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Port Throughput – A Causa do Gargalo Portuário no Brasil 1 Egberto Fioravanti Ribeiro EGBERTO FIORAVANTI RIBEIRO PORT THROUGHPUT A CAUSA DO GARGALO PORTUÁRIO NO BRASIL 1ª Edição Rio de Janeiro - RJ Edição do Autor 2016 ISBN 978-1539873426 2 Port Throughput – A Causa do Gargalo Portuário no Brasil Dados internacionais de catalogação na publ icação Bibliotecária responsável: Mara Rejane Vicente Teixeira Todos os d i re i tos reservados a Egber to F ioravant i Ribe i ro , l e i de Di re i tos Autora i s (copyr ight ) n º 9610/98. Es te l i vro no todo ou em par te não pode se r reproduz ido mecanicamente , sonor izado, impresso , fo tocopiado , gravado em f i ta , d i sco , pendr ive , mate r ia i s f í s icos , e le t rônicos, compactados , ou sob qua lquer ou t ro meio , sem a devida permissão escr i ta do au tor ed i tor. O au tor-ed i tor adver te aos le i tores para obte rem in formações re fe ren tes a expressa lega l idade . (egfior@live.com ) Pesquisa , t exto , to tos nac iona is e in te rnac iona is , d igi tação , revisão , ed ição , l i cenças são do Autor. Re ferênc ias Bib l iográ f icas , com indicação dos au tores e domínio públ ico. ©2016 EGBERTO FIORAVANTI RIBEIRO 1ª Edição Rio de Jane i ro – RJ Autor /Edi tor 2016 3 Ribeiro, Egberto F. ( Egberto Fioravanti), 1950- Port throughput : a causa do gargalo portuário / Egberto Fioravanti Ribeiro. - Rio de janeiro : Edição do autor, 2016. 121 p. ; 21 cm. Inclui bibliografia Portos – Brasil – Estatísticas. 2. Transporte por contêineres. Armazenamento e transporte de cargas – Brasil – Estatísticas. 4. Brasil – Comércio Exterior. I. Título. CDD ( 22ª ed.) 387.1 mailto:egfior@hotmail.com Egberto Fioravanti Ribeiro ÍNDICE 1 INTRODUÇÃO 5 2 DECRETO DE ABERTURA DOS PORTOS 20 3 ATIVIDADE PORTUÁRIA COLONIAL 23 4 PORT THROUGHPUT 32 5 ESTATÍSTICA NOS PORTOS 39 6 CAUSAS DA INEFICIÊNCIA PORTUÁRIA 48 7 O TEU DA PORTOBRÁS 58 8 PORTO EFICAZ E BAIXO CUSTO 62 9 PROCEDIMENTO THROUGHPUT 69 9 RELATÓRIOS DIFERENCIADOS 71 10 O FIM DO GARGALO PORTUÁRIO 76 11 TONELAGEM THROUGHPUT 85 12 LEI DE MODERNIZAÇÃO DOS PORTOS 94 13 LEI 12.815 NOVA LEI DOS PORTOS 98 14 DRAGAGEM 102 16 ONU – ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS 106 15 CONVENÇÃO OIT Nº 137 112 16 BIBLIOGRAFIA 121 17 BIOGRAFIA 122 4 Port Throughput – A Causa do Gargalo Portuário no Brasil INTRODUÇÃO A História do Brasil não inicia exatamente com o descobrimento, porque todo o território lusitano iniciava a 370 léguas a oeste de Cabo Verde e circundava a metade do globo terrestre. Portugal havia se tornado nação independente e reconhecida em 1143 da era cristã, quando desenvolveu seu próprio idioma como identidade política. Para defender a costa ibérica contra invasores, Portugal estabeleceu uma Escola de navegação em Sagres, através do Infante Dom Henrique. Este centro de estudos navais desenvolveu a navegação de longo curso e também as caravelas, tomando por base as fortalezas flutuantes que defendiam os rios do país. Enquanto outros países da Europa mantinham somente a navegação costeira, Portugal obteve grandes conquistas territoriais com a navegação de longo curso, conhecida como os Grandes Descobrimentos, entre os quais o Brasil. Os países da Europa estavam em guerras entre si, Portugal também estava lutando contra espanhóis e mouros sarracenos. Para vencer as batalhas, Dom Henrique desenvolveu a capacidade náutica lusitana para navegar nos 5 Egberto Fioravanti Ribeiro mares desconhecidos e combater os mouros na África pela retaguarda. Nesta epopeia, ele acabou por descobrir inúmeras terras, ampliando o domínio lusitano ao redor do Atlântico Sul. Portugal mantinha feitorias nas colônias da América, África, Índia e Oriente, onde por direito territorial, somente os portugueses podiam negociar, tornando-se fácil encontrar em Goa na Índia, as mercadorias vindas da China, Japão, Coreia, Timor, Molucas, como; seda, porcelanas, joias e ao mesmo tempo vendiam açúcar, café, arroz e pigmentos vermelhos para tingir roupas que eram revendidas aos compradores daquelas regiões. As feitorias eram entrepostos comerciais instaladas no Brasil, logo nos primeiros anos depois do descobrimento em Cananeia, São Vicente, Rio de Janeiro e Nordeste. As feitorias também tinham o compromisso com os proprietários de terras e com os habitantes nativos, com cartório e escrivão para registros imobiliários e civis, porque o país precisava de cidadãos. O escrivão mais conhecido foi Pero Vaz de Caminha, que redigiu a Carta do Descobrimento, ele esteve em Calicute na Índia, algumas semanas depois, onde foi assassinado com o governador Aires Correia e quase quarenta pessoas, entre soldados, padres e funcionários1 O Brasil herdou o conhecimento naval e mercantil lusitano, transferido ao longo de trezentos anos de monopólio comercial. As mesmas atividades nos porões dos navios daquele tempo, repetem-se ainda hoje em nossos portos. 1- A Escuna Astro – 2012 – Ribeiro, Egberto pg 15. 6 Port Throughput – A Causa do Gargalo Portuário no Brasil Durante o Bloqueio Continental francês sobre a Inglaterra iniciado em 1806, Portugal não aderiu ao plano de Napoleão. Apesar de negociações com a França, o território lusitano esteve prestes a ser invadido, para entregar suas riquezas e armamentos para Napoleão combater contra a Inglaterra. Em uma entrevista ao jornal Le Moniteur de 11 de novembro de 1807, Napoleão deixou claro que a família real portuguesa findaria quando suas tropas entrassem em Lisboa. Um exemplar do jornal foi levado a Londres que o enviou a Lisboa, onde Dom João o recebeu no dia 24 de novembro. Imediatamente o Príncipe Regente reuniu o Conselho Real para expor o que já havia assinado com a Inglaterra. Após comparar as ameaças de Napoleão que já dominava grande parte da Europa, pedir asilo para a Inglaterra ou enfrentar os riscos de uma viagem no Atlântico. O Conselho decidiu deixar Portugal e seguir ao Brasil sob escolta inglesa, para se manter em seu próprio território. Esta tática de guerra iniciou nas horas seguintes com a preparação em segredo do embarque da corte e seus valores. Eles estavam seguindo um plano desenvolvido no Séc XVI pelo rei D. Antonio I e sugerido a outros reis que o seguiriam, quando em momentos de crise. A nau capitânea escolhida para transportar D. João e a rainha D. Maria foi a “Príncipe Real”, de 66 metros de comprimento e 80 canhões, sob o comando do Capitão de Mar e Guerra, Manoel de Castro Mascarenhas. Nesta viagem, o Príncipe estava levando ao Brasil os cofres do Tesouro Real e 60 mil livros. 7 Egberto Fioravanti Ribeiro A viagem de Dom João ao Brasil levando a corte, empresários, industriais, armadores e o tesouro real frustrou as intenções de Napoleão ao dominar Portugal. Esta manobra épica foi citada por Bonaparte ao escrever suas memórias na ilha de Sta. Helena, “Dom João foi a única pessoa que me enganou”. Esta iniciativa revelou o nítido perfil beligerante dos lusitanos, desde Dom Afonso Henriques contra os sarracenos e espanhóis; mantendo os invasores sem subsistência até vencê-los; assim o fizeram também contra os franceses. Este plano foi mais sensato do que a passividade do rei Carlos IV da Espanha, que ao assinar o contrato secreto de Fontainebleau com Napoleão, esperava compartilhar os despojos de Lisboa. Sem obter o tesouro lusitano, Napoleão ficou furioso e voltou-se contra CarlosIV, que o destronou e o exilou com sua corte em Paris, Nice, Marselha, até que por conta própria, o rei empreendeu viagem a Nápoles onde findou sua história. Após a queda de Napoleão, a Espanha tentou se restabelecer, mas o seu reino insular e continental nas Américas havia sido dissolvido nas mãos dos ingleses, de Simón Bolívar e de José de San Martin. Segundo o pesquisador Kenneth H Light2 que obteve as preciosas informações dos Diários de Bordo dos navios ingleses, a esquadra lusitana esteve de prontidão no Tejo por vários meses, ante as ameaças de guerra com Espanha e França, enquanto a Inglaterra mantinha o bloqueio do Tejo, impedindo qualquer ameaça de invasão. A família real foi dividida e embarcada em quatro navios da armada para evitar uma 2- The Journey of the Royal Family to Brazil in 1808 Kenneth H Light Petropolis 2003. 8 Port Throughput – A Causa do Gargalo Portuário no Brasil tragédia, se houvesse algum naufrágio. Os membros da corte completaram o embarque no dia 27 de novembro e aguardavam ansiosos o momento da partida. Entretanto, o vento contrário impedia a desatracação dos navios, que deveria ser no sentido de oeste para leste, contrário à correnteza do Tejo. Esta espera era angustiante, pois as tropas de Junot haviam cruzado as fronteiras há alguns dias e outras três fileiras francesas e espanholas desciam em direção a Lisboa. Enquanto as horas passavam, Dom João foi informado de que as tropas de Junot avançavam pelo vale do Tejo e se encontravam a menos de 18 horas de distância. A Providência Divina favoreceu a corte com chuvas torrenciais, ante a eminente chegada dos franceses. A falta de alimento para a tropa francesa no trajeto, as péssimas condições da estrada sob forte chuva obrigaram Junot a abandonar os seus canhões pelo caminho. Ao anoitecer de 28 de novembro, o vento tornou-se favorável e ao amanhecer do dia 29, a esquadra lusitana composta por 18 navios de guerra e 26 navios mercantes conduzindo quase 15 mil pessoas deixava o Tejo. Após a armada passar a barra, foi ao seu encontro outros 13 navios da frota de guerra da Inglaterra, com ordens de escoltar os navios ao Brasil. Uma grande tempestade ao sul de Lisboa os obrigou a navegar em rumo ao Canadá. Somente na terceira noite de viagem os navios puderam corrigir o curso ao Sul e na tarde seguinte cruzaram a Latitude de Lisboa, mas foram alcançados por severo vendaval quando estavam no curso da ilha da Madeira. Junot entrou em Lisboa na manhã de 30 de novembro, mas não encontrou o tesouro real, nem munição, os palácios e residências 9 Egberto Fioravanti Ribeiro de luxo estavam abandonadas. No dia 5 de dezembro, o Almirante Sir William Sidney Smith, comandante da esquadra inglesa uniu-se ao Príncipe Regente a meio caminho de Funchal e efetuou a transferência para outros navios de 69 passageiros que estavam com a família real e presenteou Dom João com o seu escaler. No dia seguinte, Sir Smith retornou ao bloqueio de Lisboa com o HMS London e outros oito navios, onde permaneceu e combateu Bonaparte em Portugal até vencer a esquadra francesa em Waterloo. Nos meses seguintes, o povo lusitano se levantou contra os invasores e com apoio inglês expulsaram os franceses e espanhóis. As tropas leais ao Príncipe Regente receberam apoio de um exército acadêmico que fabricou armamento e pólvora para os combates. As inclementes tempestades fustigaram o navio “Príncipe do Brasil”, onde estavam duas irmãs da rainha Dona Maria I, que foram transferidas para o navio “Rainha de Portugal”. O navio sofreu muitos danos no velame e voltou em sentido de Londres para reparos, onde permaneceu por um mês e retornou à esquadra. A viagem iniciou no inverno e com frio intenso, sob chuva e fortes tempestades, causando sérios danos a vários navios, obrigando alguns a tomarem o rumo de Funchal para reparos e aguada e assim continuarem a viagem. Outros navios permaneceram em S. Tiago para reparos por mais tempo. Dom João após a parada em Funchal, na Ilha da Madeira, decidiu seguir direto para Salvador. Escoltado por navios ingleses, Dom João mandou avisar a mudança de plano aos demais que 10 Port Throughput – A Causa do Gargalo Portuário no Brasil permaneceram na ilha. Após a recomposição, os navios seguiram para Cabo Frio e Rio de Janeiro, a esquadra estava íntegra, mas dividida. Dom João estava levando a bordo a fortuna de oitenta milhões de Cruzados, ou cem milhões de Libras Esterlinas, algo em torno de vinte bilhões de dólares em moedas de ouro, aquele era o Lastro Real, dinheiro que não poderia ser gasto ou perdido, para manter a valorização em RÉIS a 25% acima da Libra Esterlina. Entre raios e trovões, vendaval e vagalhões, o navio “Príncipe Real” construído há trinta e seis anos era a principal nau da esquadra portuguesa e conduzia a rainha, o Príncipe Regente e futuros, reis, imperador e rainhas, não só de Portugal, mas também da Espanha. Todos estavam temerosos e apreensivos na imensidão do inóspito Mar Tenebroso. Eles vivenciaram dias seguidos de terror, intermináveis semanas de desespero, na eminência de um fatal naufrágio, mas estavam confiantes em Deus, na engenharia lusitana e nos hábeis capitães que os conduziriam ao triunfo. Literalmente, aquele navio transportava Portugal em peso, pois além do Tesouro Real, também estavam a bordo a rainha D. Maria I, o Príncipe Regente e seus filhos e outros cem passageiros da corte. Havia uma dezena de milhares de cortesãos e futuros reis, rainhas e vassalos nas outras naus, providos do vigor celtibero. A nobreza dedilhava as contas da fé em voz altiva, aflita, mas determinada a cumprir aquele infortúnio. Dom João demonstrou que a mudança de posição dentro do território português era estratégia militar, era tática de guerra, como as 11 Egberto Fioravanti Ribeiro empregadas por Dom Afonso Henriques e pelos demais reis que defenderam o território lusitano contra mouros e espanhóis por mais de seiscentos anos. Eles não haveriam de sucumbir diante de Napoleão, eles eram os nobres cavaleiros da Ordem de Cristo enfrentando o flagelo do Atlântico, com coragem e determinação para não entregar sem luta a coroa recebida dos seus ancestrais. Após a primeira semana de janeiro, alguns navios mudaram o curso e destino outra vez, desta feita em direção ao Nordeste, alguns em busca de reparos, com o velame e mastaréus em frangalhos e atracaram na Paraíba, Recife e Salvador. Outros seguiram de S. Tiago diretamente a Cabo Frio, outros ao Rio de Janeiro. Afinal todos os comandantes lusitanos demonstraram perícia e habilidade em navegação, ora enfrentando as tempestades apenas com as velas do mastro principal para reduzir a força dos ventos, ora enfrentando calmarias de dez dias, navegando ao sabor das traiçoeiras correntes marinhas que conduzem às costas da África, sem perder sua localização, apesar do pouco recurso de navegação no hemisfério sul, sem a estrela Polar. A chegada em Salvador na manhã de 22 de janeiro foi triunfante, Dom João estava eufórico com o bem sucedido plano estratégico de mudar a corte. Ao pisar em segurança no solo português, o Príncipe Regente decidiu permanecer no Brasil por muito mais tempo do que imaginava. Nesta tarde ele recebeu a visita do governador da Bahia, o Conde da Ponte com alguns membros da Câmara de Comércio, quando lhe apresentou o programa de recepção da rainha e sua corte para a tarde 12 Port Throughput – A Causa do Gargalo Portuário no Brasil de domingo, dia 24 e expôs as dificuldades comerciais da Bahia. No dia 28 de janeiro de 1808, em resposta ao pedido do Conde, o Príncipe Regente Dom João emitiu o decreto de Abertura dos Portos. Em visita ao navio HMS Redford, Dom João agradeceu aos inglesesque escoltaram sua família e inspecionou a nau capitânea por três horas. Em reconhecimento à bem sucedida escolta militar, Dom João condecorou o Capitão James Walker e seus principais oficiais com a Ordem da Torre e Espada. Dom João nomeou este Capitão para conduzir em segurança os 84 cofres do tesouro real em seu navio, porque o “Príncipe Real” estava em péssimas condições. A transferência dos cofres demorou três dias, prolongando para mais de um mês a estadia em Salvador. A entrada no porto do Rio de Janeiro não foi imediata, mas depois de dois dias na entrada da barra, enquanto os arranjos de hospedagem estavam sendo providenciados. A rainha D. Maria ficou em estado de choque com a viagem, a ponto do Príncipe Regente proibir salvas dos canhões de bordo. A entrada na barra da baía da Guanabara no dia 7 de março foi acalorada, com recepção festiva de salvas de canhões entre as fortalezas de São João e Santa Cruz, em saudação aos navios que traziam a rainha e a corte lusitana. D. Maria deu Graças a Deus ao entrar no Paço Real, a poucos metros de distância do Chafariz da Pirâmide, onde o povo a aclamava. O dever do Capitão Walker no Paço estava em estabelecer os valores da comissão de 2% a ser pago à Inglaterra, citado no acordo, 13 Egberto Fioravanti Ribeiro conforme a lei de Cruzeiros e Comboios3 que havia sido revogada em 1801, mas reeditada após assinatura do acordo de escolta entre Portugal e Inglaterra no dia 22 de outubro de 1807. Dom João nomeou um novo Tesoureiro da Casa Real para levantar a quantia exata, pois o titular havia ficado em Portugal. Dom João não queria estimativa, mas que fossem contadas peça por peça na presença do Capitão inglês, porque as moedas tiveram cunhagem em Cruzados de ouro até meados do séc XVI, como Lastro Real, o dinheiro em circulação eram em Réis. Após um mês na árdua tarefa, a soma encontrada foi de 80 milhões de Cruzados, o equivalente a 100 milhões de Libras Esterlinas, dinheiro suficiente para pagar por 200 milhões de sacas de café bom, ou 20 bilhões de dólares aos dias de hoje. O Decreto de abertura dos portos às nações amigas em 1808 e a fundação do Banco do Brasil cinco meses mais tarde, explicam o volume dessa riqueza. A entrada extraordinária desses recursos levou os nobres lusitanos a investirem no país, em agricultura, navegação, indústria e comércio e muitos mudaram-se do Rio de Janeiro para o Nordeste, São Paulo e região Sul, onde centenas deles passaram a residir. O gerenciamento do comércio exterior com navios estrangeiros era novidade para os brasileiros, mas não para os lusitanos, que logo se mobilizaram em seus negócios como se estivessem em Portugal. Os brasileiros aprenderam a negociar com os lusitanos e também tornaram-se prósperos exportadores, pois até 1808 era proibido negociar com estrangeiros e este ensino permanece até aos dias de hoje. A grande 3 - Logística de Container - Cruisers and Convoys Act of 1708 – England. 14 Port Throughput – A Causa do Gargalo Portuário no Brasil maioria dos consumidores de produtos importados no Rio de Janeiro era de membros da corte, com mais de dez mil pessoas de esmerado requinte e fino trato. Eles não puderam trazer seus pertences por falta de espaço a bordo e procuravam no comércio local os mesmos bens que haviam deixado na metrópole. A frequente chegada de navios da Inglaterra e de diversas nações trazendo produtos de interêsse geral, lotaram o comércio do Rio de Janeiro, pois o bloqueio da França contra a Inglaterra ainda continuava. As poucas lojas locais não possuíam em estoque tantos pedidos da corte de novos artigos e a busca era constante de azeite, alimentos, tecidos, calçados, chapéus, roupas feitas, perfumes, joias, alimentos e bebidas. A corte lusitana implantou no Paço Real na cidade do Rio de Janeiro, a cultura palaciana de Queluz, com bailes, jantares, comemorações. Meses depois, o Paço Real foi transferido para a Quinta da Boa Vista, onde a família real foi instalada na edificação doada pelo comerciante local, Elias Antônio Lopes. Neste novo palácio construído havia cinco anos, as comemorações festivas envolviam as autoridades civis, militares, embaixadores, exportadores, industriais e seus familiares, que deveriam ter boa apresentação, à altura dos elegantes convivas da corte. As edificações do Teatro de São João, bibliotecas, igrejas e outras obras formaram o novo centro cultural e de modas no Rio de Janeiro, o maior centro consumidor do hemisfério sul. Os empresários e lojistas deveriam suprir com atacado de roupas, tecidos, cortinas, utensílios domésticos, móveis, acessórios, 15 Egberto Fioravanti Ribeiro lustres, lamparinas, cristais etc. Este farto mercado favoreceu a muitos brasileiros que abriram suas lojas e abasteciam as demais cidades portuárias de Norte a Sul do país que passaram a copiar a cultura palaciana em anúncio nos jornais. Os donos de navios levavam seus produtos regionais como; madeira, lenha, açúcar, arroz, carne seca, farinha de mandioca, couro, madeira, geleias e adquiriam no centro comercial as várias encomendas de gêneros como tecidos, calçados, bebidas e alimentos importados, sabão, querosene, óleo de baleia para lamparinas para suas cidades. Os habitantes locais de tradicionais famílias abastadas eram produtoras de café e açúcar e possuíam recursos financeiros, mas havia pouca variedade de artigos nas lojas e nenhuma ocasião festiva que justificasse alta costura. Após a chegada da corte houve a transferência de usos e costumes que modificaram radicalmente o cotidiano do Rio de Janeiro e nas demais regiões do país. A redução de custos com as importações da Inglaterra foi notória, pois sem comércio por causa do bloqueio francês, buscava novos mercados e o Brasil foi a grande opção. As mercadorias não eram mais intermediadas pelos lusitanos, mas vendidas diretamente pelas indústrias de diversos países, proporcionando o desenvolvimento do centro comercial do Rio de Janeiro. Os habitantes das cidades de norte a sul do país visitavam a corte para conhecer os detalhes da moda, o comportamento social nas ruas, a maneira de falar, andar, sorrir, cumprimentar e conhecer de perto a arte culinária da corte. As edificações de teatros, bibliotecas, faculdades trouxe artífices de renome com suas monumentais obras de engenharia. Os 16 Port Throughput – A Causa do Gargalo Portuário no Brasil teatros apresentavam novas óperas de excelente performance italiana. A cidade tornou-se o centro de interêsse de vários artistas europeus com suas telas e deslumbrantes cores e estilos em inconfundíveis contornos e silhuetas. Os músicos com seus instrumentais e peças que fundamentaram o acervo cultural e literário que irá influenciar a nova geração do romantismo. A família real possuía vários motivos para se estabelecer no Rio de Janeiro, sendo capital da Colônia e exuberante baía de beleza singular e o clima temperado de rara qualidade no ambiente tropical. A população com pouco mais de 60 mil habitantes dobrou nos sete anos seguintes, todos atraídos pelo fascínio da corte e pela oportunidade de negócios. Durante os dias em que a corte passou em Salvador, o calor os espantou, obrigando-os ao desembarque dos sufocantes navios de cargas para o palácio do governo e se hospedaram em residências mais amplas e arejadas na cidade, onde permaneceram por mais de um mês. Eles sabiam que no Rio de Janeiro o clima era mais agradável, onde poderiam utilizar suas roupas de moda francesa sem transpirar. Esta visita emergencial foi um alento para a cidade, porque recebeu vários investimentos públicos nas áreas sociais, culturais,educacionais, comerciais e industriais. A corte deixou a cidade sob aplausos e acompanhamento do povo até o local de embarque. Maior alegria ocorrerá em Lisboa, quando o lastro econômico de 80 milhões de Cruzados retornar intacto, livre das ameaças de Napoleão e mantendo o seu valor cambial diante da Libra Esterlina. 17 Egberto Fioravanti Ribeiro A corrente das Malvinas com cem quilômetros de largura passa diante do Rio de Janeiro até atingir Cabo Frio, quando retorna às ilhas Malvinas. Esta corrente mantém o mar com temperatura média de 16º, que por efeito físico, troca a temperatura com a atmosfera e forma agradável brisa, contrastando com o calor do verão e água gélida nas praias. Quando esta brisa sopra em direção da costa, a temperatura na sombra permanece entre 25ºC. Este fato é observado na Zona Sul da cidade durante o verão, onde na sombra, quem veste terno não transpira, fato que não ocorre nas demais cidades litorâneas. Nos dias de céu limpo em pleno verão, o cume do conhecido Pão de Açúcar forma pequena nuvem por condensação da fria brisa em contato com o ar morno vindo da enseada do Botafogo. Este efeito ocorre nos altos picos quando são alcançados pelos ventos úmidos do litoral que se condensam em roldões, ao contato com o ar frio do alto das serras, às vistas dos montanhistas. O nome deste morro é conhecido no mundo inteiro como “Sugar Loaf”, cujo formato é “logomarca” de muitas empresas da cidade. O pico do rochedo permanece sob neblina esvoaçante, mesmo nos dias de verão. Este fenômeno assemelha-se aos pães de açúcar, sacos de juta com açúcar mascavo, quando ainda quentes e fumegantes eram depositados abertos ao ar livre para esfriar sem empedrar, nos vários engenhos em operação na cidade. O comportamento de estrategista militar e influente estadista, D. João VI transformou uma simples colônia no respeitável Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves. Esta foi a exigência do Congresso de Viena de 18 Port Throughput – A Causa do Gargalo Portuário no Brasil 9 de junho de 1815, para o reino recuperar na Ibéria as fronteiras com os países subjugados por Napoleão. Este fato comprova que a Rainha de Portugal D. Maria I não fugiu do seu domínio, como muitos atestam, foi apenas uma ação migratória dentro do seu próprio território. Após o falecimento da rainha D. Maria I, seu filho herdou a coroa com o título de Dom João VI. As questões políticas em Portugal o obrigaram a retornar, favorecendo o fim do Reino Unido e abrindo as portas à Independência. A corte retornou, acompanhando D. João VI que também levou a Reserva Real lusitana que estava depositada no Banco do Brasil, bem como os ricos fundos de muitos empresários que eram membros da corte e os excelentes funcionários, obrigando o fechamento temporário daquela instituição bancária. A defesa do solo lusitano pela força da espada iniciou sob a força do infante Dom Afonso Henriques, que aos quatorze anos de idade liderou o maior exército vencedor da Ibéria e em três anos de batalhas tornou independente o reino de Portugal, expulsou os sarracenos e ganhou a simpatia do Papa. O idioma é a principal identidade lusitana, além da centenária rivalidade com os vizinhos espanhóis. A cultura lusitana mesclada com as demais europeias que migraram para as terras do Brasil, continua sendo o laço mais forte contra os devaneios políticos dos últimos duzentos anos. 19 Egberto Fioravanti Ribeiro DECRETO DE ABERTURA DOS PORTOS “Conde da Ponte do Meu Conselho Governador e Capitão General da Capitania da Bahia. Amigo, Eu o Príncipe Regente vos envio muito saudar como aquele que amo. Atendendo a representação que fizeste subir à Minha Real Presença sobre se achar interrompido e suspenso o comércio desta Capitania com grave prejuízo dos meus Vassalos e da Minha Real Fazenda em razão das críticas, e públicas circunstâncias da Europa, querendo dar sobre este importante objeto alguma providência pronta e capaz de melhorar o progresso de tais danos, Sou Servido Ordenar interina e provisoriamente, enquanto não consolido um sistema geral que efetivamente regule semelhantes matérias o seguinte: Primo que sejam admissíveis nas Alfândegas do Brasil, todos e quaisquer gêneros, fazendas e mercadorias transportados, ou em navios estrangeiros das Potências que se conservam em paz e harmonia com a Minha Real Coroa, ou em navios dos meus Vassalos, pagando por entrada vinte e quatro por cento a saber: vinte de Direitos grossos e 20 Port Throughput – A Causa do Gargalo Portuário no Brasil quatro do Donativo já estabelecido, regulando-se a cobrança destes Direitos, pelas Pautas, ou aforamentos, por que até o presente se regulam cada uma das ditas Alfândegas, ficando os vinhos, aguardentes e azeite doce, que se denominam molhados pagando o dobro dos Direitos, que até agora nelas satisfaziam. Seccondo; Que não só os meus vassalos, mas que também os sobre ditos Estrangeiros possam exportar para os portos que bem lhes parecer a benefício do comércio e agricultura, que tanto desejo promover, todos e quaisquer gêneros e produções coloniais, a exceção do Pau Brasil ou outros notoriamente estancados, pagando por saída os mesmos direitos já estabelecidos nas respectivas Capitanias ficando entretanto como em suspenso, sem vigor, todas as Leis, Cartas Régias e outras Ordens que até aqui proibiam neste Estado do Brasil o recíproco comércio e navegação entre os meus vassalos e Estrangeiros. O que tudo assim fareis executar com o zelo, e atividade que de vós espero. Escrita na Bahia aos vinte oito de Janeiro de 1808”. Príncipe Para o Conde da Ponte (Negritos do Autor) 21 Egberto Fioravanti Ribeiro Ao chegar à Bahia para reparos no navio “Príncipe Real”, o Príncipe Regente recebeu uma representação do Capitão General da Bahia, Conde da Ponte e alguns representantes da Câmara de Comércio e escreveu este Decreto4 informando da sua decisão em abrir os portos às nações e regulamentou a taxa de 20% para importação de qualquer mercadoria e o dobro do tributo para as mercadorias líquidas. Há igualdade no tratamento entre brasileiros e estrangeiros, sem preferências. A simplicidade e objetividade deste Decreto, se prolonga no espaço e no tempo, delineando o seu interêsse no progresso da Colônia, ante ao prejuízo dos empresários e consequentemente dele mesmo. Se o empresário perder, o Príncipe perde, se o empresário ganhar, o Príncipe ganha, logo prevaleceu o bom senso.Carta Direito grosso; Imposto sobre Mercadorias importadas. Negociantes de grosso trato; Importadores. Decreto a pedido do Governador da Bahia, o Conde da Ponte, João de Saldanha da Gama Melo Torres Guedes Brito. Os percentuais de 20% + 4% sobre produtos importados eram os mesmos, tanto para estrangeiros, como para brasileiros. Extinguiu a Carta Régia de 1785 de D.Maria I que fechava todas as indústrias existentes na colônia. A Lei 12.815 revogou a Lei 8630 em 05 de junho de 2013. 4 - Lei de Abertura dos Portos de 28 de janeiro de 1808. 22 Port Throughput – A Causa do Gargalo Portuário no Brasil ATIVIDADE PORTUÁRIA COLONIAL A Independência do Paraguai em 1811 originou o bloqueio naval da Argentina, impedindo a venda de erva mate de Assunção no Prata. Os comerciantes da Argentina e Chile mudaram sua fonte de fornecedores de erva mate e vieram a Paranaguá na Província de São Paulo. Em 1725, o Ouvidor Pardinho obteve de Lisboa autorização para negociar com os navios do Prata, as mercadorias que não fossem do interêsse lusitano. A autorização foi concedida, mas o baixo preço desse produto oferecido pelo Paraguai permitiu apenas tímida venda de mate ao entreposto da Colônia de Sacramento.A chegada de navios argentinos à cidade de Paranaguá para comprar erva mate atraiu os investidores da corte lusitana, recém- chegada. O volume de investimentos ampliou a produção em Paranaguá, não só de erva mate, mas após a instalação de 53 engenhos hidráulicos, começaram a negociar madeira serrada, caibros de jissara para carroças e telhas goiva para os Estados Unidos e Europa. Arroz beneficiado para África, Índia e Ásia. Esta crescente movimentação financeira de origem lusitana obteve a receita de 20 milhões de dólares em 1849. (Relatório de 23 Egberto Fioravanti Ribeiro Vicente Ferreira Martins, amanuense da Alfândega - 1850). Havendo Alfândega nas cidades portuárias, as operações eram acompanhadas pelos amanuenses que utilizavam pessoal de Capatazia para movimentar mercadorias entre os navios, saveiros ou atracados em seus trapiches até as suas dependências. Os navios em meados do século XIX poderiam atracar nos portos e trapiches, como também fundear e embarcar e desembarcar mercadorias transportadas em saveiros das ruas onde houvesse atracadouro, ou praias nas cidades portuárias. Para a Capatazia o Inspetor da Alfândega nomeava pessoas de confiança para executarem o serviços em seu estabelecimento. Os comerciantes de grosso trato (Importadores) pagavam na porta da Alfândega pelo serviço de Capatazia. As taxas de Direito Grosso eram pagas na sala do consulado no interior da Alfândega. As taxas de Capatazia eram recebidas pelo amanuense para pagar o pessoal ao término de cada serviço. Em todas as Alfândegas do país, o local de cobranças pelos serviços de Capatazia era ao lado da porta de acesso ao armazenamento, onde também ocorriam os pagamentos de mão de obra. Dentro do estabelecimento da Alfândega, o pessoal de Capatazia armazenava as mercadorias importadas e efetuava o embarque de outras em exportação e também as entregas dos produtos importados. Esta gente humilde trabalhava nas dependências da Alfândega. Eles não eram funcionários públicos como os amanuenses, porém executavam o serviço de confiança, manuseando as mercadorias de valor, com cuidado e dignidade. Os serviços de estiva nos fundeadouros eram realizados a bordo 24 Port Throughput – A Causa do Gargalo Portuário no Brasil dos navios por grande números de trabalhadores. Os navios ou saveiros atracados recebiam as mercadorias diretamente dos depósitos que eram transportadas por dezenas de estivadores, rolando as barricas, sacos de café carregados na cabeça, caixas em mãos pelos estivadores até o embarque, até surgirem os primeiros guinchos a vapor. O pessoal de estiva nos portos aguardava por algum embarque ou descarga nas imediações do cais, porque não havia programação prévia. Os navios com mercadorias importadas utilizavam estivadores para desembarcar os lotes para os negociantes de grosso trato ou consignatários, sendo desembaraçadas nas Alfândegas pelos consulados. A movimentação dessas mercadorias era efetuada por estivadores contratados ao lado do navio, ou à sombra nas praças próximas, onde aguardavam por algum serviço, a qualquer hora. Estas praças também eram frequentadas por negociantes de café e açúcar, onde realizavam as vendas e utilizavam este pessoal para o transporte em seus depósitos. Quando algum comandante estrangeiro tinha lotes para entregar com manifestos a comerciantes definidos, o desembarque era autorizado pela mesa de consulados, desembarcados pelos estivadores e enviados à Alfândega pelo pessoal de Capatazia, sob os cuidados do amanuense responsável. As mercadorias eram depositadas nas dependências das Alfândegas conforme os conhecimentos que eram entregues à mesa de consulados para cálculo e pagamento dos tributos. Após o desembaraço, a mercadoria estava autorizada a ser entregue aos importador. Quando havia erro nas importações ou abandono, as mercadorias iam a leilão na porta da 25 Egberto Fioravanti Ribeiro Alfândega. Quando o comerciante de grosso trato era pessoa conhecida e ocorria a sua morte, a mercadoria ficava armazenada até a definição do espólio. Um dos célebres casos no Rio de Janeiro ocorreu com o falecimento do Sr. Elias Antônio Lopes, o que doou o seu palácio na Quinta da Boa Vista a Dom João. Ele possuía vários lotes de tecidos importados da Índia que permaneceram armazenados na Alfândega por vários anos. Muitos comandantes ofereciam o transporte de passageiros para os portos de sua linha. Os comandantes ou seus agentes anunciavam repetidas vezes nos jornais da cidade as datas de partida e espaço para cargas e a excelente qualidade dos camarotes com banho. Este procedimento era demorado e os navios ficavam em porto por até dois meses, atracados ou fundeados, sofrendo sérios danos no casco pelo buzano. A situação se tornava grave após poucas semanas para os navios estrangeiros, porque não eram chapeados e sofriam sérias perfurações no casco por esse molusco. Nestas ocasiões, os navios eram vendidos para armadores locais que os levavam para reparo nos estaleiros mais próximos, muitos ainda com mercadorias a bordo. Muitos desses navios após a reforma ficavam com boa aparência e os novos donos os utilizavam no transporte de cabotagem e eram cobiçados pelos navios de guerra ingleses que os apreendiam dizendo ser utilizados em transporte de escravos e os mandavam para leilão na Inglaterra (Lei do Prize Money). Isto aconteceu entre os anos de 1849 a 1863, quando houve o rompimento de relações diplomáticas entre os dois países. Um dos casos mais célebres 26 Port Throughput – A Causa do Gargalo Portuário no Brasil foi o HMS Cormorant, quase foi a pique pela fortaleza de Paranaguá em 1850. A carta do Encarregado de Negócios de SM Britânica Mr James Hudson5 ao Ministro do Exterior Paulino Soares de Souza diz que o ataque foi apoiado pelo embaixador americano David Todd, presente na cidade. Quando um comandante fazia a entrega de lotes de mercadoria aos consignatários (compradores em outros portos), os agentes preparavam as liberações dos manifestos e aguardavam a autorização da Alfândega para retirar de bordo os lotes vendidos. Os agentes procuravam pessoal de estiva no cais, ou à sombra nas praças, onde se reuniam aguardando algum trabalho a bordo, quando eram remunerados pelo comandante ao final da tarefa. O pessoal escolhido executava a tarefa, recebia o pagamento e era dispensado. Sempre houve o bom relacionamento e cumprimento das ordens do amanuense, guarda-mor e agente que atendia a cada navio, criando a confiança mútua entre os trabalhadores. A volta de Dom João VI a Portugal encerrou o curto período do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves e suscitou na Independência em 1822. O retorno de todo governo português e do seu tesouro e de muitos armadores e investidores, deixou como legado as instalações e benfeitorias que haviam sido erigidas. Dom João VI deixou também toda a infraestrutura funcional e organograma de governo, além de documentos e livros oficiais novos, tudo foi entregue ao novo Império. Em 1826, todas 5 - Nota 17 – Mr Hudson – O Incidente Cormorant – David Carneiro - 1950 27 Egberto Fioravanti Ribeiro as províncias contavam com Alfândegas em seus portos, atuando com os mesmos métodos lusitanos de inspetor, amanuense, guarda-mor, despachante, consulado, fiscalização naval e com o pessoal de Capatazia e Estiva, como se estivessem ali durante séculos. A antiga alfândega imperial de D. João VI fazia a soma em toneladas dos “despachos” e “consulados” e controlava os porões dos navios com cadeados, lacres de cera com sinete impresso sobre os nós de barbantes. O serviço de estiva (trabalhadores a bordo dos navios) e arrumadores (Capatazia a serviço da Alfândega)já era anterior à chegada da família real, quando todos realizavam as tarefas com zelo e o devido respeito ao rei de Portugal no tratamento das finanças; “Minha Real Fazenda”. A maioria dos serviços da Alfândega era realizado por pessoas que não tinham vínculo empregatício com a coroa, mas que dependiam de nomeações do Inspetor, como despachantes, agentes e Capatazia. Os serviços dos amanuenses foram repassados para os conferentes dos portos, ou repassados para os operadores portuários, que continuaram com as mesmas obrigações, como era desde os tempos coloniais e submissos à Alfândega, agora, Receita Federal do Brasil. As atividades nas Alfândegas passaram por várias fazes até serem enquadradas na Carreira de Auditoria; Auditor-Fiscal da Receita Federal (nível superior) e auxiliado por Analista Tributário da Receita Federal (nível médio). 28 Port Throughput – A Causa do Gargalo Portuário no Brasil A responsabilidade dos estivadores iniciava nos saveiros e terminava nos porões dos navios, mas sob os cuidados e ordens da Alfândega. Estes trabalhadores não eram empregados de armadores, ou dos capitães dos navios, ou dos agentes, mas prestavam serviços a bordo diretamente para a Alfândega e recebiam seus pagamentos dos recursos provenientes do frete, após o término da tarefas a bordo. Os sindicatos de conferentes administram a operação a bordo e estabelecem a tonelagem de cargas movimentadas pelos estivadores, fornecendo os dados para o cálculo e pagamento aos que desempenharam suas atividades durante cada período. Os trabalhadores de Capatazia não eram empregados das Alfândegas, mas exerciam os serviços de receber as mercadorias importadas dos saveiros ou navios e as armazenam no interior das dependências da Alfândega, ou depósito alfandegado. Os pagamentos para estas pessoas eram efetuados após o término de cada tarefa, pelos amanuenses responsáveis a cada serviço. A operação portuária colonial ou Imperial consistia no manuseio de mercadorias em terra e a bordo. Esta atividade é exclusiva do poder público que sempre reconheceu o valor destes trabalhadores, cujo suor sempre esteve presente em suas pranchetas. Qualquer ação contra estes trabalhadores portuários estará desestabilizando o serviço da Alfândega. Quem toma o serviço de um sindicato, onde há o equilíbrio de direitos, deverá garantir o cuidado tributário e impedir os desvios. Qualquer trabalhador deve fidelidade ao seu empregador, aquele que lhe paga, porém, não pode ser induzido a realizar operações ilegais. 29 Egberto Fioravanti Ribeiro Após a Independência, estes métodos continuaram da mesma forma até aos dias de hoje, apenas alterando as denominações para Exportação e Importação. Estes serviços foram acompanhando o desenvolvimento dos portos, que em princípio atuavam nos fundeadouros, depois em trapiches e cais acostáveis. Os serviços de capatazia eram controlados pela Alfândega, com o manuseio e armazenamento de mercadorias importadas até as liberações. Se houvesse alguma irregularidade com as mercadorias importadas, o Inspetor nomeava um amanuense para leiloar os lotes nas portas das Alfândegas. Com a República, os eventos corporativos acionaram no Brasil os mesmos movimentos sindicalistas que ocorriam no mundo inteiro, sendo estivadores e arrumadores os primeiros a aderir. As Administrações dos Portos mantiveram as mesmas obrigações fiscais da antiga alfândega, como corresponsáveis pela fiscalização e proteção das mercadorias nos portos. Este é o mesmo zelo de um servidor imperial, com objetivo de organizar as entradas de pessoas nas zonas primárias (áreas portuárias). Toda mercadoria importada que se encontre na área portuária, antes da sua nacionalização, não pertence ao dono, mas está sob a guarda do governo federal. Muitas vezes o importador quer a sua mercadoria na hora em que chega ao porto, mas como ainda não está nacionalizada, não poderá levá-la. Quando a Autoridade Portuária autoriza uma empresa privada a exercer as atividades operacionais no porto de sua jurisdição, a mesma corresponsabilidade fiscal do porto também será dessas empresas. 30 Port Throughput – A Causa do Gargalo Portuário no Brasil As estatísticas dos portos e Receita Federal caminham juntas, sem Throughput. Como existe tentativas de burlar o fisco, as medidas de fiscalização são ampliadas, não somente sobre as mercadorias e os seus documentos, mas também nos próprios navios e terminais, com câmeras e arqueação (peso líquido do navio). 31 Egberto Fioravanti Ribeiro PORT THROUGHPUT A UNCTAD define Port Throughput como a quantia de carga que passa através de um porto, como medida em volume ou unidades e categorizada por tipo de carga. Esta é a metodologia estatística portuária adotada pela ONU – UNCTAD e Banco Mundial para os portos que movimentam mais de 100 mil TEUs Throughput ao ano. Estes dados são revelados na passagem das mercadorias nas áreas portuárias e proporcionam os melhores elementos às análises das economias dos países membros, para reduzir o índice de pobreza entre as nações subdesenvolvidas. O método “Throughput” surgiu nos dados estatísticos dos portos europeus nos anos 80 e praticados em portos tradicionais da Europa, América e Ásia, após as respostas ao questionário sobre transporte marítimo distribuído aos membros da ONU em 1973. Apenas 60 países responderam ao apelo inicial da Conferência e após 30 anos, ainda não foram alcançados todos os países. Esta metodologia acrescenta nos dados estatísticos dos portos a passagem das mercadorias e contêineres nas áreas portuárias. Esta passagem identifica as 32 Port Throughput – A Causa do Gargalo Portuário no Brasil movimentações de cargas nos costados dos navios e no interior dos portos até a suas entregas ou recepções no portões. Esta metodologia conta dois lifts (içamento) por movimento de TEU e também dois lifts em cada tonelagem de mercadorias; um para a entrada e outro para a saída. Quando analisadas com maior acuidade, constata-se que as atividades dentro dos portos são mais intensas do que as atividades ocorridas no costado dos navios, pois aquelas se estendem por semanas recebendo, armazenando e entregando mercadorias, enquanto estas se reduzem a compactas horas das operações portuárias, absorvendo as mercadorias de cada pauta. Estas atividades não são contabilizadas nos dados estatísticos portuários da atualidade, mas geram riquezas que na prática são conhecidas, porém ignoradas nas estatísticas. Este método já era adotado nos portos europeus, visitados por engenheiros e representantes dos portos brasileiros e atribuíam a alta performance estatística ao transporte fluvial com barcaças, sem imaginar que se tratava de um método estatístico denominado “Throughput”. As atividades portuárias há muitos anos são realizadas nos nossos portos daquela mesma forma, quando os navios brasileiros ou estrangeiros, ao largo ou atracados, operam com o suporte de barcaças e saveiros, contudo, sem haver qualquer acréscimo nas estatísticas. As mercadorias ao entrarem nos portos, quer oriundas de navio ou através dos portões, originam três despesas: armazenamento (exportador), capatazia (embarcador) e estiva (Armador). Sem a normatização metodológica 33 Egberto Fioravanti Ribeiro “Throughput”, somente as mercadorias movimentadas nos costados dos navios são consideradas nas estatísticas como sendo apenas importação e exportação. Porém, todas as demais atividades econômicas realizadas dentro das instalações portuárias são ignoradas, tais como; despacho aduaneiro,fretes, seguros, serviços portuários, transporte rodoferroviário, pesagem, de caminhões e vagões, armazenamento, THC, unitizações de cargas, desovas, vistorias, entregas de mercadorias nacionalizadas, desovas para entregas fracionadas. Estas atividades movimentam um universo dentro dos portos e geram riquezas maiores do que as obtidas pelos serviços nos costados dos navios. A palavra "Throughput" em inglês quer dizer passagem ou travessia, neste caso, são as mercadorias movimentadas na área interna dos portos. “Porto Throughput” deve constar no cabeçalho ou rodapé dos relatórios estatísticos diários, mensais ou anuais dos portos e demais instituições, com suas movimentações, quer em cabotagem oceânica, interior e longo curso, entre outras. A Unctad e Banco Mundial nos ensinam que os dados referentes aos contêineres devem ser calculados em dois lifts (içamentos) por TEU; carregado, vazio, transbordo e remoção, tanto em cabotagem quanto em longo curso. As mercadorias calculadas em toneladas como; carga geral, granel, minérios, gás e líquidos, também devem dobrar os totais movimentados. Isto ocorre porque também apresentam dois lifts; um quando a mercadoria entra no porto e outro quando a mesma mercadoria deixa o porto. 34 Port Throughput – A Causa do Gargalo Portuário no Brasil A norma Throughput da ONU corrige esta falha e determina que os portos quando movimentem mais de 100 mil TEUs Throughput, devem ser chamados de “Port Throughput” e devem fazer constar os dois lifts em seus dados estatísticos multiplicando por dois cada TEU. O Brasil já é considerado como Porto Throughput nos relatórios da Unctad e Banco Mundial, mas como não aplica esta norma, fica com seus resultados operacionais em péssima qualificação, demonstrando haver baixa produtividade e alto custo portuário. Isto causa grande prejuízo ao Brasil, porque mantém elevado o índice de custo x tonelagem movimentada, além de alta ineficiência operacional que afasta os investidores, armadores e importadores. Se tomarmos a grandeza em toneladas movimentadas nos portos brasileiros em 2015 de 670 milhões de toneladas e a grandeza financeira obtida com estes serviços, teremos a proporção média da Custo Portuário por tonelada CP=$/t ou CP=$/670. Se dobrarmos esta grandeza CP=$/2t ou CP=$/1,34bilhões de tons teremos o resultado em 1,34 bilhões de toneladas pelos mesmos dólares, ou aumento da produção em 100% pelo mesmo custo. Se mantivermos a mesma grandeza financeira obtida com os mesmos serviços, manteremos o mesmo resultado de ineficiência e alto custo. Se utilizarmos a tonelagem Throughput, teremos a imediata redução de custos portuários em 50%, além do dobro no desempenho operacional em toneladas. Neste caso, os nossos portos serão os mais baratos do mundo e os mais eficazes. Ao compararmos estes novos dados 35 Egberto Fioravanti Ribeiro com os demais países, teremos menor custo operacional e maior desempenho. Este fato incidirá nos custos dos fretes, porque um dos indicadores do valor do frete é a eficácia do porto, quanto melhor, menor o custo. Alguns países da África ao entenderem esta nova metodologia, há poucos anos, aderiram imediatamente ao método e dispararam nas estatísticas e na redução de custos. A China adota estes dados há mais de vinte e cinco anos. O porto de Hong Kong explica em seu relatório anual que os dados Throughput são fornecidos pelos seus operadores portuários. O porto de Melbourne na Austrália6 mostra em seus relatórios a aplicação do método Throughput até nos serviços ferroviários. Este porto utiliza asterisco em Throughput* para explicar a metodologia no rodapé da página. Este é um dos motivos da grande disparidade entre as exportações de minério de ferro daquele país com os portos do Brasil. Os portos brasileiros já são considerados Portos Throughput nos relatórios da Unctad e Banco Mundial, somente nós cidadãos comuns não o sabemos. Para os portos brasileiros adotarem esta nova metodologia, basta inserir em seus dados estatísticos nos seus relatórios diários, mensais ou anuais, uma coluna a mais para a referência de contêineres em duas vezes os TEUs para que sejam Throughput. Este mesmo multiplicador também deve incidir na tonelagem de carga geral, granel, minérios, gasosos e líquidos. As movimentações de draw-back e petróleo apresentarão maiores valores por causa da industrialização e reexportação. 6 - Port of Melbourne 2013-14 Annual Report. pg 21, Trade Definition, Item-3 36 Port Throughput – A Causa do Gargalo Portuário no Brasil Se uma mercadoria despachada em toneladas e após o embarque aparecer ao dobro daquela exportação nos relatórios do porto de destino, não se trata de sobrepeso, ou contrabando, mas da metodologia estatística aplicada dos “Portos Throughput”. As mercadorias no regime Draw-back serão multiplicadas duas vezes na entrada do porto (importação) e duas vezes na saída do porto (exportação). O valor inicial do produto sempre será diferente do final, por causa do processo de industrialização e a tonelagem será diferente nas estatísticas por causa da metodologia adotada. Por exemplo, se uma indústria importou no regime draw-back certa quantidade de sementes de mamona por um valor básico. Ao final do processo de industrialização, a empresa obterá uma parte em óleo e outra parte em farelo, cujos pesos somados serão iguais aos iniciais, porém a tonelagem ao final do embarque na exportação será ao dobro por causa do método Throughput. Isto ocorre na China e outros países onde há o processamento de matérias primas importadas. A palavra "Throughput" em inglês quer dizer passagem ou travessia e deve constar no cabeçalho ou rodapé dos relatórios. Com esta aplicação, os nosso portos apresentarão alto desempenho, ao nível dos tigres e considerável redução do custo operacional, ao nível dos europeus e oferecerá maior credibilidade aos investidores externos. As informações a seguir dizem respeito aos cálculos estatísticos de contêineres de 20' e 40' e Tonelagem Métrica. Os contêineres são TEU: Twenty Empty Unity. Unidade equivalente a 20'. 37 Egberto Fioravanti Ribeiro Tonelagem Métrica (1.000kg). Contêiner de 20' lê-se vinte pés, 40' lê-se quarenta pés. Como calcular o TEU Throughput. (Lê-se téu truput). Contêiner de 20'= 1 TEU x 2= 2 TEUs Throughput. Contêiner de 40'= 2 TEUs x 2= 4 TEUs Throughput. Tonelagem= 1.000Kg x 2= 2.000kg Throughput. Vamos tomar por exemplo o resultado da movimentação acumulada no ano em outubro de 2016, quando o Porto de Pecém movimentou 7.179.521 tons métricas, para os padrões da ONU houve a movimentação de 14.359.042 tons Throughput. Ainda que alguém não queira aceitar esta metodologia, sabemos que é a única na prática internacional. Os portos da América Latina utilizam este método, porque o Brasil não o utiliza? 38 Port Throughput – A Causa do Gargalo Portuário no Brasil ESTATÍSTICA NOS PORTOS Um fato observado nas primeiras estatísticas durante a guerra- fria foi a baixa produtividade no manuseio de contêineres nos portos do terceiro mundo, em decorrência da falta de equipamentos adequados e mão de obra especializada. Inicialmente os portos operavam com cargas soltas, o prazo dos navios em viagem era o mesmo de operação nos portos. Nos anos setenta surgiram as cargas em contêineres e a situação ficou ainda pior, porque estas unidades eram muito pesadas para manusear no convés e deveriam ser movidas por cábreas dos navios de carga geral e a operação se tornava muito vagarosa. A cábrea utiliza um sistema de duas talhas com várias roldanas unidas por um cabo, quanto mais roldanas, mais voltas de cabo, maior a força do guincho, porémmais lentamente irá se mover. As gruas modernas possuem motores potentes para elevar cem toneladas em poucos segundos. No início dos anos setenta, os portos brasileiros receberam do governo federal guindastes novos, mas de capacidade inferior às necessárias para os contêineres e foram utilizados apenas para contêineres 39 Egberto Fioravanti Ribeiro vazios. Os Portos de Paranaguá e Santos receberam do governo federal equipamentos Lancer, conhecidos como sideloader. Este veículos encostam paralelamente às pilhas e apanham os contêineres e os apoiam sobre sua plataforma e dirigem-se rapidamente aos navios. A movimentação tornou-se ágil com os contêineres posicionados no costado dos navios e embarcados, porém o manuseio a bordo por estivadores era sofrível. Se o sistema de rolamentos dos gatos (ganchos) das cábreas estivessem enferrujados, os ternos de dois porões eram chamados para posicionar um contêiner no convés, em média 40 minutos para o embarque de cada unidade. Alguns anos mais tarde, dois guindastes mais rápidos foram unidos para levantar um contêiner carregado. Os navios estavam aprimorando os seus guidastes, enquanto os portos deveriam adquirir novos equipamentos para o embarque de vinte a trinta contêineres por hora. Os portos receberam guindastes STS (Ship-to-Shore) sobre trilhos que permaneceram inoperantes por algum tempo e quando passaram a ser utilizados apresentaram problemas elétricos. Quando as falhas findaram, um dos equipamentos foi apanhado por um vendaval em plena operação, que o empurrou sobre a cábrea flutuante Amazonas para 100 tons, ambos foram a pique. O início das operações com cargas a granel no Brasil foi muito difícil, o pouco que se conhecia da operação com granéis eram os das indústrias Matarazzo, e outros terminais de trigo instalados em vários portos do Brasil. Produtividade não havia, quando os sacos de milho eram cortados na boca da escotilha. Os primeiros equipamentos foram 40 Port Throughput – A Causa do Gargalo Portuário no Brasil adaptados de antigos guindastes, para servir de torre para elevadores com canecos. Enquanto no Brasil um embarque de 15.000tons de milho, em navios de carga geral demorava duas semanas, na Europa os portos utilizavam dezenas de sugadores e faziam a descarga daquele mesmo navio em até dez horas. Assim surgiu a fama de pouca produtividade dos portos brasileiros que entregavam milho brotado nos porões. Justa reclamação dos importadores espanhóis quando apresentavam à imprensa internacional os navios com o nosso produto nos portos neutros da Inglaterra. A criação do Gremos, Grupo Executivo de Movimentação de Safras que atuou por vinte anos, centralizava em Brasília as informações on-time das exportações diárias de cereais de Santos e Paranaguá através de Telex. A instalação de terminais especializados em sal no Nordeste, portos modernizados para cereais no Sul, com instalações pra embarque de 6.000 tons/hora moldaram o diferencial. O transporte rodoferroviário e marítimo controlados diariamente pelos dois principais portos agilizaram as operações portuárias de cereais na distribuição regional de vagões e caminhões. O Corredor de Exportação debutou no mercado internacional pela eficiência e alta produtividade. Por outro lado, as exportações de carga geral tomavam novos rumos com a utilização de contêineres que pela versatilidade operacional causou sérios transtornos com a falta de equipamentos e pessoal treinado. Para solucionar este problema, a UNCTAD – Conferência das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento passou a divulgar os planos e projetos de treinamento para unificar as operações nos portos e 41 Egberto Fioravanti Ribeiro terminais de contêineres a nível mundial. A implantação do treinamento nos portos em Administração de Terminais de Contêineres, seguindo a nova metodologia operacional de contêineres em substituição aos antigos modelos do DNPVN e Portobrás. Este programa de treinamento ocorreu em todos os países membros da ONU no final dos anos 80 e início dos anos 90, inclusive no Brasil, através da ABEP Associação Brasileira das Entidades Portuárias e Unctad/Trainmar. Passados quase trinta anos após esta iniciativa da ONU no treinamento dos trabalhadores, constata-se a homogênea atividade portuária nos terminais de contêineres do mundo inteiro. Porém, não houve o devido esclarecimento sobre a metodologia estatística a ser adotada com respeito às normas do TEU(unidade equivalente a vinte pés). A utilização do TEU passou a ser praticada no país como redutor padrão dos contêineres de 20 pés que contavam um TEU e os de 40 pés contavam dois TEUs, porém sem qualquer explicação prática a esta nomenclatura. Entretanto, os dados estatísticos continuam apresentando desequilíbrio entre os portos do Brasil com os do mundo inteiro. Os relatórios diários de movimentação de mercadorias apresentam os resultados da movimentação de contêineres em TEUs e tornou-se um grande desafio quando há greve em algum porto. Nestas circunstâncias, os navios são redirecionados a outros portos que geralmente não estão preparados para receber tal quantidade de unidades. A chegada não programada de milhares de contêineres lotam os pátios dos terminais e ficam congestionados. Quando isto aconteceu em Paranaguá, a 42 Port Throughput – A Causa do Gargalo Portuário no Brasil solução imediata foi depositar os contêineres carregados com produtos importados nas ruas e aterros. Este armazenamento fora da área portuária causou arrombamentos e roubo de cargas, exigindo constantes vistorias aduaneiras que encareciam ainda mais as despesas portuárias. Sob forte pressão dos armadores e operadores portuários no Congresso Nacional, justificando a falta de produtividade e alto custo dos portos nacionais, a Lei de Modernização dos Portos foi assinada e ocorreram as privatizações. Entretanto, a ineficiência ainda persiste no chamado “gargalo portuário” ou em inglês “bottleneck”. Durante minha entrevista no consulado americano em São Paulo, o oficial ao saber que eu era escritor perguntou qual a minha área. Eu respondi que era sobre Logística Portuária. Ele me pediu “veja se descobre o motivo do bottleneck no Brasil”. Neste livro está a resposta àquele pedido. Havendo a necessidade de esclarecer aos portos brasileiros, o motivo da má fama de alto custo e ineficiência que lhes são atribuídos, observamos a disparidade ao confrontar os dados nacionais com os dados de 2013 do Banco Mundial, Cepal, Unctad7 e Lloyd's List. Estes órgãos da ONU e Reino Unido apresentam em seus relatórios anuais a movimentação de contêineres de 76 principais países membros, dentre os quais está o Brasil. Analisando os vários links das instruções destas instituições foi possível identificar as informações da origem de tal diferença nas estatísticas. Estes relatórios mencionam a norma técnica vigente nas estatísticas como sendo “Port Throughput”, onde estão 7- Review of Maritime Transport – UNCTAD 2014. 43 Egberto Fioravanti Ribeiro inseridos os 76 países, inclusive o Brasil, com movimentação superior a 100.000 TEUs Throughput. Nossos portos não aplicam esta metodologia, além da Antaq como órgão federal responsável pelo setor apresentar em seus relatórios anuais certa divergência a menor em TEUs. Segundo as orientações estabelecidas pela ONU e Reino Unido, um contêiner de 20' é considerado como “1 TEU” e sofre dois içamentos nos portos; um ao desembarcar no cais e outro ao sair através do portão e vice-versa. Portanto um contêiner de 20' torna-se “2 TEUs”, da mesma forma, um contêiner de 40' considerado como 2 TEUs e sofre também dois movimentos e torna-se “4 TEUs”. Os dados estatísticos portuáriosdevem oferecer os contêineres em unidades, em TEUs e aplicar a metodologia TEU Throughput. Os portos do mundo inteiro aplicam esta metodologia de dois içamentos orientada pelos órgãos da ONU em contêineres e tonelagem, quer seja de carga geral, cereais a granel, minérios, gases e líquidos. Desta maneira, os portos brasileiros serão equiparados às estatísticas dos demais portos no mundo inteiro, em eficiência e baixo custo operacional. Este desconhecimento das autoridades portuárias brasileiras causa um transtorno, resultando no famigerado gargalo de ineficiência e alto custo operacional, quando comparado com outros países menos significativos. Os investidores estrangeiros ao lerem os relatórios do Banco Mundial observam que os portos brasileiros são ineficientes e caros, há muito tempo criticado pela mídia mundial. Os investidores estrangeiros ao lerem estes relatórios em TEUs Throughput, eles 44 Port Throughput – A Causa do Gargalo Portuário no Brasil comparam os dados mundiais com os nossos e não entendem o porquê do nosso baixo desempenho nos portos, sabendo-se que a nossa economia é das mais altas do mundo. O método Throughput adotado pela Unctad e Banco Mundial multiplica por dois os içamentos de cada TEU movimentado em cada porto e obtém o resultado citados nas estatísticas. O método Throughput de contagem em dobro de TEUs, refere-se à passagem, ao trânsito das unidades de contêineres nos portos; uma vez na entrada no porto e outra vez na entrega das unidades aos proprietários. O leitor estrangeiro obtém nos relatórios dos portos brasileiros, sem duplicar como os descritos pela Unctad e Banco Mundial, e aplicará o sentido inverso da operação para obter o resultado “aproximado”, ou seja, ele irá dividir por seis todos os dados para analisar em “movimentos” as nossas operações portuárias em TEUs e os nossos custos operacionais. Assim ele estará obtendo um resultado que não condiz com a realidade. Ocorre que ele estará dividindo a quantia original “sem” Throughput e o nosso relatório de ruim, se tornará ainda pior. Por exemplo: o relatório da Unctad de 2008 diz que os portos brasileiros movimentaram 7.256.292 TEUs Throughput. Neste ano, os funcionários de estatística nos portos brasileiros nem sabiam o que era Throughput, muitos ainda não o sabem. Porém, o investidor estrangeiro bem informado irá desdobrar o número de TEUs para saber o número de movimentos que os nossos portos conseguem fazer e qual o custo. Supondo que os dados estatísticos brasileiros estão em TEUs Throughput como consta nos relatórios da ONU, ele irá deduzir que parte dos 45 Egberto Fioravanti Ribeiro contêineres movimentados seja de 20', a outra parte seja de 40'. Para analisar os movimentos das unidades em nossos portos, o investidor tomará inicialmente o suposto valor anunciado no relatório 7.256.292 TEUs Throughput e o dividirá por seis, obtendo 1.209.382 que são as unidades de 20'. Em seguida ele multiplicará por dois as unidades de 20' para obter 2.418.764 que são as unidades de 40'. Somando as unidades obtidas ele chegará ao minúsculo número de “movimentos” dos nossos portos de 3.628.146 movimentos realizados, frente ao assombroso custo operacional da ineficiência. Porém, se o Brasil adotasse a metodologia Throughput, o resultado seria o dobro de 7.256.292 TEUs e teríamos o total de 14.512.584 TEUs Throughput em 2008, ótimo resultado em plena recessão mundial, compatível a um dos maiores PIB do mundo. Neste caso, o investidor dividirá o total em TEUs Throughput por seis e obterá 2.418.764 obtendo as unidades de TEUs de 20'. Multiplicando este resultado por dois obterá 4.837.528 que são as unidades de TEUs 40' e obterá os custos unitários e o respectivo desempenho dos portos. Aplicando a norma das unidades em TEUs Throughput, o investidor somará os dois resultados de 20' e 40' e obterá 7.256.292 TEUs e os multiplicará por dois e obterá o resultado inicial de 14.512.584 TEUs, confirmando a operação. Além dos contêineres de importação, exportação, longo curso, cabotagem, devem ser considerados também ao dobro, as remoções e transbordos de contêineres nos portos e terminais. As tonelagens métricas das demais mercadorias a granel, carga geral, líquidos 46 Port Throughput – A Causa do Gargalo Portuário no Brasil e gasosos também devem ser multiplicados por dois para obter a Tonelagem Throughput. Os portos precisam oferecer mais uma informação importante nos seus dados estatísticos; os custos para movimentar um contêiner de 20'. O motivo é a informação ao usuário do custeio com todos os serviços de terceiros, sem as tarifas regulares do porto ou terminal. Estes dados apresentarão os custos de serviços em cada porto para um TEU, sem as tarifas portuárias. Não devem ser inseridos, os dados financeiros referentes a pagamento, lucros, empréstimos, perdas, danos, vendas ou multas. Entretanto, as receitas com as tarifas de cada porto estabelecem o real índice de produtividade de cada porto e sua capacidade operacional para estabelecer os corretos valores dos fretes. 47 Egberto Fioravanti Ribeiro CAUSA DA INEFICIÊNCIA PORTUÁRIA Para os pilotos de D. João VI era difícil navegar sem a estrela Polar, ou sem bússola, assim como aos motoristas é difícil dirigir em meio à neblina sem sinalização eficaz. Sem a correta informação estatística das movimentações portuárias em mãos, qualquer negociante no comércio exterior fica sujeito a perdas irreparáveis. Há veículos econômicos e há veículos que consomem demais, para isso, existem instrumentos para mensurar estas diferenças. Da mesma forma, no comércio exterior há dois elementos indispensáveis na negociação; tonelagem e distância, onde cada indicador pode alterar o outro. O transporte de mercadorias por via marítima envolve alto custo e risco nas operações portuárias, portanto exige análises e consultas com respostas imediatas, tanto para armadores como para exportadores. As informações dos portos devem ser claras, para a contratação de fretes competitivos, porque há custos adicionais que elevam os percentuais sobre o valor deste serviço, que podem comprometer toda a operação. 48 Port Throughput – A Causa do Gargalo Portuário no Brasil Para evitar negociação às cegas, é necessário que as estatísticas portuárias tenham um mesmo peso e uma mesma medida, tanto nos portos do exterior como nos portos do Brasil. Quando uma empresa brasileira importa fertilizantes, ela necessita de um navio para trazer suas mercadorias do exterior, haverá uma amarga incógnita quanto às filas de espera para entrada nos portos. Provavelmente o armador irá consultar os dados de movimentação de navios nos portos de destino e verificará que há um grande número de navios aguardando para atracar. Eles verificam nos relatórios dos portos que há uma fila de espera de poucos milhares de toneladas para descarga, mas a fila de espera é enorme. Muitos armadores buscam soluções nada ortodoxas para burlar a fila de navios. Esta é a função dos portos públicos; a igualdade de direitos, além de milhares de olhos no mundo inteiro acompanhando cada tonelada embarcada, para saber quando seus navios atracarão. Todos os navios atracados nos portos são acompanhadas diariamente no mundo inteiro, através dos seus agentes que fornecem os dados dos navios atracados e as previsões exatas de suas saídas. Os compradores no exterior ficam preocupados com uma centena de navios em fila de espera e os contratos podem iniciar sem que os seus navios estejam atracados e as inevitáveis multas ocorrerão. As informações incorretaslevam os armadores a considerar a movimentação de um porto brasileiro como em outros países concorrentes, pois utilizam os mesmos equipamentos. Quando um porto brasileiro diz ter movimentado 30 49 Egberto Fioravanti Ribeiro milhões/tons de granéis no ano anterior, este porto quis dizer tonelagem métrica. Porém, os armadores no exterior entenderão como “Tonelagem Throughput” que é o dobro da nossa tonelagem métrica. Em seguida eles dividirão por dois esta movimentação e obterão a tonelagem métrica de 15 milhões de toneladas métricas anuais e estabelecerão o padrão diário de embarque. Este equívoco na contratação do navio será observado quando o navio chega ao Brasil e constatam a balbúrdia na área portuária, desde a boia de espera, porque o porto não estará movimentando 15 milhões de toneladas métricas anuais (41 mil toneladas ao dia), mas sim de 30 milhões de toneladas métricas anuais (82 mil toneladas ao dia). Este total deve ser elevado ao dobro, ou 60 milhões de toneladas Throughput, ou duas vezes a mais do que eles esperavam. Se este ambiente de excessivo tumulto na barra causa enorme distúrbio aos usuários, como não estará o porto, com mercadorias entrando e saindo ao mesmo tempo. Isto encarece os fretes elevando a incidência de demurrage. Segundo o relatório de 2013 apresentado pela Antaq, foram movimentados 8,9 milhões de TEUs nos portos do Brasil, em unidades foram 5,7 milhões de contêineres. Com estes dados, podemos elevar aos totais em TEUs Throughput como os demais países o fazem. Estes índices revelam que foram movimentados 3,2 milhões de unidades de contêineres de 40’ e 2,5 milhões de unidades de contêineres de 20’. Multiplicando as unidades de 20' por dois e as de 40' por quatro e somando os totais teremos com estes dados o indicador em TEUs Throughput” de 17,8 50 Port Throughput – A Causa do Gargalo Portuário no Brasil milhões de TEUs movimentados no Brasil em 2013. Com este mesmo cálculo, Santos movimentou 923 mil unidades de 20’ e 2.324 milhões de unidades de 40’. No cálculo TEUs Throughput foram movimentados em Santos 11.142 milhões de TEUs em 2013. A informação de que a China movimentou em 2014 a impressionante soma de 176 milhões de TEUS Throughput. Para reduzir a um mesmo denominador e chegar ao índice unitário de contêineres de 20' e 40', ou 58,5 milhões de contêineres. TEUs de 20' = (2) TEUs de 40' = (2x2) TEUs 20' + 40' = (6) 176/6= 29 milhões unidades 20' 29 x 2 = 58 milhões TEUs Throughput de 20' 176 – 58 = 118 milhões TEUs Throughput/4 = 29,5 milhões unidades 40' 58 + 118 = 176 milhões TEUs Throughput. As riquezas geradas nos portos chineses referentes a 176 milhões de TEUs são o triplo do que seria obtido com 59 milhões de TEUs. Este cálculo não incide sobre o CIF, envolve os ganhos dos portos; quando lucra mais quem produzir em Throughput do que em TEUs. 51 Egberto Fioravanti Ribeiro O cálculo de frete que os armadores internacionais fazem são os mesmos no mundo inteiro; distância x tonelagem e adicionais. Eles obtêm as informações sobre a movimentação de um porto e o peso da sua mercadoria para aquele porto e calculam as horas de operação e diárias dos navios na fila (adicional) para estabelecerem o valor do frete que irão oferecer ao cliente, além das sobretaxas. O fator de espera em fila de navios gera fretes mais caros e maior incidência de multas, se ultrapassar o prazo estabelecido para o início e término da operação. Os importadores comparam a tonelagem movimentada nos portos da Europa e América do Norte e ficam surpresos com a baixa produtividade dos portos brasileiros e por esse motivo elevam os preços dos fretes. Por que ocorrem tantas filas? O motivo é que as informações estatísticas dos nossos portos não são iguais às deles na Europa. Os armadores dividem por dois a tonelagem, como se fossem Portos Throughput e enviam seus navios, porque encontram pequena tonelagem movimentada. Isto ocorre também nas licitações internacionais onde nossas empresas de engenharia sempre perdem. Vamos supor que um país anuncia a licitação para a construção de um terminal de contêineres para 20 milhões de TEUs Throughput ao ano. Nosso engenheiros entendem conforme aprenderam e erram no cálculo, apresentando um valor ao dobro do licitado. Vinte milhões de TEUs Throughput são 5 milhões de 20' e 2,5 milhões de 40' (5x2=10+2,5x4=10). Nossos compatriotas calculam espaço para 6 milhões 52 Port Throughput – A Causa do Gargalo Portuário no Brasil de TEUs de 40' e 8 milhões de TEUs de 20' (6x2=12+8=20). O Edital da licitação pede um terminal para 5 milhões de TEUs Throughput de 20' e 2,5 milhões de TEUs Throughput de 40'. Nossos empresários calculam 6 milhões de TEUs de 40' e 8 milhões de 20'. Ou seja, 7,5 milhões TEUs no Edital e 14 milhões na proposta. Agindo dessa maneira, jamais nossas empresas vencerão uma licitação para um Tecon no exterior e o recurso está em pedir ajuda de algum político influente e correr os riscos com os consequentes pedidos de pagamentos pela ajudinha. Quando lemos que o Brasil movimentou 8,9 milhões de TEUs em 2014, não quer dizer que sejamos pior do que a média mundial, isto é apenas uma questão de metodologia estatística que estamos utilizando equivocadamente há mais de 30 anos. Os métodos de trânsito Throughput discutidos desde 1963 aprovam o coeficiente de Gini como a melhor análise de uma série de variações nos indicadores observados nos portos e aeroportos. Estas variações levam em conta as medidas dos contêineres aéreos e marítimos, tamanho dos terminais e quantidade de aviões ou navios movimentados e equipamentos aeroportuários. Quanto ao tamanho de um contêiner, em muitos países utiliza-se contêiner de 5′ (cinco pés) que é considerado nas estatísticas como um movimento, tanto quanto um contêiner de 20′ ou 40'. Enquanto nos demais países utiliza-se contêineres com diversas medidas de comprimento, no Brasil somente são utilizadas duas medidas 20′ e 40′. 53 Egberto Fioravanti Ribeiro O Brasil adota o método estatístico tradicional e menos específico, porque executa a soma linear dos indicadores de Comércio Exterior nos portos; incoming e outgoing, ou entrada e saída, ou importação e exportação, da mesma forma como se fazia na Alfândega de D. João VI. Os dados estatísticos das mercadorias e contêineres nestes sentidos não são o objeto dos dados estatísticos da capacidade de movimentação dos terminais conforme a metodologia Throughput. Neste método, o trânsito de mercadorias e contêineres realizados nos terminais portuários obedecem à somatória das operações realizadas dentro do porto que não são consideradas. Este método esclarece o resultado das despesas e receitas dentro da área portuária, na melhor descrição do movimento de mercadorias e contêineres dentro dos portos e visão global das riquezas do país. Porto parado significa economia estagnada, em operação plena representa abundância industrial e comercial do país. Estes dados são reconhecidos pelas equipes de manutenção, porque trabalham cuidando do número de horas trabalhadas de cada equipamento, como base das exigências de cada fabricante. Quando as equipes de manutenção verificam as horas trabalhadas de cada máquina, eles analisam cada correia, cada rolamento, cada locker, cada pistão hidráulico e substituem imediatamente os que estiverem com as horas vencidas, não importa o estado aparente de cada peça. O administrador entende que na manutenção preventiva; as inspeções nunca são programadas em datas, mas em horas trabalhadas, segundo as normas de 54 Port Throughput – A Causa do Gargalo Portuário no Brasil cada fabricante. Estas informações formam a base estatística de manutenção
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