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Síndrome da Resposta Inflamatória Sistêmica - Sepse Professora: Rafaella de Andrade Inflamação – conceitos básicos: Sinônimo de dor, edema, rubor e febre Inflamação não é doença Seus sintomas são disparados pelo próprio organismo quando tenta se recuperar de uma infecção ou reparar os danos de traumas É uma resposta normal do hospedeiro contra agentes infecciosos e traumas O que ocorre no organismo? Como é essa resposta? Exemplo: Inflamação de garganta A dor na região das amígdalas, o edema que dificulta a deglutição, a vermelhidão no local e a febre são sinais típicos da reação inflamatória Dor, calor, rubor e inchaço Sinais clássicos de inflamação Causados pelos mediadores inflamatórios Interleucina 1 e prostaglandinas: Mediadores inflamatórios disparados pelas células que foram danificadas Irritam os nervos locais = Dor No cérebro aumentam a sensação dolorosa e desestabilizam o centro regulador da temperatura (hipotálamo) = Febre Prostaglandinas: Junto com as aminas: Ampliam o calibre dos vasos junto da lesão = Intensificação da circulação = Rubor Mediadores: Separam as junções das células que formam a parede dos vasos = Escape de líquido = Edema Efeito das citocinas TNF, IL1 e IL6 durante traumatismo e infecção: Febre Elevação dos lipídios séricos Síntese aumentada de glicose Perda de tecido muscular e gordura Perda do apetite e letargia Aumento das proteínas de fase aguda Inflamação não é doença e sim um processo de ajuste do organismo a uma lesão Sem os mediadores inflamatórios seria impossível atrair os glóbulos brancos para defesa do organismo SIRS (Síndrome da resposta inflamatória sistêmica) Resposta do organismo a um insulto variado (trauma, pancreatite, grande queimado, infecção sistêmica) Com a presença de pelo menos 2 dos seguintes critérios: Temperatura > 38° ou < 36°C Frequência cardíaca > 90 bpm FR > 20 mpm ou PaCO2 < 32 mmHg Leucócitos > 12.000 cels/mm³ ou < 4.000 cels/ mm³ ou ainda presença de > 10% de formas jovens (bastões) Definição de SIRS: Síndrome da resposta inflamatória sistêmica (SIRS) Termo escolhido para unificar uma ampla variedade de doenças graves que compartilham sinais clássicos de inflamação Sepse = SIRS decorrente de infecção SIRS não está limitada a sepse (queimados, trauma) Pode ocorrer em resposta a outras condições Sepse: SIRS decorrente de processo infeccioso comprovado ou com alta suspeita clínica Não é necessária cultura positiva A evidência de infecção pode ser feita com bases clínicas, como o encontro de abscessos, escaras Sepse grave : Sepse + manifestações de hipoperfusão tecidual e disfunção orgânica caracterizada por: Acidose láctica, oligúria, ou alteração do nível de consciência ou hipotensão arterial Hipotensão arterial sem necessidade de agentes vasopressores Choque séptico: Hipotensão ou hipoperfusão induzida pela sepse Refratária à ressuscitação volêmica adequada Necessidade de agentes vasopressores Síndrome da disfunção de múltiplos órgãos(SDMO): Resultante de um processo inflamatório sistêmico incontrolado Atingindo vários orgãos por um mesmo mecanismo Geralmente 6 orgãos/sistemas são avaliados: pulmão, sistema cardiovascular, rins, fígado, sistema nervoso e coagulação Microrganismo Patogênico Resposta Inflamatória Local (Infecção Local) Resposta Inflamatória Sistêmica (Sepse) Resposta Inflamatória Sistêmica + perfusão inadequada de orgãos (Sepse grave) Sepse + Hipotensão (Choque séptico) SDMO MORTE A sepse e a SIRS são caracterizadas: Pela produção excessiva de mediadores inflamatórios Pela excessiva ativação de células inflamatórias Resultando numa “anarquia metabólica” “O próprio organismo não consegue controlar o que ele criou” A principal consequência desta resposta desenfreada é a SDMO Epidemiologia da sepse: Cerca de 2/3 dos casos são vistos em pacientes já hospitalizados Pacientes com doenças de base ou procedimentos que tornam sua corrente sanguínea suscetível a invasão Fatores predisponentes: Diabetes, cirrose, NPT, alcoolismo, quimioterapia, infecções no TGI, biliar e urinário, alguns procedimentos cirúrgicos A prevalência de SIRS é alta mais de 50% de todos os pacientes de UTI SIRS 33% de todos os pacientes hospitalizados Sepse 25% de todos os pacientes de UTI Desses, 50% sepse grave Mortalidade: Termos como síndrome séptica e septicemia caíram em desuso SIRS 10% Sepse 20% Sepse grave 20 a 40% Choque séptico 40 a 60% A causa mais comum de morte em pacientes com sepse grave é a disfunção múltipla de órgãos Caracterizada pela deterioração aguda da função de 2 ou mais orgãos Orgãos envolvidos: pulmões, rins, coração e fígado Coagulopatia denominador comum de todo o processo microvascular na DMO SNC Encefalopatia séptica Fase ebb (imediatamente após lesão) Fase de fluxo (após ressucitação de líquidos e restauração do transporte de O2) Resposta aguda Resposta adaptativa Choque hipovolêmico O catabolismo predomina O anabolismo predomina Perfusão tissular Glicocorticóides Gradualmente resposta hormonal Taxa metabólica Glucagon Consumo de O2 Catecolaminas Taxa metabólica Pressão sanguínea Citocinas, mediadores lipídicos Associada com recuperação Temp. corpórea Ptnas de fase aguda Potencial para restauração da ptna corpórea Excreção de N Taxa metabólica Cicatrização da ferida depende da ingestão de nutrientes. Consumo de O2 Utilização prejudicada de biocombustíveis Alterações endócrinas: resposta hormonal ao trauma, ao estresse e à sepse: Hormônios anabolizantes: Insulina Hormônio do crescimento Hormônios catabolizantes: Glicocorticóides Glucagon Catecolaminas Hormônios com ação hidroeletrolítica: Hormônio antidiurético (ADH) Aldosterona Resposta neuroendócrina ao estresse Resistência à insulina e GH Mobilização de substratos glicose/glutamina/ácidos graxos Gliconeogênese e retenção hídrica Gasto energético de repouso aumentado Proteólise nos tecidos periféricos/BN- Inanição x estresse Inanição Hipermetabolismo do estresse Gasto de energia em repouso Quociente respiratório (0,6-0,7) (0,8-0,9) Ativação de mediador - +++ Combustíveis primários Gordura Misturado Proteólise + +++ Oxidação de cadeia ramificada + +++ Síntese de ptnas hepáticas + +++ Ureagênese + +++ Perda de N urinário + +++ Gliconeogênese + +++ Produção de corpos cetônicos ++++ + Alguma perda de peso e de massa magra após o traumatismo grave é inevitável, porém sem a nutrição seria muito maior, com consequências deletérias para a cura e prolongando o período de convalescência Estado hipermetabólico: Fontes de energia: Rápida mobilização do suprimento endógeno Lipólise ocorre acentuadamente Proteínas corpóreas aa para a neoglicogênese Principal fonte de energia Ácidos Graxos Cérebro, Sistema Nervoso, Hemácias Glicose Metabolismo dos carboidratos: A glicose não é mais o principal combustível Neoglicogênese pouco responsiva à glicose exógena Níveis de insulina aumentados Resistência periférica Níveis ótimos de glicemia para pacientes sépticos: 140 - 180 mg/dL > 200 mg/dL da morbi-mortalidade Metabolismo das gorduras: da lipólise lipogênese da oxidação de TG e ácidos graxos de cadeia média e longa Jejum cetonas se constituem em um substituto eficaz para a glicose a neoglicogênese e conservando a proteína corpórea Stress grave Encontram-se preservados o estímulo hormonal para a cetogênese e a capacidade para oxidar cetonas Mas não ocorre cetonemia no stress grave Metabolismo das proteínas: Os aa estão disponíveis para gliconeogênese, proteínas de fase aguda e cicatrização Os aa ramificados (valina, leucina e isoleucina) são os principais substratos para a neoglicogênese A mobilização de aa causa rápida perda de massa magra e BN negativo Características gerais da resposta ao estresse: ↑ gasto energéticoe do consumo de oxigênio Intensa proteólise no músculo esquelético Sacrifício de proteínas estruturais em favor das de defesa Intensa gliconeogênese Oferta de CH x mínimo efeito poupador de ptns As alterações do metabolismo intermediário não são modificadas facilmente com a administração de nutrientes Consequências do catabolismo proteico: Retardo da cicatrização tecidual Retardo da resposta imunológica Diminuição da albumina Aumento das proteínas de fase aguda Comprometimento da coagulação sanguínea Diminuição da função intestinal Favorecimento à instalação de translocação bacteriana Diminuição da massa ponderal Diminuição funcional dos músculos da respiração Tratamento nutricional Objetivos: Preservar as reservas corporais Modular as respostas hipermetabólica e imunológica Fornecer substratos para a síntese de proteínas de fase aguda Prevenir atrofia da mucosa intestinal e a translocação bacteriana Oferecer energia, fluidos e nutrientes em quantidades adequadas para manter as funções vitais e a homeostase Reduzir os riscos da hiperalimentação Garantir as ofertas protéica e energética adequadas para minimizar o catabolismo protéico e a perda nitrogenada. Avaliação nutricional: Métodos rotineiros: Válidos em pacientes sépticos? Grande velocidade de mudança da composição corporal Métodos se tornam de baixa sensibilidade e especificidade O que pode ser utilizado???? História: Pesquisar dados sobre o peso e ingestão alimentar prévia Conhecer o paciente através de sua história Exame Físico: Avaliar sinais de desnutrição prévia: alterações da pele, mucosa, cabelos etc Antropometria: Peso: difícil de mensurar (sem cama balança) Medidas sofrem influência do edema e má distribuição de fluidos Laboratoriais: Proteínas viscerais alteradas: - Pelas variações hídricas - Pela resposta a fase aguda Terapia nutricional: Um dos pilares do tratamento do paciente crítico Novas tecnologias TN cada vez mais prática e segura Gastrostomia endoscópica Sondas nasoduodenais duplo lúmen Cateteres venosos fabricados com materiais biocompatíveis Conduzir a terapia nutricional não é fácil... Resistência a insulina + produção de glicose = Hiperglicemia Dificuldade para administrar fórmulas enterais e parenterais Riscos relacionados a NPT Freqüência de interrupção da TN Causas de interrupção da terapia nutricional enteral: Exames e procedimentos que exigem jejum Instabilidade hemodinâmica Distensão abdominal Íleo prolongado Gastroparesia e vômitos Diarréia Volume elevado de resíduo gástrico Necessidades nutricionais: Calorias Calorimetria indireta Equação de Harris-Benedict Método Prático: (ASPEN e ESPEN) 25 a 30 Kcal/Kg/dia Obesos: 11 a 14Kcal/Kg de peso atual ou 22 a 25 Kcal/Kg de peso ideal/ dia Riscos de uma oferta calórica excessiva Taxa metabólica Da produção de CO2 Consumo de O2 Dependência do ventilador Hiperglicemia Imunossupressão Desidratação Sobrecarga hídrica Esteatose hepática Desequilíbrio eletrolítico Proteínas: 1,2 a 2,0g/Kg/dia % do VCT até 25% Pacientes críticos: Má-absorção Diarréia Atrofia do TGI Disfunção de orgãos Dietas a base de Peptídeos Para obesos: >2,0g/Kg de peso ideal/dia (IMC entre 30 e 40) >2,5g/Kg de peso ideal/dia (IMC > 40) Carboidratos: 50 a 60% do VCT Recomenda-se 3 a 4g/Kg/dia (NE) ou 3 a 4 mg/Kg/min (NP) Ofertas > 4-6g/Kg/dia (enteral) ou > 4-6mg/Kg/min (parenteral) Hiperglicemia, esteatose hepática e do trabalho respiratório Lipídios: Vantagens no seu uso Evita a deficiência de ácidos graxos essenciais Permite o volume de fluidos administrado oferta de lipídeos permite a oferta de glicose 30% do VCT NPT 50% de TCM e 50% de TCL NE Misturas contém TCM, TCL e óleo de peixe Quando iniciar a alimentação? Paciente hipermetabólico com estabilidade hemodinâmica e transporte de O2 adequado TNE o mais precoce possível Inicio precoce Alimentação dentro das primeiras 24-48hs Melhor trofismo intestinal e menor incidência de complicações Boa tolerância mesmo na ausência de ruídos hidroaéreos Nutrientes imunomoduladores: Glutamina Aa mais abundante no organismo Substrato energético para as células intestinais e proliferativas Estresse avidez por glutamina pode exceder a síntese aa condicionalmente essencial Suplementação contra-indicada em hepatopatas e renais 0,2 a 0,57g/Kg/dia ou 0,3g/Kg/dia (adultos) 0,5g/Kg (crianças) Em 24h as quantidades indicadas variam entre 12 e 40g/dia Pacientes renais e hepatopatas – Restringir ou usar uma dose menor (<15g/dia em adultos) Cuidados na administração: Diluir em 30ml de água ou fluido isotônico Misturar apenas em alimentos que não sofreram cocção Não usar em bebidas quentes Infundir a glutamina suplementada em bolus, não misturar com a dieta pronta Dietas enterais com glutamina costumam ter uma via útil menor, depois de reconstituídas Arginina: Hipermetabolismo produção endógena insuficiente aa condicionalmente essencial Influencia as respostas inflamatórias e imunes Único substrato para a produção de óxido nítrico O óxido nítrico pode assumir funções protetoras ou tóxicas durante os estados inflamatórios Dose Proposta 2% do VCT Dieta com 1800 Kcal = 9g/dia Óxido nítrico: Potente vasodilatador, contribuindo para a hipotensão na sepse Inibe a agregação e adesão plaquetária Pode atuar como antioxidante removendo os radicais livres Reação com o radical superóxido Radicais hidroxilas extremamente tóxicos para as células Gênese da injúria pulmonar no trauma São necessários mais estudos que mostrem o momento correto da utilização da arginina Dependendo da fase em que o paciente se encontra: Agravar ou melhorar as condições hemodinâmicas, a insuficiência respiratória e a perfusão celular Até o momento não se questionou a via ideal para administração de arginina no paciente crítico Ácidos graxos ômega 3: Síntese de eicosanóides menos potentes do que os originados do do -6 Efeito redutor da vasoconstricção e inflamação Ajudando a modular a resposta imune na sepse Relação recomendada -6: -3 4:1 Caso Clínico Sepse Homem, 47 anos, internado há 24h na UTI com quadro de broncopneumonia, que evoluiu rapidamente para insuficiência respiratória e choque séptico. Peso habitual: 56Kg. Peso de entrada: 60Kg. Antecedentes clínicos: diabetes mellitus em uso de hipoglicemiante oral. No momento apresenta-se sedado, edemaciado, com intubação orotraqueal e ventilação mecânica, pressão arterial estável nas últimas 24h às custas de drogas vasopressoras (noradrenalina). Mantido em jejum com soro de manutenção de horário. Com sonda nasogástrica aberta com débito de 20mL nas últimas 24h. Pequena quantidade de diurese na sonda vesical. Caso Clínico Sepse Responda: Quando iniciar a dieta desse paciente? Qual é a melhor via para administração da dieta? Como estimar as necessidades calóricas e proteicas? Que tipo de dieta você sugeriria?
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