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Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da __ª Vara Cível do Juizado Especial do Estado de São Paulo SÉRGIO SALOMÃO SHECAIRA, brasileiro, divorciado, residente na Rua Aimberé 736, Perdizes, São Paulo, SP, CEP 05018-011, portador de documento de identidade RG nº 11.781.563-9, inscrito no CPF/MF sob o nº 060.303.018-10, Professor da Universidade de São Paulo, vem, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, ajuizar a presente AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS cumulada com OBRIGAÇÃO DE FAZER, em face de JANAÍNA CONCEIÇÃO PASCHOAL, brasileira, casada, advogada e professora da Faculdade de Direito da USP, portadora da cédula de identidade RG nº 24.130.055-1 SSP/SP, residente e domiciliada à Alameda Franca, nº 84, apto. 202, São Paulo/SP, pelas razões de fato e de direito a seguir aduzidas. DOS FATOS No período de 11 a 15 de setembro de 2017 foi realizado concurso para professor titular do Departamento de Direito Penal, Criminologia e Medicina Forense da Universidade de São Paulo (Edital FD -24/2016 anexo). Participaram do concurso quatro candidatos (Alamiro Velludo Salvador Netto, Ana Elisa Liberatore Silva Bechara, Mariângela Gama de Magalhães Gomes e Janaína Paschoal), que foram devidamente avaliados por banca composta por cinco membros, quais sejam: Sérgio Salomão Shecaira, Renato Jorge de Mello Silveira, Cláudio Roberto Cintra Bezerra Brandão, Maria Auxiliadora Minahim e Vittorio Manes. O resultado final das avaliações foi divulgado (Edital ATC – 29/2017 anexo), ficando Alamiro Velludo Salvador Netto em primeiro lugar, seguido por Ana Elisa Liberatore Silva Bechara. Além disso, Mariângela Gama de Magalhães foi aprovada, ficando em terceiro lugar no concurso, enquanto Janaína Paschoal reprovada, não atingindo a nota mínima exigida. Pouco tempo após a divulgação do resultado, a candidata Janaína Paschoal passou a manifestar-se publicamente em suas redes sociais, acusando irresponsavelmente a banca do concurso de ter favorecido os candidatos aprovados, por uma alegada existência de relação íntima e pessoal do primeiro colocado com os avaliadores, o que teria lhe gerado um favorecimento de forma claramente desleal. Acusou especialmente este manifestante, alegando a sua participação em um esquema de favorecimento do candidato aprovado, bem como afirmando sua conivência com plágio supostamente feito pelo candidato vencedor. A sequência integral das declarações publicadas pela requerida acompanha esta inicial, mas cabe mencionar desde já de que forma iniciaram as acusações tecidas contra este requerente: 1 1 https://twitter.com/JanainaDoBrasil/status/913721773597839360 https://twitter.com/JanainaDoBrasil/status/913721773597839360 2 3 4 2 https://twitter.com/JanainaDoBrasil/status/913721999352098817 3 https://twitter.com/JanainaDoBrasil/status/913722153970880512 4 https://twitter.com/JanainaDoBrasil/status/913722427104010240 https://twitter.com/JanainaDoBrasil/status/913721999352098817 https://twitter.com/JanainaDoBrasil/status/913722153970880512 https://twitter.com/JanainaDoBrasil/status/913722427104010240 5 6 7 5 https://twitter.com/JanainaDoBrasil/status/913722669085884416 6 https://twitter.com/JanainaDoBrasil/status/913722860513976320 7 https://twitter.com/JanainaDoBrasil/status/913723017120927746 https://twitter.com/JanainaDoBrasil/status/913722669085884416 https://twitter.com/JanainaDoBrasil/status/913722860513976320 https://twitter.com/JanainaDoBrasil/status/913723017120927746 8 9 10 8 https://twitter.com/JanainaDoBrasil/status/913723153276432384 9 https://twitter.com/JanainaDoBrasil/status/913723556705468416 10 https://twitter.com/JanainaDoBrasil/status/913723741041029120 https://twitter.com/JanainaDoBrasil/status/913723153276432384 https://twitter.com/JanainaDoBrasil/status/913723556705468416 https://twitter.com/JanainaDoBrasil/status/913723741041029120 11 12 13 11 https://twitter.com/JanainaDoBrasil/status/913723920968232960 12 https://twitter.com/JanainaDoBrasil/status/913724020440403969 13 https://twitter.com/JanainaDoBrasil/status/913724271888945152 https://twitter.com/JanainaDoBrasil/status/913723920968232960 https://twitter.com/JanainaDoBrasil/status/913724020440403969 https://twitter.com/JanainaDoBrasil/status/913724271888945152 14 15 16 14 https://twitter.com/JanainaDoBrasil/status/913724446208389120 15 https://twitter.com/JanainaDoBrasil/status/913725474462937088 16 https://twitter.com/JanainaDoBrasil/status/913725981067808769 https://twitter.com/JanainaDoBrasil/status/913724446208389120 https://twitter.com/JanainaDoBrasil/status/913725474462937088 https://twitter.com/JanainaDoBrasil/status/913725981067808769 - 17 18 19 17 https://twitter.com/JanainaDoBrasil/status/913726143651565568 18 https://twitter.com/JanainaDoBrasil/status/913726421956202496 19 https://twitter.com/JanainaDoBrasil/status/913726601485045760 https://twitter.com/JanainaDoBrasil/status/913726143651565568 20 20 https://twitter.com/JanainaDoBrasil/status/913727919675109378 https://twitter.com/JanainaDoBrasil/status/913727919675109378 21 21 https://twitter.com/JanainaDoBrasil/status/913728209677635584 https://twitter.com/JanainaDoBrasil/status/913728209677635584 22 Não sendo suficiente afirmar que este requerente aprovou tese sem ler ou foi conivente com plágio, em outubro do mesmo ano a requerida buscou entrevista concedida por este manifestante para um portal de notícias no ano de 2015, 22 https://twitter.com/JanainaDoBrasil/status/913728399755145218 https://twitter.com/JanainaDoBrasil/status/913728399755145218 compartilhou e passou a tecer uma série de críticas infundadas, com afirmações levianas e de evidente má-fé, distorcendo as palavras para prejudicar a imagem deste manifestante perante seus milhares de seguidores: 1. 23 23 https://twitter.com/JanainaDoBrasil/status/918065407868665856 https://twitter.com/JanainaDoBrasil/status/918065407868665856 24 25 26 24 https://twitter.com/JanainaDoBrasil/status/918063286758924290 25 https://twitter.com/JanainaDoBrasil/status/918068301623947266 26 https://twitter.com/JanainaDoBrasil/status/918068454774755328 https://twitter.com/JanainaDoBrasil/status/918063286758924290 https://twitter.com/JanainaDoBrasil/status/918068301623947266 https://twitter.com/JanainaDoBrasil/status/918068454774755328 27 28 29 27 https://twitter.com/JanainaDoBrasil/status/918068724590137345 28 https://twitter.com/JanainaDoBrasil/status/918069073816309761 29 https://twitter.com/JanainaDoBrasil/status/918069424007143426 https://twitter.com/JanainaDoBrasil/status/918068724590137345 https://twitter.com/JanainaDoBrasil/status/918069073816309761 https://twitter.com/JanainaDoBrasil/status/918069424007143426 30 31 32 30 https://twitter.com/JanainaDoBrasil/status/918069789196718081 31 https://twitter.com/JanainaDoBrasil/status/918070030054690816 32https://twitter.com/JanainaDoBrasil/status/918070676623413251 https://twitter.com/JanainaDoBrasil/status/918069789196718081 https://twitter.com/JanainaDoBrasil/status/918070030054690816 https://twitter.com/JanainaDoBrasil/status/918070676623413251 33 34 35 Além de distorcer todas as ideias do manifestante para divulgar para seus seguidores nas redes sociais, afirmou que este manifestante é a favor de libertar 33 https://twitter.com/JanainaDoBrasil/status/918071513852596230 34 https://twitter.com/JanainaDoBrasil/status/918071897597861888 35 https://twitter.com/JanainaDoBrasil/status/919515650799882240 https://twitter.com/JanainaDoBrasil/status/918071513852596230 https://twitter.com/JanainaDoBrasil/status/918071897597861888 https://twitter.com/JanainaDoBrasil/status/919515650799882240 traficantes e, de forma claramente irônica, parabenizou os “professores que pensam, primeiro, no bem de seus alunos e não os estimulam a usar drogas e fazer aborto”, em ato de evidente má-fé. Importante observar, ainda, que todas as graves acusações feitas pela requerida, foram proferidas em sua conta na rede social Twitter (https://twitter.com/janainadobrasil) que conta com mais de 85 mil seguidores, o que evidencia que qualquer afirmação feita neste ambiente virtual tem seu alcance muito potencializado, em razão da quantidade enorme de pessoas que essas afirmações atingem: Esse potencial de divulgação de conteúdos implica também na potencialização das consequências decorrentes das acusações que profere em sua conta pública da rede social. Não é novidade a capacidade que a requerida tem de “viralizar” conteúdos, https://twitter.com/janainadobrasil tendo suas manifestações replicadas em diversos ambientes, inclusive em outras redes sociais e, com isso, pautando até mesmo o conteúdo da grande mídia, cenário este que aumenta sobremaneira a responsabilidade da requerida por suas manifestações. Logo na sequência da publicação dessas acusações, este manifestante já começou a sentir a dimensão das consequências que isso traria para sua vida pessoal e acadêmica. Passou a ter que dar explicações para a imprensa, respondendo as acusações que começaram a correr nas redes sociais, de pessoas que o chamavam de “bandido, desonesto, corrupto, mentiroso”, e outras tantas ofensas graves, que podem ser melhor ilustradas com as reações de outros usuários da rede social às publicações feitas: 36 36 https://twitter.com/oofaka/status/913722426470670336 https://twitter.com/oofaka/status/913722426470670336 37 37 https://twitter.com/oofaka/status/913729687653879809 https://twitter.com/oofaka/status/913729687653879809 38 38 https://twitter.com/Paulox36/status/913950317611487232 https://twitter.com/Paulox36/status/913950317611487232 39 40 39 https://twitter.com/MARCOEVERS2/status/913730904819929089 40 https://twitter.com/ceciliabourdon/status/913727712300281856 https://twitter.com/MARCOEVERS2/status/913730904819929089 https://twitter.com/ceciliabourdon/status/913727712300281856 41 42 41 https://twitter.com/MaciMarcus/status/913729119992664065 42 https://twitter.com/Santiago_andart/status/913725641341702144 https://twitter.com/MaciMarcus/status/913729119992664065 https://twitter.com/Santiago_andart/status/913725641341702144 43 44 43 https://twitter.com/AlaridoSu/status/913719954280714240 44 https://twitter.com/galvao_valter/status/913745037653106689 https://twitter.com/AlaridoSu/status/913719954280714240 https://twitter.com/galvao_valter/status/913745037653106689 45 46 45 https://twitter.com/edmilson1/status/913717099683569664 46 https://twitter.com/JuniorGaruzzi/status/913717687779504128 https://twitter.com/edmilson1/status/913717099683569664 https://twitter.com/JuniorGaruzzi/status/913717687779504128 47 48 47 https://twitter.com/JacqueMaara/status/913736058692603904 48 https://twitter.com/leaaoun/status/913789633317699585 https://twitter.com/JacqueMaara/status/913736058692603904 https://twitter.com/leaaoun/status/913789633317699585 49 50 Além disso, as acusações levianas feitas pela requerida repercutiram também em matérias divulgadas por diversas outras páginas, como a Revista 49 https://twitter.com/BernadeteVeras/status/913731800907829248 50 https://twitter.com/sofia_escolha/status/918127609812279301 https://twitter.com/BernadeteVeras/status/913731800907829248 https://twitter.com/sofia_escolha/status/918127609812279301 Exame51, que divulgou também em sua página do Facebook,52 o Estadão53, a página do Facebook “Juntos Pelo Brasil”, e os jornais online Correio do Poder54, Correio Braziliense55 e Gazeta do Povo 56. Cabe registrar também que esse potencial de divulgação se agrava a cada replicação das postagens da requerida, já que é exposta não apenas para os seguidores da requerida, mas também para seguidores daqueles que compartilham seu conteúdo. A página do Estadão, por exemplo, conta com quase 4 milhões de assinantes, como pode ser visto nas publicações trazidas com a inicial. A divulgação desses conteúdos na imprensa e em suas páginas de redes sociais gerou uma série de outras reações odiosas contra este manifestante, colocando em descrédito todo seu esforço acadêmico, sua história, tirando credibilidade de seu nome cuja reputação foi construída com tanto trabalho e dedicação. Na matéria divulgada na página do Estadão, por exemplo, a requerida afirmou que sofre perseguição em seu departamento, afirmando ainda que o autor é o grande pivô de sua reprovação e da perseguição que sofre: 51 https://exame.abril.com.br/brasil/janaina-paschoal-acusa-professor-da-usp-de-plagio/ 52 https://www.facebook.com/Exame/posts/10155703288918953 53 http://politica.estadao.com.br/noticias/geral,reprovada-autora-do-impeachment-ve-perseguicao-na- usp,70002038198 54 http://www.correiodopoder.com/2017/09/janaina-paschoal-sofre-ameacas-e-pede.html 55 http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/politica/2017/10/11/internas_polbraeco,632937/janaina- paschoal-alega-perseguicao-na-usp-e-quer-anulacao-de-concurso.shtml 56 http://www.gazetadopovo.com.br/justica/janaina-paschoal-acusa-banca-da-usp-de-fraude- 4m5biugb5pvv00tkhopeqf1pt https://exame.abril.com.br/brasil/janaina-paschoal-acusa-professor-da-usp-de-plagio/ https://www.facebook.com/Exame/posts/10155703288918953 http://politica.estadao.com.br/noticias/geral,reprovada-autora-do-impeachment-ve-perseguicao-na-usp,70002038198 http://politica.estadao.com.br/noticias/geral,reprovada-autora-do-impeachment-ve-perseguicao-na-usp,70002038198 http://www.correiodopoder.com/2017/09/janaina-paschoal-sofre-ameacas-e-pede.html http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/politica/2017/10/11/internas_polbraeco,632937/janaina-paschoal-alega-perseguicao-na-usp-e-quer-anulacao-de-concurso.shtml http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/politica/2017/10/11/internas_polbraeco,632937/janaina-paschoal-alega-perseguicao-na-usp-e-quer-anulacao-de-concurso.shtml http://www.gazetadopovo.com.br/justica/janaina-paschoal-acusa-banca-da-usp-de-fraude-4m5biugb5pvv00tkhopeqf1pt http://www.gazetadopovo.com.br/justica/janaina-paschoal-acusa-banca-da-usp-de-fraude-4m5biugb5pvv00tkhopeqf1ptMais além, Janaina disse que um dos pivôs dessa crise é seu chefe de departamento, Sergio Salomão Shecaira. Enquanto ela foi uma das autoras do impeachment, ele subscreveu manifesto de juristas a favor de Dilma. A professora disse que a perseguição de valores que sofre é porque é “contra a legalização das drogas, do aborto, da liberação de traficantes e da abertura das prisões” e porque trata de temas que não agradam aos docentes. A sua tese de titularidade era Direito Penal e Religião: as várias interfaces de dois temas que aparentam ser estanques. Somente nesta matéria foram diversos os comentários no seguinte sentido: 57 58 57 https://www.facebook.com/estadao/posts/2175428139138903 59 60 61 62 58 https://www.facebook.com/estadao/posts/2175428139138903?comment_id=2175461755802208&comme nt_tracking=%7B%22tn%22%3A%22R9%22%7D 59 https://www.facebook.com/estadao/posts/2175428139138903?comment_id=2175481689133548&comme nt_tracking=%7B%22tn%22%3A%22R9%22%7D 60 https://www.facebook.com/estadao/posts/2175428139138903?comment_id=2175562162458834&comme nt_tracking=%7B%22tn%22%3A%22R9%22%7D 61 https://www.facebook.com/estadao/posts/2175428139138903?comment_id=1357414291030457&comme nt_tracking=%7B%22tn%22%3A%22R1%22%7D https://www.facebook.com/estadao/posts/2175428139138903?comment_id=2175461755802208&comment_tracking=%7B%22tn%22%3A%22R9%22%7D https://www.facebook.com/estadao/posts/2175428139138903?comment_id=2175461755802208&comment_tracking=%7B%22tn%22%3A%22R9%22%7D Assim, utilizando de todo esse potencial do funcionamento das redes sociais, bem como abusando da relevância que conquistou no ambiente virtual (relevância aqui colocada no sentido técnico da palavra neste ambiente, que considera a capacidade de conseguir um grande número de menções em curto espaço de tempo e com isso colocar os assuntos divulgados como tópico de relevância nas redes sociais), a requerida, inconformada com sua reprovação no mencionado concurso, decidiu proferir uma série de acusações infundadas para macular a honra e a imagem deste requerente. Vê-se, portanto, que a requerida, motivada unicamente por sentimento de revolta e vingança, criou narrativa para desacreditar todo o esforço do requerente na construção de sua carreira profissional, distorcendo suas manifestações e afirmando que este manifestante participou de um conluio criminoso para favorecimento de determinando candidato, ofendendo de forma inquestionável sua honra. Não se questiona aqui, por óbvio, a possibilidade de a requerida pleitear, pelas vias legítimas, a legalidade de qualquer fase do concurso, tanto nas vias administrativa quanto judicial, bem como questionar a formação das bancas ou até mesmo os atos do requerente enquanto Chefe do Departamento da faculdade. 62 https://www.facebook.com/estadao/posts/2175428139138903?comment_id=1978622932377677&comme nt_tracking=%7B%22tn%22%3A%22R9%22%7D O que não é aceitável é que seu inconformismo motive atos de escracho público de seus concorrentes e dos demais envolvidos no concurso, maculando a imagem e a honra de todos de forma deliberada e intencional. Cabível e necessária, diante do cenário exposto, a reparação por danos morais aqui pleiteada, como passa-se agora a demonstrar e fundamentar. DOS DANOS À HONRA E À IMAGEM Os direitos da personalidade, disciplinados no Capítulo II, do Livro I, da Parte Geral do Código Civil, são definidos como o direito irrenunciável e intransmissível que todo e cada indivíduo possui de controlar o uso de seu corpo, nome, imagem ou quaisquer outros aspectos constitutivos de sua identidade. A Constituição Federal, em seu artigo 5º, X, afirma categoricamente que “são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação”. O requerente é acadêmico, professor da Universidade de São Paulo, chefe do Departamento de Direito Penal, Medicina Forense e Criminologia. É fato sabido que o principal elemento formador do valor de um acadêmico é sua credibilidade, responsável pela confiança que constrói publicamente. Toda a trajetória, acadêmica e profissional, agrega experiência e valor à esta imagem, justamente por evidenciar o esforço e a honestidade de sua formação. Assim, um ataque a essa honra, colocando dúvidas sobre sua credibilidade e honestidade acadêmica, é inegavelmente uma ofensa que gera mais do que o mero dissabor do ataque público. O poder de repercussão da mensagem e a gravidade das acusações geram inegável dano a essa imagem de profissional dedicado e acadêmico respeitado, afetando a credibilidade que honestamente construiu em anos de carreira. O artigo 12 do Código Civil estabelece que, diante desse tipo de situação, pode- se exigir que cesse a lesão ao direito da personalidade, bem como reclamar eventuais danos que se façam presentes. Além disso, o artigo 20 do mesmo diploma legal é absolutamente claro ao afirmar que a exposição e utilização da imagem de uma pessoa poderão ser proibidas, sem prejuízo da indenização que couber, “se lhe atingirem a honra, a boa fama ou a respeitabilidade”. Isto é exatamente o que se observa no caso em tela. A ré, ao veicular acusações envolvendo o autor, vinculando-o a um fato desabonador e criminoso (anuência com plágio e fraude em concurso público), causou diversos danos aos direitos personalíssimos do autor, gerando, assim, o dever de indenizar, nos termos dos artigos 12 e 927 do Código Civil. Conforme narrado anteriormente, a propagação das notícias e acusações feitas levianamente contra o autor atingiu milhões de pessoas que tiveram acesso não só ao perfil da ré em sua rede social, mas também às páginas que repercutiram o conteúdo, sendo certo que não há como não reconhecer o dano que fora causado à honra e imagem do autor. Destaque-se que não só o autor foi colocado como um criminoso, responsável por fraude acadêmica e por anuir com plágio feito por outro candidato, como também seu cargo na Universidade de São Paulo poderia ser ameaçado diante das acusações feitas. Não restam dúvidas, portanto, acerca dos danos que foram causados à imagem e honra do autor, ao qual fora atribuída, de forma absolutamente leviana – e sem nenhuma investigação ou movimentação para apuração dos fatos pelos meios legais – a prática de grave delito penal e de desonrosa postura acadêmica, devendo ele ser devidamente indenizado por este fato, diante do ato ilícito e danoso cometido pela ré. É este o entendimento dominante na jurisprudência pátria: CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. INDENIZAÇÃO. DANO MORAL. OFENSA A HONRA DE MAGISTRADO. COMPROVAÇÃO DO ATO ILÍCITO E NEXO DE CAUSALIDADE. DESNECESSÁRIO A COMPROVAÇÃO DO DANO MORAL. ARTS. 535 E 458 DO CPC. OFENSA. INEXISTENTE. DISSÍDIO JURISPRUDENCIAL NÃO COMPROVADO. - O Art. 535 do CPC não é maltratado, quando o acórdão decide com clareza, precisão e fundamentadamente as questões pertinentes. - Inexistindo defeito de fundamentação capaz de tornar nulo o julgado, inexiste ofensa ao Art. 458 do CPC. - A prova do dano moral resulta da simples comprovação do fato que acarretou a dor, o sofrimento, a lesão aos sentimentos íntimos. - Nega-se seguimento a recurso especial interposto pela alínea c, em que não se demonstra a divergência nos moldes exigidos pelo Art. 255 do RISTJ.- Em recurso especial somente é possível revisar a indenização por danos morais quando o valor fixado nas instâncias locais for exageradamente alto, ou baixo, a ponto de maltratar o Art. 159 do Código Beviláqua. Fora desses casos, incide a Súmula 7, a impedir o conhecimento do recurso. - A indenização deve ter conteúdo didático, de modo a coibir reincidência do causador do dano sem enriquecer injustamente a vítima. 63 APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL DECORRENTE DE USO INDEVIDO DA IMAGEM E DANO À IMAGEM POR FALSA IMPUTAÇÃO DE PRÁTICA DE CRIME. SENTENÇA DE PROCEDÊNCIA. ALEGAÇÃO DE EXERCÍCIO, DENTRO DOS LIMITES, DO DIREITO À INFORMAÇÃO QUE LHE É GARANTIDO CONSTITUCIONALMENTE. VEICULAÇÃO DE NOTÍCIAS DE INTERESSE PÚBLICO. AUSÊNCIA DE DOLO. O DEVER DE INDENIZAR DECORRE DE ATO ILÍCITO, QUE PODE DECORRER DE DOLO OU CULPA. DIREITO À IMAGEM. NÃO SE CONFIGURA USO INDEVIDO, QUE, POR SI SÓ, JUSTIFICA A REPARAÇÃO, POR SE TRATAR DE FATO OCORRIDO NA VIA PÚBLICA, MAS A VINCULAÇÃO DA IMAGEM À FALSA PRÁTICA DE CRIME CONFIGURA O DANO MORAL. CUMULAÇÃO DO DANO MORAL COM O DANO À IMAGEM. IMPOSSIBILIDADE. DANO À IMAGEM CONTIDO NO DANO MORAL. RECURSO CONHECIDO E PARCIALMENTE PROVIDO. 64 INDENIZAÇÃO DE DANO MORAL - ADVOGADO - IMPUTAÇÃO DE CRIMES AOS ORA APELANTES MANIFESTAÇÕES EM DEFESA DOS INTERESSES DE CLIENTES, QUE SÃO DEVEDORES DOS ORA APELANTES - PETIÇÕES APRESENTADAS EM JUÍZOS DE PRIMEIRA INSTÂNCIA E TAMBÉM NESTE TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO - CALÚNIA, ABUSO DE DIREITO E VIOLAÇÃO DE DEVERES PROCESSUAIS - IMUNIDADE PROFISSIONAL QUE NÃO PERMITE OFENSAS PESSOAIS - INTELIGÊNCIA DO ART. 7o, § 2o, DO ESTATUTO DA ADVOCACIA - ATOS ILÍCITOS - DEVER DE INDENIZAR - DANOS MORAIS - INDENIZAÇÃO ARBITRADA TENDO 63 STJ – Recurso Especial nº 968.019/PI – 3ª Turma – Rel. Min. Humberto Gomes de Barros – julgado em 16.08.2007 – publicado em 17.09.2007 64 TJPA – Apelação Cível nº 0020647-80.2008.8.14.0301 – 1ª Câmara Cível Isolada – Relª. Desª. Gleide Pereira de Moura – julgado em 12.12.2011 – publicado em 10.01.2012 http://www.jusbrasil.com/topico/10738781/artigo-7-da-lei-n-5869-de-11-de-janeiro-de-1973 EM VISTA OS PRINCÍPIOS DA RAZOABILIDADE E DA PROPORCIONALIDADE, BEM COMO O VALOR DO CRÉDITO E O FATO DE O APELADO SER PROCURADOR DE JUSTIÇA APOSENTADO - RECURSO PROVIDO. INTERESSE EM RECORRER - SENTENÇA OMISSA QUANTO AO PLEITO DE CONDENAÇÃO POR LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ - NÃO INTERPOSIÇÃO DE EMBARGOS DE DECLARAÇÃO, MAS APENAS DE APELAÇÃO - FALTA DE LESIVIDADE INTELIGÊNCIA DA REGRA DO CAPUT DO ART. 499 DO CPC - RECURSO NÃO CONHECIDO. 65 Em caso bastante recente, amplamente noticiado, foi prolatada sentença condenando pessoa que, como a ré, possui grande influência nos meios digitais, e utilizou dessa influência para atacar a imagem e a honra dos envolvidos em situação que a desagradou. Nos autos da Ação de Indenização por Dano Moral nº 1010309- 17.2015.8.26.0009, da 1ª Vara Cível do Foro Regional IX – Vila Prudente, da Comarca de São Paulo, o Juiz de Direito Dr. Jair de Souza decidiu que a ré – amplamente conhecida nas redes sociais – deveria ser condenada pelo dano causado, afirmando que: A partir do momento em que atingiu posição de destaque na mídia e nas plataformas digitais, tornou-se referência para um incontável número de pessoas de diversas idades, credos e condições sociais, de forma que, para o bem ou para o MAL, sua palavra, suas posições e o material que divulga acabam por ganhar uma força avassaladora onde quer que divulgados sejam. (…) Situação do parágrafo anterior que implica no necessário uso COM RESPONSABILIDADE do seu instrumento de trabalho (IMAGEM) a fim de evitar 65 TJSP – Apelação Cível nº 0124922-95.2009.8.26.0100 – 8ª Câmara de Direito Privado – Rel. Des. Theodureto Camargo – julgado em 16.03.2011 – publicado em 04.04.2011 http://www.jusbrasil.com/topico/10684539/artigo-499-da-lei-n-5869-de-11-de-janeiro-de-1973 http://www.jusbrasil.com/legislacao/91735/c%C3%B3digo-processo-civil-lei-5869-73 que embates como o narrado neste processo ganhem vida. Extrai-se que o uso inconsequente destas vias para macular a honra e a imagem do requerente implicou em transtornos que em muito extrapolam a esfera do dissabor. (…) No caso, o magistrado identificou e apontou de forma precisa a capacidade de, com o uso de uma plataforma social com grande quantidade de acessos (como é o perfil da requerida), macular a imagem e criar imenso dano à honra e ao convívio do ofendido por conteúdo “viralizado”: É dizer, o conflito e o destilar de ofensas que até então era protagonizado APENAS pelo requerente e pela requerida ganhou uma série de coadjuvantes, todos contra o requerente e sabedores de apenas um lado da história (a versão unilateral e "viralizada" pela requerida pelos meios de comunicação, aos quais tem fácil acesso pela fama que conquistou). Esse uso irresponsável dos meios de comunicação para ofender a honra do requerente configura inegável ofensa à honra e a imagem do requerente, cabendo a condenação em reparação material do dano, como restou reconhecido na sentença mencionada, fundamentada em outros julgados do e. TJ/SP: Frontalmente ofendido o comando do art. 5º, X da Constituição Federal, em detrimento do requerente, pela postura da requerida: X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação; Em suma, acabaram diretamente maculados os direitos da personalidade do requerente por culpa da requerida, direitos estes intransmissíveis e irrenunciáveis e que vistos sob o ótica da integridade moral compreendem: "A integridade moral é garantida mediante o reconhecimento dos direitos à liberdade, à honra, ao recato, ao segredo e ao sigilo, à imagem e à identidade, de que tratam dispositivos constitucionais (art. 5º, V, X, XII, XIV, LVI, LX, LXXII) e legais...". (DUARTE, NESTOR, Código Civil Comentado - Doutrina e Jurisprudência, Coord. Ministro CEZAR PELUSO. 11ª Ed., Barueri, SP: Manole, 2017, p. 30). Direitos que, dado seu caráter extrapatrimonial, perpétuo e absoluto, gozam de oponibilidade erga omnes, e como tal devem ser respeitados por tudo e por todos, tanto que o art. 12 do código civil legitima tal dever e autoriza a imposição de sanções pelo seu descumprimento: Art. 12. Pode-se exigir que cesse a ameaça, ou a lesão, a direito da personalidade, e reclamar perdas e danos, sem prejuízo de outras sanções previstas em lei. Sanção a se materializar pelo reconhecimento do dever de reparar moralmente, maneira mais do que idônea à compensação dos prejuízos narrados. Neste sentido desponta a jurisprudência do E. TJSP para casos símiles: "APELAÇÃO. AÇÃO INDENIZATÓRIA. RESPONSABILIDADE CIVIL. Divulgação de vídeo no site Youtube, que extrapolou os limites do direito constitucional de informação, assumindo contornos pessoais e atingindo a honra e a imagem da autora. Exclusão dos vídeos sob análise, que se impõe. DANO MORAL. Ocorrência. Quantum indenizatório. Valor que atenta à dupla finalidade da reparação. Responsabilidade pelo pagamento que deve ser fixada apenas ao ofensor, diante da impossibilidade de controle prévio do conteúdo disponibilizado pelos usuários. Sentença mantida. SUCUMBÊNCIA. Redimensionada. RECURSOS NÃO PROVIDOS". (TJSP. Apel. nº 1066847- 02.2016.8.26.0100. Des. Relatora: Rosangela Telles. 2ª Câmara de Direito Privado. D.J: 23/08/2017) E ainda: "RESPONSABILIDADE CIVIL - OBRIGAÇÃO DE FAZER C.C. INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS Internet Autor que busca a retirada de vídeo ofensivo acerca de sua pessoa, veiculado pelo youtube (serviço disponibilizado pelaré) e publicado pelo corréu, intitulado 'O golpista do ano', além do recebimento de indenização por danos morais Decreto de parcial procedência Recurso interposto pelo Google Brasil, insurgindo-se quanto à condenação solidária ao pagamento da indenização reclamada Insurgência que comporta acolhida Tutela antecipada que foi cumprida pelo apelante e que se limita ao território nacional Limite territorial da decisão judicial (art. 16 do Novo CPC) torna descabida a argumentação de descumprimento da medida, fora do território nacional Remoção do conteúdo deve ser local e não global Precedentes Sentença reformada para excluir a condenação do Google Brasil Internet ao pagamento de indenização por danos morais Ato ilícito por ele não praticado, eis que provedor/hospedeiro do site de buscas (que não pode responder pelo teor de vídeo postado por terceiros, no caso, o corréu) Exigibilidade da multa (valor limitado por esta Turma Julgadora em sede de agravo de instrumento) Questão que não cabe discussão em grau de apelação, não havendo ainda execução, sequer provisória, nesse sentido - Recurso parcialmente provido". (TJSP. Apel. nº 1054138-03.2014.8.26.0100. Des. Relator: Salles Rossi. 8ª Câmara de Direito Privado. D.J: 05/04/2017) No mais: "INDENIZAÇÃO Dano moral Veiculação de vídeos contendo acusações aos autores - Utilização de termos pejorativos - Abusividade no exercício do direito à liberdade de manifestação do pensamento reconhecida - Evidente o intuito do réu de denegrir a honra e a imagem dos autores e inequívoca a ofensa causada Danos morais configurados - Indenização fixada em R$ 15.000,00 (quinze mil reais) que não comporta redução Sentença confirmada RECURSO NÃO PROVIDO". (TJSP. Apel. nº 0196204-91.2012.8.26.0100. Des. Relator: Elcio Trujillo. 10ª Câmara de Direito Privado. D.J: 18/10/2016) Ademais, como já mencionando anteriormente, a requerida possuía meios legais de questionar o concurso prestado e meios lícitos para buscar a apuração de eventual fraude ou a ocorrência de plágio no trabalho de quaisquer dos seus concorrentes. No entanto, optou por medida absolutamente desproporcional para “reparação” de sua insatisfação, que foi utilizar de seus meios de influência pública para desonrar a imagem do requerente, apenas um professor que compunha a banca do concurso. Em proporção menos gravosa – já que se tratava de cidadão que não era conhecido publicamente e nem tinha em sua credibilidade intelectual um dos pilares fundamentais do exercício de sua atividade – foi isso também que aconteceu no caso da sentença aqui trazida: Basta atentar, como já enfatizado, que sua postura nas redes sociais foi diametralmente DESPROPORCIONAL à discussão travada com o requerente (principalmente quando mensuradas suas consequências). Tivesse esta última limitado sua insurgência à formulação de reclamação junto ao Departamento de Transportes Públicos (DTP), ao registro de Boletim de Ocorrência perante a polícia (para apuração de eventual ilícito pela AUTORIDADE COMPETENTE), ou ainda utilizado "as provas" que aduz ter produzido com vias a eventual promoção de discussão judicial, talvez outra fosse sua posição nos presentes autos. Todavia, ao revés, optou por utilizar o material que tinha para o exercício de verdadeira "autotutela", de inequívoca "vingança privada": salvo exceções previstas em lei, expressamente vedada pelo ordenamento jurídico pátrio e como tal digna de reprimenda. Assim, a requerida deverá indenizar o requerente pelos danos morais a ele impingidos. Como já relatado, a página administrada pela ré tem um longo alcance, sendo seguida por mais de 85 mil pessoas somente no “Twitter”. Destas, milhares compartilharam as ilações da requerida, que chegaram a ser divulgadas por páginas que contam com, literalmente, milhões de seguidores. Verifica-se, portanto, que o dano causado pela ré ao veicular levianamente acusações desonrosas contra o autor, atribuindo a ele a prática de crimes, concordância com plágio a participação de um esquema fraudulento para direcionamento de resultado de concurso, já foi concretizado, produzindo um abalo psíquico e a desconstrução pública de sua credibilidade burilada ao longo de anos. O E. Des. Oldemar Azevedo, em acórdão de sua relatoria proferido na Apelação Cível nº 0124267-69.2008.8.26.0000 (5ª Câmara de Direito Privado do TJ/SP), tratando da ação movida pelo jornalista Paulo Henrique Amorim em face do também jornalista Diogo Mainardi e da Editora Abril afirmou que: “O exercício abusivo e irresponsável do direito, se causar danos, enseja o dever de indenizar. "In casu", a liberdade de manifestação do pensamento transbordou os limites nos quais poderia ser exercida. Um jornalista de renome, que manifesta suas idéias formadoras de opinião em um dos maiores veículos de comunicação impressos do País deve responder pelos prejuízos que eventualmente vier a causar nessa situação. [...] Em hipótese de lesão, cabe ao agente suportar as conseqüências do seu agir, desestimulando-se, com a atribuição de indenização, atos ilícitos tendentes a afetar os aspectos da personalidade humana”. Desta feita, de rigor o reconhecimento dos danos causados à imagem e honra do autor pela ré, tendo as publicações mencionadas lhe causado inúmeros e irreparáveis danos, sendo imprescindível a retirada do conteúdo ofensivo, bem como a reparação monetária do dano causado. DO VALOR DA INDENIZAÇÃO É fato que a dificuldade na reparação do dano extrapatrimonial consiste exatamente na inexistência de um bem quantificável a ser reparado. Trata-se, no presente caso, da reparação de um bem subjetivo, não monetizável. Não é possível acreditar que uma indenização financeira seja capaz de reconstruir toda a credibilidade e idoneidade que fundou a carreira deste requerente, construída com dedicação e esforço, abalada em razão das irresponsáveis publicações da requerida. A indenização financeira assim, com este objetivo, surge como tentativa de amenizar o dano, vez que desfazê-lo é impossível. Busca-se, portanto, além da reparação / amenização dos danos o caráter punitivo-pedagógico da indenização, visando que a ré não torne a veicular inadvertidamente acusações levianas para macular a imagem de pessoas inocentes, sem qualquer validação dos fatos noticiados. No julgamento do Recurso Especial nº 1.440.721, de relatoria da Ministra Maria Isabel Galotti, o Superior Tribunal de Justiça reafirmou alguns pontos pertinentes para a determinação do valor indenizatório em caso de publicação de falsas acusações, colocando em análise quem é o ofendido, o potencial de divulgação e disseminação das informações falsas e a gravidade do que foi falado. Decidiu-se, assim, que: “Dessa forma, atentando-se às peculiaridades da causa e levando-se em consideração que o autor é figura pública e a gravidade da falsa acusação que lhe foi graciosa e dolosamente imputada, bem como a capacidade econômica dos ofensores, entendo que a majoração da condenação de cada recorrido para o valor de R$ 250.000,00 (duzentos e cinquenta mil reais) mostra-se adequada para reparar os danos morais sofridos e resguardar os direitos da personalidade atingidos, de modo a cumprir também com a função punitiva e a preventiva, sem ensejar a configuração de enriquecimento ilícito." No caso mencionado houve a publicação de livro que imputava ao autor da ação, figura pública cuja atuação profissional depende diretamente da credibilidade que constrói – exatamente como no presente caso – fatos ofensivos, que maculavam sua honra, extrapolando assim os limites de crítica pura à uma figura pública. Do inteiro teor extrai-se que “em que pese o entendimento de que é natural uma maior exposição à opinião e à crítica dos cidadãos e daimprensa por parte das pessoas públicas e notórias, não há espaço para que essas liberdades de expressão e informação se desviem para inverdades e ofensas pessoais. O exercício da crítica, bem como do direito à liberdade de expressão, não pode ser usado como pretexto para prática de atos ofensivos à honra, como ocorreu no caso em apreço (...)”. O acórdão mencionado restou assim ementado: RECURSOS ESPECIAIS. DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. PUBLICAÇÃO DE LIVRO. FALSO RELATO DE CUNHO RACISTA E EUGÊNICO ATRIBUÍDO A POLÍTICO. REPERCUSSÃO NACIONAL E INTERNACIONAL DA FALSA IMPUTAÇÃO. DANO MORAL REPARAÇÃO ESPECÍFICA. PRINCÍPIO DA REPARAÇÃO INTEGRAL DO DANO. CERCEAMENTO DE DEFESA. NÃO OCORRÊNCIA. NÃO RECEBIMENTO DA APELAÇÃO POR PREMATURIDADE. TRÂNSITO EM JULGADO. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. VALOR RAZOÁVEL. REVISÃO. SÚMULA 7/ST 1. Consoante se extrai do acórdão do Supremo Tribunal Federal na ADIn 4.815/DF, a dispensa de autorização prévia dos envolvidos para a publicação de biografias implica a responsabilidade a posteriori por danos comprovadamente causados. Extrai-se do voto da relatora, a Ministra Cármen Lúcia, que "não há, no direito, espaço para a imunidade absoluta do agir no exercício de direitos com interferência danosa a direitos de outrem. Ação livre é ação responsável. Responde aquele que atua, ainda que sob o título de exercício de direito próprio." 2. A liberdade de expressão acarreta responsabilidade e não compreende a divulgação de falsidade e a prática de crimes contra a honra. A divulgação de episódio falso, como se verdadeiro fosse, além de ofender a honra do lesado, prejudica o interesse difuso do público consumidor de bens culturais, que busca o conhecimento e não a desinformação. 3. Publicação de livro imputando falsamente a pessoa pública afirmações de cunho racista e eugênico. Ampla divulgação na mídia impressa, televisiva e virtual, tendo acarretado também processo criminal contra o autor perante o Supremo Tribunal Federal por crime de racismo e processo de cassação de mandato perante a Câmara dos Deputados por quebra de decoro parlamentar 4. Admite-se a revisão do valor fixado a título de condenação por danos morais em recurso especial quando ínfimo ou exagerado, ofendendo os princípios da proporcionalidade e da razoabilidade. 5. A indenização por danos morais possui tríplice função, a compensatória, para mitigar os danos sofridos pela vítima; a punitiva, para condenar o autor da prática do ato ilícito lesivo, e a preventiva, para dissuadir o cometimento de novos atos ilícitos. Ainda, o valor da indenização deverá ser fixado de forma compatível com a gravidade e a lesividade do ato ilícito e as circunstâncias pessoais dos envolvidos. 6. Indenização no valor de R$ 250.000,00 (duzentos e cinquenta mil reais), a cargo de cada recorrido, que, no caso, mostra-se adequada para mitigar os danos morais sofridos, cumprindo também com a função punitiva e a preventiva, sem ensejar a configuração de enriquecimento ilícito. 7. O direito de resposta, de esclarecimento da verdade, retificação de informação falsa ou à retratação, com fundamento na Constituição e na Lei Civil, não foi afastado; ao contrário, foi expressamente ressalvado pelo acórdão do Supremo Tribunal Federal na ADPF 130. Trata-se da tutela específica, baseada no princípio da reparação integral, para que se preserve a finalidade e a efetividade do instituto da responsabilidade civil (Código Civil, arts. 927 e 944). 8. Segundo o entendimento pacífico do STJ, ao juiz, como destinatário da prova, cabe indeferir as que entender impertinentes, sem que tal implique cerceamento de defesa. Incidência da Súmula 7/STJ. 9. Tendo sido negado processamento ao recurso de apelação interposto pela Editora, por decisão transitada em julgado, não cabe apreciar sua inconformidade de mérito em grau de recurso especial. 10. A alteração dos valores dos honorários advocatícios fixados pelo Tribunal de origem, quando não irrisórios ou excessivos, exige o reexame de fatos e provas incabível no âmbito do recurso especial. Incidência da Súmula n° 7/STJ. 11. Recurso especial de Ronaldo Ramos Caiado parcialmente conhecido e, na parte conhecida, provido. 12. Recurso Especial de Fernando Gomes de Moraes conhecido em parte e, na parte conhecida, não provido. 13. Recurso especial de Editora Planeta do Brasil Ltda não conhecido. Importante mencionar que os fatos falsos e ofensivos que foram publicados no caso trazido foram publicados em um livro, intitulado “Na toca dos Leões – A História da W/Brasil”, cuja tiragem foi de 70 mil exemplares. 66 Ou seja, mesmo que fossem vendidos todos os exemplares – o que não ocorreu, já que liminarmente houve recolhimento dos livros – e todos eles fossem efetivamente lidos, o alcance as acusações falsas seria de 70 mil leitores. Para arbitrar o valor do dano observou-se ainda que, além dos potenciais 70 mil leitores, houve ampla divulgação na imprensa sobre a obra, o que aumentou o alcance das imputações ofensivas e, em consequência, a gravidade do fato ofensivo. No presente caso, a requerida tem, somente na rede social onde publicou as acusações, mais de 85 mil seguidores, pessoas que efetivamente receberam este conteúdo e leram as acusações. Além disso, houve grande repercussão na imprensa, com manifestações da requerida sendo replicadas por grandes jornais em páginas que alcançam mais de 4 milhões de usuários. Assim, é inegável que a forma como foram proferidas as acusações contra este autor é muito mais gravosa, vez que a internet e as redes sociais têm um potencial de superdimensionar a divulgação de conteúdos. 66 Segundo dados da Folha de S. Paulo, disponível em: http://waww1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq0104200510.htm Acessado em Janeiro de 2018. http://waww1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq0104200510.htm O Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo tem atentando para esse potencial das redes sociais de ampliar a gravidade da ofensa. No julgamento da apelação nº 4015572-23.2013.8.26.0114 foi mantida integralmente a sentença do juízo de origem que, diante de um caso de ofensas proferidas em perfis de redes sociais, adotou o seguinte entendimento: A partir do momento em que uma pessoa usa sua página pessoal em rede social para divulgar mensagem inverídica ou para nela fazer constar ofensas a terceiros, como no caso em questão, por certo são devidos danos morais, sobretudo tendo em conta os desdobramentos das publicações - devendo ser encarado o uso desse meio de comunicação com mais seriedade e não com caráter informal, como tentou demonstrar o réu” “Neste passo, dada a especificidade do caso concreto, em cotejo com o fato ocorrido, que envolve personalidades publicamente conhecidas, bem como a repercussão que a publicização das ofensas toma no âmbito da internet e, ainda, o potencial econômico dos envolvidos na contenda judiciosa a fixação da verba indenizatória no importe de R$ 100.000,00, que deverá ser dividido entre os autores. Vale anotar que fixar o quantum em valor menor ao ora estabelecido seria até mesmo vilipendiar o direito à reparação da atingida personalidade dos ofendidos, sobretudo, como dito, por se tratarem de pessoas públicas, possuírem grande projeção social e patrimônio expressivo. Em outro caso (Apelação nº 4002929-85.2013.8.26.0032), em que as ofensas proferidas não foram contra pessoa pública, o simples fato de terem sido veiculadas em rede social foi tido como suficiente para que o valor indenizatório fosse arbitrado no valor de 40 salários mínimos para cada um dos requeridos: A honra do autor foi claramente maculada e, pior, com o perdão da repetição, teve como pano de fundo uma rede social, veículoconhecido pelo seu alto e rápido poder de difusão. Houve dano à esfera moral do demandante. Sua honra e seu íntimo foram agredidos, ou seja, seu patrimônio espiritual. As expressões e o teor das postagens não foram insignificantes, não podendo ser considerados simples e momentâneo dissabores. Ademais, tiveram como foco principal assuntos extremamente delicados para qualquer pessoa, como sua conduta pessoal, sua carreira profissional, seu caráter e, principalmente, o seio familiar (prole).” “O valor apropriado é aquele que pune os réus e de certa forma satisfaz o autor. A indenização tem caráter de desestímulo. Ele deve ser moderado e equitativo. Nem de longe a condenação pode ser considerada captação de lucro. No caso, o valor que se mostra justo, punindo os réus e de certa forma satisfazendo o autor, de rigor fixar o dano moral no valor equivalente a 40 salários mínimos para o primeiro requerido; e outros 40 salários mínimos para a segunda requerida (...). Assim, considerando a gravidade das acusações proferidas, o poder de disseminação das publicações da requerida, que tem rede social com grande alcance, a repercussão das publicações na grande imprensa, o fato de o autor ser pessoa pública, academicamente conhecida em todo o país, que tem em sua reputação parte fundamental de sua vida profissional, bem como o poder aquisitivo da requerida, que, além de professora da Universidade de São Paulo, é advogada nacionalmente conhecida, sendo constantemente contratada para grandes causas, bem como para eventos e palestras, entende o autor ser razoável a indenização no valor de R$ 38.000,00 (trinta e oito mil reais). DA TUTELA DE URGÊNCIA O conteúdo ofensivo publicado segue disponível para qualquer usuário da internet – cadastrado ou não naquela rede e seguidor ou não do perfil da requerida. Por se tratar de conteúdo público, é facilmente encontrado por qualquer um que faça uma busca com o nome deste manifestante. Se a veiculação das mensagens já causa inegável dano, esse se agrava se a cada busca que for feita com o nome do requerente sejam mostradas entre os resultados todas essas acusações infundadas. Enquanto os conteúdos ofensivos estiverem disponíveis online a perpetuação do dano é inevitável. Para tutelar situações como esta, em que há evidente perigo de dano, o CPC prevê em seu artigo 300, §2º a possibilidade de deferimento liminar de tutela de urgência: Art. 300. A tutela de urgência será concedida quando houver elementos que evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo. (...) § 2o A tutela de urgência pode ser concedida liminarmente ou após justificação prévia. A probabilidade do direito restou devidamente demonstrada em todos os tópicos precedentes, evidenciada pelo claro posicionamento jurisprudencial pacífico sobre o tema, bem como pela gravidade das acusações absolutamente infundadas feitas pela requerida. Diante deste cenário, fica clara a necessidade da concessão da tutela provisória em caráter liminar para permitir um mínimo de preservação da imagem deste manifestante e impedir que o dano já causado se torne ainda mais gravoso. DA OBRIGAÇÃO DE FAZER Ainda que não deferido o pedido de tutela provisória, é inegável que a retirada do conteúdo ofensivo que gerou o dano é essencial para a sua reparação. No precedente trazido nesta inicial (STJ, Recurso Especial nº 1.440.721) foi determinado liminarmente – e mantido ao final - o recolhimento dos livros que traziam as ofensas discutidas, para que os danos tivessem menor alcance e fossem, assim, minimizados. Neste mesmo sentido, a retirada dos conteúdos publicados é de extrema importância. Até mesmo porque aquilo que é publicado na internet tende a se perpetuar no tempo, sendo facilmente encontrado com uma simples busca, perpetuando também os danos que as ofensas e acusações mentirosas causaram. Também, pela mesma razão, vez que as notícias e compartilhamentos que surgiram da publicação originária estão fora de qualquer controle possível, é essencial que a requerida seja compelida a publicar na mesma rede social retratação, nos mesmos moldes que as ofensas, esclarecendo que as acusações levianas anteriormente publicadas não são verdadeiras. Somente assim é possível fazer chegar a informação verídica ao mesmo público que recebeu – e compartilhou – as ofensas publicadas pela requerida, permitindo assim que a honra e a imagem do requerente seja minimamente preservada – ou recuperada – diante daqueles que DOS PEDIDOS Ante todo o exposto, requer: a) Seja deferida liminarmente a tutela de urgência, para que seja previamente determinada, sem a oitiva da parte contrária, a retirada das publicações ofensivas da página pessoal da requerida, para que, em que pese seu conteúdo já tenha se espalhado por diversas outras páginas, seja possível minimizar o dano que ainda pode ser causado pelas acusações levianas que foram publicadas; b) Seja determinado à requerida a publicação de retratação em suas redes sociais, nos mesmos moldes em que publicou as ofensas, esclarecendo a todos os seus seguidores que as acusações feitas envolvendo o requerente são inverídicas; c) Sejam reconhecidos os danos à honra e imagem suportados pelo autor em decorrência das publicações feitas pela ré, para condená-la ao pagamento de indenização por danos morais a ser arbitrada por esse D. Juízo, em montante não inferior a R$ 38.000,00 (trinta e oito mil reais). d) Requer-se, ainda, que, decidido o caso por este juízo e havendo a interposição de recurso por qualquer das partes, seja a ré condenada a suportar os ônus sucumbenciais, com o pagamento das custas e despesas processuais, bem como dos honorários advocatícios fixados em 20% (vinte por cento) do valor da condenação, nos termos do artigo 55 da Lei nº 9099/95. Por oportuno, requer também a produção de todos os meios de prova admitidos em direito, em especial a juntada de novos documentos, a tomada de depoimentos pessoais e a oitiva de testemunhas. Por fim, requer o autor sejam todas as intimações e publicações veiculadas em nome de seus patronos, Fernando Gaspar Neisser, inscrito na OAB/SP sob nº 206.341 e endereço eletrônico neisser@gmail.com e Paula Regina Bernardelli, inscrita na mailto:neisser@gmail.com OAB/SP sob nº 380.645 e endereço eletrônico paula.regb@gmail.com, ambos com escritório situado na Capital do Estado de São Paulo, na Avenida Paulista, nº 2073, Horsa II, Conjunto Nacional, 19º andar, sob pena de nulidade. Dá-se à presente causa o valor de R$ 38.000,00 (trinta e oito mil reais). Nestes termos, pede deferimento. São Paulo, 22 de janeiro de 2018. FERNANDO GASPAR NEISSER OAB/SP 206.341 PAULA BERNARDELLI OAB/SP 380.645 mailto:paula.regb@gmail.com
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