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SISTEMA FINANCEIRO INTERNACIONAL, CÂMBIO E FINANÇAS UNIDADE I Prof. Enzo Fiorelli Vasques SUMÁRIO I. SISTEMA FINANCEIRO INTERNACIONAL – CONCEITO E EVOLUÇÃO ............................... 3 1.1 Primeira fase: o padrão-ouro (até os anos 1930) ......................................... 3 1.2 Segunda fase: o sistema de Bretton Woods (1944 a 1973) ......................... 4 1.3 Terceira fase: o sistema de taxas flutuantes (de 1973 até nossos dias) ...... 5 II. INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS GLOBAIS ................................................................... 6 2.1 Fundo Monetário Internacional (FMI) ........................................................... 6 2.2 Banco Internacional para a Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD) ............. 7 2.3 Associação Internacional de Desenvolvimento (AID) ................................... 8 2.4 Corporação Financeira Internacional (CFI) .................................................. 8 2.5 Banco de Compensações Internacionais (BCI) ........................................... 8 III. MOEDA ............................................................................................................... 9 3.1 Moedas conversíveis ................................................................................... 9 3.2 Moedas inconversíveis .............................................................................. 10 3.3 Moedas escriturais ou de convênio............................................................ 10 3.4 Taxa e paridade ......................................................................................... 10 3.5 “Cross rate” ............................................................................................... 11 3.6 Arbitragem ................................................................................................. 11 IV. BALANÇO DE PAGAMENTOS ............................................................................... 12 4.1 Balança comercial ..................................................................................... 12 4.2 Serviços..................................................................................................... 13 4.3 Renda ........................................................................................................ 13 4.4 Transações unilaterais realizadas sem contrapartida ................................ 13 4.5 Saldo de transações correntes .................................................................. 13 4.6 Conta capital e financeira .......................................................................... 14 4.7 Erros e omissões ....................................................................................... 14 4.8 Contabilização ........................................................................................... 14 4.9 Déficits, superávits e ajustes no balanço de pagamentos .......................... 15 V. LIQUIDEZ INTERNACIONAL ................................................................................. 16 VI. O EURODÓLAR E O MERCADO DE EURODÓLARES ................................................ 16 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................................... 18 I. SISTEMA FINANCEIRO INTERNACIONAL – CONCEITO E EVOLUÇÃO Sistema financeiro internacional pode ser entendido como o conjunto das interações de comércio, de meios de pagamento (moedas), de mercado de capitais entre outros, que se processam em todo o globo, independentemente das fronteiras nacionais entre diferentes agentes econômicos, reguladas por instrumentos e mecanismos de sustentação. Registram-se três fases principais da evolução do Sistema Financeiro Internacional no século XX: 1.1 Primeira fase: o padrão-ouro (até os anos 1930) Sistema de câmbio fixo com o ouro como “mercadoria-padrão”. Neste sistema, as moedas dos diferentes países eram definidas por um determinado peso em ouro. Os particulares poderiam comprar ou vender ouro em qualquer quantidade, assim como a importação e a exportação de ouro eram totalmente liberadas. A emissão de dinheiro era lastreada no volume de ouro do país e havia conversibilidade das moedas em ouro. Os pagamentos internacionais eram efetuados em ouro, que era o meio de troca no comércio exterior. A taxa cambial era dada pelo par-metálico, que determinava a paridade monetária entre duas moedas. Aumentando-se a procura por determinada moeda, seu preço subiria acima do par-metálico, tornando vantajosa a liquidação mediante remessa de ouro ao exterior. Aumentando-se a oferta de moeda estrangeira no mercado cambial, o seu preço cairia e seria mais vantajosa a conversão dos saldos de moedas estrangeiras em ouro. As taxas cambiais no sistema padrão-ouro eram estáveis, devido ao funcionamento do mecanismo dos gold points. Os gold points determinavam os limites das variações acima ou abaixo do par-metálico, levando em consideração as despesas decorrentes da remessa de ouro como limite para as variações. Caso o montante das despesas fosse menor do que o montante das diferenças cambiais, ocorreria a saída de ouro de um país para outro, o que contrariava os objetivos do sistema. Assim, as diferenças eram sempre muito reduzidas, localizando-se muito próximas do par-metálico, podendo-se afirmar que as das taxas cambiais eram estáveis durante o sistema do padrão-ouro. Durante o período entre as guerras mundiais não existiu nenhum sistema monetário internacional. Os países adotavam taxas fixas ou flutuantes, de acordo com suas conveniências. 1.2 Segunda fase: o sistema de Bretton Woods (1944 a 1973) Em julho de 1944, no Mount Washington Hotel, na cidade de Bretton Woods, Estado de New Hampshire, nos Estados Unidos da América, 730 delegados, representando 44 países, entre os quais o Brasil, reuniram-se durante três semanas na Conferência Monetária e Financeira das Nações Unidas, para construir um padrão financeiro internacional objetivando evitar a repetição da depressão dos anos 1930 e promover crescimento econômico e prosperidade no pós-guerra, donde se destacam as seguintes resoluções: 1. Instituição do dólar americano como moeda-pivô da nova modelagem econômica. 2. Instituição das taxas de câmbio fixas, mas ajustáveis. 3. Criação do Fundo Monetário Internacional (FMI). 4. Criação do Banco Mundial. Este sistema monetário vigorou de 1946 a 1971, de acordo com as regras estipuladas pelo FMI, organismo criado pela conferência realizada em Bretton Woods. Baseava-se no sistema câmbio-ouro com as paridades das moedas estabelecidas em ouro ou dólares. Os Estados Unidos converteriam os dólares em ouro, quando solicitados. A estabilidade das taxas cambiais era obtida por meio de intervenção oficial no mercado cambial e não pelo mecanismo dos gold points. As intervenções eram feitas mediante a utilização dos pontos de sustentação ou pontos de intervenção. Os Estados Unidos não estavam obrigados a obedecer os pontos de sustentação em relação ao dólar. Em virtude do crescimento da economia dos Estados Unidos e pela estabilidade alcançada pela sua moeda, o sistema de Bretton Woods obteve sucesso durante vários anos. O sistema funcionou muito bem até o final da década de 1960, quando o surgimento de déficits no balanço de pagamentos dos Estados Unidos provocou problemas na conversão de dólares em ouro, surgindo desconfiança de desvalorizações do dólar. Os investidores começaram a trocar dólares por outras moedas, especialmente as europeias. Quando os Bancos Centrais da Europa começaram a converter os dólares em ouro, houve reduções drásticas das reservas de ouro norte-americanas. Em agosto de 1971, os Estados Unidos anunciaram que não mais efetuariam a conversão de dólares em ouro. Ao tomarem conhecimento de taldecisão, vários países fecharam seus mercados cambiais, o que representou o fim do sistema Bretton Woods. 1.3 Terceira fase: o sistema de taxas flutuantes (de 1973 até nossos dias) Desde 1973, o sistema financeiro internacional convive com taxas de juros flutuantes determinadas pelos mercados sujeitas a intervenções dos bancos centrais e acordos multilaterais. Em janeiro de 1976, em Kingston (Jamaica), o FMI alterou seus estatutos para adaptar-se ao novo regime de taxas flutuantes, cujas principais alterações foram: 1. Abolição do preço oficial para o ouro. 2. Maior importância ao Direito Especial de Saque (DES) nas reservas internacionais. 3. Ampla liberdade aos países-membros para administrar suas taxas de juros. 4. O dólar americano, a libra esterlina e o iene japonês passaram a se pautar pelas forças do mercado. 5. Muitos países ancoraram suas moedas ao dólar americano ou a outra moeda conversível. 6. Estabelecimento, pelos membros da Comunidade Econômica Europeia (CEE), de acordos para restringir flutuações em relação a terceiras moedas. As décadas de 1980 e 1990 apresentaram crescente globalização dos fluxos comerciais e financeiros e o fortalecimento dos blocos comerciais regionais (no final dos anos 1990 havia mais de oitenta acordos regionais ao redor do mundo). A abundância de recursos, a proliferação de instrumentos financeiros de captação de recursos por parte dos países chamados “emergentes”, aliada à especulação, desencadeou uma série de “crises” financeiras internacionais: 1. Crise do Peso Mexicano 1994 - 1995 (mercados emergentes). 2. Crise Financeira do Leste Asiático, no final dos anos 1990, envolvendo Tailândia, Malásia, Indonésia, Filipinas e Coreia do Sul (1997- 1998). 3. Crise da Rússia e América Latina (1998-1999). II. INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS GLOBAIS 2.1 Fundo Monetário Internacional (FMI) Iniciou suas operações em 1947, já com um problema a ser resolvido: a regulamentação do comércio entre países. Assim se deu o Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio, que vigorou por cinquenta anos. As finalidades do Fundo Monetário Internacional são: 1. Estabelecer um sistema de cooperação monetária internacional através de uma instituição permanente; 2. Facilitar o crescimento equilibrado do comércio internacional, contribuindo na obtenção de níveis mais altos de produção, renda e emprego; 3. Promover a estabilidade cambial e evitar uma corrida competitiva de desvalorizações cambiais. 4. Estabelecer um sistema multilateral de pagamentos das trocas internacionais e eliminar as restrições ao comércio internacional; 5. Proporcionar recursos financeiros em forma temporária para facilitar aos seus membros a correção dos desequilíbrios no balanço de pagamentos; 6. Reduzir a duração e a intensidade dos desequilíbrios nos balanços internacionais de pagamentos. Seu capital é composto pelas quotas constituídas pelos países associados, integralizadas em ativos de reservas (Direitos Especiais de Saques) e em moeda nacional do país associado. Esta quota-parte é fixada em função do peso econômico do estado, tendo em vista seu desenvolvimento industrial e sua participação no campo financeiro internacional. Os maiores quotistas são: Estados Unidos, Japão, Alemanha, Grã-Bretanha e França. Durante as duas guerras mundiais alguns países tiveram flutuações de taxas de câmbio, que estimularam a desvalorização competitiva gerando redução do volume de comércio internacional, assim, o fundo esta centrado na manutenção da estabilidade das taxas de câmbio e na provisão de liquidez. As linhas básicas de atuação do FMI estão centradas em sete tipos de operações de crédito: 1. Acordos stand-by: frequentemente, com duração entre doze e vinte e quatro meses, são destinados a corrigir desequilíbrios no setor externo dos países e seu desembolso em parcelas é condicionado ao desempenho econômico segundo metas pré-definidas. 2. Extended fund facilitie: créditos de três anos, originalmente programados como fonte de crédito de longo prazo para lidar com desequilíbrios externos. 3. Structural adjustment facility: criado em março de 1986, destina-se a países de baixa renda com problemas recorrentes de balanço de pagamentos. 4. Compensatory and contingency financing facility: mecanismo de crédito criado em 1963 para países (sobretudo exportadores de produtos primários) com dificuldades de balanço de pagamentos derivadas de queda nas relações de troca. 5. Enhanced structural adjustment facility: criado em 1988 para apoio a financiamentos e empréstimos. 6. Buffer stock financing facility: criado em 1969 para financiar a amortização do capital. 7. Oil facility: criado em 1974, permite ao FMI receber empréstimos de exportadores de petróleo e emprestá-los a países deficitários. 2.2 Banco Internacional para a Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD) Assim como o FMI, o BIRD, também conhecido como Banco Mundial, surgiu a partir da Conferência de Bretton Woods, apresentando administração semelhante. Seus países-membros devem inscrever-se antes como membros do FMI. Criado com os objetivos de financiar projetos de alta qualidade ou programas com contribuição direta para o desenvolvimento econômico, mas não atrativos ao capital privado em condições satisfatórias. Os empréstimos são realizados de governo a governo, ou instituições garantidas pelo governo, ou seja, trata-se de uma instituição intergovernamental. O BIRD não visa lucros. Os juros e comissões cobrados são destinados a despesas da instituição e constituição de um fundo de reserva. Tem como principais funções: Contribuir para o desenvolvimento dos países associados. Promover investimentos de capitais estrangeiros, mediante sua participação em empréstimos. Promover o crescimento equilibrado do comércio internacional, incentivando os investimentos internacionais no desenvolvimento dos países associados. Coordenar os empréstimos feitos ou garantidos. A política do BIRD é só dar empréstimos aos Estados que mantiverem em ordem o pagamento de suas dívidas públicas externas, bem como aqueles que pagam indenização em caso de nacionalização. Não concede financiamentos a empresas públicas ou estatais. 2.3 Associação Internacional de Desenvolvimento (AID) A Associação Internacional de Desenvolvimento (AID) surgiu para atender ao desenvolvimento, pois o BIRD não atende, em muitas oportunidades, a esta finalidade, uma vez que ele só fornece empréstimos com juros altos e em moedas fortes. Ao contrário, a AID fornece empréstimos com juros baixos, a longo prazo, podendo ser pagos na moeda de quem contraiu o empréstimo, pois visa atender a necessidades de desenvolvimento não suficientemente rendosas para se contrair empréstimos de curto prazo e juros de mercado. Oferece empréstimos de longo prazo (até quarenta anos, com dez anos de carência) aos países considerados pobres, dentro do conceito de “fundo perdido”, embora cobrando pequena taxa de administração. 2.4 Corporação Financeira Internacional (CFI) Promover o empreendimento privado nos países em desenvolvimento e suplementar as atividades do BIRD voltadas a empréstimos governamentais. Participar de fundos de investimento usados para adquirir participações em empresas e desenvolver as bolsas de valores em países em desenvolvimento. Atuar nos países em desenvolvimento, desenvolvendo o mercado de capitais, auxiliar na reestruturação e privatização das participações estatais e promover o desenvolvimento das pequenas e médias empresas. 2.5 Banco de Compensações Internacionais (BCI) O BIS foi criado em 1930, com o objetivo de ser um banco dos bancos centrais, mas em algumas situações opera como um banco comercial. Os bancos centrais depositam parte das reservas oficiais em moeda, que as reinvesteno mercado de euromoedas e em outros grandes mercados internacionais. O BIS promove a cooperação dos bancos centrais, desenvolve facilidades adicionais para as operações financeiras internacionais e atua como garantidor e/ou agente nos acordos financeiros internacionais. Quando solicitado, atua como facilitador em acordos internacionais. III. MOEDA É a unidade de valor aceita como instrumento de troca numa comunidade, desempenhando as seguintes funções: a) Instrumento de troca. b) Poder de compra. c) Medida comum de valor. d) Instrumento de crédito. e) Reserva de valor. As moedas, sob o aspecto cambial, classificam-se em: 3.1 Moedas conversíveis Moedas conversíveis são aceitas por outros países, sem qualquer restrição e em qualquer mercado. As principais são: 150 Dólar australiano AUD Austrália B 165 Dólar canadense CAD Canadá A 055 Coroa dinamarquesa DKK Dinamarca A 220 Dólar dos EUA USD Estados Unidos A 470 Iene JPY Japão A 065 Coroa norueguesa NOK Noruega A 540 Libra esterlina GBP Reino Unido B 070 Coroa sueca SEK Suécia A 425 Franco suíço CHF Suíça A 978 Euro EUR Comunidade Europeia A 3.2 Moedas inconversíveis Moedas inconversíveis não têm fácil curso internacional ou não são aceitas por outros países nas transações cambiais, como exemplo: Moeda País Metical Moçambique Dinar argentino Argélia Cólon costarriquenho Costa rica Rúpia Índia Shekel Israel O intercâmbio comercial entre países de moeda inconversível é, como regra geral, conduzido em moeda conversível de terceiro país. 3.3 Moedas escriturais ou de convênio Moedas escriturais ou de convênio decorrem de acordos bilaterais ou multilaterais de pagamentos, geralmente firmados com o objetivo de desenvolver ou regular o intercâmbio comercial entre países de moedas inconversíveis. A moeda geralmente utilizada nos convênios é o dólar dos Estados Unidos. Ex.: CCR – Convênios de Pagamentos e Créditos Recíprocos. 3.4 Taxa e paridade Taxa é definida como o preço de uma moeda estrangeira em relação à moeda nacional. Paridade, por sua vez, pode ser definida como o preço de uma moeda estrangeira em relação a outra. A mais utilizada é a paridade em relação ao dólar dos Estados Unidos. Exemplificando: Se, para comprar um dólar dos Estados Unidos (US$), são necessários 2,00 reais, diz-se que a paridade do real em relação ao dólar dos Estados Unidos é 2,00. Então, para transformar R$100,00 em US$, aplica-se a paridade, isto é, divide-se a quantidade de reais pela paridade, o que resulta em US$50,00. 3.5 “Cross rate” Cross rate é a taxa de câmbio embutida entre duas moedas, derivada de suas respectivas taxas de câmbio, relativa a uma terceira moeda. Por exemplo, para transformar 80,00 dólares canadenses (CAD) em francos suíços (SwFr), como as paridades usualmente divulgadas são em relação ao dólar dos Estados Unidos, deve-se fazer o seguinte cálculo: US$1,00 = CAD 2,00 (paridade do dólar canadense) US$1,00 = SwFr 1,80 (paridade do franco suíço) Então: CAD 2,00 = SwFr 1,80 CAD1,00 = “x” SwFr Logo: “x” SwFr = 1,00 x 1,80 = 0,90 2,00 CAD 1,00 = SwFr 0,90 A “cross rate” do dólar canadense em relação ao franco suíço é SwFr 0,90. Isto significa que os CAD 80,00 valem: CAD 80,00 x 0,90 = SwFr 72,00. 3.6 Arbitragem Arbitragem é a troca de determinada moeda estrangeira por outra, no sentido de obter vantagens de temporárias diferenças de preços. A arbitragem nada mais é do que a compra de uma moeda na praça onde seu preço estiver mais baixo e sua venda em outra praça, onde o preço for mais elevado, obtendo com isso lucro na transação. Essas transações são efetuadas, geralmente, para: Suprir o saldo em determinada moeda estrangeira junto ao banqueiro que não tem disponibilidade para cumprir compromissos nessa moeda, mas tem disponibilidade em outra. Obter vantagens em transações envolvendo duas ou mais praças. Evitar riscos com determinadas moedas que, no mercado cambial, oscilam com frequência, ou se avalia que se desvalorizarão. Arbitragens quanto à natureza Arbitragens quanto ao prazo Diretas ou simples – troca/conversão de US$ por outra moeda, utilizando-se diretamente a paridade. Prontas (spots) – operações em que a entrega das moedas se dará dentro de dois dias úteis. Indiretas – envolvendo três moedas, utilizando-se “cross- rate”. Futuras (forwards) – operações em que a entrega das moedas transacionadas se dará em um prazo superior a dois dias úteis (ex.: 180 dias). IV. BALANÇO DE PAGAMENTOS O balanço de pagamentos é uma demonstração contábil e funciona com o mecanismo de partilhas dobradas, ou seja, registra o ativo e o passivo das contas. Toda saída financeira é registrada com valor negativo, toda entrada é registrada com valor positivo. O balanço de pagamento de um país pode ser definido como o levantamento sistemático de todas as transações econômicas realizadas em um determinado período de tempo entre os residentes em um país (pessoas físicas, jurídicas, instituições com ou sem fins lucrativos e entidades governamentais) e os residentes em outros países. O FMI recomenda a estruturação das transações econômicas nas seguintes categorias: 4.1 Balança comercial A balança comercial registra os fluxos comerciais de mercadorias e de prestações de serviços, com as correspondentes contrapartidas monetárias. As exportações são os valores monetários que representam a venda dos produtos nacionais para outros países. As importações são os valores monetários que representam a compra dos produtos de outros países. Quando as exportações superam as importações a balança comercial é superavitária. Quando as importações superam as exportações a balança comercial é deficitária. A balança de serviços e renda antes era denominada apenas por serviços. 4.2 Serviços Esta categoria registra os serviços relativos a transportes, viagens internacionais, seguros, financeiros, computação e informações, royalties e licenças, aluguel de equipamentos, serviços governamentais e outros serviços. Os serviços financeiros correspondem às intermediações bancárias, tais como corretagens, comissões, garantias e fianças e outros encargos acessórios sobre o endividamento externo. Na rubrica outros serviços estão consolidadas as informações referentes a serviços de corretagens e comissões mercantis, serviços técnicos profissionais, pessoais, culturais e recreação. 4.3 Renda A categoria “Renda” registra a remuneração do trabalho assalariado (salários e ordenados) e as rendas de investimentos, que correspondem à remuneração das modalidades de aplicação detalhadas na conta financeira. Desta maneira, as rendas de investimento direto abrangem os lucros e dividendos relativos a participações no capital de empresas e os juros correspondentes aos empréstimos intercompanhias nas modalidades de empréstimos diretos e títulos de qualquer prazo. Não incluem os ganhos de capital, classificados como investimento direto na conta financeira. 4.4 Transações unilaterais realizadas sem contrapartida São doações, depósitos feitos entre familiares, não significando uma troca. Correspondem às transferências unilaterais, na forma de bens e moeda, para consumo corrente. Excluem-se as transferências relativas a patrimônio de migrantes internacionais, alocadas na conta capital. 4.5 Saldo de transações correntes As transações correntes correspondem à soma dos resultados da balança comercial, balança de serviços e renda e as transações unilaterais. Esse resultado é muito importante para um país, pois representa o que de fato este produz. 4.6 Conta capital e financeira Nesta rubrica é registrado o fluxo de entrada e saída de capital que não se destina a compra e venda de bens e serviços.A conta de capital contabiliza as transferências de capital relacionadas com patrimônio de migrantes e a aquisição/alienação de bens não financeiros não produzidos, tais como cessão de patentes e marcas. Já a conta financeira registra fluxos decorrentes de transações com ativos e passivos financeiros entre residentes e não- residentes. 4.7 Erros e omissões As partidas a crédito e a débito lançadas no balanço de pagamentos provêm de diversas fontes de informações, gerando, na prática, um total líquido diferente de zero. A principal razão está nas discrepâncias temporais das diversas origens dos dados utilizados. Com isso, torna-se necessário o lançamento de partida equilibradora para o balanceamento das contas. Os erros e omissões se prestam, portanto, a compensar toda sobrestimação ou subestimação dos componentes registrados. 4.8 Contabilização O balanço de pagamentos adota os mesmos procedimentos contábeis usuais na elaboração de um balanço contábil. O método das partidas dobradas, ou seja, o total dos créditos deve ser igual ao total dos débitos e para todo lançamento correspondente a um crédito deve ser compensado outro lançamento a débito. Débito = transações que resultarem em saídas de divisas do país. Crédito = entrada correspondente de divisas para o país. Exemplificando: 1. O Brasil exporta mercadorias no valor de US$500.000 para os EUA. Como corresponde ao aumento dos haveres no exterior, o valor deve ser lançado a débito da conta “Movimento de capitais” e, como há entrada de divisas, a crédito da conta “Exportações”. 2. O país efetua um empréstimo de US$20 bilhões junto ao FMI para cobertura de déficit em seu balanço de pagamento. Houve aumento das obrigações no exterior, devendo ser debitada a conta “Movimento de capitais – longo prazo” e, pelo ingresso de divisas no país, deve ser creditada a conta “Movimento de capitais – curto prazo”. 4.9 Déficits, superávits e ajustes no balanço de pagamentos Os desequilíbrios dos balanços de pagamentos podem ser de natureza conjuntural ou estrutural. 1. Desequilíbrios conjunturais São resultados de flutuações associadas ao nível de desempenho das atividades econômicas internas ou externas, decorrentes do consumo, da produção e dos investimentos, ocorrências que modificam os dados gerais da situação econômica. 2. Desequilíbrios estruturais Por sua vez, desequilíbrios estruturais refletem processos mais amplos e diversos, ligados à formação histórica da economia do país, das disponibilidades de recursos e ao seu estágio de desenvolvimento, sendo de difícil solução. 3. Ajustes no balanço de pagamentos Haverá a ocorrência de déficit no balanço de pagamentos quando a oferta de divisas for menor do que a procura por divisas, ou seja, a somatória dos saldos das exportações, das receitas de serviços e dos ingressos de capitais for menor do que a somatória dos saldos das importações, das despesas de serviços e de saídas de capitais. Para que ocorra superávit, a oferta de divisas deverá ser maior do que a procura por divisas. Ou seja, se a somatória dos saldos das exportações, das receitas de serviços e de ingresso de capitais for maior do que a somatória dos saldos das importações, das despesas de serviços e das saídas de capitais. As autoridades monetárias dos países intervêm por meio da administração das taxas de câmbio para corrigir as perturbações provocadas por estes fatores. Com as taxas cambiais administradas, as cotações de compra e venda de divisas deixam de resultar dos livres mecanismos do mercado cambial para se subordinarem a decisões governamentais aplicadas na área monetária. Administrando a taxa de câmbio, as autoridades monetárias podem mantê-la fixa ou permitir que ela varie dentro de reduzidos limites de tolerância. Podem também alterá-la substancialmente para mais ou para menos, procedendo a ajustamentos de valorização ou desvalorização. As taxas fixas ou estáveis mantêm a relação de preço entre a moeda nacional e as divisas estrangeiras. O regime de taxa de câmbio flutuante é praticado em situações em que as variações do mercado cambial são suficientes para neutralizar os desequilíbrios do saldo do balanço de pagamentos, sem que isto acarrete situações irreversíveis. O equilíbrio advém da oferta e demanda por divisas por parte dos operadores do mercado cambial. V. LIQUIDEZ INTERNACIONAL Os países necessitam manter um volume compatível de divisas (reserva) para exercer o controle de preço das moedas estrangeiras necessárias ao pagamento das trocas efetuadas no mercado internacional, ou seja, dispor de estoques suficientes de meios de pagamento prontamente aceitáveis pelos fornecedores internacionais. A relação entre o volume de liquidez e o volume do comércio tem de ser mantida em níveis adequados, pois a expansão sem controle gera pressões inflacionárias e o crescimento insuficiente da liquidez prejudica as oportunidades de expansão do comércio internacional. As reservas cambiais correspondem ao montante de moeda estrangeira (e ouro) acumulado pelo país. Constituem-se do resultado do balanço de pagamentos, que reflete o resultado monetário das transações de bens e serviços realizadas pelos brasileiros com o exterior (saldo em transações correntes), assim como o fluxo de capitais entre o país e o exterior (sejam empréstimos, financiamentos, aplicações em mercado financeiro, investimento direto em plantas industriais etc.). Exprimem se houve acúmulo ou perda de moeda estrangeira no período, refletindo, portanto, a variação das reservas cambiais. A maior parte das reservas monetárias mundiais é constituída de ouro e haveres em moedas estrangeiras fortes. A outra parte é formada por créditos criados por convenção multilateral entre os membros do sistema monetário internacional. VI. O EURODÓLAR E O MERCADO DE EURODÓLARES O termo “eurodólares” refere-se aos depósitos efetuados em dólares americanos em bancos localizados fora do território dos Estados Unidos, principalmente na Europa. Portanto, o termo não se refere apenas a depósitos feitos em bancos europeus, mas a depósitos feitos em qualquer banco, desde que fora do território norte-americano. Da mesma forma, os depósitos feitos em outras moedas estrangeiras fora do seu território originário serão denominados euromoedas. Em virtude da importância e função do dólar nas transações internacionais e pelo fato de os depósitos em dólar terem originado esse tipo de operação, o mercado de depósitos é chamado de mercado de eurodólares. Nos anos de 1970, as desvalorizações do dólar, provocadas pelos déficits no balanço de pagamentos dos Estados Unidos contribuíram para o crescimento do mercado de eurodólares, pois os bancos estrangeiros que lucraram com estas desvalorizações efetuaram transferências de elevadas somas em dólares americanos para os bancos europeus, incrementando as operações do mercado e elevando as taxas para os seus investidores. Como o mercado de eurodólares não é um mercado cambial, mas sim um mercado de bancos, com operações bancárias comuns, não existem taxas cambiais, mas sim taxas de juros, remunerando os depósitos e onerando os empréstimos, assemelhando-se aos mercados interbancários existentes. A grande confiança depositada no dólar americano e no sistema bancário europeu aliada à não-intervenção das autoridades monetárias, permitiu o extraordinário desenvolvimento do mercado de eurodólares nas últimas décadas, transformando-se no mais importante mercado monetário internacional. Fornece recursos para o crescimento do comércio internacional e incrementa as atividades de investimentos, contribuindo para o desenvolvimento da economia internacional. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALMEIDA, P. R. Os primeiros anos do século XXI: o Brasil e as relações internacionais contemporâneas.São Paulo: Paz e Terra, 2002. BIZELLI, J. S. Noções básicas de importação. 9. ed. São Paulo: Aduaneiras, 2002. BRASIL. Decreto n. 6.759, de 5 de fevereiro de 2009. Regulamenta a administração das atividades aduaneiras e a fiscalização, o controle e a tributação das operações de comércio exterior. Presidência da República. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos. CASTRO, J. A. Exportação: aspectos práticos e operacionais. 4. ed. São Paulo: Aduaneiras, 2001. CAVES, R. E.; FRANKEL, J. A.; JONES, R. W. Economia Internacional. São Paulo: Saraiva, 2001. GARCIA, L. M. Exportar: rotinas e procedimentos, incentivos e formação de preços. 7. ed. São Paulo: Aduaneiras, 2001. KRUGGMAN, P. 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