Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
BIOSSEGURANÇA DA CADEIA DE ALIMENTOS Professor Dr. Gustavo Affonso Pisano Mateus Professora Dra. Maria Fernanda Francelin Carvalho GRADUAÇÃO Unicesumar Acesse o seu livro também disponível na versão digital. http://https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/827 C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a Distância; MATEUS, Gustavo Affonso Pisano; CARVALHO, Ma- ria Fernanda Francelin. Biossegurança da Cadeia de Alimentos. Gustavo Affonso Pi- sano Mateus; Maria Fernanda Francelin Carvalho. Maringá-Pr.: Unicesumar, 2019. 208 p. “Graduação - EaD”. 1. Biossegurança 2. Cadeia . 3. Alimentos 4. EaD. I. Título. ISBN 978-85-459-1909-4 CDD - 22 ed. 344.81 CIP - NBR 12899 - AACR/2 Ficha catalográfica elaborada pelo bibliotecário João Vivaldo de Souza - CRB-8 - 6828 Impresso por: Reitor Wilson de Matos Silva Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor Executivo de EAD William Victor Kendrick de Matos Silva Pró-Reitor de Ensino de EAD Janes Fidélis Tomelin Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi NEAD - Núcleo de Educação a Distância Diretoria Executiva Chrystiano Minco� James Prestes Tiago Stachon Diretoria de Graduação e Pós-graduação Kátia Coelho Diretoria de Permanência Leonardo Spaine Diretoria de Design Educacional Débora Leite Head de Produção de Conteúdos Celso Luiz Braga de Souza Filho Head de Curadoria e Inovação Tania Cristiane Yoshie Fukushima Gerência de Produção de Conteúdo Diogo Ribeiro Garcia Gerência de Projetos Especiais Daniel Fuverki Hey Gerência de Processos Acadêmicos Taessa Penha Shiraishi Vieira Gerência de Curadoria Carolina Abdalla Normann de Freitas Supervisão de Produção de Conteúdo Nádila Toledo Coordenador de Conteúdo Maria Fernanda Francelin Carvalho Designer Educacional Bárbara Neves Patrícia Peteck Projeto Gráfico Jaime de Marchi Junior José Jhonny Coelho Arte Capa Arthur Cantareli Silva Ilustração Capa Bruno Pardinho Editoração Flávia Thaís Pedroso Qualidade Textual Meyre Barbosa Ilustração Marta Kakitani Welington Vainer Satin de Oliveira Em um mundo global e dinâmico, nós trabalhamos com princípios éticos e profissionalismo, não so- mente para oferecer uma educação de qualidade, mas, acima de tudo, para gerar uma conversão in- tegral das pessoas ao conhecimento. Baseamo-nos em 4 pilares: intelectual, profissional, emocional e espiritual. Iniciamos a Unicesumar em 1990, com dois cursos de graduação e 180 alunos. Hoje, temos mais de 100 mil estudantes espalhados em todo o Brasil: nos quatro campi presenciais (Maringá, Curitiba, Ponta Grossa e Londrina) e em mais de 300 polos EAD no país, com dezenas de cursos de graduação e pós-graduação. Produzimos e revisamos 500 livros e distribuímos mais de 500 mil exemplares por ano. Somos reconhecidos pelo MEC como uma instituição de excelência, com IGC 4 em 7 anos consecutivos. Estamos entre os 10 maiores grupos educacionais do Brasil. A rapidez do mundo moderno exige dos educa- dores soluções inteligentes para as necessidades de todos. Para continuar relevante, a instituição de educação precisa ter pelo menos três virtudes: inovação, coragem e compromisso com a quali- dade. Por isso, desenvolvemos, para os cursos de Engenharia, metodologias ativas, as quais visam reunir o melhor do ensino presencial e a distância. Tudo isso para honrarmos a nossa missão que é promover a educação de qualidade nas diferentes áreas do conhecimento, formando profissionais cidadãos que contribuam para o desenvolvimento de uma sociedade justa e solidária. Vamos juntos! Seja bem-vindo(a), caro(a) acadêmico(a)! Você está iniciando um processo de transformação, pois quan- do investimos em nossa formação, seja ela pessoal ou profissional, nos transformamos e, consequente- mente, transformamos também a sociedade na qual estamos inseridos. De que forma o fazemos? Crian- do oportunidades e/ou estabelecendo mudanças capazes de alcançar um nível de desenvolvimento compatível com os desafios que surgem no mundo contemporâneo. O Centro Universitário Cesumar mediante o Núcleo de Educação a Distância, o(a) acompanhará durante todo este processo, pois conforme Freire (1996): “Os homens se educam juntos, na transformação do mundo”. Os materiais produzidos oferecem linguagem dialógi- ca e encontram-se integrados à proposta pedagógica, contribuindo no processo educacional, complemen- tando sua formação profissional, desenvolvendo com- petências e habilidades, e aplicando conceitos teóricos em situação de realidade, de maneira a inseri-lo no mercado de trabalho. Ou seja, estes materiais têm como principal objetivo “provocar uma aproximação entre você e o conteúdo”, desta forma possibilita o desenvolvimento da autonomia em busca dos conhe- cimentos necessários para a sua formação pessoal e profissional. Portanto, nossa distância nesse processo de cresci- mento e construção do conhecimento deve ser apenas geográfica. Utilize os diversos recursos pedagógicos que o Centro Universitário Cesumar lhe possibilita. Ou seja, acesse regularmente o Studeo, que é o seu Ambiente Virtual de Aprendizagem, interaja nos fó- runs e enquetes, assista às aulas ao vivo e participe das discussões. Além disso, lembre-se que existe uma equipe de professores e tutores que se encontra dis- ponível para sanar suas dúvidas e auxiliá-lo(a) em seu processo de aprendizagem, possibilitando-lhe trilhar com tranquilidade e segurança sua trajetória acadêmica. CU RR ÍC U LO Professor Dr. Gustavo Affonso Pisano Mateus Possui Doutorado e Mestrado em Biotecnologia Ambiental pela Universidade Estadual de Maringá (UEM), Especialização em Docência no Ensino Superior e Análise Ambiental (Unicesumar) e Graduação em Ciências Biológicas (Unicesumar). Possui experiência na área de Fitossanidade e desenvolvimento de produtos Biotecnológicos aplicados ao tratamento de água e efluentes, em especial com os temas: processos de separação por membranas, nanotecnologia e coagulantes naturais. Atualmente é professor e coordenador de cursos na EAD UNICESUMAR. http://lattes.cnpq.br/1379816809384173 Professora Dra. Maria Fernanda Francelin Carvalho Doutora e Mestre em Ciência de Alimentos e graduada em Engenharia de Alimentos, todos pela Universidade Estadual de Maringá. Coordenadora de Curso de Graduação na Unicesumar. Atuou como Técnico de Ensino Pleno e consultor técnico na empresa Senai, ministrando aulas nos cursos técnicos em Biotecnologia e Química, cursos de aprendizagem industrial no setor sucroalcooleiro, assim como cursos in company, conforme necessidade da empresa, nas áreas de alimentos, química, gestão e de acordo com a necessidade da empresa. Tem experiência técnica nas áreas industriais de controle de qualidade e produção. Conhecimentos em Ferramentas de qualidade, 5S, PDCA, espinha de peixe e gerenciamento da rotina do dia a dia, BPF, HACCP e ISOs e demais ferramentas de gestão do ramo de alimentos. http://lattes.cnpq.br/7093544315248478 SEJA BEM-VINDO(A)! Saudações, caro(a) aluno(a)! Esta obra tem por finalidade contextualizar e apresentá-lo(a) a alguns conceitos básicos voltados à biossegurança da cadeia de alimentos. Você já refletiu sobre a necessidade de procedimentos e princípios básicos para garantir a Biossegurança nas diferentes ca- deias de alimentos? Pois bem, existe a necessidade de explorarmos essa temática em função da saúde e seguridade alimentar que se fazem necessários no manuseio e pro- dução de alimentos. Para compreendermos a necessidade e a origem do advento tecnológico na produção de alimentos, a primeira unidade, intitulada Produção de Alimentos e o Aumento da De- manda de Produtividade, aborda a relação entre a produção de alimentos, os desafios, as perspectivas e indica alguns números relativos à fome, no Brasil e no Mundo. Ao pensarmos em biossegurança e em Fundamentos Biotecnológicos, imediatamen- te, somos remetidos a ambientes laboratoriais com procedimentos complexos e muito tecnológicos. De fato,essa parcela de conteúdo existe neste material e nesta disciplina, porém, em um breve histórico acerca desses fundamentos biotecnológicos em nossa segunda unidade, mostra-nos que o homem já manipula a natureza e as características de interesse de seus componentes há muito tempo. Historicamente, bioprocessos sim- ples e relevantes para o desenvolvimento da humanidade foram dominados e aprimo- rados, ainda que não houvesse compreensão total dos fenômenos envolvidos, como foi o caso dos processos de fermentação. Já a terceira unidade aproxima-nos, de fato, da atuação da biotecnologia nas diferentes cadeias produtivas, dando ênfase nas modificações genéticas observadas em células vegetais, visto que as cadeias produtivas vegetais são responsáveis por uma parte sig- nificativa da economia e da alimentação da população mundial. Logo, a relação biotec- nologia e agricultura é muito relevante. Ainda, essa unidade aborda as legislações que regulamentam e atuam de forma direta sobre a Biossegurança em âmbito Nacional. A quarta unidade, que recebe o nome de Normas sobre Biossegurança na cadeia de ali- mentos, discute, além das questões legislativas sobre a perspectiva dos direitos do con- sumidor, no que tange a risco, informações e rotulagem, além da relação entre a Biosse- gurança e a Bioética. Por fim, a quinta e última unidade do material aborda os princípios da engenharia gené- tica, contemplando a modificação de microrganismos e animais, além da produção de subprodutos oriundos dos transgênicos, abordando sobretudo princípios da avaliação de riscos associados à sua utilização e manipulação. Desta forma, esse material pretende contribuir de forma breve com conceitos básicos acerca da biossegurança na cadeia de alimentos e todas as temáticas por esse assunto contempladas. Boa leitura! APRESENTAÇÃO BIOSSEGURANÇA DA CADEIA DE ALIMENTOS SUMÁRIO 09 UNIDADE I PRODUÇÃO DE ALIMENTOS E O AUMENTO DA DEMANDA DE PRODUTIVIDADE 15 Introdução 16 Crescimento Populacional x Alimentação e suas Implicações 21 Números sobre a Fome no Brasil e no Mundo 25 Perspectivas e Desafios no Combate à Fome 32 O Papel da Biotecnologia como Proteção a Segurança Alimentar 36 Considerações Finais 42 Referências 44 Gabarito UNIDADE II FUNDAMENTOS BIOTECNOLÓGICOS 47 Introdução 48 Introdução à Biotecnologia 54 Tecnologia do DNA 67 Bioprocessos 82 Considerações Finais 88 Referências 90 Gabarito SUMÁRIO 10 UNIDADE III A BIOTECNOLOGIA E AS DIFERENTES CADEIAS PRODUTIVAS 93 Introdução 94 Introdução à Biotecnologia e as Diferentes Cadeias Produtivas 100 Legislação Aplicada à Biossegurança Nacional 109 Biotecnologia e Agricultura 115 Considerações Finais 121 Referências 123 Gabarito UNIDADE IV NORMAS SOBRE BIOSSEGURANÇA NA CADEIA DE ALIMENTOS 127 Introdução 128 Legislação Pertinente 138 Direitos do Consumidor - Informação, Risco e Rotulagem 140 Biossegurança e Bioética 143 Considerações Finais 150 Referências 152 Gabarito SUMÁRIO 11 UNIDADE V PRINCÍPIOS DE ENGENHARIA GENÉTICA 155 Introdução 156 Fundamentos de Engenharia Genética 178 Animais Transgênicos 188 Princípios Gerais da Avaliação de Riscos 199 Considerações Finais 205 Referências 207 Gabarito 208 CONCLUSÃO U N ID A D E I Professor Dr. Gustavo Affonso Pisano Mateus Professora Dra. Maria Fernanda Francelin Carvalho PRODUÇÃO DE ALIMENTOS E O AUMENTO DA DEMANDA DE PRODUTIVIDADE Objetivos de Aprendizagem ■ Conhecer a relação do crescimento populacional em relação à distribuição de alimentos e a diferença entre a produção de alimentos. ■ Exemplificar com dados o desenvolvimento populacional e alimentar perspectivas. ■ Conhecer como a ciência pode auxiliar no combate à fome. ■ Conhecer os cuidados por trás dos melhoramentos tecnológicos. Plano de Estudo A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: ■ Crescimento Populacional x Alimentação e suas implicações ■ Números sobre a fome no Brasil e no Mundo ■ Perspectivas e Desafios no combate à fome ■ O papel da Biotecnologia como proteção a Segurança Alimentar INTRODUÇÃO Olá, caro (a) aluno (a), tudo bem? É com grande alegria que iniciamos nossos estudos a respeito da segurança alimentar de forma mais crítica e científica. Neste momento, começaremos a desvendar muitas lendas que foram se formando ao longo dos tempos em volta da forma de se produzir a alimentação. Nesta primeira unidade, quero compartilhar com vocês alguns dados que foram sendo coletados ao longo da última década, como uma forma de com- preendermos o quão importante e fundamental a tecnologia é neste ramo. Vale também salientarmos que, neste processo, muitas barreiras e paradigmas devem ser deixados de lado, e um senso crítico deve ser construído quando nos apro- fundamos em assuntos mais polêmicos e que, talvez, possam ir contra algumas crenças e modelos produtivos que hoje vêm tomando espaço. Sabemos que os modelos produtivos atuais possuem embasamentos que, muitas vezes, não são saudáveis ao meio ambiente, mas que se fazem necessá- rios em alguns momentos para que atendam à demanda. Contudo devemos ter olhos abertos e mente ampla para vislumbrarmos, por meio da ciência, novos caminhos mais sustentáveis. Gostaria, também, que ficasse claro que todas as informações que aqui se encontrarem são científicas e dados reais e, por serem neste formato, quando falamos de biotecnologia e ciência de alimentos de uma forma geral, todas são mutáveis a todo instante, pois esta é uma área muito estudada e de muita melho- ria contínua, que levam à flutuação de dados. Esta é uma informação a que vocês, talvez, estejam habituados, pois as notícias aparecem nas mídias e, em pouco tempo, já são obsoletas e apresentando informações, talvez, até contrárias aos dados anteriores, e assim por diante. Gostaria que, com esta disciplina, assim como no decorrer de todo o curso, possamos saber filtrar todas essas informações e nos munir de conhecimento para que possamos ser defensores da ciência em prol da dissipação da informa- ção correta. Vamos nesta jornada! Introdução Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 15 PRODUÇÃO DE ALIMENTOS E O AUMENTO DA DEMANDA DE PRODUTIVIDADE Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E16 CRESCIMENTO POPULACIONAL X ALIMENTAÇÃO E SUAS IMPLICAÇÕES Quando pensamos no globo terrestre, começamos a pensar em toda a popula- ção que nele habita, como se distribui e como vive. Quando aprofundamos mais esta observação, começamos a avaliar a respeito de seu crescimento, demografi- camente, para que possamos avaliar os sistemas de gestão para a sobrevivência destas pessoas e qualidade de vida. Para podermos estudar este assunto, sem dúvida alguma, teremos que falar de dados mundiais que são, constantemente, coletados como forma de acompa- nhamento do desenvolvimento populacional e, assim, participar de programas de sustentabilidade. O principal órgão que possui dados completos e confiá- veis é a Organização das Nações Unidas (ONU), que publicou os últimos dados revisados do ano de 2017. Nesta Revisão, obtiveram os dados de que era uma população mundial de 7,6 bilhões, que sendo avaliado com dados já possuído pela instituição, chegou-se à conclusão que, ao longo dos últimos doze anos, a população aumentou em um bilhão de habitantes. Crescimento Populacional x Alimentação e suas Implicações Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 17 Neste estudo, também foi possível fazer a estratificação demográfica, ou seja, distinguir quantos habitantes vivem em cada continente, com a finalidade de se poder observar a densidade demográfica, ou seja, saber quantas pessoas vivempor metro quadrado de terra. Sendo assim, os dados encontrados mostraram que sessenta por cento estão vivendo na Ásia, dezessete por cento na África, dez por cento na Europa, nove por cento na América do Latina e no Caribe e os outros seis por cento na América do Norte e na Oceania. Os números exatos estão apresentados na Tabela 1 a seguir, uma tabela de fonte do próprio estudo de revisão (ONU, 2017, on-line)1. Po pu la çã o em b ilh õe s 12.000 10.000 8.000 6.000 4.000 2.000 0 2017 2030 2050 2100 7550 8551 9772 11184 1256 1704 2528 4468 4504 1947 5257 4780 742 739 716 653 646 718 780 712 361 395 435 499 41 48 57 72 Mundo África Ásia Europa Américalatina e Caribe América do norte Oceania Figura 1 - População do Mundo e Regiões, 2017, 2030, 2050 e 2100, de acordo com a Projeção Média-variante Fonte: United Nations (2017, on-line)1. A Figura 1 também nos possibilita visualizar uma projeção que a própria agên- cia relaciona a uma prospecção de crescimento populacional para os próximos anos, com base em dados presentes em seus bancos de estudo de crescimento e comportamento populacional. Não há dúvidas de que até o ano de 2100 a população mundial alcance cerca de 11 bilhões de pessoas, um aumento de, aproximadamente, 45% em relação ao número que temos nos dias atuais. Este PRODUÇÃO DE ALIMENTOS E O AUMENTO DA DEMANDA DE PRODUTIVIDADE Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E18 número, por mais expressivo que seja, também é um resultado de trabalho de desenvolvimento e mudança na maneira da vida das pessoas, pois dados de anos anteriores mostraram que, há dez anos, a taxa de crescimento anual populacio- nal era de 1,24%, ao passo que os últimos dados mostram que esta caiu para 1,10% (ONU, 2017, on-line)2. Todas essas pessoas espalhadas pelo globo trazem exigências em várias esferas, como habitação, energia e alimentação; sendo assim, muitos órgãos são responsáveis por acompanhar o desenvolvimento em cada uma das áreas de preocupação. A FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura), no ano de 2015, fez um levantamento de dados, mostrando que, aproximadamente, 805 milhões de pessoas não possuem possibilidade de se ali- mentar, pelo simples fato de não haver alimentos em quantidades mínimas para manterem sua saúde e, assim, terem uma vida ativa. Vale também avaliarmos que as perspectivas de crescimento postulacional são apenas previsões, podendo haver variações, como ocorreu com um estudo da ONU de 2012, que previa a população mundial atingir 8 bi, próximo ao ano de 2024. Estamos em 2019, e os estudos de revisão de 2017 mostraram já uma população de 7,6 bi. Toda essa população tem crescido e possui inúmeras necessidades bási- cas, entre elas a alimentação. Esta demanda requer, entre muitos fatores, espaço para o plantio, além da boa produtividade das sementes e outros tantos deta- lhes. Além do plantio e da colheita, tem-se o desafio de se utilizar os terrenos de plantio para que se produza alimentos e, caso todos estes pontos sejam positivos e o resultado favorável, ainda nos deparamos com o grande desafio de distri- buir esse alimento de maneira igualitária e de acordo com a necessidade de cada país, para que todo esse alimento produzido chegue às pessoas que sentem fome. Assim como citamos anteriormente, as estimativas dos órgãos envolvidos, como a ONU, o crescimento da fome no mundo tornou-se maior do que o ima- ginado nos levantamentos feitos pela organização com dados divulgados no ano de 2015. Aproximadamente, 80 milhões de pessoas estavam em situação de desnutrição, e esse número passou para 108 milhões nos dados levantados e Crescimento Populacional x Alimentação e suas Implicações Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 19 divulgado no ano de 2017. Em apenas três anos, quase 30 milhões de pessoas a mais passando fome ao redor do globo (ONU-BR, 2017, on-line)1. De qualquer forma, a população aumentará. Estamos falando de taxa de nata- lidade e, por mais que países desenvolvidos, como a Europa, tenham este índice muito baixo, os subdesenvolvidos e os em desenvolvimento continuam contri- buindo para este aumento. E ainda não ressaltamos o fato de que a expectativa de vida das pessoas aumentou e deve continuar aumentando. Logo, mesmo a taxa de natalidade sendo mais baixa, o número de pessoas vivendo sobre a terra permanece aumentando. Todos estes cenários culminam para o mesmo problema, não importando se estamos falando de maior número de nascimentos ou de um menor número de óbitos, afinal, todos levam à maior utilização dos recursos naturais. As empresas Global Footprint Network (GFN) e World Wide Fund for Nature (WWF) divul- garam um relatório mostrando que a humanidade possui uma demanda anual superior à capacidade que a natureza possui de se renovar naturalmente, e cha- maram de pegada ecológica. Este trabalho mostrou que, hoje, precisamos de um planeta e meio para poder suprir as necessidades da população. 24 20 16 12 8 4 0 Bi lh õe s de h ec ta re s gl ob ai s em 2 00 3 1960 1980 2000 2020 2040 2060 2080 2100 A biocapacidade deverá cair até o nível da produtividade de 1951 ou abaixo no caso de o excedente continuar a aumentar. Este declínio pode se acelerar à medida que a dívida ecológica cresce, e estas perdas de produtividade podem se tornar irreversíveis. Dívida ecológica acumulada 1951-2003 Pegada Ecológica Biocapacidade 2003-2100, cenário de referência moderado Pegada Ecológica (para 2050) Biocapacidade Figura 2 - Comparativo da necessidade de recursos naturais e disponibilidade Fonte: World Wild Foundation (2006, p. 24). PRODUÇÃO DE ALIMENTOS E O AUMENTO DA DEMANDA DE PRODUTIVIDADE Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E20 Todo este cenário leva a grandes preocupações, pois todas as projeções de cres- cimento populacional mostram-se superiores ao aumento nas projeções de produção de alimentos. Com o aumento de pessoas, há o aumento de terras gastas nas expansões territoriais urbanas juntamente com restrições na utili- zação de terras rurais para o plantio de alimentos (SAATH, 2018). A FAO, em 2013, divulgou que as áreas agrícolas disponíveis estão concentradas em poucos países, sendo que 90% das terras passíveis de expansão para exploração encon- tram-se na América Latina e África. O mesmo relatório mostra que países como EUA e China não possuem mais esta possibilidade (FAO, 2013) - se retomar- mos a Figura 1 que vimos no início da unidade, podemos nos lembrar de que a China tem uma densidade populacional elevada, pois está em uma região com um número elevado de habitantes. Tendo em vista este cenário de falta de espaço, as buscas por alternativas tec- nológicas se tornam as formas mais viáveis de tentar solucionar, ou ao menos minimizar os danos que a falta de alimentos produz. Pois, segundo a FAO (2009), o formato atual de produção já esgotou suas possibilidades de desempenho, além das condições atuais climáticas, que se alteraram grandemente no decorrer dos anos, modificando as necessidades dos sistemas de plantio. Contudo todo este debate possui muitas facetas e a cada dia aparecem novos dados para que haja mudanças no perfil dos produtores e dos consumidores, o que é importante sabermos, e, dentro deste mercado, devemos estar atentos às necessidades tanto da população quanto do planeta, buscando sempre um equilíbrio. Números sobre a Fome no Brasil e no Mundo Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 21 NÚMEROS SOBRE A FOME NO BRASIL E NO MUNDO Em relação à palavra fome, em termos de população mundial, deparamo- nos com um cenário de desnutrição alinhado àssituações de subalimentação que ocorrem ao redor do globo. Dados da FAO (2018), no ano de 2017, esta condição pode ter alcançado marcas de 10,9% da população. Estas condições encontram- -se, principalmente, em regiões fragilizadas por inúmeras formas de sofrimento, como zonas de conflito de guerras, condições climáticas e também condições adversas da economia, como vem acontecendo nos últimos tempos. Como podemos perceber, há vários índices para definirem, de forma abran- gente, a condição de sobrevivência de uma pessoa em condições de pobreza ou pobreza extrema. Segundo a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), a definição é sobre a quantidade de calorias diárias ingeridas por meio de seus rendimentos, no caso, seria uma dieta que seja capaz de forne- cer 1750 calorias/dia e, segundo a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), é a capacidade de obter 2200 calorias diárias. A ONU con- sidera pobre a pessoa que possui renda de US$ 1,25 por dia; a União Europeia PRODUÇÃO DE ALIMENTOS E O AUMENTO DA DEMANDA DE PRODUTIVIDADE Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E22 considera que uma pessoa está na linha de pobreza se ganhar 60% em relação à renda média do país, na Dinamarca seria quem possui uma renda igual ou infe- rior a 2.500,00 reais. Com tantas diferenças, podemos perceber que os países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento possuem a linha de pobreza diretamente ligada à taxa de consumo de calorias diárias, tornando a insegurança alimentar um fator ine- rente à condição de pobres e pobreza extrema. Se observarmos a Figura 2, retirada do relatório da FAO (2018), podemos perceber que, desde o ano de 2015, tem havido um aumento no índice em situ- ação de insegurança alimentar por falta de alimentos em quantidade suficiente no mundo, um dado alarmante, uma vez que esse índice se encontrava em um decrescente até então. Se a região avaliada for a América do Sul e algumas regiões da África, esta última permanece sendo o continente que apresenta números mais elevados em relação à desnutrição e à fome, tendo, aproximadamente, 256 milhões de pessoas nesta situação. Na América do Sul, cerca de 5,0% da população vivem em condi- ções subumanas, tornando a desnutrição uma realidade diária. Essas condições desencadeiam em outros índices de avaliação populacional, que interferem dire- tamente no desenvolvimento das comunidades afetadas. Alguns dados mostram a relação de mulheres anêmicas em idade de atuação no mercado de trabalho, ocorrendo em uma em cada três mulheres, consequência direta da dieta con- sumida diariamente. Podemos verificar alguns índices que dizem respeito ao reflexo da desnu- trição, como: ■ Emaciação Este dado trata, diretamente, do número de crianças com desnutrição, ou seja, que passam fome no mundo. No ano de 2017, ao todo, 7,5% das crian- ças com menos de cinco anos, ou seja, aproximadamente, 50,5 milhões estão em estado de desnutrição aguda, o que leva ao baixo peso, assim como a falta de desenvolvimento de estatura, levando-as a uma condição de risco de morte superior às demais. Estudos feitos no ano 2013 mostra- ram que cerca de 875.000 mortes de crianças inferiores a cinco anos de idade tiveram relação direta com a condição de desnutrição aguda, sendo Números sobre a Fome no Brasil e no Mundo Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 23 que cerca de 7,4% destas, o que representa, aproximadamente, 516.000 mortes foram causadas pela desnutrição aguda grave. ■ Sobrepeso infantil e obesidade adulta Estudos revelam que a proporção de crianças com peso acima do ideal está estagnada desde o ano de 2012, em um percentual próximo a 5,5%, o que representa, em números gerais, 38,3 milhões de crianças. Um dado curioso é que 25% destas se encontram na África e 46% nas Ásia. Quando tratamos deste assunto em relação a adultos, o quadro é pior, uma vez que seu número vem aumentando, como no estudo de 2012, em que o índice era de 11,7%, saltando para 13,2% no estudo feito no ano de 2017. Isso quer dizer que, aproximadamente, um a cada oito adultos está em situ- ação de obesidade, sendo que a sua grande maioria se encontra na América do Norte. Vale lembrar que o índice de crescimento nesta região é superior ao do restante do globo, evidenciando a falta de parcimônia com a alimen- tação, pois nestes locais pode não haver desnutrição em quantidades, mas, com certeza, há déficit de nutrientes essenciais de uma boa dieta. ■ Os custos da desnutrição Quando se trata de desnutrição, muitos fatores englobam esta proble- mática. Como já mencionado, percebe-se o baixo crescimento estatural destas regiões, porém pudemos ver que os índices mostraram que, mesmo havendo a desnutrição, juntamente houve a obesidade, formando comuni- dades com elevados níveis de nanismo. Esta simbiose entre este parâmetro acomete uma dose extra de problemas no sistema de saúde, provenientes da desnutrição, pois esta parcela é amplamente afetada por deficiências nutricionais de micronutrientes, vitaminas e minerais. Esta condição pode ser conhecida por “fome oculta” e, além desta problemática, há também os índices de anemia em idade reprodutiva, outro fator de risco que evi- dencia a falta de nutrientes (FAO, 2018). No Brasil, o índice de pessoas vivendo na faixa de extrema pobreza está na casa de 7,4%, com dados levantados, no ano de 2017 (IBGE, 2018, on-line)3, o que equivale à quantidade de 13,5 milhões de pessoas. O mais impressionante é que, de acordo com o Banco Mundial, estas pessoas vivem com uma renda inferior a US$ 1,90 por dia, ou seja, R$ 140,00 por mês. PRODUÇÃO DE ALIMENTOS E O AUMENTO DA DEMANDA DE PRODUTIVIDADE Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E24 Com esta condição de vida, a pesquisa pode evidenciar que cerca de 27 milhões de pessoas, cerca de 13% da população brasileira, vivem em casas com características físicas inadequadas ou em condições de ocupação ou acesso a serviços de forma inadequada, o que demonstra uma densidade demográfica elevada com mais de três moradores por dormitório. O estudo pode citar, também, que as condições são mais desfavoráveis quando se trata da região nordeste (IBGE, 2018, on-line)3. Por nosso país ter proporções continentais, os índices podem variar, subs- tancialmente, de acordo com a região. Para a análise de coleta de lixo, por exemplo, no Amapá, 18,5% da população não possui coleta, enquanto Santa Catarina possui um índice de 1,6% e, no Maranhão, 32,7% da popu- lação não possui este serviço. Isto mostra que para todos os índices há uma grande diferença quando avaliamos regiões diferentes. O Brasil havia saído do mapa da pobreza O gráfico é resultado do processamento de microdados de Pnads Con- tínuas (a partir de 2012) e de Pnads de 1992 a 2011. As Pnads não são feitas nos anos em que são realizados os censos demográficos. Entre di- versas metodologias que apresentam números muito próximos, adota- -se mais frequentemente aquela seguida pelo programa Bolsa Família. A população em situação de extrema pobreza é aquela com rendimento domiciliar per capita de até R$ 70,00; e a população em situação de pobreza é aquela com rendimento de até R$ 140,00. Dados de junho de 2011, deflacionados/inflacionados pelo INPC para os meses de referên- cia de coleta da Pnad (Domenici, 2018, on-line)4. De acordo com fontes do IBGE, percebe-se que, no território nacional, 26,5% da população nacional encontra-se em alguma das condições defi- nidas como pobreza. Vemos, claramente, as condições de desigualdade perante o território, onde a grande maioria se encontra nas regiões norte e nordeste. Este sempre foi um grande desafio, pois estas regiões possuem condições climáticas desfavoráveis, assim como também uma população com menoresoportunidades de trabalho, estudo e condições de vida. Já discutimos, aqui nesta unidade, que situações de desnutrição acarretam muitas outras interferências no desenvolvimento de crianças nestas con- dições; estes fatores interferem, diretamente, no potencial competitivo e, consequentemente, nas condições de melhoria de vida dessas pessoas. Perspectivas e Desafios no Combate à Fome Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 25 PERSPECTIVAS E DESAFIOS NO COMBATE À FOME Segundo dados da FAO (2017), em, aproximadamente, dez anos, a produção de alimentos do planeta não será suficiente para sustentar a população global. Estudos gerenciados pelos Gro Intelligence, uma empresa de inteligência agrí- cola, mostram que o colapso terá início a partir do ano de 2027, com a falta de 214 trilhões de calorias, ou seja, faltará alimento. Esta previsão aponta que, no ano de 2050, haverá um número de 7,1 bilhões de habitantes no planeta, causando mais fome e desnutrição. Se nos dias atuais já temos deficiência de dietas em tantas comunidades, apesar de sermos plena- mente capazes de produzir quantidades necessárias para esta alimentação, imagine quando o número de pessoas superar esta quantidade. O mundo se tornará um caos, cada vez mais a detenção de tecnologia e território passíveis de plantio se tornarão razões de disputas e guerras, assim como ocorre hoje com petróleo. PRODUÇÃO DE ALIMENTOS E O AUMENTO DA DEMANDA DE PRODUTIVIDADE Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E26 2% 1.8% 1.6% 1.4% 1.2% 1.0% 0.8% 0.6% 0.4% 0.2% 0% 0.1% 1760 1780 1800 1820 1840 1860 1880 1900 1920 1940 1960 1980 2000 2020 2015 2040 2060 2080 2100 0.9 Bilhão 1.65 Bilhão 3 Bilhões 4.4 Bilhões 7.4 Bilhões 9.2 Bilhões 10.2 Bilhões 10.8 Bilhões 11.2 Bilhões Taxa de crescimento anual da população mundial População mundial Projeção Figura 3 - Dados dos estudos de crescimento populacional e produção de alimentos com perspectivas até o ano de 2100 Fonte: Our World in Data (2013, on-line)5. A Figura 3 mostra um gráfico retirado do site Our World in Data, que compi- lou os dados dos estudos de crescimento populacional e produção de alimentos com perspectivas até o ano de 2100, com base no ano de 2015 para os estudos, e podemos ver o momento em que se espera para o colapso entre os dois fatores. Um dado mais alarmante nestes estudos é sobre o fato de como estes são feitos. Até o presente momento, estivemos falando sobre a fome e a desnutrição nos dias atuais, com números relevantes a respeito, contudo há uma contradi- ção quanto ao dado que acabamos de citar, ou seja, se os estudos mostram que haverá falha entre quantidade de pessoas e quantidade de alimentos, mas, no cenário atual, encontra-se a desnutrição existente em função da falta de acesso aos alimentos saudáveis - que permitem fontes suficientes de nutrientes e, assim, poderiam diminuir a desnutrição e também o sobrepeso e obesidade. Hoje temos casos de desnutrição em recém-nascidos que já vêm ao mundo com esta enfer- midade, em função da condição de sobrevivência da mãe durante a gravidez, o que acarreta possíveis condições de sobrepeso das meninas, que terão, conse- quentemente, na vida adulta, anemia e se tornarão gestantes anêmicas com filhos desnutridos ao nascerem, gerando um ciclo infindável (FAO, 2018). Perspectivas e Desafios no Combate à Fome Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 27 Não podemos nos esquecer de que estas condições estão, diretamente, liga- das a regiões que possuem renda média familiar muito baixa, com pouco acesso a alimentos saudáveis e também a informações de suas condições de vida. A Figura 4 retirada do relatório El estado de la seguridad alimentaria y la nutrición en el mundo 2018 (FAO, 2018), ilustra a condição atual. PREVALÊNICA DE DESNUTRIÇÃO (%) 2005 2010 2012 2014 2016 20171 MUNDIAL 14,5 11,8 11,3 10,7 10,8 10,9 ÁFRICA 21,2 19,1 18,6 18,3 19,7 20,4 África setentrional 6,2 5,0 8,3 8,1 8,5 8,5 África subsaariana 24,3 21,7 21,0 20,7 22,3 23,2 África oriental 34,3 31,3 30,9 30,2 31,6 31,4 África central 32,4 27,8 26,0 24,2 25,7 26,1 África austral 6,5 7,1 6,9 7,4 8,2 8,4 África ocidental 12,3 10,4 10,4 10,7 12,8 15,1 ÁSIA 17,3 13,6 12,9 12,0 11,5 11,4 Ásia cental 11,1 7,3 6,2 5,9 6,0 6,2 Ásia oriental 14,1 11,2 9,9 8,8 8,5 8,5 Ásia sudoriental 18,1 12,3 10,6 9,7 9,9 9,8 Ásia meridional 21,5 17,2 17,1 16,1 15,1 14,8 Ásia ocidental 9,4 8,6 9,5 10,4 11,1 11,3 Ásia central e Ásia meridional 21,1 16,8 16,7 15,7 14,7 14,5 Ásia oriental e Ásia sudoriental 21,1 16,8 16,7 15,7 14,7 14,5 Ásia ocidental e África setentrional 15,2 11,5 10,1 9,0 8,9 8,9 AMÉRICA LATINA E CARIBE 9,1 6,8 6,4 6,2 6,1 6,1 Caribe 23,3 19,8 19,3 18,5 17,1 16,5 América Latina 8,1 5,9 5,4 5,3 5,3 5,4 América Central 8,4 7,2 7,2 6,8 6,3 6,2 América do Sul 7,9 5,3 4,7 4,7 4,9 5,0 OCEANIA 5,5 5,2 5,4 5,9 6,6 7,0 AMÉRICA SETENTRIONAL E EUROPA <2,5 <2,5 <2,5 <2,5 <2,5 <2,5 Figura 4 - Prevalência da Subalimentação no mundo, 2005-2017 Fonte: FAO (2018). PRODUÇÃO DE ALIMENTOS E O AUMENTO DA DEMANDA DE PRODUTIVIDADE Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E28 Sendo assim, se utilizarmos a fonte de quantidade, hoje não teríamos o problema de desnutrição, no entanto o que acabamos de perceber é que, atualmente, temos distintos problemas, como obesos desnutridos por falta de alimentação bem como sua distribuição adequadas, entre outros fatores ao redor do mundo (FAO, 2018). Menker questiona em seu estudo: Por que falamos de peso quando falamos de alimentos, se peso não referencia valor nutricional? Enquanto pensarmos em segurança alimentar em termos de números produzidos, continuaremos com o paradoxo de coexistência de desnutrição e obesidade em uma mesma comuni- dade (NOTÍCIAS AGRÍCOLAS, 2019, on-line)6. Esta afirmação, que embasa seus argumentos de uma forma sistêmica, pon- tuando que a produção de alimentos deve ser estudada a partir de sua produção, e atualmente os alimentos não são produzidos para que haja este balanceamento. Outro fator relevante é que os países que mais possuem crescimento populacio- nal são os maiores importadores líquidos de alimentos. Todas estas informações, se não forem tratadas com a devida importância, terão seus dados comprova- dos de forma prática, no ano de 2023, pois é quando o crescimento populacional atingirá o ponto de equilíbrio entre a produção agrícola. Neste ano, a população da China, Índia e África juntas serão mais da metade da população mundial, e todo este movimento fará com que os mercados exportadores façam movimen- tos diferenciados do que realizam atualmente. Outro fator que o estudo aponta é que nestes países, devido à globalização, a forma de alimentação deles também tem sofrido mudanças. A China, por exemplo, tem aumentado seu consumo de carne vermelha e, com o seu aumento populacional, este será um produto cada vez mais requerido em seus supermer- cados (NOTÍCIAS AGRÍCOLAS, 2019, on-line)6. Menker (on-line, 2017)7, em seu estudo à Gro Intelligence, ressalta que, para este colapso ser minimizado ou, até mesmo, erradicado, a produção e a forma de distribuição destes alimentos devem ser modificadas nos próximos anos. Ela cita que a principal reforma deve acontecer nas produções da África e Índia, uma vez que suas populações possuem o maior índice de crescimento. Deverá ser alterada a forma de cultivo no campo, bem como o consumo desses alimen- tos, buscando a diminuição do desperdício e melhora da dieta da população. Perspectivas e Desafios no Combate à Fome Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro de 19 98 . 29 ERRADICAÇÃO DA POBREZA FOME ZERO BOA SAÚDE E BEM-ESTAR IGUALDADE DE GÊNERO EDUCAÇÃO DE QUALIDADE ÁGUA LIMPA E SANEAMENTO ENERGIA ACESSÍVEL E LIMPA EMPREGO DIGNO E CRESCIMENTO ECONÔMICO REDUÇÃO DAS DESIGUALDADES CIDADES E COMUNIDADES SUSTENTÁVEIS CONSUMO E PRODUÇÃO RESPONSÁVEIS COMBATE ÀS ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS PAZ, JUSTIÇA E INSTITUIÇÕES PARCERIA EM PROL DAS METAS VIDA DE BAIXO D’ÁGUA VIDA SOBRE A TERRA INDÚSTRIA, INOVAÇÃO E INFRAESTRUTURA Figura 5 - Objetivos de Desenvolvimento Sustentável Fonte: Planeta Vivo (2016, on-line)8. PRODUÇÃO DE ALIMENTOS E O AUMENTO DA DEMANDA DE PRODUTIVIDADE Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E30 Tendo em vista que, para suprirmos estas necessidades, no ano de 2015, a Organização das Nações Unidas (ONU) desenvolveu um projeto com 17 ações para mudarem a forma de vida das pessoas buscando resolver esses problemas. A este projeto deu-se o nome de Agenda 2030, e a Figura 5 mostra os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), que nada mais são que ações para nos tornarmos mais sustentáveis, com a finalidade de erradicar a pobreza e a des- nutrição. Assim, foi definido que os países se comprometeriam a cumprir 17 objetivos, a fim de atingir as metas estabelecidas. 1. Acabar com a pobreza em todas as suas formas, em todos os lugares. 2. Acabar com a fome, alcançar a segurança alimentar e melhoria da nutri- ção e promover a agricultura sustentável. 3. Assegurar uma vida saudável e promover o bem-estar para todos, em todas as idades. 4. Assegurar a educação inclusiva e equitativa e de qualidade, e promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todos. 5. Alcançar a igualdade de gênero e empoderar todas as mulheres e meninas. 6. Assegurar a disponibilidade e gestão sustentável da água e saneamento para todos. 7. Assegurar o acesso confiável, sustentável, moderno e a preço acessível à energia para todos. 8. Promover o crescimento econômico sustentado, inclusivo e sustentável, emprego pleno e produtivo e trabalho decente para todos. 9. Construir infraestruturas resilientes, promover a industrialização inclu- siva e sustentável e fomentar a inovação. 10. Reduzir a desigualdade dentro dos países e entre eles. 11. Tornar as cidades e os assentamentos humanos inclusivos, seguros, resi- lientes e sustentáveis. 12. Assegurar padrões de produção e de consumo sustentáveis. 13. Tomar medidas urgentes para combater a mudança do clima e seus impactos. Perspectivas e Desafios no Combate à Fome Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 31 14. Conservação e uso sustentável dos oceanos, dos mares e dos recursos marinhos para o desenvolvimento sustentável. 15. Proteger, recuperar e promover o uso sustentável dos ecossistemas ter- restres, gerir de forma sustentável as florestas, combater a desertificação, deter e reverter a degradação da terra e deter a perda de biodiversidade. 16. Promover sociedades pacíficas e inclusivas para o desenvolvimento sus- tentável, proporcionar o acesso à justiça para todos e construir instituições eficazes, responsáveis e inclusivas em todos os níveis. 17. Fortalecer os meios de implementação e revitalizar a parceria global para o desenvolvimento sustentável (ONU, 2015, on-line)8. Esses objetivos foram embasados nos oito Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, que foram definidos, no ano de 2010, pela ONU, com os mesmos pro- pósitos de diminuição da pobreza e desnutrição e tinham validade até o ano de 2015. O Secretário Geral da ONU, Ban Ki-moon, cita que Não podemos desiludir os milhares de milhões de pessoas que espe- ram que a comunidade internacional cumpra a promessa de um mun- do melhor contida na Declaração do Milênio [...] Nosso mundo possui o conhecimento e os recursos necessários para alcançar os ODMs [...] Não alcançá-los seria um fracasso moral e prático inaceitável (UNIC RIO DE JANEIRO, 2010, on-line)9. Esta é a forma de mostrar que a ONU e seus governantes envolvidos acreditam que quando se estipulam metas, estas têm maior interesse por parte dos gover- nantes e, assim, facilitam o seu cumprimento (ONU, 2010, on-line)10. Sendo assim, podemos perceber que estas organizações estão buscando formas de man- ter a ordem neste crescimento. O programa bolsa família teve grande influência na saída do Brasil da linha da pobreza. Seu intuito principal é garantir a todas famílias do Brasil alimen- tação e educação. Fonte: Caixa Notícias ([2018], on-line)11. PRODUÇÃO DE ALIMENTOS E O AUMENTO DA DEMANDA DE PRODUTIVIDADE Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E32 O PAPEL DA BIOTECNOLOGIA COMO PROTEÇÃO À SEGURANÇA ALIMENTAR Com todos os problemas citados a respeito das condições de populações em situ- ações de pobreza, como alimentação com índices de subnutrição e deficitárias em nutrientes, problemas crônicos como a anemia e déficits de desenvolvimento cognitivos por falta de micronutrientes essenciais, deparamo-nos com proble- mas não apenas da não obtenção ou produção insuficiente de alimentos, mas também na qualidade e quantidade de qualidade de alimentos produzidos e a quantidade de terra gasta para esse tipo de agricultura. Neste sentido, inicia-se uma discussão a respeito de biodiversidade, como uma forma de resolver, não apenas o problema da fome e desnutrição, mas tam- bém como forma de interagir e tornar um mundo mais sustentável com utilização de energias renováveis, cumprindo, assim, alguns dos ODS da Agenda 2030. O Papel da Biotecnologia como Proteção à Segurança Alimentar Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 33 Logo, quando se trata deste assunto, não há como falarmos de biodiversi- dade e sustentabilidade sem falarmos sobre biotecnologias avançadas com o intuito de agregar valor às culturas, aumentar a produtividade, a sustentabili- dade e biodiversidade aos povos. O texto a seguir, escrito por Hélder Mateia, Responsável do Escritório da FAO em Portugal, descreve muito bem o papel da biotecnologia no âmbito da insegurança alimentar para a UNESCO: A biotecnologia é um instrumento de grande importância no combate à fome. Ela pode ajudar não só a promover mais produtividade na pro- dução de alimentos, mas também a utilização sustentável dos recursos agrícolas, pecuários, florestais e pesqueiros. A biotecnologia, lato senso, cobre um vasto leque de técnicas e instru- mentos empregues na agricultura e indústria alimentar, o que inclui práticas simples como a seleção de sementes, hibridização, insemina- ção artificial e enxertia de plantas. Todas essas técnicas, algumas delas milenares, cabem nesta definição mais ampla. Contudo, há quem se refira à biotecnologia no sentido mais restrito, cobrindo apenas as tecnologias genéticas e biologia molecular, como por exemplo a manipulação genética, marcadores de DNA e clonagem de plantas e animais (UNESCO, [2019], on-line, p. 1)12. Ainda pensando nas práticas biotecnológicas, a polêmica em torno de todo estudo gera, sem sombra de dúvidas, inúmeros debates acalorados entre estu- diosos das áreas, a favor e contra, além de envolverem a comunidade civil, que possuem pouco ou nenhum conhecimento real a respeito do tema. Contudo percebemos que, nos dias atuais, mais do que nunca, se faz necessário abordar os temas de forma franca e com responsabilidade, pois a necessidade latente de que as pessoas entendam do que realmente trata a biotecnologia, a manipula- ção genética para a produção de alimentos, para que possamos travar a batalha contra a fome de forma franca e segura. Na atualidade, temos um número aproximado de mais de 800 milhões de pes- soas que passam fome. Este quadro é cada vez mais agravado pelo crescimentoPRODUÇÃO DE ALIMENTOS E O AUMENTO DA DEMANDA DE PRODUTIVIDADE Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E34 demográfico, que, de uma forma geral, se desbalanceado a equação de equilí- brio entre pessoas e alimentos, recursos naturais de uma forma geral. Estudos mostram que, se os sistemas produtivos não forem melhorados, no ano de 2050, teremos cerca de 9 milhões de pessoas ao redor do mundo que, consequentemente, necessitarão se alimentar e, logo, a produção de alimentos deverá ser aumentada. A equação de produção de alimentos e pessoas cada vez mais se desequilibra. Neste sentido, como temos dito ao longo desta a unidade, a biotecnologia é uma arma poderosa que, quando bem manipulada pode auxiliar extremamente a resolver estes dilemas. Afinal devemos levar em consideração o amplo campo de aplicação desta ciência, tanto os que já conhecemos, quanto aos que ainda não conhecemos e possuem um potencial imenso, como forma de solucionar- mos problemas. Talvez você esteja pensado que esse professor acredita que a biotecnologia é a solução para todos os problemas do mundo, que deve ser um aficcionado pelo tema, deve estar louco. Não é bem assim; na realidade, a solução para os problemas de sustentabilidade do mundo não está apenas nas mãos da ciência, mas sim nas mãos de cada uma de nós, afinal, nossa forma de consumo ditará a real necessidade de produção mundial. Contudo a Biotecnologia vem sim como um braço aliado à melhoria na qualidade destas produções, mesmo porque, quando se trata de organismos geneticamente modificados, devemos tomar certos cuidados e levarmos em consideração seus fatores principais. Temos que ter em mente que esta tecnologia deve ser usada para a melho- ria e sustentabilidade do planeta de forma geral. Neste sentido, a biotecnologia traz soluções de produtividade e além, pois podemos pensar em formas de sanar problemas nutricionais, melhorando características de alimentos que podem ser utilizados no combate à desnutrição. Temos, inclusive, a utilização da biotecno- logia no campo da medicina e farmácia com a engenharia genética no combate a doenças, na produção de novos medicamentos e vacinas, mostrando a ampli- tude de sua utilização. Apesar de todos esses benefícios comentados e potenciais de utilização, não podemos nos esquecer dos riscos por trás de toda esta manipulação. Veremos, nas unidades subsequentes, o quanto todo esse processo é complexo e todos O Papel da Biotecnologia como Proteção à Segurança Alimentar Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 35 os cuidados e resguardos legislativos e científicos para garantir a segurança. Afinal, há possibilidades de se produzirem novas toxinas, desencadear novas reações alérgicas, criar novas espécies invasoras, das quais não temos controle e, até mesmo, promover a perda da biodiversidade, interferindo nas cadeias e no equilíbrio natural. Logo, a utilização da biotecnologia deve ser consciente, levando em conside- ração todos os possíveis riscos na criação de OGM, para que todas as vantagens deste método sejam utilizadas, porém com segurança. Tendo em vista que essas palavras são de dentro de órgãos que se preocupam veementemente com o combate à fome, podemos concordar que, como caminho para que possamos ter um futuro melhor, alimentos mais saudáveis e em quanti- dades suficientes para atender à demanda mundial, a biotecnologia é uma opção de muito valor e que deve ser não apenas explorada, mas também desmistificada. A biotecnologia é uma ciência que, apesar de parecer muito contemporânea, tem sua origem num histórico distante, cerca de seis mil anos, quando foram encontrados relatos da utilização de microrganismos para produção de alimen- tos por meio das fermentações como a produção de cervejas, pães e vinhos. Com o passar do tempo e o conhecimento desta tecnologia, avanços agrí- colas passaram a utilizar melhoramentos genéticos de formas simples, uma vez que começou a ser possível a utilização de alterações de acordo com a necessi- dade do homem, tornando este um marco histórico para a biotecnologia. Após estes acontecimentos, na década de 1970, metodologias específicas começaram a ser usadas para o sequenciamento do DNA, para que se pudesse conhecer e manipular de forma controlada. Neste sentido, foi possível selecionar e codifi- car os genes de interesse em processos de seleção assistida, dando início a era dos transgênicos. Sendo assim, em uma análise bruta a respeito deste assunto, percebemos que os alimentos transgênicos são um caminho sem volta e que devemos nos habituar a essa ciência e conhecê-la para que possamos, de uma maneira geral, entender e cobrar para que ela seja usada para o que foi criada: resolver os pro- blemas da fome e desnutrição, assim como sustentabilidade mundial. PRODUÇÃO DE ALIMENTOS E O AUMENTO DA DEMANDA DE PRODUTIVIDADE Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E36 CONSIDERAÇÕES FINAIS Bem, chegamos ao final da primeira unidade de um conteúdo denso e de muita curiosidade. Espero que esta unidade tenha dado base para que você possa ter informações suficientes para criar um senso crítico a respeito do assunto de bio- tecnologia, sua necessidade e seus riscos. Gostaria que, em nenhum momento de nossos estudos, deixemos de lado os dados a respeito da desnutrição, das condições de pobreza a que muitas pes- soas estão expostas. Estas pessoas que, muitas vezes, encontram-se não apenas com fome de barriga vazia, mas uma fome mais profunda que esse sentimento fisiológico, uma fome que vem de alimentos que lhe permitam trazer saúde, desenvolvimento e sustento para que possam atingir algum objetivo, mesmo quando estas sequer sabem o que significa ter um objetivo em suas vidas. Não nos esqueçamos de que as condições em que vivemos são as que nos dão digni- dade e identidade de quem somos e onde podemos chegar - quando não temos nem alimento, como poderemos nos reconhecer? Quando não podemos colocar alimento na mesa de nossa família, quem podemos pensar que somos? A questão social por trás da alimentação é muito maior que simplesmente barriga cheia. A alimentação é algo de extrema importância e, quando bem feita, tem o poder de dar energia e vitalidade além da saúde. Uma pessoa que tem acesso à alimentação saudável tem também alimentado sua autoestima, tendo forças para a batalha diária, sentindo-se digno de ter mais coragem para bata- lhar por seus sonhos e anseios. O que podemos fazer para que todo este cenário possa mudar ou, talvez, ape- nas melhorar? Há algo que possamos fazer para os olhos de uma criança brilhar e fazê-la acreditar que pode ter um futuro melhor - que pode haver um futuro? Sejamos nós a peça que pode mudar a vida de quem sequer sabemos o nome. Um grande abraço e até a próxima! 1. De acordo com informações da ONU, no ano de 2017, a população mundial atingiu, aproximadamente, 7,6 bilhões de habitantes e, numa projeção para o ano de 2050, a população atingirá cerca de 9,7 bilhões de habitantes. Tendo em vista esses dados, podemos dizer que eles são baseados nas taxas de natalidade das regiões mundiais que, em um balanço geral, encontra-se positi- vo e leva ao aumento de pessoas. Contudo existe um continente que a taxa de natalidade é negativa. Assinale a alternativa que apresenta esta região. a) África. b) Ásia. c) Europa. d) América Latina. e) Oceania. 2. A FAO, em 2013, divulgou que as áreas agrícolas disponíveis estão concentra- das em poucos países, sendo que 90% das terras passíveis de expansão para exploração encontram-se em regiões distintas do globo, enquanto algumas não possuem mais esta capacidade. Entre as regiões nestas condições, quais das citadas a seguir ainda possuem esta possibilidade de expansão? a) Brasil. b) China. c) Itália. d) Espanha. e)América do Norte. 3. Inúmeras são as definições de pobreza perante as organizações do setor que se preocupam com as condições da insegurança alimentar. Segundo a Organi- zação das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), essa definição possui uma explanação bem clara. Entre as alternativas a seguir, assinale a que define corretamente esta proposição. a) Quantidade de calorias ingeridas diárias por meio de seus rendimentos, no caso, uma dieta de 1750 calorias/dia. b) Capacidade de obter 2200 calorias diárias. c) Pessoa que possui uma renda de US$ 1,25 por dia. d) Ganha 60% em relação à renda média do país. e) Quem possui uma renda igual ou inferior a 2.500,00 reais. 37 38 4. O Dado que trata diretamente do número de crianças com desnutrição aponta que, no ano de 2017, ao todo, 7,5% das crianças com menos de cinco anos, ou seja, aproximadamente, 50,5 milhões, estão em estado de desnutrição aguda, o que leva ao baixo peso e à falta de desenvolvimento de estatura, levando-as a uma condição superior às demais de risco de morte. O trecho apresentado descreve um dado monitorado pelas organizações res- ponsáveis. Assinale a alternativa que mostra de qual se trata. a) Emaciação. b) Sobrepeso infantil. c) Obesidade adulta. d) Desnutrição e seus custos. e) Desnutrição obesa. 5. A população em situação de extrema pobreza é aquela com rendimento do- miciliar per capita de até R$ 70,00, e a população em situação de pobreza é aquela com rendimento de até R$ 140,00. Tendo em vista essa condição, qual a porcentagem média do Brasil de pessoas vivendo nessas condições? a) 45%. b) 15,6%. c) 26,5%. d) 30 a 40%. e) Maior que 45%. A FALTA DE INFORMAÇÃO SOBRE OS ORGANISMOS GENETICAMENTE MODIFICADOS NO BRASIL Organismos Geneticamente Modificados: contexto brasileiro Atualmente, vivemos em um período caracterizado pelo alto desenvolvimento cientí- fico e tecnológico. Período este fundamentado em incertezas oriundas dos processos tecnológicos das últimas décadas. No entanto, os OGMs são frutos dessas novas tecnologias - biotecnologias. A biotec- nologia é definida, segundo o informe publicado pela Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico, como “a aplicação de princípios científicos e técnicos ao tratamento de matérias por agentes biológicos para obter bens e serviços”. Ainda de acordo com essa definição, os agentes biológicos são: microorganismos, células animais e vegetais e enzimas. E os bens e serviços são produtos das indústrias do ramo de ali- mentação, bebidas, farmácia e biomedicina. Os OGMs são aqueles organismos, no caso as plantas, que têm seu material genético mo- dificado pela introdução de um ou mais genes através da técnica de biologia molecular. Assim, genes oriundos de diferentes vegetais, animais ou microorganismos podem ser introduzidos em um genoma vegetal receptor, conferindo às plantas, novas características para a otimização da produção de alimentos, fármacos e outros produtos industriais. Há muitos anos, plantas são cultivadas por meio da manipulação genética, mas, só recente- mente, a biotecnologia passou a ser considerada prioritária, por ser um instrumento de ex- trema valia e poder, determinador de progressos e ao mesmo tempo causador de incertezas. A década de 1970 ficou marcada pelos grandes avanços que ocorreram na biologia mo- lecular e na genética, proporcionando o atual progresso e o desenvolvimento biotecno- lógico. A partir desse momento, micróbios, vegetais e animais, passaram a ser produzi- dos por transgenia. Já na década de 1980 e 1990, as biotecnologias passaram a ser objeto de diversas pes- quisas e de intensas discussões no âmbito internacional. Segundo Monquero, baseado no relatório da FAO, os primeiros experimentos de campo foram desenvolvidos em 1986 nos Estados Unidos e na França. Já a China foi o primeiro país a comercializar plantas transgênicas no início da década de 90, com a introdução do fumo resistente a vírus, seguido pelo tomate resistente a vírus. No Brasil, a liberação da soja transgênica acha-se regulada desde 1995 pela Lei de Biossegurança nº. 8.974, revogada pela Lei 11.105 de 2005, que fixa as normas coordenadas pela Comissão Técnica Nacional de Biosseguran- ça (CTNBio) para uso dessa técnica de engenharia genética. Nos últimos anos, diversas variedades de plantas geneticamente modificadas foram aprovadas e introduzidas para a plantação, como a soja, o milho, a canola e o algodão. Dentre essas plantas, a mais comercializada é a soja Roundup Ready, cuja patente per- tence à empresa multinacional norte-americana Monsanto, que foi desenvolvida atra- vés da introdução de um gene oriundo de uma bactéria do gênero Agrobacterium, per- tencente ao solo, para aumentar a tolerância ao herbicida glifosfato. 39 40 No Brasil, o cultivo de plantas geneticamente modificadas se iniciou no fim da déca- da de 1990 durante o governo de Fernando Henrique Cardoso. A soja transgênica foi plantada ilegalmente no Brasil, Rio Grande do Sul, através de contrabando vindo da Ar- gentina, onde a mesma já era plantada em larga escala. Logo, a soja Roundup Ready seria objeto da primeira solicitação de autorização para cultivo transgênico em escala comercial no país, recebendo, na sequência, parecer favorável da CTNBio. Após a auto- rização concedida por esta, o Greenpeace e o Instituto de Defesa do Consumidor (IDEC) entraram com um processo na 6ª Vara de Justiça Federal contra a Monsanto e o Governo Federal. Esse processo marcou o início da moratória judicial para liberações comerciais de transgênicos no Brasil e fez com que as variedades transgênicas permanecessem fora do mercado entre 1998 e 2003. A fim de resolver o impasse gerado pelas lavouras ilegais de soja transgênica, o governo do presidente Luis Inácio Lula da Silva, cedendo à pressão por parte da Monsanto, do Rio Grande do Sul e dos produtores que haviam plantado soja ilegalmente no Brasil, autorizou em 26 de março de 2003 a Medida Provisória 113, que permite o uso comer- cial dessa soja ilegal para consumo humano e animal destinado à comercialização no mercado interno ou externo, até janeiro de 2004. Cabe destacar que, durante esse período de nove anos, entre 1996 e 2004, a área total cultivada com lavouras transgênicas cresceu mais de 47 vezes, passando de 1,7 milhão de hectares em 1996 para 81,0 milhões de hectares em 2004. Nesse mesmo período, o número de países que cultivam plantas transgênicas aumentou de 6 para 21. Já nos anos de 2003 e 2004 houve um crescimento maior na área de lavouras geneticamente modifi- cadas nos países em desenvolvimento, se comparado com os países industrializados. Contudo, apenas em março de 2005, a fim de adequar a lei com a realidade existente na plantação de OGM no país, o Presidente Lula sancionou a nova Lei de Biossegurança 11.105, de 24 de mar de 2005, que regulamenta decisivamente o plantio e a comerciali- zação das variedades transgênicas no país. Após a criação da lei 11.105 de 2005, a disputa pela legitimação da soja transgênica foi encerrada. Apesar disso, as disputas internas a respeito da biotecnologia continua- ram, devido à contínua expansão do cultivo de OGM no Brasil e no mundo e à posição de destaque do país nesse cultivo. Como disposto no relatório recente publicado pelo ISAAA, o aumento do cultivo de OGM entre 2007 e 2008 foi de 9,4% ou 10,7 milhões de hectares. Passando para 25 o número de países que cultivam plantas transgênicas. Além disso, merecem destaque cinco países em desenvolvimento que estão exercendo liderança e incentivando a adoção global das lavouras biotecnológicas. São eles: China, Índia, Argentina, Brasil, e África do Sul. De acordo com esse mesmo relatório, os países que mais plantam OGM são, na ordem: os Estados Unidos, a Argentina e o Brasil, este com 15,8 milhões de hectares. Hoje, são três as plantas transgênicas cultivadas no país: a soja, o milho e o algodão. Fonte: Ribeiro e Marin (2010). Material Complementar MATERIAL COMPLEMENTARBiotecnologia e Nutrição Neuza Maria Brunoro Costa Editora: Nobel Editora Sinopse: a Biotecnologia aplicada aos alimentos não apenas proporciona o aumento da produção, mas também atende à demanda dos consumidores por alimentos mais seguros, nutritivos, saudáveis, saborosos e adequados. Ultimamente, a aplicação de Biotecnologia às plantas vem sendo direcionada para aumentar sua qualidade nutricional, de modo a produzir alimentos nutricionalmente fortificados e, assim, deixar de adicionar componentes sintéticos aos alimentos processados. Com o objetivo de traduzir os benefícios científicos da Biotecnologia para uma linguagem acessível a estudantes, profissionais de áreas afins e leitores ávidos por informações, modificados ao consumidor final. Food Evolution Ano: 2016 Sinopse: Food Evolution foi lançado nos Estados Unidos, em junho. Dirigido pelo norte-americano Scott Hamilton Kennedy, o documentário “Food Evolution” aborda a produção global de alimentos e o uso da biotecnologia nos transgênicos. O filme traz a opinião de cientistas que pesquisam e trabalham com organismos geneticamente modificados e de ativistas contrários. O material a seguir traz o Relatório global sobre crises alimentares 2017, acerca da crise da produção de alimentos, e os dados são alarmantes e complementam todo o tema abordado na unidade. Faça bom proveito e busque além do texto indicado. Web: http://www.fao.org/emergencies/resources/documents/resources-detail/en/c/876564/ A agenda 2030 foi criada no ano de 2015, em um evento onde líderes mundiais reuniram-se na sede da ONU, em Nova York, para avaliar as condições do mundo de uma forma abrangente e realista. Acesse link disponível em: http://www.agenda2030.com.br/sobre que o direcionará ao site que explica a respeito. REFERÊNCIASREFERÊNCIAS CARRER, H.; BARBOSA, A.L.; RAMIRO, D.A Biotecnologia na agricultura. Estudos Avançados. São Paulo, v. 24, n. 70, 2010. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/ S0103-40142010000300010. Acesso em: 29 jul. 2019. FAO. FAO Statistical Yearbook 2013: World food and agriculture. Rome: FAO, 2013. Disponível em: http://www.fao.org/3/i3107e/i3107e.PDF. Acesso em: 29 jul. 2019. FAO. The state of food insecurity in the world 2014: Strengthening the enabling environment for food security and nutrition. Rome: FAO, 2014. Disponível em: http:// www.fao.org/3/a-i4030e.pdf. Acesso em: 29 jul. 2019. FAO. El estado de la seguridad alimentaria y la nutrición en el mundo. Fomen- tando la resiliencia climática en aras de la seguridad alimentaria y la nutrición. Roma: FAO, 2018. . RIBEIRO, I.G.; MARIN, V.A. A falta de informação sobre os Organismos Genetica- mente Modificados no Brasil. Ciência & Saúde Coletiva (on-line), v. 24, n. 6. p. 1-10. Disponível em: https://www.scielosp.org/scielo.php?script=sci_arttext&pi- d=S1413-81232012000200010. Acesso em: 09 jul. 2019. SAATH,K.C.O.; FACHINELLO, A.L. Crescimento da demanda mundial de alimentos e restrições do fator terra no Brasil. Rev. Econ. Sociol. Rural [online]. 2018, v. 56, n. 2, p. 195-212. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pi- d=S010320032018000200195&lng=en&nrm=iso. Acesso em: 29 jul. 2019. UNITED NATIONS. Department of economic and social affairs The United Nations. Population Division, Population Estimates and Projections Section. New York: United Nations, 2012. REFERÊNCIAS ON-LINE 1 Em: https://www.un.org/development/desa/publications/world-population-pros- pects-the-2017-revision.html. Acesso em: 29 jul. 2019. 2 Em: https://nacoesunidas.org/onu-108-milhoes-de-pessoas-enfrentam-grave-inse- guranca-alimentar-no-mundo/. Acesso em: 29 jul. 2019. 3 Em: https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-noticias/2012-agencia-de-noti- cias/noticias/23299-pobreza-aumenta-e-atinge-54-8-milhoes-de-pessoas-em-2017. Acesso em: 29 jul. 2019. 4 Em: http://www.justificando.com/2018/07/11/extrema-pobreza-atinge-niveis-de- -12-anos-atras-e-brasil-deve-voltar-ao-mapa-da-fome/. Acesso em: 29 jul. 2019. 5 Em: https://ourworldindata.org/world-population-growth. Acesso em: 29 jul. 2019. 6 Em: https://www.noticiasagricolas.com.br/noticias/agronegocio/201220-em-10-a- nos-o-mundo-podera-nao-ter-producao-de-alimentos-suficiente-para-sustentar- -o-crescimento-populacional.html#.XG3wHFRKjIU. Acesso em: 29 jul. 2019. REFERÊNCIAS 43 7 Em: https://gro-intelligence.com/insights/214-trilhttps://grointelligence.com/insi- ghts/214-trillion-calories#Futurelion-calories#Future. Acesso em: 29 jul. 2019. 8 Em: https://nacoesunidas.org/pos2015/agenda2030/. Acesso em: 29 jul. 2019. 9 Em: http://unicrio.org.br/cupula-das-nacoes-unidas-sobre-os-objetivos-de-desen- volvimento-do-milenio-nova-york-%E2%80%93-20-a-22-de-setembro-de-2010/. Acesso em: 06 jul. 2019. 10 Em: https://nacoesunidas.org/cupula-das-nacoes-unidas-sobre-os-objetivos-de- -desenvolvimento-do-milenio-nova-york-20-a-22-de-setembro-de-2010/. Acesso em: 29 jul. 2019. 11 Em: http://www.caixa.gov.br/programas-sociais/bolsa-familia/Paginas/default.aspx. Acesso em: 29 jul. 2019. 12 Em: https://www.unescoportugal.mne.pt/images/FAO/O_Papel_da_Biotecnolo- gia_no_combate_%C3%A0_Fome_final.docx. Acesso em: 06 jul. 2019. GABARITOGABARITO 1. C. 2. A. 3. A. 4. A. 5. C. U N ID A D E II Professor Dr. Gustavo Affonso Pisano Mateus Professora Dra. Maria Fernanda Francelin Carvalho FUNDAMENTOS BIOTECNOLÓGICOS Objetivos de Aprendizagem ■ Conceituar Biotecnologia, explicitando seu contexto e desenvolvimento histórico. ■ Conhecer as relações resultantes da descoberta da tecnologia do DNA, os princípios básicos da biologia celular e relacioná-los com os avanços Biotecnológicos. ■ Conhecer alguns dos Bioprocessos presentes nos processos da indústria. Plano de Estudo A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: ■ Introdução à Biotecnologia ■ Tecnologia do DNA ■ Bioprocessos Introdução Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 47 INTRODUÇÃO Olá, caro(a) aluno(a)! Seja bem-vindo(a) à nossa segunda unidade de Biossegurança na cadeia de Alimentos. Nesta unidade, direcionaremos nossa reflexão aos fun- damentos biotecnológicos que serão relevantes para a compreensão de como a biossegurança se dá, regula e permeia a produção de alimentos, na atuali- dade. Ainda, os fundamentos desta grande e relevante ciência nos possibilitará compreender juntos como o maquinário celular permite e possibilita a vida e, consequentemente, as alterações de origem antrópica. Partindo desta premissa biotecnológica e de uma retrospectiva histórica acerca dos avanços e das descobertas que ocorreram na história da humani- dade e que compõem a biotecnologia clássica e moderna, conheceremos alguns dos processos envolvidos na tecnologia do DNA recombinante. A descoberta e a manipulação do DNA à luz da biotecnologia representa um grande marco histórico e possibilitou à humanidade utilizar todo o potencial natural em bene- fício próprio, seja no desenvolvimento de produtos inovadores, diminuindo desvantagens presentes no cultivo seja no processo produtivo ou, ainda, no enri- quecimento nutricional de alimentos. Por fim, conheceremos os processos biotecnológicos denominados biopro- cessos, que, em outras palavras, podem ser também intitulados processos de fermentação. Estes já se fazem presentes na história da humanidade muito antes das descobertas e dos avanços científicos que possibilitaram uma mudança no paradigma produtivo global, como o processo de panificação, de produção de vinho, cerveja, queijos e iogurtes. Assim, munidos de uma compreensão inicial e de um entendimento de como os processos biotecnológicos ocorrem, poderemos construir um diálogo efetivo acerca da efetividade e participação da biossegurança, biotecnologia e da enge- nharia genética nas diferentes cadeias produtivas. Bons estudos! FUNDAMENTOS BIOTECNOLÓGICOS Reprodução proibida. A rt.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IIU N I D A D E48 INTRODUÇÃO À BIOTECNOLOGIA O surgimento da biotecnologia está atrelado e é indissociável ao advento de fenômenos sociais, estes que acompanham os seres humanos desde a antigui- dade, contribuindo com o desenvolvimento da humanidade nos mais variados aspectos. As técnicas e os princípios do século XXI são diferentes das técnicas empregadas na biotecnologia do século passado, o que torna essa ciência dinâ- mica e inovadora, porém os princípios envolvidos não se diferem. O princípio da primeira definição do termo biotecnologia deu-se em 1914, pelo engenheiro agrícola Karl Ereky, que desenvolvia, na época, um plano auda- cioso para criação de suínos, no qual ele pretendia substituir práticas tradicionais por práticas da indústria agrícola pautada em desenvolvimento científico e tecno- lógico. Alguns anos depois, em 1915, surge a primeira definição de biotecnologia como ciência e métodos, que possibilitam a obtenção de produtos a partir da maté- ria-prima e mediante a intervenção de organismos vivos (MALAJOVICH, 2016). Apesar de termos abordado uma breve definição de Biotecnologia ao final da Unidade I, neste momento, torna-se relevante conhecer diferentes definições que Introdução à Biotecnologia Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 49 permearão todas as nossas discussões relacionadas a essa complexa e tão relevante ciência, em especial ao considerarmos as duas vertentes que a orientam: uma tradicionalista e outra contemporânea, dando origem ao termos Biotecnologia Tradicional e Biotecnologia Moderna. A Biotecnologia Tradicional, ou Clássica, relaciona-se, diretamente, com o desenvolvimento da humanidade em uma perspectiva histórica. Tal afirma- ção faz-se verdadeira, devido à variedade de evidências históricas que indicam o emprego de meios e recursos biológicos voltados ao desenvolvimento de bens e serviços. Segundo Ninis e Bilibio (2012), a separação da condição animal do homem ocorreu devido a uma série de fatores, entre eles: o domínio do fogo, a aquisição da linguagem, a formação de sociedades e o desenvolvimento e apri- moramento da agricultura. Neste viés, outros exemplos também podem ser citados, em relação à biotecno- logia tradicional, como a domesticação de animais, a transformação de alimentos e a apropriação de propriedades medicinais de algumas plantas, e todas essas ações citadas, dentro de uma perspectiva histórica, ocorreram sem um aprofundamento científico e eram baseadas apenas em conhecimentos empíricos, desconside- rando leis de hereditariedade e a existência de microrganismos (MALAJOVICH, 2016). Estima-se que há 8000 anos a.C., na Mesopotâmia, considerada o berço da civilização, algumas plantas e sementes eram selecionadas, considerando suas características favoráveis ao aumento das colheitas. Outros exemplos históricos relevantes de aplicações da biotecnologia tradicional consistem na utilização de microrganismos (leveduras e bactérias) para a fermentação da uva na produção de vinho, utilização do trigo na produção de pão, além da fermentação do leite na produção de queijos (FALEIRO; ANDRADE; REIS JUNIOR, 2011). Assim, seguindo uma trilha histórica evolutiva, o progresso da civilização exigiu processos industriais mais eficientes, tornando indispensável a compreen- são/utilização de recursos naturais, a fim de atender às necessidades da sociedade e definir a Biotecnologia Moderna (BORÉM; SANTOS, 2008). Essa evolução é atribuída principalmente à biotecnologia aplicada à economia, sociedade e bene- fícios ambientais, passando de tecnologias tradicionais para as técnicas modernas, que contemplam diferentes áreas, como a bioquímica, a imunologia, a genética, a biologia celular e molecular (FALEIRO; ANDRADE; REIS JUNIOR, 2011). FUNDAMENTOS BIOTECNOLÓGICOS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IIU N I D A D E50 Apesar do que se pensa, a descoberta e avanços em relação ao modelo helicoi- dal da molécula de DNA (ácido desoxirribonucleico) por Watson e Crick, em 1953, não representa um marco transitório entre os conceitos de Biotecnologia Tradicional e Moderna. Esse marco foi representado por uma série de experi- ências realizadas por Boyer e Cohen que resultou na transferência de um gene de um sapo a uma bactéria, em 1973 (OCTAVIANI, 2013), possibilitando alte- rar o programa genético de um organismo, transferindo-lhes genes de interesse que tivera origem em outra espécie. Tal avanço influenciou na realização da Conferência de Asilomar, em 1974. Nessa conferência, foram tratadas questões acerca dos riscos das técnicas de engenharia genética e também na segurança dos espaços laboratoriais que foram devidamente exploradas um pouco mais tarde (ALBUQUERQUE, 2001). Assim, observa-se uma diferenciação entre esses conceitos, o que explicita seus impactos na sociedade e, consequentemente, a relevância desta ciência. Vejamos, agora, uma linha do tempo, que representa alguns eventos que explicitam em tra- jetória histórica marcos contemplados pela Biotecnologia Clássica e Moderna. Introdução à Biotecnologia Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 51 Antiguidade Biotecnologia Clássica Biotecnologia Moderna Pão, queijo, cerveja, vinho. Século XIX Microbiologia, Bioquímica, Imunologia, Biologia celular, Genética. 1907-1909 ���������������� de tecidos animais e humanos. 1914-1918 Produção de acetona por fermentação. 1919 Primeira de�nição do termo Biotecnologia (Ereky). 1939 ���������������� de tecidos vegetais. 1944 Produção de penicilina. Biologia Molecular. 1953 Modelo da dupla hélice de DNA. 1973 Tecnologia do DNA-recombinante. 1975 Tecnologia de hibridomas*. 1975-1990 Tecnologia do DNA, bases comerciais e primeiras patentes. 1990-2000 Bens e serviços em vários setores da sociedade (primeira planta geneticamente modi�cada e primeiro mamífero a ser clonado - Ovelha Dolly). 2001-2003 Genoma humano e avanços da Genômica**. 2004 Primeira conferência sobre Biologia Sintética. 2009 Obtenção de células iPS*** por reprogramação de células somáticas diferenciadas. 2010 Edição gênica com CRISPR (Clustered Regularly Interspaced short Palindromic Repeats)****. * Hibridomas correspondem a linhagens celulares desenvolvidas para a produção de anticor- pos desejados em grande proporção. ** Ciência que estuda o genoma completo de um organismo, em outras palavras, destina-se ao estudo de toda a informação hereditária de um organismo que está codi�cada em seu DNA. A Genômica pode ainda compreender os esforços para determinar e conhecer a sequência completa do DNA de organismos de interesse. *** iPS correspondem ao termo células tronco pluripotentes que podem dar origem a qualquer tipo de célula fetal ou adulta. **** A tradução do termo signi�ca Repetições Curtas Agrupadas e Regularmente Inter espaçadas, que correspondem a sequências de DNA bacteriano (repetições de nucleotídeos) em forma de palíndromo, este que pode ser lido ou codi�cado em qualquer um dos sentidos. Figura 1 - Linha histórica de acontecimentos e marcos relevantes a Biotecnologia Clássica e Moderna Fonte: adaptada de Malajovich (2017). FUNDAMENTOS BIOTECNOLÓGICOS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IIU N I D A D E52 Embora a manipulação gênica e genômica estrutural tenham impulsionado a bio- tecnologia, conforme podemos observar na figura apresentada anteriormente, as técnicas da engenharia genética não são as únicas ferramentas disponíveis para esta ciência. A biotecnologia moderna caracteriza-se como multidisciplinar, pois abrange áreas desde a ciência básica (biologia molecular, ecologia, micro- biologia, biologia celular, genética, virologia
Compartilhar