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ACALÁSIA – RESUMO Ana Beatriz Tenório – Turma 06 1. Anatofisiologia do esôfago: 1/3 do esôfago: músculo estriado esquelético (sofre alteração em doenças desse tipo de músculo e do SNC – nervos cranianos e do bulbo) 2/3: musculatura lisa 50% circular/50% longitudinal (enervação autonômica – inibitória (= relaxamento) pelo óxido nítrico e excitatória (= contração) pela ACh) Durante a deglutição, a porção do esôfago superior ao bolo alimentar sofre contração, enquanto a inferior relaxa para permitir o deslocamento do alimento, e assim por diante. Funções: - Conectar a cavidade oral ao estômago - Impedir aerofagia e aspiração pulmonar (EES – músculo cricofaríngeo, principalmente) - Impedir o refluxo gastroesofágico e relaxar para a passagem do bolo alimentar (EEI) Os esfíncteres esofagianos: - Superior: bem delimitado visualmente, músculos específicos - Inferior: não é visualizado igual o superior, não possui limites claros. Fica na cavidade intra- abdominal (após o diafragma) e sofre ação de diversas pressões tanto do próprio diafragma como vísceras abdominais (pressão > cavidade torácica) Sintomas esofagianos: - Pirose: sensação de desconforto retroesternal associado a sensação de queimação (diferente de azia) - Odinofagia: dor à deglutição (pode ter como causa infecções que cursam com ulceração) - Disfagia: dificuldade de engolir o alimento • De transferência: cursa mais comumente com engasgos • De condução: sensação de entalo 2. Introdução da Acalásia: É o distúrbio motor primário mais comum do esôfago, com maior incidência na faixa etária de 25 a 60 anos (especialmente antes dos 40). Cursa com: - Déficit de relaxamento fisiológico do EEI durante a deglutição (principal característica) - Graus variados de hipertonia do EEI - Substituição total da peristalse normal do corpo esofagiano por contrações anormais (fracas ou vigorosas – menos comum). 3. Fisiopatologia e manifestações clínicas: - Degeneração dos corpos celulares dos neurônios do plexo de Auerbach, presente na parede esofagiana, responsável pela coordenação motora do esôfago. - Perda inicialmente dos neurônios inibitórios e, em casos mais avançados, dos colinérgicos também. Assim, tanto o EEI quanto o corpo do esôfago impedem a passagem do bolo alimentar = disfagia de condução, tanto para sólidos como líquidos. Essa disfagia surge insidiosamente (meses ou anos). Obs: paciente com acalasia costuma comer bem devagar, bebendo muita água para empurrar o alimento e até mesmo contorcendo o corpo para ajudar (inclinando para frente, levantando o queixo e alongando o pescoço). Costuma sentir sensação de plenitude retroesternal inicialmente, até que o EEI seja forçado a se abrir, provocando um alívio repentino conforme o esôfago esvazia. - A obstrução à passagem faz com que o esôfago retenha material não digerido, provocando variados graus de dilatação em seu corpo (associado à disfagia, queixas de regurgitação e broncoaspiração do material retido. Halitose e crises de tosses também podem ser manifestadas.) - Perda de peso é uma constante, porém insidiosa e de intensidade leve a moderada. Se importante e rápida, suspeitar de CA. - Odinofagia: não é sintoma característico, mas pode ocorrer nos estágios iniciais (ainda há contração). - Dor torácica (cólica esofagiana) é relatada nos pacientes com acalásia vigorosa, nas fases iniciais. Obs 2: a acalásia é uma lesão pré-maligna, sendo o carcinoma escamoso o tipo mais comum, complicando em 1 a 10% dos pacientes, após 15 a 25 anos. Mecanismo etiopatogênico é a irritação mucosa pelo material estagnado (metaplasia -> neoplasia). 4. Diagnóstico: Detectada em exames convencionais, como radiografia de tórax e esofagografia baritada, mas o padrão ouro é a esofagomanometria. Na radiografia simples: - Ausência da bolha gástrica - Massa mediastínica tubular ao lado da aorta - Nível hidroaéreo no mediastino na posição ereta (material estagnado no esôfago) Na esofagografia baritada: - Dilatação do corpo esofágico (megaesôfago) - Estreitamento em “bico de pássaro” próximo ao EEI - Atraso no esvaziamento esofagiano - Presença de contrações esofagianas não peristálticas - Classificação de Rezende: • Estágio I: forma anectásica. Calibre normal (até 4 cm); pequena retenção de contraste, um minuto após a deglutição • Estágio II: discinético. Pequeno aumento de calibre (4-7 cm); franca retenção do contraste (megaesôfago leve) • Estágio III: francamente dilatado (megaesôfago clássico, 7-10 cm); atividade motora reduzida e grande retenção de contraste • Estágio IV: dolicomegaesôfago. Dilatação maior que 10 cm e tortuosidade Na esofagomanometria: Principal exame diagnóstico, especialmente quando os radiográficos são normais ou inconclusivos. Os achados dela são os mesmos da radiografia e esofagografia. Obs: presença de refluxo gastroesofágico fala contra acalásia! 5. Etiologia: Primária: mais comum, idiopática. Secundária: no Brasil, representada pela doença de Chagas. Nesse caso, a fisiopatologia se dá da mesma forma, com o complexo de Auerbach sendo destruído pelo T. cruzi. Como a acalásia chagásica acomete indivíduos na fase crônica da doença, o diagnóstico é feito por ELISA ou reação de Machado-Guerreiro. 6. Tratamento: Objetivo: promover relaxamento do EEI. Não existe método terapêutico que normalize a contratilidade do corpo esofagiano, tudo é paliativo. Tto medicamentoso: - Nitratos: SL, antes das refeições - BCC: Nifedipino 10 mg VO 6/6h (reduzem a pressão do EEI, são boas opções para pessoas com sintomas leves a moderados) - Toxina botulínica: injeção intramural e circunferencial. Atua através do bloqueio dos neurônios colinérgicos. (usada quando se quer resultado imediato, eficácia de 90% em um mês, porém efeito de apenas 3-6 meses. Reservada principalmente para casos de alto risco cirúrgico.) Em pacientes com sintomatologia proeminente ou refratários, métodos intervencionistas são a escolha: - Dilatação pneumática por balão: resultados satisfatórios em 60-85% dos casos. Pontos negativos: (1) perfuração esofágica, 2-6% dos casos; (2) recidiva dos sintomas, 50% dos casos (novas dilatações podem ser realizadas nesses casos). (3) Refluxo gastroesofágico desenvolve-se em 2%. - Miotomia de Heller + fundoplicatura: secção das camadas longitudinal e circular da musculatura lisa do esôfago distal, com extensão até 1 a 2 cm abaixo da cárdia, associada a fundoplicatura para evitar desenvolvimento de DRGE (sem a fundoplicatura, até 20%). Sucesso terapêutico: 70-90% dos casos, chance bem menor de recidiva comparada à dilatação pneumática. Tradicionalmente feita por toracotomia esquerda, porém ultimamente a laparoscopia tem sido mais bem vista, por apresentar os mesmos resultados e com menos morbidade e tempo de atestado. - Esofagectomia: reservada para casos de megaesôfago graus III e IV, em que o órgão já não possui mais funcionalidade. - POEM: através de uma pequena incisão na mucosa esofágica, um instrumento que disseca a submucosa até chegar ao EEI, realizando a secção das fibras musculares por dentro da parede do órgão. Menos invasivo que a miotomia cirúrgica e taxa de sucesso 80-90%.