, pular etc., desenvolvendo atitude de confiança nas próprias capacidades motoras; explorar e utilizar os movimentos de preensão, encaixe, lançamento etc., para o uso de objetos diversos. (BRASIL, 1998, p. 27) Para as crianças de três a seis anos, tais objetivos deverão ser aprimorados, e o RCNEI acrescenta: ampliar as possibilidades expressivas do próprio movimento, utilizando gestos diversos e o ritmo corporal nas suas brincadeiras, danças, jogos e demais situações de interação; explorar diferentes qualidades e dinâmicas do movimento, como força, velocidade, resistência e flexibilidade, conhecendo gradativamente os limites e as potencialidades de seu corpo; controlar gradualmente o próprio movimento, aperfeiçoando seus recursos de deslocamento e ajustando suas habilidades motoras para utilização em jogos, brincadeiras, danças e demais situações; utilizar os movimentos de preensão, encaixe, lançamento etc., para ampliar suas possibilidades de manuseio dos diferentes materiais e objetos; apropriar-se progressivamente da imagem global de seu corpo, conhecendo e identificando seus segmentos e elementos e desenvolvendo cada vez mais uma atitude de interesse e cuidado com o próprio corpo. (BRASIL, 1998, p. 24) 44 Metodologia da Educação Física escolar: educação infantil e anos iniciais do ensino fundamental Finda a parte que cabe ao movimento na educação infantil, o RCNEI destaca os conteúdos que devem ser trabalhados e que são organizados em dois blocos: possibilidades expressivas dos movimentos e seu caráter instrumental, trazendo a expressividade, o equilíbrio e a coordenação como conteúdos a serem desenvolvidos por meio das atividades. Sobre a expressividade, o RCNEI afirma que a dimensão subjetiva do movimento deve ser contemplada e acolhida em todas as situações do dia a dia na instituição de educação infantil, possibilitando que as crianças utilizem gestos, posturas e ritmos para se expressar e se comunicar. Além disso, é possível criar, intencionalmente, oportunidades para que as crianças se apropriem dos significados expressivos do movimento. A dimensão expressiva do movimento engloba tanto as expressões e comunicação de ideias, sensações e sentimentos pessoais como as manifestações corporais que estão relacionadas com a cultura. (BRASIL, 1998, p. 30) Desse modo, considera-se importante oferecer uma gama de atividades que possibilitem as mais diversas formas de se movimentar, como: engatinhar, rolar, escalar, manusear objetos, entre outras. Isso é proporcionado por meio de “brincadeiras que compõem o repertório infantil e que variam conforme a cultura regional” e “apresentam-se como oportunidades privilegiadas para desenvolver habilidades no plano motor, como empinar pipas, jogar bolinhas de gude, atirar com estilingue, pular amarelinha etc.” (BRASIL, 1998, p. 24). Considerar a cultura regional na qual a criança está inserida é primordial na construção de ações que vão favorecer a sua formação integral. A Educação Física, a fim de contribuir para essa formação, deve centrar suas ações na corporeidade, ludicidade, jogo e motricidade. Portanto, Bases legais da Educação Física escolar 45 Com um trabalho do professor voltado à exploração e à descoberta do próprio corpo, é possível atingir a consciência corporal,melhor dizendo, a corporeidade, em vivências que levam o domínio do movimento. É importante que as atividades propostas possam despertar as potencialidades criativas das crianças, isto é, que por meio dessas aulas o aluno consiga desenvolver-se como um todo. (NISTA- -PICCOLO; MOREIRA, 2012, p. 32-33) Além de centrar as ações na corporeidade, ludicidade, jogo e motricidade, é importante que o professor de Educação Física desenvolva as capacidades motoras dos alunos, a fim de que os objetivos nessa fase de ensino sejam atingidos. Dentre essas capacidades motoras estão os movimentos essenciais para as necessidades básicas, como os movimentos de manipulação que a criança utiliza para alimentar-se sozinha. No trabalho com movimento, o RCNEI indica que deverão ser consideradas as diferentes capacidades das crianças em cada faixa etária e diversas culturas corporais presentes nas regiões do país, sendo que, “ao brincar, jogar, imitar e criar ritmos e movimentos, as crianças também se apropriam do repertório da cultura corporal na qual estão inseridas” (BRASIL, 1998, p. 15). Com relação ao equilíbrio e coordenação, o RCNEI destaca que as atividades devem estar ligadas a essas capacidades motoras, uma vez que são essenciais para o cotidiano da criança que está em formação integral. Tais atividades precisam ser trabalhadas de forma progressiva e coordenadas com outras capacidades, como força, velocidade e flexibilidade. Juntamente com os conteúdos, o RCNEI fala em orientações didáticas para o desenvolvimento das aulas, como organização dos espaços, do tempo da aula, da observação e registro e também a avaliação do aprendizado das crianças – o que será abordado em outro capítulo deste livro. 46 Metodologia da Educação Física escolar: educação infantil e anos iniciais do ensino fundamental É indiscutível a contribuição que o RCNEI e os PCNs trouxeram para a educação brasileira, sendo até hoje muito utilizados na orientação do trabalho pedagógico de professores nas mais diversas localidades do Brasil. Contudo, temos um novo documento balizador, construído a partir de fóruns regionais, estaduais e nacionais e com a participação da população. Sabe dizer qual é? Dica: esse documento já está sendo utilizado na construção de referências estaduais e municipais. Conseguiu descobrir? Está em dúvida? Falaremos dele na próxima seção. 2.4 Base Nacional Comum Curricular O cenário educacional tem acompanhado as modificações sociais, com relação à adequação de currículo e estruturas didático- -pedagógicas. Nesse sentido, modificações são constantemente realizadas nos documentos legais que norteiam a educação, para, a partir destes, realizar os encaminhamentos necessários para a melhoria no processo educacional. Na atualidade, as mudanças estão ocorrendo com muito mais rapidez. Desse modo, foram necessárias novas reflexões para suprir as lacunas existentes em documentos anteriores, criados em realidade social diferente. Foi construída, então, com novas perspectivas para a educação, a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), documento de caráter normativo que define o conjunto orgânico e progressivo de aprendizagens essenciais que todos os alunos devem desenvolver ao longo das etapas e modalidades da Educação Básica, de modo a que tenham assegurados seus direitos de aprendizagem desenvolvimento, em conformidade com o que preceitua o Plano Nacional de Educação (PNE). (BRASIL, 2017, p. 7) Bases legais da Educação Física escolar 47 O documento traz elementos de outros marcos legais, como LDB e PCNs. No entanto, considera questões como o avanço tecnológico e o novo perfil de aluno que temos na educação básica. Trata-se de uma espécie de compêndio sobre a educação brasileira, desde a educação infantil até o ensino médio, com o objetivo de nortear os currículos dos sistemas e redes de ensino de todo o país. Para esta obra, consultamos a terceira versão do documento, revisada e publicada em 20171. De acordo com esse documento, são necessárias novas metodologias que se identifiquem com o perfil de aluno que se quer formar, pois a sociedade atual requer um olhar inovador e inclusivo às questões do processo educativo, ou seja, “o que aprender, como ensinar, como promover redes de aprendizagem colaborativa e como avaliar o aprendizado” (BRASIL, 2017, p. 12). Nessa nova abordagem trazida pela BNCC (BRASIL, 2017), são consideradas as diferentes dimensões da natureza humana, entendendo o aluno a partir de aspectos físicos, intelectuais e sociais, ou seja, em sua integralidade. Gonçalves (1994 apud BRANDL, 2010, p. 3) “define o ser humano como unidade, totalidade, entidade que integra sentimentos, pensamentos e ações. Homem e mundo formam uma dialética. Concebe-se, então, o ser humano como uma totalidade indivisível, como ser imbricado e inter-relacionado com o meio”. Nessa perspectiva, a BNCC utiliza elementos trazidos por outros documentos que a antecederam e aspectos relacionados ao cenário atual, a fim de proporcionar uma aprendizagem significativa aos alunos. Está organizada para as três etapas da educação básica (educação infantil, ensino fundamental e ensino médio), como ilustrado a seguir: 1 Disponível no site do Ministério da Educação (MEC) em versão digitalizada. 48 Metodologia da Educação Física escolar: educação infantil e anos iniciais do ensino fundamental Figura 1 – Estrutura geral da BNCC para as três etapas da educação básica EDUCAÇÃO BÁSICA COMPETÊNCIAS GERAIS DA EDUCAÇÃO BÁSICA Etapas Áreas do conhecimento Competências específicas de área Componentes curriculares Áreas do conhecimento Bebês (0-1 a 6m) Unidades temáticas Objetos de conheci- mento Habilidades Crianças bem pequenas (1 a 7m – 3 a 11m) Crianças bem pequenas (1 a 7m – 3 a 11m) Crianças pequenas (4a – 5a 11m) Anos Iniciais Anos Finais Competências específicas de componente Língua Portuguesa Matemática Habilidades EDUCAÇÃO INFANTIL Direitos de aprendizagem e desenvolvimento Campos de experiências ENSINO FUNDAMENTAL Competências específicas de área ENSINO MÉDIO Fonte: BRASIL, 2017, p. 24. Para a educação infantil, primeira etapa da educação básica, a BNCC tem como eixos estruturantes as interações e a brincadeira, no sentido de garantir às crianças conviver, brincar, participar, explorar, expressar-se e conhecer-se. Para a organização curricular da educação infantil, a Base apresenta cinco campos de experiências: Bases legais da Educação Física escolar 49 O eu, o outro e o nós; Corpo, gestos e movimentos; Traços, sons, cores e formas; Escuta, fala, pensamento e imaginação; e Espaços, tempos, quantidades, relações e transformações. Já os objetivos são estabelecidos e organizados em três grupos de faixa etária: Bebês (zero a um ano e seis meses); Creche – crianças bem pequenas (um ano e sete meses a três anos e onze meses); e Crianças pequenas (quatro anos a cinco anos e onze meses) (BRASIL, 2017). Como se observa, a Educação Física também está presente nas orientações dadas pela BNCC (BRASIL, 2017). Para a educação infantil, especialmente quando se afirma que as interações e brincadeiras são eixos estruturantes das práticas pedagógicas nessa etapa de ensino, de acordo com as DCNEI2, essas são experiências “nas quais as crianças podem construir e apropriar-se de conhecimentos por meio de suas ações e interações com seus pares e com os adultos, o que possibilita aprendizagens, desenvolvimento e socialização” (BRASIL, 2017, p. 37). Conforme a BNCC, a interação das crianças durante o brincar traz aprendizagens para o seu desenvolvimento integral, expressando os afetos, as frustrações, a resolução dos problemas e a regulação das emoções. Na educação infantil, vivenciar desafios faz com que as crianças se sintam provocadas a resolvê-los, e isso contribui para a construção dos significados sobre si, os outros e o mundo social e natural (BRASIL, 2017). Assim, é direito da criança da educação
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