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CLÍNICA MÉDICA DE RUMINANTES SISTEMA CARDIOVASCULAR O exame do aparelho circulatório revelará seu possível envolvimento no processo patológico. Neste caso, também, deve-se esclarecer se tal envolvimento é primário (idiopático) ou secundário (sintomático). Isto é, se os órgãos do sistema circulatório foram afetados diretamente (p. e. na pericardite traumática por corpo estranho perfurante no retículo), ou indiretamente (p. ex. insuficiência circulatória ou cardíaca na evolução da doença infecciosa ou tóxica grave, com localização em outra parte do organismo). O resultado desse exame muitas vezes é determinante para a avaliação do prognóstico, que se característica como grave quando há comprometimento da função dos órgãos envolvidos na circulação. Indicações na anamnese que levam a pensar em uma afecção do coração, dos vasos ou do sangue são, entre outras: edema do peito ou pescoço, hematoma com grande região afetada ou feridas com grandes perdas de sangue, perda de sangue (secreção/excreção) de sangue por orifícios, hemoidrose, taquipnéia ou respiração ofegante, cansaço rápido após exercício, processos infecciosos purulentos e crônicos de localização variada, rigidez corporal generalizada, edemas de articulações e tendovagina, emagrecimento progressivo (em terneiros, crescimento retardado) relacionado com febres recidivantes e sem origem aparente e orelhas frias. Outros achados no exame clínico geral indicam a presença de problemas circulatórios: fraqueza generalizada, abdução dos codilhos, estase ou endurecimento das veias jugular e mamária, edemas na região de barbela, excreções com sangue, anomalias do pulso, febre ou distribuição irregular do calor corpóreo. O mesmo deve ser observado no exame das mucosas aparentes: palidez, cianose ou petéquias. O exame físico do sistema circulatório deve seguir a ordem: Coração → artérias (pulso) e capilares (vasos espisclerais, mucosas aparentes) → grandes veias (jugular, subcutânea abdominal). Coração No bovino, o coração localiza-se ventralmente na cavidade torácica, se estendendo do 3º- 6º pares de costelas, com sua base dorsal alcançando a metade da altura vertical do tórax, o ápice cardíaco se localiza a alguns centímetros acima do esterno; é direcionado levemente e caudalmente à esquerda, e com isso cinco sétimos do músculo cardíaco ficam em cima do lado esquerdo (dois sétimos do lado direito) do plano mediano. Por esse motivo, examina-se o coração primeiro do lado esquerdo, mas em todos os casos suspeitos (anemia, febre recorrente, aumento da área de macicez, aumento da FC, achados auscultatórios não muito claros, doença não responsiva, etc) deve-se efetuar o exame também do lado direito. O exame do coração é feito por: Inspeção: para a visualização da região cardíaca, deve-se observar a parede peitoral medialmente ao codilho esquerdo. Normalmente, não se observa a função cardíaca já que o choque cardíaco só faz vibrar a parede torácica, no caso de palpitação e batimentos com aumento de intensidade ou quando o coração se desloca em direção caudal. Além disso, observa-se edema congestivo em pele e subcutâneo em região de barbela (insuficiência cardíaca direita grave), bem como pode haver aumento do peito e de barbela causado por afecções locais (flegmão gasoso e tumor), o que pode gerar compressão de jugular e, com isso, impedir o retorno venoso para o coração; Palpação: os batimentos cardíacos podem ser sentidos com as pontas dos dedos, colocando-se a mão esquerda no tórax na parte interna do codilho e localizando-se o 4º espaço intercostal (se necessário o 3º e o 5º). Deve-se observar o choque do coração ou choque lateral do coração e outras vibrações na parede do tórax, assim como sensibilidade dolorosa na região cardíaca. O choque cardíaco é devido a contração do miocárdio, acompanhada de uma torção para a esquerda, sendo transmitido à parede torácica em menor ou maior grau. A intensidade e local do choque cardíaco, do conteúdo do líquido do pericárdio, da quantidade de ar contida nos lobos pulmonares na área pericárdica, da espessura da parede torácica, assim como de alterações que causam modificações de espaço (p. x. tumores) nas regiões próximas ao coração; normalmente não se sente o choque cardíaco em animais obesos, mas sente-se bem em animais magros, sobretudo após esforço físico e excitação psíquica (palpitação). Qualquer evidência de deslocamento, enfraquecimento, arritmia ou aumento do choque cardíaco deve ser acompanhada: em inflação restrita ao lado esquerdo da pleura ou do pericárdio e no pneumotórax esquerdo, é necessário sentir o coração do lado direito. O deslocamento cranial do choque cardíaco pode ser consequência de um deslocamento cranial do diafragma (por sobrecarga dos pré- estômagos, ascite ou hidrâmnio, gestação gemelar), de algum processo patológico que ocupe espaço no mediastino ou de uma eventração de porções dos pré-estômagos para a cavidade torácica (hérnia diafragmática). Por outro lado, pode haver tumores ou alterações ou alterações inflamatórias localizadas na fissura mediastínica anterior ou subcardial, assim como aumento cardíaco que leve a um deslocamento caudal ou dorsal do choque cardíaco. Choque cardíaco enfraquecido ou ausente são alterações que acompanham processos que dificultam a palpação, por aumento de espaço entre o coração e a parede torácica, ou que impeçam a função normal do coração: acúmulo de gordura, edema ou aumento de espessura da pleura, enfisema pulmonar, acúmulo de líquido no pericárdio (hidro, icoro, fibrino, pio ou hemopericárdio), leucose pericárdica, pneumo, pio, icoro ou hidrotórax. Animais magros também apresentam as mesmas alterações na ICC grave; bovinos mal nutridos têm geralmente um batimento cardíaco forte. Por outro lado, um batimento cardíaco mais intenso e palpitante pode significar o início de uma doença cardíaca ou perfusão inadequada dos vasos (perda de sangue, colapso valvular), casos em que o coração trabalha mais para manter a homeostasia (compensação). Animais com pericardite traumática recente e com pleurite aguda podem gemer; Percurssão (sonora e dolorosa): a percurssão sonora da regiãocardíaca é realizada, juntamente com a da área pulmonar, com um martelo plessinétrico pequeno e com ponta macia e um plessímetro ou dígito-digital. Para esse procedimento, faz-se o animal avançar com o membro anterior do lado que vai ser examinado ou um auxiliar mantém o membro para frente. Deve-se percurtir primeiramente na borda caudal do ancôneo de cima para baixo; a partir do som maciço do coração, a percursão é feita ventralmente, caudoventralmente, caudalmente e caudodorsal para contornar toda a área de macicez cardíaca. Como o coração está afastado da parede torácica pela parte ventral dos pulmões, que neste local é mais delgada, o som percurtido próximo ao esterno na área torácica do campo de percurssão pulmonar apresenta-se relativamente maciço. No animal adulto e saudável, a área cardíaca do lado esquerdo tem o tamanho da palma de uma mão e a direita é um pouco menor ou só levemente observada. A delimitação superior da área de macicez cardíaca forma um arco na direção caudoventral e um ângulo de 45º com a linha horizontal. Em pacientes com enfisema pulmonar, a área de macicez cardíaca é menor dos dois lados ou está ausente; nos animais com pneumotórax, ocorre o mesmo do lado acometido. Acúmulo de líquido no pericárdio leva a um aumento da área e som mais caracteristicamente maciço da região cardíaca. Deve-se observar uma eventual sensibilidade. Para a percurssão dolorosa, usa-se um martelo mais pesado. Uma reação positiva do animal (defesa, gemido ou medo) pode indicar alterações inflamatória e/ou traumática na área ventral da cavidade torácica (inclusiva pericárdio); Auscultação: o local mais propício para auscultara atividade cardíaca é à esquerda, do 3º - 4º espaço intercostal, na altura média entre o codilho e a linha horizontal da articulação do ombro, sempre exercendo certa pressão sobre o diafragma do estetoscópio; o exame cardíaco bem conduzido engloba a auscultação do lado esquerdo e do lado direito, principalmente nos casos em que a inspeção, a palpação e/ou a percurssão do coração indicam suspeita ou presença de doença. O primeiro ruído cardíaco (sisrólico) coincide com o início da sístole ventricular, e ocorre pela vibração do miocárdio durante a contração e pelo fechamento das válvulas atrioventriculares (ruído muscular e valvular). É mais longo, grave e alto do que o segundo ruído, que coincide com o choque cardíaco. O segundo ruído cardíaco é mais curto, agudo e baixo, sendo originado pelo fechamento das válvulas semilunares (ruído valvular), coincidindo com o início da diástole (ruído cardíaco diastólico); e precedendo o silêncio cardíaco. Em geral o intervalo de tempo entre o primeiro e o segundo ruídos cardíacos é mais curto (pequeno silêncio) do que o último e a próxima sístole (grande silêncio). O primeiro ruído é mais bem auscultado sobre o ventrículo enquanto o segundo é sobre a base do coração. No caso de alteração da função ventricular (insuficiência cardíaca) pode-se auscultar, ocasionalmente, o ruído de baixa frequência do enchimento ventricular, devendo ser diferenciado, de acordo com o momento do ciclo, do terceiro ruído cardíaco oriundo do rápido enchimento passivo do ventrículo e do quarto ruído cardíaco originado do rapidíssimo enchimento ativo dos ventrículos (também durante a sístole atrial). Para a auscultação das válvulas cardíacas, deve-se procurar os focos de auscultação máxima (puncta máxima): Válvula pulmonar: do lado esquerdo, com o membro dianteiro deslocado cranialmente, em meia altura entre o codilho e a articulação do ombro, deve-se colocar o diafragma do estetoscópio o mais cranialmente possível; Válvula aórtica: do lado esquerdo, pouco abaixo da linha horizontal da articulação do ombro, posicionar o diafragma do estetoscópio não tão cranial quanto no ponto anterior; Válvula bicúspide (mitral): do lado esquerdo, pouco abaixo da linha horizontal da articulação do ombro, posicionar o diafragma mais caudalmente (quinto espaço intercostal); Válvula tricúspide: do lado direito, na altura média entre o cotovelo e a articulação do ombro, posicionar o diafragma o mais cranialmente possível. À auscultação a função cardíaca, devem-se observar: frequência, intensidade, ritmo, delimitação entre os ruídos e a presença de sons adventícios. A frequência cardíaca geralmente corresponde ao pulso embora possa ser mais rápida do que este na insuficiência cardíaca grave e em alterações do ritmo ("pulso deficiente"). Frequência cardíaca acima de 90bpm no bovino adulto m repouso, acima de 100bpm em bovinos jovens e acima de 120bpm no bezerro é sinal de disfunção cardíaca (taquicardia). Tabela 1: Padrões de pulso fisiológicos em bovinos. Variação Batimentos por minuto Bezerros lactantes 90 - 110 Bovino jovem 70 - 90 Vacas secas e puerpérias 65 - 80 Vacas em gestação avançada 70 - 90 Touros e boi grandes 60 - 70 Quando ocorrem casos de taquicardia com exame normal do aparelho circulatório, é provável que a causa esteja em outro órgão. No caso de animais medrosos que ficam inquietos com o exame é recomendável que se espere o tempo necessário para que a frequência cardíaca volte ao normal em estado de repouso. Redução da FC para menos de 60bpm (bradicardia) também é considerada patológica, podendo ser ocasionada por vagotonia, distúrbios de condução do coração ou distúrbios metabólicos (cetose, uremia e colemia → aumento dos sais biliares no sangue). A bradicardia vagal é muitas vezes um sinal acompanhado de alteração no transporte de alimentos pelos pré- estômagos e abomaso (síndrome de Hoflund). No diagnóstico diferencial, Dirksen e Rantze (1968) indicam a injeção subcutânea de 30mg de sulfato de atropina por 500kg de peso vivo; com isso, a FC de animais que tem lesões no vago aumenta no mínimo 16% em 15 minutos, enquanto em animais com bradicardia com outra origem a FC permanece inalterada, ou aumenta muito pouco. Normalmente, a intensidade dos ruídos é forte e uniforme, isto é, à auscultação, os ruídos são nítidos e tem a mesma força.Um aumento maior ou menor da força do primeiro ruído (palpitação, batimentos mais fortes) é observado no aumento do trabalho cardíaco por motivos fisiológicos ou patológicos (esforço físico, excitação psíquica, anemia ou insuficiência cardíaca). Um aumento da força do segundo ruído que soa mais curto e mais alto é devido a algum aumento da resistência do fluxo na pequena ou na grande circulação (enfisema pulmonar, broncopneumonia generalizada: aumento do som da válvula pulmonar; estenose aórtica: aumento do som da válvula aórtica). As alterações que reduzem ambos os ruídos cardíacos, de modo que mal possam ser auscultados ou sejam inaudíveis de um ou de ambos os lados, são as mesmas que diminuem a intensidade do choque do coração na parede torácica ou aumentam a área de macicez cardíaca. À auscultação, quando se torna impossível se delimitar os ruídos cardíacos com clareza, ou seja, eles se tornam confusos e ininterruptos, pode-se desconfiar do início de uma endocardite valvular; quando, além disso, há taquicardia, pode ser indício de maior deterioração da função cardíaca. Tabela 2: Características de diferenciação entre ruídos adventícios pericárdicos e endocárdicos Características auscultatórias Origem do ruído adventício Endocárdio (sopro) Pericárdio Audibilidade do ruído cardíaco Geralmente claro e próximo (palpitante) De longe e indistinto (baixo e embrulhado) Característica do ruído adventício Sopro, rugido, chiado, murmúrio, crepitação, sibilo ou ronronar Roce, fricção, arranhadura, esfregadela, chapinhar, gargarejo ou estalo. Associação do ruído a um ponto de auscultação máxima + Associação do ruído a uma determinada do ciclo adventício + Audibilidade do ruído De longe De perto Causa do ruído adventício Geralmente de origem funcional, endocardite trombótica (procurar metástase em outros órgãos), defeitos congênitos do coração/vasos. Geralmente pericardite traumática Tipos de ruídos: Ruídos adventícios endocárdicos (sopros): surgem no interior do coração, geralmente em consequência de um defeito valvular. A insuficiência ou estenose da válvula atrioventricular ou das semilunares provoca turbulência intracardíaca do fluxo sanguíneo. As alterações que as originam costumam ser de natureza inflamatória ou trombótica (endocardite valvular), resultante de metástase de um foco infeccioso (infecção podal, abscesso hepático, metrite, mastite), e, raramente, uma perfuração do endocárdio por corpo estranho. Outro exemplo de ruído adventício funcional encontrado em alguns bovinos sadios ou em caso de taquicardia, à auscultação sobre a artéria pulmonar, é o leve borbulhar ou murmúrio sistólico. Possuem som de "F" (sopro protossistólico "buhf- dup", sopro sistólico "buh-f-dup", sopro pré-diastólico "buh-fdup", sopro diastólico "buh-dupf" e sopro pré-sistólico "fbuh-dup". o Ruídos adventícios orgânicos: sopros causados por anomalias genéticas (persistência do forame intraventricular); o Sopros funcionais ou inocentes: sopros endocardiais sem origem orgânica; o Sopros anêmicos: após perda de sangue por hemólise ou hemorragia e na inanição grave; ↓ Nos pacientes com FC alta, há certa dificuldade em identificar se o ruído endocárdico ocorre durante o primeiro e segundo ruídos, sendo recomendável a utilização a eletrocardiografia e a fonocardiografia. Os ruídos adventícios endocárdicos podemvarias conforme tabela 2. Eles parecem vir "de longe" (do interior do coração) e são mais bem descritos como sopros, murmúrios, frêmitos, bramidos, zumbidos, sibilos, chiados e ronronares. Ao contrário dos ruídos pericárdicos, não são só regulares mas também são uniformes em tom, intensidade e localização. Para localizar o defeito valvular, ausculta-se cada válvula individualmente, comparando os focos de maior intensidade. A ausência de sopros endocárdicos não é uma prova segura de que o animal não tenha lesões valvulares já que apenas 70% dos casos são audíveis. Ruídos adventícios pericárdicos ou exocárdicos: tem origem externamas estão intimamente ligados ao coração, sendo correlacionados com a função cardíaca e não ao ciclo cardíaco. Ressoam de perto e os ruídos cardíacos são mais ou menos abafados por sons de roce, fricção, esfregar, raspagem, arranhadura, coçar, chapinhar, gargarejar, borbulhar, variando em timbre, força, duração e ponto máximo de duração. Para sua auscultação, é necessário uma auscultação prolongada e repetida em vários pontos. A origem mais comum desse ruído e á pericardite traumática, na qual não há só o acúmulo de líquido como também de fibrina (ruído de roce) e às vezes gases originados da putrefação (chapinhar), semelhante ao encontrado em pericardite tuberculosa e leucose do pericárdio. Pacientes com hérnia diafragmática podem apresentar esse tipo de ruído devido ao batimento do coração contra a parede do retículo prolapsado para a cavidade torácica. Ruídos adventícios endocárdicos e pericárdicos: tornam-se mais claros após esforço físico (movimentação rápida do animal ou interrupção breve da respiração). Ruídos adventícios provenientes do pulmão mas originados pela atividade cardíaca: é comum em bovinos saudáveis, sendo, na maioria das vezes, um ruído cardiorrespiratório protossistólico, ocasionado pela contração do músculo cardíaco (entrada de ar em áreas pulmonares próximas ao coração). Em pacientes com alterações broncopneumônicas, às vezes se detecta um ruído cardiopneumônico análogo, traduzido pela auscultação de um sibilo sincrônico com o batimento cardíaco, em especial a sístole. Exames complementares: Punção do pericárdio: em bovinos saudáveis, geralmente não se obtém líquido à pução. Após a tricotomia, anti-sepsia e anestesia local, introduz-se uma agulha no espaço intercostal na borda causal da área onde a macicez cardíaca foi detectada e realizada a punção ao puxar o êmbolo de uma agulha para extrair o líquido que é enviado para a análise (física, presença de substâncias sólidos, a prova de Rivalta e os níveis de proteína → albumina e globulina, bem como a contagem total de células; Fonocardiograma: registro gráfico dos ruídos cardíacos, bem como ruídos endocárdicos e pericárdicos, com a ajuda de um microfone, um amplificador e uma impressora semelhante a utilizada para eletrocardiograma. Apresenta certas vantagens no diagnóstico de anomalias congênitas, lesões valvulares adquiridas, alterações no ritmo cardíaco e problemas no miocárdio. Eletrocardiograma: representação gráfica da corrente elétrica do coração. Doenças que podem apresentar alterações eletrocardiográficas, mas que não demonstram distúrbios específicos das funções do miocárdio (alterações de ritmo, modificação na forma, no volume e na integridade do tecido do músculo cardíaco) são: paresia puerperal hipocalcêmica, tetania hipomagnesêmica, calcinose, miodistrofia enzoótica dos bezerros, lesão do nervo vago, pericardite e miocardite traumáticas, cardiomiopatia e lesões do músculo cardíaco causadas por leucose, tuberculose, febre aftosa ou parasitas; Ecocardiografia: traz certas vantagens para o diagnóstico de algumas doenças; Radiografia: em bovinos é muito difícil devido a massa corporal bastante volumosa, sendo possível apenas em animais em decúbito dorsal, onde o coração, áreas mediastínicas pré e pós- cranial pode ser examinadas. A principal indicação para o Raio X é nos casos de pericardite traumática. Artérias O exame dos "batimentos" das artérias consiste na palpação do pulso que, em geral, é feita na artéria facial com ambas as mãos de forma simultânea. Deve-se observar além da frequência , ritmo e qualidade do pulso. O ritmo do pulso geralmente é regular e os intervalos entre as ondas do pulso do animal em estação e em repouso não se alteram. O pulso irregular é influenciado pela respiração quando há dispnéia e quando a frequência do pulso aumenta durante a inspiração e diminui durante a expiração. Quando se fala em qualidade do pulso devem-se considerar amplitude, tensão e duração da onda do pulso, assim como grau de repleção da artéria. Tais características dependem do rendimento cardíaco (força de contração, volume por batimento e funcionalidade das válvulas) e da pressão sanguínea (volume sanguíneo disponível e diâmetro e tensão do vaso), sendo as anormalidades encontradas um reflexo dessas funções. Para analisar a qualidade do pulso, primeiramente pega-se o vaso entre os dedos de maneira que ele faça um movimento de rolagem para frente e para trás e depois pressiona-se o vaso com o dedo anular até que a força da onde desapareça. A desigualdade do pulso é considerada patologia circulatória, sendo um dos sinais de insuficiência cardíaca grave. A amplitude do pulso compreende o aumento da circunferência da artéria durante a pulsação, dessa maneira pode-se diferenciar o pulso grande e o pulso pequeno de amplitude normal. A tensão do pulso é avaliada pela força necessária para se pressionar o vaso. Pode servir como medida da funcionalidade cardíaca (pulso forte ou fraco) e do tônus do vaso (pulso duro ou mole). A duração da onde do pulso é caracterizada como pulso tardio, saltitante ou normal. A avaliação conjunta da amplitude e da onda do pulso indicam repleção do vaso: cheio, vazio ou normal. Dessa forma, o pulso com mau prognóstico é caracterizado por pequeno, curto e duro, assim como pequeno, tardio e mole. Capilares O exame dos menores vasos visíveis é realizado pela inspeção dos vasos episclerais. Para a sua visualização, deve-se girar a cabeça do animal e com isso a esclera passa a ser visualizada. Os vasos são analisados quanto a sua repleção, à coloração e à delimitação, assim como uma eventual pulsação. No bovino, essas arteríolas normalmente são moderadamente cheias e bem delimitadas. Isto é, destacadas do fundo. Um preenchimento exacerbado das arteríolas, no qual os vasos se tornam "congestos" é característico de inflamação do olho, sendo bem evidenciada na febre catarral maligna. O preenchimento exacerbado das vênulas pode indicar diminuição do retorno venoso ao coração (estase venosa) enquanto arteríolas com pouco sangue e contorno indefinido são sinais de anemia grave. Quando os vasos episclerais aparecem "desbotados", sem contorno definido, de cor vermelho-ferrugem, indicam aumento da permeabilidade capilar em consequência de intoxicação (capilares tóxicos) ; na diátese hemorrágica, podem-se identificar hemorragias na mucosa e em aberturas naturais (petéquias). O tempo de perfusão capilar é medido pelo tempo no qual a mucosa e a pele (tetas, lábios, etc.) não pigmentadas levam para readquirirem a cor rosada e sua perfusão sanguínea normais, após palidez temporária provocada por pressão local e temporária com o dedo, sendo encontrado aumentado em casos de distúrbio de coagulação periférica (choque, colapso). A permeabilidade capilar pode ser avaliada ao se colocar um garrote na base da orelha ou na extremidade de um membro. Em animais com tempo de sangramento aumentado, após pouco tempo , se produz um "suor sanguíneo" na pele, na parte garroteada. Nesses casos, deve-se avaliar também a coagulação do sangue. Veias Para examinar as grandes veias (p.e. jugular e mamária), deve-seinspecioná- las e palpá-las com o animal em estação e em local plano, verificando-se o grau de plenitude das veias e eventuais ondulações dentro do vaso, assim como a consistência de sua parede através da palpação. Grau de plenitude: no ventre de vacas leiteiras pode-se identificar a veia mamária, que tem a espessura de um dedo e é levemente sinuosa. Estando abaixo da linha do coração, em geral, está bem cheia devido à pressão hidrostática, e pelo mesmo motivo, quando é comprimida, a porção do lado do coração não se esvazia. A veia jugular, que está acima da linha do coração, é pouco visualizada e palpável em animais saudáveis, mas quando pressionada, torna-se mais cheia acima do ponto de pressão devido ao acúmulo de sangue ao passo que a porção abaixo do ponto de pressão se esvazia no próximo batimento cardíaco (prova de estase venosa negativa). A estase pode ser causada estreitamento na entrada do peito, causado por processos flegmonosos ou tumorais de maneira que a jugular fique constantemente comprimida, e raramente ocorre por estenose da tricúspide a qual impede o fluxo de sangue venoso no ventrículo direito, insuficiência cardíaca idiopática (cardiomiopatia), hidrotórax ou piotórax, bem como geralmente é causado por impedimento do trabalho cardíaco em consequência de alterações no pericárdio devido a tuberculose, leucose ou corpo estranho, de modo que, durante a diástole, o coração não se expande suficientemente. Prova de estase venosa positiva é quando o segmento abaixo da compressão não se esvazia. No caso de pacientes desidratados, pode-se avaliar a porcentagem de líquido extracelular pela compressibilidade da jugular juntamente com a presença de enoftalmia e do valor do hematócrito. Mecanismos de ondulação: as oscilações da pressão intratorácica de origem respiratória aumentam e diminuem o ritmo do perímetro da veia jugular imediatamente anterior à entrada do peito durante a inspiração e expiração. Esta ondulação é característica em pacientes com dispnéia e indica patologia do aparelho respiratório. À palpação, pode-se observar pulsação mais ou menos acentuada das veias jugulares e mamária durante a prova de estase venosa em pacientes estenose tricúspide, hipertonia ventricular direita ou pulmonar associada a doença pulmonar grave e insuficiência cardíaca esquerda (diminuição da ação de sucção da diástole ventricular). Consistência da parede: as grandes veias são examinadas através da palpação rolante de seu eixo transversal em trajetos acessíveis, observando-se eventuais aumentos de espessura em sua parede, que normalmente quase não são palpáveis. Deve-se observar também a mobilidade da parede do vaso em relação aos tecidos vizinhos. O endurecimento de origem inflamatória restrito à parede do vaso denomina-se flebite, quando se estende ao lúmen e o bloqueia parcial ou totalmente denomina-se tromboflebite; se os tecidos vizinhos também estiverem envolvidos denomina-se para ou peri(trombo)-flebite. Sendo essas lesões causadas por intravenosas mal aplicadas de medicamentos irritantes.
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