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FISIOLOGIA II Prof. Rafael Carvalho Monique Lopes – Medicina UNIFAMINAS FISIOLOGIA ENDÓCRINA Hormônio: mediador químico, sinalizador, comunicador. Possui a capacidade de unir estruturas do nosso corpo que estão distantes umas das outras por receptores, graças à corrente sanguínea. Hipófise: É uma glândula bem pequena e se liga ao hipotálamo pelo pedúnculo hipofisário. Localizada acima do osso esfenoide, numa depressão chamada sela túrcica. É formada por dois lobos: um anterior (adenohipófise) e um posterior (neurohipófise), sendo separadas por uma região intermediária. Essas duas subdivisões são muito importantes no ponto de vista funcional, visto que cada uma secreta um determinado grupo de hormônios. A neurohipófise secreta dois hormônios: 1. ADH (hormônio antidiurético); 2. Ocitocina (participa da contração do útero no parto e estimula a ejeção de leite nas mamas). Já a adenohipófise secreta vários hormônios, sendo 6 os principais: 1. Hormônio do crescimento/somatotrópico (GH) 2. Hormônio adrenocorticotrófico/adrenocorticotropina (ACTH) – Estimula o córtex adrenal a secretar os hormônios adrenocorticais; 3. Hormônio tireotrófico (TSH) – Estimula a tireoide; 4. Prolactina (PRL) – Estimula a produção de leite;/ 5. Hormônio folículo estimulante (FSH) 6. Hormônio luteinizante (LH) Adenohipófise: Possui vários grupamentos celulares diferentes, sendo cada um responsável pela secreção de um dos hormônios, como visto na tabela abaixo. Ela é muito vascularizada e o estímulo para a secreção desses hormônios vem do hipotálamo, justamente através da vascularização. Portanto, são liberados pelo hipotálamo, estimuladores e inibidores da síntese de hormônio da adenohipófise, sendo ele o grande controlador desse processo. Gonadotrópicos Células Hormônios Somatotropos Hormônio do Crescimento Corticotropos ACTH Tireotropos TSH Gonadotropos FSH e LH Lactotropos Prolactina Já o controle de secreção da neurohipófise se dá por sinais neurais e não hormonais. Esses sinais são provenientes do hipotálamo e terminam na hipófise posterior: corpos dos neurônios no hipotálamo emitem seus axônios até a neurohipófise. • Adenohipófise: controle hormonal (vascularização) • Neurohipófise: controle neural Como se observa na imagem, a adenohipófise é altamente vascularizada, com uma circulação porta-hipotálamo-hipofisária. É uma circulação porta porque existem dois leitos capilares entremeados por uma artéria. Já na neurohipófise pode se observar a presença de axônios, com os corpos neuronais no hipotálamo. É na eminência mediana que ocorre o controle neural sobre a secreção de ADH e Ocitocina. Hormônios liberadores e inibidores hipotalâmicos que controlam a secreção de hormônios da adenohipófise: • Hormônio liberador de tireotropina (TRH); • Hormônio liberador de corticotropina (CRH): estimula lib. De ACTH; • Hormônio liberador de hormônio do crescimento (GHRH); • Hormônio liberador da gonadotropina; • Hormônio inibidor do hormônio do crescimento (somatostatina); • Hormônio inibidor da prolactina (PIH). Sofre maior efeito de hormônios inibidores hipotalâmicos (dopamina inibe). Hormônio do crescimento (GH, somatotropina, hormônio somatotrópico) Ao contrário de outros hormônios, não age sobre um local específico, ou seja, não tem uma célula alvo especial. Age sobre todos os tecidos do corpo, tendo uma ação difusa. Age sobre o metabolismo, uma função muito importante para o crescimento linear. Esse controle está ligado ao aumento da quantidade de proteínas no corpo, feito de duas maneiras: • aumentando a capitação celular de aminoácidos e a tradução de RNA • aumentando a transcrição, produzindo mais RNAm: maior tradução. Além disso, utiliza as reservas de gordura através da lipólise e utiliza o ácido graxo como principal fonte de energia, poupando os carboidratos. Devido à essa poupação de carboidratos é conhecido como hormônio diabetogênico, pois aumenta a concentração de insulina no plasma. Hormônio diabetogênico: aumenta a concentração de insulina no sangue, porque como poupa carboidratos, o nível plasmático de glicose (carbo) sobe. Com isso, o pâncreas libera mais insulina. Essa insulina tem certa dificuldade de agir, mas ainda não se sabe exatamente o motivo. Acredita-se que seja devido ao aumento da circulação de ácidos graxos. É responsável pelo aumento de massa magra e redução de gordura corporal, já que está havendo quebra de gordura e síntese de proteínas. Age principalmente no tecido ósseo, estimulando os osteoblastos, que são responsáveis pela síntese óssea e assim, pelo crescimento linear do corpo. Outros efeitos do GH: Estimula o fígado e outros tecidos a formar as somatomedinas, que são proteínas pequenas e com ação sobre o crescimento, principalmente, o ósseo. Dentre as quatro somatomedinas isoladas, a mais importante é a somatomedina C, a qual é liberada lentamente da proteína circulante para os tecidos. É o hormônio mais importante para o crescimento pós-natal, quando ocorre o primeiro estirão de crescimento. Maior nível circulante: adolescentes > crianças > adultos. Possui essa diferença na sua concentração, pois seu pico é maior nas fases onde ocorre o crescimento linear. O padrão de secreção é pulsátil, pois em algumas fases há pouca secreção e em outras, muita, de acordo com a necessidade. Vias hipotalâmicas controladoras da secreção de GH: • Hormônio liberador de hormônio de crescimento (GHRH): vem do hipotálamo e estimula os somatotropos na hipófise anterior. • Hormônio inibidor da liberação de hormônio de crescimento (somatostatina): também sai do hipotálamo e inibe a liberação de GH na hipófise anterior. Esse controle é feito de acordo com os níveis circulantes de GH. Se há uma alta concentração de GH, vai ocorrer estímulo que inibe sua secreção, sendo um feedback negativo. Pode-se observar então que o GH pode ser inibido de duas formas: liberação de somatostatina ou apenas não há liberação do GHRH. O maior controlador do GH na nossa homeostase diária é o estado nutricional. Se há ingesta de muita proteína, há diminuição de secreção de GH. Caso contrário ou em reparos traumáticos, há maior liberação de GH. Neurohipófise: As células da neurohipófise possuem apenas um grupamento celular: pituícitos. (Ao contrário da adenohipófise que possui vários grupamentos celulares). Os hormônios são sintetizados nos núcleos supraóptico e paraventricular, sendo transportados para a neurohipófise através dos axônios. Esses axônios chegam até a parte mais inferior do hipotálamo – eminência mediana – onde são liberadas as substâncias que exercem controle de ativação ou inibição sobre a síntese e secreção de ADH e ocitocina. • ADH: as substâncias que possuem ação no ADH são formadas nos núcleos supraópticos. O ADH age no transportador triplo, na expressão de aquaporinas e na reciclagem da ureia, contribuindo para a osmolaridade da medula renal.; • Ocitocina: as substâncias que possuem ação na ocitocina são formadas nos núcleos paraventriculares. Estimula a ejeção de leite e na contração do útero gravídico. Aula 2: Tireoide Glândula grande. Localizada abaixo da laringe, ocupando as regiões laterais e anterior da traqueia. Secreta 3 hormônios: • T3 (tri-iodotironina); principais • T4 (tiroxina); • Calcitonina. A secreção dos hormônios é controlada pelo TSH (hormônio tireoestimulante), controlado pela adenohipófise. T4: mais secretado. No entanto, a nível tecidual, depois de sua síntese, o T4 é convertido em T3, visto que o receptor intracelular de hormônio tireoidiano tem maior afinidade por T3, o que o torna mais potente que T4. Porém, na circulação sanguínea, o T3 está em menor quantidade, já que a conversão ocorre dentro da célula. Por isso os níveis plasmáticos de T4 são maiores. Na década de 90 haviaalta incidência de deficiência de produção de hormônio tireoidiano, com alto índice de hipotireoidismo, devido à deficiência nutricional de IODETO, que é a matéria prima básica para a produção de T3 e T4. Portanto, foi padronizado que o sal de cozinha fosse enriquecido com iodeto, reduzindo assim a prevalência de hipotireoidismo. Na imagem, observa-se rodelas, que são os folículos tireoidianos. Eles possuem uma superfície formada por tecido epitelial cuboide e é preenchido por coloide, substância secretora (um dos principais constituintes do coloide é a glicoproteína TIREOGLOBULINA). A tireoide é altamente vascularizada, com metabolismo muito grande, então requer um eficiente fluxo sanguíneo para trazer nutrientes, O2 e levar os produtos do seu metabolismo. Anexo aos folículos tireoidianos, têm as células C, onde ocorre a síntese de calcitonina. Síntese do hormônio tireoidiano: A tireoide precisa de iodeto para produzir seus hormônios, que vem através da dieta. Quando o iodeto chega no TGI, é absorvido a nível intestinal. A maior parte desse iodeto que chega na circulação sanguínea é excretado, principalmente pelos rins. Ele passa pela barreira de filtração glomerular, cai nos túbulos renais, não é reabsorvido e sai com a urina. Mas uma menor parte é reabsorvida, sendo essa a usada pela tireoide, que tem uma propriedade especial de fazer captação seletiva. Tem grande fluxo sanguíneo passando na tireoide e quando o iodeto passa, ela consegue captá-lo. Essa captação na membrana basal, é através do CANAL NIS, que é um canal de sódio (2) e iodeto (1): à medida que traz 2 íons Na, traz 1 íon iodeto (transporte ativo secundário do tipo SIMPORTE). Dessa forma o iodeto chega no interior da célula folicular. Dentro da célula, o iodeto será matéria prima para produção do hormônio tireoidiano. Porém, ele precisa ir para o interior do folículo, no coloide, que é onde ocorre a síntese de hormônios. Isso ocorre através do canal PENDRINA, localizado na membrana apical (transporte ativo secundário do tipo CONTRATRANSPORTE), que leva 2 iodetos para o coloide enquanto leva 1 cloreto para o interior da célula. As células dos folículos tireoidianos possuem organelas (RE, Aparelho de Golgi) que secretam uma substância fundamental para a síntese de hormônio, a tireoglobulina, que é liberada no coloide. A tireoglobulina NÃO TEM afinidade pelo iodeto. Logo, precisa fazer a conversão de iodeto para iodo, sua forma oxidada, porque essa sim se liga à tireoglobulina. Conversão iodeto p/ iodo: ocorre na membrana apical, através de uma proteína com atividade enzimática, a PEROXIDASE. Ela está disponível em toda membrana apical. A peroxidase faz a oxidação do iodeto, sendo convertido em iodo. A tireoglobulina é uma glicoproteína, formada por muitos aminoácidos, chamados de TIROSINA. É na TIROSINA que o iodo se liga. Iodização da tirosina: ligação de iodo na molécula de tirosina. Organificação da tireoglobulina: quando todas as tirosinas da tireoglobulina estão ligadas ao iodo. Portanto, a iodização leva à organificação. • O principal fator para capitação do iodeto é o TSH • Os hormônios tireoidianos são sempre: tirosina + iodo. • A matéria prima é o iodeto, que vem da dieta. • Monoiodotirosina: 1 iodo ligado à tirosina • Diiodotirosina: 2 iodos ligados à tirosina • Triiodotirosina (T3): união de 1 monoiodotirosina seguida de 1 diiodotirosina • T3 reverso: quando é uma di seguido de uma mono. Não tem funcionalidade descrita em humanos ainda. • Tiroxina (T4): 2 diiodotirosinas ligadas. Em alguns momentos há moléculas que não vão se associar, não formando os hormônios propriamente ditos. Resumindo: iodeto vem da dieta, é absorvido no intestino, vai para a circulação, a tireoide capta o iodeto na membrana basal (Canal NIS), iodeto no interior da célula vai para o coloide pelo canal pendrina, localizado na membrana apical. Iodeto é convertido em iodo na membrana apical pela peroxidase. Organelas das células produzem tireoglobulina e secretam no coloide. Iodo se liga a tireoglobulina (mais especificamente no aminoácido tirosina), ocorrendo a iodização e caso todas tirosinas estejam ligadas, organificação. Para que os hormônios exerçam sua função, eles precisam ir para o sangue. Como isso ocorre? A membrana apical da célula emite um prolongamento, o pseudópode, que irá englobar a tireoglobulina e ocorrerá endocitose (transporte de fora para dentro da célula). Entretanto, para que os hormônios funcionem, eles precisam se soltar. Os lisossomos digerem a molécula de tireoglobulina por meio de proteases, quebrando-a, e consequentemente, liberando os hormônios. O monoiodo e o diiodo que não se associam a nada tem elementos importantes em sua constituição, portanto, podem ser reaproveitados. Isso ocorre graças à enzima DEIODODINASE, que separa a tirosina dos iodos, sendo reaproveitadas: tirosina no RE e aparelho de golgi para formar novas tireoglobulinas e iodo para novas moléculas. AULA 3 Os hormônios T3 e T4 são liberados lentamente na circulação, ligados fortemente às proteínas (se combinam principalmente com a globulina de ligação de tiroxina). São de longa duração. O receptor dos hormônios tireoidianos é intracelular, ligado ao DNA. Como dito, esse receptor tem afinidade por T3, portanto a partir do momento que o T4 entra na célula, ele é convertido em T3, por ação da enzima IODINASE. Uma vez que o receptor é acoplado ao DNA da célula, há estímulo à transcrição de DNA, ou seja, síntese de RNAm, que será traduzido no citoplasma (nos ribossomos), formando proteínas. Por isso, diz-se que há estímulo para a síntese proteica através dos hormônios tireoidianos. Efeito dos hormônios tireoidianos: ▪ Aumento do metabolismo basal: as células do nosso organismo trabalham em um ritmo fisiológico basal, sendo que os hormônios tireoidianos têm a capacidade de ativar/aumentar o metabolismo basal, levando ao maior trabalho celular, que fica hiperativado. Isso resulta em: ▪ Maior consumo de O2 em quase todos os tecidos metabolicamente ativos. ▪ Maior produção de calor pelos tecidos (ação calorigênica); ▪ Aumento do metabolismo de ácidos graxos. Fazem sua mobilização no tecido adiposo para utilizá-los como fonte energética em outros tecidos; ▪ Aumenta a atividade da bomba de sódio e potássio; ▪ O T4 reduzido faz controle sobre a secreção de TSH. Quando há alta concentração de hormônios tireoidianos circulando, o T4 age na adenohipófise, provocando menor liberação de TSH e consequentemente diminuindo o estímulo à produção de hormônios tireoidianos pela tireoide (feedback negativo); ▪ Aumento do número e atividade das mitocôndrias – maior produção de ATP para que as células tenham maior substrato para trabalhar; ▪ Efeito no crescimento das crianças; ▪ Estímulo ao metabolismo de carboidratos e gorduras; ▪ Redução do colesterol, fosfolipídios e triglicerídeos no plasma (pessoas com hipotireoidismo tendem a ter dislipidemias); ▪ Redução do peso corporal; ▪ Vasodilatação tecidual (o tecido trabalha mais, precisando de maior aporte nutricional); ▪ Aumento do débito cardíaco (oferta maior de volume sanguíneo); ▪ Aumento da frequência cardíaca; ▪ Aumento da respiração; ▪ Aumento da motilidade gastrointestinal; ▪ Efeitos excitatórios no SNC; ▪ Falta de sono; ▪ Tremor muscular; ▪ Aumento da secreção de glândulas endócrinas; ▪ Redução do libido, impotência sexual; ▪ Menorragia e polimenorreia. Regulação da secreção do hormônio tireoidiano: O TSH (hormônio tireoestimulante) aumenta a secreção tireoidiana. A secreção de TSH é controlada pelo TRH (fator liberador de tireotropina – hormônio hipotalâmico). O TRH é um hormônio difundido pelo hipotálamo que cai na circulação e chega à adenohipófise onde atua sobre os tireotropos, responsáveis pela secreção de TSH. Além do controle de TSH, sofre influência das concentraçõesde T4. EIXO HIPOTÁLAMO-HIPÓFISE-TIREOIDE: Para que ocorra a produção dos hormônios tireoidianos há um estimula pela adenohipófise, pela liberação de TSH, sendo esse controlado pelo hormônio TRH, secretado pelo hipotálamo. O TSH atua estimulando a tireoide, fazendo síntese de T3 e T4 e liberando na corrente sanguínea. Uma vez que esses hormônios estão circulantes, é preciso quebrar a alça de estímulo, para que seja feito um controle sobre a produção de T3 e T4, sendo um feedback negativo. O T4 age sobre a adenohipófise reduzindo a secreção de TSH, e o T3 e T4 age no hipotálamo reduzindo a secreção do TRH. Condições em que há alterações dos hormônios tireoidianos: • Hipertireoidismo: Situação que leva a uma produção aumentada dos hormônios tireoidianos. Leva a uma síndrome que caracteriza essa condição: metabolismo acelerado, olhos esbugalhados (exoftalmia), edema retro orbital. Doença de Graves: leva ao aumento dos hormônios tireoidianos. É autoimune. • Hipotireoidismo: Situação em que há diminuição dos hormônios tireoidianos abaixo dos níveis fisiológicos/basais. Síndrome de Hashimoto: doença autoimune, na qual o sistema imune ataca as células tireoidianas, causando inflamação aguda que resulta em hipotireoidismo. Sinais clínicos: metabolismo basal retardado, frequência cardíaca diminuída, aumento de peso, queda de cabelo, pele ressecada e depósito de gordura localizada (mixedema). Laboratorialmente, o exame apresenta: • Hipotireoidismo: o T3 e T4 livres em níveis diminuídos o TSH aumentado o T3 e T4 vão estar reduzidos na corrente sanguínea. Em compensação há aumento de TSH para estimular a produção dos hormônios tireoidianos. • Hipertireoidismo: o T3 e T4 livres em níveis aumentados o TSH diminuído o T3 e T4 vão estar aumentados circulando na corrente sanguínea, ligados às proteínas plasmáticas. Em compensação, o TSH se encontra baixo na tentativa de reduzir a síntese de hormônios tireoidianos. Caso clínico: Maria, 52 anos, apresentou há 4 meses intensa dor articular. Procurou médico e foi diagnosticada com artrite reumatoide (Doença autoimune) através da observação dos exames laboratoriais. O tratamento consiste em altas doses de corticoide. Meses depois, Maria apresentou: níveis de pressão elevados (hipertensão), glicemia elevada (diabetes), comportamento depressivo, gordura localizada, estrias, espinhas, surgimento de pelos. Maria faleceu após infecção por pneumonia HORMÔNIOS ADRENOCORTICAIS Suprarrenais ou adrenais são glândulas localizadas superiormente aos rins. Possui duas regiões bem definidas: • Córtex renal (região cortical) • Medula renal (região medular) Medula renal: síntese de catecolaminas, principalmente de norepinefrina (que depois é convertida em epinefrina com ação da enzima PMNT, nas células cromafins, com o cortisol como substrato). Produz também, em menor quantidade, a dopamina. Córtex renal: (região de interesse) é onde ocorre a síntese de hormônios adrenocorticais. Todos esses hormônios são formados a partir do colesterol como substrato (provindo de moléculas de LDL). Ocorre também a partir do acetato, porém em menor quantidade. Os hormônios adrenocorticais, produzidos a partir do colesterol e secretados no córtex renal são diversos, divididos em grupos: 1. Mineralocorticoides – Aldosterona 2. Glicocorticoides – Cortisol 3. Hormônios androgênios – hormônios sexuais Dentre esses, dois são de suma importância: Aldosterona (principal representante da classe de mineralocorticoides) e o cortisol/hidrocortisona (principal representante da classe dos glicocorticoides). A aldosterona atua reabsorvendo sódio e secretando potássio. O córtex adrenal é dividido em camadas/zonas: • Glomerulosa: produção e liberação de mineralocorticoides • Fasciculada: produção de glicocorticoides • Reticular: produção dos hormônios androgênios. Pode ocorrer produção de glicocorticoides também, mas em pouca quantidade. Os mineralocorticoides são produzidos APENAS na zona glomerulosa, pois somente nela contém a Aldosterona sintase, enzima responsável por sua síntese. Regulação da secreção dos hormônios adrenocorticais: O ACTH produzido pela adenohipófise controla/estimula a secreção dos hormônios adrenocorticais produzidos na zona fasciculada e reticulada, mas NÃO exerce controle sobre os hormônios produzidos na zona glomerulosa, os mineralocorticoides (aldosterona) Os mineralocorticoides (aldosterona) são controlados pelos níveis plasmáticos de potássio e angiotensina 2. O colesterol, proveniente do LDL, é usado na síntese de todos os hormônios adrenocorticais. Para isso, ele é convertido em Pregnenolona, precursor comum para a produção de diferentes hormônios. MINERALOCORTICOIDES: A aldosterona retém sódio e secreta potássio nas células principais do TCD, para ser excretado na urina. Um dos principais controladores da aldosterona são os níveis de potássio no sangue. Se há muito potássio circulante, a aldosterona é liberada em níveis elevados, para assim, ocorrer a excreção de potássio. Além disso, o sistema renina-angiotensina também contribui para secreção de aldosterona: níveis elevados de angiotensina 2 levam ao estímulo de liberação de aldosterona. Além disso, a aldosterona atua nas células intercalares do tipo A, aumentando a secreção de H+, estimulando uma alcalose, ao passo que reabsorve potássio (contratransporte), porém esse transporte é muito menos efetivo, por isso pode ser responsável pela condição de hipocalemia. Síndrome de hipersecreção de aldosterona: leva à hipertensão (devido à reabsorção de sódio, que aumenta a volemia) e à alcalose metabólica (secreção de H+). Em controvérsia, a ausência de aldosterona leva à redução da pressão arterial (hipovolemia). Com a reabsorção de sódio, há aumento da volemia, que por sua vez, eleva a pressão arterial. Pacientes que fazem uso de glicocorticoides também podem apresentar o quadro, decorrente da atividade semelhante aos mineralocorticoides. Principais estímulos para secreção de aldosterona: • Aumento dos níveis plasmáticos de potássio • Aumento dos níveis plasmáticos de angiotensina 2 Na ausência do ACTH, por uma deficiência na adenohipófise, a liberação dos hormônios adrenocorticais é prejudicada (inclusive dos mineralocorticoides). No entanto, o ACTH não exerce controle no VOLUME de hormônio mineralocorticoide a ser secretado, quem faz esse controle são os níveis de angiotensina 2 e potássio. GLICOCORTICOIDES: Os glicocorticoides são hormônios que agem no metabolismo da glicose. Atuam também nos dos lipídeos e de proteínas de FORMA SECUNDÁRIA. Tendem a elevar a glicemia (glicose plasmática). São produzidos na zona fasciculada (zona de maior volume). O de maior interesse é o cortisol/hidrocortisona. Eles têm efeito sobre o metabolismo de glicose, carboidratos e lipídios, porém também tem ação mineralocorticoide, principalmente em alta concentração (hipercortisolismo), atuando sobre o mecanismo de sódio/potássio. Os glicocorticoides elevam a glicemia, porque estimulam o fígado a fazer GLICONEOGÊNESE (produção de glicose a partir de substratos não carboidratos), o que resulta em maior concentração de glicose no plasma. Além disso, atua na insulina, tendo um efeito ANTAGÔNICO, impedindo que ela exerça sua função. Com isso a glicose plasmática fica elevada. O tratamento com glicocorticoides em doses elevadas levam ao quadro clínico comparado ao da diabetes: diabetes adrenal. Esses casos podem ter reversibilidade, porém não se deve suspender o tratamento de forma abrupta, tendo que ser gradativo, porque a glândula adrenal tem uma tendência a diminuir ou parar a produção quando há ingesta desses hormônios e leva um tempo para retomar a produção ao nível basal. Os glicocorticoides reduzem as proteínas dentro das células, reduzindo as proteínas celulares, inibindo a transcriçãode DNA e tradução de RN, a captação celular de aminoácidos, sedo esse efeito muito observado na musculatura esquelética. Já no fígado isso não ocorre. Logo, no hipercortisolismo, observa-se muita fraqueza muscular, pois há deficiência de proteínas nas fibras musculares. Aumentam a concentração de proteínas plasmáticas. No fígado, não há redução de proteínas intracelulares, ele é poupado, pois precisa trabalhar para realizar a gliconeogênese, que é estimulada pelo glicocorticoide. Ocorre também a evolução para imunodepressão, pois afeta o sistema linfoide. Por isso, muitos pacientes acabam falecendo em decorrência de uma infecção, que em pacientes saudáveis não levam ao óbito. Além disso, ocorre também a mobilização de ácido graxo no tecido adiposo, fazendo com que haja depósito de gordura em outros locais. É comum a retirada de gordura apendicular e deposição na região axial, como rosto, , região epigástrica e costas, levando ao quadro clinico conhecido como gibosidade (giba de búfalo: excesso de gordura nas costas), face de lua cheia, estrias violáceas (roxeadas, devido a deficiência de colágeno subcutâneo): obesidade centrípeta, que é a redistribuição de gordura dos membros para a região central. São características marcantes do hipercortisolismo. O hipercortisolismo pode ser gerado por fatores, como tumores e doença de Cushing (síndrome de Cushing). Os glicocorticoides têm efeitos antinflamatórios, por isso são indicados para tratamento de doenças inflamatórias quando o quadro clínico é muito ruim devido à resposta do organismo ao patógeno. Com a administração dos glicocorticoides há uma melhora inicial, com redução da inflamação, estabilização da membrana de lisossomos (na inflamação, os lisossomos secretam proteases que degradam tecidos proteicos, gerando desconforto e fragilidade), reduz a febre (impede que os leucócitos liberem as substâncias pirogênicas, como a interleucina 1), além de atrofia de tecidos linfoides, levando à deficiência imune. Por isso pacientes que fazem uso de doses elevadas são mais expostos a infecções, devido à redução de proteínas intracelulares no sistema linfático, que leva ao mau funcionamento desse sistema, o que prejudica a produção de linfócitos e consequentemente à imunodepressão. Por isso, antes de se iniciar tratamento com corticoides, deve investigar e tentar erradicar os parasitas existentes no paciente, pois devido à fragilização do sistema imune, parasitos latentes podem ser ativados. Normalmente, faz-se o uso de antiparasitário, ivermectina, para erradicar Strongyloides, pois esses podem se disseminar pelo corpo. Pacientes em tratamento com corticoides também não tomam vacinas com vírus vido devido a esse fator. O ACTH estimula a secreção de glicocortisol, exercendo estímulo na zona fasciculada. Por sua vez, o ACTH é controlado através de um hormônio hipotalâmico, que é o fator liberador de corticotropina. Estresses físicos e mentais aumentam muito a secreção de ACTH, que estimula secreção de glicocorticoide, fazendo parte da resposta endócrina metabólica ao trauma (ansiedade, atropelamento, acidentes etc.). Logo, com estresse contínuo, o indivíduo pode apresentar imunodepressão, aumento de pressão e glicemia etc. O excesso de cortisol circulante leva ao feedback negativo, tanto à nível hipofisário (desestimula liberação de ACTH), quanto hipotalâmico (desestimula secreção de fator liberador de corticotropina). Ritmo circadiano (24h) de secreção de glicocorticoide: Pico às 7/8 h. Menor secreção às 0 h. Por isso, não é incomum haver piora de quadros inflamatórios à noite e melhora durante a manhã. Aula 4: Regulação do Cálcio O cálcio é muito importante para o metabolismo e contração muscular (liberação de acetilcolina na placa motora). A maior parte do cálcio se encontra nos ossos, formando a matriz extracelular (reserva de cálcio). Forma a hidroxiapatita, juntamente com o fosfato. Quando se precisa de cálcio adicional e o plasmático está em baixas concentração, há estímulo para a reabsorção óssea pelos osteoclastos, desfazendo a hidroxiapatita e liberando o cálcio no plasma. • É uma molécula sinalizadora muito importante, entra no motoneurônio e ativa a exocitose de acetilcolina; • É um cofator da cascata de coagulação (participa de vários pontos); • Participa da união entre as células; • Sua concentração plasmática interfere na excitabilidade neuronal. ➢ Concentração baixa: neurônios ficam mais excitados, pois aumenta a permeabilidade ao sódio, aumentando a propagação de sinal. Portanto, na hipocalcemia há a tetania hipocalcêmica, com concentrações musculares mantidas. O osso é o maior reservatório de cálcio no corpo, na forma de hidroxiapatita. É ingerido na dieta e absorvido a nível de intestino delgado. Precisa da vitamina D para ser absorvido, ela é fundamental. Por isso, na baixa de vitamina D, há o enfraquecimento ósseo, podendo causar raquitismo em crianças. Apenas 1/3 do cálcio é absorvido (o resto é eliminado) e essa parte é redistribuída: • no tecido ósseo; • no LEC; • nos reservatórios intracelulares. A eliminação do cálcio plasmático se dá principalmente através dos rins. ▪ OsteoBlasto: formação óssea ▪ OsteoClasto: reabsorção óssea. Em sua ação, libera ácidos e enzimas na matriz, quebrando os cristais de hidroxiapatita, liberando cálcio e fosfato. O controle do equilíbrio do cálcio é feito por: • Paratormônio • Calcitriol (vitamina D ativa) • Calcitonina Esse equilíbrio é elevar ou abaixar o nível do cálcio plasmático, dependendo da sua concentração, para que fique nos níveis normais. A calcitonina é produzida pelas células C. Paratireoides: São 4 glândulas pequenas atrás da tireoide, sendo comum sua retirada na tireoidectomia, com consequências clínicas. Secretam o paratormônio, que é muito importante para o equilíbrio de cálcio. O paratormônio (PTH) age no equilíbrio do cálcio, aumentando sua concentração plasmática. Faz isso: • Estimulando os osteoclastos (maior reabsorção óssea e liberação de cálcio); • Aumentando a reabsorção renal de cálcio (ao mesmo tempo, leva a secreção de fosfato, levando à fosfatúria) • Aumenta a absorção intestinal. • A vitamina D só é ativada na presença de paratormônio. E ela é fundamental para a absorção intestinal de cálcio, auxiliando também na reabsorção renal e na mobilização óssea de cálcio. Sua síntese é estimulada pelo paratormônio e pela prolactina. Na ausência de paratormônio, ocorre a tetania hipocalcêmica, já que sem ele cai a absorção de cálcio, reabsorção óssea e renal. Isso causa maior estímulo neuronal promovido pelo sódio, resultando em espasmos musculares, com câimbras e mão de italiano. No eletrocardiograma, o cálcio reduzido causa o prolongamento do seguimento Q-T. A calcitonina produzida pelas células C na tireoide, atua na hipercalcemia, reduzindo as concentrações plasmáticas de cálcio. O estímulo para sua liberação é a alta concentração plasmática de cálcio, reduzindo a reabsorção óssea, a absorção intestinal e aumentando a excreção renal. O fosfato é encontrado em sua maior parte no osso, sendo absorvido no intestino e reabsorvido nos rins. É encontrado também no LEC e LIC. A vitamina D aumenta sua absorção e promove a reabsorção renal, já o paratormônio permite a excreção renal.
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